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sexta-feira, 16 de março de 2012

Bebados costumam andar para frente e para tras, cambaleantes, hesitantes, indecisos...

Governo recua e libera cerveja na Copa
Opinião e Notícia, 15/03/2012 

Num sinal da atual desarrumação do governo, Ministério do Esporte volta atrás na questão da venda de bebida alcoólica nos jogos. Segundo Vicente Cândido, houve “um equívoco” da assessoria jurídica do governo
Em menos de um dia, o governo mudou novamente de opinião sobre a venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo de 2014. Nesta quinta-feira (15), o relator do projeto da Lei Geral da Copa, Vicente Cândido (PT-SP), informou que o comércio de cerveja faz parte do acordo feito pelo governo brasileiro com a Federação Internacional de Futebol (Fifa). Por isso, a permissão voltará ao texto da proposta.
Na tarde de ontem (14), líderes governistas decidiram retirar a venda de bebidas alcoólicas da Lei Geral da Copa. A posição foi tomada após o governo anunciar que não havia exigência da Fifa para que isso acontecesse. O Estatuto do Torcedor proíbe o consumo de bebidas ou substâncias que possam gerar violência. Um termo assinado entre o Ministério Público e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) restringe a venda desde 2008.
De acordo com o relator do projeto, as ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffman, e das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foram induzidas ao erro por suas assessorias jurídicas. Ontem à noite, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, divulgou nota afirmando que a venda de bebidas alcoólicas durante a Copa faz parte do compromisso assumido pelo país. A Budweiser, da multinacional AB-Inbev, é uma das patrocinadoras da Fifa. Por conta da confusão, uma reunião foi convocada na Casa Civil. Lá, o Palácio do Planalto informou que havia se equivocado na posição.
Com a nova posição do governo, a maior divergência na discussão do projeto – a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios da Copa do Mundo – retorna. Por conta da discussão sobre a possibilidade de existir comércio de cerveja nas arenas do mundial, o governo aceitou adiar a votação da proposta na semana passada. Mesmo assim, Cândido acredita ser possível votar o texto na próxima semana. “Governo facilitaria sua relação com Congresso se tivesse apenas uma Opinião sobre Lei Geral da Copa e não a mudasse três vezes em 24 horas”, disse a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), no Twitter.
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Surpresa de um profissional:

Faz que vai mas não vai
A venda de cerveja nos estádios, durante a Copa, é um caso clássico de amadores batendo cabeça. O Governo brasileiro, quando acertou com a FIFA a realização da Copa no Brasil, concordou em liberar a venda de cerveja nos estádios. Gleisi e Ideli informaram ao Congresso que este compromisso não existia, e a permissão da venda de cerveja foi retirada da Lei Geral da Copa. O ministro Aldo Rebelo, que é do ramo, interveio. E o Governo voltou atrás em 24 horas.
Como podem as duas ministras mais importantes ignorar os acordos escritos?
Carlos Brickmann, 16/03/2012

Depois do alho, a cebola: produtos altamente estrategicos

O que seria de nossa alimentação, do bom gosto da nossa cozinha, do equilíbrio perfeito dos pratos que consumimos, se não fosse pelo alho -- já protegido por diversas medidas defensivas, antidumping, salvaguardas, listas de exceção, whatever... -- e pela cebola, dois produtos altamente relevantes em nossas casas, absolutamente indispensáveis para nossa saúde, quem sabe até para nossa sobrevivência?
Por tudo isso, todo nosso apoio às justas medidas protecionistas do governo, sempre bem-vindas, e que só nos garantem bem-estar e sobretudo garantia de renda ampliada...
Paulo Roberto de Almeida

Araripe  Castilho,  de Ribeirão Preto
Folha de São Paulo, 14/03/2012

Produtores solicitam ao governo que tome medidas contra o produto da Argentina

O Ministério da Agricultura estuda fórmulas para dificultar a entrada anual de até 170 mil toneladas de cebola argentina no Brasil.

A medida é um pedido de produtores brasileiros, que se reuniram nos últimos dias com o ministro Mendes Ribeiro Filho, em Brasília.

A safra nacional de cebola supera 1 milhão de toneladas por ano e a preocupação do setor está ligada ao bolso dos produtores. Eles vêm de duas safras seguidas de preços baixos e temem que a situação se repita em 2012.

Segundo o presidente da Anace (Associação Nacional de Produtores de Cebola), Almir Schafer, o ministro se comprometeu a "estudar" medidas de proteção ao valor do produto brasileiro.

