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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Educacao no Brasil nao melhora, so piora: The Learning Curve

Brasil ocupa antepenúltima posição em ranking internacional de educação

O Brasil aparece na 38ª posição entre 40 países analisados no The Learning Curve (Curva do Aprendizado, em inglês), realizado pela The Economist Intelligence Unit (EIU) e Pearson Internacional. Em relação ao estudo anterior, de 2012, o país subiu uma colocação, apesar de ter piorado seu desempenho no índice.
O levantamento da EIU e da Person considera diferentes avaliações, relacionando-as com a produtividade do país. O índice leva em conta habilidades cognitivas e de desempenho escolar a partir do cruzamento de indicadores da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), Tendências Internacionais nos Estudos de Matemática e Ciência (Timms) e avaliações do Progresso no Estudo Internacional de Alfabetização e Leitura (Pirls). Também são usados dados educacionais de alfabetização e taxas de aprovação.
No estudo deste ano, o Brasil passou o México no ranking, porque aquele país teve um recuo ainda maior no índice. O último lugar continua ocupado pela Indonésia. As primeiras posições trazem novidades, com nações asiáticas, como Coreia do Sul e Japão, tomando o lugar da Finlândia, que havia muitos anos figurava na liderança da maioria das avaliações.
“O sucesso desses países destaca a importância de ter objetivos claros para o sistema educacional e uma forte cultura de responsabilidade na prestação de contas”, afirma o relatório.
Qualidade. Para Michael Barber, chefe de Educação da Pearson, os governos de todo o mundo estão sob pressão para melhorar a aprendizagem. “Isso é cada vez mais importante para o sucesso das pessoas”, disse.
O relatório ressalta a ligação estatística entre o tempo médio gasto na escola por um estudante de um país e a produtividade dos trabalhadores. Aponta ainda que é imprescindível a qualidade da formação básica, mas a retenção de habilidades depende da continuidade da aprendizagem ao longo da vida adulta.
A professora Maria Helena Guimarães de Castro, presidente da Fundação Seade, afirma que o Brasil tem resultados muito positivos na inclusão dos últimos 25 anos, mas que o desafio agora é a qualidade. “O essencial está no ensino fundamental, com professores estimulados e bem formados”, diz ela, que foi consultora do relatório. “A produtividade do Brasil é muito baixa e precisamos avançar. Mas é claro que esse não é o único sentido da educação.”
Para o presidente da Pearson no Brasil, Giovanni Giovannelli, o diagnóstico também pode ajudar os gestores por mostrar as práticas que funcionam no mundo. “Tem quase 200 países nas Nações Unidas e só esses 40 têm essa medição. Só isso é em si um fato positivo para o Brasil”, diz ele.
Fonte: O Estado de S. Paulo

sábado, 12 de abril de 2014

A educacao no Brasil e' ruim? Nao! Apenas pior do que se possa imaginar...

Ou muito mais pior, como diria um ignorante famoso, mas esperto o bastante para explorar ignorância alheia em torno de suas causas totalmente anti-educativas.
Nunca antes na história nacional, o Brasil tinha recuado tanto, moralmente, eticamente, educacionalmente, mentalmente. Uma tragédia, da qual será difícil se recuperar, inclusive porque aí estão, e continuam fortes, as máfias sindicais em prol da isonomia e da mediocracia, as saúvas freireanas, muito ativas naquele dinossauro retardatário que se chama MEC, e todos os militantes ainda mais ignaros que o grande chefe, e menos espertos, que contribuem para o aumento da estupidez nacional.
Com isso, só se pode prever um itinerário para a deseducação nacional: o brejo.
O que não vai acontecer, porque mais um pouco eles conseguem mais alguns nacos do orçamento nacional, e vão continuar disseminando ignorância com salários mais altos.
Paulo Roberto de Almeida

Drama revisitado

Brasil fica nas últimas posições no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes. Resultados recém-divulgados sobre a capacidade dos alunos de solucionar problemas práticos do dia a dia apontam fracasso do desempenho brasileiro, apesar da melhora nos últimos anos.
Por: Henrique Kugler
Ciência Hoje, em 10/04/2014
Drama revisitado
A educação brasileira ainda é uma das piores do mundo, segundo resultados do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes. (foto: Nathan Wood/ Flickr – CC BY-NC 2.0)
Seria provavelmente um escândalo nacional – na Finlândia, na Coreia do Sul ou no Canadá. Mas não no Brasil. Por aqui, o desempenho sofrível da educação não costuma gerar muito ‘Ibope’. Passou quase batido na imprensa tupiniquim o fato de que, na semana passada, foi divulgada mais uma leva de resultados do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, o famoso Pisa, administrado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD).
Mais uma vez – como que seguindo uma nefasta tradição – o Brasil fracassou. Dos 44 países avaliados, ficamos na 38ª posição. Na lanterna, fica a Colômbia. E no topo figuram os asiáticos: Singapura, Coreia do Sul e Japão.
Louzano: “O foco do Pisa, especialmente nessa etapa de resolução de problemas do cotidiano, é avaliar quão preparados estão os jovens tanto para continuar aprendendo quanto para ingressar no mercado de trabalho”
Os resultados são de um exame aplicado em 2012. Na ocasião, o Pisa intencionava avaliar competências em leitura, matemática e ciências de alunos de 15 anos em 65 países. Mas um subgrupo desses estudantes participou, paralelamente, de um teste adicional – que, por meio de tarefas interativas realizadas em um computador, buscava mensurar o que a OECD chama de “solução criativa de problemas”. É a esse recorte que se referem os números recém-divulgados.
Eram questões de natureza essencialmente prática – focadas na solução de problemas do dia a dia que independem do mero acúmulo de conhecimento. Como lidar com uma bilheteria eletrônica em uma estação de metrô? Como decidir, a partir de um mapa, quais são as rotas adequadas para se realizar determinado percurso? São alguns exemplos das questões respondidas por 85 mil alunos de 44 nacionalidades.
“O foco do Pisa, especialmente nessa etapa de resolução de problemas do cotidiano, não é avaliar o sistema educacional de um país; é avaliar quão preparados estão os jovens tanto para continuar aprendendo quanto para ingressar no mercado de trabalho”, esclarece a pedagoga Paula Louzano, da Universidade de São Paulo (USP).

