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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Across the whale in (less than) a month (19): um bom final de férias, com livros e entre intelectuais...

Como relatado no post anterior, resolvemos acelerar a viagem, atravessando a caipirolândia sem novas incursões citadinas (Nashville passou batida, sob uma chuva torrencial) por um único motivo. Este:

Latin American Series Lecture
Mario Vargas Llosa in Conversation with Enrique Krauze on 'Politics and Culture in Latin America'
McCosh 50
Mario Vargas Llosa (PLAS Visiting Scholar and Recipient of the 2010 Nobel Prize for Literature)
Enrique Krauze (PLAS Visiting Scholar and Historian)
Cross-sponsored with the Spencer Trask Lecture Series
Program in Latin American Studies
Princeton University
309-316 Burr Hall
Princeton, NJ 08544 USA
(tel.) 609.258.4148 (fax) 609.258.0113
www.princeton.edu/plas

Valeu os 900 kms feitos numa segunda-feira sem outros atrativos do que a rápida visita a Charleston, capital de West Virginia, um pequeno estado corajoso, encravado entre o Kentucky, Ohio, Maryland e, sobretudo, a Virginia, da qual ele se separou corajosamente em meados do século 19, pois não queria compartilhar do escravismo renitente naquele estado vizinho que funcionou como capital da Confederação (em Richmond) durante a guerra civil, ou seja, a poucas centenas de quilômetros de Washington. West Virginia é um estado muito bonito, montanhas, vegetação, paisagens que lembram a Europa alpina, a Suíça, em certos trechos.
Como disse, também, aproveitei para comprar o mais recente livro de Niall Ferguson, The Great Degeneration, que fiquei lendo no auditório da universidade de Princeton, esperando a conferência começar.
Mas o dia foi ocupado por visitas a Princeton, que já conhecíamos de anteriores visitas, inclusive uma recente para o lançamento da biografia de Albert Hirschman por Jeremy Adelman (The Wordly Philosopher), que estou lendo ainda (tem mais de 800 páginas, mas já saiu de Berlim, e da Europa, já passei pela Segunda Guerra Mundial, pela Califórnia e por Washington, e atualmente estou seguindo o Hirschman na Colômbia).
Visitamos uma excelente livraria, a Labyrinth Books, na Nassau Street a principal de Princeton, onde Carmen Lícia comprou mais a sua pequena dezena de livros.

Eu me contentei com este aqui:
François Rachline,
De zéro à epsilon: L'Économie de la Capture
(Paris: Archipel First, 1991)

Um livro antigo mas que eu absolutamente não conhecia, mesmo tendo estudado em francês boa parte da vida, e sempre acompanhar os lançamentos da minha área. Em 1991, porém, estava em Montevidéu, e depois em Brasília. Passou-me, pois.
Quando cheguei em Paris, em 1993, já não encontrei mais o livro em destaque, e ele me escapou, impune, se ouso dizer, durante todo este tempo. Uma pena.
Trata-se de um estudo original, que rompe com o modelo usual de análise econômica, baseada no conceito de equilíbrio. O autor busca justamente explicá-la em termos de desequilíbrios e assimetrias, situando a abordagem econômica no contexto histórico, filosófico, epistemológico e cultural de cada época: uma maneira nova de abordar a economia. Vou ler...


Bem, volto à Lecture de Mario Vargas Llosa e de Enrique Krauze, dois grandes intelectuais latino-americanos, reunidos para falar de política, de literatura, de cultura, da América Latina de modo geral.

Confesso que não me acrescentou grande coisa, embora nunca tivesse visto pessoalmente o mexicano; já Vargas Llosa devo tê-lo visto pelo menos uma vez em Washington, no Cato Institute, e recentemente, por video, num programa Roda Viva da TV Cultura, quando ele deu um show de inteligência e bom humor. Eis uma foto tirada por Carmen Lícia ao início da palestra conjunta, os dois sentados democraticamente com suas garrafinhas de água de plástico, sem sequer um copo... Esses americanos são muito democráticos, sem dúvida.

A conversa dos dois, para quem acompanha a realidade latino-americana de perto, como eu, não apresentou grandes novidades, e o que ambos disseram, com exceção de alguns detalhes pessoais -- contatos com líderes políticos de seus respectivos países, leituras, observações de cunho direto -- já me era amplamente conhecido, da realidade política e econômica do Peru, do México, da Venezuela e de outros países. O Brasil foi abordado, basicamente pelo lado da corrupção, que parece que é o que nos distingue mundialmente, processo amplamente ampliado, se me permitem a redundância, pelos companheiros no poder.
Aliás, Vargas Llosa se enganou, ou foi enganado pelo STF, pois se referiu a "ministros do Lula" que "foram para a cadeia". Ele gostaria que fosse assim, nós também, mas infelizmente não é verdade, e os companheiros podem se safar, graças a juízes encomendados pelos companheiros.
Para Vargas Llosa, Humala foi uma "good surprise", e ele não se arrepende de tê-lo apoiado. Confesso que quando ele apoiou o candidato ex-chavista, em sua segunda tentativa, eu o considerei maluco, e achava que deveria ter ficado neutro. Mas ele justificou o gesto, considerando que Humala era o mal menor. Continuo achando que ele foi afetado pela sua derrota frente a Fujimori, ainda nos anos 1990, e nunca se recuperou. Provavelmente considerava que sua filha Keiko fosse libertar o ditador (que de certa forma derrotou os gueriilheiros malucos do Sendero Luminoso, e colocou o Peru no caminho da estabilidade econômica).
Krauze lamentou que a esquerda mexicana ainda não tivesse se modernizado, como suas congêneres do Chile, do Uruguai, de Peru (não citou a esquerda brasileira, pois deve saber que os companheiros adoram ditadores decadentes). Acha que o PRI que retornou ao México é diferente no plano federal, mas que a nível local (governadores e prefeitos), continua o velho PRI oligárquico e corrupto de sempre.
Ambos concordam em que o modelo chavista não tem nenhum futuro, e que a Venezuela só pode afundar de modo catastrófico, o que também acho.
Vargas Llosa foi especialmente crítico em relação aos intelectuais latino-americanos. Disse que sua influência na vida latino-americana, cultural e política, foi essencialmente negativa, pois sempre sustentaram causas erradas: socialismos soviético, maoista, e as piores ditaduras do continente e alhures. Agora ninguém mais os escuta, pois a classe média se tornou pragmática.
Krauze atalhou, para dizer que iria defender Vargas Llosa contra ele mesmo, ao dizer que como intelectual, ele tinha navegado contra a corrente, na boa direção.
Na parte das questões, a maior parte foi genérica demais, mas Vargas Llosa aproveitou para fazer uma defesa do livro, para ele ameaçado pelas novas tecnologias digitais.
Ele acha que o livro pode desaparecer. Pois eu acabo de ler uma matéria de imprensa, que informa que, graças a essas novas tecnologias, os e-books, os readers em tablets, os jovens estão lendo mais do que o faziam na era do livro apenas impresso.
Mas Vargas Llosa também tem razão quando diz que a escrita, na era digital, tornou-se mais medíocre, e que a única salvação da boa literatura continua sendo sob a forma de livros tradicionais.
Pode ser que ele esteja certo, mas não há impedimento que grandes escritores publiquem grandes obras da literatura em formato digital, já que o livro impresso vai continuar sendo relativamente mais caro...
Enfim, ele terminou com previsões sombrias, de um desaparecimento do pensamento crítico sob um mundo orwelliano de tecnologias digitais.
Ao fim e ao cabo, se disse otimista quanto ao futuro da América Latina, para ele cada vez mais democrática, mas não era nada otimista quanto ao futuro da humanidade (no plano do conhecimento e da grande literatura, se entende).