"Sabemos que não dá para proibir, por causa do Mercosul, mas dá para dificultar", disse Schafer.

A assessoria de imprensa Ribeiro Filho confirmou o compromisso assumido e disse que a pasta tentará dar mais estabilidade ao valor do quilo da cebola pago aos plantadores.

A remuneração do quilo da cebola até começou 2012 em alta, após dois anos ruins, mas, como o produto da Argentina começa a chegar ao mercado nacional neste mês, a expectativa é que o valor caia devido à oferta maior.

O valor pago aos plantadores em janeiro deste ano ficou em R$ 0,60 o quilo, na média.

De acordo com a Anace, em fevereiro o preço foi ainda melhor para o produtor: chegou a R$ 1 e teve como resultado a média de R$ 0,80.

"Mas, em outubro e em novembro [começo da atual safra em Santa Catarina], tinha produtor vendendo a R$ 0,40 o quilo, o que não paga nem os custos da lavoura", afirmou Schanfer.
O consumo médio anual de cebola no Brasil é de aproximadamente 1,13 milhão de toneladas, de acordo com a Anace.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Esquizofrenia economica argentina: 80 anos de decadencia, e decaindo mais, toujours et encore...


Argentina's Dubious Boom

Argentina's economy has been coasting on its past successes. Don't be fooled.

