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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 2 de maio de 2015

Patria Educadora: a Revolucao Mangabeira (nao acontera')

A educação no Brasil precisa efetivamente passar por uma revolução e seu centro tem de ser o ensino fundamental (e nisso eu coloco básico, médio e técnico-profissional). Eu começaria limpando as bobagens feitas pela demagogia rastaquera do lulo-petismo, com seu reforço do freirismo imbecilizante e do corporatismo isonomista-fundamentalista.
Exemplos? Fim de estudos afro-brasileiros e Espanhol obrigatórios no ciclo primário e de Sociologia e Filosofia compulsórios no médio. 
Concentraria os esforços pedagógicos em Português e Ciências e Matemáticas elementares, e criaria uma carreira paralela de professores remunerados por mérito e competência, reforçando sua formação e remuneração aferidas por testes e resultados. Ponto. 
Não creio que a revolução mangabeiriana vá adiante. Utopias costumam ficar no papel. 
Paulo Roberto de Almeida 
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Roberto Mangabeira Unger, o carrancudo professor com sotaque norte-americano, está de volta à secretaria de Assuntos Estratégicos de Dilma, que lhe encomendou um plano para a "Pátria Educadora". A peça está pronta e não passou nem pela consulta do ministério da Educação. É duvidoso que consiga deslanchar. É mais um exercício mirabolante de Unger, conhecido nos EUA por seu antiliberalismo:

Incumbido de formular um programa para a área de educação dois meses depois de os marqueteiros da presidente Dilma Rousseff terem definido que o lema do segundo mandato seria Brasil, Pátria Educadora, o chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, ministro Roberto Mangabeira Unger, finalmente apresentou suas propostas, privilegiando o ensino básico. Com um título pomposo - Pátria Educadora: a qualificação do ensino básico como obra de construção nacional -, o documento tem por objetivo "substituir a uniformidade desorganizada pela diversidade organizada" nesse ciclo de ensino.
A divulgação do programa ocorreu na véspera do Dia da Educação e, surpreendentemente, não contou com a presença do ministro responsável pela área educacional, Renato Janine Ribeiro. "Do meu ponto de vista, isso era desnecessário", disse Unger, comentando a ausência do responsável pela área de ensino na administração federal. Questionado sobre se haveria alguma dificuldade de articulação de suas propostas com o Ministério da Educação, Unger alegou que "a decisão será de Dilma", que foi quem o convocou para a tarefa de requalificar o ensino público. Também disse que, na história moderna, "os que lideraram a qualificação do ensino público tornaram-se figuras centrais em seus países, identificados como refundadores ou libertadores de suas nações".
Pretensão à parte, Unger apresentou um documento que propõe mudanças em quatro eixos: federalismo, currículo, qualificação docente e aproveitamento de novas tecnologias. O plano contém aspectos positivos. Por exemplo, defende a utilização da Prova Brasil para a organização de um Cadastro Nacional de Alunos. Promete criar uma força-tarefa para auxiliar escolas em dificuldades, montar um sistema de incentivos a escolas e estabelecer a carreira nacional de professor. Prevê um currículo nacional que valorize mais as competências do que os conteúdos - condição básica para "a substituição progressiva de decoreba enciclopédica por capacitação analítica". E manifesta a disposição de aproveitar as experiências empresarias que deram certo no setor educacional.
O plano de Unger também tem aspectos polêmicos - a começar pelo fato de que dá pouca ênfase ao Plano Nacional de Educação, que foi sancionado por Dilma em 2014, depois de três anos e meio de tramitação no Congresso. Prevê a criação de uma rede federal de colégios de referência, as chamadas "Escolas Anísio Teixeira". Propõe a nomeação de um corpo de agentes comunitários encarregado de suprir parte das tarefas dos pais de alunos nas famílias pobres. Defende a reorientação do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e a criação de um terceiro fundo com recursos do pré-sal. E como a responsabilidade pela gestão do ensino básico é dos municípios e Estados, e não da União, Unger sugere a apresentação de uma Proposta de Emenda Constitucional para reformular a estrutura federativa do País.
Esse é o maior problema de seu plano para converter a requalificação do ensino básico numa "obra de construção nacional". As medidas positivas são enunciadas de forma vaga, sem detalhamento. As demais medidas carecem de realismo ou são politicamente inviáveis. Das 29 páginas do documento, apenas 6 apresentam propostas concretas. As demais páginas primam pela verborragia e pela tautologia, e a palavra "experimentalismo" aparece dezenas de vezes. "O experimentalismo estimula-nos a ajustar expectativas à luz de experiência", diz Unger. É preciso "sacudir a mediocridade", sugere. "Não se sacode a mediocridade apenas para acomodar a elite de talentosos. Sacode-se a mediocridade para impedir que nossos Newtons e Darwins continuem a baixar à sepultura sem se haverem conhecido."
Com essa mistura de inabilidade política, irrealismo e verborragia, dificilmente Unger conseguirá revolucionar o ensino básico e, por consequência, tornar-se um "refundador ou libertador da Nação". (Estadão).

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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Corrupcao no Brasil: sempre vencendo a "justica"; Petralhabras respira aliviada

Blogueiros falastrões - geralmente mais ligados às letras que ao Direito - ressaltam a constitucionalidade da decisão do STF de liberar da prisão preventiva os empreiteiros do petrolão, que a PGR denomina de "organização criminosa". Ora, não seria de se esperar do Supremo nada, digamos, contrário à Constituição, que ele próprio nem sempre seguiu, como demonstra Marco Antônio Villa no livro A História das Constituições Brasileiras.

A interpretação dos ministros do STF pendeu para o cumprimento estrito da lei. A decisão foi por 3 a 2. Apenas um voto de Minerva decidiu, o de Gilmar Mendes. Se a minoria da turma 2 do STF tomou posição contrária é porque entendeu que a gravidade política, social e econômica em que vive o país, imerso na corrupção petista, apresenta risco institucional, já que a "organização criminosa" age dentro do governo e de suas empresas. Bom juiz é aquele que sabe pesar os danos de sua decisão - e que, portanto, na interpretação da lei, nem sempre pode ser tão literal.

Importante lembrar, também, que a prisão preventiva dos réus, na esfera em que atua o juiz federal Sérgio Moro, tem sido fundamental para o aggiornamento que ele trouxe ao Direito brasileiro através da delação premiada - que desbaratou quadrilhas em vários países. Os corruptos, por certo, são radicalmente contra, dentro e fora do governo. Nada de "seguir o dinheiro".

Por último, cabe a pergunta: a quem aproveita tal decisão (Cui prodest, segundo o latim)? Obviamente, aos corruptos, começando pelos próprios empreiteiros presos e os políticos envolvidos, além de Lula, amigo do chefe do Clube do Bilhão, Ricardo Pessoa, que estava se dispondo à delação premiada.

Agora, com prisão domiciliar, é duvidoso que ele prossiga as negociações - sem contar que estará mais sujeito às pressões dos figurões que temem o petrolão: ele já bate às portas dos poderosos. Afinal, basta "seguir o dinheiro".

