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quinta-feira, 21 de junho de 2018

Paulo Guedes expoe o nucleo de sua reforma economica - entrevista Gazeta do Povo

O que pensa o ministro da Fazenda de um eventual governo Bolsonaro

Paulo Guedes, coordenador do programa econômico de Bolsonaro, defende uma agenda econômica liberal e uma aliança de centro-direita para tirar o país da crise

 | Hugo Harada
Coordenador do programa econômico do pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República, o economista Paulo Guedes defende uma agenda econômica liberal e uma aliança de centro-direita para tirar o país da crise. Ele diz que um eventual governo Bolsonaro terá como prioridade a resolução da crise fiscal, com corte de gastos, privatizações, concessões e desimobilizações para pagamento da dívida pública, reforma tributária, lançamento de um novo regime previdenciário com base no sistema de capitalização e descentralização dos recursos da União para Estados e municípios, o que também garantiria a governabilidade. Só assim, segundo o economista, será possível alcançar o “progresso”.
Guedes, que é um economista liberal, foi convidado pelo próprio Bolsonaro para montar o programa econômico do pré-candidato a presidente. Caso o pré-candidato do PSL vença as eleições, Guedes deve ser o novo ministro da Fazenda, que em um eventual governo Bolsonaro se chamará Ministério da Economia. Seria a primeira vez que o economista ocuparia um cargo no Poder Executivo. 
O economista e ex-banqueiro já recebeu alguns convites, mas sempre negou as investidas. A única participação dele na política foi em 1989, ano da primeira eleição direta para presidente, quando montou o plano econômico de Guilherme Afif Domingos. Chamado de “Juntos chegaremos lá”, o programa era liberal, defendia o famoso tripé macroeconômico, um Banco Central independente e privatizações para redução da dívida pública.
Quase trinta anos depois, pouco mudou na agenda econômica de Guedes. Mas os desafios ficaram ainda maiores. A dívida pública federal chega a R$ 3,658 trilhões, o déficit primário é de 1,78% do Produto Interno Bruto (PIB), o desemprego ainda atinge 13,4 milhões de trabalhadores, reformas estruturais não foram feitas e a retomada da economia está acontecendo de maneira mais lenta do que o previsto.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o economista criticou os planos econômicos adotados desde a redemocratização, falou sobre as principais ideias para atacar a crise fiscal e afirmou que o programa econômico liberal de Bolsonaro, chamado até então de “O caminho da prosperidade”, representará o “progresso”, enquanto os ideais de Estado, defendidos pelo capitão da reserva, como preservação da vida e da propriedade, representarão a “ordem”.

Confira os principais trechos da entrevista, concedida por telefone:

Gazeta do Povo - Quais devem ser as prioridades econômicas de um eventual governo Bolsonaro?

Paulo Guedes* - Por trás do programa econômico do Jair Bolsonaro existe um diagnóstico, que é o seguinte: os gastos do governo subiram descontroladamente por décadas. Foi isso que nos levou à hiperinflação, à moratória externa e é isso que nos está levando hoje ao endividamento em bola de neve. Pela primeira vez, a dimensão fiscal é o coração de um plano. O Plano Cruzado foi congelar preços. O Plano Collor foi congelar poupança. O Plano Real foi o choque monetário. Qual foi o erro de todos eles? Faltou a todos os planos a dimensão fiscal. Esse descontrole de gastos corrompeu a nossa democracia e levou à estagnação econômica. É a exaustação do modelo social-democrata. 

Como resolver a crise fiscal do país? É possível fazer isso sem aumentar impostos?

Começou a diferença entre um social-democrata e um liberal-democrata. Como é o social-democrata, sobe impostos. Como é o liberal-democrata, de jeito nenhum. Nós não vamos aumentar impostos. Olhando para um horizonte mais longo, nós não gostaríamos que tivesse nenhuma alíquota acima de 20%. A ideia é fazer uma brutal simplificação de impostos, com redução de alíquotas e ampliação de base de incidências. Ou seja, quem já paga tem que pagar dali para baixo. E a meta, ao longo desses quatro anos, é ir reduzindo alíquotas. E se houvesse governo de oito anos, em oitos anos chegar a não ter alíquota mais do que 20%. Hoje tem gente que paga 0% e gente que paga 40%. Nós preferimos que todo mundo pague, no máximo, 20%. Hoje tem vários impostos que têm isenções, como LCI, LCA, letra de câmbio agrícola, letra de câmbio imobiliário, vários grandes fundos que não pagam impostos. Da mesma forma, a pessoa física paga 27,5%, daí o sujeito faz uma pessoa jurídica e paga 17,5%. Está errado. A ideia é ampliar a base e reduzir as alíquotas.

