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quarta-feira, 12 de junho de 2019

Prata da Casa, os livros dos diplomatas - Paulo Roberto de Almeida (Revista da ADB n. 99)

Minha mais recente coleção de obras de diplomatas publicada na revista da ADB:




1311. “Prata da Casa, outubro de 2018 a fevereiro de 2019”, Revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros (ano XX, n. 99, outubro de 2018-fevereiro de 2019, p. 40-45; ISSN: 0104-8503). Disponível no site da ADB (link: https://adb.org.br/wp-content/uploads/pdf/revista-adb-99-3.pdf). Resenhas dos seguintes livros para a Revista da ADB: 1) Christófolo, João Ernesto: Princípios Constitucionais de Relações Internacionais: significado, alcance e aplicação (Belo Horizonte: Del Rey, 2019, 684 p.; ISBN: 978-85-384-0532-0); 2) Barbosa, Rubens: Um diplomata a serviço do Estado: na defesa do interesse nacional: depoimento ao Cpdoc (Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018; 300 p.; ISBN: 978-85-225-2078-7); 3) Almeida, Paulo Roberto de (org.): A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM Editora, 2018; 448 p.; ISBN: 978-85-93751-39-4); 4) Raffaelli, Marcelo: Guerras europeias, revoluções americanas: Europa, Estados Unidos e a independência do Brasil e da América Espanhola (São Paulo: Três Estrelas, 2018; 380 p.; ISBN: 978-85-68493-54-0); 5) Villafañe G. Santos, Luís Cláudio: Juca Paranhos, o barão do Rio Branco (São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560 p.; ISBN: 978-85-359-3152-5); 6) Lima, Sergio Eduardo Moreira; Farias; Rogério de Souza (orgs.): A palavra dos chanceleres na Escola Superior de Guerra (1952-2012) (Brasília: Funag, 2018; 738 p.; ISBN: 978-85-7631-780-7; coleção Política externa brasileira); 7) Cardim, Carlos Henrique (editor): Revista 200 do Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência (Brasília: Ministério das Relações Exteriores, n. 1, outubro-dezembro de 2018, 236 p.); 8) Paiva, Maria Eduarda (editora-chefe): Juca: diplomacia e humanidades (revista do curso de formação em diplomacia do IRBr, n. 10, 2018, 220 p.; ISSN: 1984-6800); 9) Fortuna, Felipe: O rugido do sol: poemas (Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2018; 126 p.; ISBN: 978-85-7191-106-2); 10) Lozardo, Ernesto: OK, Roberto, você venceu: o pensamento econômico de Roberto Campos (Rio de Janeiro: Topbooks, 2018; 352 p.; ISBN: 978-85-7475-280-8); 11) Merquior, José Guilherme: O Marxismo Ocidental (tradução Raul de Sá Barbosa; 1a edição; São Paulo: É Realizações, 2018, 352 p.; ISBN: 978-85-8033-343-5); 12) Temer, Michel: O Brasil no mundo: abertura e responsabilidade: escritos de diplomacia presidencial (2016-2018) (Brasília: Funag, 2018, 409 p.; ISBN: 978-85-7631-791-3). Divulgado antecipadamente no blog Diplomatizzando (20/02/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/02/prata-da-casa-os-livros-dos-diplomatas.html). Relação de Originais n. 3412.




1) Christófolo, João Ernesto:
Princípios Constitucionais de Relações Internacionais: significado, alcance e aplicação (Belo Horizonte: Del Rey, 2019, 684 p.; ISBN: 978-85-384-0532-0)

Estudo absolutamente inédito na categoria dos estudos sobre o constitucionalismo brasileiro, pois enfocando, em mais de 650 páginas todos os princípios das relações internacionais do Brasil tal como inscritos na CF-88: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, concessão de asilo político. O trabalho é precedido por um estudo sistêmico e comparado dos princípios constitucionais de relações internacionais, assim como examina o tema no constitucionalismo brasileiro e sua construção na Assembleia Constituinte de 1987-88. O trabalho é impressionante pelo seu caráter exaustivo.


