O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador globalismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador globalismo. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 13 de março de 2020

O Covid, a globalização e os antiglobalistas - Paulo Roberto de Almeida

Antiglobalistas vão ficar para trás na luta contra a pandemia

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: debate público; finalidade: contra o antiglobalismo]


Os antiglobalistas, especialmente os da espécie "trumpista" (e seus seguidores em outros países) são idiotas ao extremo. Como diria Marx, eles querem fazer girar a roda da História para trás, querem fazer recuar a globalização, querem se refugiar no nacionalismo rastaquera, no soberanismo mais anacrônico.
Não existe passo atrás da globalização, a não ser para fazer o país recuar, retroceder, ficar para trás, se atrasar, como parece que é o que pretende Trump, os trumpistas e seus seguidores nos EUA e em outros países, sobretudo aqui, onde existem muitos outros idiotas antiglobalistas.
O que transcrevo abaixo é justamente uma amostra dessa imbecilidade antiglobalista que pode se reforçar por causa do Coronavirus. A epidemia é evidentemente global, globalista, e a resposta está na globalidade, na globalização, no globalismo, pois só a intensa, imensa, acrescida cooperação internacional entre cientistas de TODOS os países, com a coordenação de entidades GLOBALISTAS como a OMC, terá condições de superar a pandemia. Os que querem se fechar na sua fortaleza nacional, sobretudo tendo líderes idiotas à sua frente, sofrerão as consequências dessa introversão.
Uma simples constatação LÓGICA: é evidente que o know-how acumulado do MUNDO será sempre superior à capacidade científica de qualquer país do planeta, por mais desenvolvido que este seja.
Transcrevo e finalizo: Viva o Globalismo, viva a Globalização.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13/03/2020


Globalization helped export China’s coronavirus. Never again.
Daily Grind, March 13, 2020
Helping Grind the Globosphere's Gears

In the current environment, something not seen in America in living memory, the fear and panic of the Chinese coronavirus make it near impossible to look ahead. What exactly do we face? A virus that began in China and was allowed to fester before strong action was taken has now circled the globe. The impact of cheap, universal travel for all has exacted its price. There is no place safe. But while countries and governments work to contain or mitigate the effects of the virus, something far more dangerous have developed; a fear so deep that it has shaken the very foundations of our society. Assaults on airplanes. Thieves of medical supplies, in some instances from Emergency Rooms themselves. Hording of basic commodities and price gouging. And, of course, the financial meltdown on Wall Street. These are all results of the virus. And they are more deadly. So, into this maelstrom, what should be our primary interest? What is the singular question we must ask ourselves? The globalist cadres, those pale, bloodless vipers who seek nothing but power and control over people’s lives, harp endlessly that only international organizations can address the problem. More globalization they whine. But it was globalization that got into this fix. It has been the mindless greed of the open borders, open trade zealots who set the table. It was they and their oh so chic ideas, their post-nation-state nonsense, their uber urbanism, their raw and open disdain for anything based on founding American principles that has led us to this place. More of this poison is not the answer.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

O espectro do globalismo: a emergência da irracionalidade oficial - Paulo Roberto de Almeida

O espectro do globalismo: a emergência da irracionalidade oficial

Paulo Roberto de Almeida
Professor de Econômica Política nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub).