Foi um bom final de viagem.
Amanhã, vamos para a etapa final da viagem, de Princeton até Hartford, numa tacada só...

Paulo Roberto de Almeida
Princeton, 8 de outubro de 2013

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Venezuela: "um desastre completo" segundo Vargas Llosa

América Latina Vargas LLosa

Vargas Llosa: Venezuela es un desastre, un caos

Infolatam/Efe
Madrid, 11 de septiembre de 2013
Las claves
  • (Venezuela) "Es un país en donde en lugar de avanzar se retrocede; tiene la inflación más alta de América Latina", afirmó Vargas Llosa.
  • Vargas Llosa está satisfecho con la situación actual del Perú y dice que desde que cayó la dictadura de Fujimori en 2000, su país "ha estado en muy bien pie", aunque "problemas siempre existen".
El escritor peruano Mario Vargas Llosa está “muy preocupado” por la evolución de Venezuela en los últimos años, y asegura que este país es “un verdadero desastre, un verdadero caos”, en el que abunda “la demagogia, la corrupción y la violencia”.
“Es un país en donde en lugar de avanzar se retrocede; tiene la inflación más alta de América Latina”, afirmó Vargas Llosa en la entrevista que concedió a Efe con motivo de la publicación de su nueva novela, “El héroe discreto”, que mañanaAlfaguara pone a la venta en España, América Latina y Estados Unidos.
En ese encuentro, el escritor y premio nobel de Literatura, comentó aspectos de esta novela que narra una historia de ambiciones, chantajes y venganzas, y, como hace siempre, respondió también a preguntas sobre la actualidad.
Vargas Llosa está satisfecho con la situación actual del Perú y dice que desde que cayó la dictadura de Fujimori en 2000, su país “ha estado en muy bien pie”, aunque “problemas siempre existen”.
El Perú “ha crecido económicamente, ha habido elecciones libres, las instituciones democráticas han funcionado” y hay una política económica que “cuenta con unos consensos que no había en el pasado y que ha traído mucho desarrollo económico”.
Esa situación se repite “en muchos países de América Latina”, que están “mucho mejor que en el pasado, sin ninguna duda”, asevera el autor de “El héroe discreto”.
Hay “excepciones negativas” a esa bonanza económica que se respira en buena parte de América Latina y una de ellas es Venezuela, opina.
“El caso de Venezuela es más bien trágico”, dice el escritor, a quien le preocupa que el actual presidente venezolano, Nicolás Maduro, continúe con “esa idea mesiánica” que tuvo su antecesor, Hugo Chávez, de que Venezuela se convirtiera “nuevamente en el faro, en el ejemplo” para otros países.
“Pero creo que Venezuela es más bien la excepción a la regla. Hoy en día hay muchos más países en América Latina en los que la democracia se va enraizando, con unas políticas económicas modernas que están trayendo desarrollo, progreso”, señala el autor de “La fiesta del Chivo”.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Os insubmissos: Husserl, Bloch, Orwell - Mario Vargas Llosa