2) Barbosa, Rubens:
Um diplomata a serviço do Estado: na defesa do interesse nacional: depoimento ao Cpdoc (Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018; 300 p.; ISBN: 978-85-225-2078-7)


Meio século de atividades diplomáticas – que ainda não terminaram – estão aqui reproduzidas, mediante o depoimento prestado pelo autor a Matias Spektor, no Cpdoc, consistindo numa descrição detalhada de sua participação nos temas mais relevantes da diplomacia brasileira desde meados dos anos 1960 até sua aposentadoria como embaixador em Washington, passando por chefia de divisões, chefia de gabinete (ministro Olavo Setúbal), representante junto à Aladi, coordenação do Mercosul e de temas econômicos e também embaixador em Londres. Agregam-se ao seu próprio relato depoimentos de colaboradores, como os diplomatas Eduardo Santos, Marcos Galvão e Paulo Roberto de Almeida. Seus arquivos já se encontram disponíveis na FGV-RJ, e comportam milhares de páginas abertas à pesquisa. Rubens Barbosa segue ativo.



3) Almeida, Paulo Roberto de (org.):
A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM Editora, 2018; 448 p.; ISBN: 978-85-93751-39-4)


Estão aqui compilados 65 dos melhores artigos feitos pelo diplomata-economista, já na condição de Senador (pelo MT), constituinte derrotado na maior parte de suas propostas liberais e favoráveis à abertura econômica e integração do Brasil à economia mundial, precedidos por um ensaio do organizador, analisando o pensamento do grande estadista, e com um longo ensaio final destrinchando cada um dos dispositivos econômicos da Carta Magna. Incrível a capacidade premonitória de Roberto Campos ao antecipar que aqueles artigos generosos para todos e cada um acabariam inviabilizando um processo sustentado de crescimento econômico, ao comandarem o aumento contínuo dos gastos públicos; realista também sua postura contra o nacionalismo e o caráter intervencionista do Estado, tornando o Brasil um dos piores ambientes de negócios de todo o mundo.


4) Raffaelli, Marcelo:
Guerras europeias, revoluções americanas: Europa, Estados Unidos e a independência do Brasil e da América Espanhola (São Paulo: Três Estrelas, 2018; 380 p.; ISBN: 978-85-68493-54-0)


Uma história mundial das revoluções da independência das colônias ibéricas como nunca existiu na literatura publicada no Brasil, ou seja, no contexto internacional, desde 1792 (período do Terror na Revolução francesa, o que confirmava que não haveria retorno rápido às monarquias do passado), até 1828, quando finalmente termina a guerra entre Brasil e Argentina pelo pequeno Uruguai. A bibliografia confirma a manipulação de um número considerável de materiais primários e fontes secundárias, consultados diretamente nos National Archives e na Library of Congress, cuja maestria na seleção das melhores transcrições revela um historiador de altíssima qualidade. Já autor de um livro sobre as relações entre o Brasil e os EUA durante o Império (disponível na Biblioteca Digital da Funag), Raffaelli apresenta aqui uma história fascinante.



5) Villafañe G. Santos, Luís Cláudio:
Juca Paranhos, o barão do Rio Branco (São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560 p.; ISBN: 978-85-359-3152-5)


Destinada a tornar-se clássica, depois dos precedentes de Álvaro Lins (1945) e Luiz Vianna Filho (1959), a biografia de Villafañe inova sobre os precedentes, ao retraçar, cuidadosamente, a vida privada, as dificuldades e as artimanhas do patrono da diplomacia brasileira, nas suas relações com a imprensa, no cuidado com o ambiente político do início da República, e basicamente sua mentalidade conservadora, no seguimento da longa dominação saquarema sobre a política imperial, seguida pelo sistema oligárquico das elites republicanas, apoiadas numa agricultura atrasada. As relações com as grandes potências e com a vizinha Argentina são especialmente estudadas, no contexto da geopolítica regional, numa fase de imperialismos europeus ainda agressivos. Os problemas familiares também são ressaltados adequadamente.



