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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 21 de junho de 2014

Policia Federal: desvio de funcoes pelo governo companheiro - Leandro Mazzini

Babás de luxo

Com tantas investigações para fazer, o governo obrigou delegados da Polícia Federal e agentes a escoltarem as seleções da Copa, um evento privado

por Leandro Mazzini


A Polícia Federal tem mais de 100 mil inquéritos em andamento sobre tráfico internacional de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro. Com tantas investigações para fazer, o governo obrigou delegados da PF e agentes federais a escoltarem as seleções da Copa, um evento privado. Centenas de delegados e milhares de policiais foram deslocados de suas bases para a tarefa, e com custos. A corporação, a mais respeitada pela população, tentou resistir, mas acatou as ordens do Ministério da Justiça.
Prorrogação no apito
Reparem, então, que operação da PF nenhuma ocorreu desde o início da Copa. E provavelmente, as previstas, só depois do torneio.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Os erros de politica economica do governo companheiro: o desmantalamento da industria - Editorial Estadao

O rombo da indústria

15 de janeiro de 2014 | 2h 06
Editorial O Estado de S.Paulo
Com um buraco de US$ 105 bilhões na conta de manufaturados, o comércio exterior foi mais uma vez desastroso para a indústria brasileira, em 2013. Atribuir o mau resultado à crise internacional e ao câmbio, como têm feito autoridades federais, é tentar disfarçar o indisfarçável. Mesmo com o ambiente externo desfavorável e a queda de preços de vários produtos, o agronegócio faturou US$ 99,97 bilhões no ano passado, 4,3% mais que em 2012, e fechou o balanço com um superávit acumulado de US$ 82,91 bilhões, 4,4% maior que o do período anterior. Uma palavra explica a diferença entre os dois desempenhos: competitividade. Apesar dos problemas logísticos e de uma porção de outras dificuldades, o campo e a indústria diretamente ligada à agropecuária têm mantido um padrão de eficiência respeitado internacionalmente. A maior parte do setor manufatureiro tem sido muito mais afetada pelos entraves à produção e à comercialização - a própria logística, o alto custo da energia, a escassez de mão de obra qualificada e até qualificável, a tributação irracional e, naturalmente, os erros da política econômica.
A indústria exportou em 2013 manufaturados no valor de US$ 93,09 bilhões, valor 1,8% maior que o de 2012, pela média dos dias úteis. Mas esse resultado inclui US$ 7,74 bilhões obtidos com a exportação meramente contábil de sete plataformas de exploração de petróleo e gás. Sem sair do País, esses equipamentos foram vendidos para a obtenção de benefícios fiscais e alugados para uso no Brasil.
São operações legais, permitidas há mais de dez anos, mas seu volume e seu valor têm crescido a ponto de se tornarem essas plataformas o item principal da pauta de manufaturados. Isso obviamente distorce os números, porque exportação de plataformas significa, de fato, algo muito diferente de exportação de soja, café, aviões, automóveis, peças, tratores, biquínis, açúcar e minério.
Expurgadas as contas do ano passado e de 2012, as vendas de manufaturados de fato encolhem, passando de US$ 89,25 bilhões para US$ 85,35 bilhões. Com esse desconto, o déficit do setor sobe de US$ 105 bilhões para US$ 112,75 bilhões. Não se trata de um déficit qualquer, facilmente assimilável e causado por algum fator conjuntural. O quadro fica mais feio quando a atenção se volta para um detalhe. Não se trata somente de importação maior que exportação. O próprio déficit, o resultado da subtração, é muito maior que o valor exportado, seja o oficial (US$ 93,09 bilhões) ou o expurgado (US$ 85,35 bilhões).
Com ou sem plataformas, pode-se falar de uma desindustrialização das exportações brasileiras. As vendas de manufaturados garantiram mais de 50% da receita comercial durante os anos 90 e em boa parte da última década. Em 2007 ainda proporcionaram 52,25% do valor vendido ao exterior. No ano seguinte a proporção caiu para 46,82%. A queda prosseguiu nos anos seguintes, até 38,4% em 2013. Somada a parcela dos semimanufaturados, obtém-se a participação total dos industrializados, 51% do total vendido ao exterior. Em 2007, a soma dos dois itens ainda rendeu 65,82%, praticamente dois terços da receita comercial.
O mau desempenho comercial do setor de transformação tem como contrapartida o baixo crescimento do produto industrial nos últimos anos. Os dois fenômenos estão associados. Por um evidente erro de diagnóstico, o governo vem estimulando há anos a demanda de consumo, sem remover de fato os muitos entraves à produção.
A indústria tem sido incapaz de responder à demanda crescente e de enfrentar a concorrência estrangeira, no exterior e no mercado interno. Apesar disso, as empresas do setor conseguiram durante anos manter o pessoal. Evitaram os altos custos de demissão e os problemas de recomposição de quadros num mercado de mão de obra de baixa qualidade. Esse esforço parece ter chegado ao limite. O emprego na indústria ficou estável em novembro, em nível 1,7% inferior ao de um ano antes, e diminuiu 1,1% em 12 meses. Cada vez mais, a sustentação do emprego tem dependido de vagas em atividades pouco produtivas, principalmente em serviços. Um Bric digno desse nome tem de fazer muito mais.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Infraestrutura logistica: muito pouco, muito tarde...