Se vocês não vão subir impostos, o que fazer para resolver a crise fiscal?

Primeiro vamos atacar as despesas discricionárias. A maior dela, a prioritária, que inclusive estava sendo parte da agenda desse governo, é a da Previdência. Depois, você tem que tentar olhar para as [despesas] não discricionárias. Se eu entrar em privatizações, concessões, desimobilizações e reduzir a dívida, eu comecei atacar as despesas não discricionárias. Então, são três grandes despesas: a previdenciária, a administrativa (que eu ataco através da reforma do estado) e a de juros.

Qual é a sua proposta para a reforma da Previdência?

A Previdência brasileira é uma fábrica de desigualdade, entre o funcionalismo público e o privado e mesmo dentro do funcionalismo público. Ela também está quebrando antes do país envelhecer. Terceira coisa: o financiamento dela, ou seja, os encargos trabalhistas são uma arma de destruição em massa de empregos. Eles são tão altos que para um brasileiro conseguir emprego o outro tem que ficar desempregado. A alíquota é tão alta que a base é pequena. É muito melhor ter alíquotas mais baixas para todo mundo contribuir.
Nós estamos estudando uma reforma da Previdência para atacar todas as dimensões do problema. A primeira coisa é uma espécie de renda mínima para os idosos. Hoje, você mistura assistencialismo com Previdência. A segunda coisa é que nós temos que fazer uma transição do sistema de repartição para o sistema de capitalização. O sistema de repartição é uma covardia contra nossos filhos e netos. O sistema já está quebrando hoje, quando eles chegarem lá não vai ter aposentadoria para eles. Temos que permitir que eles se libertem, que eles não entrem nesse avião que está caindo. Uma coisa somos nós que já estamos nesse regime. Outra são nossos filhos e netos. É uma covardia você deixar para as gerações futuras um sistema de repartição. Você tem que fazer um sistema de capitalização. E isso vai dar um choque de empregabilidade, porque nós vamos reduzir dramaticamente os encargos trabalhistas, vamos mudar a base de incidência.

Seria uma forma de atacar tanto a reforma da Previdência quanto a geração de empregos?

Os dois estão associados. Você só vai resolver o problema da Previdência fazendo a transição de um regime para o outro. E isso gera um choque de empregabilidade, criando milhões de empregos. Quem está no atual fica no atual. O liberal sempre oferece uma opção. Quem quer ficar nesse, fica nesse. Os jovens vão ter o direito de escolher se eles querem ficar no avião que está caindo ou se eles querem ir para o novo regime trabalhista e previdenciário.

Mas o senhor não vai mexer no sistema atual da Previdência? 

Tem um sistema que está aí com problemas que vai ter que ser equacionado. É um problema que vai ter que ser atacado. Tem o outro lado disso: ao invés de ficar fazendo remendando para as gerações mais novas, temos que oferecer uma alternativa. 

Então, quando o senhor citou a mudança para o regime de capitalização e a redução dos encargos, isso tudo seria para o novo regime?

Exato. Vem um novo regime aí que vai criar tanto emprego que vai mostrar tão errado como está o antigo. E aí vai ter fila de gente querendo entrar.

E as pessoas que estão no antigo regime vão conseguir entrar no novo?

Isso nós vamos discutir. Se quiser pagar o custo, pode. Está disposto a vender a Petrobras? A Eletrobras? Eu vou proteger a nova geração.

Além da reforma da Previdência, vocês propõem enxugamento da máquina pública para cortar gastos? Redução de ministérios?

Isso é simbólico e é importante logo no início: uma redução dramática de ministérios, no máximo 15. Só que mais do que isso: nós queremos trocar o eixo. No antigo regime, o governo investe em infraestrutura, tem uma porção de empresas estatais, fica se endividando em bola de neve. O governo carrega ativos mal geridos e focos de corrupção.

O senhor está falando das estatais? 

Entre outras coisas. Estou falando do prédio que caiu em São Paulo. Aquilo era um ativo da União, valia R$ 100 milhões. Esse valor a 10% ao ano, que foi o juro médio nesses últimos anos, dá R$ 10 milhões. Ou seja, tinha dado casa apara todo mundo que estava ali. Ativo mal gerido. Estamos estudando uma reforma do Estado. Dentro da reforma do Estado, você tem privatizações, concessões e desimobilizações.