Análise

Dos novos números emergiram inquietantes comparações. No Brasil, 47% dos alunos não souberam resolver as questões mais fáceis da prova, enquanto apenas 1,8% puderam solucionar as perguntas mais desafiadoras. Para esses dois parâmetros, a média dos países da OECD foi, respectivamente, 21% e 11%.
Importante observar: no caso do Brasil, o retrato do Pisa esconde uma cruel assimetria estatística: “Cerca de 20% de nossos jovens de 15 anos sequer são elegíveis para realizar o exame”, escancara Louzano. “Ou estão fora da escola, ou estão defasados.”
Sala de aula vazia
Segundo a pedagoga Paula Louzano, da Universidade de São Paulo, cerca de 20% dos brasileiros com 15 anos sequer são elegíveis para realizar o exame do Pisa, por estarem fora da escola ou defasados. (foto: Emory Maiden/ Flickr – CC BY-NC 2.0)
“É verdade que, em comparação com países mais industrializados, a educação brasileira apresenta um desempenho ruim”, diz à CH On-line o diretor-interino para o setor de educação da OCDE, Andreas Schleicher. “Por outro lado, observa-se que desde o ano 2000 nenhum país evoluiu mais que o Brasil nessas avaliações.”
Outro ponto para nós, segundo Schleicher: “Muitos estudantes brasileiros parecem aprender rapidamente. São inquisitivos e capazes de resolver problemas em contextos não familiares pela observação e interação com situações complexas.” Ele ressalta que essas habilidades são bastante importantes em um mundo que não mais credencia um estudante pelo que ele sabe – já que o Google sabe tudo –, mas sim pelo que ele é capaz de fazer com o que sabe.
Schleicher lembra, ainda, que o Brasil “tem se destacado na promoção da igualdade e distribuição das oportunidades de aprendizado”. Metas de universalização do ensino têm, de fato, atingido graus satisfatórios de êxito ao longo da última década.

Chorando as pitangas

O cenário pode ser fértil para análises otimistas. Mas também é promissor para um pessimismo bem embasado. “O fato de estarmos melhorando não significa que estamos bem; não estamos nada bem”, garante Louzano. “Os indicadores evoluíram muito simplesmente porque nas avaliações anteriores estávamos em um patamar muito, muito baixo”, lembra a pesquisadora da USP. “Antes, nossos alunos tinham dificuldades até para ler a prova.”
Louzano: “Os indicadores evoluíram muito simplesmente porque nas avaliações anteriores estávamos em um patamar muito, muito baixo”
Contexto: “Por exemplo, no último Pisa a avaliar matemática, em 2003, quase 50% dos alunos brasileiros estavam abaixo do nível 1, o mais baixo na escala de 1 a 6 estabelecida pela metodologia da avaliação”, diz a matemática Maria Tereza Soares, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro da equipe de consultoria do Pisa até 2010. Nos resultados de 2012 – divulgados no ano passado –, ‘apenas’ cerca de 30% dos alunos estão nesse nível.
Para Soares, os números revelam as dificuldades ainda enfrentadas pelo Brasil no âmbito da educação básica – no que se refere principalmente a leitura, compreensão e desenvolvimento cognitivo dos alunos.
Diante desse panorama crítico, Louzano ressalta a necessidade de darmos mais atenção à educação no país. “Há poucos meses, a opinião pública se viu imersa em uma discussão sobre a qualificação que os médicos no Brasil devem ter”, lembra a pesquisadora, referenciando polêmicas mal resolvidas do Programa Mais Médicos. “Quando tivemos, no país, uma discussão análoga sobre a qualificação que um professor deve ter?”
Louzano acrescenta: “Temos ambição de país desenvolvido quando se trata da inserção do Brasil no cenário econômico internacional, mas não temos ambições equivalentes quando o assunto é educação.”

Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line
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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Politicas educacionais no Brasil: do mal ao pior - Ricardo Velez-Rodriguez

Partilho amplamente da análise do professor Ricardo Velez-Rodriguez, embora tenha reparos a fazer em alguns pontos muito específicos de sua análise, mas ele tem minha total adesão a sua análise dos males da educação brasileira.
Como eu já disse, e repito, as coisas estão tão erradas com a educação que não existe nenhum risco de melhorar no futuro previsível...
O amigo Orlando Tambosi resumiu o longo artigo.
Paulo Roberto de Almeida


Não só a economia brasileira faz voos de galinha, mas também as políticas públicas no setor educacional, que  não tiveram continuidade ao longo dos últimos 50 anos. Quem diz isso é o professor Ricardo Vélez-Rodríguez, do blog Rocinante, que analisa três períodos da história brasileira. O terceiro diz respeito ao catastrófico lulopetismo, que ideologizou gramscianamente o ensino, do primário ao universitário. Cito um trecho, remetendo depois ao texto integral. Boa leitura dominical:

(....) Poderíamos sintetizar em dez pontos os aspectos negativos do sistema de ensino brasileiro ao longo dos dois governos de Lula e do governo da sua sucessora, Dilma Rousseff:

1 – Queda do setor de ensino primário nas avaliações internacionais.

2 – Queda do setor de ensino secundário nas avaliações internacionais.

3 – Queda do setor de ensino superior nas avaliações internacionais.

4 – Critérios dúbios adotados pelo Ministério de Educação na avaliação do sistema de ensino brasileiro nos seus três níveis.

