O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

1166) Cooperacao Internacional Euro-Brasileira

Proferi palestra, nesta quarta-feira 17 de junho, no quadro do XVI FÓRUM BRASIL-EUROPA, organizado pela Fundação Konrad Adenauer no Senado Federal.

Que cooperação euro-brasileira faz sentido no âmbito internacional?
Uma proposta de agenda maximalista para resultados minimalistas


Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)
Professor, Centro Universitário de Brasília – UniCeub

Vou me concentrar em alguns questões muito simples, e por isso mesmo, corro o risco de parecer simplista, talvez até caricatural; mas vou insistir nos meus pontos simples, todos eles focados na cooperação euro-brasileira em direção de terceiros países. Deixo de lado, portanto, o plano bilateral Brasil-UE: ainda que não se possa descartar inteiramente essa possibilidade, eu a considero secundária, talvez mesmo desnecessária. O tema, de toda forma, concerne a cooperação euro-brasileira no âmbito internacional, não a cooperação bilateral direta. Meu foco é a cooperação para o desenvolvimento, não diretamente, mas indiretamente, como explico a seguir.

Sumário:
1. A velha questão do desenvolvimento, ou, talvez, do não-desenvolvimento
2. Insistindo no inviável: o Brasil no caminho da Europa?
3. O que, exatamente, poderia ser feito no plano internacional?
4. O que, exatamente, poderiam fazer europeus e brasileiros juntos?
5. O que é maximalista e o que é minimalista na agenda de cooperação conjunta?

Para ler o trabalho clique aqui.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

1165) Conselheiros da Petrobras: 76 mil por ano

Nota preliminar ulterior (se isso não é contradição, não sei o que é):

Coloquei aqui uma aparente matéria de -- digo aparente pois foi dessa forma que a recebi pela internet, atribuída a um -- jornal, aqui reproduzida sobre o valor dos honorários dos conselheiros da Petrobras.
Em vista da enorme confusão aqui criada, a matéria foi retirada de circulação.

Minhas desculpas aos leitores pela confusão involuntariamente criada...

Paulo Roberto de Almeida

1164) O grande retrocesso monetario e cambial: comercio em moedas locais

O grande retrocesso Monetário e cambial: comércio em moedas locais
Paulo Roberto de Almeida
18.06.2009

Existem coisas que escapam à compreensão de economistas, ou até de pessoas normais.
Refiro-me, por exemplo, à febre ou frenesi em torno do comércio internacional feito em moedas locais, ou seja, dispensando o dólar, que desde a Segunda Guerra Mundial converteu-se no padrão de referência e veículo efetivo da maior parte das transações monetárias, financeiras, cambiais e, sobretudo, comerciais no mundo.
Isso não impede, obviamente, que outras moedas sejam usadas, como é o caso do euro nos países membros da UE e entre esta e uma multiplicidade de parceiros. O iene, a libra e algumas outras moedas também são utilizadas para determinadas transações ou entre número seleto de países.
O dólar não foi imposto a todos os demais países do mundo por alguma medida de força, ou de direito, dos EUA. Trata-se apenas do simples reconhecimento da importância econômica dos EUA, da confiança que os agentes econômicos e os próprios países têm na sua manutenção como instrumento confiável, que responde aos três critérios básicos de uma moeda.
Não custa nada lembrar quais são:
1) unidade de conta
2) instrumento de troca
3) reserva de valor
Ponto. Apenas isso. Claro, toda moeda é antes de mais nada uma questão de confiança: se você acredita que aquele papel pintado possui efetivamente poder de compra, que você poderá utilizá-lo de diferentes formas, para as mais variadas transações, ao longo do tempo, isto é, preservando o seu poder de compra, então você decide, em total liberdade, utilizar aquele papel pintado. Se você não confia, faz qualquer outra coisa, mas se desfaz desse papel pintado que não merece a sua confiança.

Pois bem: o mundo demorou anos, décadas, para construir um sistema multilateral de pagamentos e um regime de trocas que facilite as transações entre os países, com o mínimo de restrições possível. O multilateralismo monetário, por imperfeito que seja -- posto que as autoridades monetárias americanas podem decidir dar um calote no mundo, deixando de honrar seus compromissos externos, com os compradores de títulos do Tesouro, por exemplo -- é o melhor sistema possível, pois permite que a mesma moeda seja usada com os mais diferentes parceiros em todas as transações que eles desejem, sem se amarrar em um instrumento único, como ocorria ainda com o bilateralismo estrito dos anos 1930, baseado em compensações diretas entre os países.

À luz destas reflexões, eu não consigo compreender como se deseja recuar do multilateralismo -- ou seja, da liberdade cambial e monetária -- para o bilateralismo, no qual só poderemos utilizar a moeda de um parceiro com esse mesmo parceiro.
Me desculpem os mais bem informados, mas não consigo encontrar nenhuma explicação racional para esse tremendo equívoco conceitual, para esse imenso retrocesso econômico, para essa servidão voluntária, como já disse um filósofo.

Será que a inteligência econômica está recuando no mundo, ou em determinados países?

Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 17 de junho de 2009

1163) Um debate sobre diplomatas e políticas de Estado

Como sempre ocorre com os comentários vinculados a um determinado post, eles são lisíveis apenas para quem se dê ao trabalho de clicar em cima e seguir o fio da meada. Mas existem comentários que são importantes, e que merecem ser destacados, como parece ser o caso destes anexados a este post sobre questões monetárias:

Quinta-feira, Junho 11, 2009
1152) "Emprestimo" ao FMI: comentarios ao meu post e meu novo comentario

Para alimentar o debate -- e eu gosto de debates, pois julgo que eles são sempre esclarecedores -- permito-me transcrever aqui os comentários feitos e meus comentários a esses comentários.

Para facilitar a compreensão, transcrevo a parte final do post em questão (que já era uma assemblagem de comentários), pois o primeiro comentário feito pela Gláucia, se reportava a essa frase final.


2) Anônimo disse...

Pois é, na prova de PI de terceira fase do CACD deste ano, caiu a participação do Brasil no G20 Financeiro. E nós candidatos tivemos de tecer todos os encômios possíveis ao empréstimo brasileiro ao FMI, ecoando toda aquela ladainha de o Brasil aceitando ônus para legitimar-se no pleito de ampliação de participação no sistema internacional.
Tudo para Antônio Carlos Lessa e Alcides Costa Vaz verem. Vou começar uma campanha: "PRA na banca de PI do CACD já!"
Quinta-feira, Junho 11, 2009 2:32:00 PM

PRA: O mais irônico é que candidatos a diplomatas não podem simplesmente expor os fatos, contar a realidade, basear-se em número reais e em questões objetivas. Esses candidatos precisam "comprar" a versão chapa branca do governo e repetir bobagens, literalmente bobagens consumadas e equívocos econômicos, num papel triste de repetidores da propaganda governamental, que além de falsa, é fraudulenta. Triste isso, que já se comece mentindo...
Quanto a minha presença em banca de PI, pode esquecer: não há nenhum risco que isso ocorra, pela mesma razão de por que meus livros não constam da bibliografia oficial. Deve ser porque eu não compro fábulas oficiais...

Postado por Paulo R. de Almeida às 5:55 PM

3 Comentários

Glaucia disse...

Bem, Professor, acho que isso é até esperado, não? Afinal de contas, trata-se de um concurso para diplomatas, e não para analistas econômicos. Grave é quando acontece no IPEA.

Não me choca que o Itamaraty busque pessoas que sejam (além de - e não em vez de - tecnicamente qualificadas) suficientemente sensatas para sustentar uma política de Estado.

Eis ai um tópico que você poderia nos iluminar com sua experiência. Quanto deve um diplomata ter de si mesmo nas declarações que faz, e quanto deve ele ser um homem de Estado?

Sempre se pode apelar ao consensualismo tão lulista (e tão brasileiro) de dizer que não ha necessária oposição entre uma coisa e outra - mas seria mentira, não é mesmo? Um diplomata americano da era Obama tem direito de continuar a pregar a guerra ao terror? Um da era Bush deveria sair a campo criticando o apoio incondicional dos EUA a Israel como improdutivo? Em ambos os casos, podem eles condenar Guantanamo como contraria ao direito internacional humanitário sem ordens superiores?

Tiro disso, então, a conclusão lógica: sera um problema que o Itamaraty queira dos seus integrantes mais do que lucidez, sensatez? Será tão ultrajante pedir, sim, que conheçam a postura do Estado brasileiro, e sejam capazes de exprimi-la inclusive com a maior sinceridade?

Quarta-feira, Junho 17, 2009 9:19:00 AM


Blogger Paulo R. de Almeida disse...

Glaucia,
Você colocou questões extremamente importantes, não apenas no plano individual, ou seja do servidor do Estado enquanto ser pensante, de um lado, e enquanto servo obediente, de outro, mas sobretudo na conformação das políticas públicas: como elas se formam, se correspondem, ou não, ao interesse nacional, se respondem a critérios de racionalidade econômica, mais do que de conveniência política ou de simpaticas ideológicas, enfim, um conjunto de questões que não tenho tempo de abordar agora, mas que estou separando e guardando para um comentário futuro, talvez até um trabalho mais amplo sobre essa questão. Promessa.
No momento, e quanto a minha posição apenas, só posso dizer que nunca, em toda a minha vida, e especialmente na carreira, jamais deixei o cérebro na portaria quando ingresso para trabalhar, e jamais renuncio a pensar com minha própria cabeça na consideração e avaliação de questões como essas.
Voltarei ao assunto.
PRA

Quarta-feira, Junho 17, 2009 12:54:00 PM


Glaucia,
Não vou comentar agora a substância de seus argumentos, mas não posso deixar passar três questões em torno das quais você me parece estar "fora da marca", ou miss the point, como se diz...
Você escreveu:
1) "Afinal de contas, trata-se de um concurso para diplomatas, e não para analistas econômicos. Grave é quando acontece no IPEA."

PRA: Sua frase parece implicar que diplomatas podem se permitir o direito de serem mais relapsos, ou negligentes, com a economia, do que analistas econômicos do IPEA, o que reputo tremendamente equivocado. Não é porque se está fazendo uma seleção para diplomatas que os exames de entrada tenham de ser mais lenientes, complacentes, tolerantes com a irracionalidade econômica, ao contrário: temos de ser tão rigorosos quanto qualquer concurso de especialistas em economia, pois afinal de contas são os interesses do país que estão em jogo, não a renda individual de cada candidato à diplomacia. Não temos simplesmente o direito de ignorar a economia...

2) "Não me choca que o Itamaraty busque pessoas que sejam (além de - e não em vez de - tecnicamente qualificadas) suficientemente sensatas para sustentar uma politica de Estado."

PRA: Sensatez é um qualificativo subjetivo e alguém pode aparecer como razoavelmente sensato aos olhos de um true believer nas virtudes da economia socialista (como um Chávez, por exemplo) e aparecer como um esquizofrênico econômico aos olhos de qualquer outro economista "sensato".
Por outro lado, "sustentar uma política de Estado" me parece muito vago. O Estado é uma entidade abstrata e suas únicas políticas são aquelas propostas por pessoas de carne e osso, com suas crenças e ideologias, e aprovadas por um grupo de lobistas setoriais agregados em algo confuso que se chama Parlamento. Ou seja, sempre aplicamos políticas de governo, que se são estáveis e equilibradas o suficiente ganham credibilidade e passam a ser chamadas de políticas de Estado, pelo menos durante certo tempo. Os militares no Brasil, por exemplo, construiram muitas politicas de Estado, a ponto de este dominar 35% da economia (formação do PIB). O que era perfeitamente racional num determinado momento -- empresas de telecomunicações por exemplo -- tornou-se flagrantemente absurdo anos depois, quando você só conseguir uma linha telefônica se comprasse uma disponível no mercado, por mais ou menos 4 mil dólares. Isso não me parece uma boa política de Estado e se um diplomata continuasse a defender esse tipo de política, ele mereceria ser internado como louco de hospício.