Os insubmissos

Mario Vargas Llosa 
O Estado de S.Paulo, 8/09/2013

Vim à Normandia com a intenção de reler Flaubert, visitar o pavilhão de Croisset e os lugares que ele descreveu em Madame Bovary. Contudo, numa livraria do pitoresco e confuso porto de Honfleur, deparei com um pequeno livro de Jorge Semprún, recém-publicado na França, que me manteve toda a semana pensando na explosão do nazismo no continente europeu, na 2ª Guerra, nas suas sequelas e na conduta de alguns intelectuais naqueles anos cruciais.
O livro chama-se Le Métier d'Homme ("O ofício do homem") e contém três conferências que o escritor proferiu na Biblioteca Nacional de Paris, nos dias 11, 13 e 15 de março de 2002. Provavelmente, o encontro foi gravado e o que foi publicado é uma transcrição das gravações, pois o texto está repleto de repetições e vacilações típicas de uma exposição falada, não lida.
No entanto, ainda assim essas páginas são abundantes em sugestões e ideias fascinantes que, longe de se contentarem com reminiscências históricas ou curiosidades, gravitam com força em torno da crise europeia dos anos 40 e de nossos dias.
O livro é também uma homenagem a um filósofo, Edmund Husserl, a um historiador, Marc Bloch, e ao escritor e jornalista George Orwell. Intelectuais que, em momentos de grande confusão e turbulência ideológicas e políticas, tiveram a coragem de assumir posições refratárias às dos governos e da opinião pública de seus países e conseguiram, usando de uma razão crítica e uma moral heroica, estabelecer alguns objetivos cívicos e defender valores que, ao longo do tempo, acabaram vencendo o obscurantismo, o fanatismo e o totalitarismo desencadeados pela segunda conflagração mundial.
Edmund Husserl, pai da fenomenologia e mestre de Heidegger, que dedicou a ele sua obra capital, Sein und Zeit ("Ser e Tempo"), tendo se retratado depois quando começou a colaborar com o regime nazista, proferiu uma conferência em Viena, em 7 de maio de 1935, na qual exortou seus colegas intelectuais a enfrentarem a "barbárie" e a manter viva a grande tradição europeia do espírito crítico e da racionalidade, se sobrepondo às paixões e à conduta instintiva.
Na sua conferência, Semprún destaca, sobretudo, o que chama de "patriotismo democrático" do filósofo, que afirmou categoricamente que o inimigo da Europa civilizada não era o povo alemão, mas Hitler, e, mais cedo do que se esperava, a Alemanha, graças ao federalismo, optaria pela via democrática e se reintegraria numa Europa que teria superado também o nacionalismo e se unificado num regime político e econômico de caráter federal. Afirmações e previsões de uma lucidez visionária que, meio século mais tarde, a história europeia confirmaria.
No entanto, quando proferiu sua conferência, Husserl tinha 76 anos. Como era judeu, de acordo com as ordens antissemitas do nazismo, já havia sido despojado de todos os seus direitos acadêmicos. Logo, foi obrigado a se refugiar no priorado beneditino de Sainte Lioba, onde morreria três anos depois daquela conferência. De lá, um sacerdote franciscano, o padre Herman Leo van Breda, resgataria as 40 mil páginas inéditas do filósofo e encarregou-se de faze-las chegar, sãs e salvas, à Universidade de Louvain, na Bélgica.
Semprún, em páginas de grande sutileza, destaca como naqueles anos houve intelectuais católicos, entre eles Jacques Maritain, que contrariamente à extrema prudência com que o Vaticano encarava a problemática nazista, atacaram o totalitarismo fascista e stalinista, denunciando suas semelhanças ocultas por baixo de suas diferenças aparentes, uma verdade escandalosa que se confirmaria logo depois com o pacto firmado entre Molotov e Von Ribbentrop e o trauma que o acordo causaria na intelectualidade progressista e comunista.
O segundo homenageado por Semprún é o historiador Marc Bloch, fundador, com Lucien Febvre, da Escola dos Annales, movimento que renovaria e daria um impulso criativo notável à investigação histórica na França. Marc Bloch, que lutou na 1ª Guerra, começou como soldado raso e terminou como capitão. Alistou-se também na 2ª Guerra e foi um resistente ativo, até ser capturado pela Gestapo e fuzilado em 1944.
Depois da derrota do Exército francês, Bloch escreveu em apenas dois meses L'Étrange Défaite ("A Estranha Derrota"), entre julho e setembro de 1940, um livro impublicável na época, que permaneceria oculto até depois da libertação. No livro, ele analisa com uma extraordinária serenidade e profundidade as razões pelas quais a França desmoronou tão facilmente diante da investida do Exército nazista. Ele foi implacável na sua denúncia da corrupção que corroía a classe dirigente, os partidos políticos, os sindicatos e cegava os intelectuais.
Contudo, apesar da crítica virulenta, o ensaio não sucumbiu ao pessimismo. Pelo contrário, ele destacou os sólidos recursos institucionais e culturais que sustentam a tradição democrática francesa, exortou a nação a não se render à barbárie totalitária e a lutar não só para derrotar o nazismo, mas também para reconstruir a sociedade francesa sobre bases mais decentes e mais justas do que as que provocaram a catástrofe. Jorge Semprún ressalta, como fez com Husserl, a posição de Bloch, seu rechaço ao nacionalismo, sua vocação europeísta e a defesa da racionalidade e do espírito crítico.
Orwell. George Orwell é o terceiro exemplo de intelectual comprometido com a justiça e a verdade, que não temeu enfrentar o descrédito e a impopularidade, homenageado por Semprún. Ele refere-se, claro, ao jornalista que lutou como voluntário em defesa da república na guerra civil espanhola, ingressando nas fileiras do POUM, que, em homenagem à Catalunha, foi um dos primeiros a denunciar o extermínio de trotskistas e de anarquistas ordenado por Stalin no seio das forças republicanas.
Semprún destaca, sobretudo, sua defesa do "patriotismo democrático" com que exortou seus compatriotas a enfrentarem Hitler e o nazismo, ao mesmo tempo em que criticou com dureza o colonialismo britânico, exigindo que Londres assegurasse a independência da Índia e das demais colônias do império uma vez terminada a guerra.
Semprún estuda em detalhes um ensaio pouco conhecido de Orwell, The Lion and the Unicorn ("O Leão e o Unicórnio"), onde se encontra sua célebre frase: "A Inglaterra é um país de gente boa com figuras equivocadas no controle". Ele lembra que, apesar da utilização que a direita sempre fez das suas críticas à União Soviética e ao comunismo, principalmente em obras como Animal Farm ("A Revolução dos Bichos") e 1984, Orwell sempre se considerou um homem de esquerda, um socialista convencido de que o verdadeiro socialismo tem uma essência democrática, defensor do espírito crítico e da liberdade intelectual, que considerava valores inseparáveis da luta pela justiça social.
É impossível não ler esse pequeno e estupendo livro sem pensar que Jorge Semprún pertenceu a essa mesma tradição de pensadores e de escritores que se opuseram ao conformismo e à complacência e aos quais dedicou essas três conferências. Ele também sempre achou que o trabalho intelectual - e neste ponto confessa que sua verdadeira vocação era ser um "filósofo profissional", embora a guerra e sua militância o tenham levado para outro caminho - era inseparável da ação cívica e teve a coragem de criticar e se afastar do Partido Comunista, no qual havia militado durante toda sua vida, quando se convenceu de que aquela militância era incompatível com o espírito crítico e com o patriotismo democrático personificados por intelectuais como Husserl, Bloch e Orwell.
A ruptura, porém, não o afastou dos ideais da sua juventude. Por ser leal a esses ideais, participou da Resistência, esteve preso no campo de concentração de Buchenwald, lutou como clandestino na Espanha franquista e foi o intelectual insubmisso com a mesma coerência e integridade moral que enaltece nos três mestres aos quais dedicou esse livro estimulante. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO   * É ESCRITOR PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Mario Vargas Llosa, sobre Argentina, Venezuela, socialismo, liberalismo, etc - Revista Epoca

Uma entrevista "velha" de alguns meses, mas que tinha passado despercebida, infelizmente. O que diz o escritor peruano, entretanto, permanece inteiramente atual, o que justifica sua transcrição aqui, mesmo depois de quase três meses.
Paulo Roberto de Almeida

ENTREVISTA - Revista Época, 19/04/2013

Mario Vargas Llosa: "Dilma não deveria apoiar uma fraude eleitoral"

