Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
Os clerigos islamicos vao interpretar e reformar os textos sagrados? Discurso do presidente do Egito
Ouvindo os populares: Forum dos Leitores do Estadao
Reproduzo aqui o fórum do dia 9/01/2015, mas que recolhe cartas e mensagens enviadas nos últimos dias.
Bom proveito. A única edição que fiz foi apagar os emails, e acho que o jornal não devia publicá-los.
Paulo Roberto de Almeida
'Charlie Hebdo'
Hoje são os cartunistas, amanhã serão os escritores, os professores, os pensadores, depois os indiferentes e por fim vamos todos nos ajoelhar cinco vezes por dia em direção a Meca.
HARRY RENTEL
Vinhedo
Verdadeira razão
Se ainda restasse alguma dúvida quanto à bestialidade de alguns seres ditos humanos que usam argumentos religiosos inaceitáveis como justificativa para assassinatos frios e cruéis, as imagens da execução do policial ferido por um dos terroristas mostra a real vocação desses sádicos anormais: matar por matar.
LUIZ NUSBAUM
São Paulo
Obscurantismo
O atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo perpetrado na terça-feira e que custou a vida de 12 pessoas é apenas mais uma forma de agressão à liberdade de imprensa e de expressão das que têm ocorrido em diferentes lugares do planeta, embora a mais cruel. Neste caso, uma ação aparentemente autônoma e de fora do Estado contra a sociedade. Outras formas, como na Venezuela, se dão sob a modalidade de um recorrente atentado perpetrado pelo chefe de Estado ao mesmo princípio tão caro a todos nós que prezamos o regime democrático, a partir de uma ideologia diferente da que atingiu a França. Apesar de origens, ideologias e credos distintos, todas procuram alcançar o mesmo objetivo: pôr fim à liberdade de pensamento, de expressão e de imprensa, substituindo-a pela intolerância e pela uniformização. Que as democracias e os democratas de todo o mundo estejam vigilantes e não recuem ante os covardes e o obscurantismo.
RUI TAVARES MALUF
São Paulo
'Je suis Charlie'
Esse episódio grotesco na França contra jornalistas deixa um alerta para nós, no Brasil. Líderes políticos do PT, liderado por Lula, seu principal representante, vira e mexe atacam a imprensa, intimando e jogando os leigos partidários fanáticos em práticas violentas contra jornalistas e empresas do setor. Exemplo mais recente: a revista Veja denunciou, na capa, práticas de corrupção dos líderes desse partido e, logo após, partidários do PT atacaram a sede da empresa. Portanto, é preciso fazer algo para que isso acabe de vez. Qualquer partido ou indivíduo tem de sofrer punições severas quando coisas assim acontecem.
TIAGO HOMEM DE MELO E SILVA
Campinas
Variante do terrorismo
A liberdade de expressão está em crise. Estamos involuindo nas relações entre os povos e suas culturas. Discordância, desarmonia, falta de compreensão e desejo de impor suas convicções ao outro estão gerando fatos inaceitáveis, que chegaram ao ápice com o atentado terrorista ao Charlie Hebdo, em Paris, e a morte de 12 pessoas. E nem assim o novo ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, desiste da tal regulação da mídia. Essa atitude é uma variante da ação terrorista que se consumou na França e agrediu toda a imprensa livre do planeta. A presidente Dilma Rousseff não se vai pronunciar a esse respeito? Vai ficar em silêncio? A oposição deve acabar de vez com tais pretensões do governo antes que a coisa evolua para um confronto nas ruas, como em 2013 por causa do aumento das passagens de ônibus.
MÁRIO NEGRÃO BORGONOVI
Rio de Janeiro
Alienados
Crescem os indícios de que o atentado em Paris tem ligações com os terroristas do Estado Islâmico - a rádio da organização chamou os monstros que atacaram a sede do Charlie Hebdo de "heróis". E pensar que foi com gente que decepa a cabeça de inocentes e promove barbáries como a de anteontem que Dilma Rousseff pregou o diálogo, tão pouco tempo atrás. O grau de alienação das nossas autoridades, em especial da presidente da República, quanto ao que acontece no restante do mundo é simplesmente vergonhoso.
HENRIQUE BRIGATTE
Pindamonhangaba
Diálogo
Tenho a curiosidade de saber se Dilma vai propor diálogo também com os responsáveis pelo massacre no jornal francês, assim como sugeriu fazer com os terroristas do Estado Islâmico.