Finalmente, você escreve:
3) "Tiro disso, então, a conclusão logica: sera um problema que o Itamaraty queira dos seus integrantes mais do que lucidez, sensatez? Sera tão ultrajante pedir, sim, que conheçam a postura do Estado brasileiro, e sejam capazes de exprimi-la inclusive com a maior sinceridade?"

PRA: Respondo expressamente que SIM, o Itamaraty quer sim algo mais do que lucidez e sensatez, que como disse são conceitos subjetivos. Se requer preparação técnica, um bom conhecimento de direito internacional, um bom domínio das realidades econômicas, uma familiaridade muito grande com os problemas brasileiros.
Como disse acima, o Estado não tem postura, e sim governos concretos. Estado é uma entidade abstrata ocupada temporariamente por grupos políticos que disputaram no mercado eleitoral o direito de administrar o Estado por um tempo limitado. Esse grupo pode ser composto de malucos de pedra que determinam "políticas de Estado" absolutamente danosas e irracionais e o diplomata precisa ter consciência disso.
Eu lhe dou dois exemplos imediatos disso.
Semana passada, o ministro do Planejamento demonstrou preocupação com a valorização do real, como aliás reclamavam os industriais (um grupo de empresários que representam no máximo 10 ou 15% da economia brasileira). Pois ele recomendou que o Banco Central comprasse mais dólares, o que significa tripudiar com a nossa inteligência e os nossos interesses como nação (100% do PIB). Pois para comprar mais dólares, o BC precisa emitir títulos da dívida pública, pois nem ele emite dólares, nem tem recursos para tanto, ou seja, precisa aumentar a dívida pública. Como é possivel fazer esse tipo de recomendação, quando se paga a Selic pela dívida pública e a "remuneração" do dólar, se houver fica abaixo disso, sendo mais provavelmente negativa?
Outro exemplo é essa idéia de malucos monetários que querem escapar do multilateralismo monetário para começar a negociar com moedas inconversíveis, como o rublo russo, o yuan chinês e a rúpia indiana. Quem propõe tal involução ao bilateralismo no sistema de pagamentos só pode ser internado como Napoleão de garagem.

1162) Pausa para a Metafisica...

Recebo cada mensagem surpreendente...
Geralmente são alunos (folgados, talvez) pedindo ajuda para algum trabalho escolar ou até universitário. Preciso colocar um aviso no meu site e blogs, dizendo que não estou aberto a esse tipo de assessoria.
Mas, esta demanda abaixo é especial, pois adentra no terreno da Metafísica:

On 17/06/2009, at 17:30, Jose wrote:

Boa tarde,
Venho pelo presente solicitar informaçoes sobre auxilio metafisico, dentro de sua área de atuaçao, se possivel.
Agradecido,
José Carlos

======

Pois bem, sem muito tempo para adentar nos arcanos da metafísica, respondi simplesmente isto:

Nao é meu departamento. Cuido de coisas materiais. Para a metafisica contate um departamento de filosofia.
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/

Après coup, como diriam os franceses, eu realizei que poderia ter sido mais simpático, mais receptivo e, sem fazer qualquer ironia, tentar esclarecer as dúvidas metafísicas do meu distinto correspondente.
Eu precisaria começar perguntando sobre o que seria um "auxilio metafisico, dentro de [minha] área de atuaçao", que não sei bem qual seja se a diplomacia, se a academia.
Nesta última, obviamente, estaríamos totalmente dentro da matéria, mas ainda não conheço alguma especialidade aparentada com "economia metafísica".
Não digo que não possa existir, pois a economia é uma disciplina abrangente, ambiciosa, voluntariamente predisposta a se meter em tudo, inclusive no amor e nas demais paixões humanas, e pode-se perfeitamente, portanto, conceber uma especialidade de tal teor filosófico para a velha ciência lúgubre... Vou pensar nisso.

Se fosse com a diplomacia, having second thoughts, como diriam os americanos, teria tudo a ver: metafísica se encaixa bem na maior parte dos discursos diplomáticos, e até em alguns tratados e protocolos bizarros, como na integração sul-americana, por exemplo. Não há nada mais metafísico do que o Tratado da Alba, e recomendo a quem ainda não o leu, que procure conhecer. Fica bem do lado de qualquer tratado wittgeinsteiniano, ou talvez kirkeggardiano, talvez até nietszcheano, quem sabe...
Em todo caso, caberia explorar essa possibilidade de se ter uma diplomacia metafísica, como aliás já deve ocorrer em vários experimentos aqui por perto.
Vou pensar no assunto e se tiver tempo vou escrever novamente ao meus metafísico interlocutor, agradecendo pala sugestão, e pedindo cessão de copyright pela idéia.

terça-feira, 16 de junho de 2009

1161) O custo da democracia brasileira (melhor, o alto custo dos parlamentares brasileiros)

Essa nota do Eduardo Graeff foi feita em torno de um problema "para lamentar", não querendo fazer um infame trocadilho com nossas despesas (inúteis) com representantes políticos que pouco representam (menos a si mesmos).
Para achar o Brasil, os interessados terão de abrir o link abaixo e ir muito longe, mas muito longe mesmo na escala comparativa de governança e custo dos congressistas. A nossa situação é tão ruim que ela se situa literalmente fora do mapa.
Ainda vou escrever algo sobre isso. (PRA)

Custo-benefício ruim
Eduardo Graeff, 15/06/09

Este gráfico compara o salário básico de um deputado e a qualidade do governo em vários países (clique a figura para abrir a página).

Quanto mais longe do centro do gráfico, maior o salário do deputado em relação ao PIB per capita do país.
Quanto mais longe da linha de base no sentido anti-horário, pior o governo. A avaliação dos governos leva em conta três índices: o Índice de Democracia da The Economist, o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU e o Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional.

É ruim de achar o Brasil no gráfico. Estamos lá longe do centro na direção das 10:30 horas.
Um deputado brasileiro custa 22 vezes o PIB per capita. Um deputado europeu, menos de 4 vezes. Isso significa que o esforço do cidadão brasileiro para manter um deputado é cinco vezes maior do que o esforço de um cidadão europeu.

Em troca desse esforço, o cidadão brasileiro recebe um governo bem pior que os da Europa, Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul, um pouco pior que o do México, um pouco melhor que os da Argentina, Botswana, África do Sul, Turquia e Tailândia.

Nosso governo não chega a ser um desastre comparado com o de outros países da América Latina, África e Ásia.
Mas a relação custo-benefício, digamos, tem muito que melhorar
<http://www.eagora.org.br/arquivo/custo-beneficio-ruim/>

1160) Comparacoes educacionais Europa-EUA

EUA X EUROPA! DADOS DO NÍVEL EDUCACIONAL
(Comparações Transatlânticas. Peter Baldwin. Los Angeles, 10.06.2009).

1. As diferenças dos dois lados do Atlântico são o contrário do que se imagina. A porcentagem de americanos formados em universidades e escolas secundárias é mais alta do que em qualquer país europeu. Os americanos adultos são melhor educados do que os adultos da Europa. E os EUA gastam mais dinheiro por criança, em todos os níveis da educação, do que qualquer país do oeste da Europa.

2. Os europeus costumam acreditar que as boas escolas americanas são particulares e servem apenas à elite. Mas a educação americana é menos privatizada do que a da maioria dos sistemas europeus. A educação pública foi um dos primeiros programas sociais a receber financiamento público massivo nos EUA. E os americanos, descobriu-se, leem. Para os padrões europeus, a porcentagem de americanos analfabetos é mediana. Há mais jornais per capita nos EUA do que em qualquer lugar da Europa, fora a Escandinávia, Suíça e Luxemburgo.

3. A longa tradição de bibliotecas públicas com bom financiamento nos EUA significa que o leitor médio americano tem uma oferta de livros melhor do que seus colegas da Alemanha, Inglaterra, França, Holanda, Áustria e os países do Mediterrâneo. O americano médio usou mais livros de biblioteca do que seus colegas na Alemanha, Áustria, Noruega, Irlanda, Luxemburgo, França e por todo o Mediterrâneo. Os americanos compram mais livros per capita do que qualquer europeu. E eles também escrevem mais livros per capita do que as nações europeias.

1159) Brics: what do they have to offer to the world?

Brazil Is the Odd BRIC Out
Mac Margolis
Newsweek, Saturday, June 13, 2009

Brazil, Russia, India and China have been slow to embrace the BRIC acronym, coined in 2001 to describe the four giant emerging markets. But now they’re trying to convert their collective bulk into clout. This week BRIC leaders will meet in Russia to discuss an ambitious agenda that includes overhauling the international financial system and enlarging the United Nations Security Council. The powwow is being billed as a test of whether the BRICs can shift the global power equation. But perhaps the biggest test will be for Brazil, which has always been the outlier of the four: it’s the slowest-growing, expanding at half the rate that China and India have over the past decade; it alone has no nuclear weapons; it’s more enthusiastic about free trade than Russia and China are; and it sided with the U.S. against India in favor of opening agricultural markets. Even as the BRICs unite, Brazil is touting advantages over its outsize peers, including its strong democracy and peaceful foreign relations. When the four meet, the real issue may not be whether the West will listen, but whether the BRICs can agree on what to say.

That was the note by the reprter. I (PRA) could just add:
Not just something valuable to say, but also, what can they offer to the world in terms of a better economic por political alternatives: market economies, convertible and inflation-free currencies, free capital flows, valuable tchnology and know-how, peace and security, what do they have in their basket?

1158) Pausa para o humor: Blogueiro se faz de mulher e engana filho de Fidel Castro

Não deixa de ser gozado, hilariante, ou irônico, segundo se interprete o que ocorreu. Um dia, quando Cuba virar um país normal, ambos vão se encontrar e dar risadas de tudo isso. Por enquanto, só Miami ri, a ilha (pelo menos sua parte oficial) não deve ter achado nada engraçado...

Blogueiro se faz de mulher e dá trote em filho de Fidel Castro
Noticias MSN

Por oito meses, 'Claudia' trocou mensagens com Antonio Castro para 'expor estilo de vida opulento' de família de Fidel.
Um blogueiro cubano exilado em Miami criou uma personagem fictícia e trocou e-mails com o filho do líder cubano Fidel Castro, furando o cordão de segurança em torno da família presidencial de Cuba.
Luis Dominguez afirma ter usado a personagem para iniciar uma relação online com Antonio, de 40 anos de idade.Os dois trocaram fotografias e chegaram a planejar encontros em Varadero, em que Antonio serviria de "guia" para Claudia, segundo contou o blogueiro.
Ele se recusou a pedir desculpas pelo engano, afirmando que queria mostrar o "estilo de vida opulento" dos Castros.
As autoridades cubanas não comentaram as conversas online.