Diante disso tudo, a conclusão é óbvia: a decisão do STF foi, na verdade, um tiro no pé de Sérgio Moro e dos investigadores da Operação Lava Jato.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Bolivar Lamounier se ocupa dos "intelectuais"

Com aspas, e aproveito para recomendar os livros de Paul Johnson e de Thomas Sowell sobre as contribuições nefastas que muitos desses personagens fizeram para maior prejuizo da humanidade.
A postagem eu devo a meu amigo Orlando Tambosi. 
Paulo Roberto de Almeida 
O antiliberalismo dos intelectuais brasileiros
Bolívar Lamounier acaba de lançar o livro Tribunos, Profetas e Sacerdotes - Intelectuais e ideologias no Século XX (SP, Cia. das Letras), em que analisa "o papel dos pensadores na atualidade". A obra está na minha lista de leituras, pois trata exatamente de uma questão que sempre me interessou: a persistência, entre a intelectualidade, do pensamento autoritário. Infelizmente, somos um país infenso à cultura da liberdade: passamos do positivismo para o autoritarismo militar, reforçado depois, a partir das universidades, pelo marxismo. Lamounier está certo: a esquerda se apropriou do conceito de intelectual. Resultado: aqui, até um Emir Sader, que escreve Getúlio com lh (Getulho) reivindica o papel de "pensador":

Tribunos defendem causas e pessoas, profetas inventam paraísos e apontam o caminho da salvação. Já os sacerdotes cuidam da disciplina e ensinam ao rebanho o que é certo ou errado. Visionários ou controladores, eles têm missões distintas, mas neste caso é de intelectuais que se fala o tempo todo. Separá-los por esses três papéis foi a forma que encontrou o cientista político Bolívar Lamounier para contar, em seu novo livro, os feitos, malfeitos, limites e o incerto futuro dessas figuras às vezes destemidas, admiradas ou odiadas, às vezes arrogantes, equivocadas ou perseguidas. 
Tribunos, Profetas e Sacerdotes - Intelectuais e Ideologias no Século XX, que Bolívar lançou na semana passada em São Paulo e lança hoje no Rio, é um passeio pelos altos e baixos da função dos intelectuais na sociedade. Para entendê-la - e entendê-los - ele percorre as experiências de outros países (a antiga União Soviética, Alemanha, EUA) e desemboca, ao fim, na experiência brasileira. Depara-se, então, com a gangorra entre liberalismo e autoritarismo e dedica capítulos especiais a duas figuras centrais do século 20, Oliveira Vianna e Sérgio Buarque de Hollanda.
Ao falar do livro para o Estado, o autor levanta questões sobre o que disseram e dizem os intelectuais dos 21 anos do regime militar. Ele deixa, a propósito, uma advertência: “No Brasil, e em geral na América Latina, a esquerda se apropriou do conceito de intelectual”. Criou-se, dessa forma, “uma ilusão de ótica, uma confusão cultivada de uma forma em grande parte deliberada”.
O que significam os modelos de intelectual que dão título ao livro? 
O tribuno assemelha-se a um advogado: é o que defende as pessoas, grupos ou o próprio país. Um belo exemplo é o poeta andaluz García Lorca, cujo objetivo era defender a etnia cigana, não propagandear paraísos terrestres. Inventar esses paraísos e conduzir a humanidade até lá é papel do profeta - o exemplo clássico são os marxistas. O alto sacerdote é a autoridade que interpreta para o rebanho os livros sagrados. 
O “fim dos intelectuais” é mencionado no livro como um perigo real, num mundo de especializações e redes digitais. Eles vão desaparecer?
Não acredito que o intelectual esteja em extinção; o intelectual-tribuno certamente não está. Mas o espaço se reduziu drasticamente para os profetas e sacerdotes. No mundo atual, falar do futuro não é propor utopias mirabolantes, é projetar tendências a partir de fatos comprovados. Sacerdotes continuarão a existir em esferas específicas, como o âmbito acadêmico, onde cumprem a função de exigir padrões de qualidade científica.
Sua análise destaca uma persistente rejeição do liberalismo na história e na cultura brasileira. A que atribui esse fenômeno?
A história brasileira caracteriza-se pela coexistência entre dois veios importantes, um liberal e outro antiliberal. O liberal tem origem na independência e na Constituição de 1824. O antiliberal começa com a chegada do positivismo de Augusto Comte, forte nas escolas militares e se expande com o protofascismo. A partir dos anos 20 ele é reforçado pelo marxismo e se difunde fortemente através do nacionalismo.
O sr. assinala que Celso Furtado, Hélio Jaguaribe e Cândido Mendes idealizaram o modelo nacionalista do pré-1964. Por quê?
Celso Furtado e Hélio Jaguaribe pensaram que os militares tomariam os fazendeiros como aliados preferenciais e forçariam o restante da economia a permanecer estagnada, o que evidentemente não aconteceu. Cândido Mendes errou na previsão política, por acreditar que os militares detinham um poder ilimitado, imune a dissensões internas. Tal diagnóstico também foi desmentido. 
A percepção, pelos intelectuais, do que representou o regime militar para a sociedade e para o País foi insatisfatória? Pela urgência, moral e prática, eles se centraram na crítica ao autoritarismo e menosprezaram outros temas?
Era natural que assim fosse. As ameaças às liberdades democráticas eram reais. Mas essa ênfase não esgota o que aconteceu ao longo de 21 anos. Falta muito para a análise do período ser feita de modo satisfatório. Ainda são poucos os estudos sérios disponíveis e há barreiras ideológicas consideráveis.
Parece-lhe que há hoje muito mais intelectuais de esquerda do que de direita no debate público, e que a esquerda tem mais espaço nesse universo?
Não exatamente. O que ocorreu no Brasil e em geral na América Latina foi que a esquerda se apropriou do conceito de intelectual, adulterando-o a não mais poder. Assim, todo esquerdista letrado fica conhecido como intelectual, qualquer que seja a qualidade do que diz. No centro e na direita, pessoas com o mesmo perfil, e não raro com mais qualidade, não se apresentam como intelectuais e sim como economistas, historiadores, etc. O que há, portanto, é uma ilusão de ótica, uma confusão cultivada de uma forma em grande parte deliberada. (Estadã0).

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: a importancia de S. Paulo - Ricardo Setti

Surrupio na íntegra o post do jornalista Ricardo Setti, que chama atenção para o importante colégio eleitoral de São Paulo. Com a grande maioria que, certamente, obterá em Minas Gerais, e um amplo apoio dos paulistas, o candidato do PSDB estará a um passo do Palácio do Planalto. Enfim, o Brasil terá alternância de poder, depois de 12 anos de péssima gestão petista, coberta de escândalos:

Vocês certamente viram, na segunda-feira passada, dia 4, no Jornal Nacional, campeão de audiência da Rede Globo: com a emissora começando uma cobertura da eleição presidencial e atribuindo o mesmo tempo de exposição para cada um dos três candidatos à Presidência, todos os três — a presidente Dilma (PT), o senador tucano Aécio Neves e o aspirante do PSB, Eduardo Campos — apareceram realizando atividades em São Paulo, a maior cidade do Brasil.

Não por acaso, foi em São Paulo — e não em Belo Horizonte — que o PSDB realizou sua convenção nacional que escolheu o mineiro Aécio para disputar o Planalto.

Nem foi sem caso pensado que a escolha de Aécio do candidato a vice-presidente para compor sua chapa tenha recaído num político do Estado, Aloysio Nunes Ferreira, que em 2010 obteve o galardão de senador mais votado do Brasil, com mais de 11 milhões de votos.

Não é por acaso, também, que as eleições deste ano tenham levado, pela primeira vez na história da República, um candidato que não nasceu nem reside no Estado a instalar em São Paulo o quartel-general de sua campanha, como é o caso do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.

Na campanha de 1989, a primeira após o longo jejum da ditadura, Fernando Collor, então governador de Alagoas, manteve uma importante operação em São Paulo, a cargo de seu irmão, Leopoldo, mas a sede central ficou sendo em Brasília.

O ex-governador de Pernambuco, porém, não apenas tem seu QG na maior cidade do Brasil como passou a morar em São Paulo. E está certíssimo. Sem familiarizar-se com um Estado que tem 645 municípios, 8 deles entre os 30 mais populosos do país, sem um bom desempenho em São Paulo, suas chances são muito pequenas, por mais que eventualmente obtenha excelentes números em seu Nordeste de origem e em outras regiões.