FREDERICO D'AVILA
São Paulo
DESEMPREGO
Prazo curto de validade
Durou pouco o "pleno emprego" do discurso ufanista de posse da presidente Dilma. Esta semana as montadores já iniciaram processo de demissão significativo de funcionários. Haja Pronatec para tanto desempregado, mesmos porque a vaca tossiu e os benefícios do seguro-desemprego diminuíram.
CLAUDIO JUCHEM
São Paulo
Pagantes e recebentes
Na Volkswagen Anchieta, 800 demissões; no salário de deputados & Cia., 15% de aumento. Alguém saberia dizer quantos desses 800 demitidos poderiam continuar recebendo seus salários com o dinheiro pago a mais a parlamentares e seus gabinetes? Enquanto sindicatos e industriais se digladiam, os nobres parlamentares se fartam!
PEDRO M. PICCOLI
Curitiba
Velha história
A situação de desemprego que começamos a enfrentar, iniciada na Volkswagen no ABC, já foi vista anteriormente, quando o Lula, então presidente de sindicato, exigiu tantos absurdos para os trabalhadores (em termos de salários e benefícios) que as empresas promoveram demissões em massa. Na época prefeita da capital paulista pelo PT, Luiza Erundina liberou espaço na cidade e grande parte dos demitidos do ABC veio para cá. Então eles montaram barracas de camelô, que se alastraram pela cidade e, sem documentação fiscal (irregulares), hoje fazem concorrência desonesta ao comércio legalmente estabelecido. Por coincidência, atualmente a nossa cidade é governada pelo PT, o que deve facilitar essa "solução" mais uma vez. Esperem e verão!
LAERT PINTO BARBOSA
São Paulo
Demissões nas montadoras
Dica para os eleitores do PT: apertem o cinto, o emprego sumiu. Para os demitidos que votaram em Dilma: vão chorar na Cantareira. Assinado, Coxinha.
MARIA CARMEN DEL BEL TUNES
Americana
Terrorismo islamico: o que estadistas responsaveis devem fazer - Francisco Seixas da Costa
Coisas Internacionais |
Notas parisienses por Francisco Seixas da Costa Mario Machado: 08 Jan 2015 09:16 AM PST Francisco Seixas da Costa nos brinda com uma análise sóbria sobre o ataque terrorista, de ontem, em Paris. Vários elementos que ele aborda estão presentes em minhas próprias análises aqui publicadas. Abaixo o texto, copiado com autorização do autor, cujo original pode ser lido aqui. Notas parisienses Por Francisco Seixas da Costa 1. Nunca fui um leitor regular do "Charlie Hebdo", mas reconheço a genialidade do seu traço e, embora nem sempre concordando com a crueldade crítica que utilizava, quero afirmar que felizes são os países onde pode publicar-se um jornal deste tipo. Em Portugal, um "Charlie Hebdo" não seria aniquilado pelas balas do terrorismo, mas por uma imensidão de processos judiciais e perseguições de outra ordem. Ter um "Charlie Hebdo", como ter um "Canard Enchainé" ou um "Private Eye" no Reino Unido, glorifica um país em matéria de liberdade de imprensa. Ver desaparecer Wolinski (cuja "especialidade" nem sequer eram, a meu ver, os cartoons políticos) é assistir à saída de cena de alguém que faz parte da memória da minha geração. Hoje é um dia triste. 2. Como o meu colega e sucessor em Paris, José Filipe Moraes Cabral, há horas sublinhou nas televisões, o corajoso papel assumido pela França (e praticamente por mais ninguém) na luta anti-terrorista no Sahel, bem como a sua aberta cooperação no combate ao "Estado Islâmico", expõe mais o país a retaliações desta natureza. É o preço da responsabilidade demonstrada por um grande Estado. Qualquer que seja a avaliação que se faça da política interna de Hollande, há que elogiar o seu forte empenhamento em matéria de segurança, demonstrado à escala global, não obstante as fortes condicionantes orçamentais que o país atualmente sofre. 3. A França é um país que tem anterior experiência de atentados terroristas com origem no islamismo radical, embora nenhum deles com esta expressão quantitativa em matéria de vítimas. Porém, no passado, a esmagadora maioria dos atentados que ocorreram em França foi cometida por cidadãos estrangeiros. Ao que tudo indica, o atentado de ontem terá sido levado a cabo por franceses, nascidos no seu solo, filhos de imigrantes. Tal como o Reino Unido experimentou em 2005, a sociedade francesa gerou já, dentro de si, os germes da violência radical islâmica, aliás percetível no elevado número de "jihadistas" gauleses (soa mal, não soa?) que estão já nas fileiras do "Estado Islâmico". Combater decididamente essa deriva é um imperativo, desconstruir as razões desta apetência para o radicalismo limite é uma necessidade. 