Só um governo comandado por gente extremamente incompetente ou totalmente idiota, poderia deixar essa situação perdurar por tanto tempo, com extremo desprezo pelas perdas incorridas pelo setor mais dinâmico da economia brasileira.
Paulo Roberto de Almeida 

Sete obras desatam o nó que estrangula a economia brasileira

O Brasil é o maior produtor mundial de soja, café, suco de laranja e cana de açúcar. Está na segunda posição em carne bovina e na terceira na produção de aves e no cultivo de milho. Todo esse desempenho exuberante se dá apesar da lastimável infraestrutura disponível. Porém, a conclusão e o início de operação de sete obras no coração do país, a região Centro-Oeste, também chamado de Brasil Central e única área ligada geograficamente às outras quatro regiões brasileiras, pode gerar uma economia de 30% no custo de transporte de produtos como soja e milho. Isso pode aproximar o custo de frete nacional ao do norte-americano, que é um terço do brasileiro.
Ao todo, o investimento estimado nos projetos, que têm previsão de início até o começo de 2015, é de 5 bilhões de reais (2,2 bilhões de dólares). A economia que trariam por ano, porém, é de 2,3 bilhões de reais por ano (1 bilhão de dólares), segundo dados reunidos por EL PAÍS, baseado em pesquisas da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Confederação Nacional da Indústria (CNI) e doMovimento Pró-Logística do Mato Grosso.
São elas: as rodovias BR-163, no percurso entre Novo Progresso e Itaituba, no Pará (PA), que não está incluído no leilão que será realizado nesta quarta-feira; a BR-158, da região do Alto do Araguaia, no Mato Grosso (MT), até Marabá (PA); a BR-242, entre Sorriso e Canarana, ambas no MT; e a BR-080, de Ribeirão Cascalheira (MT) a Luiz Alves, em Goiás. Essas estradas servirão para alimentar os sistemas portuários da região Norte. Além delas, é necessária a integração pela Hidrovia Tapajós-Amazonas (PA), na região Norte, a partir da localidade de Miritituba (PA), até a região de Santarém. De lá, as cargas serão levadas a dois portos, que estão sendo ampliados: o primeiro instalado em Vila do Conde, no Pará, e o de Itaqui, no Maranhão, no Nordeste. Os três projetos têm previsão de conclusão em 2014. Quando em operação, cada viagem dos comboios de barcaças pela Hidrovia equivale ao carregamento de 1000 caminhões, que hoje precisam seguir até o porto de Santos, em São Paulo, a 2000 quilômetros de distância.

A falta de infraestrutura adequada engole parte do lucro que poderia ser revertido em mais investimentos
Essas obras servem para inverter a rota atual, que prioriza trajetos terrestres irracionais, seja por via rodoviária, seja pela ferrovia Malha Norte, entre Rondonópolis (MT) e o saturado Porto de Santos, em São Paulo. O terminal paulista e o Porto de Paranaguá, no Paraná, ao Sul, são hoje destino de 70% da soja e de 80% do milho do Estado de Mato Grosso. A lógica é aproveitar algo elementar: geograficamente, o escoamento da produção proveniente do paralelo 16 – uma linha imaginária que corta uma área que vai da capital mato-grossense Cuiabá ao norte da Bahia, no Nordeste – tem mais viabilidade econômica pelos portos do Norte do que via Sudeste ou Sul.
“Da maneira como a infraestrutura está estruturada hoje temos um sistema perde-perde. O agricultor perde parte do que poderia receber por causa do custo do frete. O consumidor acaba pagando mais pelo produto. E quem transporta a carga também perde, pois a gasto de trafegar pelas estradas brasileiras é muito alto”, afirma Seneri Paludo, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso(Famato).