BY ROBERT LOONEY | MARCH 14, 2012

When Argentina defaulted on its sovereign debt in 2002, few predicted that the country would soon bounce back -- much less rank as one of the fastest-growing emerging economies over the next decade. Yet, aided by aggressive fiscal and monetary stimulus, Argentina has enjoyed an Asian-style 7.6 percent average annual growth rate since 2003, with commensurate gains in employment and declines in poverty. Indeed, Argentina's success in thumbing its nose at foreign creditors has emboldened some observers to suggest that Greece and the other debt-ridden eurozone economies try default as an alternative to the harsh austerity prescribed by the IMF and the European Union.
It seems that Argentina managed to turn "Washington consensus" policy on its head and get away with it. Or maybe not: A closer look at Argentina's post-crisis economy suggests the boom is living on borrowed time, that the chickens will soon come home to roost.
The model for Argentina's post-crisis boom was the Perónist policies of the 1940s and 50s. Corporatist Perónism accommodated the interests of business, labor, and the poor through collective bargaining managed by the state. Resources were skimmed from the country's highly productive agricultural sector to cover the cost of wages and profits in excess of competitive levels.
But Perónism promised more than it could possibly deliver. Expansionary macroeconomic policies led to ever-rising inflation, stagnant productivity, and battles among highly organized interest groups that spurred popular unrest and increasingly repressive government reactions. Argentina was left with anemic public services, crumbling infrastructure, profitless industries, and paralyzing union demands for wage increases unsupported by productivity gains.
Juan Perón was overthrown by a military junta in 1955. Yet the legacy of Perónism survived, its peculiar mix of corporatism, populism, and nationalism rising and ebbing across the tumultuous 1980s and 1990s. Argentina was especially hard hit by policy experiments designed to curb inflation that left the economy uncompetitive in global markets, burdened by a huge external debt and committed to an overvalued exchange rate pegged to the dollar. Its economic troubles culminated in a financial crisis in 2001-02, with the collapse of the fixed exchange rate and a sharp recession accompanied by fierce unemployment and a wave of bankruptcies.
The economic policies of the post-crisis administration of Néstor Kirchner (2003-2007) appear to have initially taken into account the hard lessons of unsustainable policies. While Perónist in spirit (and optics), Kirchner's economics initially amounted to a pragmatic response to the massive income redistribution precipitated by the financial crisis and subsequent recession. On the one hand, the crisis wiped out household savings, increased unemployment to twenty-four percent, and impoverished large segments of the middle class. On the other, the depreciation of the currency made exporters (and domestic industries vying for market share with importers) more competitive and greatly reduced the burden of their debts denominated in pesos.
Kirchner suspended payments on the country's sovereign debt, relieving the government budget of massive ongoing obligations. He also echoed Perónist tradition by favoring domestic industry through policies that maintained the now-grossly-undervalued peso exchange rate, by plowing huge sums into expanded social programs and by imposing price controls on key sectors (such as energy) to suppress inflationary pressures.
On their face, these policies hardly seemed sustainable. But in a stroke of luck, his programs coincided with the start of a global commodity boom that provided the government with windfall revenues from export taxes. As a result, Argentina was able to clear its debts to the IMF in 2005 (well ahead of schedule), freeing Kirchner from the IMF's calls for fiscal prudence and its demands for a shift to more market-oriented policies.
A key element in Kirchner's post-crisis recovery strategy was the preservation of the aforementioned undervalued exchange rate. Toward this end, the government once again pegged the Argentine peso to the dollar -- though this time at an exchange rate that effectively protected domestic industry from foreign competition. The government maintained this rate by intervening in the foreign exchange market, even though the high prices of Argentina's key commodity exports suggested that a market-driven strengthening of the peso was needed to fight inflation. Indeed, the exchange-rate peg was complemented by domestic monetary policies that fed the fires of inflation.
On other fronts, Perónist populism ruled the day. The government went to war with commodity exporters, protecting the purchasing power of Kirchner's constituents in an inflationary environment by restricting food exports and imposing price controls.
When Kirchner decided not to run for reelection and handed the presidency to his wife, Cristina Fernández de Kirchner, in 2007, many hoped that she would begin liberalizing the economy. But that has not happened. And in what amounts to Perónist déjà vu, the failure to allow both currency and product markets to adjust to supply and demand is now exacting a toll on both Argentina's productivity and it competitiveness in international markets.
The economic consequences are nowhere more apparent than with energy. Argentina has abundant deposits of natural gas: the country appeared on the verge of becoming a major exporter in the early-2000s. But price controls have reduced the profitability of investment in the sector to such an extent that domestic shortages are now forcing Argentina to import natural gas. Ironically, this has made it necessary for the government to subsidize imported gas, even as it refuses to allow natural gas producers to charge for the full cost of production. Recent estimates place the sheer waste associated Argentina's energy policy at about $8 billion, or close to two percent of GDP.
The government's tilt toward its urban industrial constituents has also taken a toll on farm output. Argentina has a clear comparative advantage in agriculture: the country's vast fertile plains potentially make it an export powerhouse to rival the American Midwest. Yet early in Cristina Kirchner's rule, farmers went on strike to protest the government's efforts to skim the cream from the commodity boom by increasing taxes on exported wheat, soy, and meat.
Under Ms. Kirchner, the total tax on agricultural exports has risen to 75 percent, effectively curtailing new investment into the sector. Instead, investment is instead flowing into uncompetitive sectors favored by Perónist politicians and bureaucrats.
The most bizarre example is the government's import-substitution program in frigid Tierra del Fuego. In 2009, Ms. Kirchner sought to create jobs in this desolate region isolated from markets by distance and geography by encouraging production of consumer electronics -- that's right, TVs and smartphones. To this end, she doubled the value-added tax on imported electronics (which largely come from Asia), a move she later backed up with restrictive import-licensing requirements. She also lowered the already-minimal taxes paid by electronics companies (notably, Samsung) that assemble products in the region. The baksheesh, including exemptions from the income tax, value-added tax and taxes on imported parts, have cost the Argentine treasury about $1.3 billion -- more than $100,000 for each of the 10,000 jobs that have been created.
Argentina now faces the double whammy of a slowing global economy and productivity-sapping domestic economic distortions. The deteriorating balance of international payments is stimulating speculation about a new peso devaluation, while the country's increased levels of protectionism are generating threats of retaliation from its regional trade partners.
Less tangible, but more ominous, there has been a decline in the quality of governance across the decade. Argentina has seen a marked deterioration in the World Bank's measure of government effectiveness and the rule of law, even as the government's increased reach has produced a significant drop in most dimensions of economic freedom.
Argentina's post-crisis model is thus coming unraveled, and the economy appears on course for another reality check. As in past run-ups to disaster, Argentine wealth is fleeing the country despite the government's tightening of capital controls. A new financial crisis could be especially devastating because the country's differences with foreign debt holders (other than official lenders like the IMF) are still unresolved, effectively freezing it out of global capital markets.
Plainly, this unsustainable economic model holds little promise for debt-strapped eurozone countries seeking a fresh start. However, Argentina's initial post-crisis successes do offer some insight into the applicability of the Washington Consensus approach. IMF-type stabilization programs that focus on austerity are extremely expensive in terms of lost output and falling living standards. By contrast, aggressive Argentine-style stimulus in the wake of a large devaluation could offer an attractive,short-run solution.
Note that emphasis. It is imperative to make the transition from a demand-oriented strategy to one focused on expanding production for external markets as soon as recovery is well underway. In Argentina, the lingering power of Peronist interest groups has led Argentina to miss this transition window -- although recent moves to reverse subsidies suggests that the government is beginning to realize the seriousness of the country's economic plight. One can only hope that this realization has not come too late.
 