6) Lima, Sergio Eduardo Moreira; Farias; Rogério de Souza (orgs.):
A palavra dos chanceleres na Escola Superior de Guerra (1952-2012) (Brasília: Funag, 2018; 738 p.; ISBN: 978-85-7631-780-7; coleção Política externa brasileira)


Este pesado volume é uma obra de referência sobre a política externa brasileira ao longo de 60 anos, como o compêndio organizado por Seixas Corrêa para os discursos inaugurais do Brasil nas AGNU anuais, mas à diferença daqueles, o público aqui é interno, o que permite maior sinceridade e abertura sobre aspectos cruciais da diplomacia brasileira, tal como expostas pelos ministros na Sorbonne militar, aliás moldada segundo o National War College americano. A introdução, da lavra do historiador Rogério Farias, coloca esses discursos no contexto político nacional e no ambiente internacional a cada etapa dessa longa interação entre duas instituições que pensam o Brasil e contribuem para formar os tomadores de decisão. Do Vargas constitucional à presidente derrocada em 2016, uma memória da história diplomática.




7) Cardim, Carlos Henrique (editor):
Revista 200 do Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência (Brasília: Ministério das Relações Exteriores, n. 1, outubro-dezembro de 2018, 236 p.)

Excelente iniciativa do embaixador Cardim, enquanto coordenador adjunto desse GT, ao reunir materiais antigos e inéditos em torno de nossa história, cuja fase autônoma começa, na verdade, pelos debates nas Cortes de Lisboa, como retratado em sua capa. Um equilíbrio de estilos, de conteúdo altamente diversificado, esse número apresenta documentos históricos, análises de grandes historiadores do passado, ensaios do presente, por diplomatas e acadêmicos, colaborações de grande qualidade intercaladas por uma riquíssima iconografia, selecionada pelo exímio editor de revistas e livros que sempre foi Carlos Cardim. Ele sublinha que a revista está destinada a ser um “traço de união”, e destaca o papel fundador de Hipólito da Costa, aliás objeto de um ensaio de Paulo Roberto de Almeida, que o considera o “primeiro estadista do Brasil”.


8) Paiva, Maria Eduarda (editora-chefe):
Juca: diplomacia e humanidades (revista do curso de formação em diplomacia do IRBr, n. 10, 2018, 220 p.; ISSN: 1984-6800)


Em seu décimo aniversário, essa excelente revista dos alunos do Rio Branco apresenta um dossiê sobre os 30 anos da Constituição, aqui abordada por seus dispositivos econômicos, raciais e ambientais. Três entrevistas também dão o tom desse número: com o próprio chanceler Aloysio Nunes, com a deputada Benedita da Silva sobre a Constituinte e com o colega Silvio Albuquerque e Silva sobre os diplomatas negros. A memória diplomática tem matérias sobre Bertha Lutz, sobre as relações Brasil-EUA, a estratégia de Rio Branco na questão do Acre e as relações Brasil-Rússia em 1917. A editora-chefe traz um excelente artigo sobre o itinerário de Itaipu na tríplice relação com a Argentina e o Paraguai, na visão dos diversos diplomatas que se ocuparam da questão, desde Guimarães Rosa até Saraiva Guerreiro, passando por Gibson Barboza.


(9) Fortuna, Felipe:
O rugido do sol: poemas (Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2018; 126 p.; ISBN: 978-85-7191-106-2)


Estes novos “poemas” de Felipe Fortuna se apresentam, antes de mais nada, como uma obra de arte visual. As aspas se justificam pois desde o Prefácio até a Lápide final (“Aqui giz”), esta talvez seja a obra mais rebuscada, stricto et lato sensi, de Felipe Fortuna, já autor de sete outros livros de poesia, três de crítica literária, dois de ensaios e duas traduções. O poema do título vem enclausurado numa bola escura, com duas páginas na cor vermelha, ressaltando o fogo da poesia, qual magma em fusão. Todos os poemas são construções gráficas, em letras maiúsculas, minúsculas, invertidas, tortuosas e torturadas, mas “o poeta pede desculpas” (p. 14) por apresentar brincadeiras com as palavras que nos obrigam a ler duas, três, quatro vezes, para apreciar essas troças com o leitor e consigo mesmo. Poesias curtas, telegráficas, mas todas altamente impactantes.