Segurança
Criar personagens para flertar na internet não é, exatamente, uma novidade. E qualquer jornalista que cobre a política cubana e a família Castro sabe da dificuldade em se obter acesso a eles.
Há décadas, a família Castro mantém um forte cordão de segurança a sua volta, em grande parte por conta das repetidas tentativas de remover o governo comunista da ilha.
Dominguez usou a suposta fraqueza de Antonio por jovens mulheres e esportes para se aproximar dele e criou Claudia, uma jornalista colombiana de 27 anos, especializada em esportes.
Claudia entrou em contato com Antonio dizendo que os dois haviam se conhecido em um evento esportivo e manteve uma relação com ele por oito meses.
Antonio contou a ela de sua vida em Cuba e suas viagens a outros países acompanhando seu tio Raúl, o presidente de Cuba, além de dar seus números de telefone e endereços de e-mail, mas não revelou nenhum segredo de Estado.
Mas Dominguez afirma que ao expor o que descreve como estilo de vida opulento da família Castro num país comunista, ele já cumpriu seus objetivos.
A troca de mensagens e algumas fotografias enviadas por Antonio foram publicadas no blog de Dominguez, Cuba al Descubierto. O blogueiro se recusou a pedir desculpas pela invasão de privacidade.
"Sou cubano e cubano americano e não pude voltar ao meu país desde que o deixei, em 1971", afirma ele.
"Eu uso qualquer ferramenta para tentar atingir essas pessoas. Em Cuba as pessoas são presas sem qualquer razão. Seus direitos são violados... Então, por que não posso fazer o mesmo com eles? Não tenho nenhum remorso."
As autoridades cubanas não fizeram qualquer comentário sobre as conversas online, mas Claudia afirma que a relação entre ela e Antonio Castro "esfriou".

domingo, 14 de junho de 2009

1157) Sarkozy pretende fazer o mundo adotar as regras laborais francesas

O presidente brasileiro pretende segui-lo no frenesi de adotar todas as convenções da OIT: um dos resultados pode ser o engessamento ainda maior de nosso ambiente laboral em virtude de regras muito rígidas, e portanto menos crescimento e mais desemprego no futuro...

Sarkozy promeut un nouvel ordre social mondial
Marc Landré
Le Figaro, 12/06/2009

Nicolas Sarkozy plaidera lundi pour que l'OIT occupe une plus grande place dans le processus de sortie de crise.

Le chef de l'Etat demandera lundi à Genève que l'Organisation internationale du travail occupe une place importante dans le dispositif de sortie de crise.
C'est un «discours très important» que le président de la République prononcera lundi à Genève, au siège de l'Organisation internationale du Travail (OIT), qui a décidé de consacrer une journée de sa 98ème session annuelle à un «sommet crise emploi» afin de proposer un «pacte mondial pour l'emploi».
Nicolas Sarkozy, seul chef d'Etat du G8 à avoir répondu positivement à l'invitation du l'OIT, entend y décliner sa vision d'un nouvel «ordre social mondial» et entamer, par la même occasion, une nouvelle séquence politique qui englobe aussi son intervention une semaine plus tard devant le Congrès. «Il va décrire le modèle social qu'il souhaite voir sortir de la crise, explique-t-on aujourd'hui à l'Elysée. Pour lui, les sujets sociaux doivent être traités de la même manière et avec la même importance que les questions économiques et financières.»

Nicolas Sarkozy, qui sera accompagné notamment de Bernard Kouchner et de Brice Hortefeux, plaidera lundi pour que l'OIT occupe une plus grande place dans le processus de sortie de crise. C'est l'une des demandes fortes des syndicats français que le chef de l'Etat a reçus lundi dernier à l'Elysée afin de recueillir leurs demandes. «Il veut poursuivre la dynamique du G20 de Londres où il avait convaincu ses homologues d'inviter l'OIT à faire des propositions au sujet du nouvel ordre mondial qui doit sortir de la crise», précise l'un de ses collaborateurs. Nicolas Sarkozy pourrait à cet égard exiger que l'OIT occupe, au même titre que le FMI ou la Banque mondiale, un siège au prochain G20 qui se réunira le 24 septembre à Pittsburgh pour parler de l'après-crise.

Cerise sur le gâteau, le chef de l'Etat entend frapper un grand coup en demandant que les 182 pays membres de l'OIT ratifient les normes sociales promulguées par l'organisation. La France est aujourd'hui le deuxième pays dans le monde (derrière l'Espagne) qui a le plus ratifié de conventions de l'OIT. 123 sur 188 précisément ! A l'inverse, une cinquantaine de pays - parmi lesquels on trouve les Etats-Unis, le Japon, la Chine ou l'Inde - n'ont ratifié aucune des huit normes fondamentales, dont celles sur la liberté syndicale, l'élimination du travail forcé ou l'abolition du travail des enfants. «Le président regrette que l'on demande aux pays qui ont déjà ratifié le plus de conventions d'en faire toujours plus alors que certains pays, et non des moindres, n'en ont transposées aucune fondamentale aujourd'hui», confirme un proche du chef de l'Etat qui pourrait proposer d'appliquer des sanctions aux Etats récalcitrants. Nicolas Sarkozy pourrait aussi demander au gouvernement français de ratifier les dernières conventions de l'OIT non encore transposées dans le droit français. Histoire de montrer l'exemple…

sábado, 13 de junho de 2009

1156) Mais rumores sobre a morte do G8

Sobre a morte do G8 e a ascensão dos Brics:
comentários metodológicos

Paulo Roberto de Almeida

1. Informação inicial
Aparentemente, um novo debate público sobre temas de relações internacionais vai começar, à raiz das declarações do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, em Paris, segundo o qual o G-8 morreu (12.06.2009). De acordo com suas palavras, após participar de um evento no Instituto de Estudos Políticos de Paris, o G8 “não representa mais nada”.
Ainda de acordo com Amorim: “Eu não sei como vai ser o enterro, às vezes o enterro ocorre lentamente. Hoje, por qualquer critério, economias como China, Brasil e Índia são economias importantes, que têm um efeito na economia mundial maior do que muitos outros que estão no G-8”. Segundo o mesmo despacho de agência, Amorim argumentou que o mundo está entrando em um período de ‘governança variável’, no qual “países como China, Brasil e Índia têm de estar em todos os temas”.
Finalmente, para o ministro, ao reunir tanto as principais economias avançadas quanto as emergentes, o G-20 “é um modelo melhor”, ainda que não tenha havido precisão quanto à natureza desse modelo: melhor em quê, ou para o quê, exatamente? O debate que está sendo lançado pelas declarações do ministro brasileiro é, portanto, sobre: (a) a morte anunciada do G8; (b) sua eventual substituição pelo G20; (c) se o G20 cumpriria melhor funções hoje supostamente desempenhadas pelo G7-G8.
Sem pretender penetrar na substância do problema, pois não tenho nenhuma participação em processos decisórios para propor o que quer que seja, minha intenção, nos comentários abaixo, é apenas a de qualificar esse debate, por meio de questões e esclarecimentos sobre o que vem a ser o G8, o G20, quais suas funções respectivas no sistema financeiro internacional – e, por extensão, na economia mundial – e sobre o que se poderia esperar dessa fase de transição entre um núcleo mais restrito de economias dominantes e a previsível redistribuição do poder econômico mundial.

2. Qualificando o debate
O G8, como sabem todos, é o grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo e a Rússia, esta convidada a integrar o antigo G7 – que existe desde meados dos anos 1970 – por razões bem mais políticas do que propriamente econômicas ou financeiras. Pode-se concordar com o ministro em que existem, hoje, economias emergentes – como a China, por exemplo, ou talvez o próprio Brasil – que são maiores do que alguns membros do atual G7, Canadá ou Itália, por exemplo. Também é um fato que a China, pelo seu PIB nominal – isto é, não per capita – já ultrapassou a maior parte do G7, à exceção do Japão (por enquanto). Não é seguro, entretanto, que essas economias emergentes sejam mais relevantes do que o atual G7, ou que elas possam cumprir o mesmo papel que o G7 desempenha atualmente.
Uma questão paralela, que pode ser abordada apenas entre parênteses, seria a de saber se cabe a um representante extra-G8, mas falando supostamente em nome de um dos membros desse mesmo grupo, a Rússia, decretar a morte do G8, o que suporia a concordância prévia desse membro com o seu suicídio parcial, como G8, para emergir apenas como G20, e dentro dele como Bric. Outra questão paralela seria a de saber se a maioria dos membros do G8, ou seja o G7, que já existe há certo tempo e aparentemente pretende continuar a se reunir neste formato exclusivo para questões financeiras (das quais a Rússia é parcial ou totalmente excluída), também concorda com esse suicídio coletivo, ou pelo menos com o abandono de seu formato de trinta anos, para passar a reunir-se apenas no âmbito do G20. Caberia, talvez, perguntar aos próprios interessados, mas fechemos o parênteses neste mesmo ponto.

3. O que define o G7, e deveria definir também o G8 (idealmente)
Qualquer que seja o julgamento que se possa fazer, hoje, sobre o G7 – e, por extensão, sobre o G8 – um fato deve ser salientado desde o início. O G7 foi formado por iniciativa francesa, no imediato seguimento da grande bagunça criada no sistema financeiro internacional pela decisão unilateral dos EUA de romper com os compromissos estabelecidos em Bretton Woods, de assegurar a conversibilidade do dólar em ouro, segundo o regime de paridades cambiais estáveis (mas ajustáveis) colocado sob a jurisdição do FMI. Rompido o vínculo, em 1971, e emendado o convênio constitutivo do FMI, em 1973, o mundo entrou numa fase de grande instabilidade monetária causada pela flutuação errática das moedas, que variavam reciprocamente entre si, tanto por força de movimentos especulativos, quanto pela ação nem sempre coordenada dos principais países detentores de moedas de reservas. As moedas de reserva são aquelas que integram, desde 1970, o instrumento contábil do FMI, o Direito Especial de Saque (ou SDR, na sigla em inglês), a saber: dólar americano, libra inglesa, iene japonês, franco francês e marco alemão, as duas últimas substituídas pelo euro desde 2002.
A convite do presidente francês Valery Giscard d’Estaing, representantes desses cinco países reuniram-se em 1975 no Palácio de Rambouillet para discutir modalidades de coordenação monetária – e por extensão de suas políticas macroeconômicas, se isso fosse possível – para evitar essas flutuações erráticas, que estavam perturbando o comércio, os investimentos e outros fluxos financeiros entre os países. Na impossibilidade de se definir um novo padrão monetário, e tendo havido um acordo de princípio para que as outras economias relevantes administrassem um processo controlado de desvalorização do dólar, se estabeleceu um compromisso de reuniões periódicas de cúpula para justamente proceder a um ajuste fino das economias avançadas e assim contribuir para a estabilidade macroeconômica e a retomada do crescimento. Reconheceu-se, logo em seguida, a importância de duas outras economias avançadas e houve acordo em sua incorporação a esse primeiro núcleo restrito da ‘oligarquia econômica’ mundial: o Canadá, já então intimamente vinculado à economia americana, e a Itália, que nesse período estava quase ultrapassando a Grã-Bretanha, pelo menos em termos de PIB nominal (aliás, no seguimento da decadência britânica, Hong-Kong ultrapassaria a metrópole, na década seguinte, em termos de renda per capita, como a confirmar quão transitórias são as glórias econômicas deste mundo).
Independentemente de quem deveria integrar, ou não, o núcleo restrito de economias avançadas, outra coisa é certa, e precisa ficar estabelecida desde já. Os princípios e valores em torno dos quais esses países estavam estabelecendo um mecanismo de consulta e de coordenação de políticas macroeconômicas (e outras, que vieram a ser agregadas ao núcleo principal) eram definidos em função de três grandes conjuntos de doutrinas políticas e de práticas governamentais: economias de mercado, democracias formais e respeito aos direitos humanos (ainda válidos, ao que parece).
Quaisquer que sejam os comentários que se possam fazer a respeito desses três elementos definidores, e os matizes em torno de qualquer um deles (pois as economias européias eram, por definição, bem mais dirigistas, nessa época, do que a dos EUA, inclusive a britânica, esta ainda em meio aos estertores do socialismo fabiano), eles estavam no centro das diretrizes que definem o pertencimento à OCDE, o clube de países ricos que tem como critério de inclusão, justamente, esses princípios e valores: economia de mercado, democracia formal e respeito aos direitos humanos.
A esse título, pode parecer estranho que a Rússia, recém saída de uma longa noite de totalitarismo comunista, em 1991, tenha sido admitida a participar, dois ou três anos depois, desse clube restrito de democracias capitalistas respeitadoras dos direitos humanos e de várias outras liberdades ‘burguesas’. A iniciativa se deveu à então líder britânica, Margareth Tatcher, que pretendia ‘amarrar’ a Rússia de Ieltsin – reconhecido como semi-democrata – ao Ocidente, e evitar, assim, qualquer retorno ao autoritarismo ou ao socialismo do passado.
Cabe a cada um dos leitores, certamente bem informados sobre a evolução e a situação atual da Rússia, julgar se ela merecia, então, e se ela merece, agora, esse crédito de confiança, tendo em vista as características por assim dizer ‘peculiares’ da Rússia pós-soviética (e alguns diriam, até, progressivamente czarista, novamente). Basta dizer que ela foi reconhecida como ‘economia de mercado’ apenas em 2002, no G7 de Kananaskis, quando até a China, formalmente socialista de mercado, já tinha uma maior predominância do setor privado na formação de seu PIB. A transição da Rússia para uma economia de mercado foi algo heterodoxo, para utilizar uma expressão neutra. Cabe também lembrar que, até hoje, a Rússia não foi incorporada à OCDE nem admitida na OMC, etapa esta que já foi cumprida pela China (que começou a negociar sua adesão ao GATT desde 1987).