Um espectro ronda o Brasil, assim como vários outros países: o espectro é esse mesmo do título, o globalismo, cujas alegadas manifestações concretas, contra a soberania dos Estados nacionais poderiam passar apenas e tão somente por um mero exercício de alienação acadêmica. Mas, ao se tornar uma bandeira de oposição a um suposto processo globalista que estaria trazendo prejuízos ao Estado e à sociedade, esse tipo de postura paranoica arrisca causar danos irremediáveis ao país, ao se converter em programa de governo e, no plano de sua diplomacia, em uma nova palavra de ordem para o corpo diplomático profissional: o combate às “estruturas do pensamento globalista”. Este curto ensaio pode ser identificado como um manifesto anti-antiglobalista, à falta de melhor expressão. Antes, uma pequena recordação.
Um de meus trabalhos mais acessados, em toda a história da livre divulgação de meus textos, em diversas plataformas, foi um produzido e liberado em 2004, mas que só veio a tomar impulso exponencial uma década atrás, aproximadamente, quando um curso online de relações internacionais o adotou como texto-base: “Contra a antiglobalização: contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador” (disponível, entre outras fontes, na plataforma Academia.edu; link: https://www.academia.edu/5873102/1297_Contra_a_antiglobalização_Contradições_insuficiências_e_impasses_do_movimento_antiglobalizador_2004_).
Naquela época, mais de quinze anos atrás, a partir dos primeiros grupos de ativistas europeus e americanos de tendência antiglobalizadora (os franceses preferiam se dizer alter-mundialistas), movimentos e correntes na mesma linha disseminaram-se pelo mundo – sobretudo na América Latina, na onda dos governos de esquerda –, passando a empreender grandes e ruidosas manifestações de protesto contra as entidades mais representativas da globalização: FMI, Banco Mundial, OMC, OCDE, Fórum Econômico Mundial de Davos, cúpulas do G-7 ou quaisquer outras reuniões identificadas com o capitalismo global. Para se contrapor de forma mais ou menos organizada a essas entidades perversas, esses movimentos passaram a se reunir no âmbito do Fórum Social Mundial, com muitos encontros realizados no próprio Brasil, durante os governos do PT. Em seu primeiro ano de governo, o presidente Lula compareceu quase simultaneamente ao encontro de Davos e à reunião do FSM em Porto Alegre, com habilidade suficiente para ser aplaudido em ambas as ocasiões.
Como é meu hábito de estudioso, sempre segui os debates das entidades da interdependência global, assim como os argumentos daqueles que lhes são opostos, daí resultando uma série de ensaios, desde meados anos 1990, cuja síntese se encontra nesse trabalho de 2004. Nele eu examinava cada uma das alegações e acusações dos antiglobalizadores contra o capitalismo global, demonstrando cabalmente, como aliás indicado no subtítulo do ensaio, as contradições conceituais e insuficiências empíricas desses ataques ingênuos, mas sobretudo os impasses políticos e econômicos a que conduziriam as “teses” sustentadas por eles, se por acaso fossem aplicadas na prática por governos ou entidades internacionais (algumas o foram, por regimes de esquerda, os “bolivarianos”, por exemplo, ou expressas em textos enviesados e politicamente desonestos, como os relatórios da Oxfam). Como era evidentemente, desde o início, esses antiglobalizadores foram derrotados por suas próprias contradições: dispondo das mais cômodas e modernas facilidades em comunicações e informação, oferecidas pelas empresas do capitalismo global, eles fizeram, nas palavras de Shakespeare, muito barulho por nada. Pouco a pouco, aquele entusiasmo juvenil, alimentado por alguns profissionais do anticapitalismo visceral, tornados órfãos pela implosão de todos – ou quase todos – os “socialismos reais”, foi perdendo ímpeto e interesse, até que suas teses bizarras já não mobilizavam praticamente ninguém.
Dei por encerrada minha atividade didática e pedagógica nessa vertente, inclusive porque essas reuniões do FSM foram rareando, com um alcance diáfano entre os universitários, todos eles ultra-ligados nas últimas novidades da globalização. Em seu lugar, começou a pipocar, em alguns sites e blogs de movimentos de direita, um novo espectro, um tal de “globalismo”, contra o qual palavras de ordem passaram a apimentar alguns debates nessas esferas. Não dei importância a mais essa bizarrice de novos grupos políticos, tanto porque a globalização alimenta, justamente, todas as crendices mais estapafúrdias que possam a surgir de mentes doentias, por profetas do apocalipse, em alertas estridentes de arautos de algum desastre iminente.
Algo de novo, todavia, surgiu no Brasil, durante a campanha presidencial de 2018, quando um colega diplomata passou a sustentar ativamente o candidato da direita, escondendo sua personalidade – depois revelada na imprensa – nas postagens surpreendentes de um blog coincidentemente chamado de “Metapolítica 17”, por acaso o número desse candidato, cujo subtítulo (todo um programa e manifesto político) era este: “contra o globalismo”. Só vim a tomar conhecimento dos estranhos, estranhíssimos, textos nele contidos, na própria noite de sua escolha, pelo presidente eleito, como futuro chanceler do Brasil: confesso que fiquei “imprecionado”, como diria o segundo ministro da Educação desse governo. Estarrecido seria a palavra mais exata, já que dificilmente se poderia acreditar que um diplomata normal, que nunca tinha revelado tais tendências bizarras, pudesse defender causas tão estranhas quanto as do antimultilateralismo, anticomercialismo, anticlimatismo e a do novo espectro preferido pelos paranoicos da globalização, o antiglobalismo, justamente.
