Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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terça-feira, 23 de outubro de 2018
Brasil: indice mediocre de competitividade - Forum de Davos
terça-feira, 15 de março de 2016
A crise institucional brasileira e a mediocridade dos homens publicos - Paulo Roberto de Almeida
sexta-feira, 28 de junho de 2013
O Brasil enlouqueceu e vai recuar muito, gracas a politicos demagogos e mediocres - Leandro Roque
Claro, no meio dessas manifestações, tem sempre aquelas pessoas de boa vontade, geralmente ingênuas economicamente, mas que estão exasperadas com a falta de segurança, com a desfaçatez dos mesmos políticos medíocres, que querem um país decente, livre da corja de bandidos que o tem assaltado continuamente, sem corrupção, com segurança, sem inflação, com honestidade, sem oportunismo e sem mentiras, com boa fé e responsabilidade, e que manifestam sua indignação com tudo o que vêem no cenário político.
Tem também os energúmenos de alguns movimentos surrealistas, que pensam que vão derrubar o capitalismo, e, como não poderia deixar de ser, tem os vândalos e criminosos profissionais, que estão ali para quebrar um pouco e roubar o que der. Inclusive jovens no geral bem comportados acabam se juntando aos vândalos no calor da hora: turbas desenfreadas agem como certas torcidas de futebol, ficam cegas e desembestadas, no limite da selvageria.
Do outro lado, tem a polícia emasculada e a imprensa abobalhada, feita de "profissionais do jornalismo", no limite do analfabetismo funcional.
Pronto, está aí a receita para nossa lenta decadência, permeada de gestos medíocres e oportunismos desonestos, como o de certo personagem, que acredita poder voltar triunfalmente graças ao caos que ele mesmo alimenta e estimula. Pelo que vejo, acho que vai ser difícil recuperar no curto e médio prazo, inclusive porque a dita oposição é absolutamente medíocre, inconsciente, inconsequente e impotente (fui claro?).
Desculpem o pessimismo, mas ao ver e ouvir tanta baboseira brotando de todas as partes, impossível não ser realista. Fiquem com um bom ensaio sobre nossa pior hora de loucuras coletivas.
Vou sublinhar apenas minhas poucas discordâncias com este excelente artigo.
Não concordo, por exemplo, em que "Já a depredação de patrimônio público recebe uma punição mais severa e o arruaceiro de fato pode ir para a cadeia. Tal inversão de valores é digna de países de mentalidade coletivista."
Concordo inteiramente com a inversão de valores: esse é o resultado de anos, décadas, de educação à la Paulo Freire, a esse esquerdismo vulgar e mentiroso que prega contra o capitalismo, e que contamina sobretudo alguns juízes que pensam fazer justiça com suas próprias mãos (e patas). Mas vejo que grupelhos neobolcheviques como o MST podem depredar propriedade pública e privada à vontade, que nada lhes acontece: podem invadir o Congresso, os ministérios, as sedes do INCRA (dominado por outros malucos), que ficam impunes...
Também não acho que "Neste ponto, como é de praxe na América Latina, pode ocorrer um golpe de estado. O governo é derrubado e uma junta militar assume o controle."
Não acredito que tenhamos condições, pelo menos no Brasil, para esse tipo de aventura caudilhesca ou militarista. Isso passou, e as FFAA vão sofrer, como o conjunto da classe média, a erosão da autoridade, da legitimidade, da moralidade, vão padecer do aumento da criminalidade, da roubalheira generalizada, da decadência do país, sem ter condições de atuar fora dos quadros institucionais. Eventualmente lideranças mais responsáveis assumirão o comando político da nação, mas o desgaste e o retrocesso já terão sido fatais para o futuro do país.
Vamos continuar nos arrastando duramente pelas trilhas escarpadas da História, avançando um passo e recuando dois, caindo e levantando, com imensas dificuldades.
Não sou pessimista. Apenas já vi esse mesmo filme antes, mais ou menos 50 anos atrás...