5 – Pano de fundo altamente ideológico e radical das reformas educacionais petistas, no contexto da denominada “revolução cultural” de inspiração gramsciana.

6 – Inépcia do INEP na gestão dos vestibulares.

7 – Aparelhamento, pelo Partido dos Trabalhadores, dos Institutos de Pesquisa do Estado em relação ao desenvolvimento econômico e social (IPEA, IBGE).

8 – Inadequada formulação do programa “Ciência sem Fronteiras”, para enviar ao exterior 100 mil estudantes brasileiros de nível superior, um caso gritante de “turismo acadêmico”.

9 – Preconceitos do PT em face do setor privado no terreno educacional.


10 – Despreparo do governo para lidar com o ensino digital de grandes proporções. (Texto completo).

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UM CASO TÍPICO DE VOO DE GALINHA: AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO DE 64 ATÉ 2014

Ricardo Vélez-Rodriguez
Rocinante, 22 de fevereiro de 2014




O fenômeno do desajeitado voo galináceo do desenvolvimento brasileiro manifesta-se, notadamente, no campo educacional. As políticas públicas para o setor não tiveram continuidade ao longo dos últimos cinquenta anos, além da circunstância de que, em geral, não foram adequadamente traçadas. 

É o que mostrarei nas próximas páginas. Analisarei, em primeiro lugar, as reformas educacionais do ciclo militar, destacando a tradição cientificista em que elas ancoraram. Passarei a analisar, em seguida, os problemas do ensino na Nova República, e as políticas públicas com que os governos tentaram dar resposta, notadamente ao longo dos mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Analisarei, em terceiro lugar, as políticas públicas de educação ao longo dos governos petistas.

Concluirei destacando a falta de continuidade na formulação das políticas públicas em educação nesses três momentos da história republicana.


Ler a íntegra neste link:
http://pensadordelamancha.blogspot.com.br/2014/02/um-caso-tipico-de-voo-de-galinha-as.html

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Educacao: o Brasil continua pessimo no PISA-OCDE - Gustavo Ioschpe (draft de 11/01/2014)

Por que não falar a verdade, ministro?

Gustavo Ioschpe

Revista Veja, 11/01/2014

(Nota PRA, em 24/02/2015: esta nota tem mais de ano, e ficou parada nos drafts do meu blog todo este tempo, por razões que desconheço; devo ter dormido em cima do teclado... Mas o tema continua revelante, e a situação educacional do Brasil só tem piorado, por isso ela vai postada, e vocês podem ser ainda mais pessimistas do que eu era um ano atrás...)

Em dezembro, foram divulgados os resultados do Pisa, o mais importante teste de qualidade da educação do mundo, realizado a cada três anos com alunos de 15 anos. Como vem ocorrendo desde a primeira edição, no ano 2000, os resultados do Brasil foram péssimos. Ficamos em 58a lugar em matemática, 59- em ciências e 55e em leitura, entre os 65 países que participaram. Caímos no ranking nas três áreas, em relação à prova anterior. Como já havia acontecido em edições passadas, nem nossa elite se salvou: os 25% mais ricos entre os alunos brasileiros tiveram desempenho pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos (437 pontos versus 452 pontos em matemática).

A Alemanha, assim como o Brasil, também participa do Pisa desde 2000. Quando os resultados daquele ano foram divulgados, os alemães descobriram que o país de Goethe, Hegel e Weber tinha ficado em 21- lugar entre os 31 participantes daquela edição, abaixo da média dos países da OCDE. Os dados caíram como uma bomba. A presidente da Comissão de Educação do Parlamento alemão disse que os resultados eram uma "tragédia para a educação alemã". A Der Spiegel, a mais importante revista do país, refletiu a tragédia com a seguinte manchete na capa: "Os alunos alemães são burros?". O alvoroço levou inclusive à criação de um game show na TV alemã.

No dia do anúncio dos resultados da última edição do Pisa, a reação brasileira foi bem diferente. Nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante. convocou uma coletiva de imprensa para declarar que o Pisa era uma "grande vitória" da educação brasileira e um sinal de que "estamos no caminho certo" (rumo ao fundo do poço?). Recorreu à mesma cantilena de seu antecessor, Fernando Haddad: "A foto é ruim, mas o filme é muito bom". Ou seja, a situação atual ainda não é boa, mas o que importa é a evolução dos resultados. E nesse quesito Mercadante fez um corte bastante particular dos resultados (focando apenas matemática, e só de 2003 para cá) para afirmar que o Brasil era "o primeiro aluno da sala", o país que mais havia evoluído. Sem mencionar, é claro, que evoluímos tanto porque partimos de uma base baixíssima. Quando se parte de quase nada, qualquer pitoco é um salto enorme.

Essas reações são tão previsíveis que escrevi um artigo, disponível em VEJA.com, um dia antes da fala do ministro, não só prevendo o teor da resposta como até o recurso à sétima arte (todos os links disponíveis em twitter.com/gioschpe). Mas, apesar de esperada, a resposta do ministro me causa perplexidade e espanto. Ela é muito negativa para o futuro da educação brasileira.

