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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 30 de dezembro de 2006

672) A evolucao das especies diplomaticas...

(um pouco de humor, sob a forma de exercício de quantificação, na série: “Macro e microeconomia da diplomacia”).

Dando continuidade à minha série de artigos bissextos, enfeixados sob o título geral de “Macro e microeconomia da diplomacia” – e já representados por um primeiro ensaio de levantamento das principais “questões de economia diplomática” e um segundo texto relativo à questão específica da “produtividade diplomática”, ambos disponíveis neste link: www.pralmeida.org/07CousasDiplomaticas/01MacroMicroDiplom.html –, permito-me tratar agora de uma das externalidades que influenciam a carreira e o desempenho do diplomata: aquela que se ocupa de sua exata caracterização quanto ao gênero, o que nem sempre tem a ver com a sua orientação sexual. Faço-o apenas para responder a uma indagação de um colega de trabalho que, como eu, é sociólogo de formação, mas que, também como eu, costuma dar palpites em assuntos econômicos. Pois não é que ele vem repetidamente indagando, de forma aparentemente séria, sobre o “índice de boiolagem explícita” no Itamaraty, e eu nem sempre disponho dos dados empíricos para responder?
Questão grave, e importante, que ainda não foi objeto, salvo engano meu, de algum estudo de sociografia diplomática, dentre tantos outros que se ocupam de questões relevantes de política externa e das relações internacionais do Brasil. Ainda que esta série se ocupe, primordialmente, da macro e da microeconomia da diplomacia, ela não poderia ignorar uma questão que afeta, talvez com intensidade insuspeita, aqueles que se ocupam, funcionalmente, de diplomacia, isto é, os diplomatas, as diplomatas, além de todos os “outros” que, por uma ou outra razão, também exercem essa função nobre no Estado. Estes “outros” parecem constituir uma proporção razoável dos funcionários da Casa, não considerando aqui, obviamente, aqueles curiosos que estão exercendo, temporariamente, funções diplomáticas mas que não são diplomatas de carreira (como os políticos no exílio, os amigos do rei e outros apaniguados de qualquer tipo que, a despeito de tudo, toda corte sempre carrega como um fardo). Na acepção aqui retida, por “outros” podem ser classificados todos aqueles que, com a ajuda do superego freudiano, preenchem com uma pontada no coração o item “gênero” nos formulários padronizados.
Quanto são eles, exatamente?: mistério. Como se distribuem entre as classes de diplomatas?: ignoramos totalmente. Qual o coeficiente de abertura externa?: igualmente não sabido. Qual sua incidência nas diversas gerações?: outro imponderável. Foram perseguidos em outras eras, estão mais à vontade nesta nossa época de uniões livres e de abertura de armários?: certamente, mas muitos ainda se escondem atrás de uma vida dupla e de um comportamento reservoso, tão desnecessário, hoje em dia, quão nefasto ao equilíbrio mental de funcionários que, no que se sabe, são tão ou mais dedicados à carreira do que quaisquer outros, por vezes até mais.
Seria possível construir um índice confiável da presença efetiva desses detentores de um charme discreto que tende a ser confundido com o da própria diplomacia? Difícil dizer pois que, à diferença dos conhecidos índices de Laspeyres ou de Paasche, não se pode determinar com rigor a média aritmética ou a média harmônica (esta ainda mais problemática) da evolução desse “produto” – com perdão pelo uso do conceito – ao longo do tempo ou no espaço. Talvez tenhamos de nos contentar com uma aproximação que, ignorando voluntariamente os valores no atacado, se concentre sobre os mesmos no varejo. O coeficiente de variação desses “produtos” na cesta da carreira será sempre algo ambíguo e indeterminado, pois que as estatísticas não sabem como estimar o quantum de população economicamente ativa não revelada, pelo menos não de modo explícito.
O fato é que, impossibilitado de responder precisamente a tão importante questão do supracitado colega – ele chegou a aventar a hipótese de 90%, o que, francamente, eu considero algo exagerado –, decidi, se não oferecer um cálculo, ou sequer uma estimativa grosseira, pelo menos propor um método um pouco mais científico de determinação da incidência relativa dessa fauna peculiar no conjunto da classe (atenção taxonomistas: não confundir a espécie e o gênero com a família e esta com a classe, pois se trata de graus diversos de aproximação filogenética). A investigação compreende obviamente aspectos macro e outros microeconômicos, sendo estes provavelmente mais relevantes em vista da dimensão reconhecidamente privada da matéria.
Uma interpretação de tipo keynesiana a esse problema, tenderia a identificar, historicamente, as grandes tendências das curvas de oferta e procura para o fenômeno em questão, o que revelaria, claramente, um nítida inflexão para cima da curva de oferta e uma estabilização relativa da curva de demanda, com uma certa depreciação, portanto, do valor do produto ao longo do tempo. Esse comportamento pode ser explicado pela existência daquilo que os economistas do século XIX chamavam de “abstinência”, isto é, uma abstenção voluntária ao consumo deliberado desse produto, e que os economistas modernos passaram a denominar sob o conceito de poupança (não confundir, porém, com o vulgar epíteto). Em virtude, todavia, do princípio da “aceleração”, fenômeno colocado em evidência pela primeira vez pelo economista francês Aftalion em 1913, o produto foi sendo incorporado aos gostos da demanda. Atenção: não se trata ainda do “multiplicador keynesiano”, mas tão simplesmente do crescimento proporcionalmente mais forte da demanda por bens de capital – sim: existe um capital intrínseco à espécie – do que a expansão da demanda final da qual ela deriva.
O rendimento marginal do capital fixo investido em equipamentos próprios (que fazem parte do capital no nível microeconômico) redunda, em última instância, naquele tipo de demanda que Keynes, ele mesmo um representante da espécie, chamou de agregada, mas que para todos os efeitos práticos de um serviço gozando do monopólio da reprodução da espécie, tende a ser confundida com a demanda efetiva. Em qualquer hipótese, o ciclo econômico conduz a uma expansão ainda mais desproporcional da oferta do produto em questão, o que pode ter resultado, em várias épocas, naquilo que Marx chamou de “crise de superprodução”. Esse fenômeno era visível no Brasil de meados dos anos 1950 ao início dos 60.
Esse deslocamento para cima da curva da oferta no Brasil – alguns estimaram um crescimento anual da ordem de 7% no período 1956-64, que por acaso se confunde com a variação do PIB na mesma fase – foi temporariamente interrompido pela “Redentora” de 1964, que foi tudo menos liberadora para a subespécie em questão. A forte contração da demanda correspondeu a uma queda ainda mais brutal da oferta, reprimida a ponto de se temer pelo seu desaparecimento.
Como naquele tempo não tinha sido ainda negociada a convenção CITES (isto é, a das espécies ameaçadas de extinção) temeu-se pelo desaparecimento do produto do mercado. Alguns representantes da subespécie, já sem marca registrada, chegaram a ser descartados de maneira vil pelo controle de qualidade dos serviços de inspeção, o que só foi evitado graças a uma estratégia sutil de marketing, consistindo numa gestão discreta da rede de fornecedores e clientes e num serviço quase personalizado de entrega.
Tempos negros para a subespécie, esses das restrições impostas pela corporação viril, levando a uma redução forçada nos níveis de demanda e de oferta, sobretudo esta última, atingida por um recolhimento compulsório que jamais foi igualado por qualquer banco central, em qualquer outra época. O enxugamento de liquidez foi geral, só não chegando a uma balança negativa porque alguns, por interesse próprio ou por espírito humanitário, se dedicaram a manter um cash flow mínimo. Dizem até que um secretário-geral especialmente zeloso chegou a responder a um general mais afoito: “eles podem ser boiolas, mas são os meus boiolas”. E não permitiu que tocasse mais na fauna da Casa. Com isso, se logrou preservar a espécie e se manteve razoavelmente intacto o capital genético, permitindo a reconstituição do plantel uma vez asseguradas as condições de mercado e o adequado equilíbrio entre capital fixo e ativos convertíveis.
Observou-se, em seguida, uma evolução moderada desse exército especial de reserva, ciclo no qual a forte demanda reprimida foi contida por um controle igualmente severo do lado da oferta, limitada na entrada por um chefe da Divisão do Pessoal que ficou conhecido como “Deer Hunter”. O fato é que ele abatia todos os candidatos da categoria que ousavam passar impunes pelos exames da primeira fase, obrigando alguns a adotar uma estratégia de diversificação do produto, envolvendo inclusive matrimônio exogâmico (o que contraria os hábitos endogâmicos do grupo). Passada porém essa fase, com o deslocamento, para fora da abcissa, do atirador contumaz, a linha da coordenada voltou a experimentar um deslocamento para a direita e para cima.
Mas o produto bruto diplomático relativo à subespécie só voltou a conhecer níveis exponenciais de crescimento com o fim do autoritarismo político, período que também corresponde a uma forte injeção fiscal na Secretaria de Estado, com novos expoentes que não mais tiveram de se restringir aos circuitos especializados – e necessariamente discretos – nesse tipo de mão-de-obra. Beneficiando-se então de vantagens comparativas ricardianas – que tendiam a promover, nos trópicos, um produto mais sensual –, os fluxos de capital diplomático customized se expandem a uma velocidade nunca vista, chegando a ameaçar as redes já estabelecidas de serviços tradicionais e ortodoxos. Depois de uma certa confusão inicial no plano regulatório, ocorreu uma acomodação natural segundo as especializações comportamentais, o que confirmou linhas e setores específicos na divisão funcional de trabalho entre os membros das várias castas existentes.
Alguns intercâmbios continuaram a ocorrer, tanto mais importantes quanto o nível observado de demanda reprimida no ciclo anterior de negócios, mas registrou-se em geral uma segmentação de mercados, que progressivamente beneficiou as minorias mais ativas e engajadas na transformação produtiva dessa empresa verdadeiramente multinacional. Com a prática de subsídios cruzados, por parte daqueles situados estrategicamente na administração em favor de outros posicionados na ponta dos determinados serviços de consumo especializado – cerimonial ou mesmo intendência geral –, ocorreu valorização de alguns ativos e desvalorização de outros, mas sempre com uma ascensão gradativa da nova classe a funções cada vez mais bem localizados na escala de comando.
Fatores de produção anteriormente dotados de externalidades negativas – como as colunas sociais e as recepções seletivas – passaram a ser mobilizados pelas novas teorias sobre o comércio estratégico de iniciados, que logicamente se beneficiaram enquanto puderam de importantes transferências fiscais, até a prática ser regulada e fortemente restringida pela Rodada Uruguai do GATT. Mas, os serviços continuaram ser oferecidos segundo listas positivas, o que permitia isolar os simples curiosos ou os pouco dotados de talentos para essas lides alternativas de intercâmbio diplomático.
O fato é que, sem a intervenção moralista dos governos, as relações de mercado entre as novas espécies se expandiram de modo exponencial, a ponto de elas dominarem alguns serviços colocados em regime de concorrência imperfeita (e alguns diriam até mesmo desleal). Nem todos as esferas de administração foram objetos de oligopolização pela subespécie em questão, mas operando num serviço que já ostenta uma situação de monopólio “natural”, a combinação da preferência pelo similar e circuitos fechados de distribuição – onde vale não necessariamente a eficiência alocativa, mas o compadrio e o nepotismo – redundou numa curva de regressão altamente desfavorável para as demais categorias. O tratamento preferencial e mais favorável para os diplomatas do grupo em causa se fez em detrimento do antigo grupo majoritário, que não dispunha do mesmo poder de fogo concentrado e de estratégias de mercado adaptadas a seu status de maioria silenciosa.
Não se dispõe, ainda, de modelos econométricos que permitam medir com precisão, e avaliar a partir de dados empíricos verificáveis, a base instalada e a extensão da população aqui referenciada no conjunto do serviço diplomático, que agora também passou a fornecer mão-de-obra especializada, e relativamente competitiva, para outros serviços da burocracia federal. Não se sabe se um survey discretamente conduzido seria capaz de medir a extensão do fenômeno, já que persistem setores reprimidos nas duas pontas e que os novos tipos de uniões legais não estão ainda plenamente consagrados, ou sequer legalizados.
Alguns tiques comportamentais e verbais são, entretanto, facilmente detectáveis, o que permitira construir um modelo formal de análise, pronto a ser testado num survey dotado de variáveis conhecidas e identificadas ao longo do tempo. Pesquisas de campo conduzidas com técnicas ainda rudimentares de medição permitiram, em todo caso, quantificar o exército especial já referido – que não é mais “de reserva”, nota bene – em pelo menos 50% da população economicamente ativa do serviço exterior, tomado em seu conjunto (isto é, os da ativa e os desativados). Talvez uma enquête provista de todos os requisitos científicos da sociografia contemporânea resultasse numa elevação desse percentual a pelo menos um quarto mais da amostra total. Como se vê, ainda não se chegou ao total estimado, com forte dose de arbitrariedade, por aquele colega de trabalho visivelmente mal intencionado. Em todo caso, o assunto permanece em aberto até que estudos mais abalizados venham revelar todo o potencial de mercado suscetível de ser encontrado em novas fórmulas de um velho produto.

Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Brasília, 1230: 21 de março de 2004

671) Profissão Internacionalista

Entrevista concedida a jornalista da Facamp (Campinas, SP), em abril de 2005, para inserção no site da Faculdade, seção vinculada ao curso de relações internacionais, voltada para orientação profissional dos alunos candidatos ao curso.

A negociação como rotina de trabalho
A carreira diplomática exige um conhecimento amplo, e não apenas teórico, das Relações Internacionais

Os diplomatas são responsáveis por formular técnicamente, representar e defender as posições do Brasil no plano das relações internacionais. Têm como rotina negociar acordos comerciais, de meio ambiente ou relacionados aos direitos humanos, entre outros, e identificar o interesse nacional no problema, levando em conta desde a relação do Itamaraty com outros ministérios até as negociações políticas no âmbito da ONU ou da OMC, por exemplo.
Também têm a tarefa de promover diálogo entre os agentes dos mercados e os governos, bem como antecipar e avaliar o impacto para o país de problemas internacionais, entre outros. O interesse nacional depende do governo e sua definição pode caber, setorialmente, à área econômica, à saúde ou ao trabalho.
A carreira diplomática exige um conhecimento amplo, e não apenas teórico, das relações internacionais. O papel dos subsídios numa economia, por exemplo, não se explica pelas teorias de Ricardo, mas pelo lobby agrícola. Portanto, é preciso conhecer, na prática, a instituição do subsidio, seu funcionamento.
Os especialistas em relações internacionais e os diplomatas têm que ter habilidade para negociar. Não basta ser um intelectual brilhante, é preciso saber conversar com aliados e adversários.
As oportunidades de trabalho no governo são restritas. O Itamaraty seleciona cerca de 30 diplomatas por ano. Eles ingressam como terceiro secretário e percorrem um longo caminho até chegar a ministro de 1ª classe.
No concurso de 2005, fizeram as provas iniciais mais de 6 mil candidatos. Alguns órgãos de governo já contam com assessores internacionais como o MDIC ou o Banco Central. Na área de ensino, a maior parte das vagas está nas faculdades privadas. As empresas são as que mais contratam; porém, são mais seletivas. O mercado exige formação consistente e bom conhecimento de inglês; francês e espanhol são dois acréscimos úteis.

Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

670) Postura Diplomatica

Comentários de Paulo Roberto de Almeida a questão colocada por um médico de BH (MG)


Questão: Qual a situação mais difícil que você já passou na diplomacia e como lidou com ela? No momento de suas reflexões, quais recursos mentais (memória, discernimento, agressividade, paciência, estudo, etc.) você precisou utilizar?

Resposta PRA:
Em diplomacia, existem vários momentos delicados quando se está negociando em nome do País. Uma situação complicada pode se apresentar numa destas duas hipóteses: ou não se dispõe de instruções suficientes para sustentar os interesses nacionais, ou as instruções dadas são inadequadas, na situção concreta da barganha negociadora. Nesse caso, o diplomata precisa agir segundo a sua melhor percepção de quais seriam os interesses nacionais, com base num estudo acurado da situção concreta e dos interesses em jogo.
Normalmente, o negociador que está na “frente de combate”, em oposição ao “burocrata” da capital, pode acabar tendo uma visão ampla dos processos em jogo e dos diferentes aspectos do interesse nacional, segundo uma percepção de mais longo prazo. Sua visão daquele problema – eventualmente fundamentada num estudo detido da questão e colocada em perspectiva comparada com as experiências e posições de outros atores – pode eventualmente se contrapor às instruções recebidas da capital, que podem estar baseadas numa visão meramente teórica ou burocrática do processo em causa.
Nesse momento, o diplomata em causa pode ficar numa situação muito difícil, pois que dominando o tema, e conhecendo o jogo de interesses dos diversos atores participantes (países ou grupos de paises), ele pode ter um melhor julgamento de qual seria a direção mais indicada a ser seguida, do ponto de vista do interesse nacional. Mas, aqui se coloca o dilema: as instruções recebidas vão num sentido contrário ou bastante diferente daquilo que o diplomata encarregado do tema na frente negociadora percebe como sendo a melhor postura a ser adotada. Ele quer acreditar ou sabe concretamente que uma posição diferente seria melhor indicada para defender o interesse nacional (este é um conceito e uma situação sempre difusos e muito difíceis de serem definidos na prática). Em todo caso, existe aqui um problema real de consciência e de postura, já que o diplomata não poderia, teórica e praticamente, opor-se às instruções recebidas da capital, mas sabe, concretamente, que nem sempre a burocracia institucional funciona da melhor forma possivel, pois que ninguém é onisciente.
Pessoalmente, já passei por esse tipo de situação, envolvendo uma negociação internacional de um tratado sobre circuitos integrados no âmbito da OMPI. Tendo me ocupado do tema durante meses e meses, eu literalmente dominava o assunto, técnica e diplomaticamente, e as instruções formuladas em Brasília, de nítido corte tradicional, eram claramente inadequadas. Os argumentos que podem ser mobilizados em favor de suas teses, por mais racionais ou “probatórios” que sejam (com base numa análise histórica, nos dados da economia, numa visão de longo prazo), nem sempre são convincentes ou suficientes para “dobrar” o burocrata na outra ponta do processo ou até fazer com que a instituição como um todo se mova em outra direção. Esse tipo de situação pode ser terrível, pois aparentemente (ou concretamente) o diplomata em causa pode estar se colocando contra as instruções da sua instituição.
Eu não tive medo de fazê-lo, naquele momento preciso, assim como em outras circunstâncias posteriores. De certa forma, esse tipo de atitude me prejudicou, pois fiquei com fama de rebelde, de dissidente, de arrogante, de pretencioso “sabe-tudo” e outros qualificativos mais, que nem são do meu conhecimento. Se insisto em certas teses é, contudo, com base num estudo profundo das problemáticas das quais me é dado ocupar. Sou um por excelência um estudioso compulsivo, e não costumo me dobrar a nenhum argumento de autoridade, e sim à autoridade do argumento. Numa casa “feudal” como é o Itamaraty, isso é quase um crime de lesa-majestade.
De certa forma, ainda pago até hoje minha “ousadia”.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de novembro de 2005

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

669) Carreira Diplomatica: dicas

Carreira Diplomática
Dicas e argumentos sobre uma profissão desafiadora

Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

Apresentação de minha seção sobre a carreira diplomática no site pessoal:
Link: http://www.pralmeida.org/04Temas/04AcademiaDiplom/02DiplomaciaGeral.html

Diplomacia
Instrumentos, preparação à carreira, subsídios para estudos


(Texto elaborado em 2005)

A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em decorrência da maior inserção internacional do Brasil e dos avanços da globalização e da regionalização. Os candidatos têm em geral procurado os cursos de graduação em relações internacionais. Muitos já ostentam inclusive mestrado ou doutoramento. Em todo caso, o concurso à carreira diplomática possui especificidades que fazem dele um processo altamente seletivo e bastante rigoroso, ainda que aberto unicamente aos talentos e méritos individuais.
Os candidatos devem, em primeiro lugar, verificar na página do Instituto Rio Branco, no site do Ministério das Relações Exteriores, as últimas informações sobre o concurso, programa de estudos, bibliografia, etc.A Funag anunciou, em março de 2006, estar colocando à disposição do público em geral toda a sua coleção de livros que se referem aos trabalhos do Instituto Rio Branco já publicados, bem como todos os volumes resultantes dos seminários do IPRI, nos últimos anos. Veja a relação completa e o endereço do site neste link do meu blog, onde apresento o material: http://diplomaticas.blogspot.com/2006/03/272-livros-sobre-diplomacia.html#links.
Consoante o papel didático exercido por esta página, pretendo colocar a partir deste espaço uma série de textos que poderão guiar, ajudar, esclarecer, consolar ou, quem sabe até, divertir os candidatos à carreira diplomática. Começo por oferecer uma bibliografia resumida, que nada mais é senão o conjunto das leituras recomendadas no programa oficial do Instituto Rio Branco, mas reduzidas ao que eu considero, pessoalmente, como sendo o essencial, isto é, uma lista de primeiras leituras, para que cada candidato dê início a seu próprio programa de estudos. Veja aqui a bibliografia: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1481BiblioResumIRBr2005.doc.
Procurarei estabelecer uma forma de organização racional e uma estrutura clara para os vários textos aqui disponíveis, mas nem sempre isso será possível. A página também será alimentada gradualmente, à medida em que faça a seleção dos textos pertinentes e sua transposição para esta base. Sou colaborador regular da revista Espaço Acadêmico; veer meus meus artigos no link: http://www.espacoacademico.com.br/arquivo/almeida.htm.
Como atendo a muitas demandas colocadas sobre a carreira diplomática e a própria preparação para o concurso que habilita a ingressar na carreira – seja sob a forma de cursos de graduação de relações internacionais, seja sob o formato de cursinhos preparatórios – tenho uma série de outros textos que procuram responder a essas questões repetidamente a mim feitas. Algumas reflexões que tenho feito, seja individualmente, seja a convite de responsáveis por esses cursos de relações internacionais, ou pelos próprios alunos, foi inserida nesta seção deste site: Internacionalistas: uma carreira, uma profissão? (em curso de atualização).
Um exemplo pode ser visto neste meu texto: “O que faz um diplomata, exatamente?”, que responde a indagações efetuadas sobre a natureza do trabalho diplomático, contendo uma remissão a meu trabalho sobre as “dez regras modernas de diplomacia”; está em meu blog nr. 153, link: http://paulomre.blogspot.com/2006/01/153-o-que-faz-um-diplomata-exatamente.html.
Por outro lado, você também deve ter pensado em tudo o que você sempre quis saber sobre a carreira diplomática...
...e nunca teve a quem perguntar... Pois, agora já tem! Ao meu colega Renato Godinho, que preparou um excelente "FAQ", ou questões mais perguntadas, sobre a carreira, o concurso do Instituto Rio Branco e outros aspectos curiosos (como salário, por exemplo, que falta completar, para traduzir toda a nossa miséria salarial no Brasil). Eu coloquei um link para o seu excelente "questions and answers" como post 266 de meu Blog "Cousas Diplomáticas", mas você pode ir direto à fonte, neste link: http://web.mac.com/rgodinho/iWeb/Renato/FAQItamaraty.html#C.
Esta página ainda está em construção e se algum texto não estiver disponível, atenderei as solicitações individualmente, sempre com a menção ao número sequencial de cada trabalho. Aos poucos, a seção vai ser ampliada.