GRÁFICO
O valor pago por uma saca de milho a um produtor na cidade de Sorriso, em Mato Grosso, é de 10,5 reais (4,6 dólares). Já em Cascavel, no oeste do Paraná, o agricultor recebe 18 reais (7,8 dólares). No caso da soja, um agricultor recebe em média 63 reais (27,5 dólares) por saca no Mato Grosso, enquanto no Paraná, que está mais próximo dos portos, o valor gira em torno de 67 reais (29,2 dólares). A diferença de valores reflete a situação desfavorável do agricultor do Centro-Oeste em função da logística desastrosa. A falta de infraestrutura adequada engole parte do lucro que poderia ser revertido em mais investimentos.

Colheitadeira em lavoura de soja no Mato Grosso. / Felipe Barros/Aprosoja
Esse quadro torna mais evidente a importância estratégica do Centro-Oeste: de lá, saem 42% dos grãos produzidos no país, o que faz dele uma forte âncora da cadeia do agronegócio, responsável por cerca de 25% do PIB do Brasil. A estrela desse processo é o Estado do Mato Grosso, dono da terceira maior área do País, atrás do Amazonas e do Pará. Nos últimos cinco anos, enquanto o país tropeçava para crescer a uma taxa de 3%, Mato Grosso teve fôlego para disparar sua expansão a uma taxa média anual de 8%. Nos últimos 20 anos, Mato Grosso quintuplicou sua produção e hoje sustenta, sozinho, uma fatia de 22% do mercado de grãos. Os recursos de toda essa pujança ajudaram a formar uma estrutura composta por organizações de pesquisa econômica e de representação política que estão entre as mais ativas do país.
Mas essa expansão poderia ser ainda maior, como avaliam os líderes das organizações do setor agrícola. “O agricultor acaba freando sua capacidade de produzir pela falta de capacidade do Estado de oferecer uma infraestrutura decente para entregar esse excedente”, diz Décio Tocantins, diretor da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão(Ampa). O Centro-Oeste é a área para onde, a partir da década de 1970, os agricultores da região Sul começaram a avançar, em busca de novas terras e de um clima mais regular e menos suscetível a quebras de colheitas. Por ter tido uma ocupação tardia, a região é a que mais padece do “apagão logístico”.
A falta de armazéns é outro dos grandes gargalos que aumenta a precariedade da estrutura de escoamento da produção. Devido ao déficit de espaço, estimado em 65 milhões de toneladas (cerca de 35% da produção total de grãos da última safra), as carretas servem de estoques ambulantes de grãos. Na época de colheita, uma cena triste, que infelizmente se incorporou à rotina brasileira, é a de toneladas de grãos que passam semanas ao relento e, com frequência, apodrecem.

O agricultor acaba freando sua capacidade de produzir pela falta de capacidade do Estado de oferecer uma infraestrutura decente para entregar esse excedente”, diz Décio Tocantins
O Governo Federal sinalizou que faria do assunto prioridade, e em agosto deste ano, anunciou um plano de investir 25 bilhões de reais em infraestrutura de estocagem. A ideia é que, durante os próximos cinco anos, 5 bilhões de reais (2,2 bilhões de dólares) em recursos subsidiados a uma taxa anual de 3,5% sejam direcionados a esses projetos. O gesto foi visto com bons olhos pelo setor.
Até agora, porém, nem um centavo foi liberado. “Os projetos estão sendo analisados e esses recursos devem começar a chegar aos beneficiários até o 2014”, afirmou uma fonte do Ministério da Agricultura responsável pela área.
“Nós vínhamos pedindo há muitas anos essa linha de crédito. Mas a demora é sempre muito frustrante”, diz Glauber Silveira, presidente daAprosoja, entidade que representa os produtores de grãos do Mato Grosso.
Corrigir esses problemas vai determinar se o país deixará esses nós estrangulando seu potencial ou se vai preferir desatá-los, mantendo-se como um potência competitiva no mercado internacional de produtos agrícolas.



Enviado via iPad
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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Governo insiste em premiar capitalistas amigos - Alexandre Schwartsman

Repetição e compromisso
Folha de S. Paulo, 09/10/2013

Essa política pró-negócio pode até gerar grandes empresas, mas não é estratégia de desenvolvimento sustentável