Paulo Roberto de Almeida
O brasileiro foi às ruas e gostou - mas continua sem entender nada
"O Brasil está conseguindo o raro feito de extrair opiniões quase unânimes mundo afora. São poucos, pouquíssimos, os economistas que ousam discordar de que o País entrou em um ciclo de desenvolvimento sustentado. E mais: são ainda mais raros aqueles que duvidam da capacidade de o Brasil se tornar uma das maiores potências econômicas do planeta em um par de dezena de anos."
Estamos vivenciando exatamente aquilo que ocorre quando se entrega o comando da economia a pessoas que não têm a capacidade de gerenciar nem sequer uma carroça de pipoca. A democracia e o apelo das massas — exatamente o arranjo que todo mundo venera — levaram a isso. Não há por que reclamar e nem há o que se estranhar.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
A (des)universidade brasileira afunda no anacronismo e na mediocridade
O comentário (meio longo) que farei abaixo está fora do tópico. Caso queira, descarte.
Depois de me aposentar no TRE-Xxxxxx e vir morar em [bonita capital do Sul maravilha], decidi prestar concurso para professor de História/História Antiga e Medieval, na UFXX.
Minha formação correspondia aos pre-requisitos exigidos para o certame, é claro. Mas o surpreendente - no sentido negativo do termo - foi o tema de um dos dois tópicos sorteados para a prova escrita. Era ele: "Vida doméstica, relações de gênero e sexualidade no mundo antigo".
É claro que quando vi esse tópico na lista dos 17 listados, eu achei ridículo. Mas quando ele foi sorteado, eu não me contive e abri a minha prova escrita com o seguinte comentário: já imaginaram Sócrates, ou um alto funcionário do Egito Antigo ou mesmo um centurião romano discutindo a relação com sua querida companheira helênica, egípcia ou romana?
É inacreditável: aplicam-se conceitos do séc. XIX (sexualidade é um conceito freudiano, como todo mundo civilizado sabe) ou do ideológico e literário século XX (relações de gênero) numa prova para professores de História Antiga e Medieval.
E, aliás, apesar de se tratar de professor de História Antiga e Medieval, todos os 17 tópicos versaram sobre História Antiga (ou, como você pode comprovar, sobre um arremedo medonho e pós-moderno de História Antiga).
Esta é a universidade federal brasileira, na modalidade "Ciências Humanas" que se vê hoje.
O resultado da prova escrita sai amanhã. Seja ele qual for, eu me considero uma lamentável perdedora.
O Brasil é um país de miercoles."
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COMPLEMENTO:
terça-feira, 14 de maio de 2013
Entre o conformismo e a lucidez - Rodrigo Constantino
sexta-feira, 3 de maio de 2013
O MEC e a confissao de um fracasso total, que vai subindo de grau...
Ou seja, estão elevando a incompetência para mais um degrau. Qualquer que seja o resultado desse experimento tosco, ele é uma confissão do fracasso completo do ciclo médio e das universidades em oferecer formação e graduação adequadas para capacitar um professor nessas áreas.
Como não conseguiram, acham que a pós vai resolver o problema. Logo, logo teremos os professores incapazes sendo admitidos no doutorado. Daí para as férias remuneradas do pós-doutorado é um pulo.
O MEC continua sendo um dinossauro que pasta sua própria erva da estupidez.
Paulo Roberto de Almeida
Professores terão de melhorar alunos para ganhar diploma
Para isso, estudantes com interesse nessas matérias passarão a ter aulas de reforço e ganharão ajuda mensal de R$ 150 (paga pela União).
