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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 11 de setembro de 2016

11 de Setembro: um dia que ficou na Historia: reportagens do dia 12/09/2001 (FSP)

FOLHA DE S.PAULO
12 de setembro de 2001

HORROR EM NOVA YORK
Corpos e destroços compõem o cenário

Além de ar sufocante, calor e fogo, há um desagradável cheiro doce de queimado, que embrulha o estômago

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A ponte que ligava as duas torres do World Trade Center está a 10 metros, caída no chão sobre dois carros da polícia e quatro caminhões dos bombeiros. Cedeu quando a primeira torre veio ao chão. Dois enfermeiros carregam uma maca com o corpo de um bombeiro. Ele está decapitado.
Protegido por uma máscara que consegui com um dos bombeiros, pude ultrapassar três bloqueios policiais e estou a poucos passos dos fundos do que sobrou das estruturas das duas torres. O ar está tomado por uma mistura de pó branco com fumaça preta. É meio-dia, o sol brilha alto, mas ao lado do World Trade Center está escuro como noite.
Além do ar sufocante e do calor que emana das duas construções em fogo, há um desagradável cheiro doce de queimado, que embrulha o estômago.
O barulho dos alarmes de incêndio dos prédios vizinhos, todos disparados, se junta aos alarmes dos carros que não foram completamente queimados e às sirenes das ambulâncias e das viaturas que conseguiram escapar do segundo desabamento.

Desordem
Não há uma ordem aparente. Policiais chegam, sozinhos ou em duplas, e gritam ordens, que são modificadas pelo chefe dos bombeiros, que se sobrepõe aos agentes do FBI. No meio da confusão, enfermeiros, paramédicos e voluntários não sabem o que fazer.
Eles são os que sobraram, a terceira leva do resgate. A primeira foi quase toda soterrada pelo primeiro desabamento. Parte da segunda, que foi enviada para tentar resgatar a primeira, está sob os escombros do segundo desabamento. A terceira é de bombeiros que estavam de folga, enfermeiros aposentados, policiais de outros bairros da cidade, agentes mais acostumados ao trabalho atrás das mesas, estudantes de medicina e de enfermagem.
De vez em quando, todos se entreolham assustados: um dos canos de gás que ainda resiste na estrutura dos prédios explode, fazendo um barulho desagradavelmente parecido com o das bombas de minutos atrás. Cães farejadores começam a latir e a vasculhar pedras, atrás de corpos.

Primeiro desabamento

O escritório da Folha em Nova York fica a cerca de 15 quadras do local da explosão, ambos no sul da ilha de Manhattan, em Nova York. Desde que ouvi as primeiras sirenes e barulhos de helicópteros, fui para as ruas tentar chegar ao World Trade Center.
Em questão de minutos, o serviço do metrô foi interrompido. Logo as ruas foram invadidas por pessoas, que tomaram os táxis e os ônibus, já parados pelo tráfego. A solução foi caminhar. Descendo a Terceira Avenida, o primeiro susto: uma das duas torres que até então estavam lá, à vista, desaba numa nuvem de poeira.
Nenhum barulho, nenhuma alteração. As lojas ainda estão funcionando, a bilheteria do cinema ainda vende ingressos. Até que as primeiras notícias começam a chegar pelo boca-a-boca. Realmente, a torre desabou. Começam a se formar filas nos poucos telefones públicos que ainda funcionam. Os primeiros gritos.
Todos tentam em vão falar nos celulares, que estão fora do ar. Um casal atravessa a rua correndo e chorando. Dois amigos se abraçam com lágrimas nos olhos. Uma senhora leva as mãos à cabeça e pergunta: "Por quê? Por quê?" Grupinhos assustados vão se formando nas esquinas.
Já na altura da Quinta Avenida, com uma visão mais completa da torre que sobrou, tomo o segundo susto. É como uma batida de carro. Um ruído surdo e seco, alguns berros. Um silêncio. E então a correria nas ruas, o desespero, o pânico. A segunda torre acaba de desabar, ali, aos olhos de todos, em nova nuvem de poeira.
Consigo chegar à parte de trás do que ontem de manhã era o prédio mais alto da cidade. O cenário é de guerra. Todos os edifícios num raio de três quarteirões sofreram pelo menos algum abalo. Alguns ainda correm risco de desabamento.
A poucos passos de uma das entradas da segunda torre do prédio, um telefone público teve o gancho arrancado. Sobre o aparelho, um saquinho com um resto de maconha. No chão, perto de um dos carros queimados, um chapéu de policial pisado faz companhia para duas botas destruídas numa poça de sangue.
Perto das 13h, com o fogo aparentemente controlado e sem perspectivas de novos desabamentos, uma nova leva de salvamento, a quarta do dia, começa a chegar. São dezenas de homens, que andam juntos arrancando mais poeira do chão, numa imagem que remete ao Velho Oeste.
Batalhões de voluntários, bombeiros, médicos e policiais passam a se aproximar em blocos do prédio para verificar se há sobreviventes. Mas não há. Em minutos, macas começam a ser tiradas. São corpos esmagados, na maioria policiais e bombeiros, cobertos de pó branco e sangue.
Nesse momento, sou expulso do lugar.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200143.htm

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GUERRA NA AMÉRICA
Na torre, "o chão parecia uma geléia", conta paulista
Multidão se espreme em escadas cheias de fumaça; saídas estavam bloqueadas
Elevadores caíram; ordem era correr, com mãos ao alto, sem olhar para trás