Robert Looney teaches economics at the Naval Postgraduate School in Monterey, California.

quarta-feira, 14 de março de 2012

China capitalista, EUA comunista; OK, mas e o Brasil?

Acredito que uma comparação entre esses dois casos com os níveis de tributação aplicados no Brasil deixariam o Brasil numa posição ultra-bolchevique. Pode?
Paulo Roberto de Almeida
A China "comunista" e a América "capitalista"
Von Mises Brasil, quarta-feira, 14 de março de 2012

2280231473_87360f9671.jpgAs revoluções comunistas do século XX tinham como objetivo confiscar a riqueza gerada por indústrias privadas e redistribuí-la para os trabalhadores "explorados", sobre cujos ombros os lucros foram extraídos.  Os EUA fizeram da rejeição desta ideia e do seu apoio aos princípios do livre mercado o ponto central de sua narrativa econômica.  No entanto, em decorrência da política tributária atual e da política tributária que vem sendo sugerida para ser aplicada sobre os acionistas das grandes empresas, não é nenhum exagero dizer que governo americano confisca uma fatia da produção industrial que geraria inveja até mesmo no mais raivoso e radical bolchevique.
O propósito de uma empresa é gerar lucros para seus proprietários (todas as outras funções são secundárias a este objetivo).  Empresas de capital aberto distribuem seus lucros por meio de dividendos.  Porém, como resultado do sistema de tributação dupla vigente nos EUA, no qual a renda é tributada em nível corporativo e depois novamente em nível pessoal, o governo recebe uma fatia muito maior da renda das empresas do que seus próprios proprietários.
Suponha que uma empresa americana tenha obtido uma renda de um milhão de dólares durante o período de um ano.  Atualmente, seus lucros seriam tributados a uma alíquota de 35% (para este exemplo ficar mais fluente, não levarei em conta a alíquota menor que incide sobre os primeiros $100.000 de lucros), o que significa que a empresa teria de pagar $350.000 diretamente para o governo (supondo que ela obteve sua renda sem deduções tributárias especiais).  Dos $650.000 restantes, uma típica empresa distribuidora de dividendos distribuiria 40% para seus acionistas (isso é conhecido como "relação de pagamento" e a média real é um pouco menor do que 40%).
Portanto, neste exemplo, a empresa pagaria $260.000 (40% de $650.000) para seus acionistas.  Os restantes $390.000 seriam normalmente mantidos como "lucros retidos" ou "lucros não distribuídos", e seriam utilizados para manter e substituir equipamentos depreciados, para fazer novos investimentos, para financiar pesquisa e desenvolvimento e para expandir as operações da empresa.  Se a empresa não fizer tais investimentos, será impossível sobreviver, e sua capacidade de perpetuar suas distribuições de lucros estaria limitada.
Estes lucros retidos ainda representam ativos para os acionistas, mas seu propósito principal é o de gerar lucros futuros e dividendos mais altos.  Os acionistas só irão se beneficiar diretamente destes lucros retidos quando os dividendos futuros forem distribuídos.  É claro que eles podem hoje vender suas ações e obter algum lucro — pagando o imposto sobre ganhos de capital ao fazerem isso —, mas tal atitude irá apenas transferir estes benefícios futuros para o novo comprador.
Quando distribuídos para os acionistas, os $260.000 em dividendos são tributados novamente a uma alíquota de 15% (de acordo com a lei vigente), agora em nível pessoal.  Como resultado, os acionistas recebem apenas $221.000 daquele lucro de $1 milhão.  Some estes $39.000 de impostos sobre dividendos aos $350.000 já confiscados pela alíquota de 35% do imposto de pessoa jurídica, e temos que o confisco governamental total dos lucros da empresa é de praticamente $390.000.  Em outras palavras, o governo americano obtém desta empresa um fluxo de caixa 75% maior do que seus genuínos proprietários.  Olhando de maneira ligeiramente diferente, o governo confisca aproximadamente 65% dos lucros não retidos, ao passo que os acionistas, que colocaram seu dinheiro na empresa e que correram todo o risco, recebem 35%.  Isso parece justo?
Este nível de tributação coloca as empresas americanas em notória desvantagem em relação às empresas daqueles países contra os quais os EUA concorrem mais vigorosamente.  Na China, a divisão do bolo é muito mais favorável aos proprietários.  Lá, as empresas são tributadas a uma alíquota de 25%, e os dividendos, a 10%.  Utilizando estes números (e a mesma "relação de pagamento" utilizada para a empresa americana), o governo chinês fica com 51% dos lucros corporativos distribuídos e os acionistas, com 49%.  Em Hong Kong (que faz parte da China Comunista, mas que usufrui um governo independente), a situação é ainda melhor.  Lá, a alíquota do imposto corporativo é de 16% e o imposto sobre dividendos é zero.  Fazendo a mesma matemática, o governo fica com 33% e os acionistas ficam com 67%.
Esta comparação levanta um ponto interessante.  Se os acionistas na China comunista podem manter para si uma fatia maior de seus ganhos do que os acionistas na América capitalista, qual nação é mais comunista e qual é mais capitalista?
