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quarta-feira, 12 de março de 2014

Temas de Política Externa: 1. O Brasil, a América do Sul e a integração regional - Paulo Roberto de Almeida

Temas de Política Externa

Paulo Roberto de Almeida
Reflexões para desenvolvimento futuro

1. O Brasil, a América do Sul e a integração regional
A América do Sul encontra-se hoje mais fragmentada do que em qualquer época anterior, quando os poucos esquemas existentes de integração eram ou reduzidos aos esquemas superficiais do tipo da Aladi, ou mais profundos, como o Grupo Andino e o próprio Mercosul, mas que sempre foram, também, referidos à Aladi e sua cobertura legal para os esquemas de livre comércio em compatibilidade com o sistema multilateral de comércio regido pelo Gatt, atualmente pela OMC. Qualquer diagnóstico que indique que a integração avançou apenas porque se criou a Unasul, ou qualquer outro organismo de coordenação regional, pretende enganar a si próprio, uma vez que não se tem registro de qualquer avanço real da integração no período recente.
Não se pode, assim, dizer que a integração sul-americana tenha avançado; ao contrário, ela recuou, na prática, ainda que a retórica da integração tenha se disseminado em todos os países, mas com escassos resultados efetivos. Onde estão, por exemplo, os processos reais de desmantelamento de barreiras alfandegárias e de abertura econômica recíproca? Com exceção da Aliança do Pacífico, que é integrado por um país da América do Norte, o México, e que conformou mecanismos automáticos de abertura recíproca, todos os demais países recuaram nos processos de abertura econômica e de liberalização comercial, inclusive o Brasil, que por sinal denunciou um acordo de livre comércio de automóveis pois os saldos bilaterais se tinham tornado negativos, num sinal preocupante de que acordos de liberalização comercial só podem ser justificados se eles se conformam ao velho padrão mercantilista.
O Brasil, como maior economia da região, e a mais avançada industrialmente, poderia ser o livre-cambista universal, ou seja, o país que se abre unilateralmente aos demais, sem exigir contrapartida imediata. Com isso, ele estaria conformando um amplo espaço econômico integrado na região, oferecendo seu grande mercado aos vizinhos, e amarrando investimentos estrangeiros, da região e fora dela, à sua própria economia. Por que ele não o faz? Não é por temer a concorrência das indústrias dos países vizinhos, se supõe, todas elas menos avançadas e menos competitivas, por disporem de menores economias de escala, do que as brasileiras. Ou talvez sim, talvez o Brasil tema a competição dos vizinhos por ter se tornado um país caro demais para os seus próprios consumidores. Se esta hipótese for a correta, os problemas estão aqui dentro, e os países vizinhos não podem ser considerados responsáveis por essa situação.
A integração é feita, justamente, para estimular a competição e os ganhos de bem-estar. Se os países decidem retornar ao mercantilismo, se está recuando no caminho da integração. Toda abertura é difícil, por colocar produtos e serviços em competição uns com os outros? É verdade, mas a integração, para responder ao seu verdadeiro nome, é feita desses gestos simples, corajosos, decididos e irrecorríveis. Qualquer ação contrária a isso significa que se está recuando da integração. Se o Brasil desejar ser a base da construção de um espaço econômico integrado na América do Sul, ele deveria começar dando o exemplo, abrindo-se unilateralmente aos demais.

11/03/2014

domingo, 22 de agosto de 2010

Economistas tambem tem o direito de ficar bebados...

Eles só não têm (ou pelo menos não deveriam ter) o direito de escrever bêbados.
Esse economista, que eu até reputava sério, responsável, liberal e mais próximo da mainstream economics do que do surrealismo de certas correntes muito disseminadas pelo continente, acaba de dar uma escorregada muito séria no artigo abaixo.
Só pode ter sido por efeito da bebida, ou de algum remédio que o tenha deixado eufórico, não sei exatamente o que pode ter sido.
O que ele escreve, da primeira até a última linha, não só não faz nenhum sentido econômico, nas circunstâncias atuais (e no futuro próximo) da América do Sul, como não guarda a mínima conexão com a realidade das coisas, no plano político, social, das simples constatações de base do que seja a América do Sul atualmente.
Ele começa por onde a Europa levou 40 anos para atingir: a moeda única. E acha que ela vai operar maravilhas nas políticas macroeconômicas e setoriais dos países da região.
Ele só pode estar delirando.
Vou perdoá-lo desta vez e nem vou traçar um quadro mais realista demonstrando como o que ele propõe não tem o menor embasamento na realidade, e tampouco faz qualquer sentido econômico. Vou aguardar seu próximo artigo, para depois chegar a uma conclusão.
Paulo Roberto de Almeida