SÍLVIA CORRÊA
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"O prédio tremeu. O chão parecia uma geléia. Levantou um metro para lá, um para cá. As pessoas caíam. As coisas caíam. Foram uns dez segundos eternos."
Foi essa a sensação do paulista Guilherme Castro, 27, operador de uma corretora do mercado financeiro que trabalhava no 25º andar da torre 1 do World Trade Center ontem de manhã. O tremor que ele narra foi consequência do impacto causado pela batida do primeiro avião.
O andar era aberto, sem divisórias. Havia mais de 1.500 pessoas nele. De repente, a explosão.
"Foi muito forte. As pessoas se agarravam às coisas e se olhavam, desesperadas. Eu tinha certeza de que era uma bomba, mas não sabia se vinha de cima ou de baixo. O prédio balançou, inacreditavelmente. Vum... Vum... Tive certeza de que ia morrer", relatou ele.
O desespero aumentou quando o tremor passou. As janelas do prédio não abriam. "Tentei quebrar uma delas. Queria olhar para fora e ver o que estava havendo. Outras pessoas tiveram a mesma reação, mas não conseguíamos romper os vidros", continuou Raul Paulo Costa, 33, também operador da Garban Intercapital, que estava no mesmo 25º andar.
"Sem abrir o vidro, olhei pela janela e vi coisas caindo. Pareciam pedaços do prédio, pessoas, sei lá. Saí correndo, procurando a escada. Deixei tudo para trás", completou Castro. Na mesa ficaram documentos da empresa e de clientes, chave de casa, telefone.
Na fuga, outro capítulo do pânico. Segundo Costa, havia algumas saídas fechadas, o que causou tumulto nos andares. Mas as pessoas acharam outras rotas e, em segundos, as escadas lotaram.
"As pessoas pediam calma. Choravam. Havia muita fumaça e era difícil respirar", narrou Castro, que envolveu a cabeça na camisa como a maioria dos que tentavam escapar pelas escadas.
Para ele, foram 20 minutos até o térreo. Para o colega Costa, foi uma hora. "Foram os minutos mais longos da minha vida. Depois de um certo tempo, não acreditava mais que fosse sair vivo daquele horror", descreveu Costa.
No térreo, os brasileiros viram, em pedaços, as mais claras imagens da tragédia. "Estava tudo destruído. Os elevadores despencaram. Estavam com as portas em pedaços, amassados. No chão, tinha água, fios, vidro. Partes do teto estavam caídas e havia muita, muita poeira", contou Castro, nervoso, seis horas depois.
As pessoas foram orientadas a deixar o prédio pelo hotel Marriot, que ficava no térreo do WTC. Já havia feridos no saguão. Os policiais gritavam. "Todo mundo correndo. Mãos nas cabeças e sem olhar para trás", narraram os brasileiros, reproduzindo as ordens.
Castro e uma multidão deixaram o WTC em direção a Battery Park. "De repente, um míssil. Eu tinha certeza de que era um míssil e que ia cair na minha cabeça. Aí, outra explosão." Era o segundo avião. Atingia a segunda torre. Em minutos, ela desabaria.
Costa, o outro brasileiro, ainda estava preso em uma das escadarias de incêndio. "No 13º andar, as portas também estavam travadas. As pessoas começaram a subir, descer, subir. Ficaram desesperadas. Elas se amassavam naquele corredor. Algumas desistiam no meio do caminho, tamanha a dificuldade para respirar", disse ele.
O brasileiro foi achando outras escadas, outras rotas de fuga. No 3º andar, a água já tomava conta do chão e estava na altura de seus joelhos. Foi escorregando, agarrado a um corrimão. Foi caindo, resvalando, tentando. Saiu.
Ambos os brasileiros foram a pé para casa. Correram. Não esperaram assistência médica.
Castro soube no caminho que as torres haviam caído. Costa correu 40 quadras até chegar em casa e se sentir seguro.
Às residências, ambos chegaram em pânico. Ligaram para o Brasil, mas mal puderam falar. Ficaram imóveis, "na frente da TV, revendo tudo desabar".
No final do dia, ainda não tinham notícia de alguns amigos. Acham que muitos não conseguiram escapar. Ao trabalho, não sabem quando voltam. Os escritórios não existem mais.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200146.htm

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HORROR EM WASHINGTON
Governo fecha Casa Branca, Congresso e prédios públicos
Vice-presidente e integrantes do Conselho de Segurança Nacional se refugiam em prédio subterrâneo secreto
MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Uma sensação inédita de vulnerabilidade atingiu ontem o centro político e militar dos EUA, nação mais poderosa do mundo.
Minutos depois do ataque terrorista que destruiu parte do Pentágono, o governo decidiu fechar a Casa Branca, o Capitólio e todos os outros prédios públicos da capital do país. O vice-presidente, Dick Cheney, líderes no Congresso e integrantes do Conselho de Segurança Nacional foram removidos para um prédio subterrâneo secreto.
Jatos F-16, da Força Aérea norte-americana, sobrevoaram o centro da cidade. Como todos os vôos comerciais no país foram suspensos e não havia certeza com relação ao número de aviões sequestrados, os pilotos militares receberam a missão de derrubar qualquer aeronave que se aproximasse da cidade.
Ofegante, depois de descer cinco lances de escadas do prédio que abriga a sede do Federal Deposit Insurance Corporation, a quatro quarteirões da Casa Branca, a fiscal de contabilidade Debby Carlson, 42 anos, juntou-se na rua a uma multidão de funcionários públicos que, calados, olhavam para o céu. Quarenta minutos antes, o Pentágono fora atacado. Quase duas horas antes, dois outros aviões atingiram as torres do World Trade Center, em Nova York, derrubando-as mais tarde.
"Disseram que tem outro avião vindo", gritou. "Agora eles querem a Casa Branca", alertou. "Eles", na visão de Carlson, são os terroristas. "No dia em que eles destruírem Washington, será o fim do mundo livre."
Pessoas andavam, a esmo, com crachás pendurados. Outros tentavam, sem sucesso, usar celulares. No início, acreditava-se que uma bomba teria explodido no Congresso e que o Departamento de Estado estaria em fogo. As informações, mais tarde desmentidas, ajudaram a elevar o pânico.
As autoridades decretaram estado de emergência na cidade. Operações do Metrô foram interrompidas durante um período. O trânsito, restrito por dezenas de bloqueios de segurança, ficou caótico. Ninguém podia chegar a uma distância inferior a três quarteirões da Casa Branca.
Os museus ao longo da longa área verde conhecida como "Mall" não funcionaram, assim como a maioria das embaixadas. Turistas, atônitos, pediam ajuda a policiais com metralhadoras.
A fumaça vinda do Pentágono, do outro lado do Rio Potomac, que separa Washington do Estado da Virgínia, misturava-se à imagem do Monumento de Washington, obelisco da cidade. "A cidade está mais tensa do que durante a crise dos mísseis com Cuba, em 1962", disse o senador Chuck Grassley, republicano de Iowa que misturou-se à multidão. "Só que, agora, fomos atingidos."
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200155.htm

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No Pentágono, mesa é usada como escudo
GABRIELA ATHIAS
ESTELA CAPARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como em todas as manhãs, o engenheiro americano Gregory Stotmayer, 52, estava em sua mesa começando mais um dia de trabalho no Prédio Federal número 2, mais conhecido como "Navy Annex", quando ouviu um estrondo.
Sua primeira impressão foi que "algo muito grande" havia se chocado contra alguma construção do bairro, já que do escritório dele não era possível ver a queda do avião sobre o prédio que até então simbolizava a força da América. "Nunca imaginei que pudesse acontecer algo com o Pentágono", disse ele da sua casa, em um subúrbio de Washington, à Folha, por telefone.
"Eu nunca tinha estado em uma explosão antes. Para mim, a impressão foi de um barulho seco e alto de algo se chocando contra uma parede", disse Stotmayer.
"Fomos retirados do prédio em menos de um minuto e só na saída é que eu percebi que o Pentágono havia sofrido um atentado", relatou o engenheiro.
"Enquanto estávamos no prédio, nenhum de nós havia imaginado que a explosão pudesse ter algo a ver com o Pentágono. De lá só foi possível ouvir a explosão", completou Stotmayer.
Ele disse não ter "entrado em pânico", mas reconheceu ter sido surpreendido com o alcance dos atentados terroristas contra civis. "Pela primeira vez pensei no que pode acontecer contra nós [americanos]."
"Nós não sabíamos se deveríamos sair ou ficar no prédio. O problema é que, em uma situação como essa, você não sabe o que vai ocorrer no próximo minuto", completou John Damoose, um funcionário do Pentágono que estava em reunião quando ocorreu o atentado.
Para Damoose, o pior momento foi quando ele deixou o prédio e andou pela ciclovia Fort Meyer Drive: "Você podia ver pedaços de avião".
Ainda no Pentágono, a reação do engenheiro Rick Watson, 30, para quem o estrondo se assemelhou a um terremoto, foi correr para debaixo da mesa. Tom Seibert, 33, também engenheiro, disse que agiu por impulso: "Nos jogamos no chão por instinto".
Apesar da tensão e do clima de terror, a retirada dos funcionários do Pentágono foi feita de forma calma, organizada e durou poucos minutos.
"Quando pediram para deixarmos o prédio, já sabíamos o que havia acontecido no World Trade Center, em Nova York. Em três minutos estávamos todos na rua", disse uma funcionária que não quis se identificar.
Já na rua, as pessoas perceberam que teriam dificuldades de voltar para casa. A maioria das linhas de ônibus dessa região de Washington tem seu ponto inicial no Pentágono. Como a região foi interditada pela polícia, os ônibus não puderam trafegar, e as pessoas não souberam para onde se dirigir para pegá-los.
Com agências internacionais.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200156.htm