Tendo em vista, portanto, esses elementos definidores do G7 – pelo menos em sua fase inicial, mas supõe-se que o G8 cumpre o mesmo ritual –, o passo seguinte seria o de se perguntar se o G20 manifestaria a mesma adesão de princípio (e para todas as finalidades de ordem prática) aos princípios centrais dessa filosofia política e econômica: economia de mercado, democracia e respeito aos direitos humanos. Se as futuras declarações do G20 contiverem esses valores, excelente: estaremos certamente progredindo no cenário mundial e no terreno comum de uma mesma filosofia de base para as relações internacionais. Seria, entretanto, lamentável, algum retrocesso nesse terreno, pois isso indicaria que o mundo estaria caminhando para menos democracia, menos direitos humanos e mais economia dirigida, ou dirigista, o que não parece ser uma evolução positiva, a qualquer título.
Pode-se, igualmente, perguntar em que medida os Brics atendem a esses requisitos formais do antigo G7. Brasil e Índia são sempre definidos como duas grandes democracias, ainda que, na prática, essas democracias tenham, reconhecidamente, problemas identificados de qualidade das instituições públicas, de legitimidade da representação política, de densidade da participação popular e de inclusão social, tout court, tendo em vista as imensas desigualdade sociais exibidas por esses dois grandes países. Por outro lado, cabem dúvidas quanto à qualificação democrática da Rússia e da China, assim como o respeito de suas equipes dirigentes pelas formalidades dos direitos humanos. Quanto à economia de mercado, novamente Brasil e Índia parecem mais próximos do capitalismo do que as duas grandes economias ex-socialistas. Pode ser que os Brics tenham suas próprias definições em torno dos valores do G7 e da OCDE, mas caberia saber, finalmente, se todo mundo – e não apenas o G20 – estaria de acordo com essas definições.

4. Quais as funções do G7, que deveriam, também, ser cumpridas pelo G20?
Cabe agora entrar no que seria o núcleo duro do G7, ou seja, sua função como ‘oligarquia econômica’ mundial, ou numa definição mais amena, seu papel positivo no equilíbrio da economia mundial para fins de crescimento, desenvolvimento, além da defesa daqueles mesmos valores que são reconhecidos, em princípio, como relevantes e importantes na vida das democracias modernas. Provavelmente, nem todos os membros da G7 pretenderiam fazer como a China, atualmente, que determinou a instalação de filtros nos computadores vendidos em seu território, teoricamente para coibir transmissão de pornografia ou violência gratuita...
Enfim, o mais importante, cabe insistir, é o papel do G7 na economia mundial, que talvez não seja tão relevante quanto no passado, pois as velhas locomotivas já não andam tão rápidas quanto antigamente, ou não têm mais o mesmo peso no conjunto da economia mundial. É certo que a China hoje representa parte substancial do consumo mundial de commodities e outras matérias primas: um terço disto, um quarto daquilo, enfim, influenciando decisivamente mercados e preços mundiais, e contribuindo para o crescimento de muitas outras economias, asiáticas certamente, mas também do próprio Brasil e vários países africanos. A Rússia também se tornou um fornecedor estratégico, talvez incontornável (pelo menos no curto prazo) de energia para a Europa, sobretudo gás e petróleo, estando inclusive em condições de ditar os seus termos (o que significa fazer certa chantagem sobre seus consumidores dependentes). A China também se tornou a principal financiadora dos déficits americanos, tendo comprado Treasury bonds à razão de 700 bilhões de dólares (o Brasil também, mas em escala mais modesta, cerca de 140 bilhões, apenas). Tudo isso é muito importante, mas não é o essencial.
O essencial é que os países do G7, com alguns outros membros do BIS – Banco Internacional de Compensações, na Basiléia – são o que se chama de emprestadores de última instância, ou seja, estendem crédito para países necessitados, diretamente ou via FMI, sendo também os provedores das moedas internacionais de reserva, hoje ainda excessivamente concentradas no dólar (embora com tendência à substituição parcial por outras divisas, ou pelo DES do FMI). Cabe perguntar, assim, se os países do Bric, ou outros membros do G20, estariam em condições de desempenhar esse papel, o que significa, esclareçamos imediatamente, dispor de moedas livremente conversíveis, ausência de restrições a movimentos de capitais e um conjunto de regras quanto à utilização desses recursos para evitar o que se chama de moral hazard, ou irresponsabilidade na gestão das transações correntes.
Dos quatro Brics, a China parece ser o único país em condições de influenciar decisivamente – para o bem ou para o mal – a economia mundial, pelo seu peso econômico já constatado, pela importância das suas reservas e pelo seu papel nos circuitos manufatureiros mundiais. Nenhum dos outros três possui essa capacidade – de disruption, podemos dizer – que exibe a China, embora no conjunto eles também possam ser decisivos em determinados mercados, ainda que eu não se visualize nenhum em particular, para esse conjunto. Digamos que eles possuem certa capacidade obstrutora sobre alguns dos temas da agenda mundial, mas ainda não parecem exibir grande capacidade propositiva ou um papel decisivo para o encaminhamento de alguns dos grandes problemas do sistema internacional.
E quais seriam esses grandes problemas? Bem, além da própria estabilidade e da retomada do crescimento, eles são, justamente, os das moedas de reserva, da capacidade de financiamento, do meio ambiente, do terrorismo, da segurança e da paz. Como encaminhar, por exemplo, o problema da Coréia do Norte? Talvez os Brics tenham suas próprias sugestões. Como administrar o problema também nuclear do Irã? Como resolver os conflitos do Oriente Médio? E os da África? Os da pobreza na América Latina e em todas as demais regiões pobres? O que fazer com o narco-tráfico, a delinquência transfronteiriça, o crime organizado, o aquecimento global?
Sobre todos esses problemas os Brics e o G20 teriam de oferecer soluções. Não apenas no papel, ou retoricamente, mas soluções factíveis, práticas, implementáveis e eficazes...
Com a palavra, os sucessores do G7...

Brasília, 13 de junho de 2009

1155) Rumores sobre a morte do G8...

É o que declarou o ministro brasileiro das Relações Exteriores em Paris, nesta sexta-feira, 12 de junho de 2009.
Vamos acompanhar o féretro...

Celso Amorim reafirma importância dos BRIC e diz que o G-8 morreu

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou na sexta-feira (12) que 'morreu' o G-8, o grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo e mais a Rússia. "O G8 morreu. Não representa mais nada", disse Amorim, após um evento no Instituto de Estudos Políticos de Paris. "Eu não sei como vai ser o enterro, às vezes o enterro ocorre lentamente. Hoje, por qualquer critério, economias como China, Brasil e Índia são economias importantes, que têm um efeito na economia mundial maior do que muitos outros que estão no G-8", salientou.

Segundo o chanceler, as economias do G-8 continuarão a ser importantes, 'mas elas não podem substituir a imprescindível presença de países como a China, o Brasil, a Índia, e mesmo a África também tem de ser representada."

BRIC- O ministro acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta semana na primeira cúpula dos BRIC - grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China - na cidade russa de Ecaterimburgo. Segundo ele, os países estabelecerão uma coordenação econômica mas também tratarão de outros temas na agenda internacional. Amorim argumentou que o mundo está entrando em um período de 'governança variável', no qual "países como China, Brasil e Índia têm de estar em todos os temas".

As principais discussões sobre o combate à crise econômica global têm ocorrido entre os países do G-20, grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo. Em abril, Londres sediou uma reunião de cúpula do G-20 para discutir a crise.

Um grupo de cinco países em desenvolvimento - Brasil, China, Índia, África do Sul e México -, também chamado de G-5, participa há alguns anos como convidado de parte das reuniões anuais de cúpula do G8, mas pedem mais voz nas discussões.

Amorim reconheceu que pode haver "confusão" em relação aos diversos grupos de países formados atualmente, mas disse que o importante é que a profusão de grupos reflita uma ordem mundial mais plural e equitativa.

"Hoje tem o G-8 + 5, que talvez se transforme no G-8 + 6, de repente se transforma em G-8 +12 e vira outro G-20... o fato é que quando falamos G-8 mais outros países, se fala de um grupo de países que são um núcleo e um grupo de países convidados. Eu acho que isso também é algo que tem de ser superado", opinou. Para o ministro, ao reunir tanto as principais economias avançadas quanto as emergentes, o G-20 "é um modelo melhor."

sexta-feira, 12 de junho de 2009

1154) Tobin Tax: corrigindo pequenos equívocos...

O jornalista Washington Novaes assina uma matéria chamada

Onde se conseguirão recursos para os pobres?

no jornal O Estado de S. Paulo desta sexta-feira, 12.06.2009, p. A-2. Enviei-lhe a seguinte carta retificadora:

Meu caro Washington Novaes,
Escrevo a propósito de sua coluna de hoje, no Estadão, "Onde se conseguirão recursos para os pobres?", para esclarecer um equívoco cometido por muitas pessoas de boa vontade, e não apenas os propositores atuais da Tobin Tax, e entendo que você teria interesse em corrigir esse equívoco em seu próprio benefício intelectual, assim como para a boa informação de seus muitos leitores, entre os quais me coloco.
O finado economista James Tobin não propôs a sua taxa sobre movimentos exclusivamente financeiros de capitais nos anos 1990 (e não década de 1990, como você escreveu, pois isso constitui um milênio, não uma década), e sim no seguimento imediato da suspensão do sistema de Bretton Woods e do inicio da flutuação das moedas. A taxa deveria ser aplicada unicamente nos casos de câmbio de moedas, justamente para evitar o excesso de especulação cambial.
Sobretudo, ele jamais cogitou que essa taxa, exclusivamente financeira e devendo ser aplicada em bases nacionais, devesse ter como objetivo o propósito de "combater a fome no mundo", como você escreve. Não havia nenhum objetivo fiscal, ou de coleta de recursos para fins de desenvolvimento, ou de ajuda a países pobres, absolutamente nenhum.
Você se deixou levar pela arenga dos movimentos anti-globalizadores que "sequestraram" a idéia de James Tobin, para seus próprios fins. Talvez você nao saiba, mas James Tobin desautorizou esse uso -- "They've hijacked my name..", ele declarou na ocasiao, meados dos anos 1990, justamente --- e manifestou-se expressamente contrário aos propósitos dos anti-globalizadores, assim como declarou seu apoio à globalização, ao FMI, ao BIRD e à OMC -- tudo o que os anti-globalizadores detestam.
Essa taxa, se implementada no âmbito multilateral -- o que se revela muito difícil de ser implementado --, redundaria apenas que países como como o Brasil teriam um custo maior nas operações financeiras externas, ao recorrerem aos mercados de capitais para fins de empréstimos ou demais operações de crédito. Ela não impediria os movimentos de capitais, apenas colocaria um custo maior sobre as transações.
Quanto aos seus objetivos, com base na experiência das últimas cinco ou seis décadas de ajuda oficial ao desenvolvimento, é altamente duvidoso que ela cumprisse seus objetivos proclamados. Foram transferidos dezenas, ou centenas, de bilhões de dólares para países em desenvolvimento nesse período, sem que a situação mudasse significativamente. Ou seja, os países pobres não o são por falta de dinheiro ou de ajuda, mas sim por outras razões que a Tobin Tax não conseguiria remediar.
Você parece acreditar nas supostas virtudes da ajuda oficial ao desenvolvimento. Pois bem, indique apenas um país, unicamente um, que tenha alcançado o desenvolvimento com base na ajuda externa...
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Paulo Roberto de Almeida

1153) Cursos de RI no Brasil: alguma evolucao para melhor?