Capital econômica e cultural do país, origem e sede dos dois partidos políticos que se revezam na disputa pelo poder na República — PSDB e PT –, sede das grandes centrais sindicais, dono de um Produto Interno Bruto de 630 bilhões de dólares (dados de 2013), que representa um terço da economia brasileira e é superior ao de países inteiros, como a Argentina e a Colômbia, São Paulo precisa ser “conquistado”, e muito bem, por qualquer dos três principais candidatos à Presidência.

Mas papel crucial que o Estado de São Paulo jogará na eleição presidencial de outubro próximo reside, é claro, nas dimensões enormes de seu eleitorado — que dos 22% do total de eleitores do país que representou no pleito anterior, em 2010, subiu quase meio ponto, passando para 22,4%, ou 32 milhões de eleitores.

É em São Paulo que está boa parte das fichas que o presidenciável tucano Aécio Neves jogará para tentar derrotar a presidente Dilma.

Em 2010, tendo São Paulo como terra natal e base política, o tucano José Serra venceu a presidente Dilma, com uma vantagem de 1,8 milhão de votos. Foi pouco — poderia e deveria ser mais. O governador Geraldo Alckmin, em 2006, disparou no primeiro turno 4 milhões de votos à frente do adversário petista — e ele era ninguém menos do que o próprio Lula, o “Deus” da ministra Marta Suplicy.

Se, neste outubro, Aécio Neves conseguir o mesmo que Alckmin em 2006, somada à quase certa grande vantagem que obterá em sua Minas Gerais natal, a vida da presidente Dilma estará complicada — sobretudo porque o confiável Instituto Datafolha aponta que, no Estado, sua rejeição é altíssima: 47% dos eleitores dizem que não votarão nela em nenhuma hipótese, cifra que atinge espantosos 49% na capital, que, sozinha, tem 8,8 milhões de eleitores — 1 milhão mais do que todo o Estado do Paraná.

A importância de um desempenho esmagador junto ao eleitorado paulista fica mais clara quando se constata que o candidato tucano tem condições muito melhores do que José Serra alcançou em 2010 para equilibrar as coisas em Estados cruciais como a Bahia, com seus 10 milhões de eleitores — e onde Dilma derrotou Serra por 2,8 milhões de votos de vantagem, uma margem muito maior do que a que o tucano obteve em seu próprio Estado.

Agora, o candidato ao governo baiano que apóia Aécio, o ex-governador Paulo Souto (DEM), está disparado à frente nas pesquisas de intenção de voto. É claro que seu desempenho no Rio de Janeiro ainda é incerto — a chapa que o apoia, tendo à frente o governador Pezão (PMDB), está embolada com outros três candidatos.

Mas se repetir ou superar o feito de Alckmin em 2006 em São Paulo, melhorar a situação em Estados em que agora o PSDB tem boa estrutura de apoios, como o Ceará, Amazonas e Maranhão, constatar uma derrocada de Dilma diante de Eduardo Campos em Pernambuco (onde ela venceu Serra por incríveis 2,3 milhões de votos) e repetir as vitórias tucanas anteriores em Estados importantes como Rio Grande do Sul (a candidata que lidera as pesquisas, a senadora do PP Ana Amélia, está em seu palanque), Santa Catarina, Paraná, os dois Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo, Acre e Roraima, Aécio estará perto do Palácio do Planalto.

É esperar para ver. E não falta muito, não: são apenas 56 dias até o Dia D, 5 de outubro.

sábado, 19 de julho de 2014

Joao Ubaldo Ribeiro: um escritor brasileiro universal

João Ubaldo era, sem dúvida alguma, o mais brasileiro dos "imortais", os acadêmicos da ABL. Mas ele era também um escritor universal, pois todos os seus textos, extremamente brasileiros, eram universais já que tinham a ver com a condição humana, simplesmente.
Minha homenagem a ele por meio desta postagem de meu amigo Orlando Tambosi, a quem agradeço pelos numerosos empréstimos que tenho feito de seu blog. 
Paulo Roberto de Almeida 
João Ubaldo Ribeiro no país dos corruptos
Em março de 2006, o blog fez uma chamada para a entrevista do escritor João Ubaldo Ribeiro à revista Veja. João Ubaldo disse, entre outras coisas, que o governo Lula era incompetente, que ricos e pobres são igualmente desonestos e que a ideia de implantar cotas - como fez o lulopetismo - é um esforço para dividir o Brasil em "raças". Reproduzo a entrevista na íntegra, em homenagem a essa figura rara de intelectual honesto num país em que abundam estúpidos intelectuais ideológicos:


O escritor João Ubaldo Ribeiro fustiga o presidente Lula com a mesma intensidade com que Luis Fernando Verissimo atormentava Fernando Henrique Cardoso. Nestes dois anos e meio de administração petista, Ubaldo se tornou um dos críticos mais ácidos do  (governo. "Não gosto dessa posição, não gosto de aparecer, mas fazer o quê? É inevitável se indignar com certas coisas", diz o autor. Seu motivo mais recente de irritação foi a cartilha com termos politicamente corretos elaborada pela Secretaria dos Direitos Humanos. Ubaldo escreveu um e-mail a dezenas de amigos, e isso desencadeou toda a polêmica a respeito do tema. Aos 64 anos, o escritor baiano é um dos maiores best-sellers brasileiros, com 3 milhões de exemplares vendidos ao longo da carreira. Em casa, quando não está escrevendo, Ubaldo se dedica a uma nova paixão: o computador. Ele é capaz de ficar um dia inteiro baixando programas e viajando na internet. Compartilha o hobby com o amigo e também autor Rubem Fonseca: "Ele é um expert e dizia que eu nunca seria como ele. Hoje me chama de mestre". Em seu apartamento no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, João Ubaldo Ribeiro recebeu VEJA para a seguinte entrevista. 

Veja – O senhor é um dos maiores críticos do governo. O que há de errado com a administração petista?

Ubaldo – O governo é de uma extraordinária incompetência. Não conseguiu formular nenhum projeto, nenhuma visão nacional. O presidente, na minha opinião, tem de ser respeitado, pela sua condição de incorporar e encarnar o cargo supremo do Executivo brasileiro. E eu jamais faltei com esse respeito. No entanto, o brasileiro é tão subserviente que, quando alguém critica Lula chamando-o, por exemplo, de ignorante – o que não é uma difamação, é uma verdade –, diz-se que o presidente está sendo desrespeitado.

V – A ignorância a que o senhor se refere não seria compensada por outras qualidades?

U – Lula é autor de uma obra monumental, o Partido dos Trabalhadores. É algo sem precedentes na história brasileira, e talvez na história latino-americana. Governar um país, no entanto, não é a dele. Lula não sabe administrar. Ele não senta para ler, para despachar, para trabalhar. Ele tem um ministério que dificilmente conseguirá reunir num mesmo dia porque é impossível, num time de quarenta integrantes, que pelo menos um não esteja gripado ou com algum impedimento.

V – O senhor votou em Lula?

U – Sim, na última eleição. Em 1994 e 1998, votei em Fernando Henrique. Eu não considerava Lula preparado. Hoje vejo que tinha razão. Na época da eleição de 2002, deixei-me convencer de que os quadros do PT seriam suficientes para manter a coisa sob controle e que o presidente não se deixaria seduzir de forma tão flagrante pelos atrativos do poder. Observando o comportamento de Lula, nota-se que o prazer dele não é administrar. São os discursos, são as aparições que eu classifiquei, e não me arrependo do adjetivo, de circenses. Vem sendo assim desde o primeiro dia. Ele foi a uma das cidades mais pobres, se não a mais pobre e faminta do Brasil, lá no Piauí. Muitas daquelas pessoas não sabiam exatamente o que significava um presidente da República, que para elas seria algo assim como um dono do mundo. Lá, ele disse ao povo que todos iriam comer no dia seguinte. E eu duvido que estejam comendo hoje. 

