Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Debate sobre a diplomacia de FHC e a de Lula: Matias Spektor vs Rubens Barbosa (3ro round)
Rubens Barbosa respondeu no último domingo, dizendo que não, que elas foram muito diferentes, não só no estilo e em outras questões, mas de natureza e substância muito diferentes.
Matias Spektor não respondeu totalmente, mas colocou este texto em sua página, remetendo aos dois artigos e mais aos documentos depositados pelo Embaixador Rubens Barbosa no Cpdoc, ao qual Matias Spektor está associado.
Vejamos o que ele postou:
MS:
Escrevi na Ilustríssima que as políticas externas de Lula e FHC divergem em tom e ênfase, mas têm uma âncora comum: o projeto externo da social-democracia que, nesses vinte anos, deu pra construir.
Ontem, Rubens Barbosa chamou para o debate. Segundo ele, a diplomacia de Lula teria sido ideológica e partidária; a de FHC, não. O embaixador é porta-voz do PSDB em temas de política externa. O texto reflete isso.
Confira você mesmo. E confira ainda: as 20h de entrevista que fiz com o embaixador e o excelente arquivo pessoal que ele doou à FGV.
Meu texto: [MS]
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/10/1697612-a-politica-externa-de-tucanos-e-petistas.shtml
Texto de Rubens Barbosa:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/11/1711638-fhc-e-lula-politicas-externas-divergentes.shtml
Link para entrevista e arquivo de Rubens Barbosa:
https://cpdoc.fgv.br/acervo/arquivospessoais/base
Retomo (PRA):
Não pretendo, neste momento, referir-me à postura, aos artugmentos e posições de nenhum dos dois "contendores", mas colocar mimha própria percepção quanto à natureza dessas duas diplomacias, que considero profundamente diferentes, no estilo, na substância, nos valores, nas orientações, em tudo.
Não é novidade para ninguém que FHC manteve as posturas tradicionais do Itamaraty na sua essência (e na sua forma), inovando em poucos aspectos, mas importantes. A adesão ao TNP foi uma delas, que gerou muita polêmica. A postura cooperativa, mas firme, com a Argentina, foi outra: sempre apoiamos esses país e o ajudamos tanto quanto pudemos, mas quando a Argentina violou cláusulas do Tratado de Assunção, desrespeitou normas de política comercial do Mercosul, FHC defendeu os interesses brasileiros, apelando para o sistema de solução de controvérsias do bloco. Quando ainda assim a Argentina não respeitou a decisão desse órgão, um Tribunal ad hoc de arbitragem, FHC não hesitou -- muito contrariamente a Lula que nunca defendeu os interesses brasileiros -- em levar a Argentina ao GATT, onde ela foi vencida mais uma vez.
Em diversos outros aspectos, a diplomacia de FHC foi profundamente diferente, e eu quero destacar apenas um ponto: apoio a ditaduras, inclusive financeiro, contra a própria Constituição, isso é a marca da diplomacia "cubana" dos companheiros, e isso Matias Spektor sequer menciona.
Creio que basta isso para marcar minha posição.
Paulo Roberto de Almeida
O quase golpe no Paraguai e a origem da clausula democratica do Mercosul - Marcio Dias
domingo, 29 de novembro de 2015
RBPI no Scielo em Perspectiva: entrevistas com autores - Antonio Carlos Lessa
Semana RBPI em Scielo em Perspectiva – Humanas, por Antônio Carlos Lessa
Para ler os artigos, acesse:
- BRUNEAU, T. C. The US experience in contracting out security and lessons for other countries. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 230-248. [viewed 16th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500112. Available from:http://ref.scielo.org/x87fmm – Leia a entrevista com o autor aqui.
- PEREIRA, J. C. Environmental issues and international relations, a new global (dis)order – the role of International Relations in promoting a concerted international system. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 191-209. [viewed 18th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500110. Available from: http://ref.scielo.org/k7j6tn – Leia a entrevista com a autora aqui.
- CUNHA, R. C. Negociações comerciais em uma economia fechada: o Brasil e o comércio de serviços na Rodada Uruguai. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 142-163. [viewed 16th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500108. Available from:http://ref.scielo.org/3vz5hm – Leia a entrevista com o autor aqui.