Compilação de textos do autor sobre o tema:
(em ordem cronológica inversa)

(Compilação efetuada em dezembro de 2006)

1701. “Um autodidata na carreira diplomática”, Brasília, 26 dezembro 2006, 4 p. Respostas a questões colocadas por jovem candidato à carreira diplomática. Colocada no blog Diplomatizzando; Link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2006/12/667-um-autodidata-na-carreira.html#links.

1668. “Dez obras fundamentais para um diplomata”, Brasília , 29 setembro 2006, 2 p. Lista elaborada a pedido de aluno interessado na carreira diplomática: obras de Heródoto, Maquiavel, Tocqueville, Pierre Renouvin, Henry Kissinger, Manuel de Oliveria lima, Pandiá Calógeras, Delgado de Carvalho, Marcelo de Paiva Abreu e Paulo Roberto de Almeida, para uma boa cultura clássica e instrumental, no plano do conhecimento geral e especializado. Colocada no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2006/09/625-dez-obras-fundamentais-para-um.html). Revisto e ampliado, com explicações e links para cada uma das obras, em 14 de outubro de 2006 (6 p.) e publicado em Via Política em 15/10/2006 (link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=13).

1607. “O Internacionalista e as Oportunidades de Trabalho: desafios”, Brasília, 22 maio 2006, 4 p. Transcrição de apresentação em PowerPoint para o Forum de Relações internacionais do curso de RI da USP (FEA, 29 maio 2006, 17h30). Disponível no site (link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1607semanariusp.ppt).

1604. “O estudo de relações internacionais no Brasil: respostas a um questionário”, Brasília, 19 maio 2006, 2 p. Respostas a questões colocadas por Barbara Teresa Coutinho de Almeida Sá (aluna de RI da UNIFAI-SP). Postado no blog sob nº 431 (link: http://diplomatizando.blogspot.com/2006/05/431-cursos-de-ri-no-brasil-algumas.html#links).

1591. “O Ser Diplomata: Reflexões anárquicas sobre uma indefinível condição profissional”, Brasília, 2 maio 2006, 3 p. Reflexões sobre a profissionalizção em relações internacionais, na vertente diplomacia. Palestra organizada pela Pacta Consultoria em Relações internacionais, em cooperação com o Instituto Camões, realizada na Embaixada de Portugal, em 4/05/2006. Disponível no site pessoal (link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1591serdiplomata.doc).

1563. “As relações internacionais como oportunidade profissional”, Brasília, 23 março 2006, 9 p. Respostas a algumas das questões mais colocadas pelos jovens que se voltam para as carreiras de relações internacionais. Contribuição a matéria da FSP, suplemento Folhateen, matéria “Os internacionalistas”, por Leandro Fortino (Folha de São Paulo, 27 março 2006, p. 6-8; divulgado no blog Diplomaticas, link: http://diplomaticas.blogspot.com/2006/03/303-os-novos-internacionalistas.html#links); divulgado em sua integralidade no boletim de relações internacionais Relnet e, em cinco partes, no blog Cousas Diplomáticas, do post 282 ao 286 (link inicial: http://diplomaticas.blogspot.com/2006/03/282-as-relaes-internacionais-como.html#links). Publicado no boletim Meridiano 47 - Boletim de Análise da Conjuntura em Relações Internacionais (Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, ISSN 1518-1219, nº 67, fevereiro 2006, p. 5-10); site (link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1563respostasjovens.doc).

1529. “O que faz um diplomata, exatamente?”, Brasília, 11 janeiro 2006, 4 p. Resposta a indagações efetuadas sobre a natureza do trabalho diplomático, como remissão a meu trabalho sobre as “dez regras modernas de diplomacia”; Blog nr. 153, link: http://paulomre.blogspot.com/2006/01/153-o-que-faz-um-diplomata-exatamente.html

1558. “Ser um bom internacionalista, nas condições atuais do Brasil, significa, antes de mais nada, ser um bom intérprete dos problemas do nosso próprio País”, Brasília, 8 março 2006, 6 p. Alocução de paraninfo na turma de formandos do 2º Semestre de 2005 do curso de Relações internacionais do Uniceub, Brasília (16 de março de 2006, 20hs, Memorial Juscelino Kubitschehk). Colocado à disposição no site pessoal (link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1558uniceub16mar2006.doc).

1507. “Por que leio tanto? e Meus ‘métodos’ de leitura...”, Brasília, 18 dezembro 2005, 3 p. Dois textos seqüenciais sobre leituras e métodos, para postagem no meu blog (http://paulomre.blogspot.com). Apresentação ao novo Blog “Textos PRA” (1 p.).

1492. “Postura diplomática”, Brasília, 8 e 12 novembro 2005, 2 p. Comentários a questão colocada pelo médico cardiologista de BH Eduardo Martins, a propósito de situações difíceis enfrentadas no trabalho diplomático.

1491. “O profissional de relações internacionais: visão de um diplomata”, Brasília, 10 novembro 2005, 10 slides. Apresentação em PowerPoint para apoiar palestra feita na Semana Acadêmica da UFRGS-2005 dos programas de graduação e de mestrado em Relações Internacionais da UFRGS (Auditório da Faculdade de Ciências Econômicas, Porto Alegre, 11/11/2005, 20h30; disponível neste link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1491UFRGS11Nov05.ppt; vídeo disponível neste link: http://www6.ufrgs.br/intrel/Videos/Paulo Roberto/pr_video_2.htm).

1481. “Recomendações Bibliográficas para o concurso do Itamaraty”, Brasília, 13 outubro 2005, 6 p. Indicações resumidas a partir do Guia de Estudos do Concurso de Admissão à Carreira Diplomática, versão 2005, para atender às demandas de candidatos à carreira diplomática. Circulada em listas de estudos internacionais.

1421. “Profissão Internacionalista”, Brasília, 19 abril 2005, 4 p. Entrevista concedida à jornalista Claudia Izique, da Facamp (Unicamp) para publicação especializada em orientação profissional. Postada de forma resumida no site da Facamp (www.facamp.br).

1416. “As relações internacionais do Brasil no atual contexto internacional e a formação dos novos internacionalistas”, Brasília, 5 abril 2005, 1 p. Roteiro de palestra no curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina – Tubarão, SC., dia 7 de Abril de 2005, 20hs, quinta-feira.

1403. “Conselhos de um contrarianista a jovens internacionalistas”, Brasília, 5 março 2005, 6 p. Alocução de patrono na XI turma (2º semestre de 2004) de Relações internacionais da Universidade Católica de Brasília (10 de março de 2005, 20hs, Auditório S. João Batista de La Salle). Mensagem de formatura incluída no site (http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1403Contrarianista.html).

1377. “História Mundial Contemporânea”, Brasília, 23 janeiro 2005, 6 p. Nota de revisão e comentários ao programa de preparação ao consurso à carreira diplomática, encaminhada ao Diretor do IRBr, Emb. Fernando Guimarães Reis.

1374. “Concurso de Admissão à Carreira Diplomática: Comentários ao Guia de Estudos”, Brasília, 20 janeiro 2005, 8 p. Comentários ao programa do concurso do IRBr, para atender solicitação do Diretor do IRBr, Emb. Fernando Guimarães Reis.

1230. “A evolução das espécies diplomáticas: exercício de quantificação (da série Macro e microeconomia da diplomacia)”, Brasília, 21 março 2004, 6 pp. Continuidade do exercício anterior (trabalhos nºs 1061 e 839, sobre questões gerais e de produtividade diplomática), enfocando o problema dos gêneros do diplomata. Para o livro Cousas Diplomáticas.

1180. “A formação e a carreira do diplomata: uma preparação de longo curso e uma vida nômade”, Brasília, 14 janeiro 2004, 3 pp. Reelaboração ampliada do trabalho 1151 para o jornal acadêmico da Faculdade de Direito da PUC-Campinas, por solicitação do aluno Marcio Vitorelli.

1155. “A formação do diplomata: uma preparação de longo curso”, Brasília, 13 dezembro 2003, 3 pp. Texto preparado para o Guia para a Formação de Profissionais do Comércio Exterior, das Edições Aduaneiras. Encaminhada igualmente para jornal do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito da PUC-Campinas, aos cuidados de Marcio Vitorelli. Publicado no site Feranet 21, item “Diplomacia”, Link: http://www.feranet21.com.br/profissoes/onde_tem_curso/perfil/perfil_diplomacia.htm.

1079. “Relações Internacionais: profissionalização e atividades”, Washington, 15 julho 2003, 6 pp. Respostas a questões colocadas por: Guilherme Freitas Araújo (Timóteo, MG) e Fernanda da Silva Gomes, para subsidiar Mostra Profissional sobre relações internacionais.

1061. “Macro e microeconomia aplicadas à diplomacia: a questão da produtividade diplomática”, Washington, 15 junho 2003, 3 pp. Continuidade do exercício anterior (trabalho nº 839), de fazer uma economia política da carreira diplomática, em tom semi-jocoso, enfocando questões de desempenho funcional e de comportamento pessoal do diplomata. Para o livro Cousas Diplomáticas.

1051. “Primeiro Emprego: depoimento pessoal e reflexões”, Washington: 22 maio 2003, 4 pp. Respostas a perguntas sobre formação e profissionalização, colocadas pela Editora Abril, para elaboração do Guia do Primeiro Emprego, enviadas à jornalista Maria Cláudia Zucare.

1016. “Um bem-vindo crescimento na oferta de relações internacionais”, Washington, 16 março 2003, 3 pp. Apresentação ao livro Política Internacional, Política Externa e Relações Internacionais (Curitiba: Editora Juruá, 2003; ISBN: 85-362-0486-9; pp. 9-11), Organizador: Leonardo Arquimimo de Carvalho. Relação de publicados n° 398.

915. “Profissionalização em relações internacionais: exigências e possibilidades”, Washington, 26 junho 2002, 6 p. Trecho retirado das “Leituras complementares”, do capítulo 11: “A diplomacia econômica brasileira no século XX: grandes linhas evolutivas” do livro Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (pp. 244-248). Para divulgação no website do Centro de Serviços de Carreiras do Curso de Relações internacionais da PUC-Minas; link: http://www.sociologia.pucminas.br/relint/servicos/carreiras.php.

885. “As relações internacionais do Brasil e a profissionalização da carreira”, Washington, 29 março 2002, 17 pp. Palestra proferida no UniCeub, em 2 de abril de 2002, e na Universidade Católica de Brasília, em 3 de abril, elaborada com base em partes do meu livro: Os primeiros anos do século XXI.

839. “Macro e microeconomia da diplomacia”, Washington 14 dezembro 2001, 3 pp.; série “Cousas Diplomáticas, nº 4. Artigo introdutório, semi-cômico, de “interpretação econômica” da política externa, cobrindo questões diversas da carreira e das atividades diplomáticas, vistas sob a ótica da economia política (continuidade no trabalho nº 1061). Publicado em Espaço Acadêmico (Maringá: UEM, Ano I, nº 8, janeiro de 2002; http://www.espacoacademico.com.br/008/08almeida.htm). Relação de de Publicados nº 299.

802. “Novas Regras da Moderna Diplomacia: memorandum dialecticus per usum moderatus”, Washington, 25 agosto 2001, 1 p. Projeto de livro constante de inéditos, textos existentes adaptados e novos escritos especialmente preparados.

800. “Dez Regras Modernas de Diplomacia”, Chicago, 22 julho; São Paulo-Miami-Washington 12 agosto 2001, 6 p; série “Cousas Diplomáticas” (nº 1). Ensaio breve sobre novas regras da diplomacia, com inspiração dada a partir do livro de Frederico Francisco de la Figanière: Quatro regras de diplomacia (Lisboa: Livraria Ferreira, 1881, 239 p.). Para desenvolvimento posterior em formato de longo ensaio. Publicado na revista eletrônica Espaço Acadêmico (Maringá: UEM, Ano I, nº 4, Setembro de 2001 - ISSN: 1519.6186, http://www.espacoacademico.com.br/04almeida.htm; Seção “Cousas Diplomáticas”).