No final de fevereiro, a administração Obama e Mitt Romney ofereceram propostas concorrenciais para uma reforma deste imposto corporativo, com ambos dizendo que suas propostas tornariam as empresas americanas mais competitivas.  O plano de Romney reduz a alíquota do imposto corporativo para 25%, enquanto mantém o imposto sobre dividendos em 15%.  Isto tornaria as coisas apenas ligeiramente melhores, com o governo abiscoitando 54% dos lucros distribuídos e os acionistas, 46% (distribuição esta ainda não tão generosa quanto a da China Comunista).  Não surpreendentemente, o plano de Obama irá tornar as coisas muito mais difíceis.
Embora o presidente proponha reduzir a alíquota do imposto corporativo para 28% e também queira abolir o imposto sobre dividendos, ele quer passar a tributar as distribuições de dividendos como se fossem renda comum.  Na prática, a vasta maioria dos indivíduos que recebe dividendos está na faixa mais alta da renda tributável.  Isto significa que uma fatia muito volumosa destes dividendos será tributada segundo a alíquota mais alta do imposto de renda de pessoa física, que é de 39%.  Mas Obama também quer submeter estas pessoas de renda mais alta a uma sobretaxa para assim poder financiar o plano de saúde socializado que ele quer implementar, o que significa que vários recebedores de dividendos serão tributados a uma alíquota de 44% (isso também levando em conta a abolição das deduções pessoais para os indivíduos de alta renda).  Portanto, para estes indivíduos de alta renda, utilizando nosso atual exemplo, a nova distribuição segundo a proposta de Obama será de aproximadamente 70/30 a favor do governo.  Isto é ainda pior do que a atual situação.
Mas as coisas são na realidade ainda piores do que isso.  O imposto de renda corporativo é apenas uma das veias que as empresas abrem para o governo.  Pense em todos os outros impostos que as empresas pagam, como encargos sociais e trabalhistas e impostos sobre vendas.  É claro que estes impostos elas repassam aos seus empregados e consumidores, mas o fato é que a receita flui 100% para o governo, com seus acionistas não recebendo nada senão uma conta pelo custo da coleta.
E ainda há todos os impostos pagos diretamente pelos próprios empregados sobre seus salários.  Claro, este dinheiro pertence aos empregados e não aos acionistas, mas se não fossem os lucros das empresas, estes salários, bem como os impostos pagos sobre eles, não existiriam.  Quando todos estes canais de coleta de impostos são considerados, pense no total que o governo arrecada de impostos oriundos de atividades empresariais e compare ao total que os proprietários das empresas recebem em dividendos.  Não dá pra saber o valor correto, mas tenho certeza de que a fatia que o governo confisca é várias vezes maior do que o total que os acionistas recebem.
Ainda no século XIX, a América era de fato um país capitalista.  Não havia imposto de renda nem de pessoa física nem de pessoa jurídica.  Os acionistas recebiam 100% dos lucros distribuídos.  Como resultado desta estrutura, as empresas americanas cresceram aceleradamente e ajudaram a desencadear a mais veloz expansão econômica que o mundo jamais havia visto.  Mas isso foi ontem, a realidade hoje é outra.  
Considerando-se os atuais números, mesmo se os líderes americanos fossem marxistas ferrenhos, quais seriam suas motivações para estatizar empresas que estão na lista da Fortune 500 [relação das 500 empresas mais bem-sucedidas pela revista Fortune]?  Dado que eles já recebem a maior fatia da distribuição dos lucros, qual seria o ponto de se estatizar empresas?  Tal atitude iria apenas desarranjar e desordenar as estruturas produtivas, destruindo o que ainda resta de qualquer motivação em se buscar o lucro.  Tal medida iria apenas matar a galinha dos ovos de ouro, e os socialistas sabem disso.  Se o governo estatizasse uma empresa, ele também teria de gerenciá-la.  Alguém realmente crê que burocratas tomariam decisões melhores do que proprietários privados?  Nem os próprios burocratas acreditam nisso.  E o que é pior, se estas decisões gerassem prejuízos em vez de lucros, o governo teria de absorver 100% destes prejuízos.  Sob o atual sistema, por outro lado, o governo obtém a maior fatia dos lucros, ao passo que os acionistas privados ficam com 100% dos prejuízos.  Impossível um sistema mais confortável para o governo.
Há um nome para este sistema vigente: fascismo.  Embora o fascismo e o comunismo sejam formas de socialismo, os fascistas ao menos são espertos o bastante para entender que, se os meios de produção forem estatizados, seus empregados e proprietários não irão trabalhar com o mesmo afinco, e o governo acabará perdendo receitas.
É vergonhoso constatar que o país que já foi visto como o farol das liberdades civis e econômicas não mais possua sequer a capacidade reconhecer o que é realmente capitalismo.  Enquanto os proprietários das empresas continuarem não sendo apropriadamente recompensados pelos seus riscos por causa do governo, as empresas americanas jamais reconquistarão sua dominância, os americanos não reconquistarão suas liberdades perdidas e o padrão de vida do país continuará em queda livre.  Como as coisas estão hoje, os EUA já se tornaram um povo que vive do governo, para o governo e pelo governo, e não o contrário.  Os "comunistas" chineses têm muito o que aprender conosco.

