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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Calote americano: doloroso, mas seria divertido ver - Joe Nocera (NYT)

Quem diz que seria divertido, no sentido figurado, claro, sou eu, não o Joe Nocera, que faz uma análise séria, corretamente embasada, empiricamente sustentada, sobre as consequências, que todos chamam de "catastrófica" de um eventual calote americano sobre sua dívida pública advindo da não elevação do teto, ou do volume total, dessa dívida, que tem de ser autorizada por quem tem autoridade para isso: o Congresso.
De fato, nos EUA, as coisas mais importantes passam pelo Congresso, e seguem um ritual de exame, discussão e aprovação após grande debate público e parlamentar. Não é como em certos paisecos, nos quais o governo central, ou seja, o Executivo, faz o que quer em matéria de economia, finanças, dívida e outras matérias relevantes, como moeda, câmbio, comércio exterior, tarifas, etc. Em países sérios, essas coisas são resolvidas após um amplo debate envolvendo diversos parceiros, usuários, clientes, contribuintes, agentes econômicos coletivos e individuais, interesses privados e sociais, sem nenhuma imposição unilateral de alguma autoridade que se dá ares de mandona, e assume atitudes fascistas.
Pois bem, os EUA não parecem um país sério atualmente, pois estão sob risco de não pagarem o que devem, além de terem interrompido vários serviços, que não são exatamente básicos, mas suplementares.
Eu é que digo que seria divertido, pois nos últimos 80 anos pelo menos jamais se contestou que o Estado, ou o governo pudesse fazer isso ou aquilo. Agora, não pelas vias mais adequadas, se chegou a um impasse -- por razões de baixa política, certo -- entre os decisores, e por isso se fala da paralisia do governo. Não se trata bem de paralisia, mas de ausência de orçamento.
Ora, eu considero que se trata de uma excelente oportunidade para rediscutir o papel do Estado, alocando para os mercados diversos serviços que foram sendo entregues a esse ogro gastador ao longo das últimas décadas. Por exemplo: não pude visitar o Grand Canyon porque ele estava fechado, mas poderia ter ido a Disneyworld, se desejasse, abertinha da silva. Por que a Disney abre e os parques não? Não há nenhum motivo plausível para que isto ocorra, nenhum, repito.
Sobre a dívida, parece que as consequências seriam realmente sérias, como indica o articulista abaixo. Mas, por que não aproveitar um minicalote, seletivo, para rediscutir toda a política de endividamento do Estado?
Acho que está na hora de repensar todo o modo de funcionamento desse monstrengo que foi sendo alimentado pelo público e pelos políticos ao logo do tempo. Voltar a colocá-lo em seu lugar, o menor possível, onde não possa incomodar muita gente, e só aparecer para as tarefas realmente essenciais. Aposto como ele poderia deixar de fazer mais da metade das coisas que faz hoje...
Paulo Roberto de Almeida

OP-ED COLUMNIST

Why the Debt Ceiling Matters

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The word we keep hearing is “catastrophe.”
Fred R. Conrad/The New York Times
Joe Nocera

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Readers’ Comments

“A U.S. Default Seen as Catastrophe, Dwarfing Lehman’s Fall,” screams the headline in Bloomberg Businessweek. “A default would be unprecedented and has the potential to be catastrophic,” says a Treasury Department report issued on Thursday — two weeks before the government is expected to begin running out of cash.
But what does “catastrophic” actually mean in this context? In the summer of 2011, when Republicans refused to raise the debt ceiling unless President Obama caved to their extortionist demands, the same word was bandied about. It scared the political class enough that they kicked the can and avoided a default.
This time around, the need to raise the debt ceiling doesn’t seem to be generating nearly the same concern. Indeed, Tea Party Republicans seem to be almost rooting for the government to default, as if that would somehow bring about the smaller government they so yearn for.
But this is incredibly wrongheaded. A failure to raise the debt ceiling, should it come to that, would likely inflict a different kind of pain than sequestration or even a shutdown of the federal government. It won’t make the government smaller. But it does have the potential to diminish the value of one of America’s greatest assets — the backing of its debt — while throwing the world economy into chaos.
The first point worth making is that the 14th Amendment to the Constitution, which declares that “the validity of the public debt of the United States . . . shall not be questioned,” was added precisely to avoid what is happening now: a faction of Congress using the debt ceiling as a bargaining chip. That basic truth, as Fortune’s Roger Parloff noted in a recent blog post, “ought to weigh very heavily in the minds — and on the consciences — of the House Republican faction that is now unambiguously violating its letter and spirit.”
The second point worth making is that U.S. government debt is the only risk-free asset in the world. That debt undergirds the entire world financial system — precisely because the whole world has such faith in it. There is always demand for U.S. government debt. Almost every other asset you can think of is in some way measured against it. A default would destabilize the market for Treasuries. And that, in turn, would likely destabilize every other asset.
The stock market would fall. Interest rates would rise — meaning, for instance, mortgages would become more expensive just as the housing market is starting to revive. Treasuries themselves would likely have to pay higher interest to investors, which would create a rather sad irony: a default would exacerbate the country’s long-term debt (the very problem the Republicans claim to care about).
Let’s move to the havoc a destabilized Treasury debt would have on the banking system. “The plumbing of the global financial system depends on Treasuries,” says Karen Petrou, a banking expert at Federal Financial Analytics. Remember what happened to Lehman Brothers? As the market lost faith in the company’s ability to meet its obligations, Lehman lost access to the “repo” market, which is the way banks are funded on a short-term basis. Treasuries make up a great deal of the collateral in the repo market. If a default were to cause the repo market to freeze, the entire banking system would find itself in crisis. Meanwhile — more shades of Lehman Brothers — the ratings agencies would likely downgrade Treasuries, forcing money market funds to start dumping government debt.
Painful choices would have to be made. Right now, the Treasury Department says it does not have the authority to pick and choose which creditors to pay. But, in the event of a default, it is hard to imagine that the government wouldn’t make some tough decisions about who should get paid in the short term — and who would have to wait. And, though this would infuriate millions of Americans, bondholders in China would likely get their money ahead of, say, Social Security recipients.
“From a purely cost-benefit analysis,” says Mark Zandi of Moody’s Analytics, “not paying bondholders would wind up costing the U.S. much more than not paying Social Security recipients” — because if bondholders lost faith in Treasuries, it would cost the government billions more in interest payments each year.
During the 2011 debt-ceiling crisis, consumer confidence dropped by 22 percent. When consumer confidence falls, people are less willing to spend and businesses are less willing to hire. That’s how recessions — or depressions — begin, and that may be the most important consequence of all.
For as long as anyone can remember, the ability of the United States government to pay its bills on time has given the rest of world tremendous confidence. At the same time, to have the one asset everyone in the world trusts has given America great advantages.
Why on earth would we ever risk that? Why?