4. O Islão é uma religião que sofre hoje uma forte diabolização (é irónico chamar o diabo a esta questão), um pouco por todo o lado, embora as pessoas tendam a esquecer que os cidadãos muçulmanos são, nos dias que correm, as principais vítimas das suas expressões mais sectárias. Da Indonésia ao Paquistão, do Quénia à Síria ou ao Iraque, muitos milhares de muçulmanos perderam ou perdem, dia após dia, a vida em atentados bem mais mortíferos que o que ontem abalou a França. Por essa razão, continua a ser estranho que as comunidades islâmicas moderadas não ergam mais a sua voz contra este tipo de facínoras que agem invocando os princípios corânicos. O que vemos é uma distanciação mole, um "não, mas", de quem parece intimidado e temeroso, embora longe de ser deliberado cúmplice. As figuras responsáveis entre esses muçulmanos, que são uma esmagadora maioria, talvez não se estejam a dar conta que, com a sua tibieza, se arriscam, um destes dias, a ficar na linha da frente de uma guerra religiosa que os não poupará. Curiosamente, na Europa, as comunidades muçulmanas reagem face ao radicais no seu seio como as monarquias do Golfo fizeram quanto ao Al Qeda. Ora a pusilanimidade só leva à tragédia, como a história prova. 5. Contrariamente aos apelos exteriores que se ouviram, a sensação que tenho é de que a moldura legislativa francesa, para o combate à violência sectária e ao radicalismo que chega ao terrorismo, é já suficientemente sólida. Além disso, a França dispõe de uma rede de "intelligence" muito eficaz, que sempre poderá ser melhorada, mas que, tal como em qualquer outro país, não pode garantir nunca, em absoluto, uma prevenção total contra atos terroristas. O terrorismo dispõe da iniciativa e da capacidade de gerar surpresa. Pode-se limitar estatisticamente o desenvolvimento das suas redes, mas é impossível prevenir, em absoluto, que um atentado ocorra. 6. O ato terrorista de ontem vai deixar marcas na política francesa. Mais do que para Hollande, é para o primeiro-ministro Manuel Valls que os olhares da França se voltarão nos próximos dias. Valls, que foi presidente de um município onde a convivência multicultural era uma das grandes questões (tendo, aliás, sido sucedido no cargo por um luso-descendente), mostrou, como ministro do Interior, um perfil securitário contrastante com o discurso mais contemporizador que o PSF costumava assumir nestes temas. A França vai-lhe exigir, não palavras, mas resultados concretos no esclarecimento rápido deste caso. De toda a forma, será sempre a direita política, da mais democrática à mais radical, quem irá ganhar com este episódio. Há uma grande inquietação em toda a França, uma preocupação evidente pela crescente afirmação comunitarista do islamismo, que induz tensões surdas na sociedade e, com alguma naturalidade, cria reflexos anti-imigração. Daqui a um discurso racista e xenófobo é um curto passo que muitos franceses já deram. Se, em termos de eleições legislativas ou presidenciais futuras, isso vier a ter uma expressão flagrante e maioritária, ficará mais evidente que o problema deixou já de ser só francês. |
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Carta aberta ao mundo muculmano - Abdennour Biddar
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Charlie Hebdo: un journal iconoclaste, et fier de l'etre...
Um jornal iconoclasta, e orgulhoso de sê-lo...
De fato, não existe nenhuma vantagem, nem coragem, em ser conformista.
O importante é nadar contra a corrente, ser antagonista, ou contrarianista, em qualquer regime, e em qualquer circunstância.
Minha pequena homenagem a esse jornal excepcional, que já conhecia de sua fase Hara Kiri, exatamente igual, tão irreverente quanto, e que depois ficou ainda pior, quero dizer, melhor, para desespero de todos os poderes constituídos, de todas as igrejas consolidadas, de todas as religiões estabelecidas, e dos carolas e fundamentalistas de todas as cores...