- OZDEMIR, Y. Political conditions for successful inflation stabilization: comparing Brazil and Argentina. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 63-83. [viewed 17th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500104. Available from: http://ref.scielo.org/crf8m4 – Leia a entrevista com a autora aqui.
- PEREIRA, P. Os Estados Unidos e a ameaça do crime organizado transnacional nos anos 1990. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 84-107. [viewed 17th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500105. Available from: http://ref.scielo.org/d3fpnw – Leia a entrevista com o autor aqui.
- BLANCO, R. The UN peacebuilding process: an analysis of its shortcomings in Timor-Leste. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 42-62. [viewed 17th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500103. Available from: http://ref.scielo.org/ft6w4n – Leia a entrevista com o autor aqui.
- GARDINI, G. L. Towards modular regionalism: the proliferation of Latin American cooperation. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 210-229. [viewed 23th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500111. Available from: http://ref.scielo.org/zd9k4z – Leia a entrevista com o autor aqui.
- VAZ, A. C. International drivers of Brazilian agricultural cooperation in Africa in the post-2008 economic crisis. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 164-190. [viewed 19thNovember 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500109. Available from:http://ref.scielo.org/pzcvrb – Leia a entrevista com o autor aqui.
- SOARES, A. G. EU Commission participation in the Troika mission: is there a European Union price to pay?. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 108-126. [viewed 18th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500106. Available from:http://ref.scielo.org/39fqzd – Leia a entrevista com o autor aqui.
- LAS CASAS, T. A integração regional como mecanismo para provisão de bens públicos: uma análise comparativa da agenda de segurança pública no Mercosul e na Comunidade Andina de Nações.Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 23-41. [viewed 23th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500102. Available from: http://ref.scielo.org/ftqg5c – Leia a entrevista com a autora aqui.
- ALMEIDA, P. R. Transformações da ordem econômica mundial, do final do século 19 à Segunda Guerra Mundial. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 127-141. [viewed 18thNovember 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500107. Available from:http://ref.scielo.org/cp8tx2 – Leia a entrevista com o autor aqui.
- MENDONCA JUNIOR, W., and FARIA, C. A. P. A cooperação técnica do Brasil com a África: comparando os governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula da Silva (2003-2010). Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1, pp. 5-22. [viewed 23th November 2015]. ISSN 1983-3121. DOI: 10.1590/0034-7329201500101. Available from:http://ref.scielo.org/8b9f4c
Link externo:
Revista Interesse Nacional e um Manifesto sobre a Conjuntura - Rubens Barbosa
Paulo Roberto de Almeida
Manifesto
A convergência da crise econômica com as crises política e ética está criando uma grave ameaça ao Brasil no médio e no longo prazos. Caso o desequilíbrio da economia e o crescimento do déficit fiscal acima do produto interno bruto persistam, nos próximos anos o país corre o sério risco de se tornar inviável pela redução da capacidade de pagamento de suas dívidas.
Em razão da gravidade da situação atual – déficit fiscal em 2015 e aprovação do Orçamento de 2016 –, agravada pela ação disfuncional do Congresso Nacional, a sociedade e os agentes econômicos e políticos estão focados no curto prazo e menos atentos às questões estruturais. Mas sem atacar as causas da crise brasileira de frente vai ser difícil de evitar o pior nos próximos 10, 15 anos.
Diversas instituições e grupos organizados da sociedade civil estão discutindo essas questões e propondo soluções. A revista Interesse Nacional(www.interessenacional.com) é uma delas. Em seu número de outubro, em circulação, discute os desafios para sair da crise e a agenda nas áreas da Previdência Social, da educação, dos gastos públicos e tributária, além do papel da política e do Congresso para aprovar as medidas duras que terão de ser enfrentadas.
Dada a gravidade do contexto interno, pela primeira vez em oito anos a Interesse Nacional decidiu lançar um manifesto para chamar a atenção da sociedade brasileira para os desafios que teremos de enfrentar. Pela atualidade e pelo significado, pareceu-me útil dar repercussão a essa manifestação.
