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segunda-feira, 18 de março de 2019

Google Alert: politica externa brasileira: safra farta esta semana

Não faltam notícias e matérias, boas e más, sobre a política externa brasileira na mídia corrente.
Tem gente que não vai gostar, mas eu apenas transcrevo o que aparece na mídia, inclusive nos clipping dos bons serviços de informação.

Google
politica externa do Brasil
Atualização semanal  18 de março de 2019
NOTÍCIAS 
Ernesto Araújo defende que 'fé cristã' marque política externa ... Ernesto Araújo, defendeu que a política externa do Brasil comece a ser marcada ...
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O Brasil é um dos poucos países do mundo que pode se orgulhar de ter ... “Claro que todo governo tem sua linha específica para a Política Externa, ...
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Arriscados acenos de mudanças napolítica externa ... Porém, aplicada ao Brasil, país com mazelas decorrentes de uma cultura ... Mas o ministro também investiu contra aspectos positivos da política externado Estado brasileiro.
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... que viagem de Bolsonaro ao Chile seja marco da nova política externa ... O Brasil quer aumentar o mercado de etanol no Chile, país que tem fortes ...
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A China é a maior compradora de soja e minério de ferro do Brasil. ... Querem reduzir nossa política externa simplesmente a uma questão comercial, ...
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Base de Alcântara: Brasil cede a Trump o melhor local do mundo para .... Os Estados Unidos têm uma política externa que, nesse ponto, é muito clara ...
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sexta-feira, 15 de março de 2019

Diplomacia brasileira: uma colecao de fios desencapados - Miriam Leitao (O Globo)

Diplomacia brasileira é uma coleção de fios desencapados

A política externa brasileira está virando uma coleção de fios desencapados.
A começar pelo ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores), que segundo a colunista Miriam Leitão, do Globo, fez o Brasil comprar uma guerra comercial com a China por questões ideológicas.
Bolsonaro
Outro nome com forte influência é Eduardo Bolsonaro, que tem agido como um chanceler paralelo.
O filho do presidente foi nomeado pelo ex-estrategista de Trump Steve Bannon como representante na América Latina do The movement, que, instalado em Bruxelas, se propõe a lutar contra a União Europeia.
Na reforma imposta ao Itamaraty, a Europa deixou de ter um departamento exclusivo, para ser misturada à África e ao Oriente Médio.
“Este governo, através de atos e palavras do presidente e do chanceler, da atuação do filho do presidente, e de um assessor internacional na Presidência sem qualificação para o cargo, tem espalhado ofensas contra diversos países. Isso em diplomacia tem consequência. A de encolher o Brasil”, diz ela, em sua coluna publicada nesta sexta-feira.

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Diplomacia de Bolsonaro encolhe o Brasil, aponta Miriam Leitão

247 – A colunista Miriam Leitão aponta o desastre econômico representado pela política externa do Brasil, que tem como pilares pessoas sem nenhuma qualificação: o chanceler Ernesto Araújo, pior diplomata do mundo segundo a Jabocin, o deputado Eduardo Bolsonaro, cabo eleitoral de Donald Trump, e o assessor Felipe Martins. "Este governo, através de atos e palavras do presidente e do chanceler, da atuação do filho do presidente, e de um assessor internacional na Presidência sem qualificação para o cargo, tem espalhado ofensas contra diversos países. Isso em diplomacia tem consequência. A de encolher o Brasil", diz ela, em sua colunapublicada nesta sexta-feira.
"Os riscos que a política externa corre neste momento são concretos. A bancada do agronegócio teme perder mercado na China, nosso maior parceiro. A ida do presidente Bolsonaro a Washington será boa por um lado, mas o perigo é o país tomar partido na guerra comercial e tecnológica com a China. O deputado Eduardo Bolsonaro representa no Brasil um movimento que se propõe a lutar contra a União Europeia, outro grande mercado brasileiro. A política externa está virando uma coleção de fios desencapados", diz a jornalista, que também entrevistou embaixadores em sua coluna.
Um deles foi Roberto Abdenur, que afirmou que a decisão de Bolsonaro de demitir 15 embaixadores para melhorar a imagem dele no exterior é uma intervenção sem precedentes. "O presidente tem o direito de nomear ou demitir funcionários, mas, de uma vez só, decapitar 15 chefes de embaixada é um gesto muito radical. E o presidente se equivoca, porque a imagem dele não é feita no exterior, é feita no Brasil."