Houve tempo em que acreditei ser o único a me repetir nas colunas e bem que tentei me convencer de que não era tão ruim quanto imaginava. Afinal, são textos de opinião e há diversas formas de expressá-las, assim como pessoas que não leram as versões anteriores e mais um tanto de argumentos para me livrar da sensação de enganar os 18 leitores. Hoje percebo que não era assim, o que –a bem da verdade–, mais que uma justificativa, torna a repetição de certos temas praticamente uma obrigação.
Digo isso porque, ao abrir o jornal de segunda (no caso, o “Valor Econômico”), deparo-me com mais uma matéria reafirmando o interesse do governo em buscar novo canal com o setor privado, praticamente reprise da coluna publicada no mesmo jornal no dia 21.nov.2012, a começar pelo título.
A coluna original (se cabe aqui a expressão) já havia me motivado a escrever sobre a diferença crucial entre a posição favorável aos negócios e a favorável ao mercado.
Vejo, com tristeza, mas sem surpresa alguma, que o tema continua absolutamente atual.
Aparentemente o governo se mostra pasmado que sua estratégia de aproximação com o setor privado, expressa na redução da taxa de juros, desvalorização da moeda e concessão seletiva de incentivos fiscais, não tenha implicado aumento do investimento. Em particular as desonerações tributárias teriam resultado em mera elevação das margens de lucro, sem resposta da inversão.
Esse desencanto, acredito, não se aplica aos 18 fiéis.
Quem leu meus comentários a respeito desse assunto à época deve (espero) ainda se lembrar da diferença conceitual (e prática!) entre políticas pró-negócio e política pró-mercado.
As primeiras visam favorecer interesses específicos de setores empresariais e englobam favorecimentos diversos a segmentos que, de uma forma ou de outra, são eleitos para comandar a expansão da economia. Sem esgotar o assunto, incentivos fiscais, crédito em condições extremamente favoráveis, proteção contra competição externa (e mesmo interna) são alguns dos instrumentos mais conhecidos e não é difícil achar exemplos de sua aplicação mesmo antes do anúncio oficial da mudança da postura “a favor do setor privado”.
Também não é difícil perceber os incentivos que decorrem dessa abordagem.
Do ponto de vista de qualquer empresa, passa a ser mais interessante convencer o governo acerca de seu papel “essencial” ao desenvolvimento do país do que se preocupar em melhorar seu produto, ou aumentar a produtividade, ou buscar novos mercados. Tudo aquilo que faz da competição capitalista o motor último de crescimento torna-se secundário se os lucros podem crescer (como admitido pelo próprio governo) a partir de decisões tomadas em gabinetes.
Não por acaso, portanto, esse tipo de política pode até gerar grandes empresas e lucros idem (favorecendo uns tantos amigos do rei), mas não configura uma estratégia de desenvolvimento sustentável.
Menos mal se alguma lição tivesse sido aprendida, mas a insistência na mesma matéria apenas sugere que, na falta de resultados positivos, a proposta governamental seja tão somente aumentar a dose do remédio, na vã esperança que o fracasso observado se origine da insuficiência da dose, e não na natureza das políticas.
Em contraste, as reformas pró-mercado que poderiam favorecer a competitividade (simplificação de tributos, liberalização do comércio exterior, maior flexibilidade trabalhista etc.) continuam onde estiveram nos últimos sete anos: expostas ao mais cruel abandono.
O prognóstico é simples e direto: nosso investimento continuará anêmico, com níveis muito aquém do necessário para acelerar de forma decisiva o ritmo de expansão sustentável do país. E, muito provavelmente, aparecerão novas reportagens acerca das outras tentativas de engajar o setor privado com o mesmo sucesso das até agora experimentadas.
Denunciar esse enfoque não é desculpa para me repetir; é mesmo obrigação.

sábado, 17 de agosto de 2013

Governo: um PIBao de erros, um PIBinho de realizacoes: o ministerio da incompetencia - Rolf Kuntz