“Os anos de modernização do Estado brasileiro e de inclusão de parcela significativa da população na economia de mercado, no período 1990 a 2015, ficaram para trás. A crise política, econômica e ética acelera a hora da verdade para o Brasil, visto que não se veem saída e recuperação sem medidas estruturais de médio e longo prazo. O programa mínimo que a seriedade da crise atual exige é passar o Brasil a limpo e mudar o que tem de ser mudado, dentro dos princípios democráticos.
O Brasil enfrenta uma situação de extrema gravidade sem uma liderança política, empresarial e dos trabalhadores que expresse os anseios de todos por uma economia estável, um regime político funcional que represente a maioria da população e que favoreça uma sociedade mais justa. O grau alarmante de corrupção, facilitada pela interferência e ineficiência do Estado todo-poderoso, contamina a vida política e econômica do País e clama pelo fim da impunidade. Perdeu-se o sentido de autoridade e de garantia de segurança ao cidadão.
A retirada do grau de investimento do Brasil é a consequência da falta de rumo e da incompetência do governo na condução da política econômica, que fez o país mergulhar na recessão.
O desequilíbrio econômico, o crescimento do déficit público, da inflação, do desemprego e o gigantismo do Estado impõem a prioridade conjuntural do ajuste fiscal. O problema, contudo, é estrutural e torna urgente a discussão sobre a agenda de reformas microeconômicas, iniciada, porém interrompida. A perda da competitividade e do dinamismo do comércio exterior torna urgente a mudança da agenda interna com uma visão de médio e longo prazo.
A ausência de liderança efetiva no Executivo, no Legislativo e no Judiciário agrava o quadro nacional e exige de todos os que se preocupam com o futuro do Brasil um esforço para promover um debate que chame a atenção para as mudanças que a sociedade brasileira terá de enfrentar e aceitar e a necessidade de restaurar o crescimento e aumentar o emprego.
Qualquer que seja o governo em Brasília, essa nova agenda se imporá. O custo de ignorá-la será o caminho do Brasil, a médio prazo, para uma Argentina, uma Venezuela ou, no pior cenário, uma Grécia. O país perderá a capacidade de honrar seus compromissos, pelo nível cada vez maior da dívida, em especial da previdência social, o que levará a índices muito baixos de crescimento, ao caos com o desemprego chegando a níveis impensáveis e com graves custos sociais.
O preço do imobilismo será maior do que o custo das mudanças necessárias para restabelecer as condições de governabilidade do país. Não se pode deixar de contar com um Estado eficiente, efetivo e comprometido com o interesse público, em especial com os interesses dos segmentos mais pobres da população. Será inevitável o reexame do papel do Estado e o grau de sua interferência na vida de todos nós e da empresas.
O cidadão comum tem de aprender a defender seus direitos e participar de forma democrática na solução dos problemas que se acumulam e que parecem sem solução. A população anestesiada pela crise em todos os níveis tem de despertar e exercer seus direitos de cidadania.
A nova agenda não se limita à economia. A simplificação e a desburocratização dos procedimentos em que o cidadão tem de se relacionar com o Estado têm de voltar a ser prioridade. A reforma dos processos nos julgamentos civis, criminais e trabalhistas beneficiarão a sociedade como um todo, sempre preservando o direito de defesa e o devido cumprimento da lei.
Nesse quadro de incertezas e grandes riscos, a defesa do interesse nacional impõe a discussão de uma agenda renovada que venha a examinar medidas duras, mas realistas, que farão a economia retornar a um rumo de estabilidade e de crescimento. Esse é o primeiro passo.
A tarefa é urgente. O Brasil não pode esperar. O mundo não vai aguardar o Brasil”.
Chegou o momento de enfrentar os problemas que de fato afetam a sociedade brasileira. Governo, empresários e trabalhadores, como parceiros, juntamente com os agentes políticos, em momentos cruciais souberam superar suas diferenças e atuar em conjunto em favor do crescimento e do emprego. Não resta alternativa para evitar o que ocorreu em alguns países europeus no passado recente.