sexta-feira, 1 de março de 2013
Fabuloso crescimento do PIB em 2012, de 0,9%
Agora veja a manchete do jornal:
PIB do País fecha 2012 com crescimento de 0,9%, o menor patamar dos últimos três anos
Setor de Serviços foi o único a registrar crescimento, de 1,7%. Maior queda foi de agropecuária, 2,3%. Consumo das famílias, apesar de ser o menor desde 2003, ajudou a segurar o Produto Interno Bruto em alta.O leitor inteligente também deve saber que o governo não produz um grama, um centavo de riqueza e que tudo de que ele dispõe é arrancado da sociedade, dos empresários e dos trabalhadores que produzem todas as riquezas, criam renda e empregos úteis. Tudo o que governo "produz" são despesas (muitas inúteis, terrivelmente inúteis ou perdulárias) e déficit público (porque ainda gasta mais do que arranca da sociedade, aumentando continuamente a dívida pública e gravando a sociedade com o pagamento de juros extorsivos, que só são altos, justamente, porque se trata de um gastador contumaz e um potencial inadimplente, que não pode contar com o beneplácito de risco baixo).
Portanto, meu caro leitor, é fácil deduzir que se o consumo do governo não fosse tão alto, sobrariam mais recursos para investimentos e consumo da própria sociedade, não é mesmo?
O mais preocupante, porém, é registrar a queda brutal na Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja, a taxa de investimento. Isso significa que além do baixo crescimento atual, conjuntural, não haverá capacidade produtiva, no médio prazo, para aumentar a oferta de bens e serviços, o que significa que o Brasil vai estacionar no baixo crescimento, numa taxa medíocre de aumento de renda (se houver) e numa inflação crescente, pois os agentes econômicos já não confiam mais na capacidade do governo de manter a estabilidade.
Ou seja, se descontarmos do crescimento do PIB a inflação e o crescimento demográfico, o que sobra para você, caro leitor? Nada, ou menos do que nada: o governo lhe tungou pelo menos 5% do seu poder de compra em 2012, e bem mais no caso da classe média, que paga por mais serviços do que a média da população e estes provavelmente têm uma taxa de inflação maior.
Esse é o resultado que os companheiros podem apresentar na frente econômica, já que estão comemorando não se sabe bem o quê. Se trata também de uma herança maldita, que eles deixam para toda a sociedade: menor crescimento, mais inflação, perda de confiança, baixo investimento, desindustrialização e, claro, aumento exponencial da corrupção.
Agora leia a matéria completa, caro leitor:
SÃO PAULO - O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro fechou 2012 com crescimento de 0,9%, o pior desempenho desde o pico da crise, em 2009, quando encolheu 0,3%. O resultado ficou abaixo do PIB de 2011, que avançou 2,7%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que os números vieram abaixo das expectativas do governo. Os dados divulgados nesta sexta-feira, 1º, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o País teve o menor PIB entre os Brics e só superou os países europeus, combalidos pela crise.
No ano, o desempenho foi puxado, pelo lado da oferta, pelo setor de serviços, que avançou 1,7%, contra quedas de 2,3% na agropecuária e de 0,8% da indústria. A participação do setor de serviços no PIB atingiu 68,5%, a maior registrada desde 2000, influenciada, sobretudo, pelo consumo das famílias, avaliou o IBGE.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias desacelerou e subiu 3,1% no ano passado, o pior desempenho desde 2003, quando caiu 0,8%. A despesa do consumo do governo avançou 3,2%. Em valores correntes, o PIB somou R$ 4,4 trilhões.
No quarto trimestre de 2012, o PIB cresceu 0,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Na comparação com o quarto trimestre de 2011, o PIB apresentou alta de 1,4%. Entre o setores, o de serviços também liderou a expansão, com alta de 1,1% ante o trimestre anterior, enquanto a indústria subiu 0,4% e a agropecuária recuou 5,2%.
O ano foi marcado também pela queda do investimento, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo (FCBF), que encerrou 2012 com recuo de 4%. No quarto trimestre, contudo, a FBCF apresentou melhora e subiu 0,5% ante o trimestre imediatamente anterior, quebrando uma sequência de cinco quedas seguidas nessa análise. Era a maior sequência desse tipo de comparação desde as cinco quedas registradas entre o terceiro trimestre de 1998 e o terceiro de 1999.