Um profissional do mercado, já formado em RI desde algum tempo, me relembra um texto meu de dois anos atras sobre o cenário no setor. Talvez o texto ainda preserve alguma virtude.
A conferir.

Os cursos de Relações Internacionais no Brasil: situação atual e perspectivas
Por Paulo Roberto de Almeida
www.pralmeida.org ; pralmeida@mac.com
Segunda-feira, 28 de Maio de 2007

1. Estado atual do ensino superior no Brasil
Como várias outras instituições, as universidades públicas, em especial as federais, continuarão a apresentar um panorama desolador nos próximos anos, com deterioração física e humana dos cursos existentes, o que atinge inclusive os mais requisitados tradicionalmente (direito e medicina, por exemplo). O ensino superior no Brasil tem-se revelado, infelizmente, incapaz de atender aos requisitos da globalização e da competição internacional. Num quadro desse tipo, as entidades particulares continuarão a crescer para atender aos diferentes tipos de demanda, tanto na formação básica - daí a multiplicação de "faculdades Tabajara" - como na especializada, o que continua a se refletir na expansão relativa e aperfeiçoamento intrínseco das "indústrias" do setor (algumas grandes redes e centros de excelência ligados ao mundo empresarial). Não haverá sedimentação, por enquanto, mas a continuidade da expansão algo desordenada ocorrida nos últimos dez anos, dada a incapacidade do setor público de planejar e de "conformar" o mercado segundo expectativas e requisitos "racionais".

2. Os cursos de RI num mercado em evolução: fluxos e refluxos
Numa primeira fase (1995-2005), ocorreu certa "inflação" de cursos, de acordo com uma espécie de "lei de Say" dessa área: a oferta criava a sua própria demanda. O panorama é conhecido: os empresários da educação correram para atender a uma demanda difusa existente no mercado de ensino de terceiro ciclo, qual seja, a de demandantes confusos, fascinados pela globalização e pela regionalização e que, portanto, levam a culpa. Esses demandantes são em grande medida aqueles mesmos que no passado faziam psicologia, à falta de melhor opção (meninas casadoiras) ou que se engajavam nas ciências sociais, como se elas fossem, no dizer de Mário de Andrade, "a arte de salvar rapidamente o Brasil". Nos últimos tempos, porém, surgiram candidatos sérios a uma carreira em RI, jovens da geração internet que pretendem se formar e trabalhar no que se poderia chamar de "sociedade global".

Os "industriais da educação" que passaram a oferecer cursos de RI não estão, parece claro, minimamente preocupados com o espaço do "profissional" de RI - se é possível chamá-lo assim - no mercado de trabalho; esse não é o "departamento" deles. Sua função é apenas a de "fornecer" aquilo que lhes é pedido: um curso e um canudo, depois cada um que se vire como puder num mercado indefinido. Ou seja, não estamos num "supply side economics of international relations", mas, essencialmente, num mercado demandante de cursos e canudos, o resto fica ao sabor do próprio mercado.

Por isso, podemos estar entrando agora numa segunda fase dos cursos de RI no Brasil, que pode assistir a certa contração da demanda e, portanto, retração da oferta. Ela poderia ser chamada de Entzauberung, ou o "desencanto" dos jovens com suas reais perspectivas de trabalho, por algum tempo confundidas com o mundo da diplomacia. Deve-se observar, desde logo, que o ingresso na diplomacia, na verdade, acaba ocorrendo para uma fração mínima dos estudantes desses cursos. Por outro lado, uma parte também relativamente pequena volta-se para as próprias atividades acadêmicas ligadas às relações internacionais - que absorveu muitos deles na fase de expansão - e que agora passam a ser menos requisitados.

É óbvio que a maior parte dos egressos deveria inserir-se, de algum modo, no mercado de trabalho "normal", isto é, do setor privado, altamente competitivo. Muitos desses jovens ainda ostentam uma visão romântica do que seja o mundo ou a projeção internacional do Brasil. Eles possuem altas expectativas em relação aos cursos e às oportunidades profissionais deles resultantes, sem medir muito bem a distância que ainda separa o universo relativamente teórico que caracteriza a maior parte dos cursos e a realidade do mundo profissional, feita de muito esforço individual, salários nem sempre elevados como esperado, e uma indefinição geral quanto ao exercício concreto das "generalidades" aprendidas nos bancos universitários.

3. Problemas da formação em RI
Como o "internacionalista" é um generalista em especialidades "internacionais", ele poderá, supostamente, atuar em todas as áreas nas quais alguma competência vinculada ao seu terreno é requerida, seja no campo da análise e processamento de informações relativas aos diferentes cenários regionais e internacionais, seja na pesquisa e ensino acadêmico, nas áreas de relações internacionais das burocracias públicas - o que inclui a diplomacia tradicional, novas "diplomacias" em ministérios setoriais, assessorias internacionais de diversos órgãos etc. - e, provavelmente em maior "volume", nas empresas privadas e nas chamadas ONGs que possuem ou aspiram possuir qualquer tipo de interface com o mundo exterior.

O problema, aqui, é que as empresas requerem, em geral, uma competência específica, provavelmente mais especializada do que o conhecimento sintético de relações internacionais. As empresas não estão preocupadas com a teoria institucionalista ou neo-realista das relações internacionais, tampouco com o funcionamento do Conselho de Segurança da ONU: elas desejam, ou precisam, simplesmente, vender ou fazer negócios com parceiros externos e por isso elas são mais suscetíveis de apelarem para profissionais especializados. Estes serão, tipicamente, economistas, bacharéis em direito, administradores ou algumas outras profissões mais "tradicionais". Afinal de contas, trata-se de fazer uma prospecção de mercado ou de elaborar um contrato de cessão ou compra de direitos e outros ativos entre dois agentes privados, que devem rentabilizar seu tempo e seus recursos humanos e materiais, não havendo muito lugar para teorizações indevidas ou abstrações fora do campo essencialmente pragmático no qual atuam essas empresas.

Em outros termos, os cursos de RI, tanto os das faculdades públicas - em menor número, mas essencialmente voltadas para uma formação acadêmica nessa área - como os das privadas - simplesmente ocupando um nicho de mercado -, não estão fornecendo ao mercado aquilo que o mercado precisa: profissionais competentes em relações internacionais, que saibam lidar com as realidades da globalização.

O que se requer, para atender a essa demanda intrínseca e pouco percebida, são cursos claramente voltados para uma perspectiva de "global business".

Assim, o atual bacharel de RI seria extremamente consciencioso se ele procurasse, de imediato, suprir suas carências em competências específicas, buscando uma especialização dentro de seu campo de estudo, procurando estágios desde cedo ou mesmo fazendo algum outro curso paralelamente. Como para as demais especializações disciplinares, uma pós-graduação seria altamente recomendável, ou então uma outra via, mais racional, a formação de base numa profissão "normal" ou "tradicional" e uma pós ou estudos especializados em relações internacionais, eventualmente com orientação já definida para a área na qual o candidato a um bom emprego pretende atuar.

4. Qual seria o perfil ideal de uma formação em RI voltada para o "global business"?
De maneira geral, um curso de RI, in abstracto, está voltado para as realidades do mundo global, mas os cursos, tomadosconcretamente, diferem muito entre si pela qualidade das matérias oferecidas, pela competência dos professores contratados, pela disponibilidade de recursos didáticos e materiais etc. O panorama, na verdade, é algo caótico, pois o que a maioria dos cursos montados nessa área - mesmo os das faculdades públicas - consegue fazer é uma "assemblagem" de três ou quatro áreas tradicionais: fortes doses de direito e ciência política, algumas pitadas de história, um pouco de economia e tinturas diversas de disciplinas afins - sem mencionar metodologia e línguas -, o que dá uma bela salada sem personalidade.

Parece ocorrer, atualmente, com os cursos de relações internacionais, algo semelhante ao que se passou, em outras épocas, com os cursos de ciências sociais, de psicologia, de jornalismo, que passaram a atrair multidões de jovens sem um perfil muito definido quanto à carreira desejada ou suas aspirações concretas. O modismo, como tudo a cada época, um dia vem abaixo... Mas é também possível que os patamares de demanda sejam mantidos ou até ampliados, pois há certas "modas" que não passam, seja por uma demanda regular - como ocorre hoje com os cursos de jornalismo - seja porque a globalização é mesmo irrefreável e contínua, um "universo em expansão"...

Qual poderia ser, nessas condições, o perfil ideal de um curso de RI focado no global business? Seria preciso, para montar um curso desse tipo, fazer uma pesquisa prévia junto às empresas multinacionais já instaladas no Brasil e junto às próprias multinacionais brasileiras, para verificar o perfil demandado por elas. Eventualmente, uma consulta aos egressos dos cursos de administração e economia, que estão atuando na área internacional de empresas, também poderia fornecer indicações preciosas quanto ao conteúdo mesmo das disciplinas mais adequadas a uma formação "renascentista-executiva".

Como não existem cursos de "economia internacional" ou de "direito internacional" nas faculdades da área, apenas de economia e de direito, tout court, os egressos desses cursos, interessados ou necessitando trabalhar na vertente internacional do setor privado, devem buscar, nos últimos semestres, algum tipo de especialização informal dentro desses campos em suas respectivas áreas de estudo. Da mesma forma, comércio exterior se apresenta hoje como uma orientação relativamente técnica, algo como o "contador" ou o "contabilista" do passado, embora seja uma área que requeira e talvez deva contar com estudos aperfeiçoados, que poderiam estar dentro de alguns cursos de RI - que assim exibiriam especializações para "comércio exterior" ou para economia internacional, segundo o gosto do cliente. É evidente que todo o hinterland brasileiro requer, hoje, especialistas em comércio internacional voltados especificamente para o agribusiness, algo que as academias simplesmente não oferecem.

Provavelmente, no decurso da sedimentação futura, necessária e natural, dos cursos de RI nas diferentes regiões do país, essas orientações geográfico-espaciais ou essas inclinações temáticas acabarão emergindo progressivamente. Ou seja, pode-se conceber cursos de relações internacionais voltados para o agronegócio nas principais regiões produtoras decommodities demandadas pelo mercado mundial, cursos voltados para a diplomacia e a pesquisa nas ciências sociais em algumas grandes capitais, outros voltados para o comércio exterior e a integração regional nas regiões mais "expostas" aos processos sub-regionais de integração, e assim por diante.

Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro demandam, naturalmente, especialistas em global business, e seria importante que a academia passasse a fornecer esses quadros, o que ainda provavelmente não é feito por nenhum curso conhecido. (Existe uma tentativa da ESPM de oferecer cursos de RI voltados para o marketing e a publicidade internacionais, mas o teste da realidade ainda não foi feito.)

A montagem de uma grade curricular adequada a esse perfil e a disponibilidade de ferramentas adaptadas à demanda doglobal business precisam ser pensadas em estreito contato com as empresas já inseridas no mercado. Uma pesquisa rápida permitiria detectar as carências e lacunas em capacitações mais sentidas pelos executivos do setor.