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Globo defende demissão de Ernesto Araújo

Foto: Arthur Max/Itamaraty
247 - O jornal O Globo defendeu em seu editorial a saída do diplomata Ernesto Araújo, eleito pela revista Jacobin o pior chanceler do mundo, do Ministério das Relações Exteriores. Para o jornal da família Marinho, "o problema mesmo são as teses que o novo chanceler tem defendido". Segundo o texto, o alinhamento automático à política externa dos Estados Unidos, mais especificamente ao "trumpismo", "quando aplicado ao Brasil, país com mazelas decorrentes de uma cultura atávica de fechamento ao exterior, poderá ser trágica, atrasando ainda mais a modernização de sua economia". Mais cedo, a colunista Miriam Leitão já havia apontado os desastres resultantes da atual política externa implantada pelo chanceler. (leia no )
O editorial destaca que durante uma aula magna realizada esta semana, o chanceler "investiu contra aspectos positivos da política externa do Estado brasileiro", como o multilateralismo, o pragmatismo e a não beligerância. Ele também criticou as relações comerciais do Brasil com a China. "E foram as importações chinesas de matérias-primas que permitiram ao Brasil resgatar sua dívida externa. Uma postura inteligente, não ideológica, é manter desobstruído este canal de comércio", diz o jornal.
"Se toda esta visão isolacionista for misturada com preceitos religiosos — a "fé cristã", segundo o ministro, passa a ser um dos valores da política externa —, os espaços para a diplomacia brasileira se estreitarão. Os chamados "interesses de Estado" dependerão de ideologia e crenças", destaca o editorial.

segunda-feira, 11 de março de 2019

O Itamaraty, segundo Ernesto - Demetrio Magnoli (O Globo)

Só tomei conhecimento hoje, 11/03, em BH: 