"É um fato que eu não esperava. As contas que tínhamos no Ibre ainda apontavam retração no quarto trimestre", disse o chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Samuel Pessôa. Para ele, virar o ano já com aumento na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é uma "excelente notícia, pois sugere que a retomada de investimento começou já no quarto trimestre do ano passado, mesmo que timidamente".
A taxa de investimento teve o segundo recuo anual seguido em relação ao PIB e ficou em 18,1%, ante 19,3% em 2011 e contra 19,5% em 2010. Em 2009, a taxa foi de 18,1%, a mesma de 2012.
Expectativa. Para 2013, a expectativa é que a economia volte a crescer com mais força, impulsionada por uma safra recorde de grãos e pela retomada da indústria. A maioria dos economistas projeta avanço de 3% do PIB, embora existam apostas de até 4%.
É o caso do Credit Suisse, mesmo banco que, em junho do ano passado, cortou a projeção do PIB de 2012 para 1,5% e causou reação de Mantega. "É uma piada. Vai ser muito mais que isso", disse o ministro à época. A previsão da Fazenda, em fevereiro de 2012, era bem mais otimista: avanço de 4,5%.
Preocupado com a fraqueza da economia, o governo tem adotado algumas medidas para tentar dar impulso ao PIB. Entram na lista o programa de concessões para ferrovias, aeroportos e portos, a desoneração da folha de pagamentos para 40 setores e o programa de redução do custo da energia elétrica para consumidores e indústria, entre outros.
E veja, finalmente, o comentário de um leitor do Estadão online, que faço questão de destacar em bold, pois se trata da única parte mais agradável de toda essa história lamentável:
Não gostaria de ser pessimista e reclamão, mas você vê motivos para outras atitudes, caro leitor?
Eu, sinceramente, não...
Paulo Roberto de Almeida
sábado, 9 de fevereiro de 2013
"Debate" de ideias: miseria da academia, e do jornalismo (Olavo de Carvalho)
Sou um homem de ideias, se posso ousar na autocaracterização, ou pelo menos respeito ideias (quando consistentes, claro, lógicas, e sólidas), e seu poder de mudar o mundo. Como eu mesmo não tenho poder algum -- certamente não material, ou de fortuna, sequer o do alcance nos meios de comunicação, não tenho nenhuma influência sobre os que decidem, de verdade, e meu único poder é o de divulgar ideias e de as debater para o pequeno público que porventura frequenta estas páginas --, como eu não tenho poder algum, repito, minha única força é a de selecionar ideias, conceitos, problemas, exemplos e posições, e de trazer tudo isso aqui para uma exposição, um debate, e uma tomada de posição.
Tenho uma enorme carga de leitura todos os dias: dezenas, senão centenas de mensagens que entram no InBox, que precisa ser selecionadas, lidas, pela sua relevância, ou descartadas por inúteis ou simples spam (cada vez mais, infelizmente). São boletins de imprensa (dos mais importantes jornais diários e de revistas de análise e opinião), colunas especializadas, newsletters de fundações, think tanks, grupos de interesse, mensagens de alunos ou pesquisadores, enfim, todo tipo de material que tento acompanhar. Sobra-me, assim, pouco tempo para escrever, o que é um problema sério de administração do meu pouco tempo disponível. Mas, no meio de cada mensagem, de cada matéria lida, sempre tenho reações mentais, reflexões momentâneas, sugestões de novos artigos, que nunca são escritos porque justamente dedico mais tempo à leitura do que à escrita, que exige sempre mais cuidados, mais tempo e atenção, do que a leitura rápida dos materiais entrantes.
Daí a tendência a simplesmente postar matérias que considero relevantes ou interessantes -- pode ser uma simples reportagem de jornal, puramente factual, ou uma análise assinada -- e fazê-la preceder de rápidos comentários meus, geralmente escritos tão rapidamente que os erros são inevitáveis, de estilo, de concordância, de simples digitação, já que o pensamento flui mais rápido do que a escrita dedilhada. Não deixo de fazer, contudo, pensando que poderei um dia retomar todas essas postagens, para escrever algo mais alentado sobre os problemas aqui enfocados.