Peter Schiff 
é o presidente da Euro Pacific Capital e autor dos livros The Little Book of Bull Moves in Bear MarketsCrash Proof: How to Profit from the Coming Economic Collapse e How an Economy Grows and Why It Crashes.  Ficou famoso por ter previsto com grande acurácia o atual cataclisma econômico.  Veja o vídeo.  Veja também sua palestra definitiva sobre a crise americana -- com legendas em português 

Aquecimento global: o debate continua entre paranoicos e climatericos...

O que segue abaixo é uma resposta a uma carta-artigo no Wall Street Journal -- que está claramente do lado dos "negacionistas" do aquecimento global, se assim lhe podemos chamar -- e que coloca um pouco mais de água quente na fervura fervente -- com perdão da redundância, mas necessária -- que aquece miolos, neurônios e as paixões dos envolvidos no debate esquizofrênico em torno da questão.
O material original pode ser encontrado neste meu post:


SEXTA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2012

Paranoicos do aquecimento global: acalmai-vos...

É, em síntese, o que dizem estes cientistas que assinam um artigo de opinião, na verdade um verdadeiro manifesto de apelo à razão, publicada na edição de hoje do Wall Street Journal.

No Need to Panic About Global Warming

Seguimos, portanto, com o debate.


Paulo Roberto de Almeida


Bickmore on the WSJ response

Filed under:   — group @ 24 February 2012
Guest commentary from Barry Bickmore (repost)
Real Climate: climate science from climate scientists, February 24 ,2012

The Wall Street Journal posted yet another op-ed by 16 scientists and engineers, which even include a few climate scientists(!!!). Here is the editor’s note to explain the context.
Editor’s Note: The authors of the following letter, listed below, are also the signatories of“No Need to Panic About Global Warming,” an op-ed that appeared in the Journal on January 27. This letter responds to criticisms of the op-ed made by Kevin Trenberth and 37 others in a letter published Feb. 1, and by Robert Byer of the American Physical Society in a letter published Feb. 6.
A relative sent me the article, asking for my thoughts on it. Here’s what I said in response.
Hi [Name Removed],
I don’t have time to do a full reply, but I’ll take apart a few of their main points.
  1. The WSJ authors’ main point is that if the data doesn’t conform to predictions, the theory is “falsified”. They claim to show that global mean temperature data hasn’t conformed to climate model predictions, and so the models are falsified.
  2. But let’s look at the graph. They have a temperature plot, which wiggles all over the place, and then they have 4 straight lines that are supposed to represent the model predictions. The line for the IPCC First Assessment Report is clearly way off, but back in 1990 the climate models didn’t include important things like ocean circulation, so that’s hardly surprising. The lines for the next 3 IPCC reports are very similar to one another, though. What the authors don’t tell you is that the lines they plot are really just the average long-term slopes of a bunch of different models. The individual models actually predict that the temperature will go up and down for a few years at a time, but the long-term slope (30 years or more) will be about what those straight lines say. Given that these lines are supposed to be average, long-term slopes, take a look at the temperature data and try to estimate whether the overall slope of the data is similar to the slopes of those three lines (from the 1995, 2001, and 2007 IPCC reports). If you were to calculate the slope of the data WITH error bars, the model predictions would very likely be in that range.


