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domingo, 11 de setembro de 2016

11 de Setembro: um dia que ficou na Historia: reportagens do dia 12/09/2001 (FSP)

FOLHA DE S.PAULO
12 de setembro de 2001

HORROR EM NOVA YORK
Corpos e destroços compõem o cenário

Além de ar sufocante, calor e fogo, há um desagradável cheiro doce de queimado, que embrulha o estômago

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A ponte que ligava as duas torres do World Trade Center está a 10 metros, caída no chão sobre dois carros da polícia e quatro caminhões dos bombeiros. Cedeu quando a primeira torre veio ao chão. Dois enfermeiros carregam uma maca com o corpo de um bombeiro. Ele está decapitado.
Protegido por uma máscara que consegui com um dos bombeiros, pude ultrapassar três bloqueios policiais e estou a poucos passos dos fundos do que sobrou das estruturas das duas torres. O ar está tomado por uma mistura de pó branco com fumaça preta. É meio-dia, o sol brilha alto, mas ao lado do World Trade Center está escuro como noite.
Além do ar sufocante e do calor que emana das duas construções em fogo, há um desagradável cheiro doce de queimado, que embrulha o estômago.
O barulho dos alarmes de incêndio dos prédios vizinhos, todos disparados, se junta aos alarmes dos carros que não foram completamente queimados e às sirenes das ambulâncias e das viaturas que conseguiram escapar do segundo desabamento.

Desordem
Não há uma ordem aparente. Policiais chegam, sozinhos ou em duplas, e gritam ordens, que são modificadas pelo chefe dos bombeiros, que se sobrepõe aos agentes do FBI. No meio da confusão, enfermeiros, paramédicos e voluntários não sabem o que fazer.
Eles são os que sobraram, a terceira leva do resgate. A primeira foi quase toda soterrada pelo primeiro desabamento. Parte da segunda, que foi enviada para tentar resgatar a primeira, está sob os escombros do segundo desabamento. A terceira é de bombeiros que estavam de folga, enfermeiros aposentados, policiais de outros bairros da cidade, agentes mais acostumados ao trabalho atrás das mesas, estudantes de medicina e de enfermagem.
De vez em quando, todos se entreolham assustados: um dos canos de gás que ainda resiste na estrutura dos prédios explode, fazendo um barulho desagradavelmente parecido com o das bombas de minutos atrás. Cães farejadores começam a latir e a vasculhar pedras, atrás de corpos.

Primeiro desabamento

O escritório da Folha em Nova York fica a cerca de 15 quadras do local da explosão, ambos no sul da ilha de Manhattan, em Nova York. Desde que ouvi as primeiras sirenes e barulhos de helicópteros, fui para as ruas tentar chegar ao World Trade Center.
Em questão de minutos, o serviço do metrô foi interrompido. Logo as ruas foram invadidas por pessoas, que tomaram os táxis e os ônibus, já parados pelo tráfego. A solução foi caminhar. Descendo a Terceira Avenida, o primeiro susto: uma das duas torres que até então estavam lá, à vista, desaba numa nuvem de poeira.
Nenhum barulho, nenhuma alteração. As lojas ainda estão funcionando, a bilheteria do cinema ainda vende ingressos. Até que as primeiras notícias começam a chegar pelo boca-a-boca. Realmente, a torre desabou. Começam a se formar filas nos poucos telefones públicos que ainda funcionam. Os primeiros gritos.
Todos tentam em vão falar nos celulares, que estão fora do ar. Um casal atravessa a rua correndo e chorando. Dois amigos se abraçam com lágrimas nos olhos. Uma senhora leva as mãos à cabeça e pergunta: "Por quê? Por quê?" Grupinhos assustados vão se formando nas esquinas.
Já na altura da Quinta Avenida, com uma visão mais completa da torre que sobrou, tomo o segundo susto. É como uma batida de carro. Um ruído surdo e seco, alguns berros. Um silêncio. E então a correria nas ruas, o desespero, o pânico. A segunda torre acaba de desabar, ali, aos olhos de todos, em nova nuvem de poeira.
Consigo chegar à parte de trás do que ontem de manhã era o prédio mais alto da cidade. O cenário é de guerra. Todos os edifícios num raio de três quarteirões sofreram pelo menos algum abalo. Alguns ainda correm risco de desabamento.
A poucos passos de uma das entradas da segunda torre do prédio, um telefone público teve o gancho arrancado. Sobre o aparelho, um saquinho com um resto de maconha. No chão, perto de um dos carros queimados, um chapéu de policial pisado faz companhia para duas botas destruídas numa poça de sangue.
Perto das 13h, com o fogo aparentemente controlado e sem perspectivas de novos desabamentos, uma nova leva de salvamento, a quarta do dia, começa a chegar. São dezenas de homens, que andam juntos arrancando mais poeira do chão, numa imagem que remete ao Velho Oeste.
Batalhões de voluntários, bombeiros, médicos e policiais passam a se aproximar em blocos do prédio para verificar se há sobreviventes. Mas não há. Em minutos, macas começam a ser tiradas. São corpos esmagados, na maioria policiais e bombeiros, cobertos de pó branco e sangue.
Nesse momento, sou expulso do lugar.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200143.htm

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GUERRA NA AMÉRICA
Na torre, "o chão parecia uma geléia", conta paulista
Multidão se espreme em escadas cheias de fumaça; saídas estavam bloqueadas
Elevadores caíram; ordem era correr, com mãos ao alto, sem olhar para trás