O senhor defende a privatização de todas as estatais?

Sempre que eu respondo isso, as pessoas dizem: “radical, liberal”. Me diga quais que você não quer [privatizar]? Você quer os Correios que entregam carta atrasada e teve o estouro do mensalão lá dentro? Você quer a Petrobras, mal gerida durante muitos anos e foco de corrupção? Ou vamos supor que a Petrobras é bem gerida, mas quem disse que a gente quer o monopólio no refino? Viu o rolo que deu na logística do país por causa do monopólio do refino? Ter monopólio é ruim para o consumidor, é ruim para a cadeia produtiva, cria nós logísticos. 
O ônus da prova é o contrário. Hoje, você tem que provar que deve privatizar uma empresa. Eu acho que deve ser o seguinte: prova para mim qual que deve ficar estatal?

O dinheiro das privatizações seria usado para pagar os juros da dívida pública?

Na hora que eu privatizo, eu começo a reduzir a conta de juros, que eu sou obrigado a pagar. Quando você privatiza e você reduz a dívida, você libera centena de bilhões de reais para as áreas sociais. Mas nós vamos descentralizar isso [para Estados e municípios]. Hoje, a União carrega um monte de estatais, para ganhar dividendos, e se endivida em bola de neve. Na hora que você vende ativos, você reduz a sua dívida. Se está na mão do estado, vai virando foco de corrupção e vai se tornando menos eficiente. As estatais não têm mais capacidade de investimento. Por exemplo, a Eletrobras está sem capacidade de investimento. Vai dar apagão no país em quatro anos. Ou você privatiza ou vai ficar sem educação, sem saúde, sem luz e pagando juros. Na hora que você privatizar, você não está só matando dívidas, você está atraindo centenas de milhões de dólares para investimento em infraestrutura brasileira. O governo está privatizando para reduzir divida, levar o dinheiro para área social e, ao mesmo tempo, atraindo investimento privado. Tem 20 a 30 anos que estamos fazendo “crowding out”, ou seja, expulsando investimento privado. Nós vamos fazer 30 anos de “crowding in”, nós vamos estimular o investimento privado a entrar nessas áreas todas [que serão privatizadas]. Por isso que precisamos privatizar.

Então o senhor defende a manutenção de programas sociais? 

Evidentemente que sim. Até queremos ampliar. Por isso que tem que ter as privatizações. Quanto mais eficiente você for, mais fraterno você pode ser. É uma indecência você gastar um plano Marshall l por ano com juros. O Brasil reconstrói uma Europa por ano [com o que paga de juros da dívida pública].

O senhor está falando de reformas grandes. Um eventual governo Bolsonaro teria força para implantar essas reformas?

Nós vamos chegar lá. Eu estou te dando uma visão de futuro de país. Nós temos que trocar o eixo público. Nossa visão de futuro é não mexer nos programas [sociais]. Aumentar, se puder. Em vez de ser o governo federal ficar cheio de empresas estatais, fazendo infraestrutura, queremos os governos municipais e estaduais com esse dinheiro fazendo a área social. Quero descentralizar. Queremos o pacto federativo.

O senhor quer dizer que a revisão do pacto federativo está ligada à estratégia de conseguir governabilidade?

Essa visão de futuro vai dar a governabilidade. Estados e municípios, vocês querem dinheiro para fazer a área social? Aprovem nosso programa de privatizações. A governabilidade será uma aliança política de centro-direita. Quem é social-democrata está governando o país há 30 anos, aumentou os impostos, estagnou a economia, corrompeu a política. Teve coisas boas também, como abriu os orçamentos públicos para a área social. 
O estado estava fazendo infraestrutura com estatais. Nós temos uso melhor para isso. Preferimos privatizar e deixar o setor privado fazer esse investimento de infraestrutura. Aí reduzimos dívida, liberamos recursos para estados e municípios, e eles vão atacar essa área social.

O senhor vem de uma corrente de pensamento liberal da economia, mas o deputado Jair Bolsonaro já demonstrou apoiar ideias estatizantes e nacionalistas. Como tem sido as conversas com o deputado e como os senhores têm resolvidos suas discordâncias para montar o plano econômico do pré-candidato?