Foi aí que comecei a prestar alguma atenção a essas “teses” antiglobalistas, tão estapafúrdias e equivocadas quanto as dos antigos antiglobalizadores: busquei então alguma literatura de qualidade sobre o tal de globalismo. Confesso que não achei praticamente nada, a não ser subliteratura de baixíssima qualidade conceitual, sem qualquer fundamentação empírica, apenas alertas desprovidos de qualquer apoio em dados concretos sobre os supostos perigos de um assalto à soberania dos Estados nacionais, vindos de organizações internacionais, ricaços de esquerda e representantes do chamado “marxismo cultural”. Na verdade, o globalismo, sob a pena de estudiosos sérios, nada mais é do que a vertente política da globalização econômica, ou seja, a interconexão de diferentes estruturas institucionais existentes no sistema multilateral, e conectadas aos fluxos e transferências de ativos transnacionais: comércio de bens e serviços, investimentos diretos, movimentos de capitais autônomos, enfim, tudo aquilo que subjaz à crescente regulação política mundial das relações econômicas internacionais. Joseph Nye trata extensivamente do tema em alguns de seus livros.
Em uma palavra, o globalismo é o universo conceitual e prático no qual trabalham os diplomatas e todos os agentes econômicos ou políticos que gravitam em torno dessas interações que se estabelecem entre diferentes economias nacionais e Estados soberanos ao redor de um planeta cada vez mais interligado. Atenção: mas não para os paranoicos do antiglobalismo, que transformaram esse conceito aparentemente inocente num horrível e malfadado espectro perverso, um monstro metafísico devotado a retirar soberania política desses Estados e a deixá-los sob as ordens de organismos internacionais intrusivos, submetidos aos projetos maléficos de burocratas não eleitos. Das antigas acusações dos antiglobalizadores – o mundo sendo dominado por gigantescas multinacionais empenhadas em abolir direitos trabalhistas, devastar o meio ambiente, sugar os trabalhadores e países pobres em busca de lucros usurários –, passamos agora às ridículas alegações dos antiglobalistas, a de um mundo também dominado por estruturas gigantescas, empenhadas na construção forçada de um governo mundial, substituindo-se à soberania dos Estados nacionais.
Tentei achar elementos probatórios desses cenários conspiratórios, mas confesso que tenho sido infeliz em minhas buscas, pois a única coisa que encontrei foram slogans, alegações, alertas e premonições, mas nenhuma evidência concreta de que essa dominação globalista esteja sendo implementada pela ONU, suas agências especializadas, ou quaisquer outras entidades multilaterais ou transnacionais. O mais preocupante, porém, não é que as antecipações paranoicas estejam sendo veiculadas pelos conhecidos profetas do apocalipse e outros alarmistas doentios, mas que elas tenham sido incorporadas em programas de governo e estejam servindo de bandeira e justificativa para uma luta inglória, insana e estúpida, contra o multilateralismo e outras instâncias do globalismo normal, isto é, a do sistema internacional construído progressivamente desde Bretton Woods e em constante aperfeiçoamento desde então.
Custa a crer que o governo brasileiro, pela voz e ação de vários de seus mais altos dirigentes, de representantes diplomáticos e outros funcionários qualificados, estimulados por algumas mentes doentias que circulam à sua volta, tenha embarcado nessas fantasias ridículas do antiglobalismo como programa de governo, como bandeira de luta, supostamente contra uma ameaça real aos interesses do país. O grau de irracionalismo embutido nesse tipo de discurso é propriamente estarrecedor, sobretudo no âmbito das relações exteriores do país e no de sua diplomacia prática.
Como diplomata de carreira, e estudioso das relações internacionais do Brasil, inquieta-me a capacidade que têm os discípulos de uma paranoia, sem qualquer fundamento na realidade, de projetar uma imagem distorcida do país no plano internacional, diminuindo sua credibilidade diplomática e projetando uma sombra de escárnio sobre nossas posturas em relação a diversos itens da agenda mundial. Meus espaços públicos estão abertos a um debate qualificado, bem informado, intelectualmente honesto e empiricamente fundamentado sobre todos os fatos concretos e os elementos conceituais que poderiam sustentar a “tese” de que o tal de globalismo – que não vejo senão como um espectro pueril – possa, de alguma forma, trazer prejuízos ao Brasil e à sua sociedade. Estou sempre aberto ao diálogo, como sempre estive à época das bizarrices antiglobalizadoras, sem ter tido, de fato, oponentes credíveis. A luta continua, desde meu quilombo de resistência intelectual.