Trata-se, obviamente, de uma ilusão, um pouco como todos os livros que compro, folheio um pouco, e depois tenho de deixar de lado, por ocupações mais urgentes. Como já adiantei, vou precisar de mais uns 150 anos, para ler todos os livros que tenho ou que pretendo ler... Também vou precisar de vários anos para voltar a todos os postos acumulados nos meus diversos blogs, milhares deles.
Isso não me impede de continuar acompanhando o debate sobre a cultura brasileira (ou a falta dela). Como fiz na postagem anterior, ou precedente, coloco aqui matérias desse outro jornalista conhecido, não porque eu concorde com tudo o que ele, ou com suas outras posições, em matérias religiosas, filosóficas ou políticas, por exemplo, mas simplesmente porque ele trata de questões reais, que tem a ver com a deterioração do debate intelectual no Brasil, algo que me preocupa sumamente.
Paulo Roberto de Almeida
A imbecilidade, segundo ela própria
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio,
Faz dezessete anos que publiquei O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras, onde ilustrava com toda sorte de exemplos o desmantelamento da cultura superior no Brasil e sondava as causas de tão deprimente estado de coisas. Desde então, à medida que o fenômeno alcançava dimensões maiores e mais alarmantes, não cessei de acrescentar a essa obra, em artigos e conferências, inúmeras atualizações, esclarecimentos e novas análises.
Ao longo de todo esse período, não veio, da mídia ou do establishment universitário, nenhum sinal de que alguém ali desejasse discutir seriamente o problema ou reconhecer, ao menos, que um cidadão desperto havia soado o alarma.
Ao contrário: tudo fizeram para ocultar a presença do mensageiro e dar por inexistente o mal que ele apontava, do qual eles próprios, por suas ações e omissões, eram os sintomas mais salientes.
Chegaram ao cúmulo de, não podendo ignorar de todo as obras essenciais que eu recolocava em circulação com extensas introduções, notas e comentários, noticiá-las sem mencionar o nome do preparador, como se os textos abandonados no fundo do baú da desmemória nacional tivessem saltado dali por suas próprias forças, sem nenhuma ajuda minha.
Inaugurado quando da minha edição dos Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux em 1998, o “Consenso Nacional da Vaca Amarela”, como o chamei na ocasião, continua em pleno vigor, como se vê por dois exemplos recentes.
Na Folha de S. Paulo, um sr. Michel Laub faz ponderações sobre a “Dialética Erística” de Schopenhauer, usando a edição comentada que dela publiquei pela Topbooks em 1998 e esmerando-se em suprimir o meu nome ao ponto de atribuir ao filósofo alemão o título editorial “Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão”, como se fosse do texto original e não dos meus comentários.
Na Carta Capital desta semana, o sr. Mino Carta deplora o que ele chama de “imbecilização coletiva”, no tom de quem soa um alerta pioneiro e fingindo ignorar que esse termo, há muito tempo, já deixou de ser uma expressão genérica para se tornar alusão a um dos livros mais lidos das últimas décadas.
Talvez eu devesse estar contente de que, mesmo sem menção ao tremendo esforço que fiz para revelá-lo, o fenômeno mesmo se tornasse por fim objeto de alguma atenção. Mas o sr. Carta só toca no problema com a finalidade de encobrir suas causas, lançar as culpas sobre os bodes expiatórios de sempre e bloquear, enfim, toda possibilidade da discussão séria pela qual venho clamando desde 1996.
Desde logo, ele só enxerga a degradação cultural do Brasil pelo aspecto quantitativo da escassez de grandes obras – a qual, em si, não seria tão grave se a massa da produção mediana e os debates correntes dessem testemunho de um nível de consciência elevado, honrando uma herança que já não se consegue emular. É justamente a queda do nível de consciência geral que justifica falar de “imbecilização”, quando a mera diminuição do número de gênios por quilômetro quadrado seria chamada mais propriamente de “empobrecimento” ou coisa assim. Desprovido de qualquer tino de historiador ou sociólogo, o sr. Carta limita-se a registrar o fenômeno com a superficialidade de um resenhista cultural. Não apenas entra no debate com um atraso monstruoso, mas rebaixa formidavelmente o nível de análise já alcançado uma década e meia antes.