Un journal comme il faut, ou seja, feito para incomodar, ou, como dizia Millor, "jornalismo é oposição, o resto é armazem de secos e molhados...".
Paulo Roberto de Almeida
Allons enfants! - Charlie Hebdo vai publicar o numero mais importante de sua historia...
Se eu pudesse compraria o meu exemplar, mas vou pedir a algum colega de Paris, para comprar um para mim. Um número histórico, ainda que na tragédia e no sofrimento de tantos colaboradores e dos jornalistas e de suas famílias.
Mas essa é a resposta apropriada aos bárbaros: mostrar que a liberdade, ainda quando reprimida, é a maior força civilizatória, e que ela termina vencendo qualquer ditadura, qualquer repressão.
Todos os franceses, com a possível exceção de um punhado de fundamentalistas de várias tendências religiosas e políticas, irão comprar o seu exemplor de Charlie Hebdo.
Allons, enfants, de certa forma, será un jour de gloire qui est arrivé, ainda que na dor...
Marchons, marchons...
Paulo Roberto de Almeida
Colunista do jornal Charlie Hebdo diz que publicação irá sair na próxima semana
Por Redação, com ABr - de Paris
O colunista do jornal Charlie Hebdo, Patrick Pelloux, afirmou nesta quinta-feira que o jornal será publicado na próxima semana, mesmo após o ataque terrorista desta quarta que matou oito dos seus jornalistas e cartunistas.
– Vamos continuar, decidimos sair na próxima semana. Estamos todos de acordo – disse Pelloux, adiantando que a equipe do jornal deve se reunir em breve.
Pelloux, que também é médico de emergência, disse que os escritórios do jornal satírico não estão acessíveis por causa da investigação policial. Ele assegurou que a equipe trabalhará em casa. “Vamos nos arranjar”, acrescentou.
– É muito duro, estamos todos com a nossa dor, os nossos medos, mas vamos fazê-lo porque não é a estupidez que vai ganhar. Charb [diretor da publicação, morto no atentado] dizia sempre que o jornal deveria sair custasse o que custasse – disse o colunista.
Doze pessoas, entre as quais cinco dos principais caricaturistas do semanário (Charb, Wolinski, Cabu, Tignous e Honoré) e o economista Bernard Maris, foram mortas no ataque aos escritórios do jornal, no centro de Paris.
O atentado, o mais violento dos últimos 50 anos na França, provocou uma onda de comoção e solidariedade, principalmente entre os veículos de comunicação que já propuseram ajudar oCharlie Hebdo.
Em 2011, quando os escritórios do jornal foram incendiados, presumivelmente em represália pela publicação de caricaturas do profeta Maomé, o diário Libération acolheu a redação do Charlie Hebdo. Afetado pelo ataque, o Charlie Hebdo já estava ameaçado de falência. Deficitário, vende em média cerca de 30 mil exemplares e lançou recentemente um apelo por doações para que não encerrasse os trabalhos.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
O Hobbes companheiro prepara uma nova obra seminal - Samuel Pinheiro Guimaraes
Por enquanto só ficamos sabendo que Estado, Economia, Direito e Sociedade Civil só existem em função um dos outros, e vice versa e em todos os sentidos, o que não deixa de ser uma revelação importante para todos aqueles que estudam direito, sociologia, economia ou política. Caso alguém corra o risco de misturar todas essas coisas, não tem problema: o novo Hobbes avisa que está tudo misturado mesmo, mas o que garante a coerência de tudo é -- como não poderia deixar de ser -- o Estado. Imaginem como estaríamos sem Estado, minha gente: nem a sociedade civil existiria!
Existe uma certa "fragância", se ouso dizer, de um texto clássico, que poderia ser uma mistura de Ideologia Alemã (1845) com a Introdução à Crítica da Economia Política (1859), o que aparece de forma mais nítida até nesta linguagem meio antiquada dos "modos de produção", que a gente acreditava que não era mais usada pelos marxistas mais modernos:
"...agências do Estado, garantem a observação das relações entre trabalho e capital (lato sensu), qualquer que seja o sistema econômico de uma determinada sociedade: agrária primitiva, antiga, feudal, capitalista, socialista ou comunista."
[Acho que ele esqueceu o "modo asiático de produção", mas podemos deixar esse detalhe de lado.]