Brasília, 1 de fevereiro de 2020

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Seminario (Anti)Globalismo no Itamaraty: palestra do ministro de estado

Nesta manhã de 12 de junho de 2019, Dia dos Namorados, fui despertado não por alguma chamada da família Bolsonaro – cujo chefe vive falando em casamentos estranhos –, mas por um aviso de um dos meus leitores no sentido em que não conseguiu mais acessar o famoso vídeo da alocução nietzscheana do nosso chanceler, culpando aquele bizarro filósofo alemão do final do século XIX pelo fato de que a humanidade (pelo menos a ocidental) tenha sido privada da presença de Deus, embora ele seja suficientemente lido para confirmar que a afirmação de que "Deus está morto" já aparecia em Dostoievski.
Fui conferir agora, pois eu tinha colocado o link para a palestra inaugural do ministro em minha postagem-resumo do seminário, neste link: 
http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/06/seminario-sobre-globalismo-no-itamaraty.html
e de fato não mais achei, pelo menos não no link originalmente fornecido.
Acessando, porém, o canal YouTube do Itamaraty, lá está, efetivamente, a rica palestra do chanceler. Caso os interessados também estejam interessados em minhas parcas notas, apressadas, que consegui tomar, enquanto ele passava de suas folhas dispersas a uma edição em alemão de Nietzsche (que ele se eximiu de mencionar bibliograficamente), transcrevo abaixo o resumo que consegui fazer durante a palestra, remetendo ao link acima para minha avaliação inicial (e final) do seminário.
O vídeo agora encontra-se neste link: 
https://www.youtube.com/watch?v=mWajQ0NBeio

segunda-feira, 10 de junho de 2019


Seminário sobre Globalismo no Itamaraty - resumo por Paulo Roberto de Almeida

Seminário sobre globalismo no Itamaraty
Notas de Paulo Roberto de Almeida
Seminário “Globalismo”, Palácio Itamaraty, Brasília, DF
Auditório Wladimir Murtinho 10 de junho de 2019
  
Introdução: Paulo Roberto de Almeida
(...)

Resumo das palestras por Paulo Roberto de Almeida
10:00-10:30 Abertura:
Embaixador Ernesto Araújo, Ministro de Estado das Relações Exteriores
(Nota PRA: se o texto aparece muito confuso, a culpa não é minha: a confusão mental, as hesitações, as idas e vindas são próprias do palestrante: o vídeo pode confirmar isso: https://m.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=PpNNLl4wZXw)

Addendum em 12/06/2019: 
Depois de postado o link acima, não mais funciona: 
Vídeo indisponível