Fonte: O Estado de S.Paulo, 27/10/2015.
Diplomacias de FHC e de Lula: diferencas gritantes - Rubens Barbosa
Paulo Roberto de Almeida
Ilustríssima
FHC e Lula, políticas externas divergentes
RUBENS BARBOSA
Folha de S.Paulo, 29/11/2015
RESUMO: Artigo de ex-embaixador do Brasil em Washington responde a texto publicado na "Ilustríssima" em 25/10 pelo colunista da Folha Matias Spektor. Diplomata defende que governos do PT partidarizaram política externa, apoiando regimes autoritários e afastando o país das principais negociações comerciais internacionais.
*
Ao ler artigo publicado na "Ilustríssima" de 25/10, em que Matias Spektor abordava as diferenças entre PT e PSDB na condução da política externa, não resisto em contribuir para o debate, discordando do autor.
Concordo que os governos dos dois partidos atuaram com estilos distintos, aliás, muito distintos, mas os argumentos de que os governos FHC e Lula agiram com mais semelhança do que parece à primeira vista e que houve convergência em muitos aspectos, como afirma o articulista, são equivocados na forma e no conteúdo.
Essa percepção pode derivar de uma leitura errônea do fato de que as principais linhas da política externa do PT foram as mesmas das dos governos do PSDB: América do Sul, integração regional, Mercosul, África, Oriente Médio, reforma da ONU, busca de assento permanente no Conselho de Segurança e relação com a China.
Embora as prioridades tenham representado uma saudável continuidade na política externa brasileira, as ênfases e a ação diplomática foram bastante distintas.
A partir de 2003, as políticas seguidas pelo PT não podem ser consideradas convergentes com as do PSDB porque foram fundamentalmente influenciadas pela plataforma de política externa do Partido dos Trabalhadores. O que diferencia claramente os dois governos na área externa é a visão de mundo dos dois presidentes que ocuparam o Palácio do Planalto nos últimos 20 anos, determinante para as opções estratégicas seguidas pelo PSDB e pelo PT no poder.
A partir dessas diferentes visões de mundo, é possível detectar algumas opções estratégicas, mantidas até hoje no governo Dilma, segundo documentos oficiais –declarações, comunicados, discursos, entrevistas.
O declínio do poderio dos Estados Unidos e a crítica ao processo de globalização econômica e financeira estavam no centro da visão de mundo do lulopetismo, que requentou temas da esquerda da década de 60 contra a opressão capitalista e o imperialismo.
A retórica oficial personalista, centrada na figura de Lula, ressaltou o interesse do governo em transformar a geografia política, econômica e comercial global pelo fortalecimento do multilateralismo e pelo fim da hegemonia dos Estados Unidos, em especial, por meio da busca obsessiva da reforma do Conselho de Segurança da ONU; mudar o eixo da dependência comercial do Brasil pela redução da influência dos países desenvolvidos e pelo aumento da cooperação com os novos "parceiros estratégicos" (Sul-Sul) definidos a priori; ampliar a integração regional e fortalecer o Mercosul e sua expansão para formar uma área de livre comércio na América do Sul, como forma de oposição aos EUA, e não por uma percepção de ganhos na área econômica.
A aplicação da plataforma do PT com a partidarização da política externa na América Latina culminou com a política de afinidades ideológicas, generosidade e paciência estratégica nas relações econômicas e comerciais com os países sul-americanos –como Venezuela, Argentina, Bolívia–, com países africanos e, em especial, com Cuba.
Politizado, o Mercosul deixou de ser um instrumento de abertura comercial e tornou-se um fórum político e social, cada vez mais isolado das principais negociações comerciais internacionais.
A prioridade absoluta nas negociações comerciais multilaterais da Rodada de Doha na OMC e a crítica à abertura comercial com a rejeição dos acordos de livre comércio colocaram o Brasil na contramão das tendências de maior integração econômica global.
A relação com os países desenvolvidos (União Europeia, EUA, Japão), apesar da retórica oficial em contrário, passou para um distante segundo plano, perdendo a relevância como fonte de investimento e comércio. O acordo comercial do Mercosul com a União Europeia pouco avançou, por dificuldades criadas pela Argentina com a política restritiva e protecionista contestada pela Europa.