Um governo preso numa teia de erros

O Estado de S. Paulo, 17 de agosto de 2013

Rolf Kuntz*

Trem-bala, conta de luz, câmbio, Copa, inflação, pré-sal, gasolina, orçamento - por onde começar? Com pouco mais de um ano de mandato pela frente, a presidente Dilma Rousseff só realizará alguma coisa se romper uma teia de trapalhadas construída por ela mesma, com a colaboração de um dos Ministérios mais incompetentes da História e com material em parte próprio e em parte deixado por seu antecessor. Algumas decisões serão especialmente complicadas. Se continuar reprimindo os preços dos combustíveis, com ajustes insuficientes, agravará a situação da Petrobrás, já complicada por erros acumulados em vários anos - incluída a obrigação de controlar pelo menos 30% dos poços de petróleo do pré-sal.
Se atualizar os preços da gasolina e do diesel, as pressões inflacionárias ficarão mais soltas. Isso será melhor que represar os índices, mas será preciso apertar e talvez ampliar a política anti-inflacionária. Outras decisões serão tecnicamente mais fáceis, como o abandono do projeto do trem-bala. Mas falta saber se o governo estará politicamente disposto a admitir o recuo e reconhecer a acumulação de custos inúteis. Mesmo sem sair do papel, o projeto custará pelo menos R$ 1 bilhão até o próximo ano, somadas os valores acumulados a partir de 2005 e o do projeto executivo, segundo informou O Globo.
O trem-bala é só um exemplo de objetivos mal concebidos, mal planejados e perseguidos com invulgar incompetência, A Copa do Mundo, com projetos em atraso e custos multiplicados, talvez seja o caso mais visível de um compromisso assumido de forma irresponsável e sem avaliação de prioridades.
Parte da herança recebida pela presidente Dilma Rousseff, esse compromisso, além de impor despesas crescentes e graves constrangimentos ao governo, limita seu espaço de ação. A menos de um ano do começo dos jogos, um recuo parece impensável. Para garantir a conclusão pelo menos das obras mais importantes o governo terá de intervir com dinheiro. Quando o prazo ficar muito apertado, será inútil jogar a responsabilidade sobre os parceiros privados. Será preciso gastar e ampliar o buraco nas contas públicas.
Essas contas já vão muito mal e tendem a piorar nos próximos 12 meses também por causa das eleições. Mas o governo, até agora, tem exibido muito mais preocupação com a aparência do que com a situação efetiva de suas finanças. O quadro tem piorado com o uso crescente de maquiagem para enfeitar o quadro fiscal e os números da inflação.
Essa maquiagem, a mais cara e menos eficiente do mundo, tem borrado os limites das políticas fiscal, de crédito e de combate à inflação. Um dos grandes retrocessos dos últimos anos tem sido a crescente promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais, principalmente com o BNDES. Recursos fiscais também têm sido usados na maquiagem de preços. Para disfarçar os custos, em vez de combatê-los de forma efetiva, o governo criou uma embrulhada com as empresas de energia elétrica.
As tarifas foram contidas e isso se refletiu por algum tempo nos índices de inflação, mas a conta para o governo está saindo bem maior do que as autoridades haviam calculado. O custo para o Tesouro, segundo informou o Estado, pode chegar a R$ 17 bilhões, o dobro do valor estimado pelas autoridades no começo do ano. O novo cálculo, mais completo, é atribuído ao consultor Mário Veiga, um especialista em energia. Só esse acréscimo anularia 85% do corte de R$ 10 bilhões prometido na última revisão do Orçamento - se esse corte fosse para valer.
A isso ainda seria preciso somar, entre outros itens, os R$ 6 bilhões anunciados pelo governo para emendas orçamentárias, principalmente, é claro, de parlamentares aliados. Mas os desembolsos com as emendas ficarão maiores e mais difíceis de comprimir, nos próximos anos, se o projeto de orçamento impositivo, já aprovado na Câmara, passar pela etapa final, Os vereadores federais, também conhecidos como congressistas, poderão mais facilmente realizar sua política paroquial, mais uma forma de pulverizar e desperdiçar recursos do Tesouro Nacional.
Sem apoio firme no Congresso, sem competência gerencial, sem ministros capazes de planejar e de executar políticas e sem coragem de reconhecer e de enfrentar os desafios mais sérios, o governo da presidente Dilma Rousseff criou e deixou acumular-se a maior parte de seus problemas, Por mais de dois anos insistiu na prioridade à expansão do consumo, sem cuidar da eficiência econômica e da capacidade produtiva. Foi incapaz de reconhecer o esgotamento da política de ampliação do mercado interno - um objetivo importante, mas insuficiente quando tratado de forma isolada.
Inflação, descompasso entre importações e exportações e erosão das contas externas foram as consequências mais visíveis desse erro. Em vez de atacar a inflação, o governo manteve a gastança, tentou maquiar os preços e ainda promoveu de forma voluntarista uma prolongada redução dos juros.
Uma política mais prudente, mais corajosa e mais voltada para o longo prazo teria tornado a economia nacional mais eficiente e menos dependente do câmbio para a competição global. Ao mesmo tempo, uma inflação mais baixa, como em outras economias emergentes, tornaria mais fácil absorver os efeitos da depreciação do real.
Como toda a política foi errada, também nesse caso a escolha é muito custosa: o País fica mais competitivo com o dólar bem mais caro, mas o combate à inflação, nesse caso, tem de ser mais duro.
Não há decisão fácil e confortável num ambiente de erros acumulados por muito tempo. Com a aproximação das eleições, quantos erros o governo estará disposto a atacar seriamente, em vez de apenas continuar disfarçando?   * Jornalista

domingo, 10 de junho de 2012

Argentina: sempre recuando para os erros passados...