V – Por causa desse tom crítico ao governo, o senhor é acusado de estar a serviço do PSDB. Como reage a isso?

U – Eu sou uma pessoa totalmente destituída de rabo preso. Nunca roubei ninguém, não tenho antecedentes criminais, nunca fui dedo-duro, é difícil desencavar em meu passado algo mais grave do que ter enganado uma namorada, e assim mesmo muito eventualmente. Quando eu falo mal do governo, recebo cartas iradas dizendo: "Mas o que o PSDB faria neste caso?". Como se tudo o que eu escrevi contra o PSDB não valesse nada. No Brasil, sempre se acredita que a imprensa vive no bolso de alguém. Eu convivi com Roberto Marinho episodicamente por causa de nossa condição de integrantes da Academia Brasileira de Letras. Por ter comparecido a três ou quatro jantares na casa do dono da Globo, fui acusado de conspirar com ele. Você imagina que Roberto Marinho iria chamar um colunista de jornal para que ambos, juntos, manobrassem os cordões que gerem esta República? As pessoas têm essa convicção porque estão acostumadas ao ambiente de corrupção que reina no Brasil. 

V – Não é um exagero dizer que a corrupção reina no Brasil?

U – Nós vivemos num ambiente de lassitude moral que se estende a todas as camadas da sociedade. Esse negócio de dizer que as elites são corruptas mas o povo é honesto é conversa fiada. Nós somos um povo de comportamento desonesto de maneira geral, ou pelo menos um comportamento pouco recomendável. Se você me acompanhar à rua, a gente pode até fazer uma experiência. A população da Zona Sul do Rio de Janeiro é formada em grande parte de gente da terceira idade. Quando um idoso atravessa a rua, os motoristas de ônibus costumam acelerar em ponto morto, fazendo um barulhão. Eles querem dar um susto no velho, eles querem matar o velho. Já vi fazerem isso com crianças, que acabam saindo correndo. Eu mesmo, que tenho 64 anos, já tomei um susto assim. Os brasileiros estão convictos de que, se um pedestre atravessar fora da faixa, o motorista tem o direito de atropelá-lo e matá-lo. Outro exemplo. Eu ouço de várias empregadas domésticas que é comuníssimo aqui no Rio de Janeiro que responsáveis pela merenda escolar retirem substancial quantidade de víveres e alimentos das crianças para levar para casa, distribuir entre parentes e até montar quitandas. Isso é um evidente absurdo. 

V – O senhor falou em lassitude moral. Isso não ocorreria porque o país não tem instituições fortes, ao contrário de nações européias e dos Estados Unidos?

U – Nós somos de um país cuja colonização se deu em moldes muito diferentes dos da colonização dos Estados Unidos, nação à qual somos freqüentemente comparados. Os colonizadores ingleses, ao vir para a América, estavam dando as costas para a Europa. Eles vieram para nunca mais voltar. Sua intenção, ao chegar ao Novo Mundo, era conceber uma nação ou várias pequenas nações nas treze colônias. No Brasil isso não ocorreu. Não porque os portugueses sejam ordinários pela própria natureza, como freqüentemente se diz. A questão é que Portugal nos pegou num momento em que sua prosperidade dependia do fato de o país ser um grande entreposto da Europa, um grande fornecedor de mercadorias. Fizeram, assim, uma colonização predatória. Portugal enriqueceu à custa do açúcar brasileiro, e Lisboa foi reconstruída pelo marquês de Pombal com dinheiro brasileiro. Convinha manter aqui um controle rígido, diferentemente dos americanos, que de costas para a Europa criaram suas próprias leis. Os portugueses, no entanto, não tinham estrutura para isso. Com essa presença forte do governo necessariamente despoliciado pela metrópole, o domínio dos portugueses ocorreu de uma maneira desordenada, desregulada, importando caoticamente a burocracia lusitana, com a corrupção que essa burocracia gera. Construiu-se toda uma visão de mundo centrada na ação estatal. A origem de muitos dos nossos problemas pode ser essa. 

V – De acordo com Gilberto Freyre, no entanto, os portugueses contribuíram positivamente ao criar uma nação miscigenada.

U – É verdade, eles deram algumas contribuições positivas, e essa é uma delas. Com a qual, por falar nisso, o governo quer acabar, implantando o sistema de cotas nas universidades. Eu vejo essa idéia com profunda desconfiança e muito desagrado. Em minha opinião, ela representa um esforço para dividir este país, pela primeira vez, em linhas raciais. Tenho amigos diretores e donos de colégios que estão sendo obrigados a classificar os alunos por raça. Que retrocesso é esse? Já me chamaram e me chamam de vez em quando de negro. Eu me recuso a ser chamado de negro. Não porque tenha vergonha. Eu sou filho de uma família portuguesa pelo lado da mãe, neto de um português pelo lado do pai. A mulher do meu avô paterno era uma mulata acaboclada. O que significa que eu tenho sangue negro. Mas eu me recuso a usar o critério americano que diz que é negro todo mundo que tem uma gota de sangue negro. Ou seja, se o sujeito é filho de um zulu com uma sueca, por que a metade zulu tem de prevalecer? E aí vem o governo com essa bobagem de que não se pode usar a palavra "mulato" porque vem de mula. Vou dizer algo politicamente incorreto: Lula é mulato. Se bem me lembro, o cabelo dele era crespo, encarapinhado, no tempo em que era líder metalúrgico. Já hoje, presidente da República, ele tem cabelos sedosos. 

V – O senhor acha que o sistema de cotas é de difícil implantação?

U – Eu acho muito complicado classificar as pessoas por raças no Brasil. Eu não vejo TV, posso estar dizendo alguma bobagem, mas eu me lembro de que a Xuxa só aceitava loirinhas para paquitas. Suponhamos que baixassem no Brasil um decreto específico, dizendo: "Xuxa Meneghel é obrigada a reservar 50% das vagas de paquitas para afro-descendentes". Apareceriam no dia seguinte 20.000 loiras de olhos azuis mostrando o retrato de um vovô negão. Carla Perez, minha conterrânea, é uma loira artificial. Ela é mulata, filha de mulato, sem deixar de ser loira. Essa idéia das cotas embute, no fundo, uma visão equivocada: aquela que enxerga a questão da escravidão como um problema de origem racial. 

V – E não é?

U – Não existe nada mais falso do que isso. Ao longo da história, os escravos sempre foram os vencidos, e não necessariamente os negros. Na maior parte das civilizações, os escravos eram brancos. Os hebreus foram escravos dos egípcios, por exemplo. Não foram os portugueses que escravizaram os africanos. Eles trouxeram nos navios negreiros pessoas que já haviam sido escravizadas em sua nação de origem. Eram negros escravizando negros. As nações da África do início do ciclo das grandes navegações nunca tinham ouvido falar na existência dos brancos. Acreditavam que a humanidade era negra. Achavam-se, assim, tão diferentes dos vizinhos que falavam outra língua, cultuavam outros deuses e comiam outra comida quanto um inglês se acha diferente de um francês, de um alemão ou de um napolitano. A suposta irmandade entre os negros passou a existir quando eles foram unificados na categoria de escravos. 

V – O senhor sempre se autodefiniu como um autor que escreve por dinheiro. Alguém com essa postura sofre algum tipo de discriminação no Brasil?

U – Sem dúvida. Em parte por causa da inveja dos que não conseguem vender livros. Durante a maior parte da história a regra foi a encomenda. Quase toda a arte renascentista foi produzida assim, da Capela Sistina às fontes de Roma. Esse negócio de se sentar e se comunicar magicamente com as musas é conversa de rico que fica falando em arte. O artista de verdade quer ser pago. 