SÍLVIA CORRÊA
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"O prédio tremeu. O chão parecia uma geléia. Levantou um metro para lá, um para cá. As pessoas caíam. As coisas caíam. Foram uns dez segundos eternos."
Foi essa a sensação do paulista Guilherme Castro, 27, operador de uma corretora do mercado financeiro que trabalhava no 25º andar da torre 1 do World Trade Center ontem de manhã. O tremor que ele narra foi consequência do impacto causado pela batida do primeiro avião.
O andar era aberto, sem divisórias. Havia mais de 1.500 pessoas nele. De repente, a explosão.
"Foi muito forte. As pessoas se agarravam às coisas e se olhavam, desesperadas. Eu tinha certeza de que era uma bomba, mas não sabia se vinha de cima ou de baixo. O prédio balançou, inacreditavelmente. Vum... Vum... Tive certeza de que ia morrer", relatou ele.
O desespero aumentou quando o tremor passou. As janelas do prédio não abriam. "Tentei quebrar uma delas. Queria olhar para fora e ver o que estava havendo. Outras pessoas tiveram a mesma reação, mas não conseguíamos romper os vidros", continuou Raul Paulo Costa, 33, também operador da Garban Intercapital, que estava no mesmo 25º andar.
"Sem abrir o vidro, olhei pela janela e vi coisas caindo. Pareciam pedaços do prédio, pessoas, sei lá. Saí correndo, procurando a escada. Deixei tudo para trás", completou Castro. Na mesa ficaram documentos da empresa e de clientes, chave de casa, telefone.
Na fuga, outro capítulo do pânico. Segundo Costa, havia algumas saídas fechadas, o que causou tumulto nos andares. Mas as pessoas acharam outras rotas e, em segundos, as escadas lotaram.
"As pessoas pediam calma. Choravam. Havia muita fumaça e era difícil respirar", narrou Castro, que envolveu a cabeça na camisa como a maioria dos que tentavam escapar pelas escadas.
Para ele, foram 20 minutos até o térreo. Para o colega Costa, foi uma hora. "Foram os minutos mais longos da minha vida. Depois de um certo tempo, não acreditava mais que fosse sair vivo daquele horror", descreveu Costa.
No térreo, os brasileiros viram, em pedaços, as mais claras imagens da tragédia. "Estava tudo destruído. Os elevadores despencaram. Estavam com as portas em pedaços, amassados. No chão, tinha água, fios, vidro. Partes do teto estavam caídas e havia muita, muita poeira", contou Castro, nervoso, seis horas depois.
As pessoas foram orientadas a deixar o prédio pelo hotel Marriot, que ficava no térreo do WTC. Já havia feridos no saguão. Os policiais gritavam. "Todo mundo correndo. Mãos nas cabeças e sem olhar para trás", narraram os brasileiros, reproduzindo as ordens.
Castro e uma multidão deixaram o WTC em direção a Battery Park. "De repente, um míssil. Eu tinha certeza de que era um míssil e que ia cair na minha cabeça. Aí, outra explosão." Era o segundo avião. Atingia a segunda torre. Em minutos, ela desabaria.
Costa, o outro brasileiro, ainda estava preso em uma das escadarias de incêndio. "No 13º andar, as portas também estavam travadas. As pessoas começaram a subir, descer, subir. Ficaram desesperadas. Elas se amassavam naquele corredor. Algumas desistiam no meio do caminho, tamanha a dificuldade para respirar", disse ele.
O brasileiro foi achando outras escadas, outras rotas de fuga. No 3º andar, a água já tomava conta do chão e estava na altura de seus joelhos. Foi escorregando, agarrado a um corrimão. Foi caindo, resvalando, tentando. Saiu.
Ambos os brasileiros foram a pé para casa. Correram. Não esperaram assistência médica.
Castro soube no caminho que as torres haviam caído. Costa correu 40 quadras até chegar em casa e se sentir seguro.
Às residências, ambos chegaram em pânico. Ligaram para o Brasil, mas mal puderam falar. Ficaram imóveis, "na frente da TV, revendo tudo desabar".
No final do dia, ainda não tinham notícia de alguns amigos. Acham que muitos não conseguiram escapar. Ao trabalho, não sabem quando voltam. Os escritórios não existem mais.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200146.htm

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HORROR EM WASHINGTON
Governo fecha Casa Branca, Congresso e prédios públicos
Vice-presidente e integrantes do Conselho de Segurança Nacional se refugiam em prédio subterrâneo secreto
MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Uma sensação inédita de vulnerabilidade atingiu ontem o centro político e militar dos EUA, nação mais poderosa do mundo.
Minutos depois do ataque terrorista que destruiu parte do Pentágono, o governo decidiu fechar a Casa Branca, o Capitólio e todos os outros prédios públicos da capital do país. O vice-presidente, Dick Cheney, líderes no Congresso e integrantes do Conselho de Segurança Nacional foram removidos para um prédio subterrâneo secreto.
Jatos F-16, da Força Aérea norte-americana, sobrevoaram o centro da cidade. Como todos os vôos comerciais no país foram suspensos e não havia certeza com relação ao número de aviões sequestrados, os pilotos militares receberam a missão de derrubar qualquer aeronave que se aproximasse da cidade.
Ofegante, depois de descer cinco lances de escadas do prédio que abriga a sede do Federal Deposit Insurance Corporation, a quatro quarteirões da Casa Branca, a fiscal de contabilidade Debby Carlson, 42 anos, juntou-se na rua a uma multidão de funcionários públicos que, calados, olhavam para o céu. Quarenta minutos antes, o Pentágono fora atacado. Quase duas horas antes, dois outros aviões atingiram as torres do World Trade Center, em Nova York, derrubando-as mais tarde.
"Disseram que tem outro avião vindo", gritou. "Agora eles querem a Casa Branca", alertou. "Eles", na visão de Carlson, são os terroristas. "No dia em que eles destruírem Washington, será o fim do mundo livre."
Pessoas andavam, a esmo, com crachás pendurados. Outros tentavam, sem sucesso, usar celulares. No início, acreditava-se que uma bomba teria explodido no Congresso e que o Departamento de Estado estaria em fogo. As informações, mais tarde desmentidas, ajudaram a elevar o pânico.
As autoridades decretaram estado de emergência na cidade. Operações do Metrô foram interrompidas durante um período. O trânsito, restrito por dezenas de bloqueios de segurança, ficou caótico. Ninguém podia chegar a uma distância inferior a três quarteirões da Casa Branca.
Os museus ao longo da longa área verde conhecida como "Mall" não funcionaram, assim como a maioria das embaixadas. Turistas, atônitos, pediam ajuda a policiais com metralhadoras.
A fumaça vinda do Pentágono, do outro lado do Rio Potomac, que separa Washington do Estado da Virgínia, misturava-se à imagem do Monumento de Washington, obelisco da cidade. "A cidade está mais tensa do que durante a crise dos mísseis com Cuba, em 1962", disse o senador Chuck Grassley, republicano de Iowa que misturou-se à multidão. "Só que, agora, fomos atingidos."
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200155.htm