Não se podia mesmo esperar outra coisa: o mais incrível é a vocação dos dirigentes argentinos de cometer os mesmos erros econômicos várias vezes seguidas.
Inconsciência? Memória fraca? Arrogância?
Seja como for, os argentinos vão novamente pagar um alto preço pelos erros de seus dirigentes...
Paulo Roberto de Almeida 

Argentina dólares

Argentina: medidas cambiarias aceleran la salida de dólares de los bancos

dolares
Infolatam/Efe
Buenos Aires, 10 de junio de 2012
Las claves
  • Las nuevas normas restringieron el acceso de muchos inversores al mercado cambiario formal, lo que hizo resurgir los circuitos informales de compraventa de divisas, un mercado ilegal donde el precio del dólar es entre un 25 y un 30 % más caro que el oficial.
  • Mientras en el mercado oficial, el dólar cerró el viernes a 4,5 pesos por unidad, en el mercado informal, según publicaron medios locales, se comercializó a entre 5,9 y 6 pesos por dólar.

Los errores que explican la protesta

El análisis
Joaquín Morales Solá
“¿Descomprimirá la caída de Reposo la revuelta de sectores sociales? Las cacerolas fueron mayoritariamente eyectadas de las cocinas por la economía y por los dólares, no por Reposo. El Gobierno tiene reservas reales en el Banco Central por 36.000 millones de dólares; es mucho dinero… El problema es la desconfianza y la inflación que el Gobierno ignora”. (La Nación. Argentina)
Las restricciones a la compra de dólares en Argentina y la posible “pesificación” de algunas operaciones económicas aceleraron en las últimas semanas el retiro de depósitos en dólares de los bancos.
Según datos publicados por la prensa local, en la última semana de mayo la salida de dólares de los bancos ascendió a un promedio diario de 120 millones de dólares, frente a una media diaria de 100 millones en la semana previa.
El fenómeno coincide con un incremento en las restricciones a la compra de divisas impuestas por el Fisco en noviembre pasado para contener la fuga de capitales.
En la práctica, las nuevas normas restringieron el acceso de muchos inversores al mercado cambiario formal, lo que hizo resurgir los circuitos informales de compraventa de divisas, un mercado ilegal donde el precio del dólar es entre un 25 y un 30 % más caro que el oficial.
Según el economista Ramiro Castiñeira, de la consultora Econométrica, en mayo el Gobierno llevó los “cupos” para la compra de dólares en bancos y casas de cambio “a cero” si el “fin” de la operación es el atesoramiento (ahorro personal).
“Solo acceden al mercado cambiario, y con restricciones, importadores o quienes cancelen deuda externa, entre otros”, dijo hoy el experto en un informe.
El diagnóstico coincide con el de la consultoraAnalytica, que en un informe señaló que al cerrarse “el grifo para el atesoramiento” “se instaló definitivamente la percepción de que el dólar es un bien escaso y que avanza la pesificación de la economía”.
“Este escenario, sumado a la falta de una comunicación oficial clara y consistente, derivó en una suerte de histeria colectiva que alimentó la corrida al dólar paralelo”, afirmó la consultora.
Así, mientras en el mercado oficial, el dólar cerró este viernes a 4,5 pesos por unidad, en el mercado informal, según publicaron medios locales, se comercializó a entre 5,9 y 6 pesos por dólar.
“Cuanta más improvisación ve la gente en el Gobierno, más quiere comprar dólares y más sube esta fiebre por el dólar”, dijo a Efe Orlando D’Adamo, director del Centro de Opinión Pública de la Universidad de Belgrano, cuyo último sondeo marca los controles cambiarios como la principal razón del deterioro de la imagen de la presidenta argentina, Cristina Fernández.
Por su parte, Castiñeira señaló que las nuevas restricciones no solo incrementaron la brecha entre el mercado oficial y el paralelo, sino también que los proyectos de “pesificación” de algunas operaciones en moneda extranjera, como las inmobiliarias, “renovaron temores y dispararon una nueva corrida sobre los depósitos privados en dólares”.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Argentina: restricoes a compra de dolares, como nos anos 1980...