 10) Lozardo, Ernesto:
OK, Roberto, você venceu: o pensamento econômico de Roberto Campos (Rio de Janeiro: Topbooks, 2018; 352 p.; ISBN: 978-85-7475-280-8)


O autor, ex-presidente do IPEA, não é diplomata, mas o sujeito de sua homenagem foi, certamente, um dos maiores estadistas do Brasil na segunda metade do século XX. Por racionalidade extrema, brigou muito com o Itamaraty, mas olhando retrospectivamente ganhou todas as partidas. Viu antes e mais longe que todos os diplomatas e bem mais que os homens públicos, mas perdeu a batalha em que se lançou desde cedo para tornar o Brasil uma nação próspera, por estupidez da maior parte dos dirigentes. A análise do pensamento econômico do homem que pensou o Brasil é complementada por depoimentos de personalidades que conviveram com ele: Fernando Henrique Cardoso, Henry Kissinger, Antonio Delfim Netto, João Carlos Martins e Ernane Galvêas. Campos foi uma grande referência na vida de Lozardo. Deveria ter sido de todos...


11) Merquior, José Guilherme: O Marxismo Ocidental (tradução Raul de Sá Barbosa; 1a edição; São Paulo: É Realizações, 2018, 352 p.; ISBN: 978-85-8033-343-5)


A edição original de Western Marxism é de 1985 e começa por uma cobrança ao próprio Marx, que teria, sem dúvida, como recomendado na undécima tese sobre Feuerbach, mudado a face do mundo, mas a sua interpretação desse mundo, na visão do maior intelectual diplomático brasileiro, foi intelectualmente insatisfatória. A obra parte do legado hegeliano e marxista, para depois dialogar com todos os marxistas ocidentais, desde Lukács e Gramsci até Habermas, passando pela Escola de Frankfurt, por Walter Benjamin, Sartre, Althusser e Marcuse. A obra vem enriquecida por depoimentos sobre o intelectual e sua obra, inclusive uma entrevista com o editor José Mário Pereira, e um importante arquivo de “fortuna crítica”, em torno dos debates que a obra suscitou desde seu primeiro aparecimento. Ela foi dedicada a um marxista brasileiro: Leandro Konder.


12) Temer, Michel:
O Brasil no mundo: abertura e responsabilidade: escritos de diplomacia presidencial (2016-2018) (Brasília: Funag, 2018, 409 p.; ISBN: 978-85-7631-791-3).


O presidente nunca foi diplomata, mas como foram os diplomatas de sua assessoria os responsáveis pela quase totalidade desses discursos, ao longo dos dois anos e meio do governo de transição, que retomou a diplomacia tradicional do Brasil, depois dos desvios lulopetistas, cabe registrar uma obra que marca, justamente, o retorno da política externa brasileira a padrões mais tradicionais de interação regional e mundial. São 68 discursos ou pronunciamentos ao longo de 30 meses, o que resulta em mais de dois discursos sobre temas internacionais por mês, desde as assembleias da ONU, as cúpulas regionais e as reuniões do Mercosul, até palestras para empresários, sem esquecer os temas bilaterais, ainda que mais reduzidos. Todos os grandes temas da diplomacia brasileira foram devidamente tratados por colegas competentes.


Seminario (Anti)Globalismo no Itamaraty: palestra do ministro de estado

Nesta manhã de 12 de junho de 2019, Dia dos Namorados, fui despertado não por alguma chamada da família Bolsonaro – cujo chefe vive falando em casamentos estranhos –, mas por um aviso de um dos meus leitores no sentido em que não conseguiu mais acessar o famoso vídeo da alocução nietzscheana do nosso chanceler, culpando aquele bizarro filósofo alemão do final do século XIX pelo fato de que a humanidade (pelo menos a ocidental) tenha sido privada da presença de Deus, embora ele seja suficientemente lido para confirmar que a afirmação de que "Deus está morto" já aparecia em Dostoievski.
Fui conferir agora, pois eu tinha colocado o link para a palestra inaugural do ministro em minha postagem-resumo do seminário, neste link: 
http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/06/seminario-sobre-globalismo-no-itamaraty.html
e de fato não mais achei, pelo menos não no link originalmente fornecido.
Acessando, porém, o canal YouTube do Itamaraty, lá está, efetivamente, a rica palestra do chanceler. Caso os interessados também estejam interessados em minhas parcas notas, apressadas, que consegui tomar, enquanto ele passava de suas folhas dispersas a uma edição em alemão de Nietzsche (que ele se eximiu de mencionar bibliograficamente), transcrevo abaixo o resumo que consegui fazer durante a palestra, remetendo ao link acima para minha avaliação inicial (e final) do seminário.
O vídeo agora encontra-se neste link: 
https://www.youtube.com/watch?v=mWajQ0NBeio