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No Pentágono, mesa é usada como escudo
GABRIELA ATHIAS
ESTELA CAPARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como em todas as manhãs, o engenheiro americano Gregory Stotmayer, 52, estava em sua mesa começando mais um dia de trabalho no Prédio Federal número 2, mais conhecido como "Navy Annex", quando ouviu um estrondo.
Sua primeira impressão foi que "algo muito grande" havia se chocado contra alguma construção do bairro, já que do escritório dele não era possível ver a queda do avião sobre o prédio que até então simbolizava a força da América. "Nunca imaginei que pudesse acontecer algo com o Pentágono", disse ele da sua casa, em um subúrbio de Washington, à Folha, por telefone.
"Eu nunca tinha estado em uma explosão antes. Para mim, a impressão foi de um barulho seco e alto de algo se chocando contra uma parede", disse Stotmayer.
"Fomos retirados do prédio em menos de um minuto e só na saída é que eu percebi que o Pentágono havia sofrido um atentado", relatou o engenheiro.
"Enquanto estávamos no prédio, nenhum de nós havia imaginado que a explosão pudesse ter algo a ver com o Pentágono. De lá só foi possível ouvir a explosão", completou Stotmayer.
Ele disse não ter "entrado em pânico", mas reconheceu ter sido surpreendido com o alcance dos atentados terroristas contra civis. "Pela primeira vez pensei no que pode acontecer contra nós [americanos]."
"Nós não sabíamos se deveríamos sair ou ficar no prédio. O problema é que, em uma situação como essa, você não sabe o que vai ocorrer no próximo minuto", completou John Damoose, um funcionário do Pentágono que estava em reunião quando ocorreu o atentado.
Para Damoose, o pior momento foi quando ele deixou o prédio e andou pela ciclovia Fort Meyer Drive: "Você podia ver pedaços de avião".
Ainda no Pentágono, a reação do engenheiro Rick Watson, 30, para quem o estrondo se assemelhou a um terremoto, foi correr para debaixo da mesa. Tom Seibert, 33, também engenheiro, disse que agiu por impulso: "Nos jogamos no chão por instinto".
Apesar da tensão e do clima de terror, a retirada dos funcionários do Pentágono foi feita de forma calma, organizada e durou poucos minutos.
"Quando pediram para deixarmos o prédio, já sabíamos o que havia acontecido no World Trade Center, em Nova York. Em três minutos estávamos todos na rua", disse uma funcionária que não quis se identificar.
Já na rua, as pessoas perceberam que teriam dificuldades de voltar para casa. A maioria das linhas de ônibus dessa região de Washington tem seu ponto inicial no Pentágono. Como a região foi interditada pela polícia, os ônibus não puderam trafegar, e as pessoas não souberam para onde se dirigir para pegá-los.
Com agências internacionais.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200156.htm

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Uma conferencia mundial islamica para condenar a jihad? - Omar El Seoud

Gosto sempre de ler cartas e comentários de leitores pois, mais do que os próprios artigos de colunistas, de personalidades, ou os próprios editoriais dos grandes jornais, são extremamente reveladores do que anda pela cabeça do povo.
Trata-se de um exercício necessário para acompanhar a realidade real, se me permitem a redundância, da psicologia coletiva, pois artigos e editoriais só revelam o que pensam seus autores, uma minoria minorantíssima, se me permitem esta outra barbaridade.
Este acadêmico da USP, por exemplo, acha que seria possível reunir uma conferência islâmica mundial para simplesmente condenar a (má) jihad. Haveria uma boa? Ele acha que jihad não significa necessariamente luta armada.
Acho que os desacordos começam por aí, e acredito que essa tal de conferência mundial não seja humanamente, ou islamicamente, possível, e se por acaso for convocada, terminará na acrimônia (sobre a dominação do Ocidente, por exemplo), e sem conclusões factíveis de serem implementadas no mundo a que ela se destinaria, supostamente o mundo muçulmano, tão diverso quanto o mundo do cristianismo (com correntes muito opostas entre si, e que no passado também se massacraram mutuamente).
Em todo caso, reproduzo aqui sua carta, suprimindo seu e-mail, mas antecipo que essa conferência não será feita, e se algum dia for realizada (parcialmente, não universalmente), não trará resultados.
Paulo Roberto de Almeida

Cartas ao jornal O Estado de S.Paulo, 18 Novembro 2015 | 02h 55
MASSACRE EM PARIS
Não basta condenar o terror
Os líderes religiosos muçulmanos, sunitas e xiitas, têm a missão urgente de convocar uma conferência islâmica mundial para definir alguns conceitos religiosos, entre os quais se destaca o de jihad. Em falso nome deste, foram recentemente massacrados civis no Líbano, explodidos turistas em pleno voo no Egito e metralhados inocentes em Paris. A conferência deve dar definição clara de jihad e detalhar, inequivocamente, as condições em que um muçulmano deve participar e como fazer isso, uma vez que jihad não significa, necessariamente, luta armada. Em seguida, deve levar esses esclarecimentos, com vigor, aos quatro cantos do mundo. Tal caminho de combate ao fanatismo pseudorreligioso levará tempo para dar frutos. Mas no fim dará certo, pois a História nos ensinou que a razão, e não a repressão, acaba sempre vencendo. É dessa jihad, sim, que nós precisamos!
OMAR EL SEOUD
xxxxxxxxx@gmail.com
São Paulo

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Recordacoes de um 11 de Setembro: impossivel esquecer - Paulo Roberto de Almeida


Recordações de um 11 de Setembro: impossível esquecer

Paulo Roberto de Almeida

Todos os americanos, ou praticamente todos, sabem o que estavam exatamente fazendo na manhã do dia 11 de setembro de 2001, quando o primeiro avião, e depois o segundo, foram lançados contra as duas torres gêmeas do World Trade Center, em Manhattan, New York. Todos sabem porque a vida parou naquele instante, e os Estados Unidos, o mundo, nunca mais foram os mesmos. Todos se recordam o que estavam fazendo quando sua atenção foi chamada, na rádio ou na televisão, pelas primeiras imagens do fogo e fumaça saindo das duas torres, e o pânico instantaneamente criado. Todos se recordam, pois que seria impossível não tomar conhecimento, e mesmo hoje, catorze anos depois, é impossível esquecer o que houve, o que estávamos fazendo, o que fizemos em seguida, o que pensamos naquele momento, o que pensamos depois, como reagimos, e como passamos a viver a partir de então, com um pouco de medo, e uma imensa tristeza pela dimensão da tragédia humana, e pelo choque político então criados, e que nunca mais se desfizeram. Todos se recordam, todos se lembram.
Eu me lembro exatamente do que estava fazendo naquela manhã ensolarada, tendo saído de carro, com Pedro Paulo ao lado, para deixa-lo na Universidade de Maryland, em College Park, onde ele cursava arquitetura, para depois voltar a Washington, DC, onde iria direto para a Embaixada do Brasil, na Massachusetts Avenue. Como sempre faço, estava conectado na National Public Radio, ou alguma outra rádio, mas sempre em um programa de notícias, e o mais provável é que fosse a NPR. Tínhamos recém saído de nosso apartamento no norte da Virgínia, bem perto do Aeroporto de Alexandria, e atravessávamos a ponte da 495, que entra em DC, antes de se dirigir a Maryland.
No meio da ponte, o radialista anunciou que um avião havia acabado de se chocar com um prédio em Nova York, e se imaginava naqueles primeiros momentos que pudesse ser algum acidente involuntário, algum erro de pilotagem ou algo do gênero. Eu me lembro de ter comentado com Pedro Paulo: “Não, isso não me parece acidente”, e imediatamente pensei no terrorismo islâmico, pois já estávamos há muito tempo com o Al Qaeda no Afeganistão, sob abrigo dos talibãs. Ficamos sintonizados na rádio, mas continuando em nossa rota, quando a notícia fatídica pipocou novamente na rádio: um segundo avião havia se chocado contra o que já era identificado como a segunda torre gêmea do World Trade Center. Não havia mais dúvida possível: era um ataque terrorista. No intervalo já tínhamos telefonado para Carmen Lícia, para que ela ligasse na CNN, para acompanhar a história. Dessa parte eu não me lembro se consegui falar com ela imediatamente, ou depois, em todo caso, ainda no carro, a caminho da Universidade de Maryland.
Mais alguns minutos, outra fatalidade: um ataque tinha sido feito nas imediações de nosso apartamento, na Virgínia do norte, muito perto de Washington. Carmen Lícia disse, depois, que os vidros do nosso apartamento tremeram, no momento do choque, mas ela não sabia o que era, até tomar conhecimento do terrível ataque ao Pentágono, pelos imensos rolos de fumo que começaram a se elevar, e ficaram imediatamente visíveis da janela do nosso apartamento. O cheiro de incêndio se tornou perceptível, e as sirenas começaram a emitir seus sons lancinantes de todos os lados. E todos os meios de comunicação ficaram absolutamente focados nos dois acidentes, nos dois atentados, nas duas grandes cidades americanas. Não se sabia ainda do quarto avião, que caiu na Pensilvânia, notícia que veio um pouco mais tarde, mas ainda nessa mesma manhã.
Nessa altura, eu já havia deixado Pedro Paulo na universidade, recomendado que não saísse até eu vir novamente busca-lo, mas que provavelmente eles não teriam aula nesse dia. Corri, ou voei, para a Embaixada, liguei a TV e telefonei para casa. Carmen Lícia estava falando com sua mãe, em Porto Alegre. O mundo todo parou para acompanhar o incêndio nas torres gêmeas, e as imagens do Pentágono, imediatamente cercado pela segurança. Todos estávamos atônitos, quando uma das torres começou a cair, levantado aqueles rolos imensos de fumaça e poeira. Logo em seguida a outra. E o Pentágono ainda em chamas, o cheiro de queimado se espalhando paulatinamente pelos arredores, a despeito de toda a água e produtos químicos lançados pelos bombeiros. O cheiro persistiu durante praticamente três dias em casa. Impossível esquecer.
Todo o resto é história, e tudo o que se escreveu, tudo o que se disse, tudo o que se investigou e que se relatou, desde os primeiros dias, tudo isso apenas acrescenta sobre a memória das primeiras horas, daquele dia, daquelas imagens. Na verdade, nunca pudemos ver o Pentágono semidestruído: os militares cobriram o ponto de impacto e imensos painéis de madeira interditavam uma visão adequada daquele imenso prédio horroroso, de estilo stalinista, mas imponente. Assim foi. Impossível esquecer.