Com aquele automatismo de quem já tem resposta pronta para todas as questões em que não pensou, ele lança o débito da miséria cultural brasileira na conta dos culpados genéricos mais à mão, os malditos capitalistas, sobretudo os donos da mídia. Em suma: os concorrentes comerciais do sr. Carta, que odeia o capitalismo mas ama o capital ao ponto de fazer dele o nome da sua revista.
Pergunto eu, em que foi que os expoentes da cultura brasileira antiga, um Guimarães Rosa, um Graciliano Ramos, um Gilberto Freyre, um Manuel Bandeira, dependeram jamais da mídia para produzir suas altas criações? O sr. Carta, com toda a evidência, confunde cultura com show business: este não sobrevive sem a mídia, mas os grandes, os espíritos criadores, trabalham não só longe dela como contra ela. O que quer que ela diga ou faça não pode reforçar ou tolher sua inspiração.
Em segundo lugar, a imbecilização da própria midia, que reflete na esfera mais baixa o decréscimo de QI nos andares superiores, não é de maneira alguma culpa dos empresários. Quem quer que tenha alguma experiência de jornalismo no Brasil sabe que os donos e acionistas só interferem na redação muito raramente e na defesa de pontos específicos do seu interesse, deixando a orientação geral das publicações aos cuidados das celebridades jornalísticas, das primas donas, que aí imperam com invejável liberdade de movimentos, como o próprio Sr. Carta imperou no Jornal da Tarde, na Veja e em não sei mais quantos lugares. E sabe também que essas lindas criaturas implantaram nas redações, desde a década de 80, o mais estrito monopólio esquerdista, restringindo o espaço das vozes discordantes, eliminando qualquer possibilidade de confrontação de idéias e ainda discursando cinicamente contra o “pensamento único”, como se o único “pensamento único” que ali se praticava não fosse o delas próprias. Mais sobre este assunto no próximo artigo.
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Causa mortis
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio
A tal ponto chegou a padronização esquerdista da mídia, da qual falava o meu artigo anterior, que em 2001 O Globo, segundo confessou seu chefe de redação, Luís Garcia, teve de contratar pelo menos um colunista tido como “de direita”, para não dar muito na vista. Esse colunista era eu, mas, assim que se tornou patente a minha insistência em denunciar as atividades do Foro de São Paulo – cuja simples existência o establishment iluminado negava --, fui expelido não somente daquele jornal, mas da Zero Hora, do Jornal da Tarde e da revista Época.
Fui substituído por uma geração de direitistas soft, que se limitam a defender genericamente a economia de mercado e as liberdades democráticas, sem deixar de fazer toda sorte de concessões ao programa sociocultural da esquerda. E tanto se reduziu nesse ínterim a quota de “direitismo” admissível, que mesmo esses, hoje em dia, são rotulados de radicais, extremistas e golpistas, inclusive pela revista do sr. Carta.
A História já comprovou mil vezes que o rebaixamento da cultura a instrumento de um esquema de poder, acompanhado da supressão das vozes discordantes, é o caminho mais curto para a imbecilização geral.
É claro que a mídia, por si, não pode secar a criatividade das melhores inteligências. O que ela pode fazer, e fez, foi baixar o nível do debate geral para ajustá-lo a uma política que festejava o analfabetismo do sr. Lula como prova de suas “raízes populares” (uma ofensa brutal aos pobres estudiosos) e, coerentemente com o mais rasteiro populismo intelectual, entregava o Ministério da Cultura a homens incapazes de escrever três palavras sem errar duas e meia.