Eis o motivo da minha perplexidade: Mercadante e seu MEC não administram as escolas em que estudam nossos alunos de 15 anos. Dos mais de 50 milhões de estudantes da nossa educação básica, mero 0,5% está na rede federal. No Brasil, a responsabilidade por alunos do ensino médio é fundamentalmente de estados (85% da matrícula) e da iniciativa privada (13%). O MEC administra as universidades federais e cria alguns balizamentos para a educação básica, além de pilotar programas de reforço orçamentário para questões como transporte e merenda escolar, entre outras funções. A tarefa de construir as escolas, contratar e treinar os professores e estruturar o sistema é dos estados. No ensino fundamental, dos municípios. Portanto, os resultados do Pisa não representam um atestado de incompetência do Ministério da Educação. A maior parte da responsabilidade está certamente com estados e municípios. Além do mais, a tolerância do brasileiro para indicadores medíocres na área educacional é sabida e, ao contrário da Alemanha em 2000, não havia nenhuma expectativa de que tivéssemos um desempenho estelar no Pisa. Por que, então, o ministro não pode vir a público e dizer a verdade: que nossa situação é desastrosa, e que enquanto não melhorarmos a qualidade do nosso ensino continuaremos a chafurdar no pântano do subdesenvolvimento e da desigualdade? Não haveria custo político para Mercadante nem para o PT, já que o problema da nossa educação vem de antes da era lulista, e estados administrados por partidos de oposição tiveram resultados tão ruins quanto os da situação. Até entendo que seu antecessor se valesse dessa patacoada, pois teve uma gestão sofrível e era um neófito político em busca de divulgação, mas Mercadante já é um político consagrado e está fazendo uma boa gestão, a melhor da era petista; não precisa disso.

Antes que os patrulheiros venham com suas pedras, eu me adianto: o ministro não mentiu em suas declarações, apenas tapou o sol com a peneira. Fez uma seleção de dados destinada a conferir uma pátina brilhante a um cenário que na verdade é calamitoso. E esse malabarismo político, longe de ser apenas mera questão de conveniência pessoal, é muito ruim para o país.

Vocês que me leem há algum tempo sabem que estou convencido de que o grande entrave para a melhoria da qualidade educacional brasileira é o fato de que nossa população está satisfeita com
nossa escola (em pesquisa do Inep com amostra representativa de pais de alunos da escola pública, a qualidade do ensino da escola do filho teve uma inacreditável nota média de 8,6. Realidade africana, percepção coreana...). Enquanto a população não demanda nem apoia mudanças, os governantes não têm capital político para encarar a força obstrucionista dos sindicatos de professores e funcionários (um contingente absurdamente inchado de 5 milhões de pessoas). Excetuando VEJA, este colunista e mais meia dúzia de quixotes, toda a discussão nacional sobre o tema é dominada por mantenedores do status quo. Canais de TV buscam sempre alguma história de superação individual, para dar um contorno feliz a uma história triste. Rádios estão preocupadas com debates inflamados, a despeito da veracidade do que é discutido, quer o assunto seja educação, política ou futebol. Jornais acham que aprofundar um assunto é dar os dois lados da moeda, como se educação fosse questão de opinião, não de pesquisa. Empresários não querem falar nada que gere conflito; a maioria dos intelectuais é também professor e tem interesses pecuniários; políticos em geral querem se tomar prefeitos ou governadores. Nesse cenário, quem é que vai falar para o brasileiro aquilo que ele não quer ouvir? O candidato natural é o ministro da Educação. Imaginem que fantástico seria se Mercadante tivesse vindo a público para dizer: "O Brasil foi muito mal no Pisa. Nossos alunos não estão aprendendo o que precisam. Está na hora de encararmos essa realidade. Temos uma enorme crise educacional — o que, na Era do Conhecimento, significa que enfrentamos um gravíssimo problema. Para vencê-lo, todos teremos de arregaçar as mangas e trabalhar mais. Este ministério não administra nossas escolas, mas estamos à disposição de todos os prefeitos, governadores e secretários de Educação que querem melhorar".

Essas palavras poderiam marcar o início de uma nova era. E isso não traria custo político ao ministro. Acho até que geraria benefícios. São palavras de um estadista, de alguém que se preocupa com o futuro dos milhões de alunos que hoje estão sendo massacrados por um sistema educacional inepto.

P.S.: Depois da comoção de 2000, a Alemanha deu um salto. Neste último Pisa, ficou bem acima da média obtida pelos países da OCDE, abocanhando o 12. lugar em ciências, o 16º em matemática e o 19º em leitura

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Educacao brasileira: como melhorar (Instituto FHC)