O escritor peruano diz que a eleição de Nicolás Maduro foi roubada, defende o casamento gay e acha que a Argentina merecia alguém melhor que Cristina Kirchner

JOÃO GABRIEL DE LIMA E LUÍS ANTÔNIO GIRON
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PROXIMIDADE Mario Vargas Llosa em São Paulo. “Governos democráticos não devem se tornar cúmplices de governos autoritários” (Foto: Ag. Na Lata/Ed. Globo)
O escritor peruano Mario Vargas Llosa, de 77 anos, ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 2010, voltou ao Brasil, depois de três anos, para dar uma palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento, em São Paulo. Defensor dos princípios liberais e democráticos, Llosa é hoje um dos raros intelectuais públicos militantes. “Estou esperançoso com o destino da América Latina”, diz. “Pela primeira vez, o continente conta com uma esquerda não autoritária e uma direita genuinamente interessada em democracia.” Uma exceção, segundo ele, é o chavismo na Venezuela – tão absurdo que, em sua opinião, daria um romance. 

Como o livro se chamaria? O autor de A festa do bode, ficção sobre o ditador dominicano Rafael Trujillo, responde, bem-humorado: A festa do passarinho. O presidente venezuelano,Nicolás Maduro, durante a campanha eleitoral, disse em discursos que ouvia a voz de Hugo Chávez no canto dos pássaros. Abrindo várias vezes o sorriso largo que se tornou sua marca, Llosa deu a seguinte entrevista a ÉPOCA. 
ÉPOCA – Como o senhor analisa a eleição na Venezuela, vencida por Nicolás Maduro por uma diferença de pouco mais de 1 ponto percentual?
Mario Vargas Llosa –
 Henrique Capriles ganhou as eleições. O uso da máquina do Estado e de seus meios de comunicação foi tão desproporcional que Nicolás Maduro deveria ter vencido o pleito de forma avassaladora. Não foi assim. Houve praticamente um empate. Isso significa claramente que há uma grande reação do povo venezuelano contra o chavismo, contra o que representa Maduro. Por isso, a possibilidade de fraude é grande. Também por isso, me parece justo fazer a recontagem rigorosa dos votos. Os presidentes da América Latina não deveriam legitimar uma possível fraude eleitoral, indo assistir à entronização de Maduro. Seria um ato de cumplicidade contra o povo venezuelano, que claramente pede a democratização, a abertura, a mudança de política. É um momento importante, talvez fundamental, na história da América Latina.