704. “Nosso homem no Itamaraty”, Brasília, 18 agosto 1999, 2 pp. Elementos de informação sobre os “intelectuais” do Itamaraty, como subsídio a matéria de Paulo Moreira Leite, então na revista Veja. Não aproveitado no momento, em virtude da transferência de PML para Washington, para trabalhar no jornal Gazeta Mercantil.

702. “Profissionalização em relações internacionais: exigências e possibilidades”, Brasília, 16 agosto 1999, 5 pp. Reelaboração do trabalho 691, em forma de palestra, para inauguração dos cursos de relações internacionais da PUC-MG (em 25.08.99) e do CEUB-DF (em 26.08.99). Feito lançamento de livros na ocasião.

691. “Profissionalização em relações internacionais: uma discussão inicial”, Brasília, 12 junho 1999, 5 pp. Texto sobre formação e perspectivas profissionais do formando em relações internacionais. Publicado no periódico do curso de relações internacionais da PUC-SP, Observatório de Relações internacionais (São Paulo: PUC-SP, nº 1, outubro/dezembro 1999, pp. 10-13). Revisto e integrado como “leitura complementar” ao livro Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (SP: Paz e Terra, 2001).

Brasília, 27 dezembro 2006

668) U.S. 2007 Summer Institutes

From: "Galante, Vera V"
Date: 27 de dezembro de 2006 11h35min0s GMT-02:00
To: undisclosed-recipients
Subject: 2007 Summer Institutes

PLEASE DISTRIBUTE WIDELY
Dear all,
The Public Affairs Section of the U.S. Embassy in Brazil is pleased to announce another round of Study of the United States Summer Institutes. Please note that the deadline for application is February 9, 2007. For additional information, please contact:
Vera Galante
Cultural Affairs Specialist
Public Affairs Section – U.S. Embassy, Brazil
e-mail: GalanteVV@state.gov.
Tel: (61) 3312-7362
Fax: (61) 3321-2833

General Program Description
This message solicits candidate applications for six Summer Study of the United States Institutes for multinational groups of university faculty and other related scholars. Deadline for candidate applications to be received by the US Embassy in Brasília is February 9, 2007. A description of each individual institute can be below. Participants must be fluent in English.
Study of the United States Institutes are intensive post-graduate level academic programs with integrated study tours whose purpose is to provide foreign university faculty and other scholars the opportunity to deepen their understanding of American society, culture and institutions. The ultimate goal is to strengthen curricula and to improve the quality of teaching about the United States in academic institutions abroad.
The institutes will take place at various colleges and universities throughout the United States over the course of six weeks beginning in June 2007.

The Programs:
The Institute on American Civilization will provide a group of 18 people with a deeper understanding of U.S. society, culture, values and institutions. The program examines some of the critical historical epochs, movements, issues and conflicts that have influenced the development of the U.S. nation and its people and includes a strong contemporary component, particularly current political, social, and economic issues and debates. The complexity and heterogeneous nature of American society is highlighted as well as the institutions and values that have enabled the nation to accommodate that diversity.
Host Institution: to be determined

2. The Institute on American Politics and Political Thought will provide a group of 18 people with a deeper understanding of U.S. political institutions and major currents in American political thought. The institute provides an overview of the origins, development and current functioning of the American presidency, Congress and the federal judiciary. The institute also surveys important currents in the history of American political thought, including the Founding period, liberalism, republicanism, libertarianism, communitarianism, conservatism, neo-conservatism, etc.
Host Institution: University of Massachusetts, Amherst

3. The Institute on Contemporary American Literature will provide a group of 18 people a deeper understanding of recent American literature and criticism. Its purpose is twofold: first, to explore contemporary American writers and writing in a variety of genres; second, to suggest how the themes explored in those works reflect larger currents within contemporary American society and culture. The program explores the diversity of the American literary landscape, examining how major contemporary writers, schools and movements reflect the traditions of the American literary canon and, at the same time, represent a departure from that tradition, establishing new directions for American literature.
Host Institution: University of Louisville, Kentucky.

4. The Institute on Foreign Policy will provide a group of 18 people a deeper understanding of the domestic institutional foundations - political, social, economic and cultural - of U.S. foreign policy with particular attention to the post-Cold War era. Principal themes, critical policy debates, and contemporary issues in U.S. foreign policy will be examined in light of the history of U.S. international relations since World War II and in the larger framework of U.S. diplomatic history as a whole. The program will illuminate the relationships between U.S. policies and the political, social and economic forces in the United States that constitute the domestic institutional context in which such policies are formulated, debated, and executed.
Host Institution: University of South Carolina.

5. The Institute on Journalism and Media will provide a group of 18 journalism instructors and other related specialists with a deeper understanding of journalism's and the media's roles in U.S. society. It will examine major topics in journalism, including the concept of a "free press," First Amendment rights, and the media's relationship to the public interest. The legal and ethical questions posed by journalism will be incorporated into every aspect of the institute. The institute will cover strategies for teaching students of journalism the basics of the tradecraft: researching, reporting, writing, and editing. The program will also highlight technology's impact on journalism, addressing the influence of the Internet, the globalization of the news media, the growth of satellite television and radio networks, and other advances in media that are transforming the profession.
Host Institution: To be determined.

6. The Institute on Religious Pluralism will provide a group of 18 people with a more comprehensive understanding of U.S. society and culture, past and present, through an examination of religious pluralism in the United States. The program explores both the historical and contemporary relationship between church and state in the United States, exposes participants to the diversity of religious practices in the United States, and to tolerance of this diversity. Moreover, it examines the many ways that these different religious practices have influenced - and have been influenced by - the development of American democracy.
Host Institution: University of California, Santa Barbara.

Other Essential Program Information:
Program Funding: Through a grant to the host institutions, the US Department of State will cover all participant costs, including: program administration, domestic travel and ground transportation, book, cultural, mailing and incidental allowances, housing and subsistence.

B. Housing and Meal Arrangements: Typically, participants will have a private room with a shared bathroom during the residency portion (four weeks) of the institute, and will have to share a hotel room during the study tour (up to two weeks). Housing will typically be in college or university owned housing. Most meals will be provided at campus facilities, though participants may have access to a kitchen to cook some meals on their own. Full details will be provided once the grants have been approved. It is important that these arrangements be made clear to applicants and that they are comfortable with such housing arrangements, particularly sharing a hotel room with another participant for up to two weeks.

C. Health Insurance: All participants will receive the Department of State's coverage of $50,000 with a $25 deductible for the duration of the program. Pre-existing conditions are not covered.

D. Program Requirements and Restrictions: Participants are expected to participate fully in the program. They are expected to attend all lectures and organized activities, and complete assigned readings. Family members and/or friends cannot accompany participants on any part of the program. Please note that teaching methodology and pedagogical methods will not be addressed formally in the institute. Candidates should be aware that the institute is very intensive and that there will be little time for personal pursuits unrelated to the program. The institute should not be viewed as a research program. It is important that these requirements and restrictions be clear to all candidates before applications are submitted.

Candidate Description and Qualifications:
Candidates should be mid-career, highly-motivated and experienced professionals from institutions of higher education. While the educational level of participants will likely vary, most should have graduate degrees and have substantial knowledge of the thematic area of the Institute.

B. The ideal candidate will also be an experienced professional with little or no prior experience in the United States, whose home institution is seeking to introduce aspects of U.S. studies into its curricula, to develop new courses in the subject of the institute, to enhance and update existing courses on the United States, or to offer specialized seminars/workshops for professionals in U.S. studies areas related to the program theme. In this respect, while the applicant’s scholarly and professional credentials are an important consideration, an equally important factor is how participation in the institute will enhance course offerings in U.S. studies at the applicant’s home institution.

C. Candidates should be willing and able to fully take part in an intensive post-graduate level academic program and study tour. While senior faculty members are eligible applicants, the US Department of State will give first consideration to professionals who are likely to be comfortable with campus life and an active program schedule.

Other Factors for Consideration:
As a general rule, the US Department of State will not select more than one participant per country, per institute. Please be advised that the Study of the United States Institutes are highly competitive.

The following factors will be used in selecting: participants from among the nominations.
The clarity with which applicants address each of these factors strongly affects a candidate's chance of selection.

Justification: The justification statement is a critical portion of the application, as it offers the opportunity to provide specific reasons why the participation is particularly desirable in terms of enhancing the study of the United States at the home institution, or more broadly, in the home country. In the post/commission view, for example, would the nomination serve to strengthen an already established faculty, or is it intended to give a boost to a fledgling program? Is the applicant a leader within his or her field who is in a unique position to have a significant and immediate impact on curricular development, or is the applicant a younger professional with exceptional promise whose participation is likely to result in a substantial benefit to their home institution in the long run? Applicants are strongly encouraged to describe the role that their home institution plays. The justification statement need not be especially lengthy, but it should address these and other relevant issues noted in below.

Personal Statement: In order to get a better sense of potential participants' motivations and goals, the Department of State requests that each applicant provide a short personal statement (one page) indicating why he or she is interested in participating in the program and what he or she expects to get out of the experience.

English Language Ability: It is imperative that all candidates demonstrate English language fluency. Institutes are rigorous and demanding programs; participants will be expected to handle substantial reading assignments in English and to be full and active participants in all seminar and panel discussions. English fluency is vital to a successful experience in the Institute, both for your participant and participants from other countries.

Priority Consideration: Priority will be given to candidates who have firm plans to enhance, update or develop courses and/or educational materials with a U.S. studies focus or component, who have limited experience in the United States, and who have special interest in the program subject areas as demonstrated through past scholarship, accomplishments, and professional duties. In addition, the US Department of State makes every effort to have both a geographic and gender balance in the makeup of the participants in the Institute.

APPLICATION FORMAT:
Please submit applications by email by Friday, February 9, 2007 to galantevv@state.gov.

Applications must follow the format below. It is essential that items A-F are included and completely accurate.
A. Applicant’s full name, exactly as it appears on his/her passport. Clearly identify first, middle and surnames as they appear on passport.
B. Date of Birth (please spell out Month, Day, Year)
C. City of Birth
D. Country of Birth
E. Country of Residence
F. Country(ies) of Citizenship
G. Home Address, Telephone and E-mail
H. Gender
I. Medical, Physical, Dietary or other Personal Considerations: Please state any existing medical conditions or if you are currently taking any prescription medication. This will not affect selection, but will enable the host institution to make any necessary accommodations.
J. Current Position and Title
K. Current Institutional Affiliation and complete address
L. Work Experience, including previous positions and titles
M. Education, Academic and Professional Training, including degree earned and fields of specialization
N. Active Professional Memberships
O. Publications (please do not list any more than 10)
P. Previous Experience in the United States: Please list any and all trips to the United States and include approximate dates and the reason for travel.
Q. Family Residing in the United States: Please list any immediate family members who are currently residing in the United States, including city and state.
R. Evidence of English Fluency (e.g. personal interview, test score, etc.)
S. Statement justifying participation of nominee in the Institute: (please see above) (1) Current or projected extent of the U.S. Studies content of the course(s) and materials being taught or developed by the candidate; (2) Likely relevance of the program to the professional responsibilities of the candidate; (3) The potential impact of the candidate's participation on a greater understanding of American society and/or culture at his/her come institution (in terms of enhanced teaching and curricula, etc.);
T. Personal Statement (no more than one page) (see above)

Vera Galante
Assessora Cultural - Cultural Affairs Specialist
Seção de Imprensa, Educação e Cultura - Public Affairs Section
Embaixada dos Estados Unidos
Tel. (61) 3312-7362
Fax: (61) 3321-2833
E-mail GalanteVV@State.Gov

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

667) Um autodidata na carreira diplomática

Respostas a questões colocadas por jovem candidato à carreira diplomática.

