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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O indesejável retorno das alucinações diplomáticas - Paulo Roberto de Almeida

O indesejável retorno das alucinações diplomáticas

Paulo Roberto de Almeida


A diplomacia brasileira sofreu um bocado sob as alucinações antiglobalistas dos idiotas que a comandaram no governo anterior. Para traduzir o impacto da franja lunática no corpo dos diplomatas profissionais escrevi um livro, em 2019, chamado “Miséria da Diplomacia: a destruição da Inteligência no Itamaraty” (livremente disponivel em minha página em Academia.edu).

Ela agora vai provavelmente sofrer de novo sob as alucinações partidárias do lulopetismo de volta ao poder. Os diplomatas começam a lamentar as novas derrapagens em curso.

Pergunto-me que titulo devo dar ao novo livro que pretendo escrever sobre os novos desvios da política externa pela ação desenfreada dos companheiros no terreno sensivel da política externa.

Sugestões podem ser feitas neste mesmo canal.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 20/02/2024

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Argentina: restricoes a compra de dolares, como nos anos 1980...

Não parece uma velha história?
Mas, É UMA VELHA HISTORIA...
Restrições à compra de dólares pelo governo.
A única diferença é que se passa HOJE.
A Argentina repete os mesmos erros do passado.
Já vimos esse filme, e sabemos como terminou...
Paulo Roberto de Almeida 

Argentina: o Governo endurece controles para a compra de dólares

dolares
Infolatam/Efe
Buenos Aires, 13 de maio de 2012
Las claves
  • Segundo a imprensa de Buenos Aires, agentes do Tesouro percorreram na quinta-feira passada, casas de cambio do centro da capital argentina para fiscalizar as transações.
  • O Governo de Cristina Fernández ditou desde outubro passado uma série de medidas para restringir a compra de dólares e evitar a fuga de divisas.
O Governo argentino endureceu os controles para a compra de dólares, se multiplicando as rejeições às solicitações em bancos e casas de mudança, no marco das medidas do Executivo para evitar a fuga de divisas.
Fontes do setor cambiário consultadas por Efe admitiram na sexta-feira que se registraram “complicações” para a aquisição de divisas, ainda que evitaram entrar em detalhes.
Segundo a imprensa de Buenos Aires, agentes do Tesouro percorreram na quinta-feira passada, casas de cambio do centro da capital argentina para fiscalizar as transações.
Por enquanto, o sistema estabelecido pelo Governo para autorizar cada operação de compra de divisas recusou boa parte das solicitações registradas em bancos e casas de câmbio.
“Só puderam comprar dólares menos de 2 por cento dos que hoje (por ontem) tentaram, e por valores que não superavam os 300 dólares por pessoa”, disse o titular de uma mesa de câmbio ao jornal Clarín.
O Governo de Cristina Fernández ditou desde outubro passado uma série de medidas para restringir a compra de dólares e evitar a fuga de divisas.
Desde então, a aquisição de divisas deve ser validada pelo Tesouro, que tem em conta a capacidade de compra demonstrada por cada investidor.
No dia 3 de abril, o Banco Central da Argentina dispôs que as extrações “de moeda estrangeira com o uso de cartões de débito locais de caixas automáticos localizados no exterior deverão ser efetuados com débito em contas locais do cliente em moeda estrangeira”.
Segundo dados do Banco Central, a saída de capitais da Argentina ascendeu a 21.504 milhões de dólares em 2011, 88 por cento a mais que em 2010.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Brasil: avante, rapido, em direcao ao passado...

Hoje mesmo, ao conversar com um jornalista, eu evocava a tremenda ironia que existe ao se constatar, no Brasil, uma tendência a que os debates relevantes para o País, como os de política econômica, não se façam com relação à situação do futuro de sua economia e da sociedade no quadro da globalização, mas em direção do passado, de volta ao protecionismo e ao dirigismo dos anos do regime militar, e talvez até da era Vargas.
Eu mencionava a republicação pelo Ipea, certamente bem-vinda, do famoso debate entre Eugenio Gudin e Roberto Simonsen, em 1945, em torno das melhores para guiar a economia brasileira no pós-guerra, insistindo o primeiro, economista de corte neoclássico, nos bons fundamentos da economia e nos ganhos de produtividade, solicitando o segundo. industrial de sucesso, planejamento indicativo e dirigismo estatal, com controle dos vetores mais relevantes, sobretudo no setor externo. Pois bem: não contente em republicar esse debate, com um clara torcida pelo segundo, o Ipea também publicou um outro volume, conectado a esse, de "estudos" em torno das questões principais, mas deformando claramente as posições de Gudin, como se ele fosse contra a industrialização e o desenvolvimento do Brasil.
Tanto Gudin estava certo que a agricultura se converteu hoje no setor mais dinâmico da economia brasileira, exatamente como ele dizia que deveria ocorrer antes até de 1945. Parece incrível, mas como dizia outro economista, Roberto Campos, mas o Brasil é um país que não perde a oportunidade de perder oportunidades. Foi preciso mais de meio século para se demonstrar que Gudin estava correto, e que o segredo de nosso desenvolvimento estava nos ganhos de produtividade, não nesses "estímulos" estatais que só criam empresários rentistas, que vivem de subsídios públicos e de proteção.
O artigo abaixo confirma que temos a incrível capacidade de voltar ao passado.
Paulo Roberto de Almeida