ÉPOCA – A presidente Dilma Rousseff enviou cumprimentos a Maduro pela vitória, logo que saíram os primeiros resultados das eleições. Isso é uma forma de apoio?
Llosa – 
É um ato de cumplicidade com o que está ocorrendo na Venezuela. É lamentável isso partir de um governo democrático. Dilma não deveria apoiar uma fraude eleitoral. Ela não é o único caso. Todos os que fazem isso me parecem igualmente lamentáveis. Deveria haver maior coerência entre a política internacional e a política nacional por parte dos governos democráticos. Os governos que praticam a política chavista, que querem o socialismo autoritário, entendo que se solidarizem com Maduro. Mas governos que praticam internamente a democracia agem de forma absurda quando se tornam cúmplices de governos autoritários, mesmo que seja para aplacar internamente  seus radicais. Felizmente, alguns mostram independência. É positiva a atitude da OEA (Organização dos Estados Americanos), ao pedir a recontagem de votos. E devo felicitar governos como o da Espanha, que não enviarão ninguém para representar o país na posse de Maduro, enquanto não se esclarecer o que aconteceu de fato nessas eleições. 
"Os países chavistas representam o atraso na América Latina. Os países que progridem são os comprometidos com a democracia"
ÉPOCA – O socialismo fascinou muitos escritores na América Latina. O caso mais conhecido é o colombiano Gabriel García Márquez, que apoiou o regime cubano. No caso da Venezuela de Chávez, não apareceram muitos escritores para apoiar o regime. O que mudou?
Llosa –
 Mudou algo muito importante. É a primeira vez que um governo populista e autoritário conta com a oposição de praticamente toda a classe intelectual. As universidades, que costumavam ser radicais na Venezuela, são praticamente todas antichavistas, estão na vanguarda na luta pela democratização. Não conheço um escritor venezuelano importante que não esteja combatendo em favor da democratização. A única exceção é o romancista Luís Britto Garcia. É um sintoma alentador, porque, no passado, a intelectualidade latino-americana cometeu a insensatez de apoiar regimes como Cuba, a ditatura mais longa que o continente já teve em toda a sua história.
O presidente venezuelano Hugo  Chávez (1954-2013). Para Llosa,  ele é uma exceção no continente (Foto: Lynsey Addario/VII Network/Corbis)
ÉPOCA – O senhor foi um desses intelectuais, não? Quais as razões para esse fascínio por Cuba e Fidel Castro?
Llosa – 
Sim, também faço minha autocrítica. Reconheço que, quando jovem, senti um entusiasmo acrítico com o que acontecia. No fim dos anos 1950, quando a América Latina era um continente de regimes militares e os Estados Unidosapareciam como aliados dos ditadores, Cuba parecia representar a alternativa, o progresso, a democracia, a liberdade. Por outro lado, parecia uma revolução que não tinha sido feita pelo stalinismo e o Partido Comunista, e sim por jovens idealistas, socialistas libertários. Estávamos enganados sobre a Revolução Cubana no início. Havia um contexto que explicava esse entusiasmo. É difícil manter a ilusão 54 anos depois. Cuba é uma ditadura que destruiu o espírito crítico, empobreceu selvagemente o país. O país depende hoje da caridade venezuelana. Ao lado da Coreia do Norte, Cuba representa o maior anacronismo de nosso tempo. Esses regimes não são modelos para ninguém. Vivem o final de seus ciclos, como aconteceu com todos os regimes socialistas autoritários do mundo.
ÉPOCA – Há, hoje, vários intelectuais latino-americanos comprometidos com a causa democrática, inclusive em Cuba.
Llosa – 
Sim, claro. Recentemente conheci duas mulheres extraordinárias. Uma delas é a cubana Yoani Sánchez, uma mulher inteligente, que converteu seu blog num instrumento de protesto e crítica, sob condições dificílimas. A outra é María Corina Machado, uma deputada de oposição venezuelana, mulher de personalidade extraordinária e grande convicção democrática. Ela fez uma palestra na Argentina sobre o que ocorre na Venezuela. Conclama os democratas de todo o continente a se solidarizarem com o povo venezuelano nesta luta tão heroica – que, ademais, é uma luta por todos nós. Se o chavismo continuar a fazer estragos na Venezuela, todos estamos ameaçados na América Latina.
ÉPOCA – O senhor escreveu no romance Conversa na catedral que as toxinas do autoritarismo demoram a sair do corpo de uma nação. Essas toxinas estão finalmente começando a sair do continente, a América Latina?
Llosa – 
Acredito que sim. Se você compara a situação hoje com a de 15, 20 anos atrás, há um progresso considerável. Temos muito mais governos democráticos que autoritários. Acontece agora um fenômeno: a existência de uma esquerda democrática, pela primeira vez, na América Latina. Antigamente, a esquerda era autoritária, acreditava em governos firmes, em políticas intervencionistas, no Estado empresário e lidava mal com a diversidade. Isso está desaparecendo pouco a pouco. A esquerda está se tornando civilizada. Da mesma forma, a direita também ficou democrática, bem diferente da direita golpista, militarista do passado. A nova esquerda e a nova direita estão dando à América Latina um dinamismo, um progresso que justifica o otimismo. Os países que seguem o chavismo são poucos e representam um atraso em relação ao restante dos países latino-americanos. São os países democráticos que progridem, não só em termos econômicos, como também políticos.
ÉPOCA – No Brasil, os quatro pré-candidatos à Presidência são de partidos que se definem como “esquerda”. Por que a direita desapareceu por aqui?
Llosa –
 É um fenômeno bem latino-americano: ninguém quer ser de direita. No máximo, aceita-se ser de centro-esquerda. Mas não importa tanto as etiquetas que os partidos põem, e sim o que fazem. E o que fazem hoje está mais para centro-direita do que para esquerda.
"Vivi na Inglaterra nos anos de Thatcher. Com ela, o país voltou a ter um protagonismo e uma presença internacional extraordinários"
ÉPOCA – Qual sua impressão sobre o legado da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, cuja morte recente tem rendido homenagens, mas também protestos?
Llosa – 
Vivi na Inglaterra nos anos de Thatcher. Conheço as obras mais positivas dela. Quando ela subiu ao poder, no fim dos anos 1970, a Inglaterra era um país apagado, mergulhado na mediocridade do socialismo. As empresas eram estatizadas. O Estado crescia de uma maneira cancerosa, perdera o nervo criativo e o dinamismo. O país empobrecia e se mediocrizava. A palavra “decadência” exprimia fielmente a realidade inglesa. A transformação promovida por Thatcher foi extraordinária, com as privatizações realizadas com um critério eminentemente social. As empresas foram obrigadas a competir. Acabaram-se os subsídios, o clientelismo, os privilégios. A economia de mercado obviamente trouxe alguns sacrifícios, mas, ao mesmo tempo, gerou um progresso formidável da economia inglesa. Pela primeira vez em muitos anos, a renda per capita da Inglaterra superou a França. A Inglaterra voltou a ter um protagonismo e uma presença internacional extraordinários.
A primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher (1925-2013). Llosa faz  um balanço positivo de seu governo (Foto: Terry O’Neill/Hulton Archive/Getty Images)
ÉPOCA – Não há nada a criticar em Thatcher? E o apoio ao ditador chileno Augusto Pinochet?
Llosa –
 O apoio a Pinochet foi lamentável. Ela fez isso para agradecer os serviços que a ditadura chilena prestou à Inglaterra durante a Guerra das Malvinas. Também foram lamentáveis os últimos anos do governo de Thatcher, com os ataques à Europa, numa atitude nacionalista exacerbada. Mas, quando fazemos um balanço dos anos Thatcher, o lado positivo é muito maior.
ÉPOCA – O senhor conheceu Thatcher pessoalmente?
Llosa – 
Encontrei com ela quatro vezes. A primeira foi num jantar promovido por Hugh Thomas, então ministro dela. Durante a conversa, a submetemos a um verdadeiro exame, educado mas severo. No final, quando ela foi embora, um dos presentes, o professor Isaiah Berlin, disse uma frase que resumiu a impressão geral: “Nothing to be ashamed of”. Nada do que possamos nos envergonhar. A segunda vez encontrei-a em seu gabinete em Downing Street. Eu era candidato à Presidência do Peru e lhe perguntei: “Primeira-ministra, se ganhar a eleição, qual seria a decisão mais importante que eu deveria tomar?”. Nunca esqueci a resposta: “Cerque-se de um grupo leal e corajoso. Porque, se você fizer as reformas liberais, a reação será tão feroz que as piores traições virão de seus amigos, não de seus adversários”. E Thatcher sairia do poder não porque a oposição ganhou, e sim por uma traição interna do Partido Conservador, encabeçada por Geoffrey Howe (chefe de gabinete de Thatcher).
ÉPOCA – E os outros dois encontros?
Llosa –
 A terceira vez que a vi foi no México. Ela desmaiara durante uma conferência, estava abatida. Lembro-me do marido dela, Dennis Thatcher, que contraíra uma espécie de horror da América Latina depois daquela excursão. Chamava a todos nós de “mexicanos”. Da última vez que a vi, ela estava já fora do poder. Fui a sua casa acompanhado de cubanos exilados, que queriam convidá-la para fazer uma conferência em Miami. Ela se mostrou simpática e divertida, tomou três uísques. Falou muito, contou piadas. No final, acompanhou a gente até a porta e, como uma menina revolucionária, levantou o braço e disse: “Temos de derrotar Castro!”.
"Os gays sofreram terrivelmente ao longo da história, sobretudo em países machistas como os latinos. A união homossexual é bem-vinda" 
ÉPOCA – O que o senhor pensa do governo argentino?
Llosa –
 A Argentina não merece o governo da senhoraKirchner. É um país que já foi Primeiro Mundo, quando três quartos da Europa pertenciam ao Terceiro Mundo. Foi um país industrial, que teve um sistema educacional fora de série. Foi o primeiro país que acabou com o analfabetismo no mundo – ninguém mais se lembra disso. Como a Argentina pode ter retrocedido dessa maneira? Foi por razões puramente políticas, e isso tem um nome: peronismo. Minha esperança é que venha uma reação das bases. Não há sentido algum a Argentina fazer parte do pelotão dos regimes atrasados, encabeçado por Raúl Castro e Nicolás Maduro. É um anacronismo flagrante, que não faz jus ao país.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Ela representa a permanência do peronismo (Foto: AFP)
ÉPOCA – A união civil entre homossexuais tem sido um tema bastante discutido na América Latina. Ela foi aprovada no Uruguai, na Argentina... Llosa – ...e espero que seja aprovada em todos os países da América Latina. É um ato de justiça contra uma minoria perseguida, que sofreu terrivelmente ao longo da história, sobretudo em países machistas como os nossos. Já era hora de haver uma reação positiva para combater esse preconceito absurdo de que são vítimas os homossexuais. Os direitos humanos precisam ser compreendidos na América Latina em toda a sua extensão. O casamento gay é a reparação de uma injustiça. E é bom que figure na agenda política.  
ÉPOCA – O senhor acredita que o papa Francisco, argentino, colaborará com o progresso dos direitos humanos e com as liberdades individuais?
Llosa –
 As primeiras iniciativas do papa têm sido boas. Ele está se aproximando das pessoas e dando mostras de simplicidade e modéstia. Dá a impressão de ser um homem bem-intencionado, consciente de que a Igreja Católica precisa realizar uma política de abertura e modernização. A Igreja tem se tornado anacrônica e assim continuará, se ele não abordar com coragem as reformas necessárias.