5. Perspectivas de curto e médio prazo da oferta e formação em cursos de RI no Brasil
A procura ainda parece ser alta, provavelmente em virtude de uma espécie de ilusão dos jovens quanto ao charme e à oferta de empregos nessa área, pelo efeito do "modismo", ou porque o Brasil está deslumbrado com a globalização, ingressante tardio - e incompleto - que é nos circuitos da interdependência global. Não imagino que a demanda venha a se manter nos próximos anos, seja porque haverá um plafonnement e queda ulterior, seja porque o ritmo de crescimento tenderá a diminuir, ao descobrirem, muitos egressos, que os cursos não são assim tão "funcionais" para as necessidades de uma carreira concreta, seja porque a oferta, como sempre ocorre, supera a demanda efetiva. Não deve ocorrer nenhum "keynesianismo" avant la lettre, pois o governo não parece estar em condições de garantir demanda efetiva numa área que não aparece como prioritária em termos de recursos humanos.

Resumindo: a procura, a jusante, não é alta, mas sim está ocorrendo um crescimento da oferta de cursos para atender a uma demanda pré-existente, a montante, portanto. O mercado deverá ajustar oferta e procura dentro em breve. De toda forma, não existe UMA carreira de relações internacionais, e sim diferentes "carreiras" - ou melhor, oportunidades de emprego - que vão se ajustando aos nichos existentes, muito diversos entre si. Como a profissão não é regulamentada, nem tem chances de sê-lo muito em breve, persistirá essa relativa indefinição do que é "carreira" ou "especialização" em relações internacionais.

O mercado pode estar a caminho de uma retração, o que recomendaria manter qualquer nova oferta vinculada às tradicionais áreas de economia, direito e administração, que oferecem amplas possibilidades para todos os tipos de vocações, por vezes sequer diretamente relacionadas com os campos temáticos dessas duas áreas. As RI podem, também, oferecer muitas possibilidades, mas, à diferença daquelas áreas regulamentadas, elas não constituem ainda uma profissão reconhecida, "testada" no mercado e expressamente demandada pelos mercados ou pelas empresas. Essa pequena diferença pode ser decisiva na inserção profissional dos jovens: entre o certo de uma profissão tradicional e o incerto de um campo novo, talvez seja o caso de ficar com o certo. O problema é que o Brasil é um país dotado de muito pouco empreendedorismo, a despeito da tremenda flexibilidade de sua mão-de-obra, revelada na grande capacidade adaptativa e nos esquemas informais que permeiam os mercados de trabalho (existem vários, do mais inserido ao totalmente informal).

Uma pesquisa na escola média revelaria, provavelmente, que poucos jovens aspiram lançar o seu próprio negócio, a maior parte deles estando voltada para cursinho ou estudo para algum concurso, qualquer um, em carreira dotada de estabilidade. Esse problema da indecisão dos jovens pode hoje estar levando muito deles para as RI, assim como no passado os jovens "revolucionários" eram atraídos pela sociologia e as jovens casadoiras eram levadas a fazer psicologia, esperando marido... Hoje, muitos fazem RI, um pouco porque protestar contra a "globalização perversa" virou esporte quase obrigatório entre certos jovens...

Segundo experiência pessoal com muitos estudantes de RI, eles parecer ostentar, hoje, uma noção completamente invertida do que deve ser a sua inserção no mercado de trabalho. Eles demandam, simplesmente, que o mercado e as empresas estejam preparados para "entender" sua importância enquanto "profissionais de RI" e as empresas os recrutem para "ensinar" essas empresas a lidar com as realidades da globalização, na suposição de que eles, estudantes, sejam os mais habilitados a fazê-lo.

Ora, a perspectiva deveria ser completamente invertida: nem os mercados, nem a fortiori as empresas precisam estar preparados para entender o que é profissional de RI. Essa não é função deles. Sua única função é recrutar competências para o exercício de atividades profissionais específicas e os requerimentos são estritos: ou o profissional se adapta e atende ao que lhe é demandado, ou então ele pode procurar outro emprego. As empresas, na maior parte dos casos, não querem intelectuais brilhantes que saibam discorrer sobre o Conselho de Segurança da ONU ou o último livro do Keohane. Elas querem alguém que saiba redigir um contrato, negociar um acordo comercial com parceiro de outro país, fazer uma boa prospecção de mercado, trazer negócios, lucros e resultados, ponto. Este é o mercado, que deve ocupar pelo menos 80% dos egressos dos cursos de RI, qualquer que seja o seu número (o resto indo para os governos e as academias).

Quem deve entender as empresas e o mercado, portanto, são esses profissionais, que, se não souberem lidar com essas realidades, se auto-excluem dos melhores empregos nesses mercados. Não é uma questão de preferência: as empresas não vão à cata de jovens egressos dos cursos de RI, eles é que devem tentar se oferecer para elas.

Os jovens precisam, desde o início, tomar consciência de que, ao receber o canudo, ao saírem das faculdades, não vai haver uma fileira de "head hunters" esperando por eles na calçada, não haverá sequer um mísero recrutador esperando por eles para dizer: "Venha, meu jovem, tenho um emprego esperando por você!". Isso simplesmente não vai acontecer. Ou eles se preparam, desde o segundo ou terceiro ano, fazendo estágios, montando empresas juniores com seus colegas, pesquisando por conta própria novos nichos de mercado, ou eles vão ficar de canudo na mão reclamando da vida.

Um típico jovem de RI, hoje, deveria se perguntar: "qual é o meu nicho no mercado futuro, o que o Brasil ou o mundo me reserva, dentro de dois ou três anos?" Uma pesquisa de internet daria a resposta em cinco minutos, ou a sua própria vontade e vocação determinariam o seu destino imediato. Abstraindo-se a própria carreira diplomática - excessivamente restrita para servir de "colocação" para um grande número de jovens - e algumas outras carreiras no serviço público - analistas de comércio exterior ou de inteligência - e nas academias, o que sobra, obviamente, como "opção" são as empresas, grandes e pequenas. Pode-se até dizer que o "profissional" de RI deveria montar a sua própria, mas o empreendedorismo individual ainda é muito pouco desenvolvido no Brasil.

Nessa perspectiva, é óbvio que um jovem paulistano precisa ter uma visão "global business", é evidente que um jovem do "cerrado central" precisa pensar no Brasil como o grande fornecedor mundial - ele já é, mas será cada vez mais - de produtos do agronegócio, é evidente que aqueles que amam praia, sol, florestas e montanhas encontrarão excelentes oportunidades no turismo de massa ou especializado, assim como está mais do que claro que o Brasil tem um imenso campo aberto em todas as áreas nas novas energias renováveis, na exploração dos recursos naturais, na conformação de um espaço integrado na América do Sul. Qualquer jovem que quisesse ganhar dinheiro, estaria estudando todas essas oportunidades.

6. Resumindo...
Do meu ponto de vista, considero que os cursos de RI existentes, e seus respectivos professores, estão muito pouco preparados para atender a essa demanda. Trata-se de uma demanda real, não dos requisitos prosaicos de uma grade curricular tradicional, que copia passivamente a inércia "humanistóide" dos cursos tradicionais das universidades públicas - fazendo uma combinação de direito, história, economia e ciência política - e que parecem não ter nenhum compromisso com os mercados reais.

Talvez os jovens não encontrem o curso ideal nem nas faculdades privadas nem nas públicas. O melhor, então, seria que eles "construíssem", sozinhos, e de maneira absolutamente auto-didática (se possível com os colegas), os seus próprios "cursos". Talvez eles não sejam melhores, em qualidade imediata, do que aqueles oferecidos oficialmente pelas instituições de ensino, mas eles certamente serão mais adaptados e estarão mais conformes às aspirações e necessidades dos próprios jovens.

O futuro dos cursos de RI pode estar nessa flexibilidade e adaptabilidade às novas realidades sempre cambiantes da globalização: um curso dotado dessas características pode deslanchar e se firmar num mercado educacional ainda incerto.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

1152) "Emprestimo" ao FMI: comentarios ao meu post e meu novo comentario

A propósito do post imediatamente anterior, sobre o suposto empréstimo ao FMI, que eu classificaria como propriamente ruinoso -- como aquele famoso empréstimo que fizemos em 1829, logo depois da quebra do primeiro Banco do Brasil, que saiu por um valor face de 51, ou seja, os banqueiros ficaram com 49 de cada 100 libras que contratamos -- eu recebi dois comentários imediatamente, sinal de que meu blog vem sendo acessado regularmente por certo numero de leitores (não, eu não coloco nenhum instrumento de medição) e que este post em particular deve ter causado certa comoção nas pessoas mais focadas no interesse nacional, digamos assim.
Pois bem, como os comentários costumam desaparecer na sequência normal de leitura de um blog (a menos que o visitante clique no botão de comentários, o que poucos fazem por falta de tempo, claro), permito-me reproduzi-los aqui, para aproveitar a oportunidade de fazer novos comentários.

O suposto "empréstimo" do Brasil ao FMI e suas supostas "vantagens" políticas
(sim, porque financeira não existe nenhuma)

O primeiro comentário dizia o seguinte:
1) Rodrigo L. disse...

Paulo, quais são então os benefícios práticos que o Brasil obterá deste empréstimo? Melhora da nossa imagem frente a outros países? Aumento do poder de barganha com a comunidade internacional? Já que o dinheiro emprestado não estará realmente rendendo, qual é a razão para estarmos fazendo isso?
Quinta-feira, Junho 11, 2009 2:19:00 PM

PRA: Benefícios práticos eu não consigo vislumbrar algum, por mínimo que seja, a não ser poder posar de credor internacional. Não está seguro que se trate de um empréstimo, pois o FMI pode no futuro alterar o título e convertê-lo em alguma forma de fundo emergencial, podendo ocorrer que ele seja considerado um aporte de capital.
Quanto ao aumento do poder de barganha, ou da imagem, na comunidade internacional, isso pode ser motivo de vaidade, mas não creio que o povo brasileiro, que está pagando (e caro) por isso, tenha muitos motivos de orgulho. Ainda assim, como a autorização total de emissão desses títulos em DES é de 500 bilhões, convenhamos que 10 bilhões não faz muita diferença: são 2% do total apenas. Nada para abalar o mercado financeiro internacional, nem deixar o FMI de joelhos ante nossa suposta magnanimidade.
O dinheiro vai render, sim, na faixa (imagino) de 1,5% ao ano, no máximo, o que não é nada brilhante, convenhamos (com uma inflação em dólar de 3 ou 4%, estaremos perdendo dinheiro).
Quanto à razão de estarmos fazendo isso, não sei dizer: o presidente e as autoridades monetárias decidiram fazer, ponto. Acredito que esse tipo de medida, como ela tem custos, deveria passar pelo Senado Federal, encarregado de aprovar todo tipo de oparação financeira, interna e externa, mas também acredito que o Senado está alheio Às suas próprias obrigações.
Ela foi feita, claro, também porque o G20 de Londres aprovou esse mecanismo de aumento dos recursos do FMI para operações especiais, e os países membros foram chamados a colaborar. A emissão de títulos do FMI é uma modalidade prevista em seu convênio constitutivo, mas também acho que apenas países dispondo de recursos líquidos, ou seja, superávits estruturais deveriam participar.
No nosso caso é duvido que isso ocorra, pois não temos nenhum tipo de superavit estrutural, nem fiscal, nem de balança de transções correntes. Nossos recursos foram acumulados ao preço de um aumento da dívida.
Como expliquei, cada dólar foi comprado no mercado, com base em emissão de títulos internos: entre os 12% de Selic, e os juros negativos que recebemos pela aplicação desses dólares, o custo para o Brasil é muito alto, não apenas na estrita contabilidade monetária, mas também o custo-oportunidade de um capital que poderia estar sendo empregado de outra forma, em primeiro lugar abatendo a dívida interna.