Hartford, 11 de setembro de 2015, 2 p.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Os clerigos islamicos vao interpretar e reformar os textos sagrados? Discurso do presidente do Egito

Registro aqui o que já disse quando disseminei esta postagem no Facebook: 

 O presidente-ditador do Egito pode estar mais preocupado com os dólares do turismo, ou as centenas de milhões que recebe dos imperialistas a título de assistência militar, mas ele começou a abrir uma porta. Hipocritamente, como político, fala em pensamento, e não em religião, e fala em escritos, e não no Corão, mas o fato é que enquanto o Islã não rebaixar os "textos sagrados" à mesma categoria que possui a Bíblia na tradição cristã, ou a Torah, na doutrina judaica, ou seja, objetos de estudo e de discussão, ele não escapará de ter uma determinada categoria de fundamentalistas. Terroristas atuam essencialmente motivados por razões políticas e suas causas são basicamente terrenas, mas a legitimação religiosa desempenha um papel importante no cipclo de violência e de intolerância a que assistimos recentemente. Vamos ver como vão reagir os clérigos de Al Azhar, mas eles estarão certamente na vanguarda do debate. Nada a esperar, por enquanto, dos wahabitas da Arábia Saudita, ou dos ayatollahs do Irã, mas tudo virá, a seu tempo. Os cristãos ainda se massacravam reciprocamente quatro séculos atrás, e os hinduistas continuam massacrando muçulmanos na Índia. Religiões podem ser grandes máquinas de extermínio, ou de amor..

Paulo Roberto de Almeida

by Mark Movsesian  
Blog First Things, January 5, 2015

The Internet is buzzing with news of a speech last week by President Abdel Fattah el-Sisi of Egypt on the need for a “religious revolution” in Islam. Speaking at Cairo’s Al Azhar University, the most important center of Islamic learning in the Sunni world, Sisi admonished the assembled scholars to revisit Islamic law, or fiqh, in order to calm the fears of the non-Muslim world. According to a translation at Raymond Ibrahim’s site, Sisi said:
I am referring here to the religious clerics. We have to think hard about what we are facing—and I have, in fact, addressed this topic a couple of times before. It’s inconceivable that the thinking that we hold most sacred should cause the entire umma [Islamic world] to be a source of anxiety, danger, killing and destruction for the rest of the world. Impossible!
That thinking—I am not saying “religion” but “thinking”—that corpus of texts and ideas that we have sacralized over the years, to the point that departing from them has become almost impossible, is antagonizing the entire world. It’s antagonizing the entire world!
Is it possible that 1.6 billion people [Muslims] should want to kill the rest of the world’s inhabitants—that is 7 billion—so that they themselves may live? Impossible!
I am saying these words here at Al Azhar, before this assembly of scholars and ulema—Allah Almighty be witness to your truth on Judgment Day concerning that which I’m talking about now.
All this that I am telling you, you cannot feel it if you remain trapped within this mindset. You need to step outside of yourselves to be able to observe it and reflect on it from a more enlightened perspective.
I say and repeat again that we are in need of a religious revolution. You, imams, are responsible before Allah. The entire world, I say it again, the entire world is waiting for your next move . . . because this umma is being torn, it is being destroyed, it is being lost—and it is being lost by our own hands.
Some are praising Sisi for his bravery. That’s certainly one way to look at it. When Sisi calls for rethinking “the corpus of texts and ideas that we have sacralized over the years,” he may be advocating something quite dramatic, indeed. For centuries, most Islamic law scholars—though not all—have held that “the gate of ijtihad,” or independent legal reasoning, has closed, that fiqh has reached perfection and cannot be developed further. If Sisi is calling for the gate to open, and if fiqh scholars at a place like Al Azhar heed the call, that would be a truly radical step, one that would send shock waves throughout the Islamic world.
We’ll have to wait and see. Early reports are sometimes misleading; there are subtexts, religious and political, that outsiders can miss. Which texts and ideas does Sisi mean, exactly? Fiqh rules about Christians and other non-Muslims, which often insist on subordination? Some argue that, notwithstanding the speech at Al Azhar, Sisi has done relatively little to improve the situation of Coptic Christians. And calling for the opening of the gate is not necessarily progressive. Although progressive Muslim scholars endorse the opening of the gate in order to adapt fiqh to modernity, Salafist groups wish to open the gate in order to discard centuries of what they see as un-Islamic traditions. Opening the gate may be a signal for fundamentalism, for a return to the pure Islam of the Prophet and his companions. I don’t imply Sisi is a fundamentalist, of course. I’m just saying one needs to be alert to the nuances.
Still, Sisi’s remarks do suggest he means a rethinking of Islamic law to adapt to contemporary pluralism. This is definitely worth watching.