ÉPOCA – O que teria de mudar na Igreja Católica?
Llosa –
 Duas reformas seriam importantes. A Igreja teria de abolir o celibato clerical, em parte responsável pelos escândalos de pedofilia que tanto dano trouxeram. E teria de dar acesso à mulher a cargos e responsabilidades eclesiásticos. A Igreja mantém uma discriminação antimoderna.
ÉPOCA – Até que ponto ganhar o Prêmio Nobel foi importante para sua vida? Alguns escritores sentiram-se paralisados criativamente com o Nobel, como o irlandês Samuel Beckett. Isso acontece ao senhor, que criticara o prêmio no passado?
Llosa –
 Ganhar o Nobel foi uma grande surpresa. Estava absolutamente seguro de que nunca me dariam o Nobel. Eu tinha feito todo o necessário para não ganhá-lo, com tudo o que defendo e critico. Olha, o Nobel é uma semana de sonho. A gente vai a Estocolmo para receber o prêmio – e vive uma espécie de realidade divertida, belíssima, simpática. Em seguida, essa semana de sonho dá lugar a um ano de pesadelo. Porque a responsabilidade, as obrigações, as indicações, o assédio dos jornalistas, tudo isso é algo enlouquecedor. É preciso lutar para conseguir algum tempo para poder escrever. É terrível. Estou contente, claro, mas ganhar o Nobel envolve realmente uma pressão terrível. Ganhei, estou feliz, como feliz de ter ganhado outros prêmios ao longo de minha vida, mas já estou velho para ficar vaidoso com um prêmio a menos ou a mais. Continuo a fazer meu trabalho, embora com mais dificuldade, porque a pressão é maior. É importante manter as ilusões e os projetos até o último momento. Lutar contra o tempo. Isso mantém o homem vivo, e isso tenho de sobra.

ÉPOCA – No livro A anatomia de um instante, o escritor espanhol Javier Cercas esmiúça um único acontecimento histórico num livro, o golpe militar contra o presidente Adolfo Suárez em 1981. Existe um tema da história atual que, a seu ver, daria um livro?
Llosa –
 Eu escolheria esta transição à democracia que acontece na Venezuela. A rejeição do populismo autoritário terá um enorme significado, não apenas para a Venezuela e os países semivassalos da Venezuela – casos de Nicarágua, Bolívia e Equador –, mas também para toda a América Latina. Isso dará um grande impulso à democracia. É um momento nevrálgico, que merece uma reportagem a respeito, como a de Cercas sobre o golpe na Espanha.

ÉPOCA – Não poderia ser um romance, como A festa do bode, que o senhor escreveu sobre a República Dominicana?
Llosa –
 Poderia, só que o título seria A festa do passarinho

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Elogio da Inteligencia: renovo meu convite a ver Vargas Llosa (Roda Viva - TV Cultura-SP)

Tendo já feito a "publicidade" aqui anteriormente, na imediata sequência do programa televisionado, mas ao qual assisti apenas aos pedaços, por necessidade de trabalho, gostaria de renovar aqui meu convite a todos para assistir à entrevista de Mario Vargas Llosa no programa Roda Vida da TV Cultura de SP, que acabo de assistir por inteiro agora: 

http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/roda-viva-mario-vargas-llosa-13-05-2013

Poucas vezes na televisão, aliás raríssimas vezes, temos a oportunidade de assistir a inteligência em estado puro. Não que eu aprove totalmente o que Vargas Llosa disse, mas simplesmente porque ele o diz com uma rara elegância e refinamento que não encontramos quase mais -- e na TV brasileira quase nunca -- nos meios de comunicação de massa, que afundam na vulgaridade.
Mas, mesmo na academia, o que assistimos é a expansão da mediocridade.
Esse programa foi um dos raros momentos de prazer intelectual que tive oportunidade de ver na mídia brasileira, de onde sai pouca coisa que valha.
Acho que Vargas Llosa cometeu o pecado normal dos "velhos escritores", ao lamentar a erosão de qualidade da literatura atual, como se apenas os escritores de sua geração fossem ou pudessem ser grandes.
Também tem algumas ilusões sobre o caráter democrático de alguns governos atuais na América Latina, mas essencialmente foi muito enfático, duro mesmo, na condenação do chavismo e da ditadura bolivariana.
Nem tudo está perdido. A inteligência sobrevive, ainda que acuada, no meio da mediocridade reinante, da fraude e da mentira, que parecem prevalecer atualmente na América Latina.
Convido a todos a assistir ao programa...
Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 16/05/2013
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Abaixo, um artigo atribuído a Vargas Llosa, mas que não tive ainda oportunidade de conferir, para verificar onde foi publicado originalmente. Aparentemente é dele, mas vou verificar.


Mario Vargas Llosa sobre a Argentina
11/05/2013

Argentina, un país que era democrático, cuando tres cuartas partes de Europa no lo eran, un país que era uno de los más prósperos de la Tierra, cuando América Latina era un continente de hambrientos, de atrasados.