Abre com leitura de Nietzsche: “vou contar a história dos próximos 200 anos”, ou seja, o niilismo, em Vontade de Poder. O pensamento de Nietzsche, famoso pela sua frase, “Deus está morto”, é uma descrição e uma superação do niilismo. Essa ideia de que Deus está morto se tornou o postulado central de todo o pensamento posterior; uma ruptura radical, que explica o marxismo-leninismo e o comunismo; trata-se da destruição da moral burguesa, anunciada por Marx, que é responsável pelo leninismo e pelo fascismo; isso já está na Ideologia Alemã, de Marx e Engels, e na Genealogia da Moral, de Nietzsche, são obras paralelas; o comunismo e o nazi-fascismo dependem da morte de Deus; ambos instalam um antropocentrismo radical. Mais interessante é uma frase do psicanalista Jacques Lacan, “se Deus não existe, nada é permitido”, eu [EA] me identifico com essa frase, pois ela transmite essa falsa liberdade trazida pelo niilismo moral.
Frase do Nietzsche: para um cristão isso não representa um problema. O próprio Nietzsche é um profeta herético, desse renascimento/ Existem cartas que ele escreveu no período de sua loucura, a partir de 3 de janeiro de 1889; ele assina como “crucificado”, diz “o mundo está esclarecido porque Deus está sobre a terra”; existem cartas para Cosima Wagner, que Nietzsche assina como Dionísio, o deus da morte e do renascimento na Grécia antiga; essa oposição entre apolíneo e dionisíaco é típica do pensamento de Nietzsche; de certa forma, Nietzsche se apresenta como o próprio crucificado, se entrega ao abismo da angústia intelectual, como uma figura para-cristã: Ecce Homo. Nietzsche anuncia o século XXI, que é tempo que nós estamos vivendo. Nos últimos dias antes da sua loucura, um dos textos diz: “eu trago a guerra, não a guerra entre povo e povo, entre classe e classe, mas entre a subida e a descida, entre a vontade da vida e a vingança contra a vida”. Nietzsche já nega a concepção da luta nacional, e nega também a luta de classes, concepção do comunismo. Podemos ler a história posterior entre a subida e a descida. Trata-se da história do espírito (aqui entramos em Hegel), é uma prosopopeia da história posterior; uma maneira de ver a história do século XX e XXI, de qual participamos.
Nesse texto, Nietzsche prega uma quebra da história total, como Lênin faria depois. Coloca o desdobramento da luta entre a subida e a descida, como os passos onde se desdobrarão esse movimento; trata-se da história do homem como pura fisiologia, como Lênin e o NSAPD (partido nazista) tentam implementar. O que existe ao longo do século XX é esse terrível mergulho sem Deus; é preciso saber se um dia conseguiremos emergir desse mergulho. Essas duas ideologias, comunismo e nazismo lutaram por sua preeminência durante o século XX. Mas quem lutou contra? Foram as democracias liberais, quando ainda existia um pouco da ordem antiga, quando não se tinha rompido com a ideia de Deus; onde havia liberdade e espaço para a ideia de Deus; no corpo das democracias liberais continuava a bater um coração conservador; essa foi a espinha dorsal do Ocidente que lhe permitiu vencer primeiro o nazi-fascismo, depois o comunismo. Ao longo da Guerra Fria, esse modelo acabou se impondo ao modelo totalitário; o Plano Reagan, por exemplo, foi uma epitome dessa fé e desse liberalismo: ele não teve problema em chamar o comunismo de “mal”; o papa João Paulo II também lutou contra essa tendência niilista. Caráter conexo das duas dimensões da crença de João Paulo II.
Depois de 1989, da vitória do Ocidente, linha da fé cristã venceu; mas logo se afirmou: “ninguém mais precisa de Deus” e resolveram expulsar Deus das democracias liberais. O comunismo já vinha se preparando para ocupar por dentro as democracias liberais, com o marxismo cultural, o gramscismo, eles foram ocupando o coração das sociedades liberais; e isso é o globalismo. É a ocupação das sociedades liberais; de 1889 a 1989 foi o baluarte da Niedergang, descida no sentido nietzscheano. A sociedade liberal achou que a disputa tinha sido exclusivamente econômica, e quase perderam a luta contra o niilismo, por terem perdido a ideia de Deus.
Palestrantes vão falar de alguns dos mecanismos do fisiologismo do globalismo, o desconstrucionismo linguístico, o nominalismo, a ideologia de gênero, o racialismo e o ecologismo, que é a ecologia transformada em ideologia. Áreas de pensamento que deixam de ter contato com a realidade e se impõem como absolutas. Todos esses instrumentos pressupõem a ausência de Deus, e criam uma nova moral, de opressão psicológica. Nietzsche previa isso: uma moral sem a base de uma ordem estruturada.
No ápice desses movimentos que vivemos, estamos vivendo um caráter opressivo, um moralismo pesado; o globalismo tenta formular de maneira canhestra, uma nova espécie de religião; ideologias que são o oposto dos valores antigos, da ideia de Deus. Existe um problema na concepção de uma falsa religião globalista, o globalismo abre a porta para um tipo de retorno de Deus, se cria um estranho humanismo, que desmerece o homem; a Inteligência Artificial significa a máquina aprendendo a pensar como o ser humano, isso é um programa globalista, pode ser o contrário: o homem sendo subjugado pela concepção mecanicista. O globalismo é o niilismo, o triunfo daquela concepção ateia proposta por Nietzsche.
Estamos num momento de recomposição; o fisiologismo é a estrutura filosófica dessa dominação; o liberalismo dispensou Deus. Estamos tentando reintroduzir Deus na sociedade liberal no seio da sociedade liberal politicamente correta; o Brasil está engajando nesse combate. Em Davos, o presidente Jair Bolsonaro reintroduziu a ideia de Deus em seu discurso, deve ter sido a primeira vez na história de Davos que um chefe de Estado introduziu Deus em Davos; isso significa uma mudança nos últimos 100 e tantos anos.
“Então é isso, Deus em Davos”. Muito obrigado.
=========