O segundo, aparentemente temeroso de revelar o seu nome (vai que ele se torna diplomata e não quer ter o seu nome marcado pelos interrogadores, ops, digo, examinadores):
2) Anônimo disse...

Pois é, na prova de PI de terceira fase do CACD deste ano, caiu a participação do Brasil no G20 Financeiro. E nós candidatos tivemos de tecer todos os encômios possíveis ao empréstimo brasileiro ao FMI, ecoando toda aquela ladainha de o Brasil aceitando ônus para legitimar-se no pleito de ampliação de participação no sistema internacional.
Tudo para Antônio Carlos Lessa e Alcides Costa Vaz verem. Vou começar uma campanha: "PRA na banca de PI do CACD já!"

Quinta-feira, Junho 11, 2009 2:32:00 PM

PRA: O mais irônico é que candidatos a diplomatas não podem simplesmente expor os fatos, contar a realidade, basear-se em número reais e em questões objetivas. Esses candidatos precisam "comprar" a versão chapa branca do governo e repetir bobagens, literalmente bobagens consumadas e equívocos econômicos, num papel triste de repetidores da propaganda governamental, que além de falsa, é fraudulenta. Triste isso, que já se comece mentindo...
Quanto a minha presença em banca de PI, pode esquecer: não há nenhum risco que isso ocorra, pela mesma razão de por que meus livros não constam da bibliografia oficial. Deve ser porque eu não compro fábulas oficiais...

1151) Emprestimo do Brasil ao FMI: uma grande mentira e uma fraude com o seu dinheiro

Sou frequentemente perguntado, por estudantes ou jornalistas, sobre determinadas questões econômicas.
Recentemente, um me formulou a seguinte pergunta:
"Você acha que o governo acertou ao conceder empréstimo ao FMI?"

Minha resposta:
O "empréstimo" do Brasil ao FMI: colocando os pontos nos iis

A questão precisa ser colocada no contexto correto: estamos tratando de poupança e de dívida, tanto faz se de um individuo ou de um Estado.
Normalmente, se você tem excesso de poupança sobre os seus gastos, como indivíduo, você pode escolher diversas aplicações parea o seu dinheiro: poupança clássica, fundos de investimentos, ações, ouro, etc.
Enfim, voce, como qualquer individuo, é sempre motivado pelo desejo de ganhar mais, e pelo temor de perder algo, com desvalorização da moeda, calote de títulos públicos, inflação, etc.
Se você quiser segurança absoluta, vai para a poupança garantida, que rende pouco, mas tem todas as garantias do governo (se você acredita nisso) e não paga Imposto de Renda.
Se quiser ganhar mais, vai para outros instrumentos, e aí se arrisca a perder algo (em ações desvalorizadas, por exemplo), ou que o imposto e a inflação, mais as comissões bancárias lhe comam o essencial dos rendimentos supostos de uma aplicação em renda fixa ou variável.

Com o dinheiro do governo, acontece outra coisa. O governo não tem, nunca teve no Brasil, excesso de poupança sobre gastos, ao contrário: o superavit primário nem chega a cobrir todos os juros da dívida publica. Para constituir reservas, o governo compra os dólares de quem tem dólares: geralmente exportadores.
Para comprar, o governo emite títulos da dívida publica, que pagam pelo menos a Selic (que baixou de 14% a 9,25% agora), digamos numa média de 11 ou 12% ao longo de 2008-2009. Seria melhor se os juros fossem mais baixos, mas não são, porque o governo é um contumaz despoupador líquido, e costuma pegar grande parte da poupança privada que anda pelo mercado (aquele dinheiro que voce não gasta, aplica em "fundos", e o seu banco compra títulos do governo).

Portanto, apenas com a manutenção de reservas de 200 bilhoes de dolares (o que eu reputo excessivo, pois os economistas recomendam apenas três meses de importações), o governo gasta mais de 20 bilhões de dólares por ano. Este é o custo fiscal de reservas tão elevadas.
O mesmo aconteceria se voce, por exemplo, pegasse um empréstimo no banco, pagando juros de banqueiro, que voce deve saber quanto é, e colocasse todo esse dinheiro na poupança clássica, rendendo bem abaixo disso. Você estaria pagando para ter uma poupança. Seja lá o que voce possa pensar disso, nao acho nada inteligente, aliás, completamente estúpido: pagar para ter uma poupança. Melhor então nao fazer nenhum empréstimo, se a sua aplicação render abaixo dos juros cobrados...

E o que o governo pode fazer com esse dinheiro todo? Colocar no colchão seria seguro, mas nao renderia absolutamente nada. Comprar ouro, também nao renderia absolutamente nada, apenas a valorização (ou des-) do mercado. Se trata de um ativo tangível, comercializavel, bastante seguro, mas não muito rentável, e sobretudo incômodo, pois voce tem custos de manutencao, não sabe se vai encontrar compradores quando quiser vender, etc.

Portanto, a maior parte dos aplicadores, individuos ou governos, vai para o mercado financeiro. No caso dos governos, eles costumam comprar titulos de outros governos, considerados seguros, como sao os Treasury Bonds, dos EUA, classificados como AAA (ou seja, sem risco de calote). Acontece que esses titulos tambem correm o risco da inflacao do dolar, de sua desvalorizacao, e apenas pagam os juros fixados pelo Federal Reserve americano, hoje na casa de 0,75 a 2,5% ao ano, dependendo do prazo (de curto, médio ou longo prazo). Ora, a inflação americana está acima disso, o que lhe garante portanto juros negativos, ou seja, voce está perdendo dinheiro para aplicar em T-Bonds.

A despeito disso, o Brasil já aplicou mais de 140 bilhoes de suas reservas em T-bonds, geralmente entre 5 a 10 anos, com essa taxa de juros abaixo da inflação americana. Ou seja, o Tesouro americano agradece, mas estamos perdendo dinheiro com isso, sem contar o custo fiscal já mencionado acima.

Pois bem, a operação a ser feita com o FMI nao será muito diferente. O governo brasileiro vai pegar mais 10 bilhões de suas reservas (a um custo de pelo menos 1 bilhão ao ano, como indicado) e vai comprar titulos do FMI, como já comprava do Tesouro americano. A taxa de juros não deve ser muito elevada, provavelmente na faixa dos T-bonds, já que o FMI tambem é AAA e paga abaixo do mercado, sempre...

Resumindo, a operação toda, desde o começo, é altamente prejudicial ao Brasil, não apenas pelo custo fiscal, mas tambem pelo chamado custo-oportunidade, ou seja perdemos dinheiro ao nao aplicá-lo em coisas mais rentáveis, ou ao não diminuir nossas dividas em outros contratos e sob outras modalidades.

Por exemplo: o governo pagou toda a dívida que tinhamos com o FMI, uma atitude altamente questionavel, pois essa divida tinha um custo muito baixo, muito mais baixo do que a divida em dolares contraida nos mercados comerciais, e infinitamente mais baixa do que a divida interna, contraida ao custo Selic.
Ou seja, o governo faria muito melhor em deixar a divida com o FMI -- e não o fez por razoes puramente ideológicas, ou demagógicas, de propaganda enganosa, apenas para dizer que não devia mais nada ao FMI -- e decidir pagar a dívida ainda mantida no mercado comercial (necessariamente mais elevada do que os juros do FMI, e ainda assim mais baixa do que a interna).
Ou então, utilizar a sua alegada capacidade de poupança -- que, como sabemos, é quase zero, ou abaixo de zero -- para pagar a divida interna, muito mais custosa e muito pior do que a divida externa (comercial ou com o FMI), que geralmente tem prazos mais longos do que a interna, esta com prazo médio de 18 meses apenas.

Em tudo e por tudo, o governo erra, tanto ao não tratar prioritariamente da divida interna, como ao acumular reservas tao desmesuradamente desnecessárias, se tivessemos um movimento comercial maior (ou seja, se exportassemos e importassemos mais), e se os juros da divida interna fossem mais razoaveis.
E porque esses juros são tao altos? Simplesmente porque ninguem confia no governo a ponto de emprestar o seu dinheiro ao governo por prazos longos e a juros baixos (como ocorre com os T-bonds, por exemplo, absolutamente seguros, mas com rendimento mediocre, ou inferior à inflação).

Conclusao: muita demagogia, para uma grande perda financeira.
Nao esqueca, ao final, que é você, eu, todos nós que estamos pagando pela orgia da divida interna e que agora vamos pagar o prejuizo dessas operacoes com o Tesouro e o FMI. Um grande prejuizo, tenha certeza disso.

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Paulo Roberto de Almeida
11.06.2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

1150) Liberdade de imprensa? Acho que se enganaram...

Do jornal O Estado de S. Paulo, 10.06.2009:

Com R$ 1 bilhão anuais, o governo é o maior anunciante do País, disse ontem o secretário executivo da Secretaria da Comunicação de Governo (Secom), Ottoni Fernandes Jr, na conferência da Câmara sobre liberdade de imprensa. A partilha é assim: R$ 700 milhões para campanhas de mercado, com forte participação da Petrobras, Banco do Brasil e Caixa, R$ 200 milhões para utilidade pública e R$ 105 milhões para campanhas institucionais.
Ottoni Jr afirmou que a Secom trabalha com o princípio da mídia técnica, levando em conta circulação ou audiência. “Só o jornal da CUT tem 450 mil exemplares por semana.” Citou ainda que os grandes jornais cresceram 2% nos últimos anos, enquanto os populares chegaram a aumentar 121,4%.

Comento:
Se isso é verdade, estamos próximos de não ter liberdade de imprensa, justamente. Num país em que o governo se torna o maior anunciante do país, com o nosso dinheiro, nunca é demias lembrar, os veículos de comunicação se tornam dependentes desse maná caido dos céus, e portanto menos independentes.
Pode não se o caso dos grandes jornais, mas certamente será o caso das pequenas folhas do interior e sobretudo dessa imprensa sindical que já vive mamando nas tetas do governo, ou melhor, chupando dinheiro do nosso bolso.
Triste situação...

1149) Universidade do Pacto Amazonico: nem urgente, nem necessaria

O artigo abaixo, de um senador amazônida, ou amazônico, se ele preferir, pretende justificar a criação de uma universidade dos países do Pacto Amazônico. Gostaria, no que me toca, que ela fosse improvável, ou impossível. Ela não é nem urgente nem necessária.
Com efeito, não há nada, absolutamente nada, que impeça as universidades atualmente existentes de se dedicarem ao que ele propõe: o estudos do ambiente, dos problemas da Amazônia e a proposta de soluções aos mesmos, individualmente ou em cooperação, em rede ou por outras vias, com outras universidades dos países da região.
Apenas o desejo de criar mais cargos, e portanto mais despesas, pode justificar esse projeto.
Políticos são animais gastadores de uma espécie ainda não suficientemente estudada pelos naturalistas, zoologistas, ou talvez entomologistas: eles são como saúvas, a avançar sobre o dinheiro público e o privado. São como os furões, ou doninhas, que avançam nos ninhos dos outros, roubam os ovos, se apropriam dos recursos, públicos e privados.
Creio que eles deveriam ser confinados num zoológico, o que aliás não deixa de ser o Congresso, tantas são as hienas e abutres que o frequentam. Talvez fosse o caso de colocá-los confinados na ala de mais alta segurança, do contrário seu poder destrutivo é muito grande...


Universidade do Pacto Amazônico, necessidade urgente
08/06/2009 - 18h47
João Pedro

A provável Universidade do Pacto Amazônico, de minha autoria, contribuirá com o desenvolvimento da Pan-Amazônia por meio do compartilhamento dos conhecimentos e saberes científicos e tradicionais em benefício das suas populações.