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Recordacoes de um 11 de Setembro: impossivel esquecer - Paulo Roberto de Almeida


Recordações de um 11 de Setembro: impossível esquecer

Paulo Roberto de Almeida

Todos os americanos, ou praticamente todos, sabem o que estavam exatamente fazendo na manhã do dia 11 de setembro de 2001, quando o primeiro avião, e depois o segundo, foram lançados contra as duas torres gêmeas do World Trade Center, em Manhattan, New York. Todos sabem porque a vida parou naquele instante, e os Estados Unidos, o mundo, nunca mais foram os mesmos. Todos se recordam o que estavam fazendo quando sua atenção foi chamada, na rádio ou na televisão, pelas primeiras imagens do fogo e fumaça saindo das duas torres, e o pânico instantaneamente criado. Todos se recordam, pois que seria impossível não tomar conhecimento, e mesmo hoje, catorze anos depois, é impossível esquecer o que houve, o que estávamos fazendo, o que fizemos em seguida, o que pensamos naquele momento, o que pensamos depois, como reagimos, e como passamos a viver a partir de então, com um pouco de medo, e uma imensa tristeza pela dimensão da tragédia humana, e pelo choque político então criados, e que nunca mais se desfizeram. Todos se recordam, todos se lembram.
Eu me lembro exatamente do que estava fazendo naquela manhã ensolarada, tendo saído de carro, com Pedro Paulo ao lado, para deixa-lo na Universidade de Maryland, em College Park, onde ele cursava arquitetura, para depois voltar a Washington, DC, onde iria direto para a Embaixada do Brasil, na Massachusetts Avenue. Como sempre faço, estava conectado na National Public Radio, ou alguma outra rádio, mas sempre em um programa de notícias, e o mais provável é que fosse a NPR. Tínhamos recém saído de nosso apartamento no norte da Virgínia, bem perto do Aeroporto de Alexandria, e atravessávamos a ponte da 495, que entra em DC, antes de se dirigir a Maryland.
No meio da ponte, o radialista anunciou que um avião havia acabado de se chocar com um prédio em Nova York, e se imaginava naqueles primeiros momentos que pudesse ser algum acidente involuntário, algum erro de pilotagem ou algo do gênero. Eu me lembro de ter comentado com Pedro Paulo: “Não, isso não me parece acidente”, e imediatamente pensei no terrorismo islâmico, pois já estávamos há muito tempo com o Al Qaeda no Afeganistão, sob abrigo dos talibãs. Ficamos sintonizados na rádio, mas continuando em nossa rota, quando a notícia fatídica pipocou novamente na rádio: um segundo avião havia se chocado contra o que já era identificado como a segunda torre gêmea do World Trade Center. Não havia mais dúvida possível: era um ataque terrorista. No intervalo já tínhamos telefonado para Carmen Lícia, para que ela ligasse na CNN, para acompanhar a história. Dessa parte eu não me lembro se consegui falar com ela imediatamente, ou depois, em todo caso, ainda no carro, a caminho da Universidade de Maryland.
Mais alguns minutos, outra fatalidade: um ataque tinha sido feito nas imediações de nosso apartamento, na Virgínia do norte, muito perto de Washington. Carmen Lícia disse, depois, que os vidros do nosso apartamento tremeram, no momento do choque, mas ela não sabia o que era, até tomar conhecimento do terrível ataque ao Pentágono, pelos imensos rolos de fumo que começaram a se elevar, e ficaram imediatamente visíveis da janela do nosso apartamento. O cheiro de incêndio se tornou perceptível, e as sirenas começaram a emitir seus sons lancinantes de todos os lados. E todos os meios de comunicação ficaram absolutamente focados nos dois acidentes, nos dois atentados, nas duas grandes cidades americanas. Não se sabia ainda do quarto avião, que caiu na Pensilvânia, notícia que veio um pouco mais tarde, mas ainda nessa mesma manhã.
Nessa altura, eu já havia deixado Pedro Paulo na universidade, recomendado que não saísse até eu vir novamente busca-lo, mas que provavelmente eles não teriam aula nesse dia. Corri, ou voei, para a Embaixada, liguei a TV e telefonei para casa. Carmen Lícia estava falando com sua mãe, em Porto Alegre. O mundo todo parou para acompanhar o incêndio nas torres gêmeas, e as imagens do Pentágono, imediatamente cercado pela segurança. Todos estávamos atônitos, quando uma das torres começou a cair, levantado aqueles rolos imensos de fumaça e poeira. Logo em seguida a outra. E o Pentágono ainda em chamas, o cheiro de queimado se espalhando paulatinamente pelos arredores, a despeito de toda a água e produtos químicos lançados pelos bombeiros. O cheiro persistiu durante praticamente três dias em casa. Impossível esquecer.
Todo o resto é história, e tudo o que se escreveu, tudo o que se disse, tudo o que se investigou e que se relatou, desde os primeiros dias, tudo isso apenas acrescenta sobre a memória das primeiras horas, daquele dia, daquelas imagens. Na verdade, nunca pudemos ver o Pentágono semidestruído: os militares cobriram o ponto de impacto e imensos painéis de madeira interditavam uma visão adequada daquele imenso prédio horroroso, de estilo stalinista, mas imponente. Assim foi. Impossível esquecer.

Hartford, 11 de setembro de 2015, 2 p.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: a anti-politica de Reinaldo Azevedo (2): meus comentarios

Esta postagem tem o objetivo precípuo de comentar, ou de responder, se assim é o caso, à postura do jornalista Reinaldo Azevedo, tal como transcrita aqui nesta postagem precedente:

http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/eleicoes-2014-anti-politica-de-reinaldo.html

Creio que não disse tudo o que penso, pois me ative tão somente a suas palavras, devidamente reproduzidas seletivamente aqui abaixo. Pretendo voltar ao assunto assim que possível.
Paulo Roberto de Almeida


Eleições 2014: contra a anti-política
Comentários a postagem de Reinaldo Azevedo

Paulo Roberto de Almeida

Tenho por hábito debater ideias, não pessoas, mas as ideias só aparecem quando emitidas por alguma pessoa, não é verdade? Sobretudo quando as pessoas são influentes, suas ideias acabam tendo um impacto maior do que a simples emissão de ideias contrárias por algum opositor menos conhecido daquelas ideias, como este que escreve estas linhas. Não importa, consoante meu hábito, vou expressar o que penso a respeito de uma opinião emitida pelo conhecido jornalista Reinaldo Azevedo, nesta postagem: Por que jamais votaria em Marina Silva — nem que ela viesse a disputar o segundo turno com Dilma. Ou: Voo cego de um avião sem dono -  Reinaldo Azevedo | VEJA.com
Como é meu hábito, destaco as frases que me parecem carecer de rigor analítico, ou que contradizem as próprias posturas do analista, e acrescento meus comentários logo em seguida. Desculpo-me, em todo caso, com os poucos leitores deste blog, em especial com aqueles que o frequentam para temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, por afastar-me, uma vez mais, do interesse central do blog. É que antes de ser um diplomata, ou um estudioso desses temas, sou um cidadão consciente do que está em jogo na política brasileira, que interessa a todos, direta e indiretamente, e que nos afeta a todos. Minhas preocupações não têm absolutamente nada a ver com meu trabalho profissional ou acadêmico, mas elas têm tudo a ver com os destinos do Brasil.