V – Por que se lê tão pouco no Brasil?

U – É um lugar-comum dizer que isso ocorre porque o livro é caro. Sem dúvida essa é uma das razões. Há, no entanto, uma cultura de que o livro é uma coisa chata, difícil. Eu sou adotado em escolas, e devo ser odiado por um número imenso de estudantes brasileiros. Os jovens lêem os livros preocupados em responder a perguntas incompreensíveis em provas. Um grande número de professores transmite aos alunos o ódio que eles mesmos têm dos clássicos. O próprio presidente vende a imagem da leitura como uma coisa difícil, comparável a andar em esteira. Uma das coisas graves que eu acho que Lula faz é se gabar, se vangloriar da própria ignorância, da própria falta de formação.

V – O senhor recentemente teve graves problemas de saúde por causa do alcoolismo. Poderia contar o que aconteceu?

U – Foi uma luta de oito anos, complicadíssima. Tudo começou com uma depressão, em 1994, quando voltei da Copa do Mundo dos Estados Unidos. Uma depressão sem motivo, mas eu caí de cama, só não quis me suicidar. Tomei todos os remédios possíveis. Eu, que já bebia bastante, tentei curar a depressão com álcool, que é a pior burrice que alguém pode fazer. Porque a depressão vai embora durante três horas, quatro horas, depois volta pior. Você entra numa espiral descendente da qual é difícil sair. Fiquei oito anos nesse inferno, inchado, tremendo. O auge, há quatro ou cinco anos, foi quando tive uma pancreatite que quase me levou à morte. Passei quinze dias na unidade semi-intensiva do hospital. Tive a sorte de ser um dos poucos casos de pancreatite que não deram dor nenhuma. Dizem que as dores associadas a essa doença estão entre as piores que se podem suportar. Hoje, felizmente, estou há três anos sem beber. 

V – Como o senhor superou o problema?

U – Pela via da religião. Eu não me submeto ao ministério de nenhuma crença, embora acredite em Deus, reze todas as noites e me considere cristão. Há algum tempo, por uma série incrível de coincidências que não vou relatar aqui, tornei-me devoto de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Eu dizia que quase morri de pancreatite. Depois que saí do hospital, voltei a meus velhos hábitos de beber. Acordava cedíssimo, por volta das 5 da manhã, ia comprar jornal e passava pelos bares que fecham tarde para comprar uísque. Às 10 da manhã já estava bêbado, e assim passava o dia inteiro. Logo tive o anúncio de que a pancreatite estava voltando: engulhos em seco. Eu acordava e ia direto para o vaso sanitário, para uma sessão de náuseas. Isso piorava a cada dia, e uma segunda pancreatite para mim seria a morte. Até que uma noite, na hora de dormir, eu rezei a Nossa Senhora: "Se amanhã eu amanhecer sem náuseas, eu paro de beber". Acordei e, pela primeira vez em muito tempo, não tive engulhos. Desde então, e isso foi há três anos, não bebi mais nada. Todos os fins de semana vou com meus amigos ao boteco e só tomo guaraná diet. O mais incrível é que não sinto a mínima vontade de beber. Eu poderia dizer que tenho uma imensa força de vontade, mas não seria verdade. Eu não faço esforço nenhum.

sábado, 5 de julho de 2014

Herança maldita dos companheiros: o antimilagre economico - Rolf Kuntz

Os companheiros nunca aprenderam economia, a não ser rudimentos toscos de uma mistura de prebischianismo elementar com alguma leitura de orelha de livro qualquer de vulgarização do keynesianismo (jamais o original, que lhes seria incompreensível) e portanto não estão habilitados para nada.
Quem os dirige nunca aprendeu economia, nem conseguiria, por não ter as habilidades requeridas. 
Portanto, não esperem nada melhor do que essa salada insossa que nos é servida desde 2005, pelo menos. 
Abaixo um editorial econômico de Rolf Kuntz, por gentileza de meu amigo Orlando Tambosi. 
Paulo Roberto de Almeida 
O antimilagre econômico do governo Dilma
Artigo de Rolf Kuntz, no Estadão, sobre o desastroso governo petista:

Milagre econômico, no Brasil, na Alemanha ou no Japão, é só um exagero de linguagem, mas antimilagre é uma realidade inegável. Se alguém duvidar, examine os números da indústria, das contas externas, do investimento produtivo e do crescimento do produto interno bruto (PIB) nos últimos quatro anos. De janeiro a junho - só para citar um exemplo - a corrente de comércio foi 2,8% menor que a de um ano antes, com redução tanto das exportações quanto das importações. É um claro sintoma de graves desarranjos na economia. Na maior parte do mundo, governos comuns, sem talentos excepcionais e sem poderes mágicos, derrubam o crescimento para conter a inflação, fechar buracos nas contas externas ou controlar a dívida pública - muitas vezes para cuidar de todos esses problemas ao mesmo tempo. Essa política pode ser dolorosa, mas com frequência é inevitável. Numa exibição de virtudes extraordinárias, o governo da presidente Dilma Rousseff realizou a mágica oposta: reduziu o crescimento industrial, espalhou a insegurança entre empresários e consumidores e fez encolher o comércio exterior sem atacar um só desajuste fundamental. O desemprego medido pelo Pnad, 7,1% no primeiro trimestre, supera o de várias economias desenvolvidas. É como se o País sofresse os efeitos penosos de uma terapia severa - mas sem terapia.
Esse antimilagre se explica por uma combinação desastrosa de vários fatores - diagnóstico errado, confusão de objetivos, voluntarismo, populismo e sujeição das decisões econômicas a interesses pessoais e partidários. O problema do diagnóstico bastaria, sozinho, para causar boa parte dos estragos dos últimos anos. As primeiras ações a partir da crise global podem ter sido corretas, ou pelo menos justificáveis, mas as condições mudaram e a política, apesar disso, foi mantida.
Desde o fim de 2008 o governo tenta estimular a economia como se o País estivesse, em todo esse tempo, travado por problemas conjunturais. Problemas desse tipo justificariam os estímulos ao consumo, assim como justificaram, em 2009, o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), bancado com subsídios pelo Tesouro e operado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Lançado como ação provisória, em 2009, o programa foi prorrogado várias vezes e seu prazo atual terminará no fim do próximo ano. Há muito tempo deixou de ser uma ação contracíclica, assim como os estímulos fiscais e financeiros ao consumo. As autoridades, no entanto, nunca admitiram esse fato.
O impacto recessivo da crise de 2008 durou até 2009 para o Brasil e para a maior parte dos emergentes, mas o governo brasileiro continuou agindo como se o quadro nunca tivesse mudado. O diagnóstico de crise conjuntural pode ter sido correto em 2008 e 2009, mas o governo deveria tê-lo abandonado há muito tempo. Ao mantê-lo, manteve também uma estratégia esgotada, custosa, inflacionária e ineficaz - uma paródia de política keynesiana. Ao insistir em ações de efeito conjuntural, o governo tratou como desafios de curto prazo problemas estruturais. A percepção desses problemas parece ter sido sempre muito fragmentada e, além disso, prejudicada pela insistência em atribuir o baixo crescimento da economia nacional a causas externas.
A alardeada redescoberta do planejamento nunca foi além da retórica. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), inventado em 2007 e mantido a partir de 2011, nunca foi mais que uma costura malfeita de retalhos juntados sem efetiva articulação e sem prioridades bem definidas. Acabou servindo para um discurso mistificador, ao incorporar, por exemplo, o plano de investimentos da Petrobrás. Esse plano, atualizado regularmente, era parte da rotina da empresa e continuaria existindo sem o PAC. Mais que isso: seria executado com eficiência muito maior sem a interferência de interesses políticos, pessoais e partidários. Enfim, cada novo balanço confirma o peso desproporcional dos financiamentos imobiliários e das construções habitacionais no total das aplicações.
Sem surpresa, o PSI, o PAC, as desonerações e os estímulos fiscais e financeiros a setores e a grupos selecionados foram insuficientes para impulsionar a indústria e o investimento. O total investido em capital fixo - máquinas, equipamentos, construções e instalações particulares e obras de infraestrutura - continua na vizinhança de 18% do PIB. A meta de 24%, padrão encontrado facilmente em outros emergentes, continua como promessa para um futuro indefinido. O pífio desempenho da indústria - de janeiro a maio produção 1,6% inferior à de um ano antes - é apenas a continuação de três anos e meio muito ruins, segundo o IBGE.
Não se trata de problema conjuntural, mas de competitividade, disse na quinta-feira o gerente executivo de pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. A encrenca é reconhecida tanto no Brasil quanto no exterior. A distância entre a produtividade brasileira e o padrão médio das economias desenvolvidas continua muito grande, segundo estudo publicado na semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A advertência vale para a maior parte dos emergentes, mas é especialmente importante para o Brasil, estagnado e cada vez menos competitivo. O déficit comercial acumulado no ano só diminuiu de maio para junho (quando chegou a US$ 2,490 bilhões) porque as importações diminuíram. Em junho a receita das vendas foi 3,2% menor que a de um ano antes, mas a despesa foi 3,8% inferior à de junho de 2013 - mais um sinal de uma economia murcha.
Em pesquisa publicada em dezembro pela CNI, 64% dos consultados mencionaram ganhos de produtividade em suas empresas em cinco anos. Mas só 7% avaliaram suas companhias como mais produtivas que as estrangeiras. Doze por cento apontaram produtividade similar, 28% qualificaram suas empresas como menos produtivas e - mais notável - 53% nem sequer responderam. Terá alguma autoridade, em Brasília, lido essa pesquisa?