Trata-se de uma necessidade urgente, porque a universidade se somará às demais instituições de ensino, pesquisa e extensão que agem para aperfeiçoar as relações de amizade e de cooperação sociocultural na região, com o diferencial de fundar uma tradição acadêmica comprometida, prioritariamente, com a sustentabilidade social, econômica e ambiental da região.

O projeto recebeu parecer favorável da Comissão de Educação do Senado e agora tramita na Câmara dos Deputados. Minha vontade, além de vê-lo aprovado e implantado no menor tempo possível, é que, no final, ele represente o conjunto de vozes das sociedades pan-amazônicas.

Não tenho medido esforços para que isso venha a acontecer. Já apresentei os fundamentos dessa proposta à Associação de Universidades Amazônicas (Unamaz), ao Parlamento Amazônico, ao Fórum Social Mundial, a governadores de Estados Amazônicos e a autoridades do governo brasileiro, como o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o ministro da Educação, Paulo Haddad.

Outras reuniões, fóruns e audiências públicas estão programadas para tratar do tema. Ainda há tempo para acrescentarmos sugestões que aprimorem o projeto, para que ele, quando implantado, atenda às necessidades da complexidade amazônica.

A futura universidade enfrentará de imediato o desafio de unir, no cotidiano do ensino, pesquisa e extensão, oito países com diferentes níveis de desenvolvimento econômico, embora compartilhem, em pontos de seus territórios, ecossistemas e culturas semelhantes.

A unidade na diversidade, certamente, é um conceito que ajuda a pensar Amazônia no âmbito do entrelaçamento de inteligências interessadas na proteção da região por meio de uma prática científica que valorize cada vez mais saberes locais em vez de alijá-los dos meios acadêmicos.

Imagino a Universidade do Pacto Amazônico com salas de aulas, laboratórios e projetos de extensão nos oito países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), e suas atividades realizadas, conjuntamente, por colombianos, brasileiros, bolivianos, equatorianos, guianenses, peruanos, surinameses e venezuelanos.

Ou, de igual modo, que estudantes, professores e a comunidade acadêmica promovam o intercâmbio cultural, a solidariedade e a fraternidade pan-amazônica. Estou impulsionado, também, pelo desejo de construirmos uma região coesa na resolução dos seus problemas e na defesa da soberania das suas populações.

O Brasil, que detém maior parte do território amazônico, tem papel relevante na articulação do bloco amazônico. Seu empenho no funcionamento da OTCA, desde 1995, é a prova de que, de algum modo, está atento a sua responsabilidade de líder regional.

Claro que, como brasileiro e amazônida, gostaria de ter uma OTCA mais atuante; e sei que, em grande medida, o tamanho dessa atuação depende dos esforços da diplomacia brasileira.

A universidade que proponho almeja tornar-se uma instituição facilitadora da integração dos oito países, principalmente por intermédio dos seus programas científicos e culturais.

Convence-me a idéia de que precisamos conhecer a Amazônia na sua complexidade sociocultural e biológica para que possamos defendê-la da depredação total patrocinada pelo capitalismo de terra arrasada.

A meu ver, para que isso ocorra, devemos estimular um novo jeito de pensar e produzir conhecimentos. Para a Pan-Amazônia, depositária de fatia significativa da diversidade cultural e biológica do Planeta, essa é uma questão urgente.

A Universidade do Pacto Amazônico expressa a contribuição das sociedades amazônicas ao grande projeto de defesa e proteção permanente da Amazônia.

João Pedro é senador pelo estado do Amazonas e vice-líder do governo.

1148) Livro: Powers and Principles, lancamento

Abaixo, o anúncio de lançamento de um livro de que participo.
Helàs, vai ser em Washington...

Join Us for a Powers and Principles Book Party

Preview the book

On behalf of the Stanley Foundation, I would like to invite you to a reception on July 1 celebrating the publication of a new book, Powers and Principles: International Leadership in a Shrinking World (Lexington) that collects the results of a recent Stanley Foundation initiative.
In early 2008, my former colleague Michael Schiffer and I launched a project using the concept of responsible stakeholdership to gauge the prospects for a stronger international community. In other words, what if the world's major global and regional powers came into closer alignment—with shared approaches to 21st-century threats and challenges? The project asked experts to examine nine powerful nations, the EU, and the case of a generic oil company and speculate how each might deal with the internal and external challenges posed by international norms.

We were fortunate to recruit a group of highly accomplished analysts to take part and are eager to share the results with you and other colleagues. Complimentary copies of the book will be available at the event but, in the meantime, the table of contents and other details can be found on the Lexington Books Web site. We expect many of the contributing writers will be at the reception.

The reception will take place on July 1, 2009, from 5:30 to 7:30 p.m. at the Washington office of the Stanley Foundation (co-located with the Henry L. Stimson Center) at 1111 19th Street, NW, 12th Floor.

To respond to this invitation or for questions about logistics, please contact Elaine Schilling, program assistant, by e-mail at eschilling@stanleyfoundation.org or telephone 563-264-6888.

Best regards,
David Shorr
Program Officer, The Stanley Foundation

segunda-feira, 8 de junho de 2009

1147) I Seminario de Estudos sobre a FEB, RJ, 15 de junho de 2009

I Seminário de Estudos sobre a Força Expedicionária Brasileira, 15 de junho, Rio de Janeiro
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Gostaríamos convidar nossos colegas a participar no seminário onde mais de 40 pesquisadores apresentariam seus trabalhos sobre a FEB em 10 sessões temáticas sobre política nacional e relações internacionais, a criação da FEB e suas atuações militares na campanha, diversas representações na imprensa e na musica também como na memória individual, memória coletiva e na historiografia.

O seminário sobre a FEB realizará em 15 de junho de 2009 no Centro de Filosofia e Ciências Humanas/ Instituto de Filosofia e Ciências Sociais - Universidade Federal do Rio de Janeiro que fica no Largo de São Francisco 1, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

Programa completo:
http://www.lemp.ifcs.ufrj.br/revista/Programa_Completo_20_05.pdf

1146) Bibliografia Brasiliana Antes da Independencia - John Carter Brown Library

The John Carter Brown Library announces the publication of Portuguese and Brazilian Books in the John Carter Brown Library, 1537-1839, with a Selection of Braziliana Printed in Countries Other Than Portugal and Brazil
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Compiled by the rare book cataloguer Valeria Gauz, this work describes in detail, item by item, the finest collection in North America of books relating to Brazil before the country declared its independence from Portugal in 1822.

Nearly 650 of the titles in this Catalogue antedate 1800. For the period from 1800 through 1822, some 500 titles are described, including 165 printed in Brazil itself after the Impressão Regia opened a branch in Rio de Janeiro in 1808 and presses began
operating in Bahia.

Each of the 1,300 titles catalogued in the book is annotated, some extensively, with historical and biographical information, and the major bibliographies of Luso-Brazilian printing, such as those by Rubens Borba de Moraes, are regularly cited.

For libraries with significant colonial Braziliana holdings, this book is an essential reference work. Historians and other scholars, collectors, and booksellers will find it to be an invaluable aid to research in the field.

The arrangement of entries in the volume is chronological, from 1537 to 1839, and within each year the titles are listed alphabetically. The work is completely indexed by author and title, and there is a special index to government laws and decrees, a provenance list, and helpful bibliographical guides, including a general bibliography at the end that offers readers suggestions of other related works of interest.

Valeria Gauz has been a cataloguer at the National Library in Rio de Janeiro and was employed at the John Carter Brown Library from 1998 to 2005. The John Carter Brown Library is an independently funded and administered institution for advanced research in history and the humanities founded in 1846 and located on the campus of Brown University since 1901. The Library has unparalleled strength in primary sources relating to the history of North and South America between 1492 and ca. 1825.

Only 400 copies of this book have been printed, and it is likely to sell out in about twelve months. There will be no further printings. To assure the availability of a copy, order immediately from the appropriate vendor below.

xl + 750 pages, cloth bound, 7-1/2 x 11”. 46 illus. - $175.00, plus shipping. ISBN 0-916617-69-6. Various discounts will apply, depending upon the vendor.

In North America, order from: Publications Office, John Carter Brown Library, Box 1894, Providence, RI 02912, or . See also, www.jcbl.org.

In Brazil and South America, order from: ----

In Europe and the United Kingdom, and Asia, Africa, and Australia, order from: Richard C. Ramer, Old & Rare Books, Rua do Século, 107 (Apartamento 4), 1200–434 Lisboa, Portugal. fax: (351) 21-346-7441.
Tel.: (351) 21-346-0938 and 21-346-0947

The John Carter Brown Library anuncia a publicação do

Portuguese and Brazilian Books in the John Carter Brown Library, 1537-1839, with a Selection of Braziliana Printed in Countries Other Than Portugal and Brazil.

Compilado pela bibliotecária de livros raros Valeria Gauz, a publicação descreve com detalhes, item por item, uma das mais expressivas coleções de livros do período colonial relacionadas ao Brasil antes de sua independência de Portugal, em 1822.

Aproximadamente 650 títulos do Catálogo antecedem o ano de 1800. Outros 500 títulos pertencem ao período de 1800 a 1822, dos quais mais de 150 impressos no Brasil após a criação da Impressão Régia no Rio de Janeiro e de outras tipografias na Bahia.

Cada um dos 1.300 livros catalogados no Portuguese and Brazilian Books possui algum tipo de nota. Alguns são extensivamente descritos, com informações históricas, literárias, biográficas ou bibliográficas. As fontes de referência luso-brasileiras mais significativas são regularmente citadas ao longo do catálogo.

O Catálogo é um instrumento de referência essencial para bibliotecas, instituições de pesquisa e departamentos de História em universidades. Pesquisadores, colecionadores e livreiros poderão encontrar nessa publicação valioso auxílio para estudos em diversas áreas.

O arranjo do volume é em ordem cronológica e, em cada ano, os livros se encontram em ordem alfabética. Possui índices de autor, título, documentos governamentais (tais como alvarás, decretos e similares) e de procedência dos livros hoje na JCB, como
conhecida internacionalmente. Ao final, uma Bibliografia Geral oferece aos leitores sugestões de outros livros de interesse relacionados ao assunto.

Valeria Gauz trabalhou na John Carter Brown Library de 1998 a 2005 como catalogadora de livros raros e esteve envolvida em outros projetos, tais como a presente publicação, o web site do Código Brasiliense (www.jcbl.org/CB) e participou no comitê de aquisição de livros brasileiros e portugueses. A Biblioteca é um centro de estudos avançados na área de Humanidades, com administração independente, fundada em 1846 e localizada no campus da Brown University, em Providence, Rhode Island, desde 1901. Viagens, Expansão Européia, Incunábulos das Américas do Norte, Central e do Sul, Ciências Naturais, Escravatura, Cartografia, Direito, Religião, História Marítima, Literatura, o âmbito das Histórias Social, Econômica e Política, são alguns dos
temas que constituíram a coleção particular de John Carter Brown (1797-1874), um comerciante de Rhode Island com grande interesse em Americana, ou livros sobre as Américas.

xl + 750 pages, cloth bound, 19 x 28 cm. 46 illus. - $US 175.00, plus shipping. ISBN 0-916617-69-6. Various discounts will apply, depending upon the vendor.

Somente 400 cópias estarão disponíveis no mercado e não haverá outra edição ou tiragem do Catálogo. Para garantir sua cópia, favor contatar:

Brasil e América do Sul:
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Estados Unidos: Publications Office, John Carter Brown Library, Box 1894, Providence, RI 02912, or . www.jcbl.org.

Europe and the United Kingdom, and Asia, Africa, and Australia: Richard C. Ramer Old & Rare Books, Rua do Século, 107 (Apto. 4), 1200-434 Lisboa, Portugal. . . Telefones: (351) 21-346-0938 e 21-346-
0947. Fax: (351) 21 346 7441