Mark Movsesian is the Frederick A. Whitney Professor of Contract Law and the Director of the Center for Law and Religion at St. John’s University School of Law. His previous blog posts can be found here.

Allons enfants! - Charlie Hebdo vai publicar o numero mais importante de sua historia...

Será um sucesso editorial absoluto, e os exemplares se venderão como des petits pains, se os editores me permitem a comparação talvez pouco apropriada.
Se eu pudesse compraria o meu exemplar, mas vou pedir a algum colega de Paris, para comprar um para mim. Um número histórico, ainda que na tragédia e no sofrimento de tantos colaboradores e dos jornalistas e de suas famílias.
Mas essa é a resposta apropriada aos bárbaros: mostrar que a liberdade, ainda quando reprimida, é a maior força civilizatória, e que ela termina vencendo qualquer ditadura, qualquer repressão.
Todos os franceses, com a possível exceção de um punhado de fundamentalistas de várias tendências religiosas e políticas, irão comprar o seu exemplor de Charlie Hebdo.
Allons, enfants, de certa forma, será un jour de gloire qui est arrivé, ainda que na dor...
Marchons, marchons...
Paulo Roberto de Almeida

Colunista do jornal Charlie Hebdo diz que publicação irá sair na próxima semana

Correio do Brasil, 8/1/2015 12:22
Por Redação, com ABr - de Paris

O colunista do jornal Charlie Hebdo, Patrick Pelloux
O colunista do jornal Charlie Hebdo, Patrick Pelloux

O colunista do jornal Charlie Hebdo, Patrick Pelloux, afirmou nesta quinta-feira que o jornal será publicado na próxima semana, mesmo após o ataque terrorista desta quarta que matou oito dos seus jornalistas e cartunistas.
– Vamos continuar, decidimos sair na próxima semana. Estamos todos de acordo – disse Pelloux, adiantando que a equipe do jornal deve se reunir em breve.
Pelloux, que também é médico de emergência, disse que os escritórios do jornal satírico não estão acessíveis por causa da investigação policial. Ele assegurou que a equipe trabalhará em casa. “Vamos nos arranjar”, acrescentou.
– É muito duro, estamos todos com a nossa dor, os nossos medos, mas vamos fazê-lo porque não é a estupidez que vai ganhar. Charb [diretor da publicação, morto no atentado] dizia sempre que o jornal deveria sair custasse o que custasse – disse o colunista.
Doze pessoas,  entre as quais cinco dos principais caricaturistas do semanário (Charb, Wolinski, Cabu, Tignous e Honoré) e o economista Bernard Maris, foram mortas no ataque aos escritórios do jornal, no centro de Paris.
O atentado, o mais violento dos últimos 50 anos na França, provocou uma onda de comoção e solidariedade, principalmente entre os veículos de comunicação que já propuseram ajudar oCharlie Hebdo.
Em 2011, quando os escritórios do jornal foram incendiados, presumivelmente em represália pela publicação de caricaturas do profeta Maomé, o diário Libération acolheu a redação do Charlie Hebdo. Afetado pelo ataque, o Charlie Hebdo já estava ameaçado de falência. Deficitário, vende em média cerca de 30 mil exemplares e lançou recentemente um apelo por doações para que não encerrasse os trabalhos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O conflito de civilizações e os atentados fundamentalistas islamicos - Paulo Roberto de Almeida

Mesmo não aderindo às teses de Samuel Huntington, sobre o conflito de civilizações, parece que existe, tanto no caso do recente atentado contra os jornalistas de Charlie Hebdo, em Paris (na manhã de 7 de dezembro de 2015), quanto no caso anterior dos cartoons sobre o profeta Maomé num jornal dinamarquês, um claro conflito entre duas noções do mundo: uma que é baseada (não sem conflitos) na liberdade total de crítica às religiões, e outra que vê como uma grave ofensa qualquer crítica ou zombaria às religiões, ou a uma religião em particular.
Justamente, sobre o caso precedente dos cartoons dinamarqueses, eu havia escrito um texto, publicado unicamenente num antigo blog meu, do qual me lembrei agora.
Eis a ficha do trabalho:


1545. “Clash of civilization (this time for real...)”, Brasília, 5 fevereiro 2006, 3 p. Notas sobre o problema dos protestos em torno das caricaturas do profeta publicadas em jornais ocidentais. Post n. 207, do Blog “Cousas Diplomáticas” (link: http://diplomaticas.blogspot.com/2006/02/207-clash-of-civilization-this-time.html#links).

Sem pretender "reanimar" o conflito, vou postar novamente aqui estas notas, como simples curiosidade. Mas, na mesma época, acabei divulgando outros textos, que também talvez seja o caso de reler agora:


1546. “Clash Of Civilization?”, Brasília, 9 fevereiro 2006, 2 p. Diálogo com Michael Radu, do Foreign Policy Research Institute, a propósito dos cartoons anti-islâmicos. Post n. 214, do Blog Cousas Diplomáticas (link: http://diplomaticas.blogspot.com/2006/02/214-clash-of-civilization-again-and.html#links).

1548. “Sobre a intolerância”, Brasília, 12 fevereiro 2006, 3 p. Considerações sobre as religiões em geral e sobre uma religião em particular. Colocada no post “Cousas diplomáticas”, n. 218 (link http://diplomaticas.blogspot.com/2006/02/218-sobre-intolerncia.html#links). Publicado em Espaço Acadêmico (n. 66, novembro 2006, link: http://www.espacoacademico.com.br/066/66pra.htm). Republicado em 21/07/2012 no blog da Revista Espaço Acadêmico (link: http://espacoacademico.wordpress.com/2012/07/21/sobre-a-intolerancia/). Relação de Publicados n. 725.

 Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 7 de dezembro de 2015


Clash of civilization (this time for real...)

 Paulo Roberto de Almeida (2006)