O Itamaraty, segundo Ernesto

Demetrio Magnoli
O Globo, 9/03/2019

Durante quase 14 anos, nos governos lulopetistas, o diplomata Paulo Roberto de Almeida experimentou o que chama de “exílio involuntário”. Excluído pela chefia de qualquer atividade, instalou seu “escritório de trabalho” numa mesa da biblioteca do Itamaraty. O intervalo entre um “exílio” e outro durou menos de dois anos. Exonerado da direção do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), ele se prepara para seguir rumo à Sibéria: “Vou ter de voltar à biblioteca para poder trabalhar”. O bolsonarista Ernesto Araújo imita Celso Amorim, chanceler lulista, rebaixando o Itamaraty ao estatuto de ferramenta de uma facção.
“Personalidades autoritárias não apreciam espíritos libertários como o meu”. O diagnóstico aplica-se tanto a Araújo como a Amorim. Nos tempos do segundo, ondas de expurgos afastaram dezenas de diplomatas experientes que não aceitavam a condição de sabujos do ministro de turno. Hoje, a pretexto de promover jovens diplomatas, o primeiro cerca-se de bajuladores dispostos a aplaudir com igual fervor suas asneiras retóricas e suas insanas iniciativas de política externa. A corrupção moral não figura no Código Penal, mas suas consequências são tão danosas quanto a corrupção política.
Na democracia, uma fronteira nítida separa a conquista do governo da colonização partidária do Estado. O bolsonarismo aprendeu com o lulopetismo a ultrapassar a linha divisória, excluindo os “espíritos libertários” para não ouvir vozes dissonantes. Daí, nasce o governo de facção, isolado numa concha de certezas ideológicas, protegido da crítica por espessos cordões de puxa-sacos. A demissão de Almeida é mais um sintoma de que a eleição presidencial produziu um giro de 360 graus, colocando-nos de volta no ponto de partida.
Araújo plagia Amorim. O chanceler lulista anunciou um novo começo para nossa política externa, que se tornaria “ativa e altiva”, substituindo a orientação supostamente subserviente de seus antecessores. O chanceler bolsonarista promete “libertar a política externa” dos grilhões do “globalismo” para que ela represente o “Brasil verdadeiro”. A ideia de inaugurar a História, enterrando um passado de impurezas e escrevendo capítulos imaculados no mármore branco, é marca invariável das “personalidades autoritárias”. Mas o paralelo entre os dois chanceleres tem limites —e as circunstâncias da demissão de Almeida lançam luz sobre uma diferença fundamental.
O ato de exoneração — comunicado depois que o diplomata publicou, em seu blog pessoal, as críticas formuladas por FH e Rubens Ricupero à atuação de Araújo na crise venezuelana — derivou efetivamente das críticas de Almeida a Olavo de Carvalho. A polêmica emergiu no 23 de fevereiro, dia do “cerco humanitário” a Maduro, quando Araújo sugeriu a abertura de um corredor de invasão em Roraima, a ser utilizado por forças dos EUA. A ideia evidenciou que o chanceler despreza as leis brasileiras e nossa tradição de política externa. Ao mesmo tempo, revelou que ele comprara, pelo valor de face, o blefe vazio da Casa Branca.
O desatino de Araújo provocou uma intervenção branca no Itamaraty. Um cordão sanitário formado pelo vice, Hamilton Mourão, e pelos generais Augusto Heleno (GSI) e Villas Bôas, ex-comandante do Exército, rodeou silenciosamente o ministro de Relações Exteriores. Então, na impossibilidade de demitir os generais que o sitiaram, o “Zeus de subúrbio” (apud Almeida) direcionou seu raio contra um espírito livre situado no interior de sua casamata.
Todo o episódio distingue, sob um aspecto crucial, o chanceler bolsonarista de seu predecessor lulista. A política externa de Amorim obedecia a centros de comando claros: Lula e o PT. Já a política externa de Araújo emana de um centro de comando clandestino, constituído por Olavo de Carvalho, Eduardo Bolsonaro e Steve Bannon, o ex-assessor de Trump que tenta construir uma “Internacional dos nacionalistas”.
No fim, a sorte sorriu para Almeida: as amplas vidraças da biblioteca Azeredo da Silveira são o melhor ponto de observação do incêndio que devasta o Itamaraty.

sábado, 9 de março de 2019

Fim da era Geisel na política externa - Tales Faria

Agora temos uma política externa sem ideologia, com ideologia.