Saudades dos anos 80
Alexandre Schwartsman
Folha de S. Paulo, Quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Dá uma sensação que beira a desesperança quando empresários pedem o fechamento da economia
Eu até poderia me surpreender, mas, como economista trabalhando no Brasil há mais tempo do que quero confessar, sinto que não tenho esse direito. Mesmo assim, quando líderes empresariais vêm a público pedir o fechamento da economia brasileira às importações, bate uma sensação que beira a desesperança.
Depois de anos de uma bem-sucedida (ainda que limitada) experiência de aumento da integração comercial do país, resta ainda quem abertamente defenda o retorno à situação que vivemos por mais de 50 anos, cujos resultados foram a estagnação da produtividade, o baixo crescimento e a elevação da concentração de renda.
O caso mais patológico foi, é claro, a malfadada política de reserva de mercado para informática, proposta por expoentes da corrente ironicamente autodenominada "desenvolvimentista", que gerou uns poucos ricos às expensas de consumidores e de empresas obrigados a pagar, por produtos de baixa qualidade, preços muito superiores aos praticados no exterior.
Todavia, esse é apenas o exemplo mais doentio do caso do amor da indústria nacional com o protecionismo. Há meros 20 anos, as importações equivaliam a 5,5% do PIB, dos quais quase a metade correspondia a petróleo e derivados, cuja produção doméstica era insuficiente.
Sob tais circunstâncias, os incentivos para a inovação eram mínimos e, consequentemente, o crescimento da produtividade foi medíocre, quando não negativo.
Dado, porém, que é precisamente o aumento da produtividade o fator crucial para a expansão sustentada do produto ao longo de muitos anos, também não se estranha o baixo dinamismo da economia brasileira por mais de 20 anos, que coincidiu, não por acaso, com o fim do processo de urbanização do país.
Por fim, a restrição às importações também permitiu a elevação das margens de lucro dos setores protegidos, cuja contrapartida é a redução do salário real. Posto de outra forma, a proteção beneficiou os setores intensivos em capital, implicando elevação do retorno sobre este à custa da redução do rendimento do trabalho, ou seja, maior concentração de renda.
E é a esse estado de coisas que alguns pretendem retornar, justificando que a elevação das importações teria prejudicado o crescimento da produção local. Isso no contexto de elevação da produção industrial superior a 16% e de um provável aumento do PIB na casa dos 9% na primeira metade do ano.
De fato, caso nossas projeções para as contas nacionais estejam corretas, a demanda doméstica deve ter crescido cerca de 10% no primeiro semestre deste ano, ou um pouco mais de R$ 150 bilhões (a preços de 2010).
Já as importações medidas em reais, deduzindo combustíveis, cresceram (também a preços de 2010) em torno de R$ 35 bilhões, um aumento de 30%, valor consistente com a experiência dos últimos anos.
Em outras palavras, mais de três quartos do crescimento da demanda doméstica foram atendidos pela produção local.
Isso se traduziu em forte redução da ociosidade na economia. No segundo trimestre deste ano, por exemplo, o nível de utilização da capacidade na indústria atingiu 82,7%, nível superado, por pouco, apenas no período entre o quarto trimestre de 2007 e o terceiro de 2008.
Já a taxa de desemprego caiu abaixo de 7% no último trimestre, o valor mais baixo da série. Ambas as observações sugerem que a economia se encontra bastante próxima do seu limite e que, portanto, as importações desempenham papel crucial para complementar a oferta doméstica num quadro de elevada demanda interna.
Se isso é verdade, o que poderia explicar esse acesso de nostalgia?
Quero crer que não seja um caso de sadismo, que sente saudade da estagnação econômica e da queda do salário real.
Provavelmente, não deve ser mais do que a percepção de que as importações limitam bastante o poder de certas indústrias de impor seus preços; é ruim para seus lucros, mas muito bom para o Brasil.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 47, é economista-chefe do Grupo Santander Brasil, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. Escreve às quartas-feiras, quinzenalmente, neste espaço.