Parece que o conflito teorizado por Samuel Huntington passou da fase latente para o estado de guerra larvar: mais jornais ocidentais publicam as charges veiculadas num jornal dinamarquês e o debate se instalou de vez sobre a liberdade de expressão e o respeito às sensibilidades religiosas.
Mas o que houve, finalmente?
O problema começou, há vários meses, com duas polêmicas charges de Maomé publicadas originalmente num jornal dinamarquês e que têm gerado protestos em todo o mundo islâmico.
Num dos desenhos, Maomé pede aos terroristas islâmicos que parem com os atentados, porque já não há virgens suficientes no Paraíso. No outro, o profeta aparece com uma bomba no turbante.
Confesso que ainda não vi essas caricaturas: não tive tempo de buscar, nem tenho interesse real em vê-las. Meu interesse aqui é outro: discutir os limites recíprocos entre liberdade de expressão e manifestação de sentimento religioso.
Jornais ocidentais publicam dezenas de charges, ironizando prelados católicos, criticando padres de comportamento duvidoso e fazendo troça com o próprio Papa. Nada disso gera comoção ou tumulto, no máximo algum protesto localizado.
No mundo ocidental, em geral, é assim: a liberdade de expressão é praticamente absoluta, consituindo um dos valores fundamentais de seus regimes democráticos, algo praticamente inexistente em vários países islâmicos. Em caso de abuso desse direito, os atingidos têm também o direito de buscar justiça nos tribunais.
Os muçulmanos que se sentiram ofendidos dizem que a religião islâmica proibe a reprodução pictorial do profeta e de qualquer outra forma de vida. Dizem que não se pode reproduzir uma criação de Alá.
Parece-me que existe aqui um problema real de conflito de civilização, mas ele não se dá entre o islâmismo e as demais correntes religiosas existentes no mundo, e sim dentro da própria civilização islâmica. Daí o singular, utilizado em meu título, diferente do conceito no plural empregado por Huntington.
Parece evidente que a arte pictórica existia antes da criação da religião islâmica, historicamente datada em torno do século VII da era cristã. Ela continuou a existir durante a vida do profeta Maomé e mesmo depois que seus ensinamentos foram propagados, sendo exercida, por exemplo, em sociedades islamizadas como a Pérsia, que cultivou a arte pictórica dentro da religião islâmica.
É bem verdade que muitos desses desenhos e pinturas tiveram depois as faces do profeta ou de outros personagens humanos apagadas dessas obras de arte, como vemos em muitas obras de arte de museus ocidentais e mesmo em museus de sociedades islâmicas. Trata-se de um esforço de "descontruir" obras de arte feitas dentro de sociedades islâmicas, por alguns intérpretes zelosos de alguns preceitos do Corão.
Se o sentimento religioso dos muçulmanos impede a reprodução de personagens humanos (e também de plantas e animais) isto deve ser considerado uma particularidade de sua religião, nos lugares nos quais ela é estritamente aplicada, mas obviamente esse tipo de prática não pode ter validade universal.
Aliás a proibição de reprodução de seres humanos, assim como de quaisquer outros seres vivos, atua, em minha opinião, como um sério impedimento ao desenvolvimento das ciências naturais (biológicas em especial), dificultando a apreensão de disciplinas científicas que se apoiam na reprodução de corpos e partes de corpos de seres vivos para o aprendizado de sua manipulação (para fins médicos e econômicos).
Trata-se, ao meu ver, de um grave conflito – existem outros, mas não pretendo agora debruçar-me sobre eles – que divide as sociedades islâmicas, internamente e em relação a outras sociedades humanas. Uma interpretação rigorosa de determinadas preceitos, ou de fato a ausência mesmo de possibililidade de interpretação – aquilo que na tradição cristã é conhecido por “exegese” –, dificulta a modernização das sociedades islâmicas e o seu relacionamento com as demais sociedades humanas, aderentes a outras correntes religiosas.
Esse problema terá de ser resolvido pelos próprios muçulmanos, uma vez que a origem do problema – ou seja, o conjunto de proibições – deriva de sua própria forma de encarar a religião, e não decorre do comportamento de outras crenças religiosas.
Quanto às sensibilidades religiosas, pode-se admitir que um cristão aderente se sinta ofendido por alguma charge ironizando Cristo na cruz, por alguma caricatura maldosa de padres “desviantes”, mas não se tem notícia de redações de jornais incendiadas por isso, ou de assassinatos de caricaturistas por suposta ofensa aos “sentimentos cristãos”. Mas, já tivemos exemplos de ocidentais assassinados por fundamentalistas islâmicos – um último eloquente exemplo foi o de um cineasta holandês, Theo Van Gogh, por ter feito um documentário sobre práticas costumeiras em algumas sociedades islâmicas – como protesto contra um suposto atentado a “valores islâmicos”.
Quer me parecer que estamos, de fato, em face de um grave problema civilizatório...

Post scriptum em 6 Fev 06: Tendo em vista que o site original de publicação das charges foi descontinuado, um outro site ofereceu-se para mantê-los on-line. Sem qualquer desejo de ofender ninguém, e tendo verificado sua relativa inocuidade, indico aqui o link de acesso a essas charges: http://cryptome.org/muhammad.htm

Brasília, 5 fevereiro 2006, 3 p.
Post n. 207, do Blog “Cousas Diplomáticas”.


sábado, 10 de maio de 2014

Boko-Haram: um grupo terrorista islamico - Ayaan Hirsi Ali (WSJ)


Boko Haram and the Kidnapped Schoolgirls

The Nigerian terror group reflects the general Islamist hatred of women's rights. When will the West wake up?