EMPREITEIRAS
A diplomacia presidencial de Lula, diferente da executada por FHC, foi principalmente voltada para a América do Sul e a África, alimentada por afinidades ideológicas, em busca de apoio para empresas brasileiras de serviços (empreiteiras), em alguns casos com alegados ganhos posteriores para o PT.
O governo FHC, por outro lado, deixou a política externa longe da influência partidária. Na visão de mundo do PSDB, de acordo igualmente com documentos oficiais, a política externa independe de governos, porque é uma política de Estado; por isso, deu continuidade à política de abertura regional e mundial e, de forma mais ampla, procurou ajustar o Brasil à globalização e à economia de mercado. A inserção externa do país ocorreu em ambiente competitivo, com ênfase no interesse pela busca dos avanços tecnológicos e entendendo o processo de criação e consolidação de grandes espaços econômicos por meio de arranjos regionais.
A integração não significou isolamento, indiferença ou autossuficiência, mas a procura de maior comércio, investimentos e tecnologia. O governo não cogitou organizar-se em função da ideia, considerada superada, do Terceiro Mundo (hoje chamado Sul-Sul), e a alternativa do crescimento autárquico foi excluído do universo de opções à disposição.
Com os EUA, o maior parceiro econômico, com valores e interesses compartilhados, o governo procurou uma agenda bilateral revitalizada. O Mercosul deveria ser consolidado como um instrumento de abertura de mercado e de liberalização de comércio, e a Alca foi condicionada à obtenção de objetivos dentro do estrito interesse brasileiro.
O governo FHC teve como política ampliar as relações com todos os países, inclusive os desenvolvidos (em especial os EUA e a Europa) de onde vêm as importações, as tecnologia e os investimentos.
A América do Sul e o Mercosul continuaram a ser partes centrais da política externa, com ações concretas, sempre com viés estratégico, como a convocação da primeira reunião de chefes de Estado da região, a prioridade para a integração física com vistas à ampliação dos contatos do Brasil com seus vizinhos e à abertura de corredores de exportação para o Pacífico. Continuaram as ações para o aprofundamento do Mercosul, visando transformá-lo em uma união aduaneira.
Na questão do assento permanente do Conselho de Segurança da ONU, o governo do PSDB defendeu a candidatura do Brasil sem prioridade e sem empenhar recursos financeiros e humanos em campanha para se credenciar.
FHC inaugurou a diplomacia presidencial e com ela aumentou a projeção externa do país, obtendo ajuda importante em momentos de grande crise internacional no México, na Rússia, na Ásia e na Argentina. As relações pessoais foram responsáveis pelo apoio que o Brasil recebeu nesse período e no fim do governo em 2002, quando, com respaldo do presidente norte-americano Bill Clinton, foi obtido empréstimo do FMI que permitiu uma transição tranquila para o governo do PT na área econômica.
ARROUBOS
Na análise de Spektor, são mencionados alguns exemplos de semelhanças entre políticas dos dois governos, como no caso da Venezuela. FHC procurou atuar como um fator de moderação para conter os arroubos excessivos de Hugo Chávez sem endossar a visão bolivariana do presidente venezuelano; defendeu o governo eleito quando do golpe de 2002 e buscou ampliar o relacionamento econômico e comercial em benefício das empresas brasileiras, mas não apoiou o bolivarianismo nem algumas das indicações e políticas sugeridas por Caracas no tocante à integração regional.
Em relação aos Estados Unidos, como embaixador em Washington, indicado por FHC, pude ser testemunha da continuidade, pois permaneci por mais algum tempo, confirmado por Lula.
Depois da posse, em conversa pessoal, como relatado em meu livro "Dissenso de Washington" (Agir), fui indagado pelo novo presidente sobre as instruções que havia recebido de FHC, ao assumir o posto em 1999.
Respondi que FHC me havia instruído a trabalhar para a ampliação e diversificação da relação bilateral. Lula deu-me instruções precisas de que as orientações recebidas de FHC deveriam ser mantidas, o que ocorreu durante o ano e meio que permaneci na capital norte-americana, mas depois foram descontinuadas.