Aprender a ensinar

Alterar profundamente a formação dos professores e também o sistema de administração escolar, além de criar um currículo mais adequado aos tempos atuais, que leve ao aluno o conhecimento de que ele realmente necessitará no seu cotidiano. Esses são alguns dos pontos sugeridos por especialistas para melhoria de nosso sistema educacional.
O economista Fernando Veloso, da Fundação Getulio Vargas Rio, acha que é preciso estabelecer metas de aprendizagem em todas as séries e disciplinas, criar um currículo nacional e integrar as metas de aprendizagem com avaliação, currículo, material pedagógico e formação de professores.
Como a condição socioeconômica é um determinante importante do desempenho educacional, é preciso ter políticas específicas para escolas que atendem crianças e jovens de famílias mais pobres , lembra ele, ressaltando que essas mudanças envolvem uma combinação de medidas, como elevação da carga horária (possivelmente tempo integral), melhores professores e infraestrutura de qualidade.
O sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), diz que, para sairmos de onde estamos patinando, é preciso mexer na formação dos professores, nos sistemas de administração escolar e nos conteúdos do que é ensinado. Hoje, segundo ele, os professores são formados em cursos universitários que não os formam naquilo que devem ensinar (Português, Matemática, Ciências) nem em como ensinar. Melhorar o salário é importante para tornar a profissão mais atraente para gente mais qualificada, mas, ressalta Schwartzman, não ajuda em nada se os professores forem os mesmos e não puderem ser estimulados pelo bom trabalho e, eventualmente, afastados por mau desempenho, ou seja, sem um sistema de mérito contra o qual os sindicatos se opõem sempre.
Hoje os professores são formados em cursos universitários que não os formam naquilo que devem ensinar nem em como ensinar
Nesse esquema, as escolas seriam geridas por diretores responsáveis pelo desempenho dos alunos, e não meros burocratas ou indicados políticos, o que ainda ocorre em boa parte de nossas escolas. Em relação ao currículo, é necessário que seja bem estruturado para garantir que os alunos aprenderão o essencial nos primeiros anos, e a possibilidade de fazer opções, inclusive pela formação técnica de nível médio, a partir do segundo grau.
Schwartzman considera que hoje o currículo da educação fundamental é genérico demais, e o ensino médio é estrangulado por uma legislação que exige um número absurdo de matérias obrigatórias, e pelo Enem, que transformou as escolas em cursinhos de preparação para a prova.
João Batista Araujo e Oliveira, ph.D. em Educação e presidente do Instituto Alfa e Beto, acha que os grandes avanços em educação no Brasil são de quantidade, mas, na qualidade, patinamos, ou seja, não temos paciência para crescer com qualidade.
Além de formação, certificação e plano de carreira para os professores e um currículo para o ensino fundamental, Araujo e Oliveira quer diversificar o ensino médio e reformar o ensino superior na direção do Protocolo de Bolonha, que uniu os governos da União Europeia em ações com o objetivo principal de elevar a competitividade internacional do sistema europeu do ensino superior. O presidente do Alfa e Beto pede um federalismo para valer – com delimitação clara de papéis e, no caso do governo federal, troca do intervencionismo por sistemas de incentivo para promover a diversidade, e não para empurrar os programas do MEC goela abaixo.
Mozart Ramos Neves, do Instituto Ayrton Senna, acha que é preciso rever a formação dada pelas nossas universidades, não somente os cursos de Pedagogia, mas as Licenciaturas de um modo geral em busca de uma formação que seja capaz de integrar as novas tecnologias e plataformas de aprendizagem para o desenvolvimento humano.
Ele acha fundamental incorporar ao cotidiano das escolas as habilidades não cognitivas ou socioemocionais no processo de aprendizagem. É preciso ir além do cognitivo, que ainda é um grande desafio, diz ele, potencializando fatores como cooperação, resiliência, disciplina, planejamento e organização para alavancar os resultados de aprendizagem. Isso já vem sendo observado em escolas que empregam games associados a esses fatores, saltos de aprendizagem significativos são verificados , observa Mozart.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Forum de Davos no pais das sauvas freireanas - Brasil fica na rabeira em educacao

Este editorial do Estadão já é um pouco antigo, do começo do mês, e eu estava aguardando abrir um espaço na agenda para poder tecer algumas considerações a respeito. Mas fui atropelado, literalmente, por tarefas muito mais urgentes, como diria um campeão da fala gestual e oral, e não pude fazer. Melhor, portanto, postar e deixar os comentários mais elaborados para outra ocasião. Ou então insistir no que tenho dito.
O Brasil não aparece tão mal nesta foto relativa ao nosso sistema educacional calamitoso apenas porque é um país que acumulou atrasos seculares, e vem muito de longo, muito de baixo.
Não, de forma alguma.
O Brasil já tinha conseguido construir uma escola pública de qualidade, entre os anos 1940 e 1960, que depois começou a cair de qualidade lentamente, com a expansão do recrutamento (a democratização do ensino, que antes só "recolhia" classe média urbana, e deixava miseráveis urbanos e todos os pobres rurais de fora) e com a concentração de recursos, pelos militares, nos ciclos superiores e na pós-graduação. Foi um erro, correto, mas não com más intenções.
Mas o fato é que, depois de se ter completado a expansão qualitativa -- enrollment tax -- sob FHC, a qualidade do ensino, que não não era grande coisa, pois as saúvas freireanas já dominavam as metodologias e conteúdos pedagógicos desde os anos 1960 pelo menos, sob o reinado do nunca antes, no proto-totalitarismo dos companheiros, a qualidade despencou de vez, pois ao lado das saúvas entraram novos bárbaros, com a deformação completa dos padrões de ensino: tome estudos afrobrasileiros para cá, portunhol para lá, oportunidades para os marxistas desempregados sob a forma de sociologia e filosofia no ciclo médio, enfim, um festival de horrores que só fez afundar ainda mais rapidamente a educação do Brasil.
Ele não está atrasada; ela está retrocedendo, piorando, ficando um rebotalho de metodologias ultrapassadas e de conteúdo idiota dia a dia, o que significa que ainda não chegamos no fundo do poço, ainda vamos recuar muito mais, até onde a vista alcança e não alcança, pois os companheiros mesmo derrotados politicamente no plano federal, estão deixando todas as suas saúvas para comprometer o futuro da educação por pelo menos uma geração inteira. Vamos ter de recuar muito, até as pessoas perceberem que estamos fazendo, continuamos a fazer, coisas erradas o tempo todo, e insistimos no erro.
Os debilóides que dirigem a educação brasileira vão deixar uma terra arrasada...
Paulo Roberto de Almeida