Todo o resto, minha introdução e palestra do assessor presidencial, pode ser visto no link já indicado: http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/06/seminario-sobre-globalismo-no-itamaraty.html

terça-feira, 11 de junho de 2019

Seminário sobre globalismo no Itamaraty: relato de Eliane Oliveira (O Globo)


Esta matéria da jornalista do Globo dá uma aparência de discurso racional ao que constituiu apenas uma aglomeração de frases desconexas do chanceler, pretendendo juntar “elementos historicamente verificáveis”, como as democracias liberais do Ocidente, com noções altamente questionáveis no plano das políticas nacionais, como podem ser o papel de Deus e o espaço dos sentimentos religiosos na vida das nações. Tratou-se, provavelmente, da primeira vez em que as nações ocidentais, ao preservarem suas instituições estáveis, no curso da formidável implosão do socialismo no mundo, foram acusadas de se terem rendido ao comunismo, que no mesmo momento estava sendo jogado na lata de lixo da História. Uma interpretação sem dúvida original, ainda que canhestra, das relações internacionais contemporâneas, aparentemente dominadas por esse monstro metafísico do globalismo. O assessor internacional aterrorizou os presentes ao seminário com os imensos perigos que um punhado de burocratas não eleitos, pontificando a partir das organizações multilaterais, fazem correr aos Estados nacionais, castrados em sua soberania. O mundo está perdido...
O chanceler já pode ser admitido na Academia Tabajara de Filosofia e o assessor internacional, dotado de poucos estudos, deveria completar suas leituras de relações internacionais em alguma Faculdade Tabajara de Ciência Política.
Ambos devem ter combinado a divisão do besteirol que a audiência teve de suportar no seminário do Itamaraty, uma instituição que já abrigou coisas bem melhores...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de junho de 2019

'Estamos tentando recuperar o coração da sociedade liberal', diz chanceler de Bolsonaro

Ao abrir seminário sobre 'globalismo' no Itamaraty, Ernesto Araújo afirma querer recompor alma conservadora

POR ELIANE OLIVEIRA
| Atualizado: 