Contra militares, Bolsonaro tenta pôr fim à Era Geisel na política externa

Tales Faria
Blog, 8/03/2019

O presidente Jair Bolsonaro recebeu nesta sexta-feira (8) o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para discutir acordos e parcerias a serem assinados durante suas próximas viagens internacionais.
Neste mês de março ele irá aos EUA, ao Chile e a Israel.
No início da noite de quinta-feira, em sua primeira live no Facebook depois de assumir o cargo no Palácio do Planalto, Bolsonaro anunciou as viagens. A escolha dos países não foi feita ao acaso. Marca o interesse do presidente em uma mudança drástica na política externa brasileira.
A live foi postada para explicar a polêmica declaração, poucas horas antes, segundo a qual democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas assim o querem.
No mesmo trecho em que tratou da, digamos, questão democrática, Bolsonaro falou de sua visão para a política externa:
"A (…) missão será cumprida ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil, daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia e a liberdade".
Curiosamente, essa ideologização da política externa pretendida pelo capitão da reserva Jair Bolsonaro, se ocorrer, será uma pá de cal na grande virada no Itamaraty promovida pelo regime militar. Mais especificamente, entre 1974 e 1979, pelo ex-presidente Ernesto Geisel e seu chanceler, Azeredo da Silveira, nome até hoje cultuado entre os diplomatas.
Geisel e Azeredo estabeleceram uma política externa pragmática com atos de grande alcance, como o acordo nuclear com a Alemanha, rompendo uma parceria comercial com a norte-americana Westhinghouse.
Em contraposição à menor interação com os Estados Unidos, o Brasil estreitou laços com a Europa, especialmente Inglaterra e França, com a Ásia e com os países árabes. Votou pela concessão à OLP (Organização para Libertação da Palestina) do status de observador na ONU (Organização da Nações Unidas). Rompeu com Taiwan para estabelecer relações diplomáticas com a socialista República Popular da China. Reconheceu ainda o então governo marxista de Angola, que tinha fortes ligações militares com cubanos e russos.
Tudo voltado por interesses comerciais. O acordo nuclear com a Alemanha veio após os EUA imporem restrições de transferência tecnológica ao Brasil. A questão das transferências de tecnologia impulsionou a aproximação com todos os países europeus. E também porque para lá é que estava indo boa parte do capital do mundo árabe. Os investimentos europeus no Brasil quadruplicaram no período.
A aproximação com os árabes foi quase obrigatória diante da crise mundial do petróleo. Resultou também num grande incremento, até hoje, das exportações de manufaturados do Brasil para a região e para a África. A China se tornou nosso segundo maior parceiro comercial.
Enfim, o Brasil de Geisel e Azeredo da Silveira se abriu para o mundo com uma política externa marcada por forte pragmatismo econômico e desideologização.
Praticamente veio até os dias de hoje, com apoio da alta cúpula militar do país.
Bolsonaro propõe uma mudança radical de rumo que terá impacto não só na sua relação com os militares (vide desentendimentos em relação à Venezuela) como na área econômica. Não se sabe ainda como reagirão, por exemplo, os países árabes sobre a escolha preferencial por Israel. Nem o que fará a China, com investimentos gigantescos planejados para o Brasil.
Os generais e o ministro da Economia, Paulo Guedes, estão apreensivos.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Cadê a política externa? - Paulo Roberto de Almeida (revista Veja)

Cadê a política externa?

Em combate genérico ao ‘globalismo’ e ao ‘marxismo cultural’, o Itamaraty da era Ernesto Araújo não disse qual será a estratégia internacional para o Brasil