Nosso calcanhar de aquiles

Editorial O Estado de S.Paulo, 07 de outubro de 2013
Um novo estudo do Fórum Econômico Mundial mostra que o estado lastimável da educação talvez seja o mais grave entre todos os entraves ao pleno desenvolvimento profissional e pessoal dos brasileiros.
O Fórum mediu pela primeira vez o chamado "capital humano" de 122 países. A expressão resume a capacidade, os talentos e o conhecimento dos trabalhadores para gerar valor.
Para essa mensuração, os pesquisadores criaram o Índice de Capital Humano, baseado em quatro pilares: saúde e bem-estar, que indica a situação física e mental da população, desde a infância até a idade adulta; educação, que avalia a qualidade do ensino em todos os níveis e diz respeito não apenas aos trabalhadores de hoje, mas aos do futuro; força e mercado de trabalho, que quantifica o preparo intelectual e o nível de treinamento da população em idade de trabalhar; e, por último, a existência de infraestrutura e de parâmetros legais para que os três pilares anteriores não apenas se desenvolvam, mas também que sejam bem explorados.
No ranking criado a partir dessas informações, o Brasil aparece em 57.º lugar entre os 122 países - a Suíça lidera, e há 8 europeus entre os dez primeiros. Embora não seja motivo de festa, a colocação brasileira tampouco deve ser vista como desastrosa, para um país com a vasta quantidade de problemas que o Brasil tem. Há Brics em pior situação, como a Índia (78.º) e a África do Sul (86.º), mas, na América Latina, o Chile (36.º) e o Uruguai (48.º) estão à nossa frente.
No desdobramento do índice, observa-se que o Brasil está em posição razoável no quesito saúde e bem-estar da população - aparece em 49.º lugar, bem próximo dos Estados Unidos (43.º). No que diz respeito ao emprego, o Brasil está em 45.º.
Quando o tema é educação, no entanto, o Brasil despenca para a 88.ª colocação. Entre os latino-americanos, perde até mesmo da Venezuela (75.º) e da Bolívia (86.º), países que, no ranking geral, aparecem entre os últimos - os venezuelanos em 101.º e os bolivianos em 99.º.
Tal resultado desastroso não surpreende. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012 mostrou que o analfabetismo no Brasil voltou a crescer, após apresentar constante queda desde 1998. Segundo o IBGE, ainda há 27,8 milhões de brasileiros acima de 15 anos de idade, ou 18,3% do total, que têm menos de quatro anos de estudo. Além disso, 11,9% da população com mais de 25 anos tem menos de um ano de estudo ou nenhuma instrução.
Esse quadro atesta o fracasso da educação brasileira ante o desafio de preparar o País para os tempos ultracompetitivos que se avizinham. Essa vergonhosa situação não passou despercebida pelos pesquisadores do Fórum Econômico Mundial.
Ao abordar esse pilar, o estudo sobre capital humano mostra o Brasil em 105.º lugar quando se mede a qualidade de todo o sistema educacional. A colocação é igualmente constrangedora no que diz respeito à qualidade das escolas primárias (109.º) e do ensino de matemática e ciências (112.º).
Desse modo, mesmo que o Brasil esteja razoavelmente bem colocado quando a pesquisa do Fórum mede a força de trabalho e o emprego, constata-se grande dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados - nesse item, o País aparece apenas em 101.º lugar.
Trata-se de um problema que o Brasil deve resolver o quanto antes, pois "a chave para o futuro de qualquer país está no talento, na capacidade e nas habilidades de sua população", conforme escreveu Klaus Schwab, presidente executivo do Fórum, na introdução da pesquisa.
Investir em capital humano, diz Schwab, não é um luxo. "Pode ser mais determinante para o sucesso econômico no longo prazo do que virtualmente qualquer outro recurso", afirma o estudo, que salienta o fato de que o mundo está entrando numa era de escassez de talentos.
Observando-se sob esse aspecto, fica ainda mais claro o tamanho do problema que o Brasil tem a resolver, principalmente na área da educação, antes de considerar-se realmente apto a encarar a cada vez mais acirrada competição internacional.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O Brasil no contexto das mudancas economicas globais: podcast com PRAnoInstituto Millenium

Acabo de receber, do jornalista que me entrevistou, em nome do Instituto Millenium, um podcast que foi feito com parte de minha entrevista sobre temas globais e o Brasil:

http://www.imil.org.br/podcasts/o-brasil-ficou-para-tras-nos-intercambios-cientificos-tecnologicos/


Confesso que ainda não me ouvi...
Paulo Roberto de Almeida

“O Brasil ficou para trás 
nos intercâmbios científicos e tecnológicos”

24 de setembro de 2013 
Autor: Comunicação Millenium
pequeno normal grande
Paulo Roberto de Almeida
Intercâmbios no exterior como incentivo à capacitação de jovens brasileiros foi o tema abordado pelo Instituto Millenium em entrevista com o diplomata e cientista políticoPaulo Roberto Almeida. Neste podcast, o diplomata avalia o programa “Ciências sem fronteiras” e fala sobre a urgente necessidade por uma internacionalização das universidades brasileiras. Almeida aborda ainda a má gestão de recursos para educação e afirma: “precisamos atingir o padrão das grandes universidades do mundo”.

Comentário recebido de uma ouvinte:

As melhores universidades dos Estados Unidos e CE, atualmente estão coalhadas de asiáticos. Em Berkeley, onde meu filho esteve por ano e 1/2 como convidado, no laboratório Bio Poets, a maioria era asiática. 
Mas...é preciso reformular o ensino primário: inglês, português, matemática, ciência, informática, além de Geografia e História universais. Do contrário continuaremos com nossa mentalidade xenófoba. E sem base sólida para promover de fato o desenvolvimento do país nas áreas das Ciências e da Tecnologia. 
Nunca me esquecerei de meus estudos de línguas durante o ensino básico: Com os belíssimos livros da FTD. Além do estudo da linguagem, os livros continham textos sobre a cultura do país cuja língua aprendíamos,.
O Ciência sem Fronteiras foi sugestão do Nicolelis. 
Sua entrevista foi muito boa. Que seja muito ouvida...
Grande abraço,
Regina

domingo, 4 de agosto de 2013

O problema da educação não é falta de dinheiro - Mailson da Nobrega (Veja)