terça-feira, 28 de maio de 2013

Lei das consequencias involuntarias - Paulo Guedes

Alguns poucos exemplos da maldita lei que produz resultados adversos de onde só se esperavam bondades.
Ela é a principal inimiga de políticos ou demagogos, o que dá quase no mesmo.
Ela precisa ser abolida, será abolida, pelo menos na República Surrealista dos Bolivarianos...
Paulo Roberto de Almeida 

ECONOMIA
Paulo Guedes
O Globo, 27/05/2013

A economia e a política oferecem muitos exemplos de expedientes oportunistas cujos efeitos não intencionais acabam se revelando trágicos para seus próprios autores. Tornaram-se clássicos de boas intenções anunciadas com péssimos resultados os casos de tabelamento de preços de alimentos.
As tentativas de garantir comida barata para as classes mais baixas pelo controle de preços sempre desembocam no desaparecimento de produtos alimentícios das prateleiras dos supermercados, como ocorre hoje na Venezuela dos despreparados socialistas bolivarianos.

Outro exemplo de desastrosos efeitos não intencionais para registro dos futuros manuais de ciência política é a emenda de reeleição presidencial patrocinada pelos tucanos.
Preterindo reformas impopulares de modernização para investir seu capital político na emenda de reeleição, os tucanos criaram uma armadilha que se revelou letal para o próprio partido.
Reeleita Dilma Rousseff, Lula pode ainda sair do banco de reservas e entrar em campo para mais dois mandatos. A emenda de reeleição teria perpetuado seus arqui-inimigos petistas no poder.
Mais um exemplo é o drama atual da economia europeia. Inconformados com o poderio dos americanos, os franceses atacaram primeiro a paridade do dólar contra o ouro. A força fiduciária da moeda americana à época reduziu o ataque especulativo à irrelevância. Em nova manobra política, apoiados pela formidável massa crítica de uma Alemanha reunificada, renovaram seu desafio ao dólar com o lançamento do euro.
Os efeitos não intencionais dessa artimanha têm se revelado excruciantes: da disciplina imposta por uma moeda supranacional ao desnudamento de um conflito entre pais com aposentadorias generosas e filhos desempregados.
Preocupam-me também os riscos de uma escalada inflacionária no Brasil, após o mergulho das classes baixas nos mercados de crédito. Particularmente pelo rápido aumento do endividamento para a compra de bens duráveis e moradias.
A aceleração da alta de preços pode trazer em poucos anos os temíveis efeitos não intencionais da própria expansão excessiva do crédito. Com as prestações em alta e os empregos em risco pela reaceleração inflacionária, o relaxamento do governo com as metas de inflação cria uma enorme ameaça para o futuro.

Paulo Guedes é economista. 

domingo, 26 de maio de 2013

O Bolsa Familia e a lei das consequencias involuntarias

Na sequencia do post anterior, retiro este argumento, que parece aplicar-se perfeitamente ao Bolsa Familia:

The law of unintended consequences codified the idea that the most ambitious government programs will have the most unexpected consequences, many of them malignant.

A semana que passou assistiu ao caos social no Nordeste ( mas revelador de certa psicologia coletiva nacional) derivado do boato sobre o término do programa assistencialista (e eleitoral) e também a reclamações de alguns beneficiários, para quem a esmola é tão pouca (na faixa de 170 reais, segundo a declaração) que "não dá nem prá comprar uma calça para a filha, que está custando 300 reais". 
Pois é, essa é uma perfeita demonstração da lei das consequências involuntárias. 
Governos populista e demagogos, como o nosso, estão sempre recaindo nela. Nós pagamos, claro. 
Paulo Roberto de Almeida