O ALIADO - Donald Trump: aliança com o presidente americano não pode ser sinônimo de diplomacia brasileira (Joshua Roberts/Reuters)
             Nas horas e dias seguintes à minha exoneração, por ordem do chanceler Ernesto Araújo, do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), as pessoas quiseram saber, além dos motivos da demissão, minha opinião sobre a atual política externa do Itamaraty. Tive de perguntar a elas: “Vocês conhecem alguma? Digam-me qual é, para eu poder avaliá-la”.
Sinceramente não tenho uma resposta, pois nunca nos foi oferecida uma apresentação abrangente, sistemática e completa de qual seria a estratégia internacional do Brasil, quais suas prioridades regionais e multilaterais, como pretendemos organizar a abertura econômica e a liberalização comercial, o que fazer com o Mercosul, como resolver os desafios da inserção global do país nos grandes circuitos da economia mundial, as relações com os vizinhos e todo o resto. Recapitulando o discurso de inauguração do presidente temos poucas diretivas, entre elas uma política externa sem ideologia e um comércio exterior idem. O discurso de posse do chanceler, por sua vez, foi do grego ao latim - e até ao tupi-guarani - para dizer que tínhamos sido muito subservientes com o marxismo cultural e que cabia “libertar o Itamaraty” da influência nefasta dos petistas (já o avisaram que os companheiros se foram em 2016?). 
Desde então, aguardamos uma manifestação mais concreta sobre como será essa política externa, desconhecida de meus colegas diplomatas e dos brasileiros. O que tivemos, até aqui, foram eflúvios bizarros contra o “globalismo”, sustentados em teorias conspiratórias de um famoso guru ideológico, o sofista da Virgínia, um grande eleitor do atual governo. Todo o resto foram recuos e tergiversações.
Base militar americana no Brasil? De forma nenhuma, alertaram os militares! Mudança da embaixada em Israel para Jerusalém? Alto lá, gritaram os agricultores e exportadores de carne halal para países islâmicos! Denúncia do Acordo de Paris? Mas os ecologistas e os próprios empresários já disseram que ele é positivo para o Brasil, e não implica em renúncia de soberania. E onde está a China “maoísta” que representaria, supostamente, uma ameaça? Essa China já não existe há mais de 40 anos: os chineses só querem importar matérias-primas, exportar manufaturados, garantir sua segurança alimentar e energética, coisas que o Brasil pode fazer muito bem (com mais investimentos...chineses). Alinhar-se a Trump para “salvar o Ocidente”? Qual é o maluco que acredita numa coisa dessas?
  O tema que está na ordem do dia, a terrível crise na Venezuela, recebeu num primeiro momento tratamento pouco diplomático: primeiro a recusa de qualquer diálogo com o governo ditatorial; depois a “instrução” dada a nossos diplomatas em Caracas de que deveriam reportar-se unicamente a Guaidó, não a Maduro, quando ele não tem qualquer controle sobre os mais modestos mecanismos administrativos do país; em seguida, a ruptura de relações militares com os bolivarianos, o que irritou nossa tropa e levantou os alarmes no núcleo mais racional do governo.
   As inconsistências nessa área foram tantas que logo instalou-se um “cordão sanitário” em torno do chanceler para impedi-lo de fazer aquilo que está expressamente proibido pela Constituição: imiscuir-se nos assuntos internos de outros países. Foi preciso que o vice-presidente Hamilton Mourão se tornasse o chefe da delegação brasileira na reunião do Grupo de Lima, em Bogotá, para impedir mais um gesto de insanidade do chanceler: apoiar uma aventura militar contra o nefando regime chavista-madurista. A Venezuela é um grande teste para o governo, mas parece que os militares assumiram o papel dos diplomatas e estão cuidando do assunto.
  Volto a perguntar: onde está a política externa do Brasil? Nos destemperos olavistas contra o globalismo? Na luta contra o marxismo cultural? Numa aliança com todos os regimes direitistas e xenófobos da Europa e com Trump? Na denúncia do Pacto Global das Migrações, quando o Brasil possui pelo menos dez vezes mais emigrantes do que imigrantes e esse acordo não afeta em nada nossa soberania? Um desses tresloucados chegou até a dizer nos EUA que os brasileiros apoiam a construção do muro que Trump pretende erigir na fronteira com o México!
  O que pretende, exatamente, o chanceler? Ele começou subvertendo a hierarquia do Itamaraty, colocando “coronéis” dando ordens a “generais” – ou seja, ministros de segunda classe comandando embaixadores mais experientes. Depois impôs uma reforma autoritária, feita no bunker do governo de transição, inclusive por amadores externos, e alterou significativamente estruturas mais racionais, ainda que muito extensas da administração anterior. Os EUA constituem um departamento exclusivo, mas a Europa encontra-se relegada à vala comum da África e do Oriente Médio, já que ela seria um “vazio cultural”, segundo um artigo surrealista publicado nos Cadernos de Política Exterior do IPRI, que eu dirigia até ser defenestrado. E como fica a recomendação de ler menos o New York Times? 
  O Brasil é hoje o país mais introvertido do G20, o grupo de nações economicamente mais importantes do mundo. Todas exibem coeficiente de abertura externa e participação em cadeias de valor bem superiores aos nossos. Está mais do que na hora de substituir uma mal definida “diplomacia do desenvolvimento com preservação da autonomia nacional” por uma vigorosa política de “integração à economia mundial”, assim como eliminar o determinismo geográfico de um fantasmagórico “Sul Global” e voltar ao universalismo tradicional da política externa e da diplomacia brasileira. Sobre minha exoneração, permito-me registrar que o ministro está me negando a mesma liberdade de opinião que ele teve para alimentar seu blog com vituperações antipetistas – quando nada tinha feito nos treze anos do PT no poder. Agora, o chanceler quer cercear-me o direito de alimentar um blog com materiais, aliás, veiculados nos próprios clippings  de notícias da Casa. Estou fora do IPRI, mas continuo sendo um funcionário do Estado e deixo um recado aos que pretendem me calar: a despeito das punições que recebi no Itamaraty por publicar artigos adequados a meu papel de diplomata, me atribuí, assim como James Bond com sua permissão especial para matar, uma permissão especial para dissentir. 

* Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, autor de Nunca Antes na Diplomacia (2014) e Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (2019).

(PRA: versão editada pela revista Veja; a versão original é um pouco maior).