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Politicas racialistas alimentam o racismo no Brasil - Editorial O Globo

Doutrina racialista: a grande vitoriosa nos 12 anos de lulopetismo.

via Blog do Orlando Tambosi, 30/06/2014

O escabroso racialismo - na verdade, uma versão pretensamente abrandada de racismo - passou para trás outros "movimentos sociais", consolidando-se em todas as instâncias. Estupidamente, divide o Brasil em "raças": a negra e as outras. Racismo se combate com leis, não com quotas e privilégios. Editorial do jornal o Globo:

O grupo político de pressão dos racialistas, um dos que chegaram a Brasília em 2003 na caravana vitoriosa do PT, deve ser o que mais obteve vitórias nestes 12 anos de poder, na constelação de agrupamentos aliados a esse partido. Mais, por exemplo, que os sem-terra, mesmo que o MST e satélites tenham podido aparelhar órgãos como o Incra e até o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Já os racialistas ganharam um ministério próprio, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

Também com representantes no Congresso e tendo obtido a simpatia do Judiciário — o Supremo terminou por avalizar as cotas como constitucionais —, os racialistas tiveram, infelizmente, êxito na construção de um política de discriminação pela cor da pele no acesso ao ensino superior público e, agora, na obtenção de emprego na máquina burocrática. Nesta batida, um dos próximos passos será a imposição de cotas às empresas privadas.

Este modelo de política afirmativa foi importado dos Estados Unidos — sociedade que se constituiu em cima do conceito de “raças” — para um país, o Brasil, no qual o colonizador português, o negro e o índio se miscigenaram. A cor não tinha o mesmo caráter discriminador existente nos Estados Unidos, a ponto de haver registro de negros senhores de escravo. É indiscutível que, abolida a escravidão, faltaram políticas de integração do negro à cidadania, por meio da educação, a melhor rota para a ascensão social.

Hoje se vê que o neglicenciamento com o nível de qualificação da população é a causa básica da chamada dívida social —com os pobres de qualquer cor de pele. E como a obtenção de resultados neste tipo de investimento é lenta, grupos organizados buscam ganhar tempo por meio de políticas afirmativas, principalmente cotas. Por se constituir, por definição, uma ação discriminatória a favor de algum grupo, outros serão prejudicados. Caso dos brancos pobres.

É ilusório achar que não existe discriminação racial no Brasil. Há, mas não se equaciona o problema por meio de cotas. Ao contrário, pode agravá-lo. Discriminação e racismo se combatem com leis e sua aplicação. Como as já existentes no Brasil.

Em vez de se adotar a melhor das políticas afirmativas — elevar para valer a qualidade do ensino público, a fim de beneficiar alunos de qualquer cor —, o Estado, sob influência racialista, optou pelo populismo e imediatismo das cotas raciais. Teria sido melhor usar o critério social, do nível de renda.

Mesmo que o erro da importação do racialismo já tenha sido cometido, o debate precisa continuar. Até que a sociedade se convença de que há mais pretos pobres não por serem pretos, mas por terem nível de instrução mais baixa, por serem pobres. A cota apenas mascara a questão. É uma anestesia, e com vários efeitos colaterais maléficos. Mesmo nos Estados Unidos, com décadas de vigência de políticas afirmativas, a Supremas Corte acaba de permitir que estados decidam revogar programas de cotas. E alguns o fazem. Têm motivos para tal.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A Copa da Mae Joana - Gil Castello Branco

Orlando Tambosi, 19/06/2014

O economista Gil Castello Branco, fundador do Contas Abertas, escreveu no jornal O Globo, que desde 2007, quando foi anunciada a realização da Copa no Brasil, temos comprado gato por lebre. Eis a marca da Copa da Roubalheira: desorganização, má gestão, desperdício, falta de planejamento, obras inacabadas etc. Que sirva de epitáfio para o lulopetismo, digo eu:

No século XIV, a rainha de Nápoles, Joana, após envolver-se em conspiração para a morte do marido, fugiu e foi morar em Avignon, na França. Lá, se instalou em um palácio e passou a mandar e desmandar na cidade, a ponto de regulamentar até os bordéis. A partir daí, cada prostíbulo passou a ser conhecido como “Paço da Mãe Joana”. No Brasil, a expressão foi alterada para “Casa da Mãe Joana”, sinônimo de lugar ou situação em que predominam o vale-tudo, a balbúrdia e a desorganização.

Associo a história à Copa. Desde 2007, quando o Brasil foi anunciado como país-sede, venderam-nos gato por lebre. À época, o então ministro do Esporte, Orlando Silva, afirmou: “Os estádios para a Copa serão construídos com dinheiro privado. Não haverá um centavo de dinheiro público.” Na mesma linha, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira disse: “Faço questão absoluta de garantir que será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas.” O ex-presidente Lula confirmou: “Tudo será bancado pela iniciativa privada.”

Se fosse verdade, ninguém criticaria as arenas de Manaus, Natal, Cuiabá e Brasília — uma manada de elefantes brancos —, construídas pela iniciativa privada, por sua própria conta e risco. Curiosamente, porém, a maioria dos empresários não se interessou pelos estádios padrão Fifa. A fatura de R$ 8 bilhões, em sua quase totalidade, caiu mesmo no colo da viúva.

Afirmar que a metade desse valor decorre de financiamentos que serão cobrados com rigor pelos bancos é, no mínimo, uma falácia. Em sete arenas, os próprios governos estaduais assumiram dívidas de R$ 2,3 bilhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Sendo empréstimos contraídos pelos estados, adivinhe, leitor, de onde sairá o dinheiro para quitá-los?