El primer país del mundo que acabó con el analfabetismo no fue Estados Unidos, no fue Francia, fue la Argentina con un sistema educativo que era un ejemplo para todo el mundo. Ese país que era un país de vanguardia ¿Como puede ser que sea el país empobrecido, caótico, subdesarrollado que es hoy? ¿Qué pasó? ¿Alguien lo invadió? ¿Estuvieron enfrascados en alguna guerra terrible? No, los argentinos se hicieron eso ellos mismos. Los argentinos eligieron a lo largo de medio siglo las peores opciones.

¿Cómo se entiende eso? Un país con gentes cultas, absolutamente privilegiado, una minoría de habitantes en un enorme territorio que concentra todos los recursos naturales. ¿Por qué no son el primer país de la Tierra? ¿Por qué no tienen el mismo nivel de vida que Suecia, que Suiza?

Porque los argentinos no han querido. Han querido en cambio ser pobres. Seguir a “caudillos” de pacotilla, “salvadores” de porquería, locos, desquiciados por su mismo odio a todo lo que sea diferente a su locura. Han querido vivir bajo dictaduras, han querido vivir dentro del mercantilismo más espantoso. Hay en esto una responsabilidad del pueblo argentino.

Para mí es espantoso lo que ha ocurrido en Argentina. La primera vez que fui allí quedé maravillado. Un país de clases medias, donde no había pobres en el sentido latinoamericano de la pobreza. ¿Cómo pudo llegar a la presidencia una pareja tan diabólica, manipuladora, populistas en grado extremo, corruptos de calle como los Kirchner gobernando ese país?. Al menos ya uno no está!.

Esperemos que la que queda no pueda seguir hundiendo a ese otrora gran país argentino!

Sin embargo, a juzgar por sus diabólicas relaciones estrechísimas con el desquiciado, paria, bestia troglodita, de la extinta y queridísima República de Venezuela, todo parece indicar que ahora “Cristinita” se apegará aún más a ese escoria, aprendiz de dictadorzuelo, quien ya bastante le ha financiado su mandato a costa del noble pero incomprensiblemente inerte pueblo Venezolano.

¡Qué degradación política, qué degradación intelectual! Argentina y Venezuela, dos países extraordinarios vueltos pedazos por una sarta de demoníacos desquiciados!!! Por eso me pregunto ¿Cómo es eso posible?

Mario Vargas Llosa
Madrid, España

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De fato, o artigo não é dele, de acordo com a matéria abaixo:

El Nobel niega autoría de artículos 
“Elogio a la mujer”” y “Sí, lloro por ti Argentina”, textos que circulan en Internet con el nombre de Mario Vargas Llosa no son suyos, asegura en una columna
La Razón (Mexico), 22 Octubre 2012
 
“Elogio a la mujer” y “Sí, lloro por ti Argentina”, son dos artículos que circulan en Internet con la firma de una de las plumas más importantes del mundo, Mario Vargas Llosa; sin embargo, el Nobel de Literatura 2010 dejó claro que esos trabajos no son suyos.
Por medio de su columna dominical en el diario La República, el escritor peruano criticó los ataques contra la identidad de figuras conocidas.
“Vivimos en una época en que aquello que creíamos el último reducto de la libertad, la identidad personal, es decir, lo que hemos llegado a ser mediante nuestras acciones, decisiones, creencias, aquello que cristaliza nuestra trayectoria vital, ya no nos pertenece sino de una manera muy provisional y precaria”, escribe en su columna.
El escritor lamenta que la tecnología audiovisual se haya convertido en un arma para combatir lo que se creía imperdible, la identidad. Señala “como perverso e impremeditado efecto, el de poner en manos de la canalla intelectual y política, del resentido, el envidioso, el acomplejado, el imbécil o simplemente el aburrido, un arma que le permite violar y manipular lo que hasta ahora parecía el último santuario sacrosanto del individuo: su identidad”.
El laureado autor señala que este tipo de acciones delictivas son realizadas por “pobres diablos que tratan de combatir el tedio o la pavorosa sequedad de sus vidas”, no por empresarios y políticos; así que confía en que ese enemigo de la libertad sea derrotado, aunque no está seguro de ver ese resultado.

sábado, 4 de maio de 2013

Republica Democratica Popular da Venezuela do Norte: qualquersemelhanca...

La muerte lenta del chavismo
MARIO VARGAS LLOSA
El País, 5 Mayo 2013

Al mismo tiempo que el Gobierno de Nicolás Maduro convertía el Parlamento en un aquelarre de brutalidad, la represión se amplificaba y se detenía a funcionarios por votar a la oposición
Diosdado Cabello celebraba que María Corina Machado fuera arrastrada por los cabellos
Da tristeza un Gobierno, cuyo jefe de Estado silba, ruge o insulta porque no sabe hablar

Una fiera malherida es más peligrosa que una sana pues la rabia y la impotencia le permiten causar grandes destrozos antes de morir. Ese es el caso del chavismo, hoy, luego del tremendo revés que padeció en las elecciones del 14 de abril, en las que, pese a la desproporción de medios y al descarado favoritismo del Consejo Nacional Electoral —cuatro de cuyos cinco rectores son militantes gobiernistas convictos y confesos— el heredero de Chávez, Nicolás Maduro, perdió cerca de 800 mil votos y probablemente sólo pudo superar a duras penas a Henrique Capriles mediante un gigantesco fraude electoral. (La oposición ha documentado más de 3,500 irregularidades en perjuicio suyo durante la votación y el conteo de los votos).

Advertir que “el socialismo del siglo XXI”, como denominó el comandante Hugo Chávez al engendro ideológico que promocionó su régimen, ha comenzado a perder el apoyo popular y que la corrupción, el caos económico, la escasez, la altísima inflación y el aumento de la criminalidad, van vaciando cada día más sus filas y engrosando las de la oposición, y, sobre todo, la evidencia de la incapacidad de Nicolás Maduro para liderar un sistema sacudido por cesuras y rivalidades internas, explica los exabruptos y el nerviosismo que en los últimos días ha llevado a los herederos de Chávez a mostrar la verdadera cara del régimen: su intolerancia, su vocación antidemocrática y sus inclinaciones matonescas y delincuenciales.