Isso foi verdade. Só que os economistas brasileiros levaram oito anos para chegar à política monetária certa, 12 anos para chegar à política cambial adequada e 14 anos para chegar à responsabilidade fiscal. Tão querendo que o Bolsonaro faça isso tudo em seis meses. Eu confesso que o Bolsonaro está indo mais rápido do que eles [economistas]. Ele não chegou onde eles estão hoje. Hoje, eles estão na frente. Mas Bolsonaro só está há seis meses nessa linha. Eles ficaram 14 anos. Eles não podem quer que o Bolsonaro entenda em seis meses o que eles levaram anos para entender. 

Mas o Bolsonaro está neste caminho?

Sim, está nesse caminho.

E o senhor está tendo liberdade para montar o plano econômico?

Ele está fazendo a campanha e está delegando a parte de economia. Então, realmente, quem está fazendo o plano sou eu mesmo. 
É uma aliança política de centro-direita em torno de um programa econômico liberal-democrata. O Brasil dos últimos 30 anos sempre foi uma aliança de centro-esquerda, em torno de um programa social-democrata. Ele [Bolsonaro] não está preocupado se eu sou liberal e eu não estou preocupado se ele é estatizante. Porque é uma aliança de centro-direita em torno de um programa liberal-democrata. Então, o programa não vai ser nem tão liberal como eu sou, nem tão estatizante quanto ele seria, o que eu não acho que ele é mais. 

Em que fase está a elaboração do plano?

Estamos nas diretrizes e primeiras simulações. Têm umas 30 pessoas ajudando, incluindo ex-diretor de Banco Central, do BNDES, gente que já esteve no Ministério da Fazenda e muita gente jovem e bem informada. É um plano que trabalha com essa visão de futuro que eu te falei. E essa visão de futuro é “ordem e progresso”. Ordem é estado de direito, governo constitucional democrático, livre imprensa, império da lei, federação forte, poderes independentes. E o que é progresso? Recuperação do equilíbrio fiscal, aceleração do crescimento e geração de empregos, promoção do novo pacto federativo com descentralização de recursos para estados e municípios, redução da dívida pública com privatizações, concessões e desimobilizações para viabilizar o corte de juros e atrair investimentos privados para infraestrutura, redução e simplificação de impostos, adoção do regime de capitalização na previdência, desburocratização da economia, abertura da economia para aumentar o grau de competição e reforma do estado, que sai da área de infraestrutura e vai para a área social.
*Paulo Guedes é economista com PhD pela Universidade de Chicago, referência do pensamento econômico liberal. Foi um dos fundadores do banco Pactual (atual BTG) e é fundador e sócio majoritário do grupo financeiro BR Investimentos, hoje parte da Bozano Investimentos. É, ainda, ex-CEO e sócio majoritário do Ibmec e um dos fundadores do Instituto Millenium. Foi também integrante do conselho de administração de empresas como PDG Reality, Localiza e Anima Educação. Além da carreira como economista e banqueiro, tem vasta atuação acadêmica: foi professor de macroeconomia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), na Fundação Getulio Vargas (FGV) e no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A armadilha social-democrata do baixo crescimento - Rodrigo Constantino

Os irmãos siameses, e inimigos cordiais (por parte do PSDB) ou irracional e pernicioso para o Brasil (da parte do PT) da política brasileira, tucanos e petistas, exibem basicamente as mesmas políticas econômicas, como demonstram tanto Paulo Guedes como Rodrigo Constantino.
Uma pena, pois o Brasil pena (com perdão pela redundância) para crescer a taxas medíocres de 2 a 3%. Isso não é o mais grave, pois os EUA também cresceram a taxas modestas, mas de forma mais constante e sem os grandes sobressaltos que tivemos, com exceção das crises, mas que não inviabilizam o setor privado como o fazem aqui, uma vez que lá o Estado tem um peso menor na economia.
O Brasil está condenado ao baixo crescimento estrutural, por causa do ogro famélico que se chama Estado.
Paulo Roberto de Almeida