O problema da educação não é falta de dinheiro
Mailson da Nobrega
Revista Veja, 23/07/2013
A qualidade do capital humano é essencial para o desenvolvimento. A baixa qualidade da educação explica a perda da liderança econômica da Inglaterra para os Estados Unidos por volta de 1870 e para a Alemanha no fim do século XIX. Para Rondo Cameron e Larry Neal, no livro “A Concise Economic History of the World”, a Inglaterra foi o último país rico a universalizar a educação fundamental. A Revolução Industrial ocorreu, secundo eles, “na era do artesão inventor. Depois, a ciência formou a base do processo produtivo”. Em vez dos recursos da natureza – algodão, lã, linho, minério de ferro -, a indústria passou a depender cada vez mais de novos materiais, nascidos da pesquisa científica. Nessa área, americanos e alemães, com melhor educação, venceram os ingleses. A Suécia, que era atrasada no início do século XIX, se industrializou rapidamente graças à educação. Em 1850, apenas 10% dos suecos eram analfabetos, enquanto um terço dos ingleses não sabia ler nem escrever.
No Brasil, até os anos 1960, acreditava-se que a educação seria mero efeito do desenvolvimento. Em 1950 os respectivos gastos públicos eram de apenas 1,4% do PIB. A partir dos anos 1970, a visão se inverteu. Convencemo-nos de que a prosperidade depende da educação. Os gastos subiram e hoje atingem 5,8% do PIB. A educação fundamental foi universalizada na década de 90 (um século e meio depois dos Estados Unidos e quase meio século depois da Coreia do Sul). Agora, demandamos melhora da qualidade, mas a ideia está contaminada pelo hábito de esperar que a despesa pública resolva qualquer problema. Daí o equivocado projeto de lei que aumenta os gastos em educação para 10% do PIB. Na mesma linha, Dilma e o Congresso querem aplicar na educação grande parte das receitas do petróleo.
Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes


Proporcionalmente, nossos gastos em educação equivalem à média dos países ricos. Passamos os Estados Unidos (5,5% do PIB). Investimos mais do que o Japão, a China e a Coreia do Sul, três salientes casos de êxito na matéria (todos abaixo de 5% do PIB). Na verdade, a má qualidade da nossa educação tem mais a ver com gestão do que com falta de recursos. O professor José Arthur Giannotti assim se referiu aos jovens que foram às ruas pedir mais dinheiro para o setor: “Pleiteiam mais verbas sem se dar conta da podridão do sistema. Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes. A começar pela reeducação dos educadores, que, na maioria das vezes, ignoram o que estão a ensinar” (“O Estado de S. Paulo”, 19/6/2013).
Outro educador, Naercio Menezes Filho, citou o interessante caso de Sobral (“Valor”, 21/6/2013). Entre 2005 e 2011 o município cearense avançou quatro vezes mais rápido no ensino fundamental do que São Paulo, sem aumento significativo de despesa. “O gasto por aluno que Sobral usa para alcançar esse padrão de ensino nas séries iniciais é de apenas R$ 3 130,00, enquanto a rede municipal de São Paulo gasta ao redor de R$ 6 000 por aluno, ou seja, duas vezes mais.” Destinar receitas do petróleo para a educação é um duplo equívoco: (1) o problema não é de insuficiência de recursos, mas de sua aplicação, como vimos; (2) não é correto financiar políticas públicas permanentes com recursos finitos e voláteis. No longo prazo, as reservas de petróleo se esgotarão, enquanto os preços (e as receitas) se sujeitam às oscilações do mercado mundial de commodities.
A proposta desconhece outra lição da experiência: a receita de recursos naturais não renováveis deve pertencer às gerações futuras. O exemplo a seguir é o da Noruega, onde as receitas do petróleo são carreadas para um fundo que em 2012 acumulava 131% do PIB. O fundo serve para lidar com os efeitos de quedas dos preços do petróleo e principalmente com os custos previdenciários que advirão do envelhecimento da população.
A educação brasileira precisa de uma revolução gerencial e de prioridades, inclusive para gastar melhor os recursos disponíveis. Ampliar os respectivos gastos e destinar-lhe as receitas do petróleo agrada a certas plateias, mas o resultado poderá ser apenas o aumento dos desperdícios. Será péssimo para as próximas gerações.
Fonte: Revista Veja



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Corrupcao e corrupcao, os males do Brasil sao... E justo na educacao...

Brasil - Veja.com, 31/07/2013

CGU descobre irregularidades no Fundeb

73% das prefeituras fraudaram processos de licitação para a compra de serviços e materiais de uso na rede pública de ensino

Educação puxa desempenho do país no IDHM para baixo (Eduardo Martino/Documentography)

Crianças no ponto de leitura da favela Caracol, complexo da Penha, no Rio de Janeiro
Principal entrave para a melhoria do índice de desenvolvimento humano dos municípios (IDHM) no Brasil, a qualidade da educação tem sido afetada por desvios e malversação de recursos destinados pelo governo às escolas. Levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU) mostra que 73% das prefeituras fiscalizadas em 2011 e 2012 fraudaram processos de licitação para a compra de serviços e materiais de uso na rede pública de ensino.
Os dados constam de relatório sobre a execução de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que transfere, anualmente, mais de R$ 100 bilhões para bancar salários de professores, compra de equipamentos e manutenção de atividades como a merenda e o transporte escolar.
Nos dois últimos anos, a CGU fez auditoria em 64 municípios que usaram dinheiro do fundo, selecionados por meio de sorteio. Em 46 deles, os auditores detectaram problemas nas licitações, como direcionamento, montagem e até simulação dos processos de competição.
O relatório indica que o porcentual de municípios flagrados em situação de irregularidade aumentou. Numa amostra de 120 prefeituras, fiscalizadas entre 2007 e 2009, 41% cometeram fraudes nas concorrências.
O órgão de controle do governo aponta vários outros problemas. Nos dois últimos anos, 70% dos municípios fizeram despesas incompatíveis com a finalidade do Fundeb. Em 25% dos casos, houve falhas na execução de contratos. É comum o uso do dinheiro sem qualquer controle ou prestação de contas: 32% sacaram dinheiro do fundo na boca do caixa.
Há situações em que a retirada dos recursos foi feita pelo gestor pouco antes da posse de um novo prefeito. O relatório também cita a contratação de empresas fantasmas para o transporte escolar.
O relatório foi apresentado nesta quarta-feira, um dia após a divulgação do IDHM. A CGU não informou a lista de prefeituras que cometeram irregularidades. Questionada, não respondeu a pedido de detalhamento.
Em 20 anos, o índice de desenvolvimento humano melhorou 47,8% nos municípios brasileiros. Mas o avanço poderia ser maior, caso o País tivesse resolvido gargalos na educação. Dos três componentes do indicador, que também considera saúde e renda, esse é o que puxa o desempenho dos municípios para baixo.
Segundo a CGU, a falta de fiscalização sobre recursos do Fundeb favorece as fraudes. Embora o órgão faça auditorias pontuais na educação, a lei que regulamenta o fundo não nomeia nenhum ente "supervisor" da execução das despesas em estados e municípios.
A lei prevê a criação de conselhos para exercer controle social sobre o uso dos recursos. Mas, segundo a CGU, três em cada dez não cumprem esse papel. "Faz-se necessário o aperfeiçoamento da legislação com vistas à definição de um órgão ou entidade federal que desempenhe essas funções", diz o relatório.
O Fundeb foi criado em 2006, em substituição ao extinto Fundef. O objetivo foi proporcionar a melhoria na qualidade do ensino, redistribuindo os recursos previstos na Constituição para a educação. Obrigatoriamente, 60% da verba tem de ser destinada à remuneração de professores. Nas fiscalizações de 2007 a 2009, a CGU constatou, por exemplo, que três em cada dez municípios descumpriam essa regra.
Leiam também: 