Así se explica la emboscada de la que fueron víctimas el martes 30 de abril los diputados de la oposición —miembros de la Mesa de la Unidad Democrática—, en el curso de una sesión que presidía Diosdado Cabello, un ex militar que acompañó a Chávez en su frustrado levantamiento contra el Gobierno de Carlos Andrés Pérez. El Presidente del Congreso comenzó por quitar el derecho de la palabra a los parlamentarios opositores si no reconocían el fraude electoral que entronizó a Maduro e hizo que les cerraran los micros. Cuando los opositores protestaron, levantando una bandera que denunciaba un “Golpe al Parlamento”, los diputados oficialistas y sus guardaespaldas se abalanzaron a golpearlos, con manoplas y patadas que dejaron a varios de ellos, como Julio Borges y María Corina Machado, con heridas y lesiones de bulto. Para evitar que quedara constancia del atropello, las cámaras de la televisión oficial apuntaron oportunamente al techo de la Asamblea. Pero los teléfonos móviles de muchos asistentes filmaron lo ocurrido y el mundo entero ha podido enterarse del salvajismo cometido, así como de las alegres carcajadas con que Diosdado Cabello celebraba que María Corina Machado fuera arrastrada por los cabellos y molida a patadas por los valientes revolucionarios chavistas.

Dos semanas antes, yo había oído a María Corina hablar sobre su país, en la Fundación Libertad, de Rosario, Argentina. Es uno de los discursos políticos más inteligentes y conmovedores que me ha tocado escuchar. Sin asomo de demagogia, con argumentos sólidos y una desenvoltura admirable, describió las condiciones heroicas en que la oposición venezolana se enfrentaba en esa campaña electoral al elefantiásico oficialismo —por cada 5 minutos de televisión de Henrique Capriles, Nicolás Maduro disponía de 17 horas—, la intimidación sistemática, los chantajes y violencias de que eran víctimas en todo el país los opositores reales o supuestos, y el estado calamitoso en que el desgobierno y la anarquía habían puesto a Venezuela luego de catorce años de estatizaciones, expropiaciones, populismo desenfrenado, colectivismo e ineptitud burocrática. Pero en su discurso había también esperanza, un amor contagioso a la libertad, la convicción de que, no importa cuán grandes fueran los sacrificios, la tierra de Bolívar terminaría por recuperar la democracia y la paz en un futuro muy cercano.

Todos quienes la escuchamos aquella mañana quedamos convencidos de que María Corina Machado desempeñaría un papel importante en el futuro de Venezuela, a menos de que la histeria que parece haberse apoderado del régimen chavista, ahora que se siente en pleno proceso de descomposición interna y ante una impopularidad creciente, le organice un accidente, la encarcele o la haga asesinar. Y es lo que puede ocurrirle también a cualquier opositor, empezando por Henrique Capriles, a quien la ministra de Asuntos Penitenciarios acaba de advertirle públicamente que ya tiene listo el calabozo donde pronto irá a parar.

No es mera retórica: el régimen ha comenzado a golpear a diestra y siniestra. Al mismo tiempo que el Gobierno de Maduro convertía el Parlamento en un aquelarre de brutalidad, la represión en la calle se amplificaba, con la detención del general retirado Antonio Rivero y un grupo de oficiales no identificados acusados de conspirar, con las persecuciones a dirigentes universitarios y con expulsiones de sus puestos de trabajo de varios cientos de funcionarios públicos por el delito de haber votado por la oposición en las últimas elecciones. Los ofuscados herederos de Chávez no comprenden que estas medidas abusivas los delatan y en vez de frenar la pérdida de apoyos en la opinión pública sólo aumentarán el repudio popular hacia el Gobierno.

Tal vez con lo que está ocurriendo en estos días en Venezuela tomen conciencia los Gobiernos de los países sudamericanos (Unasur) de la ligereza que cometieron apresurándose a legitimar las bochornosas elecciones venezolanas y yendo sus presidentes (con la excepción del de Chile) a dar con su presencia una apariencia de legalidad a la entronización de Nicolás Maduro a la Presidencia de la República. Ya habrán comprobado que el recuento de votos a que se comprometió el heredero de Chávez para obtener su apoyo, fue una mentira flagrante pues el Consejo Nacional Electoral proclamó su triunfo sin efectuar la menor revisión. Y es, sin duda, lo que hará también ahora con el pedido del candidato de la oposición de que se revise todo el proceso electoral impugnado, dado el sinnúmero de violaciones al reglamento que se cometieron durante la votación y el conteo de las actas.

En verdad, nada de esto importa mucho, pues todo ello contribuye a acelerar el desprestigio de un régimen que ha entrado en un proceso de debilitamiento sistemático, algo que sólo puede agravarse en el futuro inmediato, teniendo en cuenta el catastrófico estado de sus finanzas, el deterioro de su economía y el penoso espectáculo que ofrecen sus principales dirigentes cada día, empezando por Nicolás Maduro. Da tristeza el nivel intelectual de ese Gobierno, cuyo jefe de Estado silba, ruge o insulta porque no sabe hablar, cuando uno piensa que se trata del mismo país que dio a un Rómulo Gallegos, a un Arturo Uslar Pietri, a un Vicente Gerbasi y a un Juan Liscano, y, en el campo político, a un Carlos Rangel o un Rómulo Betancourt, un Presidente que propuso a sus colegas latinoamericanos comprometerse a romper las relaciones diplomáticas y comerciales en el acto con cualquier país que fuera víctima de un golpe de Estado (ninguno quiso secundarlo, naturalmente).

Lo que importa es que, después del 14 de abril, ya se ve una luz al final del túnel de la noche autoritaria que inauguró el chavismo. Importantes sectores populares que habían sido seducidos por la retórica torrencial del comandante y sus promesas mesiánicas, van aprendiendo, en la dura realidad cotidiana, lo engañados que estaban, la distancia creciente entre aquel sueño ideológico y la caída de los niveles de vida, la inflación que recorta la capacidad de consumo de los más pobres, el favoritismo político que es una nueva forma de injusticia, la corrupción y los privilegios de la nomenclatura, y la delincuencia común que ha hecho de Caracas la ciudad más insegura del mundo. Como nada de esto puede cambiar, sino para peor, dado el empecinamiento ideológico del Presidente Maduro, formado en las escuelas de cuadros de la Revolución Cubana y que acaba de hacer su visita ritual a La Habana a renovar su fidelidad a la dictadura más longeva del continente americano, asistimos a la declinación de este paréntesis autoritario de casi tres lustros en la historia de ese maltratado país. Sólo hay que esperar que su agonía no traiga más sufrimientos y desgracias de los muchos que han causado ya los desvaríos chavistas al pueblo venezolano.

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