Não parece uma velha história?
Mas, É UMA VELHA HISTORIA...
Restrições à compra de dólares pelo governo.
A única diferença é que se passa HOJE.
A Argentina repete os mesmos erros do passado.
Já vimos esse filme, e sabemos como terminou...
Paulo Roberto de Almeida 

Argentina: o Governo endurece controles para a compra de dólares

dolares
Infolatam/Efe
Buenos Aires, 13 de maio de 2012
Las claves
  • Segundo a imprensa de Buenos Aires, agentes do Tesouro percorreram na quinta-feira passada, casas de cambio do centro da capital argentina para fiscalizar as transações.
  • O Governo de Cristina Fernández ditou desde outubro passado uma série de medidas para restringir a compra de dólares e evitar a fuga de divisas.
O Governo argentino endureceu os controles para a compra de dólares, se multiplicando as rejeições às solicitações em bancos e casas de mudança, no marco das medidas do Executivo para evitar a fuga de divisas.
Fontes do setor cambiário consultadas por Efe admitiram na sexta-feira que se registraram “complicações” para a aquisição de divisas, ainda que evitaram entrar em detalhes.
Segundo a imprensa de Buenos Aires, agentes do Tesouro percorreram na quinta-feira passada, casas de cambio do centro da capital argentina para fiscalizar as transações.
Por enquanto, o sistema estabelecido pelo Governo para autorizar cada operação de compra de divisas recusou boa parte das solicitações registradas em bancos e casas de câmbio.
“Só puderam comprar dólares menos de 2 por cento dos que hoje (por ontem) tentaram, e por valores que não superavam os 300 dólares por pessoa”, disse o titular de uma mesa de câmbio ao jornal Clarín.
O Governo de Cristina Fernández ditou desde outubro passado uma série de medidas para restringir a compra de dólares e evitar a fuga de divisas.
Desde então, a aquisição de divisas deve ser validada pelo Tesouro, que tem em conta a capacidade de compra demonstrada por cada investidor.
No dia 3 de abril, o Banco Central da Argentina dispôs que as extrações “de moeda estrangeira com o uso de cartões de débito locais de caixas automáticos localizados no exterior deverão ser efetuados com débito em contas locais do cliente em moeda estrangeira”.
Segundo dados do Banco Central, a saída de capitais da Argentina ascendeu a 21.504 milhões de dólares em 2011, 88 por cento a mais que em 2010.

sábado, 17 de março de 2012

Economia brasileira: discursos grandiosos, resultados mediocres - Editorial Estadao

Sem comentários, absolutamente dispensáveis...
Paulo Roberto de Almeida 

O Brasil ficou mal na foto

Editorial Estado de S.Paulo16 de março de 2012

O governo brasileiro exibe um estranho troféu quando compara o pífio desempenho econômico do País em 2011 com o do resto do mundo e ainda tenta contar vantagem. No ano passado, o crescimento da economia brasileira foi menor que o do Grupo dos 20 (G-20), sua inflação foi maior e seu investimento continuou muito abaixo do necessário para uma expansão segura e continuada. No entanto, a presidente Dilma Rousseff aproveitou uma viagem à Alemanha para reclamar da política do Banco Central Europeu e recomendar mais investimentos públicos - como se o seu governo estivesse aplicando montanhas de recursos em estradas, portos, centrais elétricas e outras obras.
As bravatas da presidente e de seus principais ministros ficam ainda mais ostensivas - e indefensáveis - quando se examinam os dados sobre o desempenho do G-20 divulgados nesta semana pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No ano passado, as economias do G-20, as maiores do mundo, cresceram em média 2,8%, pouco mais que a brasileira (2,7%). Aquela média foi obviamente elevada pelo excelente desempenho da China (9,2%) e da Índia (7,3%), mas isso explica só em parte o resultado geral melhor que o do Brasil. Pelo menos uma economia da zona do euro cresceu mais que a brasileira. Foi a alemã, com expansão de 3%. Também exibiram crescimento maior que o do Brasil a Indonésia (6,5%), a Coreia (3,6%), o México (3,9%), a Arábia Saudita (6,8%) e a África do Sul (3,1%). O resultado final da Turquia, também membro do grupo, ainda não foi publicado, mas no terceiro trimestre seu Produto Interno Bruto (PIB) foi 8,5% maior que o de igual período do ano anterior.
A OCDE publicou também outros indicadores de desempenho dos países-membros do G-20. A inflação média em 2011 chegou a 6,6% no Brasil. Só três países tiveram desempenho pior nesse quesito: Argentina, com taxa oficial de 9,5% e taxa real provavelmente acima de 20%, Índia (8,9%) e Rússia (8,4%). Em todos os demais, incluídos alguns com crescimento acelerado, os preços aumentaram menos intensamente - 5,4% na China e na Indonésia, por exemplo. Na Alemanha, a alta de preços ficou em 2,3%, taxa muito maior que a de 2010, mas sem risco de descontrole.
O levantamento da OCDE inclui também a expansão dos investimentos produtivos, isto é, da formação bruta de capital fixo. Isso engloba os valores aplicados em máquinas, equipamentos, construções de fábricas, de moradias e de outros edifícios e, naturalmente, em obras de infraestrutura. O desempenho do Brasil foi ruim também sob esse aspecto. No ano passado, o total investido pelo setor público e pelo setor privado brasileiros foi 4,7% maior que em 2010. O governo apresentou esse resultado como altamente positivo, embora o investimento ainda tenha correspondido a 19,3% do PIB, proporção muito inferior à observada em outras economias.
O contraste é indisfarçável. No ano passado, o investimento aumentou 7,2% na Austrália, 6,9% no Canadá, 6,4% na Alemanha (a presidente Dilma Rousseff não devia saber disso), 8,8% na Indonésia e 5,7% na Holanda, mas esses números mostram apenas uma parte do quadro. Se a comparação envolvesse também as taxas de investimento, isto é, a porcentagem do PIB correspondente à formação de capital fixo, a desvantagem brasileira seria bem mais ostensiva.
O baixo nível de investimento limita fortemente as possibilidades brasileiras de expansão econômica. O investimento do setor público depende principalmente da Petrobrás. O desempenho das outras estatais é, no melhor dos casos, medíocre. Os programas e projetos inscritos no Orçamento-Geral da União e financiados diretamente pelo Tesouro são executados muito lentamente. Apesar disso, a tributação brasileira é muito mais pesada que a dos outros emergentes e de boa parte dos países desenvolvidos. Essa é uma das limitações ao investimento privado. Mas é muito mais simples, para as autoridades federais, protestar contra a expansão monetária na Europa e nos Estados Unidos e atribuir aos outros os males do Brasil. Governar seriamente dá um trabalho terrível.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Bebados costumam andar para frente e para tras, cambaleantes, hesitantes, indecisos...