CANAL OFICIOSO
Talvez o fato mais significativo a marcar a ausência de semelhanças entre as políticas externas dos dois governos tenha sido a instalação de uma diplomacia paralela na América do Sul. Lula, em pronunciamento no Itamaraty, no Dia do Diplomata de 2006, disse que sua política externa era diferente da de todos os seus antecessores porque tinha um canal oficial, a Chancelaria, para tratar das relações Estado-Estado, e tinha um canal oficioso paralelo, representado pelo assessor internacional da Presidência da República, para tratar assuntos de política externa diretamente com os partidos e os governos progressistas da região.
Do ponto de vista institucional, o governo do PSDB procurou modernizar o Itamaraty e prestigiá-lo na formulação e execução da política externa com o aumento significativo dos recursos orçamentários; nos governos do PT, a Chancelaria foi levada a uma das crises mais graves de sua história.
A influência partidária interferiu em seu trabalho diplomático e em seu processo decisório. O Itamaraty sofre problemas de gestão em função do crescimento de seus quadros, do aumento do número de embaixadas e do decréscimo dos recursos orçamentários, um dos mais reduzidos em todos os tempos.
Em resumo: as mencionadas convergências e pontos comuns na ação dos governos do PSDB e do PT podem ser explicadas pela manutenção de posições tradicionais do Brasil e por ações táticas determinadas por circunstâncias do momento.
As duas políticas externas certamente não beberam de um poço comum. Foram totalmente diferentes, na forma e no conteúdo, e produziram resultados opostos. Para citar apenas dois exemplos, os governos do PT passaram a apoiar governos autoritários na região e fora dela, além de terem isolado o Brasil das correntes dinâmicas da globalização.
RUBENS BARBOSA, 77, foi embaixador em Londres e em Washington, é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.
Research Gate: um relembrador de textos antigos, e outras coisas mais...
Congratulations
Pois eu nem lembrava mais dese texto, que foi produzido em 2009, e pode ser lido na íntegra neste link: https://www.researchgate.net/publication/266052346_O_Brasil_no_contexto_da_governana_global
Ou este outro aviso:
Tem ainda este aviso:
Congratulations
Pois é, dá direito a pedir aumento de salário não é?
Paulo Roberto de Almeida
This Day in History: Palestina Partition, Oswaldo Aranha (NYT)
On Nov. 29, 1947, the U.N. General Assembly passed a resolution calling for Palestine to be partitioned between Arabs and Jews.
ASSEMBLY VOTES PALESTINE PARTITION; MARGIN IS 33 TO 13; ARABS WALK OUT; ARANHA HAILS WORK AS SESSION ENDS
U.N. REJECTS DELAY
Proposal Driven Through by U.S. and Soviet Will Set Up Two Sates
COMMISSION IS APPOINTED
Britain Holds Out Hand to It - Arabs Fail in Last-Minute Resort to Federal Plan
By THOMAS J. HAMILTON
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Arabs See U.N. 'Murdered,' Disavow Any Partition Role:
Angry Delegates Stalk From Assembly Hall Before Formal Closing -- Silver Voices Gratification, Offers Friendship Peace Gains Noted: Brazilian Says Contacts Inspired No Forecast of Imminent War: Cites Role of Minority: Lie Regrets That Economic Issues Were Sidetracked -- Others Hail Aranha Zioninst Audience Joyful After Vote: Tears, Excited Laughter Mark Tension -- Aranha Commends Public's Good Behavior OTHER HEADLINES Schuman Bars Discussion of French Labor Overture; Communist Papers Seized: Premier Adamant: Strikers Must Go Back on Regime's Terms -- Labor Curbs Urged: Assembly Split on Code: 324 Saboteurs Are Arrested -- Paris to Expel Aliens Who Help Ruin Economy U.S. Troops to Stay in Italy Beyond Dec. 3 Sailing Date: Change in Plans Is Linked to Disturbances Led by Communists -- Milan Is Calm Following Compromise on Prefect No Parking Area Is Created From City Hall to Canal St. War Pay Racket Hunted by Truman: Gen. Vaughan Says President Wants Army, Navy, Air House-Cleaning on Disability Cases Congress Action Lags on Aid Bill Despite Warnings Need Is Urgent Vast G.I. Housing to Rise Near Site of World's Fair: 21 14-Story Apartment Units to Form Nation's Largest Veterans' Cooperative: Cost Put at $58,000,000: Occupancy on Tenant-Owner Basis -- Work Will Start Before End of Year Molotov Insists on Regime Before Treaty on Germany Company Asks Rise in Gas Rate From $1.15 to $2 Sliding Scale |
The decision was primarily a result of the fact that the delegations of the United States and the Soviet Union, which were at loggerheads on every other important issue before the Assembly, stood together on partition. Andrei A. Gromyko and Herschel V. Johnson both urged the Assembly yesterday not to agree to further delay but to vote for partition at once.