RA: “Também é impossível [votar nos petistas]. Os petistas me incluíram numa lista negra de jornalistas.”
PRA: Não se deve tomar questões políticas em bases pessoais, mas o fato descrito apenas corrobora, na prática, uma das impossibilidades de se votar nos petistas. Eles são inerentemente, geneticamente, totalitários. Portanto, estão descartados absolutamente, e fim de papo.

RA: “Mas, reitero, nem tudo o que não é PT me serve — e Marina não me serve.”
PRA: Pode ser, mas em política existem poucos absolutos e nem sempre se pode seguir a lógica. Em todo caso, já que a recusa aparece num par, nem um, nem outro, então é preciso examinar as razões para recusar um e outro, e ver se, entre os dois – já que fatalmente um dos dois candidatos assumirá o cargo – haveria um mal menor. Minha posição é aqui de pura “economia” de meios: a economia é a arte de tentar fazer o máximo com o mínimo, ou seja, de atender desejos infinitos com meios finitos. Só posso compreender a postura de Reinaldo Azevedo se nenhuma das duas possibilidades consegue atender qualquer critério de governança.

RA: “Marina Silva não é candidata a presidente da República, mas a papisa de uma seita herética — e suas heresias são praticadas contra a democracia representativa.”
PRA: Isso é absolutamente ridículo, e se trata apenas de uma figura de estilo do jornalista. O que quer que pense Marina, ela está obrigada a seguir as regras da legislação eleitoral: se for eleita, tomará posse e governará com as instituições que existem. Se tentar dar golpe branco, ou contornar a Constituição, pode ser objeto de um processo político e ser impedida, como aliás já foi feito com um presidente.

RA: “Marina... pretende governar com o apoio de Lula e de FHC. Ninguém... perguntou — e não sei se vão perguntar — por que não se fez antes se é tão fácil.”
PRA: Se trata de uma pretensão; se vai conseguir ou não é outra questão. Mas é uma pretensão tão legítima quanto governar apenas com a extrema esquerda e a extrema direita. Qual é o problema? O Congresso dirá o que é ou não possível na governança da presidente Marina. De todo modo, ela aparece na política justamente para se colocar numa posição independente, mas não oposta absolutamente, ao PT e ao PSDB, razão pela qual acena com esse duplo apoio (que pode até vir, dependendo do oportunismo de cada um desses caciques). Ninguém está dizendo que é fácil ou que será possível, mas essa é a pretensão. Se formos verificar, PT e PSDB são dois irmãos siameses na política brasileira, ambos objetivamente socialdemocratas, embora não sejam nem um pouco siameses organicamente. O PT é um partido neobolchevique e, tendencialmente ao menos, totalitário, em espírito e métodos, além de ser intrinsecamente corrupto, não no sentido em que são corruptos os demais representantes da classe política, inclusive o PSDB, mas no sentido de ser uma associação mafiosa e orgulhosa de sê-lo.
A história política brasileira teria sido muito diferente se os dois siameses políticos tivessem se unido num programa reformista de esquerda, como foram outros socialdemocratas ao redor do mundo. Por que não fizeram? Por razões basicamente da personalidade dos líderes do PT, dois especificamente, por obsessões psicológicas e patológicas de um e outro, não por oposição das lideranças do PSDB. Ambos, em consequência, tiveram de governar com o que há de pior na política brasileira, à direita e à esquerda, embora eu considere o PT, igualmente, uma coisa muito ruim. Mas, não se faz história e políticas com hipóteses, e sim com fatos. O fato é que os dois siameses ficaram inimigos – mas por culpa apenas de dois mentecaptos do PT – e a história é essa que temos pelos últimos vinte anos.
A Marina vai realizar o milagre de uni-los? Provavelmente não, mas ela poderá, se eleita tenta dialogar com as duas forças, e terá de ser obrigada a isso, quer ela queira ou não. Este é um fato, embora eu esteja antecipando. O jornalista Reinaldo Azevedo antecipa o contrário, mas não explicitou suas razões de descrença.

RA: “Imaginar que PT e PSDB possam estar juntos num governo implica ignorar, logo de cara, o fato de que esses partidos têm vocações e fundamentos que são inconciliáveis. Se o ideário, hoje, dos tucanos é um tanto nebuloso aqui e ali — especialmente na área de valores —, os do PT são muito claros.”
PRA: Concordo na teoria, discordo completamente na prática. Nem o PSDB consegue socialdemocrata como gostaria, pois é obrigado a trabalhar com a direita, por um lado, e tem a oposição da esquerda, por outro, nem o PT consegue implementar a sua agenda bolchevique celerada no Brasil, a não ser marginalmente, pois a sociedade brasileira não aceita seus métodos e seus pendores totalitários. Na prática, portanto, os dois acabam fazendo uma socialdemocracia incompleta, no caso do PSDB, ou deformada, no caso do PT, pois não conseguem chegar ao final de seus propósitos ou vocações. Impressiona-me o fato de que Reinaldo Azevedo, tão fino analista da política brasileira, não consiga ver isto.

RA: “Estou fora.
Não caio nessa, sob pretexto nenhum — nem mesmo ‘para tirar o PT de lá’. Na democracia, voto útil é voto inútil. Se Deus me submetesse à provação — espero que não aconteça — de ter de escolher entre Dilma e Marina, escolheria gloriosamente ‘nenhuma’!”
PRA: Estamos aqui no cerne da questão, e RA decepciona mais uma vez, pela sua falta de lógica e de raciocínio. Vamos um desses exercícios de lógica elementar:
Premissa 1: A candidata A, ou D, é um desastre completo, assegurado.
Premissa 2: A candidata B, ou M, pode ser um desastre, não sei se completo ou incompleto, mas é uma possibilidade, não uma certeza.
Conclusão: Vamos tentar barrar a candidata A.

Esta é a maneira que eu penso. Diferente, portanto, de RA, que parece pensar:
Premissa 1: A candidata A, ou D, é um desastre completo, assegurado.
Premissa 2: A candidata B, ou M, também é, e isto transparece de suas falas.
Conclusão: Estou fora, portanto, e seja o que Deus quiser.

Como se vê, trata-se não de um exercício de política, mas de anti-política, com base não num julgamento ponderado dos processos e dos condicionantes da política brasileira, mas com base numa avaliação pessoal, subjetiva, da mentalidade de um dos atores, fiando-se nas suas palavras para tirar conclusões definitivas. Isso é política?