Frequentemente sou indagado por jovens candidatos à carreira diplomática sobre métodos de estudo, sobre indicações de leitura, sobre questões tópicas que têm a ver com deficiências localizadas de um ou outro aspirante e, de modo mais geral, sobre dicas para o sucesso nos exames de entrada. Em alguns casos, as questões se voltam para aspectos pessoais do meu ingresso nessa carreira, como é o caso das questões transcritas abaixo.
Como considero que minhas respostas podem vir a interessar mais de um desses jovens pretendentes à carreira diplomática – e para evitar duplicações ou repetições em respostas de caráter individual – sou levado a elaborar algumas respostas mais estruturadas e disponibilizá-las, de modo mais amplo, em um dos meus veículos de comunicação (site pessoal, ou um dos blogs que mantenho, com propósitos diversos). Será também o caso agora, como evidenciado a seguir.

1) Qual foi o motivo pelo qual o senhor ingressou no mundo da diplomacia e como foi sua trajetória até chegar lá, cursando a faculdade de ciências sociais?
Considero que apenas pessoas muito motivadas ingressam atualmente na diplomacia. No passado poderia haver, eventualmente, um ou outro caso de puro diletantismo, de busca de algum “dolce-far-niente” nas melhores capitais européias, de desejo de ocupar-se de literatura ou artes, ou simplesmente de viver “le grand monde” sem preocupações outras que não algum expediente rápido em dias alternados, com muitas recepções e “punhos de renda” a ocupar o seu tempo. Tudo isso, obviamente, é folclore, mas não é fácil desmantelar estereótipos. A realidade mais prosaica é feita de muito trabalho e de uma participação intensa e foros negociadores nos mais diversos formatos (bilateral, regional, multilateral), com uma enorme diversidade de temas a serem tratados, sucessiva ou simultaneamente.
Como a maior parte dos meus colegas, ingressei na diplomacia com uma forte motivação para conhcer, discutir e tratar de questões internacionais em conexão com os interesses nacionais do Brasil, ou seja, participando, de alguma forma, de processos decisórios que influenciam, de um modo ou de outro, os rumos não apenas externos, mas também internos que afetam o processo de desenvolvimento econômico e social do Brasil. Com poucas exceções – geralmente ligadas a fatores psicológicos que redundam numa opção pela diplomacia a partir de motivações de ordem essencialmente interna, ligadas a estilo de vida, desejo de viver no exterior pelo exterior e outros elementos do gênero – acredito que a maior parte dos meus colegas também ostente essa motivação de caráter funcional ou instrumental, qual seja, a busca de um trabalho que redunde numa expressão mais forte do Brasil enquanto nação no sistema internacional e a vontade pessoal de participar da construção de uma nova realidade no plano mundial.
São, de modo geral, motivações de ordem basicamente idealista, no melhor sentido da palavra: o interesse pelas questões internacionais (advindas de leituras, conhecimento de línguas, de contato com estrangeiros, de eventual estada prévia no exterior) combina-se a uma vocação de certo modo “nômade” ou fortemente “internacionalizada”, o que leva o jovem a orientar-se para a carreira diplomática. Essa orientação é geralmente despertada muito cedo, já na adolescência ou em seu final, contemporaneamente aos estudos universitários, fazendo com que a preparação para os exames de ingresso se dê em paralelo aos semestres finais dos estudos de graduação.
O ambiente geral da diplomacia é um pouco o das humanidades e das ciências sociais aplicadas, que constituem de forma preeminente o foco universitário de origem da maior parte dos candidatos à carreira. Eu ingressei em ciências sociais – na USP, em 1969 – pensando bem mais na transformação política e econômica do Brasil, enquanto nação, do que na defesa dos seus interesses enquanto Estado membro da ONU e ativo participante do sistema de relações internacionais. Uma estada no exterior, para o acabamento dos estudos universitários, facilitou, provavelmente, essa conversão de assuntos “internos” para “externos”, a partir de um certo momento, mas considero que nem os estudos de ciências sociais, nem a estada no exterior sejam indispensáveis para moldar vocações ou determinar o sucesso nos exames de entrada.
O ingresso na carreira depende de uma sólida cultura geral, de excelente conhecimento do Português, em primeiro lugar, e de uma outra língua também, de muito boa preparação nos demais temas setoriais – economia, direito, geografia, história – o que pode ser suprindo por intensas leituras da bibliografia recomendada (e mais além). Acredito que leituras de jornais internacionais sejam indispensáveis, assim como de revistas especializadas em temas nos quais incide o foco dos exames de entrada. Tudo isso pode ser suprido de forma bem mais fácil, atualmente, com o recurso intensivo dos materiais disponíveis na internet, algo inexistente no meu tempo de preparação. A seleção continua difícil, mas as possibilidade de acesso a materiais relevantes para o estudo ampliaram-se tremendamente em relação ao passado.

2) Seu tempo de estudante secundárista o influenciou de alguma maneira?
Provavelmente sim, mas isso depende muito das circunstância de vida de cada um e dos interesses intelectuais de cada candidato. Em função da trajetória política do Brasil em minha juventude – golpe militar em 1964, alinhamento da diplomacia com os EUA numa primeira fase, ambiente de Guerra Fria no cenário internacional –, a orientação para o estudos de problemas internacionais foi praticamente automática, tanto porque a América Latina em geral era agitada por golpes militares e por guerrilhas de orientação castrista, com experimentos diversos de nacionalismo ou de socialização em alguns dos países do continente. Os secundaristas e os universitários de minha época protestavam não apenas contra a ditadura militar, mas também contra o imperialismo americano, a dominação estrangeira na economia e tudo aquilo que nos parecia subordinação do Brasil ao capitalismo multinacional. Estávamos constantemente estudando as questões nacionais e internacionais que tivesse conexão com a situação do Brasil e tomando partido por uma ou outra orientação econômica, política ou ideológica – comunismo de tipo soviético ou chinês, guerrilhas de inspiração guevarista, nacionalização e planejamento de tipo socialista ou indiano, não-alinhamento etc. Tudo isso foi relevante para o que se chamava de “conscientização”, ou seja, a politização segundo linhas geralmente esquerdistas, ou mesmo totalmente comprometidas com soluções socialistas ou comunistas para o sistema a ser adotado no Brasil após a vitória da “revolução”.
Mesmo com as inevitáveis revisões posteriores de orientação político-econômica, toda a preparação alcançada nos debates de juventude – com intensa leitura dos “clássicos” brasileiros de interpretação de nossa trajetória nacional – foi extremamente funcional para os exames de ingresso na carreira diplomática, uma vez que a bibliografia recomendada recobre, de certa forma, a literatura já compulsada anteriormente. Todos nós (quase todos), jovens secundaristas ou universitários, líamos Celso Furtado, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, com menor ênfase em autores considerados “reacionários” como Gilberto Freyre, José Maria Bello ou Hélio Vianna. Os livros esquerdistas eram lidos aberta ou clandestinamente, ademais de Marx, Engels e todos os clássicos do socialismo, obviamente. Em suma, já éramos “internacionalizados” muito tempo antes de pensar em ingressar na carreira diplomática.

3) Numa palestra o senhor comenta sobre o mercado de trabalho nesse ramo e coloca muita ênfase em ser um autodidata por inteiro; isso de ser um autodidata, o senhor emprega em sua vida desde os tempos do colegial?
Certamente, sempre fui autodidata, e considero, para qualquer jovem, motivado ou não para a carreira diplomática, ser esta uma atitude fundamental para o sucesso nos estudos e em qualquer profissão. Ser autodidata significa, antes de mais nada, não se contentar e não esperar pelas leituras orientadas em sala de aula, e buscar ativamente não apenas estar à frente dos demais colegas, mas em alguns casos à frente mesmo do próprio professor, contestando em aula algum aspecto que já foi objeto de leitura paralela. Ser autoditata significa construir o seu próprio conhecimento, aprofundá-lo pela pesquisa auto-induzida, conhecer sempre um pouco mais do que é demandado nos exames de rotina, do sistema escolar ou universitário.
Ser autodidata, numa palavra, significa ser livre, totalmente autônomo em relação ao conteúdo veiculado em classe, dotado de sua própria capacidade analítica e de julgamento, capaz de opiniões abalizadas e fundamentadas sobre uma grande variedade de assuntos. Ser informado é ser livre, e o autodidata alcança essa condição à frente e acima dos seus colegas, o que de certa forma é um privilégio e uma grande satisfação.
Praticamente, desde o colegial – ensino médio, na atual terminologia –, tornei-me um autodidata radical, isto é, completamente independente dos ensinamentos veiculados em sala de aula, e muitas vezes ausente da própria sala de aula. Não recomendaria essa atitude para os alunos em geral, mas recomendo, sim, ser autodidata, ou seja, cultivar o que eu chamo de “ceticismo sadio” em relação ao conteúdo das aulas e buscar complementar aquela informação mediante pesquisas próprias e leituras paralelas.
O conhecimento liberta, e ser autodidata, repito, é ser livre. Não pode haver melhor aspiração na vida do que esta.


Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
1701: Brasília, 26 dezembro 2006, 2 p.

domingo, 24 de dezembro de 2006

666) Uma lagrima para Braguinha

Músico Braguinha morre, aos 99 anos, no Rio

Morreu neste domingo, 24 de dezembro de 2006, ao meio-dia, o compositor Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, aos 99 anos, de infecção generalizada. Segundo a assessoria de imprensa do hospital Pró-Cardíaco, zona sul do Rio, o músico foi internado no sábado à noite, após passar mal com alta taxa de glicose.

O hospital irá divulgar um boletim médico nesta tarde com mais detalhes sobre a morte de Braguinha. Braguinha deixa uma filha, três netos e pelo menos seis bisnetos.

Nascido no Rio de Janeiro em 29 de março de 1907, Braguinha compôs sucessos como Carinhoso (1937, com Pixinguinha), Sonhos Azuis (1936, com Alberto Ribeiro), Chiquita Bacana, Balancê, Touradas de Madrid e Pastorinhas, entre outros.

Um de seus maiores sucessos internacionais foi Copacabana, composto em 1944 e gravado por Dick Farney, em 1946, com orquestração de Radamés Gnattali.

Na gravadora continental, ex-Colúmbia, durante muitos anos foi diretor-artístico, contribuindo para a projeção de inúmeros artistas, época em que também lançou, no selo Disquinho, uma coleção de mais de 70 histórias infantis, que adaptava, criava e musicava.

Em 1984, na inauguração do Sambódromo, foi homenageado no desfile da Mangueira, com o enredo Yes, nós temos Braguinha, dando o tíulo à escola verde e rosa. Sua musicografia completa, inclusive com versões e músicas infantis, passa dos 420 títulos, uma das maiores e de mais sucessos de nossa música popular. Seu parceiro mais constante foi Alberto Ribeiro (1902-1971).

Braguinha participou como roteirista e assistente de direção em filmes da Cinédia. Juntamente com Alberto Ribeiro, escreveu composições para a trilha sonora de filmes como Alô, Alô, Brasil e Estudantes, cuja personagem principal foi estrelada por Carmem Miranda.

Em 1938, foi um dos responsáveis pela dublagem brasileira de Branca de Neve e os Sete Anões, da Walt Disney. Também participou das versões brasileiras de Pinóquio (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942), entre outros.