    Comparison of the spread of actual IPCC projections (2007) with observations of annual mean temperatures
    That brings up another point. All climate models include parameters that aren’t known precisely, so the model projections have to include that uncertainty to be meaningful. And yet, the WSJ authors don’t provide any error bars of any kind! The fact is that if they did so,you would clearly see that the global mean temperature has wiggled around inside those error bars, just like it was supposed to.
    So before I go on, let me be blunt about these guys. They know about error bars. They know that it’s meaningless, in a “noisy” system like global climate, to compare projected long-term trends to just a few years of data. And yet, they did. Why? I’ll let you decide.
  3. The WSJ authors say that, although something like 97% of actively publishing climate scientists agree that humans are causing “significant” global warming, there really is a lot of disagreement about how much humans contribute to the total. The 97% figure comes from a 2009 study by Doran and Zimmerman.
  4. So they don’t like Doran and Zimmerman’s survey, and they would have liked more detailed questions. After all, D&Z asked respondents to say whether they thought humans were causing “significant” temperature change, and who’s to say what is “significant”? So is there no real consensus on the question of how much humans are contributing?
    First, every single national/international scientific organization with expertise in this area and every single national academy of science, has issued a statement saying that humans are causing significant global warming, and we ought to do something about it. So they are saying that the human contribution is “significant” enough that we need to worry about it and can/should do something about it. This could not happen unless there was a VERY strong majority of experts. Here is a nice graphic to illustrate this point (H/T Adam Siegel).
    But what if these statements are suppressing significant minority views–say 20%. We could do a literature survey and see what percentage of papers published question the consensus. Naomi Oreskes (a prominent science historian) did this in 2004 (see also herWaPo opinion column), surveying a random sample of 928 papers that showed up in a standard database with the search phrase “global climate change” during 1993-2003. Some of the papers didn’t really address the consensus, but many did explicitly or implicitly support it. She didn’t find a single one that went against the consensus. Now, obviously there were some contrarian papers published during that period, but I’ve done some of my own not-very-careful work on this question (using different search terms), and I estimate that during 1993-2003, less than 1% of the peer-reviewed scientific literature on climate change was contrarian.
    Another study, published in the Proceedings of the National Academy of Sciences in 2010 (Anderegg et al, 2010), looked at the consensus question from a different angle. I’ll let youread it if you want.
    Once again, the WSJ authors (at least the few that actually study climate for a living) know very well that they are a tiny minority. So why don’t they just admit that and try to convince people on the basis of evidence, rather than lack of consensus? Well, if their evidence is on par with the graph they produced, maybe their time is well spent trying to cloud the consensus issue.
  5. The WSJ authors further imply that the “scientific establishment” is out to quash any dissent. So even if almost all the papers about climate change go along with the consensus, maybe that’s because the Evil Empire is keeping out those droves of contrarian scientists that exist… somewhere.
  6. The WSJ authors give a couple examples, both of which are ridiculous, but I have personal experience with the Remote Sensing article by Spencer and Braswell, so I’ll address that one. The fact is that Spencer and Braswell published a paper in which they made statistical claims about the difference between some data sets without actually calculating error bars, which is a big no-no, and if they had done the statistics, it would have shown that their conclusions could not be statistically supported. They also said they analyzed certain data, but then left some of it out of the Results that just happened to completely undercut their main claims. This is serious, serious stuff, and it’s no wonder Wolfgang Wagner resigned from his editorship–not because of political pressure, but because he didn’t want his fledgling journal to get a reputation for publishing any nonsense anybody sends in.[Ed. Seethis discussion]
The level of deception by the WSJ authors and others like them is absolutely astonishing to me.
Barry
PS. Here is a recent post at RealClimate that puts the nonsense about climate models being “falsified” in perspective. The fact is that they aren’t doing too badly, except that they severely UNDERestimate the Arctic sea ice melt rate.