RA: “...eu, que sou um partidário da democracia representativa e das instituições democráticas, deixarei claro, nessa hipótese, que estarei sem candidato no segundo turno. Mas torço e até rezo para que o Brasil seja poupado.”
PRA: RA consegue retroceder ao período anterior a Maquiavel, não o anjo torto da política, mas o fino analista da política florentina, ou melhor, o homem que queria salvar a Itália dos bárbaros invasores e que, mesmo sendo um republicana humanista, aceitava até um tirano eventual, desde que fosse para assegurar ordem e concórdia, como ele dizia. Ou seja, entre dois males, ele escolhia aquele que garantisse o funcionamento normal da pátria, não a anarquia e a desordem.
Ora, o que temos hoje, assegurado? Anarquia e desordem, tudo o que RA despreza e abomina, e eu também. Marina seria essa tirana salvadora? Longe disso. Ela apenas permitiria tirar os bárbaros que já estão entre nós, e que ocupam o poder desde doze anos, e que pretendem continuar mais alguns anos, para implementar todas aquelas vocações e propósitos que RA abomina. Marina faria o mesmo que estão fazendo os bárbaros? Dificilmente, até porque não dispõe de uma associação para delinquir, o que é o caso dos bárbaros atuais, e que precisará governar com uma composição de pequenos e grandes conselheiros do príncipe, talvez até alguns bárbaros, mas não será a mesma associação que pretendem manter o monopólio do poder.
Seria muito difícil a RA deixar os seus fantasmas de lado e fazer uma análise de custo-benefício político, como Maquiavel o faria? Seria ele o anti-Maquiavel ingênuo?

RA: “Marina Silva? Não! Muito obrigado! Não quero! “Ah, mas ela pode ser eleita e fazer um grande governo…” É, tudo pode acontecer. Não tenho bola de cristal. Quando voto, levo em conta o passado dos candidatos, suas utopias, suas prefigurações, sua visão de mundo, o apreço que têm pela democracia, a factibilidade de suas propostas.”
PRA: RA parece aqui repetir uma famosa tirada que inventaram a propósito de Jânio Quadros, provavelmente mentirosa, mas interessante. Jânio, essa Marina Silva avant la lettre – mas que falava melhor e se fazia entender, nos seus propósitos simples de varrer a corrupção da política, ainda que fosse um louco completo – teria dito uma vez: “Fi-lo porque qui-lo!” É o que está dizendo RA: não gosto, não quero, não vou, estou fora! Isso é política? Sinto muito, mas é uma renúncia inaceitável da política, inclusive porque não é tomada em bases morais – dessas que tem certos objetores de consciência que não querem, não participar de uma guerra, mas de entrar no exército – mas em bases puramente individuais e subjetivas. Ele já chegou à conclusão, por todas as evidências que a candidata não se cansa de confirmar, de que ela é um desastre – o que pode ter o assentimento de muitos – e aí ele, não recomenda mas, adota a postura de se eximir desse cenário sujo e desagradável que é a política real.

RA: “Os idiotas que acham que sou antipetista a ponto de votar até num sapo se o PT estiver do outro lado nunca entenderam direito o que penso. Em dilemas que são de natureza moral, não havendo o ótimo, a obrigação é escolher o caminho menos danoso. Na democracia, felizmente, temos a possibilidade de recusar o ruim e o pior.”
PRA: RA não deixa entender exatamente o que pensa, apenas suspeitamos que ele seja contra uma e outra. Não creio que o dilema seja moral, pois o que está em jogo é apenas a governança do Brasil, que poderá continuar nas mãos dos neobolcheviques – que se esforçarão, mas não conseguirão perpetrar todas as suas maldades – ou poderá passar para as mãos de uma iluminada, que entende pouco da máquina do governo, não dispõe de uma associação para delinquir atrás de si, e poderá demonstrar toda a sua incompetência escolhendo os conselheiros e determinando as políticas que sua pouca preparação lhe permitir. Repito RA: “não havendo o ótimo, a obrigação é escolher o caminho menos danoso.” De acordo, mas RA não está escolhendo isso, e sim lavando as mãos, como Pôncio Pilatos; ele até poderá passar para a história, como o homem que anteviu todos os desastres e foi “sábio” o bastante para não escolher nenhum dos dois caminhos. Pena que a história não é escrita por antecipação, e sim como resultado das ações dos homens, e mulheres, dentro de circunstâncias determinadas, um pouco como escreveu o Marx da introdução ao 18 Brumário, que nisso conseguiu ser um pouco maquiavélico. Ou seja, existem a fortuna e a virtù. Na ausência da segunda, confiamos na primeira, esperando que a conjunção dos homens de bem consiga superar a ausência das virtudes, e contornar os defeitos, dos condottieri que inevitavelmente estarão à frente da República.
Maquiavel não se eximiu. Mesmo no exílio da política prática, ele continuou a pensar, e a oferecer suas receitas de política prática que encontrava necessárias para salvar a Itália do desastre. RA não nos convida a isso; ele está dizendo a Maquiavel que ele pode ficar na solidão da sua casa, lendo seus livros, sem se envolver. Ou então, quando Maquiavel vai à taverna, ele o aconselharia a dizer a seus companheiros de vinho que não escolham nada, que não façam nada, que deixem o rio caudaloso invadir as propriedades e arrastar as pessoas. Ele vai esperar que o rio passe...
Para mim, isso não é política, mas apenas anti-política.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 25 de agosto de 2014

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Fidel Castro e Hannah Arendt em Princeton - Rafael Rojas (El Pais)

La noche que Hannah Arendt escuchó a Fidel Castro

El líder cubano dictó una conferencia magistral en la Universidad de Princeton en 1959