Confira a seguir a discografia do músico:

* Pra vancê/Coisas da roça (1929)
* Desengano/Assombração (1929)
* Salada (1929)
* Não quero amor nem carinho (1930)
* Dona Antonha (1930)
* Minha cabrocha/A mulher e a carroça (1930)
* Quebranto (1930)
* Mulata (1931)
* Cor de prata/Nega (1931)
* Tu juraste¿ eu jurei/Vou à Penha rasgado (1931)
* Samba da boa vontade/Picilone (1931)
* O amor é um bichinho/Lua cheia (1932)
* João de Barro (1972)
* Viva Braguinha (1985)
* João de Barro e Coisas Nossas (1983)
* Yes, nós temos Braguinha (1998)
* João de Barro (Braguinha)? ¿ Nasce um compositor (1999)
* João de Barro - A música do século, por seus autores e intérpretes (2000)

Veja a seguir as marchinhas de Carnaval do músico:

* Uma andorinha não faz verão (1931)
* Moreninha da praia (1933)
* Linda lourinha (1934)
* Deixa a lua sossegada (1935)
* Linda Mimi (1935)
* Pirata (1936)
* Cadê Mimi (1936)
* Cantores do rádio (1936)
* Balancê (1937)
* Touradas em Madri (1938)
* Pastorinhas (1938)
* Yes, nós temos bananas (1938)
* Pirulito (1939)
* Pirata da perna de pau (1947)
* Anda Luzia (1947)
* A mulata é a tal (1948)
* Tem gato na tuba (1948)
* Chiquita bacana (1949)
* Tem marujo no samba (1949)
* Lancha nova (1950)
* Vai com jeito (1957)
* Corre, corre, lambretinha (1958)

sábado, 23 de dezembro de 2006

665) Uma declaracao presidencial de final de ano

Mensagem presidencial de final de ano


Meus caros brasileiros, companheiras e companheiros,

Estamos chegando ao final de um ano glorioso, um ano no qual todos vocês puderam se expressar livre e democraticamente nas urnas, consagrando escolhas que cada um de vocês julgou serem as melhores para o país e para este seu povo lutador e esperançoso.
Eu estou muito grato a todos vocês por terem sabido reconhecer meu esforço em prol da melhoria da vida diária dos brasileiros, em especial dos mais humildes e sofredores. Minha luta sempre foi pelo restabelecimento da dignidade dos brasileiros e brasileiras, para que cada um tivesse o seu trabalho digno reconhecido, o seu prato de comida, uma boa educação para os filhos e a certeza de ter segurança não só no lar, mas nas ruas também.

Passado o período eleitoral, quando todos os políticos prometem um pouco mais do que podem cumprir, acho que chegou a hora de eu falar sinceramente com vocês, chegou a hora de eu olhar no olho de cada um de vocês e dizer: não podemos mais continuar do jeito que estamos. Este país merece ser reconstruído, em suas bases. Ele precisa disto, e nós vamos fazer isto, com a ajuda de todos.

Não adianta mais o presidente vir aqui prestar contas todo fim de ano e prometer todas aquelas coisas que vocês sabem que dificilmente serão cumpridas se não reformarmos o país de baixo para cima, se não empreendermos uma gigantesca tarefa de recomposição das forças morais da Nação, se não soubermos que chegou a hora de enfrentar a realidade como ela é, não como gostaríamos que ela fosse.
E a verdade, meus caros cidadãos, é simplesmente esta: o Brasil esgotou o seu modelo de desenvolvimento. Não podemos e não queremos mais continuar crescendo tão pouco, tendo tão poucos empregos bem remunerados, tantas dificuldades nas escolas, hospitais, nas estradas.
Não adianta, por exemplo, eu dizer para vocês: agora, nós estamos prontos para crescer a 5% ao ano, que vamos colocar o Brasil no pelotão de vanguarda dos países desenvolvidos e mais importantes do mundo, se a gente não reconhecer que os principais obstáculos estão aqui mesmo, dentro da nossa casa. É sobre isso que eu quero falar a vocês.

Quero, antes de mais nada, dizer a vocês que a responsabilidade por essas medíocres taxas de crescimento que assistimos há mais de vinte anos não está com vocês, trabalhadores sofridos deste nosso Brasil. Ela está conosco: nós, os políticos e empresários, sindicalistas e funcionários públicos de alto escalão, nós somos a elite que sempre governou o país, da Independência até hoje. Como vocês vêem, eu também mei incluo no rol dos responsáveis. Estou falando como dirigente, e como responsável máximo por este país, e não pretendo fugir a essa responsabilidade.

Pois bem, meus caros brasileiros e brasileiras, chegou a hora de dizer a verdade.
Desejo, acima de tudo, assumir humildemente a minha parte de responsabilidade por esta situação difícil que estamos vivendo: o baixo crescimento, os buracos nas estradas, o caos nos aeroportos, as filas nos hospitais, a má qualidade da educação nas escolas públicas, o desemprego e os baixos salários, tudo isso, não é só culpa do governo, mas o governo leva a maior parte de responsabilidade, pois que cabe a ele velar para que isso não aconteça. Vocês me elegeram para isso mesmo e quero assumir plenamente minha responsabilidade pela situação.
Justamente, com a experiência do primeiro mandato, agora eu consigo medir de forma mais exata o peso da responsabilidade do Estado na situação de vida de cada um dos brasileiros. Não adianta culpar as elites dos últimos 500 anos pela situação presente, se nós mesmos, a elite do presente, não assumirmos o encargo de corrigir a situação. E a elite somos nós, que estamos à frente do Estado, que somos responsáveis pelo governo.

Minha experiência me indica que precisamos corrigir graves distorções no funcionamento do Estado, sem o que não teremos crescimento, nem de 5, nem de 4, nem de 3%, e continuaremos a percorrer a trilha da amargura e da desesperança.
Eu quero mudar isto e vocês vão me ajudar. Eis aqui o que eu penso que deveria ser feito.

O Brasil precisa de uma reforma política, mas de uma verdadeira, não aquela que só acrescenta alguns remendos na legislação eleitoral ou na representação partidária.
O fato é, meus caros cidadãos, que o Brasil criou uma classe política que se tornou dona do Estado, dona do país, que se julga acima dos demais brasileiros, cidadãos comuns, e que passa a maior parte do tempo tentando redistribuir o dinheiro de todos para suas causas particulares. O Brasil possui um Legislativo muito grande e sobretudo muito caro, em todos os níveis, do mais humilde município ao Congresso Nacional.
Por isso eu proponho, em primeiro lugar, que a gente reduza o peso do Estado, de todo o Estado, na vida dos cidadãos. O Brasil não precisa de tantos parlamentares, de tantos funcionários dos legislativos, o Brasil, sobretudo, não pode suportar mais os gastos incomensuráveis que esses estados dentro do Estado acarretam no bolso de cada um de vocês. O número de parlamentares e o número de funcionários dos legislativos devem ser diminuídos, assim como devem ser reduzidas as despesas inaceitáveis que eles trazem para os cofres públicos.
Proponho que os funcionários remanescentes sejam remanejados, dentro do Estado, para as áreas mais carentes: educação, saúde pública, atendimento aos idosos, serviços básicos.

Essa reforma política deve compreender, também, os Executivos, que cresceram de modo caótico nos últimos anos, acumulando cada vez mais despesas continuadas. Não é possível, por exemplo, que um governador que serviu ao povo do seu estado por um ou dois mandatos se julgue merecedor de uma aposentadoria permanente, de funcionários à disposição, de regalias que não são dadas a nenhum outro funcionário público. E a reforma política e administrativa deve atingir também o Judiciário. Não é possível que um juiz no início de carreira ganhe quase tanto quanto um de final de carreira, e não é possível que os processos se acumulem por causa de uma legislação de processos caduca e ineficiente, feita para premiar alguns advogados espertos, em detrimento da verdadeira justiça, que deveria estar ao alcance de todo cidadão.

O Brasil precisa, em segundo lugar, de uma verdadeira reforma tributária, já que nos últimos vinte anos a carga fiscal só fez crescer no Brasil, diminuindo a poupança privada e as possibilidades de investimento de empresários e de simples cidadãos desejosos de se lançar em alguma atividade produtiva. Sei que os estados, os governadores, desconfiam de mais uma reforma tributária centralizadora. Eles gostariam de avançar sobre algumas das contribuições hoje sob responsabilidade da União, justamente porque a Constituição criou tantos encargos novos, sobretudo na área previdenciária e assistencial, que o governo federal só pode atender taxando ainda mais os cidadãos. Por isso, eu proponho que todos nós, do governo federal e dos governos estaduais, nos concertemos não na criação de novos impostos, mas na redução dos existentes. Isto pela simples razão de que essa diminuição vai trazer mais crescimento e maior arrecadação.
Não vou apresentar aqui e agora os contornos dessa reforma tributária absolutamente indispensável se quisermos retomar o processo de crescimento, já que cheguei à conclusão de que ele só não vem por causa da excessiva carga tributária. Apresento apenas os princípios, e eles têm de ser os da redução da carga total, a exoneração dos lucros das empresas e a redução dos encargos sobre a folha salarial. Apenas dessa maneira vamos conseguir retomar o crescimento e a criação de empregos.

O Brasil precisa, em terceiro e mais importante lugar, não de uma simples reforma, mas de uma verdadeira revolução educacional, uma mudança completa nas nossas prioridades de ensino, que devem passar a ser o básico e o técnico-profissional, não apenas o ciclo superior, este sempre beneficiado com maiores verbas e atenções federais. O futuro está nas nossas crianças e jovens, e são eles que devem receber os cuidados prioritários, junto com os professores dos ciclos fundamental e médio. Mais do que computadores, precisamos, simplesmente, de professores bem treinados e motivados, animados da sagrada missão de ensinar o que é básico, elementar, que é o domínio da língua, as matemáticas elementares, os fundamentos das ciências exatas e naturais.
Gostaria de determinar uma profunda reforma nos currículos e na gestão das escolas públicas, no sentido de fazer do professor e do seu aluno do fundamental e do médio o centro das nossas atenções pelos próximos vinte anos, pelo menos. Isto é absolutamente indispensável se desejarmos competir na economia global, se quisermos ter uma melhor distribuição de renda, se quisermos construir uma nação solidária e includente.

O Brasil também precisa de uma profunda reforma trabalhista e de uma grande reforma sindical. Que me perdõem os meus amigos sindicalistas, companheiros de antigas lutas, mas eu reconheço agora que eles estão mais interessados em preservar os empregos dos seus associados do que em promover o emprego dos atualmente excluídos. Minha responsabilidade principal está em criar novos empregos e em permitir que as empresas tenham flexibilidade suficiente para adaptar sua mão-de-obra aos novos requerimentos da globalização. Aprendi que uma legislação ultraprotetora, como esta que temos atualmente, produz, na verdade, mais desemprego do que ela oferece novas oportunidades de ocupação remunerada.
Por isso, eu acho que precisamos passar uma enorme borracha na nossa legislação laboral e criar as condições para incorporar no mercado de trabalho os milhões de brasileiros e brasileiras hoje excluídos. Essa reforma passa também pelo salário mínimo e pelas garantias tradicionais. A melhor garantia de altas taxas de ocupação é o treinamento constante da mão-de-obra, a flexibilidade laboral, a adaptação da legislação aos requisitos de uma economia moderna, baseada no conhecimento. Essa visão já foi testada ao redor do mundo, e ganhou de todos aqueles modelos baseados na rigidez do mercado de trabalho, que só produzem alto desemprego e, com ele, a exclusão e a desesperança.

O Brasil precisa, em especial, de uma nova noção de país, de uma nova visão de Nação, de uma concepção do mundo que deixe de ter no Estado a peça central da organização política, econômica e social, e que passe, ao contrário, a ter nas forças vivas da Nação a sua própria base de organização. O Brasil é hoje um país enredado, amarrado numa selva inacreditável de leis, regulamentos, decretos, portarias, normas que se contradizem umas às outras, e que terminam por manietar o espírito empreendedor e a capacidade de iniciativa de milhões de brasileiros. Vamos mudar isso, vamos desregular, privatizar o que for necessário, descentralizar aquilo que não precisa estar na esfera federal, vamos devolver à comunidade, ao povo, sua capacidade de criar, empreender, inovar.