Boko Haram leader Abubakar Shekau, in a video released in 2012. Photo: Associated Press
Since the kidnapping of 276 schoolgirls in Nigeria last month, the meaning of Boko Haram—the name used by the terrorist group that seized the girls—has become more widely known. The translation from the Hausa language is usually given in English-language media as "Western Education Is Forbidden," though "Non-Muslim Teaching Is Forbidden" might be more accurate.
But little attention has been paid to the group's formal Arabic name: Jam'at Ahl as-Sunnah lid-da'wa wal-Jihad. That roughly translates as "The Fellowship of the People of the Tradition for Preaching and Holy War." That's a lot less catchy than Boko Haram but significantly more revealing about the group and its mission. Far from being an aberration among Islamist terror groups, as some observers suggest, Boko Haram in its goals and methods is in fact all too representative.
Since the kidnapping of 276 schoolgirls in Nigeria last month, the meaning of Boko Haram—the name used by the terrorist group that seized the girls—has become more widely known. The translation from the Hausa language is usually given in English-language media as "Western Education Is Forbidden," though "Non-Muslim Teaching Is Forbidden" might be more accurate.
But little attention has been paid to the group's formal Arabic name: Jam'at Ahl as-Sunnah lid-da'wa wal-Jihad. That roughly translates as "The Fellowship of the People of the Tradition for Preaching and Holy War." That's a lot less catchy than Boko Haram but significantly more revealing about the group and its mission. Far from being an aberration among Islamist terror groups, as some observers suggest, Boko Haram in its goals and methods is in fact all too representative.
The kidnapping of the schoolgirls throws into bold relief a central part of what the jihadists are about: the oppression of women. Boko Haram sincerely believes that girls are better off enslaved than educated. The terrorists' mission is no different from that of the Taliban assassin who shot and nearly killed 15-year-old Pakistani Malala Yousafzai—as she rode a school bus home in 2012—because she advocated girls' education. As I know from experience, nothing is more anathema to the jihadists than equal and educated women.
How to explain this phenomenon to baffled Westerners, who these days seem more eager to smear the critics of jihadism as "Islamophobes" than to stand up for women's most basic rights? Where are the Muslim college-student organizations denouncing Boko Haram? Where is the outrage during Friday prayers? These girls' lives deserve more than a Twitterhashtag protest.
Organizations like Boko Haram do not arise in isolation. The men who establish Islamist groups, whether in Africa (Nigeria, Somalia, Mali), Southwest Asia (Afghanistan, Pakistan), or even Europe (U.K., Spain and the Netherlands), are members of long-established Muslim communities, most of whose members are happy to lead peaceful lives. To understand why the jihadists are flourishing, you need to understand the dynamics within those communities.
So, imagine an angry young man in any Muslim community anywhere in the world. Imagine him trying to establish an association of men dedicated to the practice of the Sunnah (the tradition of guidance from the Prophet Muhammad). Much of the young man's preaching will address the place of women. He will recommend that girls and women be kept indoors and covered from head to toe if they are to venture outside. He will also condemn the permissiveness of Western society.
What kind of response will he meet? In the U.S. and in Europe, some moderate Muslims might quietly draw him to the attention of authorities. Women might voice concerns about the attacks on their freedoms. But in other parts of the world, where law and order are lacking, such young men and their extremist messages thrive.
Where governments are weak, corrupt or nonexistent, the message of Boko Haram and its counterparts is especially compelling. Not implausibly, they can blame poverty on official corruption and offer as an antidote the pure principles of the Prophet. And in these countries, women are more vulnerable and their options are fewer.
But why does our imaginary young zealot turn to violence? At first, he can count on some admiration for his fundamentalist message within the community where he starts out. He might encounter opposition from established Muslim leaders who feel threatened by him. But he perseveres because perseverance in the Sunnah is one of the most important keys to heaven. As he plods on from door to door, he gradually acquires a following. There comes a point when his following is as large as that of the Muslim community's established leaders. That's when the showdown happens—and the argument for "holy war" suddenly makes sense to him.
The history of Boko Haram has followed precisely this script. The group was founded in 2002 by a young Islamist calledMohammed Yusuf, who started out preaching in a Muslim community in the Borno state of northern Nigeria. He set up an educational complex, including a mosque and an Islamic school. For seven years, mostly poor families flocked to hear his message. But in 2009, the Nigerian government investigated Boko Haram and ultimately arrested several members, including Yusuf himself. The crackdown sparked violence that left about 700 dead. Yusuf soon died in prison—the government said he was killed while trying to escape—but the seeds had been planted. Under one of Yusuf's lieutenants,Abubakar Shekau, Boko Haram turned to jihad.
In 2011, Boko Haram launched its first terror attack in Borno. Four people were killed, and from then on violence became an integral part, if not the central part, of its mission. The recent kidnappings—11 more girls were abducted by Boko Haram on Sunday—join a litany of outrages, including multiple car bombings and the murder of 59 schoolboys in February. On Monday, as if to demonstrate its growing power, Boko Haram launched a 12-hour attack in the city of Gamboru Ngala, firing into market crowds, setting houses aflame and shooting down residents who ran from the burning buildings. Hundreds were killed.
I am often told that the average Muslim wholeheartedly rejects the use of violence and terror, does not share the radicals' belief that a degenerate and corrupt Western culture needs to be replaced with an Islamic one, and abhors the denigration of women's most basic rights. Well, it is time for those peace-loving Muslims to do more, much more, to resist those in their midst who engage in this type of proselytizing before they proceed to the phase of holy war.
It is also time for Western liberals to wake up. If they choose to regard Boko Haram as an aberration, they do so at their peril. The kidnapping of these schoolgirls is not an isolated tragedy; their fate reflects a new wave of jihadism that extends far beyond Nigeria and poses a mortal threat to the rights of women and girls. If my pointing this out offends some people more than the odious acts of Boko Haram, then so be it.
Ms. Ali is a fellow of the Belfer Center at Harvard's Kennedy School of Government. She is the founder of the AHA Foundation.

sábado, 18 de janeiro de 2014

O Afeganistao tem solucao? Provavelmente nao! Nem sem rima. Um Estado mais que falido...

Certos Estados, reconhecidos como tais pela ONU, não reunem, na verdade, condições mínimas para figurar nessa categoria, e isso não tem nada a ver com o colonialismo, com a dominação ocidental, as invasões imperialistas, e outras bobagens do gênero.
Isso tem a ver com a incapacidade de suas elites de governarem o país de uma forma minimamente racional, o que provocou uma situação de anomia absoluta que impede qualquer forma de governança de se estabelecer como Estado normal. Eles estão além da falência, já passaram para a situação de caos permanente.
O Haiti arriscou cair nessa situação e só escapou de cair no precipício por causa da intrevenção estrangeira. Agora, ele vai cair no colo da assistência pública internacional e vai viver nessas situação pelos próximos 50 anos, até dispor de elites capazes de assumir suas responsabilidades.
Somália e Afeganistão, República Centro-Africana, Sudão do Sul e alguns outros já estão numa, ou se dirigem rapidamente para, uma situação terminal.
Não vejo nenhuma solução fácil ou minimamente aceitável, sem enormes custos humanos, no futuro previsível. Não existem elites nacionais capazes de endireitar a situação. Daí o sacrifício do Ocidente, que em outros tempos se chamava o fardo do homem branco.
Isso apenas nos confirma que certos indivíduos, determinadas sociedades e pelo menos uma religião em particular não pertencem ainda ao século 20, mas a um universo muito primitivo, eu até diria troglodita. Assim é o mundo, infelizmente, um lugar que está mais para Hobbes do que para Locke ou Kant. Um dia virá, mas para certos povos, isso ainda vai exigir pelo menos três ou quatro gerações. Isso se o Ocidente não desistir, claro.
Mas o preço a pagar é esse aí, como figura na matéria abaixo.
Paulo Roberto de Almeida 

Atentado em Cabul deixa 16 mortos, a maioria estrangeiros

Representante do FMI e três membros da ONU estão entre as vítimas do ataque

Forças de segurança afegãs deixam o local de um ataque suicida em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. O restaurante libanês é popular entre os estrangeiros e afegãos ricos
Forças de segurança afegãs deixam o local de um ataque suicida em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. O restaurante libanês é popular entre os estrangeiros e afegãos ricos (Massoud Hossaini/AP)
Um atentado suicida reivindicado pelo grupo terrorista Talibã deixou ao menos dezesseis mortos em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. Entre as vítimas estão três funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) e um representante do Fundo Monetário Internacional (FMI). O atentado foi perpetrado na hora do jantar, em um popular restaurante libanês no distrito de Wazir Akbar Khan, que abriga muitas embaixadas.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon condenou o ataque e lamentou a morte dos membros das Nações Unidas. "Estes ataques voltados contra civis são completamente inaceitáveis", afirmou. Em um comunicado, a diretora do FMI, Christine Lagarde, informou que o libanês Wabel Abdallah, de 60 anos, que chefiava o escritório da organização em Cabul desde 2008, é uma das vítimas. "É uma notícia trágica e nós estamos devastados", disse ela.