03/02/2014
 às 12:02 \ EconomiaPolítica

A armadilha social-democrata do baixo crescimento

O economista Paulo Guedes tem batido insistentemente na tecla da armadilha social-democrata do baixo crescimento. Tem usado seu espaço às segundas-feiras no GLOBO para mostrar como essa mentalidade predominante no Brasil tem sido responsável por nossos “voos de galinha”: barulhentos, desajeitados e de baixa altitude.
Na coluna de hoje, “Chapa quente”, Paulo Guedes retoma o tema e joga petistas e tucanos no banco dos réus, responsáveis por esse equívoco ideológico que tem nos custado tão caro. Diz o economista:
O fenômeno persiste há décadas. O Brasil segue prisioneiro da armadilha social-democrata do baixo crescimento. Com tucanos ou petistas, continua a expansão dos gastos públicos bem acima da taxa de crescimento do produto interno bruto. E, para evitar o descontrole inflacionário, sobem também os impostos e, mais uma vez, as taxas de juros, derrubando consumo, investimentos e a geração de empregos.
Essa armadilha de baixo crescimento é o resultado da falta de sintonia de nossa classe política com os requisitos de uma nova ordem global. Aprisionados por regimes tributário, previdenciário e trabalhista anacrônicos, nossa condenação ao crescimento medíocre reflete as contradições entre obsoletas práticas políticas social-democratas e as exigências econômicas de mercados globalizados. Os gastos públicos da União atingiram quase 1 trilhão de reais em 2013, aproximando-se de 20% do PIB. As despesas do governo central com o custeio de pessoal, benefícios previdenciários etc. cresceram 13,6% no ano, mais que o dobro da taxa de inflação, que fechou em pouco menos de 6%.
Não há como discordar da essência de sua mensagem. Que serve, também, para derrubar a tese tão disseminada por aí de que o PSDB é “neoliberal” ou de “direita”. Nada mais falso. É um partido social-democrata, portanto, de esquerda, e tem sua cota de culpa na situação atual do país, o eterno gigante do futuro.
Dito isso, acho injusto condenar igualmente petistas e tucanos. Não resta a menor sombra de dúvidas de que o quadro técnico do PSDB é anos-luz à frente do petista. O PSDB tem bons economistas, conta com a sabedoria de gente como Gustavo Franco ou Armínio Fraga, enquanto o PT ataca com Guido Mantega e Aloizo Mercadante. Não dá nem para comparar.
Além disso, não diria que o PT preserva o modelo social-democrata dos tucanos. A guinada foi claramente na direção de um nacional-desenvolvimentismo tacanho, ultrapassado, bem latino-americano e populista. A social-democracia tucana deve ser condenada, pois não oferece um mapa de voo mais elevado e sustentável, algo que somente o liberalismo pode fornecer. Mas ao menos não seria essa desgraça que vemos sob Dilma.
Isso para falar apenas da economia. Mas há todo um ranço autoritário no PT que não encontramos no PSDB. O PT, vale lembrar, participa do Foro de São Paulo, que ajudou a fundar, ao lado de ditaduras como a cubana, flerta com guerrilheiros das Farc, tem no MST um braço armado no campo, controla sindicatos mafiosos, enfim, o PT realmente faz o PSDB parecer “neoliberal” – mas só porque o PT parece socialista muitas vezes.
Em resumo, Paulo Guedes está totalmente certo ao alertar para essa armadilha do baixo crescimento da social-democracia, que tanto parte do PT como o PSDB abraçam. Mas exagera na dose ao condenar ambos na mesma medida, uma vez que sabemos do potencial infinitamente maior de causar estrago – econômico e social – dos petistas.
Rodrigo Constantino

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A economia brasileira em 2013 - Paulo Guedes

A Economia Brasileira em 2013
Paulo Guedes 
O Globo, 16/12/2013 

A economia brasileira chega ao final de 2013 com lamentável desempenho. A persistência de uma elevada taxa de inflação, apesar do rígido controle de preços administrados pelo governo, foi um mau 
sinal. E o baixo ritmo de crescimento, apesar das desonerações fiscais e da ampliação do crédito pelos bancos públicos, foi outro péssimo sinal. O ano que se encerra marcou nossa transição de "nova fronteira de crescimento da economia mundial" no início da grande crise contemporânea, para a atual posição de desfavorecimento entre as opções dos investidores globais. 

As expectativas quanto ao desempenho futuro de nossa economia são ainda mais preocupantes. Não se espera a queda da inflação em um ano eleitoral como 2014. Sem maior controle sobre a expansão dos gastos públicos, resta ao Banco Central correr atrás de expectativas inflacionárias desfavoráveis, derrubando o crescimento com a alta dos juros. As nuvens do baixo crescimento e da inflação elevada em 2014 começam a projetar sombras adversas também para 2015. Haveria novo salto inflacionário pelo desrepresamento dos preços administrados e outra rodada de elevação dos juros logo no início do novo mandato presidencial. Tudo isso ainda sem falar na redução dos estímulos monetários pelo banco central americano. 