Governo recua e libera cerveja na Copa
Opinião e Notícia, 15/03/2012 

Num sinal da atual desarrumação do governo, Ministério do Esporte volta atrás na questão da venda de bebida alcoólica nos jogos. Segundo Vicente Cândido, houve “um equívoco” da assessoria jurídica do governo
Em menos de um dia, o governo mudou novamente de opinião sobre a venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo de 2014. Nesta quinta-feira (15), o relator do projeto da Lei Geral da Copa, Vicente Cândido (PT-SP), informou que o comércio de cerveja faz parte do acordo feito pelo governo brasileiro com a Federação Internacional de Futebol (Fifa). Por isso, a permissão voltará ao texto da proposta.
Na tarde de ontem (14), líderes governistas decidiram retirar a venda de bebidas alcoólicas da Lei Geral da Copa. A posição foi tomada após o governo anunciar que não havia exigência da Fifa para que isso acontecesse. O Estatuto do Torcedor proíbe o consumo de bebidas ou substâncias que possam gerar violência. Um termo assinado entre o Ministério Público e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) restringe a venda desde 2008.
De acordo com o relator do projeto, as ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffman, e das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foram induzidas ao erro por suas assessorias jurídicas. Ontem à noite, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, divulgou nota afirmando que a venda de bebidas alcoólicas durante a Copa faz parte do compromisso assumido pelo país. A Budweiser, da multinacional AB-Inbev, é uma das patrocinadoras da Fifa. Por conta da confusão, uma reunião foi convocada na Casa Civil. Lá, o Palácio do Planalto informou que havia se equivocado na posição.
Com a nova posição do governo, a maior divergência na discussão do projeto – a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios da Copa do Mundo – retorna. Por conta da discussão sobre a possibilidade de existir comércio de cerveja nas arenas do mundial, o governo aceitou adiar a votação da proposta na semana passada. Mesmo assim, Cândido acredita ser possível votar o texto na próxima semana. “Governo facilitaria sua relação com Congresso se tivesse apenas uma Opinião sobre Lei Geral da Copa e não a mudasse três vezes em 24 horas”, disse a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), no Twitter.
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Surpresa de um profissional:

Faz que vai mas não vai
A venda de cerveja nos estádios, durante a Copa, é um caso clássico de amadores batendo cabeça. O Governo brasileiro, quando acertou com a FIFA a realização da Copa no Brasil, concordou em liberar a venda de cerveja nos estádios. Gleisi e Ideli informaram ao Congresso que este compromisso não existia, e a permissão da venda de cerveja foi retirada da Lei Geral da Copa. O ministro Aldo Rebelo, que é do ramo, interveio. E o Governo voltou atrás em 24 horas.
Como podem as duas ministras mais importantes ignorar os acordos escritos?
Carlos Brickmann, 16/03/2012