É isso aí minha gente: esperem, nos próximos números desse vibrante órgão do poder companheiro -- devidamente financiado por ele -- os capítulos sucessivos desta fabulosa novela hobbesiana-gramsciana, que vai nos revelar os segredos da ideologia companheira, na conquista e na manutenção do poder idem...
Paulo Roberto de Almeida
Do Estado, do Direito e da Política: reflexões
Os conceitos de Estado, de Direito e de Política se encontram tão profundamente interligados que não se pode com proveito analisá-los de forma separada.
Os conceitos de Estado, de Direito e de Política muitas vezes, em teoria, são apresentados e discutidos de forma distinta. Em realidade, se encontram tão profundamente interligados que não se pode com proveito analisá-los de forma separada.
Não há Direito sem Estado, pois a aceitação e a observância das normas jurídicas e sua eventual sanção em caso de descumprimento dependem da existência e da força do Estado que se expressam através de suas agências, entre elas e muito em especial sua polícia. A afirmação de que não há Direito sem Estado não significa negar a existência de direitos humanos inalienáveis. Todavia, somente a luta política pela consagração desses direitos e pelo seu reconhecimento pela legislação e pelo Estado é que permite impor sua observância.
Não há Direito sem Política, pois as normas jurídicas não são elaboradas, executadas e interpretadas em gabinetes acadêmicos a partir de conceitos e de estruturas lógicas cartesianas, mas, sim, em processos conflituosos de disputa de interesses no seio da sociedade e dos organismos do Estado, ainda que cada grupo de interesses conte nestes processos com o auxílio precioso de seus juristas para melhor articular a defesa de seus pontos de vista.
Não há Estado sem Política, pois os dirigentes das distintas agências do Estado, isto é das múltiplas agencias que compõem os seus três Poderes - Legislativo, Executivo e Judiciário - são escolhidos através de processos políticos, mesmo quando esses processos são disfarçados como procedimentos de aparência tecnocrática, de reduzida transparência e nenhuma participação popular, como ocorre em regimes ditatoriais.
Há uma tendência em certas áreas de estudos acadêmicos e de certos autores a se estabelecer uma distinção e uma separação entre Sociedade Civil e Estado, entre Economia e Estado. A Sociedade Civil é apresentada com uma aura e uma natureza inerentemente boa, um lugar ideal onde os cidadãos, iguais e livres, conviveriam em harmonia se não fora pela existência do Estado, ente maléfico e autoritário que perturba e impede o desabrochar da sociedade civil. A Economia é representada como um espaço livre, dinâmico e criativo, onde empresários, capitalistas e investidores são responsáveis pelo progresso e pela prosperidade de todos enquanto que o Estado aparece como uma entidade intervencionista, ineficiente, corrupta e corruptora.
Todavia, não existe Sociedade Civil sem Estado, mesmo quando este aparece como instrumento de um regime ditatorial ou autoritário, pois sem o Estado e sem normas jurídicas, a sociedade seria tão somente um emaranhado confuso de lutas violentas de interesses. A não ser nos territórios coloniais, onde as instituições do Estado colonial aparecem como criaturas da potência estrangeira, alheia e opressora da sociedade local, se pode falar de separação entre Sociedade Civil e Estado.
Por outro lado, não há Economia sem Estado, pois são as normas jurídicas que regulam as atividades econômicas e que, através das agências do Estado, garantem a observação das relações entre trabalho e capital (lato sensu), qualquer que seja o sistema econômico de uma determinada sociedade: agrária primitiva, antiga, feudal, capitalista, socialista ou comunista.
Hoje há uma tendência a considerar que a expressão mais moderna da Sociedade Civil seriam as organizações não governamentais, que representariam melhor os interesses do povo, principalmente em Estados em que as classes hegemônicas são conservadoras e opressoras. Todavia, em muitas circunstâncias, as organizações não governamentais que atuam em um país, em especial quando é ele subdesenvolvido, representam em realidade interesses particulares e estrangeiros e estão longe de representar a sociedade civil. De toda forma, não têm essas organizações representatividade e legitimidade já que seus integrantes se auto-escolheram, e assim é de estranhar e de preocupar a tendência atual de incorporar representantes de ONGs em organismos do Estado.
Ao tratar dos temas do Estado, do Direito, da Política, da Sociedade e da Economia há sempre uma certa repetição de ideias e de argumentos, devido à sua estreita interelação, pelo que me penitencio