A popularidade de Lula a serviço da modernização
Paulo Guedes
Revista Época, Sábado, 21 de agosto de 2010

Um economista tem, por vício deformação, a mania de buscar a eficiência no uso de recursos. É, portanto, normal pensar no uso de um recurso humano de extraordinária importância como o presidente Lula. O que fazer com ele após a eleição? Lula goza de extraordinária popularidade no Brasil, tem reconhecimento global e é, possivelmente, uma unanimidade na América Latina. Depois de deixar a Presidência, como ele poderia melhor servir ao país?

Volto a um tema que me parece extremamente importante para o futuro desempenho econômico da América Latina: a integração econômica da região sob a égide de uma moeda comum. Apesar dos frequentes tropeços da diplomacia externa brasileira, e de sua visível parcialidade, apoiando governos retrógrados que não respeitam direitos humanos aqui e acolá, Lula tem cacife político pessoal para a empreitada. Com a bandeira da integração econômica, ele pode desencadear uma avalanche de modernização no continente.

A ideia central é a integração econômica continental em direção ao peso-real num prazo de até oito anos. Por que oito anos? Pelo inegável gigantismo da tarefa e também para que o próprio Lula possa entregar o resultado. O mais importante são os desdobramentos da busca pela moeda única regional.

A Venezuela e a Argentina, por exemplo, estão sem moeda confiável. A criação da moeda regional seria uma âncora de estabilidade para os países que se perderam no turbilhão demagógico de Hugo Chávez e do casal Kirchner. Seria uma boia lançada a venezuelanos e argentinos, uma garantia de estabilidade futura.

O que temos nós, brasileiros, a ganhar com isso? Tudo. Pois, entre os desdobramentos da busca da moeda única, está a convergência de regimes fiscais, previdenciários e trabalhistas, problemas que a social-democracia brasileira nunca ousou enfrentar. Penduramos o combate à inflação apenas sobre o Banco Central. Praticamos uma perversa combinação de juros explosivos e dólar barato, duas lâminas decepando a produção e o emprego. Falta ao Brasil um regime fiscal compatível com o crescimento sustentável.

O Chile e o Peru já fizeram profundas reformas em seus regimes trabalhista e previdenciário. Lucram agora com o crescimento acelerado. Enquanto isso, nossos elevados encargos sociais e trabalhistas deixam mais de 50 milhões de brasileiros excluídos do mercado formal e, consequentemente, sem contribuir para a Previdência Social.
Temos muito a ganhar com a integração regional. Haveria convergência para práticas mais eficientes

A livre mobilidade de trabalhadores através das fronteiras, uma exigência da moeda única, requer a convergência das práticas previdenciárias e trabalhistas em direção às mais eficientes, ampliando a criação de empregos e o ritmo de investimentos. Imagine um Tratado de Mar del Plata, a exemplo do Tratado de Maastricht, que consagrou a União Europeia. Imagine também um ex-presidente Lula defendendo a modernização da legislação trabalhista e do regime de previdência em nome do crescimento.

Os eurocéticos indicam a crise da Grécia como uma condenação à moeda única continental. Mas os críticos esquecem que, nas devidas proporções, o Brasil teria o papel da Alemanha nessa configuração continental. Como estaria a Venezuela no papel da Grécia. Os alemães podem se aborrecer com a ideia de ter de ajudar os gregos, mas se beneficiam com sua economia voando, ao exibir seu papel de alicerce de toda a integração continental.

Como estaria o Brasil se, após as reformas modernizantes, Chávez continuar fazendo barulho? Podemos imaginar a economia brasileira com encargos sociais cortados a 20% sobre a folha de pagamentos, taxa de juros reduzida a 5% ao ano, taxa de poupança ampliada para 25% do PIB, inflação comportada por volta de 2% ao ano e o preço do dólar em torno de R$ 3 ou R$ 4, tanto mais alto quanto mais barulho fizesse Chávez. No saldo final, teríamos motivos para dar vivas a nossa Grécia latino-americana.

PAULO GUEDES é economista e escreve quinzenalmente em ÉPOCA