BRASÍLIA — O ministro das Relações ExterioresErnesto Araújo, disse que o Brasil tem um papel fundamental no combate ao "globalismo" — expressão usada pelos movimentos de direita para se referir a instituições internacionais que acusam de interferir na soberania dos países e tentar apagar as tradições nacionais. Em um seminário que promoveu ontem sobre o tema no Itamaraty, Araújo disse que o presidente Jair Bolsonaro fez algo inédito quando mencionou Deus em seu discurso no Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro deste ano.
— O Brasil tem um papel fundamental. Estamos entrando para tentar recuperar o coração da sociedade liberal e recompor a alma conservadora. É a preservação de um conceito profundo de dignidade humana. Alguém que se relaciona com Deus. Deus em Davos — disse o chanceler a um auditório lotado, na Fundação Alexandre de Gusmão, ligada ao Ministério das Relações Exteriores.
No governo Bolsonaro, os seguidores do guru da direita Olavo de Carvalho reivindicam fazer parte do movimento antiglobalista, cujo expoente internacional é Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump. Para eles, o "marxismo cultural" passou a dominar as instituições internacionais, como as das Nações Unidas, em uma espécie de nova versão do antigo internacionalismo socialista.
Ao abrir o seminário que reuniu representantes da direita nacional e internacional, Araújo afirmou que o globalismo ocorreu no momento em que o comunismo “tomou o coração dos liberais”. Para o ministro, tudo começou há cerca de cem anos, quando o filósofo Friedrich Nietzsche passou a propagar com ênfase o niilismo que, segundo o chanceler, nada mais é do que o fim da crença em Deus.
— O comunismo e o nazifascismo dependem da morte de Deus e do fim do antropoteísmo (representação da divindade sob forma e atributos humanos). Ambos instalaram o antropocentrismo radical, como se estivessem libertando o homem — afirmou Araújo.
Tanto o chanceler quanto o assessor internacional do Planalto, Filipe Martins, procuraram criticar tanto o comunismo quanto o nazifascismo. Correntes da direita ultranacionalista, que os dois costumam elogiar, têm sido associadas a características do fascismo por historiadores e analistas.
Araújo disse que economias liberais “ligadas à ordem divina” foram a espinha dorsal do Ocidente, o que segundo ele permitiu a vitória sobre o nazifascismo e o enfrentamento do comunismo a partir de 1945, graças à fusão do liberalismo e da fé cristã. Depois de 1989, porém, “alguém achou que não precisava mais do conservadorismo nas democracias liberais”, disse o chanceler:
— Expulsaram Deus do lado liberal. Mas no corpo das democracias liberais continuava a bater um coração conservador.
Já Filipe Martins deu a seguinte definição para globalismo: é a tentativa de instrumentalização política e ideológica da globalização, para empoderar um conjunto de burocratas não eleitos e os grupos de interesses que têm acesso a eles.
— Não há apenas um projeto globalista. É um método de domínio e exercício do poder. As finalidades apontadas pelos globalistas são a paz e a prosperidade. Se olharmos o comunismo e o nazifascismo, eles também prometiam isso — disse Martins.
O americano Cris Buskirk, editor da revista American Greatness (Grandeza Americana), disse que os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro são nacionalistas, patriotas e "respeitam seus povos". Segundo ele, os dois se recusam a abrir mão da soberania de seus países em favor de entidades supranacionais:
— Há algumas exceções, como a Cruz Vermelha, que faz um bom trabalho. Mas há organizações que têm outras metas e visam ao poder político para exercer influência.
Convidada a falar sobre "globalismo e a educação", a deputada Christine Nogueira (PSL-RJ) afirmou que os globalistas atuam prioritariamente na área educacional. Entre os seus objetivos, disse, está o de destruir a família.
— Se eu não quero que a família seja respeitada, eu preciso destruí-la. Estamos transformando as escolas em empresas em que os alunos não passam de consumidores e os professores, de fornecedores. Nossas escolas foram transformadas em redutos de militantes — disse a deputada.