Meus caros brasileiros e brasileiras,
Quero transmitir a cada um de vocês minha certeza de que podemos, sim, se nos unirmos, construir um país melhor. As reformas que eu apontei me parecem condição incontornável para que possamos seguir um caminho diferente daquele que foi seguido até aqui, que só trouxe mais do mesmo. Queremos e precisamos romper com a mesmice do que vem sendo feito até aqui. Eu quero impulsionar uma nova arrancada deste país em direção a um futuro melhor. Para isso, precisamos nos unir em torno dessas grandes reformas. Se não o fizermos, estaremos legando a nossos filhos e netos um país inviabilizado pelo baixo crescimento, corroído pelas altas taxas de desemprego, diminuído em suas possibilidades de desenvolvimento econômico e social, abatido pela corrupção trazida por uma imensa máquina pública, desesperançado pelos crimes, pela baixa educação, pela deterioração da nossa infra-estrutura, marcado ainda e sempre pela desigualdade social e pelos desequilíbrios regionais.
Eu quero um país que seja forte economicamente, rico espiritualmente, justo socialmente, um país do qual nós possamos todos nos orgulhar. Para isso, precisamos nos dar as mãos e atacar os problemas de frente. Não adianta mais empurrar com a barrriga a solução desses problemas, transferir essa responsabilidade a uma outra geração. A hora é aqui e agora. Vamos fazer!

Desejo um excelente final de ano a todos vocês e um ótimo ano novo, com muita paz, serenidade e renovadas esperanças na nossa capacidade de reconstruir o Brasil.
Bom ano a todos vocês. Muito obrigado.


Pela sugestão de texto:
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de dezembro de 2006.
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

664) Uma premiacao preventiva...

Alguem já ouviu falar de mérito prévio?

Pois é, eu não sabia que alguém devesse ser premiado antes mesmo de qualquer avaliação. É, em todo o caso, o que me ocorreu a partir de uma iniciativa do grupo que tive a insana idéia de coordenar, que se chama Diplomatizando (este mesmo), e que se dedica, tão simplesmente a intercambiar informacoes e comentários sobre temas variados, com especial atenção aos de relações internacionais e de economia.
Abaixo figura a “sentença”, proclamada por um “juiz” do grupo -- o colega jornalista João Luiz Neves, de Curitiba --, e que me “condena” a receber um prêmio, no caso um livro, a ser oferecido pelos colegas voluntariamente participantes no empreendimento, que originariamente tinha sido proposto como concurso, ou maratona, de escrita.
Os colegas reconheceram, preventivamente, e eu diria também indevidamente, que eu merecia o prêmio mesmo antes de conquistá-lo por meu próprio mérito ou esforço especial. Seria, digamos assim, uma premiação pela obra acumulada, o que certamente muito me lisonjeia.
Estou em desconformidade com a solução encontrada, pois sou contrário a toda e qualquer distinção que não tenha sido aferida de forma independente, mas parece que não posso lutar contra a iniciativa dos colegas, que se declararam de acordo.
O que me resta a fazer, portanto, é acatar o resultado e declarar, de pronto, meu sentimento de imensa satisfação, dizer que fiquei muito sensibilizado pelo gesto e que recebo esta manifestação com muito carinho e reconhecimento.
Ao registrar a “sentença”, quero deixar claro que não concordo com tudo o que está escrito na “sentença”. Eu me considero um indivíduo não excepcional, mas esforçado, que vê na leitura e na escrita – ambos intimamente correlacionados – e na sua transmissão didática aos mais jovens os motivos centrais de sua existência e atividade. Sempre tive gosto pelo papel (hoje tela de computador, em grande medida) e pala palavra escrita, e acho que continuarei assim pelo futuro indefinido. Faço do conhecimento e de sua disseminação motivos centrais de minha vida e acho que deveria ser assim com todo mundo.
Por isso, fico extremamente sensibilizado pelo gesto dos colegas e amigos, o que muito contribui para que eu persista na via adaotada.
A todos e a todas, o meu carinho e reconhecimento pelo gesto efetuado. Minha gratidão, de verdade, e a promessa de fazer mais e melhor em 2007.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22 de dezembro de 2006

SENTENÇA
>
> Em termos de volume de leitura e escrita, talvez PRA só perdesse para o lendário colega José Guilherme Merquior. Ou para o autor da Comédia Humana. Este Juízo considera JGM superior a Roberto Campos na comparação entre as respectivas eleições estéticas de ambos.
> Então, dada a dedicação absoluta de PRA aos sabores dos saberes, o prêmio vai, por juízo apriorístico sintético, para o criador do Grupo Diplomatizando.
> Caberá à Regina, na qualidade de agente fiduciário, a escolha, compra e envio do título do livro a ser outorgado ao ganhador.
> A cotização simbólica e de caráter puramente afetivo realizada em época natalina do valor da obra será feita entre a Regina, Enge, Uzi, RAS, JL e o primeiro voluntário que se manifestar e não poderá exceder R$ 15,00 (quinze reais) cada. Em email dirigido individualmente a cada um dos cotistas, informar-se-á a conta para depósito. Banco de donos e capital brasileiros, exclusivamente. Caso um ou mais cotista decline da contribuição, ou não haja apresentação de voluntário, o rateio será feito pelo valor máximo (6x R$15,00 = R$ 90,00) entre os cotistas restantes.
> Cinco títulos de obras serão dispostos e votados entre todos os participantes do Grupo. PRA não terá direito à escolha e sofrerá em silêncio com o resultado da votação. Tampouco poderá declinar da premiação e suspeitar dos critérios apriorísticos do julgamento, obviamente. Uma vez colocada a lista ao Grupo, ele terá 24 horas para solicitar a mudança de algum título que conste na lista e que eventualmente já possua. As obras serão de autores nacionais e editadas no Brasil por editoras brasileiras.
> O livro deverá chegar às mãos do agraciado até o Dia de Reis. A votação encerra-se às 24h do dia 31 de dezembro de 2006.
> Cumpra-se.
>
> JL

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

663) O dom: uma alegoria economico-natalina...

Acton Commentary "bringing moral reflection to bear upon current issues"
December 20, 2006

The Gift
by Rev. Robert A. Sirico, Acton President

What is a gift? It is something provided to another without expecting or demanding anything in return. It is not an exchange, at least not intentionally. It is a pure provision from you to someone else. In that sense, it is always a sacrifice. We might gain from giving -- winning affection, appreciation, good favor -- but we must not expect this. It is a byproduct, an after-effect, and unintended result.

We give gifts at Christmas to continue a tradition followed by the Magi from the East who followed the star to find the Christ who was born King of the Jews. They presented him with gold, frankincense, and myrrh, but these are only the gifts mentioned in the Bible. There may have been more.

Why did they do this? To honor and adore the Christ. It was pure sacrifice and especially meritorious for being so. Their sacrifice, their gift, foreshadows the sacrifice on the Cross and the gift of salvation.

The idea of the gift is that it is something special, identifiable, and unique. It is different from what we do in daily life on a regular basis. Most of what we do in life consists of exchanges based on mutual advantage. When we shop, we know the terms of trade, a specified amount of money in exchange for a good or service. When we work, we received wages. When we study in school, we hope to obtain a degree.

There is nothing inherently selfish or greedy about exchanges. They reflect our desire to cooperate with others in a way that causes everyone to be made better off. Exchange is the basis of prosperity. It permits everyone to gain wealth together, and not at each other's expense.

To celebrate the gift as an institution, then, is not to disparage the moral status of exchanges. Human relations are not debased merely because money is involved. Money is simply a proxy for goods and services. It is a tool that permits us to come to terms in a more efficient way. The problem arises only when the tool (the means) is seen as the end.

Indeed, in one sense we might say that exchange is a necessary precondition to the gift. How did the wise men obtain their gifts? They probably purchased them from a merchant. And how did the merchant obtain them? Probably from a small manufacturer who produced them from raw materials. And where did the raw materials come from? They were obtained via the use of other resources.

An exchange nexus exists before the gift, then as now. And that exchange nexus, by enhancing the wealth available to us, makes more gift-giving possible.

My lesson: While it is possible to distinguish giving from exchanging, it is a mistake to set these two types of human engagement against each other. Exchanging makes giving possible and more bountiful. Without exchange, without private property and a moral sense of its foundation, giving would be limited, impossible or morally dubious.

But neither can we say that the gift is dispensable, a pure luxury that we can either embrace or accept. Life would be cold and inhumane without the gift, simply because exchange relationships do not encompass the whole of civilized life. We must give to our children, spouses, parents, neighbors, religious congregations, and to those in need. We give to our benefactors out of appreciation. We give not only money and physical items but also time, talents, and hearts.

Another way to put this is that economics and charity (love) go hand in hand. They are distinct but not incompatible. Society can always use more of both. And how might we bring that about? By enhancing the sphere of freedom that permits us to act on each other’s behalf, for only freedom allows for the exercise of human volition that is behind both exchange and gifts.

The holiday season provides us lovely illustrations of how this happens. We look around and see an astounding hustle and bustle of buying and selling, advertising and promotion, commerce and activity -- and we are tempted to regard it as degrading in some way. Sometimes it is.

But it need not be so. To see the spark of Divinity in the midst of our humanity is, after all, what the Incarnation of God’s Son at Christmas is all about. To uncover that divine reality we need to recall that the driving inspiration behind the hustle is -- or should be -- the desire to give to others because we want to sacrifice for and honor others.

With so great a freedom entrusted to us by God comes the obligation to use it well.

Rev. Robert A. Sirico is president of the Acton Institute.
Original neste link.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

662) Recomendacoes importantes aos viajantes...

A todos os meus amigos, conhecidos, curiosos, nômades em geral...
Aos que se preparam para viajar de avião neste final de ano, eu recomendaria este "kit-aeroporto", para as longas horas que eventualmente serão gastas esperando embarque:

1) Travesseiro
2) Garrafa d'água
3) Algum romance policial desses que não se consegue largar, mas daqueles pocket-books, dobrável, de preferência com mais de 500 páginas
4) Óculos escuros (para dormir)
5) Tampões de ouvido
6) iPod carregado
7) Carregador de celular
8) Sapato leve, calça larga
9) Chiclete (pode ser caramelo, mas recomenda-se não abusar)
10) Paciência, muita paciência...

Opcional: um terço, já que o ministro da área mandou rezar...