O fascismo em construcao no Brasil (7): direito de resposta

Políticos pretendem cercear o direito dos veículos de comunicação -- jornais, rádios e TVs -- de fazerem acusações a suas malversações, impondo-lhes um custo econômico, e provavelmente um custo moral, sem qualquer critério objetivo, a não ser o próprio fato de terem sido citados em alguma matéria que lhes seja desfavorável. Trata-se, obviamente, de uma chantagem inaceitável, e que não pode ser aceita pela sociedade, sob risco de que homens públicos deixem de ser públicos -- ou seja, de terem de assumir a responsabilidade pelo fato de terem escolhido ser políticos -- para se refugiar num direito à privacidade que só compete ao cidadão enquanto cidadão, não enquanto representante político.
Eles têm de arcar com o ônus de serem políticos, e portanto terem suas atividades seguidas, monitoradas e até cobradas pela imprensa, como por toda a cidadania.
Este é mais um aspecto do fascismo em construção no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida 


Senado aprova projeto para cercear imprensa

Gabriel Castro
VEJA Online, 14/03/2012

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, em caráter terminativo, um projeto criado para constranger os veículos de comunicação: a proposta altera a tramitação dos pedidos de direito de resposta a órgãos de imprensa e atropela o trâmite natural dos processos. O projeto do senador Roberto Requião (PMDB-PR) estabelece que as pessoas que se sentirem prejudicadas por uma reportagem poderão procurar diretamente o veículo responsável pela matéria e exigir um espaço para apresentar sua versão dos fatos. Jornais, revistas, sites noticiosos, rádios e emissoras de televisão terão de publicar o direito de resposta até sete dias depois de comunicados da queixa. Caso contrário, a suposta vítima poderá acionar a Justiça. Os maiores beneficiários da proposta são justamente os políticos, alvo frequente de denúncias da imprensa fiscalizadora.
O trâmite judicial também será modificado pela nova lei. As ações do tipo transcorrerão em rito especial, o que significa uma celeridade muito maior na apreciação dos processos. Depois de ser acionado, o juiz responsável terá 24 horas para comunicar o órgão de imprensa. Por sua vez, o veículo deverá apresentar sua contestação em até três dias. Depois disso, se o magistrado optar pelo provimento do pedido, o direito de resposta deverá ser publicado em até dez dias. ”Não se trata de cercear o direito fundamentel à informação. Não se trata de censurar a imprensa, porque a imprensa deve ser livre”, disse o relator da proposta, Pedro Taques (PDT-MT). Não é bem assim. Ao criar prazo exíguos, a medida permite que os meios de comunicação sejam pressionados por enxurradas de ações judiciais de forma orquestrada. A depender da forma como a lei for aplicada, o excesso de direitos de resposta poderá atravancar o trabalho da imprensa, que tem entre suas atribuições inalienáveis o exercício da crítica e da denúncia.
E poderia ser pior: o relator amenizou trechos insólitos da proposta original de Roberto Requião. O peemedebista queria, por exemplo, que as emissoras de rádio fossem obrigadas a dar, além do tempo proporcional do direito de resposta, dez minutos adicionais para o pronunciamento da pessoa atingida pela reportagem. No caso das emissoras de TV, seriam três minutos extras. O senador, inimigo declarado dos meios de comunicação, também previa que os veículos de imprensa simplesmente não pudessem ter direito ao efeito suspensivo em eventuais decisões da Justiça sobre direito de resposta. Pedro Taques alterou o dispositivo: o efeito suspensivo poderá ser concedido, desde que por uma decisão colegiada de magistrados.
A proposta foi aprovada por unanimidade na comissão. Se nenhum senador recorrer, o texto seguirá para a Câmara sem necessidade de aprovação em plenário.
Histórico
O senador Roberto Requião tem um longo histórico de ataques a imprensa. Quando governador do Paraná, ele usava a TV pública para veicular ataques quase diários a veículos que apontavam os problemas de sua gestão. O uso indevido da emissora levantou questionamentos do Ministério Público Estadual. No ano passado, o peemedebista deu mostras daquilo que entende por liberdade de imprensa: simplesmente arrancou um gravador das mãos de um repórter da Rádio Bandeirantes. O motivo: o parlamentar se irritara com uma pergunta a respeito da confortável aposentadoria que recebe como ex-governador. O senador também ameaçou agredir o jornalista. E só devolveu o gravador - sem o áudio da entrevista - horas depois.