segunda-feira, 10 de junho de 2019


Seminário sobre Globalismo no Itamaraty - resumo por Paulo Roberto de Almeida

Seminário sobre globalismo no Itamaraty
Notas de Paulo Roberto de Almeida
Seminário “Globalismo”, Palácio Itamaraty, Brasília, DF
Auditório Wladimir Murtinho 10 de junho de 2019
  
Introdução: Paulo Roberto de Almeida
(...)

Resumo das palestras por Paulo Roberto de Almeida
10:00-10:30 Abertura:
Embaixador Ernesto Araújo, Ministro de Estado das Relações Exteriores
(Nota PRA: se o texto aparece muito confuso, a culpa não é minha: a confusão mental, as hesitações, as idas e vindas são próprias do palestrante: o vídeo pode confirmar isso: https://m.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=PpNNLl4wZXw)

Addendum em 12/06/2019: 
Depois de postado o link acima, não mais funciona: 
Vídeo indisponível

Abre com leitura de Nietzsche: “vou contar a história dos próximos 200 anos”, ou seja, o niilismo, em Vontade de Poder. O pensamento de Nietzsche, famoso pela sua frase, “Deus está morto”, é uma descrição e uma superação do niilismo. Essa ideia de que Deus está morto se tornou o postulado central de todo o pensamento posterior; uma ruptura radical, que explica o marxismo-leninismo e o comunismo; trata-se da destruição da moral burguesa, anunciada por Marx, que é responsável pelo leninismo e pelo fascismo; isso já está na Ideologia Alemã, de Marx e Engels, e na Genealogia da Moral, de Nietzsche, são obras paralelas; o comunismo e o nazi-fascismo dependem da morte de Deus; ambos instalam um antropocentrismo radical. Mais interessante é uma frase do psicanalista Jacques Lacan, “se Deus não existe, nada é permitido”, eu [EA] me identifico com essa frase, pois ela transmite essa falsa liberdade trazida pelo niilismo moral.
Frase do Nietzsche: para um cristão isso não representa um problema. O próprio Nietzsche é um profeta herético, desse renascimento/ Existem cartas que ele escreveu no período de sua loucura, a partir de 3 de janeiro de 1889; ele assina como “crucificado”, diz “o mundo está esclarecido porque Deus está sobre a terra”; existem cartas para Cosima Wagner, que Nietzsche assina como Dionísio, o deus da morte e do renascimento na Grécia antiga; essa oposição entre apolíneo e dionisíaco é típica do pensamento de Nietzsche; de certa forma, Nietzsche se apresenta como o próprio crucificado, se entrega ao abismo da angústia intelectual, como uma figura para-cristã: Ecce Homo. Nietzsche anuncia o século XXI, que é tempo que nós estamos vivendo. Nos últimos dias antes da sua loucura, um dos textos diz: “eu trago a guerra, não a guerra entre povo e povo, entre classe e classe, mas entre a subida e a descida, entre a vontade da vida e a vingança contra a vida”. Nietzsche já nega a concepção da luta nacional, e nega também a luta de classes, concepção do comunismo. Podemos ler a história posterior entre a subida e a descida. Trata-se da história do espírito (aqui entramos em Hegel), é uma prosopopeia da história posterior; uma maneira de ver a história do século XX e XXI, de qual participamos.
Nesse texto, Nietzsche prega uma quebra da história total, como Lênin faria depois. Coloca o desdobramento da luta entre a subida e a descida, como os passos onde se desdobrarão esse movimento; trata-se da história do homem como pura fisiologia, como Lênin e o NSAPD (partido nazista) tentam implementar. O que existe ao longo do século XX é esse terrível mergulho sem Deus; é preciso saber se um dia conseguiremos emergir desse mergulho. Essas duas ideologias, comunismo e nazismo lutaram por sua preeminência durante o século XX. Mas quem