Los archivos de la Universidad de Princeton guardan una historia que ayuda a comprender la deriva totalitaria de la Revolución Cubana y la difícil lectura que hizo Occidente de ese fenómeno latinoamericano y caribeño. En abril de 1959, el primer ministro de la nueva Cuba, Fidel Castro, y su delegación se desviaron de su itinerario de Washington a Nueva York en una primera visita a Estados Unidos, organizada por la American Society of Newspapers Editors, y pasaron un par de días en la Universidad de Princeton.
La visita de Castro a Princeton fue facilitada por varios profesores e instituciones de la Universidad: el historiador Roland T. Ely, estudioso de la economía cubana y autor de los clásicos La economía cubana entre las dos Isabeles (1960) y Cuando reinaba su majestad el azúcar (1963); el embajador Paul D. Taylor, presidente de la American Whig Cliosophic Society, que extendió la invitación a los cubanos, y la Woodrow Wilson School, cuyo programa de Civilización americana había organizado por esos mismos días de abril de 1959 un seminario titulado The United States and the revolutionary spirit.
Castro pronunció la conferencia magistral de ese seminario, el lunes 20 de abril de 1959, en la noche. Según las notas que tomó el embajador Taylor, el premier cubano comenzó disculpándose de tener que hablar ante un grupo de expertos y propuso que lo escucharan como a un revolucionario práctico, como a alguien que no estudiaba sino que producía una revolución. Al decir de Castro, la Revolución Cubana había derribado dos mitos de la historia latinoamericana del siglo XX: que era posible vencer a un Ejército profesional, poseedor de armas modernas, y que también era posible revolucionar al pueblo cuando este no estaba hambriento.
Fidel Castro sostuvo que la Revolución Cubana no alentaba el choque de clases
La segunda observación es interesante, a la luz del relato oficial de la historia cubana, que, en el último medio siglo, ha insistido en presentar la sociedad de la isla, anterior a 1959, bajo el triple flagelo del “hambre, la miseria y la explotación”. Curiosamente, en abril de 1959, Fidel Castro decía a los profesores y estudiantes de Princeton que una de las originalidades de su revolución era que había triunfado en un país latinoamericano con un relativo bienestar social. La cubana, según aquel Castro, había sido más una revolución política y moral contra una dictadura corrupta que una rebelión de clases, de pobres contra ricos. Por eso había sido apoyada por el “95% del pueblo”, generando un fenómeno de “unanimidad de opinión”, inédito en la historia de Cuba.
Este análisis permitía a Fidel Castro sumarse al debate sobre Estados Unidos y el “espíritu revolucionario”, entre historiadores, filósofos, sociólogos y economistas de Princeton. El tema central en aquel seminario y en buena parte del pensamiento filosófico e histórico, en Estados Unidos durante la Guerra Fría, era el paralelo entre las revoluciones norteamericana, francesa y rusa, como modelos contrapuestos de cambio social. Según las notas de Taylor, en su conferencia Fidel Castro sostuvo que la cubana se inscribía más en la tradición de 1776 que de 1789 o 1917 porque no alentaba el choque de clases. Tampoco proponía la confrontación con Estados Unidos, ya que preservaba la distancia del comunismo y sugería una defensa de los intereses nacionales de Cuba que Washington podía aceptar porque se enmarcaba en su propia tradición independentista.
Uno de los profesores que intervino en ese seminario y que, probablemente, escuchó a Fidel Castro aquella noche del 20 de abril de 1959 fue la filósofa alemana Hannah Arendt. Justo en 1959, la autora de Los orígenes del totalitarismo (1951) y La condición humana (1958) había sido contratada como profesora en Princeton y comenzaba a investigar la historia de las revoluciones francesa y norteamericana. La ponencia que Arendt presentó en el seminario fue el punto de partida de su ensayo On revolution (1963). En los agradecimientos de este libro, Arendt comentaba que la idea del volumen había surgido durante aquel seminario sobre “Estados Unidos y el espíritu revolucionario”, organizado por el programa de Civilización americana de la Woodrow Wilson School de Princeton.
Para Arendt, la revolución y la guerra son dos fenómenos radicalmente distintos
En su libro, Arendt sostenía que el enlace histórico entre la revolución y la guerra, dos fenómenos, a su juicio, radicalmente distintos, había distorsionado los objetivos básicos de la tradición revolucionaria moderna, que eran la libertad y la felicidad. La ventaja que, a su entender, conservaba la revolución de 1776 en Estados Unidos sobre la francesa y la rusa era que, al enfrentar la “cuestión social” de la igualdad por medio del derecho constitucional, había logrado aquellos objetivos históricos. El jacobinismo y el bolchevismo, en cambio, producían una desconexión entre justicia y ley —lo que Ferenc Feher conceptualizará luego como “revolución congelada”— que alentaba el despotismo y dilapidaba el legado moral o el “tesoro perdido” de la revolución.
A pesar de haber escrito su libro entre 1959 y 1963, en Nueva York, una ciudad donde se debatió intensamente la radicalización comunista de la Revolución Cubana, Arendt no hizo alusiones a Cuba o a Fidel Castro. De hecho, la filósofa solo se refería a América Latina una vez en su ensayo y lo hacía para colocar la experiencia de las revoluciones del Tercer Mundo, en el siglo XX, más en la tradición francesa y rusa que en la norteamericana. Podría elaborarse un argumento similar al de Susan Buck-Morss en relación con la falta de alusiones a la revolución haitiana en la Fenomenología del espíritu de Hegel, pero es muy probable que en aquel silencio hubiera tanto prejuicio colonial como rechazo al totalitarismo comunista, aún en una región tan dominada e intervenida por los imperios atlánticos como el Caribe.
En otros momentos de su libro, Arendt hablaba de las “dictaduras de un solo partido” y de los regímenes burocráticos de la Unión Soviética y Europa del Este como nuevas formas de tiranía. En 1963, esa parecía ser la elección racional de los dirigentes cubanos, por lo que las palabras de Fidel Castro, aquella noche en Princeton, debieron sonarle, cuatro años después, como un perfecto embuste. Según aquel Castro, la diferencia entre la Revolución Cubana y la francesa y la rusa era que, en estas, “un pequeño grupo había tomado el poder por la fuerza e instaurado una nueva forma de terror”, mientras que en aquella un pueblo entero se había movilizado por “odio a una dictadura”.
Rafael Rojas es historiador cubano. Su último libro es Los derechos del alma. Ensayos sobre la querella liberal-conservadora en Hispanoamérica (Taurus, 2014).

domingo, 1 de julho de 2012

Hong Kong (1): o ano da retrocessao a China (1997)

No dia 1ro de julho de 1997, quinze anos atrás, portanto, Hong Kong era retrocedida à República Popular da China, depois de 156 anos que o Reino Unido obteve essa colônia do então Império Qing, já decadente, e humilhado pelas canhoneiras imperialistas.
Abaixo a matéria do New York Times, de 1997, sobre sua inauguração como território autônomo dentro da RPC, um gesto que não agradou a todos os residentes locais.
Com efeito, quando visitei Hong Kong, em 2010, e conversei com os "hong konguianos" (ou que nome tiverem), senti dos mais jovens, cujos pais tinham vindo da China continental como refugiados do comunismo, que eles não se consideravam chineses, não queriam ser chineses e não pretendiam ceder um milímetro sequer de suas prerrogativas democráticas para tornar-se servos de uma das últimas ditaduras socialistas existentes na face da terra (as outras sendo, obviamente, a Coreia do Norte e Cuba, pois mesmo o Vietnã começa um exercício de liberalização política, algo ainda impensável nos resíduos do stalinismo neste nosso planetinha redondo, como diria alguém conhecido...).
Muito tempo antes, ou seja, uma década previamente à retrocessão, em torno de 1987, quando se estabeleceram as bases da transição para a soberania da RPC, e quando a glasnost e a perestrojka faziam tremer a União Soviética, eu escrevi um artigo prevendo que, ao cabo dos 50 anos então fixados para a preservação da autonomia do território, depois do seu retorno à soberania da RPC, seria, na verdade, a Hong Kong capitalista que finalmente "absorveria" a China socialista, e não o contrário. 
OK, me enganei, mas apenas porque a China socialista deu passos enormes em direção ao capitalismo, e não prevejo -- salvo a preservação de alguns bolsões de pobreza pelo interior, no Tibet e no Xinjiang, talvez -- muitas diferenças entre a antiga colônia inglesa e o continente chinês em 2047, quando essa autonomia teoricamente acaba (acredito que ela vai continuar, pois talvez o sistema político chinês, a despeito do capitalismo de mercado full scope, ainda não terá evoluído para uma plena democracia liberal).
Considero, por exemplo, sumamente errado o título do último livro de Giovanni Arrighi, grande sociólogo marxista, sobre essas transformações do mundo atual. Ele o chamou de Adam Smith vai a Pequim.
Nada mais errado. Adam Smith nunca deixou a Escócia (no sentido metafórico, claro, pois esteve em Oxford e achou uma porcaria, e também andou pela França), e nenhuma linha de seus escritos precisa ser mudada, hoje, para levar em conta o que está acontecendo na China.
Um título melhor para esse livro deveria ser, portanto, A China vai à Escócia, ou A China adota Adam Smith, ponto.
Pois é evidente, a despeito dos ingênuos que acham que a China é o que é, economicamente, graças ao seu "capitalismo de Estado". A China é o que é graças ao fato de seus dirigentes, ao terem reconhecido que a economia marxista é um completo fracasso, terem abraçado plenamente o capitalismo, tornando-se administradores do novo modo de produção (que na verdade não precisa de administradores, pois eles só atrapalham, e tomam o seu quinhão de corrupção). A dinâmica do capitalismo chinês é dada pelo setor privado, não pelo Estado, que faz o seu dever de Estado ao garantir um bom ambiente de negócios para capitalistas nacionais e estrangeiros.
Aliás, se querem a minha opinião, eu diria que a China, mesmo sem HK, é muito mais capitalista do que o Brasil, que se parece com um país socialista, ou  fascista, tal o grau de intervencionismo estatal na economia.
Com isso encerro meu longo comentário inicial, e deixo vocês com este primeiro artigo sobre Hong Kong, a ser seguido por outros.
Paulo Roberto de Almeida 