Leia também:
Ataque suicida no Afeganistão mata 3 soldados da Otan
Após 12 anos, Austrália anuncia retirada do Afeganistão
A explosão no local abriu caminho para dois atiradores entrarem no restaurante e começarem a disparar contra as pessoas que estavam no estabelecimento. Os tiros puderam ser ouvidos durante vários minutos (entre 10 e 20 minutos, segundo relatos) e a principal rua que leva à área foi isolada. O porta-voz do Ministério do Interior, Sediq Sediqi afirmou que dois atiradores foram mortos pelas forças de segurança.
Estratégia terrorista - Segundo o jornal The New York Times, fontes afegãs e ocidentais disseram que pelo menos treze mortos eram estrangeiros. O jornal pontua que o atentado representa uma mudança na estratégia regular do Talibã, que geralmente prefere atacar alvos cercados de segurança, como prédios do governo e símbolos da presença ocidental no país, como a embaixada americana.
Retirada – O atentado ocorre no momento em que a maior parte das forças estrangeiras se preparam para deixar o Afeganistão este ano, depois de mais de uma década marcada por ataques frequentes. Washington negocia com o presidente Hamid Karzai um acordo que permitiria a permanência de algumas tropas americanas no país.
As preocupações com segurança aumentaram no Afeganistão com a proximidade da eleição presidencial marcada para abril, quando a população vai eleger o sucessor de Karzai. Se nenhum acordo for alcançado entre os EUA e o governo local, as forças afegãs terão de enfrentar os terroristas por conta própria.
(Com agência Reuters)

domingo, 22 de setembro de 2013

O problema básico do Islamismo: a destruicao de vidas humanas e sua naocondenacao

Aliás, são dois os problemas, corrigindo o título.
Um, a existência de um estoque infindável de homens-bomba, ou seja de pessoas dispostas a se explodir levando junto o maior número possível de vítimas inocentes, em geral de uma seita diferente, mas dentro do islamismo. Isso tem acontecido de forma recorrente em países islâmicos, de um arco que vai do Magreb à Índia, mas também já ocorreu em países islâmicos da Ásia Pacífico, embora com menor incidência. Existe, portanto, um problema civilizatório, desconhecido em qualquer outra religião.
O outro problema é a inexistência completa, ao que se sabe, de líderes religiosos islâmicos -- de todas as seitas e de todas as categorias e títulos -- que possam condenar, da maneira mais veemente possível, inclusíve pelo recurso à própria religião, esses atos absolutamente inadmissíveis sob qualquer critério da vida social.
O cristianismo já conheceu suas guerras de religião, no contexto das quais atos abomináveis foram perpetrados, não só entre seitas cristãs, mas também contra heréticos da corrente dominante, mas jamais se conheceram atos desse tipo, ou seja, a morte, política ou religiosamente motivada, de inocentes a esmo, de forma contínua, regular, sobretudo pelo apelo ao autosacrifícoo, sob alguma promessa de paraíso ou vida eterna. Isso jamais ocorreu no cristianismo, que dignifica a vida e promove a fraternidade, mesmo entre inimigos.
O islamismo dignifica a morte e a destruição, objetivamente.
Gostaria de ser desmentido por fatos, não por declarações vazias.
Os dois problemas básicos são estes: o terrorismo contra inocentes, da forma como temos visto, parece exclusividade de países islâmicos, e seus líderes religiosos não condenam tais atos.
Seria uma podridão dos islamismo, ou um comportamento aceitável?
Paulo Roberto de Almeida
Em tempo: este atentado no Paquistão foi feito contra cristãos, como também ocorre na Nigéria do norte e em outros países. Mas o maior número de atentados é feito entre os próprios islâmicos.

Atentado mata ao menos 60 pessoas no Paquistão

Explosivos foram detonados por homens-bomba quando centenas de fiéis terminavam as orações e saiam de um templo

 Menino observa orações da sexta-feira na mesquita de Wazir Khan, em Lahore, no Paquistão
 Menino observa orações da sexta-feira na mesquita de Wazir Khan, em Lahore, no Paquistão (Damir Sagolj/Reuters )
Um ataque suicida em uma igreja histórica na cidade de Peshawar, no noroeste do Paquistão, deixou ao menos 60 mortos e 120 feridos neste domingo, segundo autoridades locais. O ataque evidencia a ameaça representada pelos grupos islâmicos extremistas, enquanto o governo do país busca um acordo de paz com os militantes talebans nacionais.
Os explosivos foram detonados por homens-bomba quando centenas de fiéis terminavam as orações e se dirigiam para fora do local.
(Com Estadão Conteúdo)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fundamentalismo religioso: uma doenca mental? - Kathleen Taylor

Graças a meu amigo de bons combates e colega de blog de resistência, Orlando Tambosi, tomei conhecimento desse trabalho: também acho que certas crenças fundamentalistas religiosas podem ser assemelhadas a doenças mentais. Quem acha, por exemplo, que se explodir com uma bomba no meio de um mercado, no atrio de uma igreja, no pátio de uma escola representa uma forma qualquer de luta política, e que isso lhe garante de imediato um lugar no paraíso (eventualmente cercado de sete virgens), só pode ser um grande idiota, um débil mental, enfim, um doente profundo, necessitando tratamento imediato.
Os que os instruiram nessa conduta devem partilhar a mesma condição, mas são covardes demais, ou desonestos bastante, para não se explodirem eles mesmos.
Paulo Roberto de Almeida


Orlando Tambosi
É o que sugere uma neurocientista inglesa. Bene, que certas crenças levem à loucura, não parece haver dúvida - a história é farta em exemplos de crimes praticados por fanáticos.

Kathleen Taylor, neurocientista e pesquisadora da Universidade de Oxford, afirma que o fundamentalismo religioso poderá, futuramente, ser tratado como doença mental curável. A declaração foi feita durante uma apresentação sobre a pesquisa do cérebro no Festival literário do País de Gales, na última semana.

Em resposta a uma pergunta sobre o futuro da neurociência, a cientista disse que “uma das surpresas pode ser a de que pessoas com certas crenças podem ser tratadas“. Assim, alguém que se tornou radical em função de alguma ideologia religiosa poderá ser visto como portador de algum distúrbio mental, ao invés de ser encarado como uma pessoa que chegou a isto puramente por livre-arbítrio. 
Ela se refere não só ao islamismo radical, mas àqueles que, por exemplo, acreditam ser aceitável espancar crianças. (Na íntegra, em inglês - danke, Cristiano).

sábado, 8 de dezembro de 2012

O fardo dos imperios atuais: combater os fundamentalismos terroristas

O "fardo do homem branco", cem anos atrás, era a legitimação do colonialismo e do imperialismo pela missão civilizadora das nações engajadas no ato de conquista. Atualmente, como fundamentalistas -- e não se pode esquecer que eles são basicamente islâmicos -- insistem em impor sua vontade intolerante sobre sociedades inteiras, o "fardo do homem branco" é a tarefa de eliminar esses elementos, que são infensos aos diálogo e ao debate democrático.
Não é fácil, não é simpático, mas creio que é necessário...
Paulo Roberto de Almeida

War brewing on the latest front line against terrorism in Mali