A desaceleração das economias emergentes e as perspectivas de recuperação americana e de estabilização europeia explicam o baixo desempenho das bolsas emergentes diante dos mercados acionários das economias avançadas. Mas as razões de ficarmos para trás mesmo entre as bolsas emergentes estão na deterioração gradual da qualidade de nossas políticas macroeconômicas, de nossos fundamentos fiscais e nossos desacertos nos marcos regulatórios dos setores de energia e 
petróleo. 

Duas hipóteses básicas. Sim, não havia mesmo nenhum "perigo" de a situação melhorar, pois somos prisioneiros da armadilha social-democrata do baixo crescimento. Mas somos, por outro lado, uma sociedade aberta em construção. Extrapolações simplistas de mais dois anos de crise são impróprias. Ou a equipe econômica muda sua política, ou Dilma muda sua equipe econômica, ou o Brasil vai mudar de presidente. 

* Paulo Guedes é sócio – fundador e CEO do grupo financeiro BR Investimentos. Economista com Ph.D. pela Universidade de Chicago, foi um dos sócios - fundadores e diretor do Banco Pactual. Foi Sócio e CEO do IBMEC, uma das principais escolas de negócios do país, que veio a ser um marco no ensino de negócios do Brasil. É colunista semanal do jornal O Globo e escreve a cada duas semanas para a revista Época.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Lei das consequencias involuntarias - Paulo Guedes

Alguns poucos exemplos da maldita lei que produz resultados adversos de onde só se esperavam bondades.
Ela é a principal inimiga de políticos ou demagogos, o que dá quase no mesmo.
Ela precisa ser abolida, será abolida, pelo menos na República Surrealista dos Bolivarianos...
Paulo Roberto de Almeida 

ECONOMIA
Paulo Guedes
O Globo, 27/05/2013

A economia e a política oferecem muitos exemplos de expedientes oportunistas cujos efeitos não intencionais acabam se revelando trágicos para seus próprios autores. Tornaram-se clássicos de boas intenções anunciadas com péssimos resultados os casos de tabelamento de preços de alimentos.
As tentativas de garantir comida barata para as classes mais baixas pelo controle de preços sempre desembocam no desaparecimento de produtos alimentícios das prateleiras dos supermercados, como ocorre hoje na Venezuela dos despreparados socialistas bolivarianos.

Outro exemplo de desastrosos efeitos não intencionais para registro dos futuros manuais de ciência política é a emenda de reeleição presidencial patrocinada pelos tucanos.
Preterindo reformas impopulares de modernização para investir seu capital político na emenda de reeleição, os tucanos criaram uma armadilha que se revelou letal para o próprio partido.
Reeleita Dilma Rousseff, Lula pode ainda sair do banco de reservas e entrar em campo para mais dois mandatos. A emenda de reeleição teria perpetuado seus arqui-inimigos petistas no poder.
Mais um exemplo é o drama atual da economia europeia. Inconformados com o poderio dos americanos, os franceses atacaram primeiro a paridade do dólar contra o ouro. A força fiduciária da moeda americana à época reduziu o ataque especulativo à irrelevância. Em nova manobra política, apoiados pela formidável massa crítica de uma Alemanha reunificada, renovaram seu desafio ao dólar com o lançamento do euro.
Os efeitos não intencionais dessa artimanha têm se revelado excruciantes: da disciplina imposta por uma moeda supranacional ao desnudamento de um conflito entre pais com aposentadorias generosas e filhos desempregados.
Preocupam-me também os riscos de uma escalada inflacionária no Brasil, após o mergulho das classes baixas nos mercados de crédito. Particularmente pelo rápido aumento do endividamento para a compra de bens duráveis e moradias.
A aceleração da alta de preços pode trazer em poucos anos os temíveis efeitos não intencionais da própria expansão excessiva do crédito. Com as prestações em alta e os empregos em risco pela reaceleração inflacionária, o relaxamento do governo com as metas de inflação cria uma enorme ameaça para o futuro.

Paulo Guedes é economista. 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tem economista que continua a beber demais...

Semana passada, ao deparar com um artigo alucinado deste mesmo economista, eu afirmei que ele andava bebendo demais, e lhe dei um crédito de confiança, ou seja, disse que seria preciso aguardar o próximo artigo para uma segunda verificação.
Eu realmente gostaria de lhe aplicar o teste do bafômetro, para ver se ele continua tão bêbado quanto da primeira vez, como evidenciado neste artigo:

Economistas tambem tem o direito de ficar bebados...
Aug 22, 2010
Só pode ter sido por efeito da bebida, ou de algum remédio que o tenha deixado eufórico, não sei exatamente o que pode ter sido. O que ele escreve, da primeira até a última linha, não só não faz nenhum sentido econômico, ...