Outro sofisma é a comparação entre o custo dos estádios em 12 cidades e os gastos integrais em Saúde e Educação, efetuados pela União, pelos estados e por todos os municípios brasileiros, de 2010 a 2013. Com a intenção de tornar irrelevantes os investimentos nas arenas, a presidente Dilma, às vésperas da Copa, apresentou soma de R$ 1,7 trilhão, segundo ela “investida” em Saúde e Educação, incluindo no montante, de forma inadequada, itens de custeio, como vigilância, limpeza, salários, luz e água, entre outros. Na realidade, o custo dos estádios equivale a dois anos de investimentos federais em Saúde ou à instalação de 2.263 escolas.

Em contrapartida, boa parte das reformas dos aeroportos e do legado de mobilidade ainda está pelo caminho. Para atenuar o caos urbano chegaram a ser previstos R$ 12,4 bilhões. No entanto, cerca de R$ 4 bilhões simplesmente sumiram da Matriz de Responsabilidades, visto que as obras não ficariam prontas a tempo do Mundial. Das que restaram, apenas 43% foram concluídas, segundo o TCU. Dessa forma, chegamos ao Mundial com o ônus dos elefantes brancos e sem o bônus dos legados.

Até agora, ninguém sabe o custo real da Copa. No Portal da Transparência constam R$ 25,6 bilhões, mas o valor — por sinal desatualizado — não inclui, por exemplo, as verbas de publicidade, as estruturas temporárias, os centros de treinamento e os subsídios à entidade presidida por Blatter, bem como às empresas por ela indicadas. Apesar de a Fifa ter obtido receitas de R$ 10 bilhões, o Congresso Nacional concedeu-lhe inédita isenção total de impostos, correspondente a R$ 1,1 bilhão. No pacote do perdão estão tributos federais como IRRF, IOF, contribuições sociais, PIS/Pasep, Importação, Cofins Importação, entre outros. Como a Fifa diz que não exigiu esse amplo favor, quem foi o mentor dessa caridade com o nosso chapéu?

Enfim, a Copa 2014 será marcada por falta de planejamento, má gestão, obras inacabadas, excessivas cidades-sede, desperdícios evitados pelo TCU (R$ 700 milhões), denúncia de superfaturamento do “Mané Garrincha” (R$ 431 milhões), arenas entre as mais caras do mundo e repulsa à Fifa, entidade que merece um “chute no traseiro”.

De qualquer forma, quando 72% da população estão insatisfeitos (Pew Research Center), a Copa é apenas parte do contexto. As manifestações e as vaias são consequência da inflação, da estagnação da economia, da péssima qualidade dos serviços públicos e da corrupção deslavada. É bom lembrar que em 2010, na Copa da África do Sul, o ex-presidente Nelson Mandela foi ovacionado.


Como o protesto mais eficiente não é nos estádios, mas nas urnas, o dever de casa para hoje será o Brasil vencer o México e avançar rumo à conquista da Copa — a Copa da Mãe Joana.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Agronegocio pujante insiste em atrapalhar o negocio declinante dos terroristas do MST

No país quebrado por 12 anos de incompetência petista, o odiado agronegócio é o único setor a mostrar vitalidade econômica. Isto deve incomodar a banda podre da Igreja - a Comissão Pastoral da Terra - e o retrógrado braço armado do lulopetismo, o MST. Não à toa, o símbolo deles é uma enxada. Editorial do Estadão:


No país do pibinho, mais uma vez o sinal mais forte de vitalidade econômica vem do campo, com uma safra de grãos e oleaginosas - algodão, amendoim, arroz, feijão, milho, soja, sorgo e trigo - estimada em 193,57 milhões de toneladas. Se confirmada, a produção será 2,6% maior que a da temporada 2012-13, quando se colheram 188,66 milhões de toneladas. O novo recorde vem acompanhado, mais uma vez, de exportações suficientes para compensar a maior parte do déficit acumulado no comércio de manufaturados. Neste ano, os exportadores têm encontrado no mercado internacional preços em queda para alguns produtos importantes, como a soja, mas, ainda assim, o agronegócio acumulou de janeiro a maio um superávit de US$ 32,38 bilhões. Nesse período, o resultado geral do comércio exterior foi um déficit de US$ 4,85 bilhões.

A nova estimativa da safra 2013-14 foi divulgada na terça-feira pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura. O levantamento anterior, publicado em maio, apontava um total de 191,25 milhões de toneladas. Em cada ano agrícola os números são atualizados mensalmente, desde as primeiras previsões de plantio até o fim das colheitas, passando pela evolução de cada tipo de lavoura, em cada região. A atualização é necessária porque vários fatores, como as condições do tempo, a incidência de pragas e doenças e, naturalmente, os tratos culturais, afetam o desenvolvimento das plantas e o rendimento final das culturas.

Neste ano, o rendimento geral das lavouras caiu. A área plantada aumentou 6,2%, mas o aumento da produção deve ficar, segundo a avaliação mais recente, em 2,6%. A produção por hectare deve crescer 17,7% no Norte-Nordeste e diminuir 4,9% no Centro-Sul, principalmente por causa do tempo desfavorável. Os dados finais serão conhecidos dentro de alguns meses. O padrão característico das últimas duas décadas tem sido um aumento muito maior da produção que da área cultivada. A agricultura vem sendo, há mais de uma década, o setor mais dinâmico, mais produtivo e mais competitivo da economia brasileira. O mesmo padrão tem sido observado na pecuária comercial.

Essas qualidades estão refletidas no comércio exterior do agronegócio. Neste ano, até maio, o setor exportou produtos no valor de US$ 39,5 bilhões e acumulou um superávit de US$ 32,38 bilhões. A receita foi 2,2% menor que a obtida nos mesmos meses do ano passado, principalmente por causa da queda de preços. O comércio foi liderado, como em anos anteriores, pelos exportadores do complexo soja, com aumento de 18,6% no valor faturado (US$ 15,58 bilhões) e de 23,1% no volume vendido (30,29 milhões de toneladas). A diferença entre a expansão do volume e a da receita indica a diminuição do preço médio. Também caíram os preços das carnes, a segunda maior fonte de receita, e do complexo sucroalcooleiro.

As vendas acumuladas em 12 meses, no valor de US$ 99,08 bilhões, foram 0,4% menores que as do período encerrado em maio do ano passado, de US$ 99,5 bilhões. O saldo diminuiu 1,3% e ficou em US$ 81,94 bilhões. No mesmo período, o saldo total do comércio exterior ficou em apenas US$ 3,09 bilhões, por causa do mau desempenho da maior parte da indústria.

Boa parte dos ganhos de produtividade conseguidos pelo setor industrial nos anos 90, a partir da abertura do mercado e de esforços de modernização, já foi consumida. Os investimentos empresariais foram insuficientes na última década. Faltou inovação, a mão de obra encareceu muito e o setor continuou prejudicado pela má tributação, pela burocracia e pelas deficiências da infraestrutura. O intervencionismo e os erros de foco da política industrial também pesaram. O protecionismo e a limitação dos mercados, por falta de acordos com países desenvolvidos, contribuíram para a acomodação e o enfraquecimento da indústria. Alguns desses problemas, como os de logística, também afetam seriamente o agronegócio.

Esses erros produzem, entre outras consequências, uma excessiva dependência comercial do agronegócio - um desnecessário fator de risco.

A farsa bolivariana do partido totalitario: o decreto dos sovietes tupiniquins vai para o lixo da historia

Petismo: a farsa como método
Perdendo apoio no Congresso, inclusive com a debandada de aliados, o governo tenta trocar a democracia representativa pela "democracia direta". É o velho assembleísmo petista, herança de uma tradição autoritária típica do esquerdismo. Artigo de Paulo Rabello de Castro no Estadão:

Menos pela ameaça que poderia representar, se chance tivesse de sobreviver ao Congresso, o decreto presidencial que cria os conselhos populares merece o alarde e a resistência que provocou por representar mais uma tentativa do PT de governar à revelia da sociedade organizada.