Isso começou com o dogma progressista-populista (já comentado no próprio Imbecil Coletivo), de que todo es igual, nada es mejor, de que toda distinção entre o mais alto e o mais baixo é um elitismo fascista, devendo portanto ser extinta a noção mesma de cultura superior e instaurado o cambalache universal que hoje arranca lágrimas de crocodilo do sr. Mino Carta.
Significativamente, o sr. Carta não diz uma palavra sobre a essencial causa mortis da cultura brasileira, a instrumentalização das universidades como centros de formação da militância comunista. Num ambiente de compressiva uniformização doutrinal, intoxicados de slogans, chavões e cacoetes mentais obrigatórios, protegidos de todo desafio intelectual e cientes de que o menor desvio da ortodoxia dominante pode destruir suas carreiras, milhões de jovens entendem hoje a formação universitária como subserviência canina aos mandamentos de seus orientadores, incluindo, entre as demonstrações rituais de fidelidade, as expressões histéricas de ódio às bêtes noires da mitologia professoral -- eu, é claro, em primeiríssimo lugar. Que alta cultura pode sobreviver nessa atmosfera? Não foi decerto coincidência que alunos da maior universidade brasileira, tendo descido da condição de estudiosos acadêmicos para a de ativistas e militantes, tenham caído daí para a de drogados e praticantes do sex lib e em seguida para a de bandidos comuns. Qual será a próxima etapa?
Já que o sr. Carta deplora as diferenças entre a cultura brasileira dos anos 40 ou 50 e a de hoje, por que não diz que, dessas diferenças, a maior foi a passagem de um saudável pluralismo ideológico a uma atmosfera de monopolismo partidário, rancor insano e repressão do pensamento divergente? Será possível imaginar, naquela época remota, um intelectual de boa reputação bloqueando o acesso dos seus adversários à mídia, ou baixando sobre eles uma cortina de silêncio em público ao mesmo tempo que, pelas costas, instigasse contra eles o ódio da juventude universitária? Naquele tempo, o editor José Olympio costumava reunir no fundo da sua livraria os escritores das mais variadas tendências ideológicas, para conversações que hoje seriam impossíveis. Naquele tempo, foram sobretudo os críticos de esquerda que fizeram a fama de Gilberto Freyre, o inverso de um esquerdista. Naquele tempo, o socialista Álvaro Lins abria as portas do jornalismo a Otto Maria Carpeaux, que chegava da Áustria com a fama de doutrinário-mor do regime católico-autoritário do chanceler Dolfuss. Não que inexistissem antagonismos. Existiam e eram feios. Mas ninguém fugia de lidar com eles no campo da palavra, ninguém seguia o preceito leninista de tentar destruir socialmente o adversário em vez de discutir com ele.
Diferença por diferença, pergunto se naqueles tempos áureos algum colunista de mídia seria capaz de falar de um problema já abundantemente denunciado e analisado por outro colunista, e fazê-lo com ares de pioneirismo absoluto, sem dar o menor sinal de ter ouvido falar do antecessor. Se o sr. Carta diverge de mim, que seja homem e fale o português claro. Que pare de camuflar sua covardia por trás de uma afetação de superioridade olímpica.
Os exemplos poderiam multiplicar-se ad infinitum. Não foi só a produção de boas obras que diminuiu. Foi muito mais a estatura moral da classe opinante, hoje mais empenhada em consolidar o poder do PT e beneficiar-se financeiramente dele do que em preservar aquele mínimo de integridade e honradez sem o qual não existe vida intelectual nenhuma.
O sr. Carta imita enfim o mafioso que mandou matar o adversário e depois ainda foi ao enterro perguntar à viúva: “De quê morreu o seu marido, minha senhora?” A dona, não podendo dar nome aos bois, saiu-se com este maravilhoso eufemismo: “Foi de encontro a um projétil que vinha em sentido contrário.” Pois bem, sr. Carta, foi disso que morreu a cultura brasileira: foi de encontro a um bloco de imbecis presunçosos que vinham em sentido contrário.
Olavo De Carvalho
oakwoodwolf3@aol.com