Bem, parece que ele continua bebendo. Não sei o que dizer. Não é o caso de internação para desintoxicação, pois pode ser passageiro. Também não é o caso de recomendar os Alcólicos Anônimos da Associação dos Economistas Brasileiros, se uma ou outra entidade existe de fato. Vamos ter mais um pouco de paciência.
Se ele continuar a falar de moeda comum, vamos tentar a psiquiatria econômica, se é que tal coisa existe...
Não sei o que acomete pessoas normais, economistas até sensatos, a de vez em quando degringolar tão rapidamente para a insanidade. Deve ser o clima reinante no país, nunca antes tínhamos observado tantas loucuras econômicas, pode ser que um mosquito do Planalto central o tenha picado, vai lá saber...
Só sei dizer que ele não está em seu estado normal...
Paulo Roberto de Almeida

O eixo da integração continental
Paulo Guedes
O Globo, 29.08.2010

Nunca é demais insistir no aprofundamento da integração econômica latino-americana em direção ao peso-real, a moeda comum continental, como o passaporte para a modernização institucional de toda a região. A forte valorização dos preços dos recursos naturais na primeira década do século XXI permitiu um afrouxamento das crônicas restrições de balanço de pagamentos sobre as possibilidades de crescimento das economias latinoamericanas. Esse alívio nas amarras antes exercidas pelo elevado grau de vulnerabilidade externa retirou as crises cambiais dos noticiários, permitiu uma aceleração do crescimento e do consumo, mas deu margem também a abusos demagógicos na condução da política econômica por alguns países.

E são exatamente esses países que praticam agora graves retrocessos institucionais, como o ataque à independência dos poderes, a desmoralização de suas moedas e a tentativa de restringir a liberdade de imprensa. É importante que se descubra uma agenda positiva para a região, antes que o esgotamento de um longo ciclo expansionista global resulte no fracasso econômico, caldo cultural para o retrocesso político das democracias emergentes.

Cuba precisa ser salva de si mesma.
Desconhece o caminho para a redemocratização.

A Venezuela mergulhou no abismo do socialismo bolivariano, rota anárquica para o caos, desembocando na supressão da liberdade de opinião e na busca de um bode expiatório externo — a ameaça de conflito armado com a Colômbia — para os fracassos internos. A Argentina segue também por caminhos equivocados, embora com grau de retrocesso institucional mais moderado.

É impossível não ter simpatia pela impaciência de Evo Morales, Rafael Correa e do próprio Hugo Chávez com a insensibilidade e a incompetência das elites políticas conservadoras de seus países.

Mas é trágico vê-los se afogando em um turbilhão de conhecidos experimentos que já empobreceram materialmente e oprimiram politicamente populações inteiras ao redor do mundo.

Eu não teria a presunção de colocar o Brasil inequivocamente à frente de países como o Chile, o Peru e a Colômbia na corrida para o futuro rumo à Grande Sociedade Aberta. Mas, por sua dimensão continental, pelas fronteiras comuns a quase todos, pela diversificação de sua economia e pela força de sua moeda, o Brasil será o eixo dessa integração econômica regional, em sua marcha para a moeda comum.

domingo, 22 de agosto de 2010

Economistas tambem tem o direito de ficar bebados...

Eles só não têm (ou pelo menos não deveriam ter) o direito de escrever bêbados.
Esse economista, que eu até reputava sério, responsável, liberal e mais próximo da mainstream economics do que do surrealismo de certas correntes muito disseminadas pelo continente, acaba de dar uma escorregada muito séria no artigo abaixo.
Só pode ter sido por efeito da bebida, ou de algum remédio que o tenha deixado eufórico, não sei exatamente o que pode ter sido.
O que ele escreve, da primeira até a última linha, não só não faz nenhum sentido econômico, nas circunstâncias atuais (e no futuro próximo) da América do Sul, como não guarda a mínima conexão com a realidade das coisas, no plano político, social, das simples constatações de base do que seja a América do Sul atualmente.
Ele começa por onde a Europa levou 40 anos para atingir: a moeda única. E acha que ela vai operar maravilhas nas políticas macroeconômicas e setoriais dos países da região.
Ele só pode estar delirando.
Vou perdoá-lo desta vez e nem vou traçar um quadro mais realista demonstrando como o que ele propõe não tem o menor embasamento na realidade, e tampouco faz qualquer sentido econômico. Vou aguardar seu próximo artigo, para depois chegar a uma conclusão.
Paulo Roberto de Almeida