Com os movimentos sociais fugindo ao controle em meio a uma campanha eleitoral que devolve o partido ao patamar histórico de 30% das intenções de voto - insuficiente para a reeleição de sua candidata -, e com uma base parlamentar cada dia mais hostil, o PT investe na chamada democracia direta.

A defesa do decreto pelos ministros Aloizio Mercadante e Gilberto Carvalho, a quem ficariam subordinados os tais conselhos, não resiste a uma simples constatação: se boa fé política os movesse, o Congresso seria incluído na iniciativa com uma proposta em forma de projeto de lei, ainda que isso não corrigisse a inconsistência da iniciativa.

Mas como a ideia é exatamente substituir o Poder Legislativo por conselhos de composição ideológica afinada com o PT, a opção pelo decreto é autoexplicativa. O assembleísmo, do qual são retrato fiel as chamadas conferências nacionais do PT, representaria a "sociedade civil", no ideal petista de governo, onde o Congresso seria melhor se decorativo.

Se votado hoje o projeto de Decreto Legislativo da oposição, que revoga o presidencial, o Congresso imporia nova derrota à presidente Dilma, agora na véspera da eleição, razão pela qual o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), preferiu adiá-la, a pedido do vice- presidente Michel Temer.

Mas a conta continuará a mesma após a eleição: para aprovar o decreto legislativo que revoga o presidencial são necessários 257 votos - 19 a menos que os 238 dos dez partidos que o apresentaram. Como o PMDB já se manifestou contrário e o espírito de autodefesa do Congresso o rejeita, não há futuro para os conselhos do PT.

O que resta do episódio é a indigência de conteúdos do governo petista, incapaz de produzir propostas que respondam aos anseios reais da população.

O partido insiste na opção da farsa como método, como demonstrou mais uma vez ao assumir a desfiliação do deputado André Vargas (PR), flagrado em corrupção.

Na vida real, o PT fez um acordo com Vargas, a quem interessava a desfiliação, como forma de evitar sua cassação e viabilizar seu retorno na próxima eleição, escapando à consequente perda dos direitos políticos por oito anos.

Não falta razão, por isso, ao ex-presidente Lula, quando manifesta preocupação com a imagem de corrupção que passou a selo do partido, líder hoje nesse quesito.

domingo, 15 de junho de 2014

Pensar se tornou obsoleto? Um opiniao sobre a universidade

Leiam atentamente o que vai escrito. Volto ao final.
Paulo Roberto de Almeida 

Pensar está se tornando obsoleto

É sempre surpreendente — e apavorante — constatar quantos assuntos extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-afirmativas, tudo de maneira generalizada. Seja em debates de internet ou até mesmo em programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor falando mais alto do que ele ou simplesmente recorrendo a frases de efeito de cunho emotivo.

Há inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que na realidade se esteja produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada — para não dizer idiotizante — certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso não explica tudo. A educação não somente foi negligenciada no sistema educacional atual, como também já foi quase que completamente substituída pela doutrinação ideológica. A doutrinação que hoje é feita por professores e instituições supostamente educacionais é amplamente baseada na simples vocalização das mesmas pressuposições básicas e não-comprovadas de sempre.

Se as instituições educacionais de hoje — desde escolas a universidades — estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos adquiririam experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais diferenças. No entanto, a realidade é que um estudante pode passar por todo o seu ciclo educacional, desde o jardim de infância até seu doutoramento, sem entrar em contato com absolutamente nenhuma visão de mundo que seja fundamentalmente diferente daquela que prevalece dentro do espectro de opiniões autorizadas e politicamente corretas que domina o nosso sistema educacional.

No que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas ideias realmente se veem como anjos combatendo todas as forças do mal — seja o assunto em questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o feminismo ou qualquer outro ismo.

Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias. Um indicativo desta noção de monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista é o fato de que as instituições que estão majoritariamente sob seu controle — escolas, faculdades e universidades — são justamente aqueles que usufruem muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.

Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da homossexualidade é comum nos campi universitários — e comparecer a palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente algo obrigatório nos cursos introdutórios —, qualquer crítica ao comportamento homossexual é imediatamente rotulada de "reacionarismo", "preconceito" e "incitação ao ódio", sujeita a imediata punição.

Enquanto porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para denunciar com veemência "os brancos" por seus pecados passados e presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante branco que similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de grupos não-brancos garantidamente será punido, se não expulso.

Até mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente nada podem ter de pagar um preço caso não concordem com a lavagem cerebral que ocorre nas salas de aula. (...)

Estamos hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico. As universidades se tornaram tão dominadas por uma insistência na inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer professor "forasteiro", que não compactue com a predominância deste pensamento gregário, não mais pode falar a respeito de um determinado assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus pares. Uma simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam questionar a santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio de introduzir as pessoas a uma ampla gama de assuntos que lhes permitiria pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que estivessem afetando suas vidas. O pensamento coletivista — que hoje é predominante no meio universitário — rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de determinadas questões apenas àquelas pessoas que são reconhecidas como "especialistas" por seus pares.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de frases de efeito de cunho emocional evidencia a completa falência do sistema educacional. Se professores universitários — teoricamente a nata intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as mais rígidas seguidoras do rigor intelectual — agem assim, como podemos esperar que o restante da população apresente discernimentos mais profundos? 

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém, estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por sua vez pautam o conteúdo da mídia. Tal terceirização de pensamento ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e significativos. 

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um aprendizado útil. O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado — ou melhor, doutrinado — nas salas de aula, algo evidenciado pelos formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de apresentar qualquer resquício de pensamento original. 

Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas" cujos empregos se resumem a promover a agenda do establishment político e cultural já têm tudo explicado para você. (Na íntegra).

Volto agora, Paulo Roberto de Almeida 
O que eu transcrevi acima é um artigo de Thomas Sowell, o famoso economista liberal americano, negro, que é contra cotas raciais e por uma politica econômica resolutamente livre da interferência do Estado. 
O texto dele é sobre a situação das universidades americanas, mas se encaixa perfeitamente no caso brasileiro também. 
Para ficar conforme, apenas exclui um trecho, que vai abaixo transcrito e que deve ser inserido na passagem com (...).
Devo o artigo ao sempre atento Orlando Tambosi, como creditado abaixo e cuja introdução faz parte de minha mensagem também, pois subscrevo inteiramente a seus argumentos. 
Paulo Roberto de Almeida 
Sowell: pensar está se tornando obsoleto
Para o economista Thomas Sowell, estamos vivendo "o esplendor do anti-intelectualismo" e da doutrinação ideológica travestida de conhecimento. Em vez de argumentar, as pessoas simplesmente tentam calar o opositor. As universidades estão menos preocupadas com a diversidade de ideias do que com a diversidade racial e sexual, graças ao relativismo imperante nos campi. Há um monopólio moral maniqueísta, particularmente entre a intelligentsia esquerdista que domina as instituições de ensino superior. Sowell fala das universidades norte-americanas, mas sua análise vale também para as universidades brasileiras, que sofrem do mesmo mal. É proibido pensar e, sobretudo, divergir:

Trecho suprimido no ensaio de Thomas Sowell, onde está indicado: (...)
Recentemente, nos EUA, um aluno da Florida Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava escrito a palavra "Jesus", a mando de seu professor, foi suspenso pela universidade. Felizmente, a história veio a público e gerou uma onda de protestos fora do mundo acadêmico.

A atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um caso isolado de extremismo, mas o fato é que o establishment universitário saiu solidamente em sua defesa e atacou implacavelmente o estudante. Tal atitude mostra que a podridão moral que impera na academia vai muito mais além do que um simples professor adepto da doutrinação e da lavagem cerebral.