A New Leader Outlines His Vision for Hong Kong



By EDWARD A. GARGAN
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In a Reversal, G.O.P. Courts The 'Greens'
Voters in Mexico Venting Outrage at Ruling Party: Big Losses Seem Likely: Political Landscape Changing After 7 Decades of PRI's Authoritarian Control
Tainted Hero: Neighborhood Split on Tyson
Beachgoers Boiling at New York's Sewage
New Fund-Raising Questions
Officer Justified in Shooting
Agency Criticizes the F.A.A.
Robert Mitchum Dies
HONG KONG -- For the first time in Hong Kong's history a Hong Konger, Tung Chee-hwa, stepped before his people as their leader today, explaining in their own dialect of Cantonese how the onset of Chinese rule, and his stewardship of the territory, would change their lives.
In what may be the first test of China's pledge that Hong Kong would be allowed its own distinct form of government, the police allowed a demonstration by a group, the Hong Kong Alliance, that China has branded subversive. About 2,500 protesters marched, some carrying red signs saying 'Build a Democratic China' and 'Put an End to the Dictatorship in China.'
The marchers, by applying for a permit, had complied with rules in force under colonial administration; new rules restricting demonstrations had been laid down by the new legislature appointed by Beijing within hours of Hong Kong's reversion to China, and technically the marchers were not in compliance with those.
For most Hong Kongers, though, the demonstration was a sideshow to the speech by Mr. Tung, China's choice as Hong Kong's new chief executive, who for the first time outlined in detail how he planned to lead what has become a special autonomous zone of China. In a detailed review of the issues that consume Hong Kongers, Mr. Tung promised to solve the territory's housing problem -- 'the aim is to achieve a home ownership rate of 70 percent in 10 years,' he said -- as well as to reinvigorate the school system by improving teachers' qualifications and insure full day schooling at the primary level, introduce a mandatory retirement fund, and establish a government Commission for the Elderly.
'Like most people in Hong Kong,' he said, 'I am not a passer-by. Our home, our career, and our hope are here in Hong Kong. We have deep feelings for Hong Kong and a sense of mission to build a better Hong Kong.'
Then, Hong Kong's new leader laid out a vision of a Government far more involved in people's lives than the old colonial administration. Ranging from exhortations for grown children to live with their parents, to direct involvement in the housing market, to steps to build and encourage a high-tech industrial belt in the territory. Mr. Tung's governmental activism, bred from both a belief in a quasi-Confucian paternalism and the instincts acquired running a shipping conglomerate, suggests a new direction for Hong Kong, one more akin to Singapore, which he has said he admires.
Mr. Tung's address came on the first day of Chinese rule, a day marked by a blizzard of concerts, operas, martial arts displays, what was billed as the world's largest karaoke and a sky-scalding display of fireworks and laser lights, accompanied by the elegaic strains of Yo Yo Ma's cello.
Mr. Tung spoke just hours after the red flag of China was run up flagpoles across the territory, from the former British military compounds to the glittering five-star hotels on the waterfront. His address was a speech for everyone, ranging from grand themes of identity and values to daily life concerns. It was, Mr. Tung explained, a blueprint that begins charting a Hong Kong different in many ways from the one left behind by the British.
Mr. Tung made only a passing reference to the loss of democracy in Hong Kong, saying only that his government would 'resolutely move forward to a more democratic form of government in accordance with the provisions of the Basic Law,' the mini-constitution devised by Beijing for Hong Kong.
China's President, Jiang Zemin, also addressed Hong Kong's elite gathered at the new convention center, in a speech intended both to reassure Hong Kongers and to confirm his own stature as the man who oversaw the end of colonial rule.
Speaking in the Mandarin dialect of northern China, Mr. Jiang repeatedly told Hong Kongers that they were to govern themselves, that their fate was in their own hands, that Hong Kong, a place so utterly different from the rest of China, would chart its own course.
'Hong Kong will continue to practice the capitalist system,' declared Mr. Jiang, as the members of the new government, the territory's multitude of tycoons, its social elite and a bevy of foreign dignitaries listened, 'with its previous socioecoomic system and way of life remaining unchanged and its laws remaining basically unchanged while the main part of the nation persists in the socialist system.'
In an apparent test of the right to demonstrate, the group of protesters, organized by the Hong Kong Alliance, marched across through central Hong Kong this afternoon. Like a rally of democratic protesters who climbed the Legislative Council building just after midnight this morning, they were given enough leeway by the authorities so that no confrontation occurred.
The police seemed to handle the march in the same way they had in the past, even though new civil order legislation gives the government a legal means to block a demonstration on the basis of a threat to China's national security.
The march was relatively small by Hong Kong standards. 'Today we are here to fight for democracy within China,' said Lee Cheuk-yan, one of the organizers. 'We are fighting for democracy now as a part of China, from within China for the first time. I think that's very significant.'
Mr. Lee said he was 'warned' by the police that the march had exceeded the 2,000 demonstrators specified in its application, reaching what the police estimated to be about 2,500 marchers. Mr. Lee said he responded that the group had actually only reached about 2,300, not too much above the original number expected.
However, senior superintendent Gregory Lam, said the police had not issued a warning but had simply pointed out that the march had exceeded the number in the application and asked the group to try not to let the demonstration grow any larger.
'There was no problem,' Mr. Lam said. 'We estimated the crowd at 2,500. They thought it was about 2,300. We don't want it getting too large and we told them that.'
No effort was made to break up the march, which soon dissipated.
Mr. Tung, who has come under considerable criticism for imposing new constraints on civil liberties, has struggled in the last six months since Beijing named him chief executive to overcome skepticism here about his loyalties and motives.
Some of the questions surrounding Mr. Tung's autonomy from Beijing stem from China's bailout of his virtually bankrupt shipping company in the 1980's, a financial rescue he has never explained. Indeed, he has refused repeatedly to explain the details of that arrangement although he insists it was, in his words, a purely 'commercial' transaction.
As one friend of Mr. Tung put it, however, 'he knows very well that Beijing saved his company. They haven't forgotten and he hasn't either.'
He isalso immersed in the West, having spent six years in England. He went on to the United States where he spent a decade, working mostly for his father's shipping company. While there, and during his tenure as chairman of his shipping company, Orient Overseas (International) Ltd., he developed and cultivated contacts with a broad network of American and European business and government leaders.
His choice by China was ordained 18 months ago during a visit to Beijing when Mr. Jiang singled him out from a group of Hong Kong luminaries for a warm handshake.
Because of his seeming eagerness to please Beijing -- Mr. Tung immediately embraced China's demand that Hong Kong's elected legislature be abolished and that a range of civil liberties be curtailed -- many Hong Kongers have come to regard him as a puppet. Indeed, in the last opinion poll taken before Mr. Tung's investiture early this morning, the outgoing British governor, Christopher Patten, won an approval rating of 79 percent, 22 percentage points above that of Mr. Tung.
Today, Mr. Tung sought to speak as his own man, committed to his Chinese heritage while engaging the virtues of the West that Hong Kong has so eagerly absorbed.
'Every society has to have its own values to provide a common purpose and a sense of unity,' declared Mr. Tung. 'We will continue to encourage diversity in our society, but we must also reaffirm and respect the fine traditional Chinese values, including filial piety, love for the family, modesty and integrity and the desire for continuous improvement. We value plurality, but discourage open confrontation; we strive for liberty, but not at the expense of the rule of law; we respect minority views but are mindful of wider interests; we protect individual rights, but also shoulder collective responsibilities.'
'I hope,' intoned Mr. Tung, 'these values will provide the foundation for unity in our society.'
Recognizing that an erosion of more traditional family values has occurred to some extent in Hong Kong, Mr. Tung insisted that government 'will encourage families to live with their elderly members.'
Hong Kong's principal English-language newspaper, The South China Morning Post, argued that Mr. Tung must pay more attention to the territory's political needs. 'His first, and most critical, political challenge,' the paper insisted in this morning's edition, 'will be to restore the degree of democracy that existed before today's swearing-in of the Provisional Legislature,' the Beijing-appointed body that will now pass Hong Kong's laws.
Reaction to Mr. Tung's speech across Hong Kong ran the spectrum from enthusiasm to doubt. Cheng Suk-hon, a 48-year-old property manager, was on his way home on the subway and said that he was impressed and reassured. 'I did watch Mr. Tung on television this morning,' he said. 'I'm confident of him governing Hong Kong. He's the first chief executive of Hong Kong so he must set a good example. He calmed people's concerns. I think he'll keep his promises.'
But Kitty Ho, a college junior who has been studying in the United States and who was scampering toward the harborfront to watch the evening's fireworks, was less charitable. 'He can say anything he wants but he won't necessarily do it,' she said. 'He's been saying the same thing over and over again. I don't trust him because he's just saying what he's been told to do.'