A popularidade de Lula a serviço da modernização
Paulo Guedes
Revista Época, Sábado, 21 de agosto de 2010

Um economista tem, por vício deformação, a mania de buscar a eficiência no uso de recursos. É, portanto, normal pensar no uso de um recurso humano de extraordinária importância como o presidente Lula. O que fazer com ele após a eleição? Lula goza de extraordinária popularidade no Brasil, tem reconhecimento global e é, possivelmente, uma unanimidade na América Latina. Depois de deixar a Presidência, como ele poderia melhor servir ao país?

Volto a um tema que me parece extremamente importante para o futuro desempenho econômico da América Latina: a integração econômica da região sob a égide de uma moeda comum. Apesar dos frequentes tropeços da diplomacia externa brasileira, e de sua visível parcialidade, apoiando governos retrógrados que não respeitam direitos humanos aqui e acolá, Lula tem cacife político pessoal para a empreitada. Com a bandeira da integração econômica, ele pode desencadear uma avalanche de modernização no continente.

A ideia central é a integração econômica continental em direção ao peso-real num prazo de até oito anos. Por que oito anos? Pelo inegável gigantismo da tarefa e também para que o próprio Lula possa entregar o resultado. O mais importante são os desdobramentos da busca pela moeda única regional.

A Venezuela e a Argentina, por exemplo, estão sem moeda confiável. A criação da moeda regional seria uma âncora de estabilidade para os países que se perderam no turbilhão demagógico de Hugo Chávez e do casal Kirchner. Seria uma boia lançada a venezuelanos e argentinos, uma garantia de estabilidade futura.

O que temos nós, brasileiros, a ganhar com isso? Tudo. Pois, entre os desdobramentos da busca da moeda única, está a convergência de regimes fiscais, previdenciários e trabalhistas, problemas que a social-democracia brasileira nunca ousou enfrentar. Penduramos o combate à inflação apenas sobre o Banco Central. Praticamos uma perversa combinação de juros explosivos e dólar barato, duas lâminas decepando a produção e o emprego. Falta ao Brasil um regime fiscal compatível com o crescimento sustentável.

O Chile e o Peru já fizeram profundas reformas em seus regimes trabalhista e previdenciário. Lucram agora com o crescimento acelerado. Enquanto isso, nossos elevados encargos sociais e trabalhistas deixam mais de 50 milhões de brasileiros excluídos do mercado formal e, consequentemente, sem contribuir para a Previdência Social.
Temos muito a ganhar com a integração regional. Haveria convergência para práticas mais eficientes

A livre mobilidade de trabalhadores através das fronteiras, uma exigência da moeda única, requer a convergência das práticas previdenciárias e trabalhistas em direção às mais eficientes, ampliando a criação de empregos e o ritmo de investimentos. Imagine um Tratado de Mar del Plata, a exemplo do Tratado de Maastricht, que consagrou a União Europeia. Imagine também um ex-presidente Lula defendendo a modernização da legislação trabalhista e do regime de previdência em nome do crescimento.

Os eurocéticos indicam a crise da Grécia como uma condenação à moeda única continental. Mas os críticos esquecem que, nas devidas proporções, o Brasil teria o papel da Alemanha nessa configuração continental. Como estaria a Venezuela no papel da Grécia. Os alemães podem se aborrecer com a ideia de ter de ajudar os gregos, mas se beneficiam com sua economia voando, ao exibir seu papel de alicerce de toda a integração continental.

Como estaria o Brasil se, após as reformas modernizantes, Chávez continuar fazendo barulho? Podemos imaginar a economia brasileira com encargos sociais cortados a 20% sobre a folha de pagamentos, taxa de juros reduzida a 5% ao ano, taxa de poupança ampliada para 25% do PIB, inflação comportada por volta de 2% ao ano e o preço do dólar em torno de R$ 3 ou R$ 4, tanto mais alto quanto mais barulho fizesse Chávez. No saldo final, teríamos motivos para dar vivas a nossa Grécia latino-americana.

PAULO GUEDES é economista e escreve quinzenalmente em ÉPOCA