lutou contra? Foram as democracias liberais, quando ainda existia um pouco da ordem antiga, quando não se tinha rompido com a ideia de Deus; onde havia liberdade e espaço para a ideia de Deus; no corpo das democracias liberais continuava a bater um coração conservador; essa foi a espinha dorsal do Ocidente que lhe permitiu vencer primeiro o nazi-fascismo, depois o comunismo. Ao longo da Guerra Fria, esse modelo acabou se impondo ao modelo totalitário; o Plano Reagan, por exemplo, foi uma epitome dessa fé e desse liberalismo: ele não teve problema em chamar o comunismo de “mal”; o papa João Paulo II também lutou contra essa tendência niilista. Caráter conexo das duas dimensões da crença de João Paulo II.
Depois de 1989, da vitória do Ocidente, linha da fé cristã venceu; mas logo se afirmou: “ninguém mais precisa de Deus” e resolveram expulsar Deus das democracias liberais. O comunismo já vinha se preparando para ocupar por dentro as democracias liberais, com o marxismo cultural, o gramscismo, eles foram ocupando o coração das sociedades liberais; e isso é o globalismo. É a ocupação das sociedades liberais; de 1889 a 1989 foi o baluarte da Niedergang, descida no sentido nietzscheano. A sociedade liberal achou que a disputa tinha sido exclusivamente econômica, e quase perderam a luta contra o niilismo, por terem perdido a ideia de Deus.
Palestrantes vão falar de alguns dos mecanismos do fisiologismo do globalismo, o desconstrucionismo linguístico, o nominalismo, a ideologia de gênero, o racialismo e o ecologismo, que é a ecologia transformada em ideologia. Áreas de pensamento que deixam de ter contato com a realidade e se impõem como absolutas. Todos esses instrumentos pressupõem a ausência de Deus, e criam uma nova moral, de opressão psicológica. Nietzsche previa isso: uma moral sem a base de uma ordem estruturada.
No ápice desses movimentos que vivemos, estamos vivendo um caráter opressivo, um moralismo pesado; o globalismo tenta formular de maneira canhestra, uma nova espécie de religião; ideologias que são o oposto dos valores antigos, da ideia de Deus. Existe um problema na concepção de uma falsa religião globalista, o globalismo abre a porta para um tipo de retorno de Deus, se cria um estranho humanismo, que desmerece o homem; a Inteligência Artificial significa a máquina aprendendo a pensar como o ser humano, isso é um programa globalista, pode ser o contrário: o homem sendo subjugado pela concepção mecanicista. O globalismo é o niilismo, o triunfo daquela concepção ateia proposta por Nietzsche.
Estamos num momento de recomposição; o fisiologismo é a estrutura filosófica dessa dominação; o liberalismo dispensou Deus. Estamos tentando reintroduzir Deus na sociedade liberal no seio da sociedade liberal politicamente correta; o Brasil está engajando nesse combate. Em Davos, o presidente Jair Bolsonaro reintroduziu a ideia de Deus em seu discurso, deve ter sido a primeira vez na história de Davos que um chefe de Estado introduziu Deus em Davos; isso significa uma mudança nos últimos 100 e tantos anos.
“Então é isso, Deus em Davos”. Muito obrigado.
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Todo o resto, minha introdução e palestra do assessor presidencial, pode ser visto no link já indicado: http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/06/seminario-sobre-globalismo-no-itamaraty.html

Cooperação Internacional na América Latina, FioCruz - curso em Brasília, DF

Ciclo de Debates sobre Bioética, Diplomacia e Saúde Pública - sessão junho 2019 

Cooperação Internacional na América Latina, FioCruz, Campus Virtual, Brasília, DF