The Assembly disregarded last minute Arab efforts to effect a compromise. Although the votes of a dozen or more delegations see-sawed to the last, supporters of partition had two votes more than the required two-thirds majority, or a margin of three.
How Members Voted
The roll-call vote was as follows: For (33) - Australia, Belgium, Bolivia, Brazil, Canada, Costa Rica, Czechoslovakia, Denmark, Dominican Republic, Ecuador, France, Guatemala, Haiti, Iceland, Liberia, Luxembourg, the Netherlands, New Zealand, Nicaragua, Norway, Panama, Paraguay, Peru Philippines, Poland, Sweden, Ukraine, South Africa, Uruguay, the Soviet Union, the United States, Venezuela, White Russia.
Against (13) - Afghanistan, Cuba, Egypt, Greece, India, Iran, Iraq, Lebanon, Pakistan, Saudi Arabia, Syria, Turkey, Yemen.
Abstentions (10) - Argentina, Chile, China, Colombia, El Salvador, Ethiopia, Honduras, Mexico, United Kingdom, Yugoslavia.
Absent (1) - Siam.
All other questions before the Assembly were disposed of a week ago, and it ended its second regular session at 6:57 P.M. after farewell speeches by Dr. Oswaldo Aranha, its President, and Trygve Lie, the Secretary General. The Assembly's third regular session is to open in a European capital on Sept. 21.
The vote on partition was taken at 5:35 P. M. Representatives of Iraq, Saudi Arabia, Syria, and Yemen, four of the six Arab member states, announced that they would not be bound by the Assembly's decision and walked determinedly out of the Assembly Hall at Flushing Meadow. The Egyptian and Lebanese delegates were silent but walked out, too.
Briton Seeks Contact
Sir Alexander Cadogan, representative of Britain, which is to terminate the League of Nations mandate over Palestine and withdraw all British troops by Aug. 1, made a brief statement after the vote. He requested the United Nations Palestine Commission to establish contact with the British Government about the date of its arrival in Palestine and the coordination of its plans with the withdrawal of British troops.
The United Nations commission which will be responsible to the Security Council in the event that the Arabs carry out their threats to fight rather than agree to partition, will be composed of representatives of Bolivia, Czechoslovakia, Denmark, Panama and the Philippines.
This state, which is understood to have the backing of the United States, was proposed by Dr. Aranha and approved without opposition after the Arab delegates had walked out.
The commission, as proposed by the partition subcommittee, of the Assembly's Ad Hoc Committee on Palestine, was to have been composed of Denmark, Guatemala, Iceland, Poland, and Uruguay, but the question was left to the Assembly because of United States opposition.
The Assembly, without discussion, also approved an appropriation of $2,000,000 for the expenses of the commission, which will take over authority in Palestine after the British terminate the mandate and will then transfer it to the "shadow governments" of the two states.
The walkout of the Arab delegates was taken as a clear indication that the Palestinian Arabs would have nothing to do with the Assembly's decision. The British have emphasized repeatedly that British troops could not be used to impose a settlement not acceptable to both Jews and Arabs, and the partition plan does not provide outside military force to keep order.
Instead, it provides for the establishment of armed militia by the two nascent states to keep internal order and that any threats to peace by the neighboring Arab states are to be referred to the Security Council.