sábado, 11 de maio de 2013

Ensino no Brasil: ruim, certamente, mas ainda vai piorar muito mais - Editorial Estadao

Querem apostar?
Aliás, começo do começo.
Vocês acham que o ensino no Brasil é ruim?
Vocês são mesmo otimistas...
O ensino público (e boa parte do privado, também) é muito pior, muito mais ruim, muito mais de pior (como diriam os próprios responsáveis por ele) do que vocês jamais ousariam pensar, imaginar, conceber, constatar... Muito mais de pior, além de qualquer critério, isso posso assegurar...
Agora, cabe reconhecer que ainda está bom, comparado ao que vem por aí: vai ficar ainda pior, péssimo, abaixo da crítica, ou de qualquer critério, pode, ter certeza, sem qualquer dúvida, seguro seguríssimo, não acreditam?
Esperem para ver...
Paulo Roberto de Almeida


Quem quer ser professor?

08 de maio de 2013 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
O governo federal alardeia que ser professor é exercer "a profissão que pode mudar o País", mas o que se comprova é que se trata de uma carreira que vem perdendo prestígio e pela qual há cada vez menos interessados.
O problema é especialmente grave no ensino de ciências exatas, essencial para o crescimento de qualquer país. Embora não se trate de algo novo, o fenômeno tem se acentuado nos últimos tempos, e há novos levantamentos mensurando o grande desinteresse dos jovens pelo desafio de ensinar e, dessa forma, "construir um Brasil mais desenvolvido", como diz a propaganda oficial destinada a atrair mão de obra para as salas de aula.
Uma pesquisa recente feita com ingressantes nos cursos de licenciatura em matemática e física na Universidade de São Paulo (USP) mostra que cerca de 50% deles não estão muito dispostos a dar aula nas respectivas áreas. O resultado é particularmente importante quando se leva em conta o fato óbvio de que os cursos de licenciatura são justamente aqueles que formam professores para o ensino fundamental e o médio.
A pesquisa constatou que a maioria dos ingressantes nesses cursos de licenciatura optou por eles porque a exigência do vestibular era bem menor, porque o curso é gratuito, porque têm afinidade com matemática ou física e porque abrem caminho para a pós-graduação. O levantamento mostra ainda que os ingressantes em licenciatura se enquadram num perfil socioeconômico mais baixo do que o dos demais cursos na USP, situação que, de acordo com o estudo, se repete em cursos semelhantes em outras partes do Brasil. É, portanto, uma porta de acesso ao ensino superior para as faixas mais pobres da população.
Os estudantes que se disseram em dúvida sobre abraçar a carreira de professor destacaram que podem se sentir estimulados se a escola for "reconhecida por ter um bom trabalho educacional" ou se tiver "autonomia para elaborar projetos educativos, ensinando com certa liberdade". As respostas denotam idealismo dos entrevistados, mas, na prática, impõem condições que hoje não são atendidas na rede pública de ensino, mas apenas nas escolas particulares.
O sistema educacional público no Brasil padece de um erro de enfoque: privilegiam-se os controles de desempenho dos professores - inclusive com a distribuição de prêmios em dinheiro - sem, no entanto, valorizar a carreira em si. Os salários são considerados baixos em vista da importância da profissão. Pretende-se exigir dos professores que sejam conscientes de sua importância social, mas o magro contracheque diz outra coisa.
Além disso, a precariedade das instalações da maioria das escolas públicas evidencia o descaso do Estado com os profissionais de educação, obrigados a lidar com a crônica falta de material e de equipamentos para enfrentar o desafio diário de estimular seus alunos a aprender.
Outro aspecto que foi levantado pelos entrevistados na pesquisa diz respeito ao desprestígio da profissão de professor na educação básica. Estudantes de medicina ouvidos pelos pesquisadores disseram que não se tornariam professores porque, entre outros motivos, a remuneração é baixa, a possibilidade de ascensão profissional é mínima e as condições das escolas são ruins. No entanto, esse mesmo grupo de entrevistados, assim como os demais, enfatizou que considera o professor muito relevante para o País, por ser o responsável pela transmissão de valores e conhecimentos.
Há, portanto, um abismo entre o ideal de uma carreira e sua realidade, demonstrado cabalmente pelo desinteresse dos estudantes de licenciatura. Assim, o déficit de professores de matemática, física e química, que já é de 170 mil, tende a crescer.
O resultado disso é que o desempenho dos alunos da rede pública em ciências exatas, que já é um dos mais fracos do mundo, tem tudo para piorar - a não ser que o governo aja radicalmente e, sem mais delongas, restitua ao magistério o orgulho profissional.