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

661) Revendo as propostas de laureados Nobel vinte anos depois

A conferência dos Prêmios Nobel de 1988:
Uma agenda ainda válida para o século XXI?
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

Em janeiro de 1988, reunidos em Paris, sob a iniciativa do humanista polonês Elie Wiesel, 75 cientistas e personalidades do mundo literário, de 31 diferentes países, mas todos agraciados com o Prêmio Nobel, elaboraram dezesseis propostas para tornar o mundo do século XXI melhor do que ele tinha sido no “breve século XX” de mortes, genocídios e destruições maciças. O objetivo deste ensaio é o de verificar se a agenda proposta na conferência dos laureados Nobel naquela oportunidade seria ainda válida em pleno século XXI.
Passados quase dezenove anos daquele encontro de “sábios”, o que poderia ser retido daquele conjunto de princípios – na verdade, um enunciado de nobres propósitos – destinados a aperfeiçoar um mundo então claramente insatisfatório? Caberia, antes de mais nada, colocar em seu contexto histórico a conferência convocada para para discutir as “ameaças e promessas no alvorecer do Século XXI”. Num segundo momento, seria útil verificar se aquelas propostas elaboradas dezoito anos atrás ainda guardam validade para os nossos tempos.
A iniciativa do Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel, escritor judeu de naturalidade polonesa, foi, sem dúvida alguma, meritória em seus próprios termos, mesmo se se pode questionar a representatividade intrínseca de cientistas e homens de letras de origens as mais diversas (com maciça presença dos EUA, como é de regra nas premiações Nobel), bem como sua competência específica para debater problemas complexos que afetam a toda a humanidade, ainda que de maneira variada. Uma vez que se reconhece, porém, a um biólogo o direito de apresentar propostas, enquanto cidadão, sobre problemas do desarmamento ou da educação, ou a um homem de letras o de argumentar sobre a melhor maneira de resolver o problema da dívida do Terceiro Mundo ou de acelerar a transferência de tecnologia em favor dos países em desenvolvimento, pode-se concordar em que o impacto mediático de uma conferência de laureados representa uma boa maneira de chamar a atenção da opinião pública ou dos homens de Estado para algumas das questões mais cruciais da agenda mundial.
O problema essencial, contudo, poderia ser colocado da seguinte forma: as propostas formuladas pelos Nobel eram condizentes com a natureza das “ameaças” percebidas e suas recomendações caminhavam realmente em direção das “promessas” do século XXI? Se a principal qualidade de um bom cientista é a de ser um pouco “visionário”, isto é, de saber antecipar-se aos desafios futuros, as “conclusões” dos Prêmio Nobel devem ser julgadas à luz de sua adequação aos cenários desenhados para o novo milênio, ou seja, segundo sua capacidade de realizar, nos termos do filósofo alemão Reinhart Koselleck, uma “projeção utópica do futuro”.
Formulando a questão em outros termos: a agenda que os Nobel estabeleceram para os homens do final do século XX correspondia efetivamente às necessidades de desenvolvimento das sociedades do futuro, tais como as percebemos hoje, e as recomendações propostas representaram algo mais do que a simples manifestação de boa-vontade de homens desvinculados de tarefas executivas ou responsabilidades governamentais? Subsidiariamente, se poderia também indagar se os “remédios” propostos levaram em consideração os meios disponíveis ou a organização social e política do sistema inter-estatal contemporâneo, bem como a relação de forças nele predominante.
Pretendo neste ensaio fazer a uma “releitura do passado”, adotando o seguinte procedimento: transcreverei o teor completo das 16 propostas originais (traduzidas por mim a partir do documento final da conferência), aduzindo depois comentários onde pertinentes. Creio que a maior parte das propostas se sustenta, ainda hoje, muito embora seu caráter “otimista” já fosse passível de algumas críticas naquele mesmo momento. As três primeiras apresentam, em minha opinião, caráter universalmente válido e não são passíveis de qualquer restrição ou comentário, mas a partir daí tenho qualificações ou condicionantes a agregar, como explicito no seguimento das propostas comentadas.

AS 16 PROPOSTAS DA CONFERÊNCIA DOS NOBEL DE 1988
Comentários de Paulo Roberto de Almeida em 2006: (PRA)

1. Todas as formas de vida devem ser consideradas como um patrimônio essencial da Humanidade. Causar dano ao equilíbrio ecológico constitui, portanto, um crime contra o futuro.

PRA: Propósito ainda plenamente válido.

2. A espécie humana é única e cada indivíduo que a compõe tem os mesmos direitos à liberdade, à igualdade e à fraternidade.

PRA: Propósito ainda plenamente válido.

3. A riqueza da Humanidade está também na sua diversidade. Ela deve ser protegida em todos os seus aspectos: cultural, biológico, filosófico e espiritual. Para isso, a tolerância, a atenção a outrém, a recusa das verdades definitivas devem ser incessantemente lembradas.

PRA: Propósito ainda plenamente válido.

4. Os problemas mais importantes que a humanidade enfrenta atualmente são ao mesmo tempo universais e interdependentes.

PRA: Os problemas mais importantes não estão expressamente referidos – embora alguns deles figurem nos tópicos seguintes –, mas creio que eles podem ser resumidos da seguinte forma: segurança, paz, bem estar e igualdade de chances. A segurança e a paz fizeram enormes progressos no mundo, depois que os cientistas e literatos se reuniram em Paris, no início de 1988. O comunismo acabou e com ele a ameaça de um enfrentamento praticamente suicidário entre as duas grandes potências atômicas. As guerras que subsistem são residuais – com uma ou outra exceção – ou reduzidas ao contexto regional e civil interno. O desenvolvimento social também conheceu enormes avanços, muito embora subsistam zonas de fome endêmica, geralmente naqueles contextos de conflitos civis e político, e alguns casos de privação epidêmica, dados os desequilíbrios ambientais criados pelo homens, também em grande medida coincidentes com as zonas de conflito.
A igualdade de chances não é, infelizmente, muito bem disseminada no mundo, mas isso não quer dizer que se trata de um problema “ao mesmo tempo universal e interdependente”, uma vez que a responsabilidade pela educação dos cidadãos – fator primordial da igualdade de oportunidades – permanece indefectivelmente com os Estados nacionais. Não se concebe, neste momento, processos universais de educação e capacitação técnica, pois isso poderia ser assimilado à “desculturação” ou mesmo ao “etnocídio”. Sim, infelizmente, a ditadura do “politicamente correto” e outras inovações típicas dos anti-globalizadores inviabiliza uma diminuição do grau de soberania estatal associada aos processos de educação e socialização para o trabalho.

5. A ciência é um poder. O acesso à ela deve ser igualmente repartido entre os indivíduos e os povos.

PRA: Interessante como proposta, mas algo ingênua. Se a ciência é um poder, então ela nunca será repartida igualmente entre os povos, uma vez que a humanidade não se encontra suficientemente homogeneizada, ou livre de perigos residuais, para que o poder seja repartido de forma equânime. Isso não vai ocorrer antes de muito tempo.
Mas, mesmo que a ciência não fosse um poder, e sim um simples instrumento de poder – o que redunda quase no mesmo –, ainda assim não haveria condições de “dispensá-la” de forma igualitária entre todos os povos e indivíduos. As condições de sua produção implicam custos e ônus para os que investem nessa atividade, o que deve ser de alguma forma compensado. Por isso que à essa produção estão associados mecanismos de monopolização – patentes e outros títulos proprietários – que são a contrapartida indispensável ao investimento inicial.
De forma geral, entretanto, os avanços propriamente científicos já se encontram à disposição de todos, de forma livre e irrestrita, apenas a tecnologia sendo objeto de apropriação monopólica.

6. O fosso existente em muitos países entre a comunidade intelectual e os poderes públicos deve ser reduzido. Cada um deve reconhecer o papel do outro.

PRA: Propósito ainda plenamente válido.

7. A educação deve tornar-se prioridade absoluta de todos os orçamentos e deve contribuir para valorizar todos os aspectos da criatividade humana.

PRA: Propósito ainda plenamente válido.

8. As ciências e tecnologias devem estar à disposição de todos, especialmente dos países em desenvolvimento, de forma a permitir-lhes o controle de seu próprio destino e a definição dos conhecimentos que julguem necessários a seu futuro.

PRA: Os mesmos comentários do item 5 valem para esta proposta também. Cientistas e literatos, em especial os agraciados com o Prêmio Nobel, deveriam saber o que custa chegar a uma resultado “premiável”: anos e anos de pesquisas, despesas imensas para resultados por vezes frustrantes, sem contar os falsos caminhos e os ensaios fracassados. Os literatos devem gostar de viver de direitos autorais, do contrário teriam de procurar outro meio de vida. Colocar algo que custou muito à livre disposição de terceiros significaria que existe, sim, “almoço grátis”, o que parece contradizer um dos princípios econômicos mais elementares.

9. Se a televisão e os novos meios de comunicação constituem um instrumento essencial de educação para o futuro, a educação deve ajudar a desenvolver o espírito crítico em relação ao que é divulgado nesses meios.

PRA: Propósito ainda plenamente válido.

10. A educação, a alimentação e a prevenção são os instrumentos essenciais de uma política demográfica e de redução da mortalidade infantil. A generalização do uso das vacinas existentes e o desenvolvimento de novas vacinas devem constituir a tarefa comum dos cientistas e dos homens políticos.

PRA: Propósito ainda plenamente válido.

11. Todas as pesquisas relativas à prevenção e ao tratamento da AIDS devem ser partilhadas e estimuladas, sem bloqueios ou barreiras, especialmente através da cooperação da indústria farmacêutica. Uma vez disponível, a vacina contra a AIDS deve ser assegurada pelos poderes públicos.

PRA: Propósito ainda plenamente válido.

12. A biologia molecular, que por seus recentes avanços permite prever progressos na medicina e no isolamento da dimensão genética de certas doenças, deve ser estimulada, o que permitirá prever e talvez curar essas doenças.

PRA: Esses progressos científicos, como o das pesquisas com células-tronco, que alcançaram igualmente, no plano tecnológico, a melhoria genética dos alimentos (plantas e animais), vêm sendo infelizmente obstaculizados por fundamentalistas religiosos e outros fundamentalistas ecológicos, que brandem argumentos não científicos para impedir esses avanços. Os cientistas deveriam esforçar-se mais para vulgarizar o conhecimento técnico, afastando os aspectos religiosos e ideológicos que dificultam sua disseminação.

13. O desarmamento dará um estímulo significativo ao desenvolvimento econômico e social, tendo em vista os recursos limitados do mundo, atualmente drenados pela indústria armamentista.

PRA: Propósito ainda plenamente válido, embora realisticamente pouco efetivo.

14. Nós pedimos a organização de uma conferência internacional para tratar em seu conjunto do problema da dívida do Terceiro Mundo, obstáculo ao seu desenvolvimento econômico e político.

PRA: Esse problema já foi praticamente encaminhado, ao longo das duas últimas décadas, com a renegociação das dívidas dos países emergentes – o que implicou algum desconto do valor face – e o cancelamento unilateral ou negociado das dívidas dos países mais pobres. Caberia registrar, contudo, que o problema da dívida não é uma perversão do sistema financeiro internacional, e sim o resultado de fatores contingentes e outros imponderáveis, numa relação quase simétrica, de disponibilidade de liquidez do lado dos credores – que atuam de forma irresponsável, pelo desejo de lucro – e de demanda excessiva por parte dos tomadores, que também atuam de forma irresponsável ao contratarem encargos acima de suas possibilidades. Trata-se de velho e recorrente problema, que não deixará de conhecer novos episódios no futuro.

15. Os governos devem comprometer-se sem ambiguidades e de maneira legalmente vinculatória com o respeito aos direitos do homem, assim como aos tratados por eles ratificados.

PRA: Propósito ainda plenamente válido, mas o obstáculo mais importante à implementação prática dessa idéia é a validade absoluta do princípio westfaliano, consagrado no sistema onusiano, de que a soberania estatal prima sobre o direito “das gentes” no plano internacional. A Carta da ONU começa invocando os “povos das Nações Unidas”, mas seu teor é inteiramente consagrado às prerrogativas e deveres dos Estados, considerados entes exclusivos da formação do direito internacional e de sua observância prática. A próxima fronteira do progresso da humanidade talvez tenha de ser a derrogação do respeito absoluto a essa norma westfaliana e a adoção da cláusula democrática e dos direitos humanos preventivos como princípios organizadores da nova comunidade internacional. Não vislumbro, contudo, tal evolução no futuro previsível.

16. A conferência dos laureados do Nobel se reunirá novamente dentro de dois anos para estudar estes problemas. No intervalo, se uma urgência se manifestar, vários Nobel poderão reunir-se localmente, ou em todos os lugares onde os direitos do homem estiverem ameaçados.”

PRA: Não se tem notícia de outra reunião dos prêmios Nobel desde então. Se eles se reuniram, não mais voltaram a produzir, em todo caso, um documento abrangente como este. Não seria de todo inútil que os Nobel pudessem continuar oferecendo seus argumentos em prol do aperfeiçoamento da humanidade, embora se possa colocar em dúvida a eficácia desse tipo de exortação para a mudança real das condições de vida de milhões de seres do planeta. O otimismo intrínseco dos cientistas e sua inegável fé no futuro são, de toda forma, incuráveis. Que eles continuem a militar, junto com os homens de letras, pelo aperfeiçoamento da humanidade.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de dezembro de 2006
Publicado no Via Política (17.12.2006; neste link)