The Assembly decided Friday to take a recess of twenty-four hours to give the Arabs time to submit a comprise proposal, but this turned out to be what Mr. Johnson called a mere resurrection of the proposal for a federal Palestine, which had been recommended by a minority of the United Nations Special Committee on Palestine.
The resolution to return the entire question to the Ad Hoc Committee on Palestine, introduced by Mostafa Adl, the representative of Iran, would furthermore have directed the committee to take into account the last-minute Arab proposal.
A simple procedural resolution returning the question to the committee would have had precedence over the partition proposal, but Dr. Aranha, after considerable reflection, ruled that the extraneous provisions barred it from being treated as a procedural motion and that it could not be voted on until after the Assembly's decision on partition.
Vote on Principles Sought
Camille Chamoun, the Lebanese representative, tried to meet Dr. Aranha's ruling by demanding that the committee vote first on the eleven principles on the future government of Palestine, which had been approved unanimously by the Special Committee on Palestine last summer.
Mr. Chamoun remarked that the resolution before the Assembly did not mention these principles, but Dr. Aranha replied that they were covered by the plan substituted by the Palestine committee, to which the Assembly's resolution will give effect, and rejected the final Arab attempt to postpone a decision.
Dr. Alfonso Lopez, the Colombian representative, who on Friday had submitted a complicated proposal that, among other things, would have returned the question to the committee, had arranged with another delegate to make a simple proposal to recommit. However, the delegate, sensing the mood of the Assembly, remained silent and Dr. Aranha called for the decisive vote.
U.S. Efforts Praised
The United States delegation played its part in persuading the delegate in question not to present the motion for recommittal, and supporters of partition agreed that, after long hesitation, it had sincerely done its best to obtain Assembly approval of partition.
It was still difficult to account for the fact that Greece, which otherwise followed United States leadership throughout the long Assembly, voted against partition and that some Latin American countries abstained.
Britain, which brought the Palestine question before the Assembly last March, abstained on all votes in the Palestine committee and in poling on the issue in the Assembly.
It was expected that had the Assembly failed to reach a decision the United States would have asked Britain to stay on in Palestine. Sir Alexander's statement after the decision was taken was welcomed as being more cooperative than previous ones. It was generally expected that the United States and Britain would now agree on a working arrangement to facilitate the commission's work.
The Arab delegates, particularly after the vote, referred bitterly to the "heavy pressure" exerted on other delegations. Other delegates interpreted these complaints as attacks on the United States.
The Syrian representatives led this attack. Faris el-Khoury, in a statement before the vote, charged that the proportion of Jews to the rest of the population in the United States was 1 to 30. Jews were trying to "intimidate the United Nations ... and hiss the speakers here," which, he said was "proof that they are dominating here."
This assertion drew hisses from the gallery, and Dr. Aranha pounded his gavel for order.
A few minutes before the Assembly convened Arab spokesmen announced that they had drawn up a new six-point program in twenty-four hours of conferences. The program involved this formula:
(1) A federal independent state of Palestine shall be created not later than Aug. 1, 1949.
(2) The Government of Palestine shall be constituted on a federal basis and shall include a federal government and governments for Arab and Jewish countries.
(3) Boundaries of the cantons will be fixed so as to include a federal basis and shall include a federal government and governments for Arab and Jewish countries.
(4) The population of Palestine shall elect by universal, direct suffrage a Constituent Assembly, which shall draft the Constitution of the future federated state of Palestine. The Constituent Assembly shall be composed of all elements of the population in proportion to the number of their respective citizens.
(5) The Constituent Assembly, in defining the attributes of the federated government of Palestine as well as of its legislative and judiciary organs and the attributes of the governments of the cantons and of the relation of the governments of these cantons with the federal government, shall draw its inspiration chiefly from the principles of the Constitution of the United States as well as from the organization of laws in the states of the United States.
(6) The Constitution will provide, among other things, for protection of the holy places, liberty of access to visit the holy places and freedom of religion as well as safeguarding of the rights of religious establishments of all nationalities in Palestine. >