Apresentação

Com o objetivo de fomentar a reflexão e o desenvolvimento de estudos científicos interdisciplinares, o X Ciclo de Debates sobre Bioética, Diplomacia e Saúde Pública promove, ao longo deste semestre, três sessões a respeito da cooperação Internacional para o desenvolvimento. “Cooperação Internacional na América Latina” é o tema da terceira sessão, que acontece em 27 de junho. Renomados pesquisadores e gestores dos campos da Bioética, da Saúde Pública e das Relações Internacionais conduzirão as discussões, abertas a todos os interessados. Os presentes receberão certificado de participação emitido pela Escola Fiocruz de Governo (EFG) da Fiocruz Brasília.

Utilizando como marco temporal o lançamento do Plano de Ação de Buenos Aires durante a Conferência sobre Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento de 1978, a sessão debaterá a evolução conceitual e das práticas de cooperação internacional voltada para o Continente Latino-americano nos últimos quarenta anos. Deverá também refletir sobre esses processos na área de saúde, ressaltando desafios, oportunidades e perspectivas para a cooperação externa brasileira. O tema será discutido levando em consideração os estudos interdisciplinares realizados pelo Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis/ Fiocruz Brasília) no contexto do Programa de Pesquisa e Comunicação: Desigualdade, Desenvolvimento e Cooperação.

O X Ciclo de Debates sobre Bioética, Diplomacia e Saúde Pública é organizado pelo Nethis/Fiocruz Brasília. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Fiocruz Brasília apoiam a realização das sessões. As sessões são transmitidas ao vivo pela internet, além de gravadas e disponibilizadas na videoteca Nethis.  

Organização

Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Nethis /Fiocruz Brasília)

Programação

27 de junho de 2019

14h00: Composição da mesa de trabalho e encaminhamentos do coordenador de mesa.
14h30: Palestrante 1
15h00: Palestrante 2
15h30: Debate com plenário.
17h00: Encerramento.

Público-Alvo

O Ciclo se manterá aberto a quaisquer interessados em participar do evento e de suas discussões, ou seja, profissionais de saúde, estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, gestores e outros interessados nas temáticas, além de especificamente ênfase à participação dos alunos do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Saúde da Escola Fiocruz de Governo.
 


Universidade - um bem público ameaçado? - Debate na Feira do Livro

DEBATE - Universidade - um bem público ameaçado?

A Editora UnB promove debate sobre o tema na 35ª Feira do Livro de Brasília, neste dia 12 de junho, às 18h30, no estande da Editora. Nesta edição, a Feira está sendo realizada no Complexo Cultural da República, entre os dias 06 e 16 de junho
EndereçoSetor Cultural Sul - Brasília, DF, 70297-400

Em sociedades democráticas, o conhecimento produzido pelas universidades e seus benefícios são reconhecidos e amparados plenamente pelo Estado. As universidades públicas são um patrimônio da sociedade brasileira e são espaços de excelência do conhecimento. Estão nelas a grande maioria das pesquisas desenvolvidas no Brasil, cerca de 90%. Não é razoável ignorar que investir nas universidades é investir no desenvolvimento do país.
Em momentos de crise ou de mudanças institucionais, narrativas diversas são produzidas para justificar projetos de poder. As universidades públicas e gratuitas estão no centro de um debate carregado de subjetividades a respeito de qual papel as universidades públicas desempenham no desenvolvimento do país e a quem se destinam. Por muitos anos uma agenda de inclusão permitiu a democratização do ensino superior no Brasil. É o que revela pesquisa recentemente divulgada pela Andifes que mostra o Perfil Socioeconômico dos Estudantes das Universidades Federais. Segundo o levantamento, a maioria dos alunos das instituições de ensino superior públicas é pobre, negra e de família de trabalhadores que não tiveram acesso à graduação.
Para este debate, convidamos José Geraldo de Sousa Junior, ex-reitor da UnB e professor na Faculdade de Direito/UnB, Isaac Roitman, professor emérito da UnB e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro do CEAM/UnB, e a professora Maria Lucia Fattorelli, coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida.
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