domingo, 4 de setembro de 2011

Nine Eleven did not change the world - Joseph Nye

OF MIGHT AND RIGHT

Ten Years after the Mouse Roared

Project Syndicate, 2011-09-01

CAMBRIDGE – Al Qaeda’s attack on the United States ten years ago was a profound shock to both American and international public opinion. What lessons can we learn a decade later?
Anyone who flies or tries to visit a Washington office building gets a reminder of how American security was changed by 9/11. But, while concern about terrorism is greater, and immigration restrictions are tighter, the hysteria of the early days after 9/11 has abated. New agencies such as the Department of Homeland Security, the Director of National Intelligence, and an upgraded Counter Terrorism Center have not transformed American government, and, for most Americans, personal freedoms have been little affected. No more large-scale attacks have occurred inside the US, and everyday life has recovered well.
But this apparent return to normality should not mislead us about the longer-term importance of 9/11. As I argue in my book The Future of Power, one of the great power shifts of this global information age is the strengthening of non-state actors. Al Qaeda killed more Americans on 9/11 than the attack by the government of Japan did at Pearl Harbor in 1941. This might be called the “privatization of war.”
During the Cold War, the US had been even more vulnerable, in technological terms, to a nuclear attack from Russia, but “mutual assured destruction” prevented the worst by keeping vulnerability more or less symmetrical. Russia controlled great force, but it could not acquire power over the US from its arsenal.
Two asymmetries, however, favored Al Qaeda in September 2001. First, there was an asymmetry of information. The terrorists had good information about their targets, while the US before September 11 had poor information about the identity and location of terrorist networks. Some government reports had anticipated the extent to which non-state actors could hurt large states, but their conclusions were not incorporated into official plans.
Second, there was an asymmetry in attention. A larger actor’s many interests and objectives often dilute its attention to a smaller actor, which, by contrast, can focus its attention and will more easily. There was a good deal of information about Al Qaeda in the American intelligence system, but the US was unable to process coherently the information that its various agencies had gathered.
But asymmetries of information and attention do not confer a permanent advantage on the wielders of informal violence. To be sure, there is no such thing as perfect safety, and, historically, waves of terrorism have often taken a generation to recede. Even so, the elimination of top Al Qaeda leaders, the strengthening of American intelligence, tighter border controls, and greater cooperation between the FBI and the CIA have all clearly made the US (and its allies) safer.
But there are larger lessons that 9/11 teaches us about the role of narrative and soft power in an information age. Traditionally, analysts assumed that victory went to the side with the better army or the larger force; in an information age, the outcome is also influenced by who has the better story. Competing narratives matter, and terrorism is about narrative and political drama.
The smaller actor cannot compete with the larger in terms of military might, but it can use violence to set the world agenda and construct narratives that affect its targets’ soft power. Osama bin Laden was very adept at narrative. He was not able to do as much damage to the US as he hoped, but he managed to dominate the world agenda for a decade, and the ineptness of the initial American reaction meant that he could impose larger costs on the US than were necessary.
President George W. Bush made a tactical error in declaring a “global war on terrorism.” He would have done better to frame the response as a reply to Al Qaeda, which had declared war on the US. The global war on terror was misinterpreted to justify a wide variety of actions, including the misguided and expensive Iraq War, which damaged America’s image. Moreover, many Muslims misread the term as an attack on Islam, which was not America’s intent, but fit Bin Laden’s efforts to tarnish perceptions of the US in key Muslim countries.
To the extent that the trillion or more dollars of unfunded war costs contributed to the budget deficit that plagues the US today, Bin Laden was able to damage American hard power. And the real price of 9/11 may be the opportunity costs: for most of the first decade of this century, as the world economy gradually shifted its center of gravity toward Asia, the US was preoccupied with a mistaken war of choice in the Middle East.
A key lesson of 9/11 is that hard military power is essential in countering terrorism by the likes of Bin Laden, but that the soft power of ideas and legitimacy is essential for winning the hearts and minds of the mainstream Muslim populations from whom Al Qaeda would like to recruit. A “smart power” strategy does not ignore the tools of soft power.
But, at least for America, perhaps the most important lesson of 9/11 is that US foreign policy should follow the counsel of President Dwight Eisenhower a half-century ago: Do not get involved in land wars of occupation, and focus on maintaining the strength of the American economy.
Joseph S. Nye, Jr, a former US assistant secretary of defense, is a professor at Harvard and the author of The Future of Power.