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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Fukuyama e a Confianca: base da riqueza das nacoes - Gary North

O francês Alain Peyrefytte também tem um livro chamado La Société de Confiance, que vale a pena ler.
Paulo Roberto de Almeida

Uma característica crucial para o enriquecimento de qualquer economia: a confiança
por , Instituto Mises Brasil, segunda-feira, 31 de março de 2014

 

firma.jpgFrancis Fukuyama ficou famoso em 1988 por causa da publicação de seu livro O Fim da História.  A tese que ele defendia era tola e simplória: a democracia liberal havia derrotado todos os sistemas e, dali em diante, passaria a ser o arranjo preponderante e superior a todos os outros.  Isso se comprovou uma óbvia inverdade.  Pense no Islã.  Pense na política burocrática reinante na China.  Pense em Hong Kong e em Cingapura, que não têm democracia — ao menos, não no estilo defendido por Fukuyama.
À época, o livro recebeu uma estrondosa publicidade.  Hoje, ele raramente é citado.  Nunca entendi por que esse livro foi levado a sério.  No entanto, durante um bom tempo, várias pessoas o levaram a sério.
Em 1995, Fukuyama publicou outro livro: Confiança.  A publicidade recebida por este livro foi ínfima.  Mas o livro é excelente.  Digo mais: é um dos mais importantes livros já escritos sobre economia e ordem social.
Neste livro, Fukuyama analisa os efeitos da confiança sobre uma sociedade.  Ele concentra sua análise nos Estados Unidos, no Japão, na China e no sul da Itália, onde praticamente não há confiança nenhuma em nada e ninguém confia em ninguém.  Ato contínuo, ele analisa como a presença ou a ausência da confiança pode se tornar uma fonte de ordem social, de crescimento econômico e de aumento da produtividade geral. 
Ele descobriu, de maneira nada surpreendente, que os EUA, até aproximadamente 1960, possuíam uma enorme vantagem competitiva em relação ao resto do mundo por causa do alto nível de confiança que seus habitantes tinham em relação aos seus conterrâneos.  À medida que a confiança foi declinando, a taxa de crescimento econômico também declinou.  Concomitantemente ao declínio na confiança houve um aumento no número de advogados.
Uma das sociedades menos produtivas de toda a Europa Ocidental é a do sul da Itália.  Ele atribui isso à falta de confiança que reina na região.  Esse é um dos motivos pelos quais as sociedades secretas, especialmente a Máfia, têm tanta influência no sul da Itália: tais organizações provêm um mínimo de ordem social para seus membros, e a população em geral não oferece muita resistência à existência destas organizações.
A seção sobre a China é a mais interessante.  Fukuyama diz que os chineses apresentam um grande nível de confiança, mas somente em relação às suas famílias.  Isso faz com que seja muito difícil para empresas chinesas concorrerem com pequenos empreendimentos geridos por famílias ou com pequenos empreendimentos que tenham conexões familiares.  Faz com que seja mais difícil criar grandes empresas.  E faz com que seja ainda mais difícil levantar fundos e conseguir capital para financiar essas grandes empresas.
Já o Japão está em um meio-termo entre os EUA e a China.  No Japão, ao contrário da China, há mais confiança em organizações que não estejam ligadas a famílias.  No entanto, os grandes conglomerados japoneses possuem em suas raízes um pequeno número de famílias japonesas.
Em seu livro, Fukuyama dizia acreditar que as corporações japonesas poderiam concorrer no mercado internacional de maneira mais efetiva do que as empresas chinesas porque os japoneses podiam contratar as melhores pessoas, muito embora suas empresas não apresentassem conexões familiares.  Os japoneses também seriam capazes de conseguir dinheiro para investimentos mais facilmente do que as empresas chinesas.
Se olharmos o que ocorreu ao longo das últimas décadas, creio que essa tese se comprovou.  Empresas chinesas demonstraram uma maior tendência de serem mais intimamente associadas ao governo chinês.  O estado tem sido a fonte de financiamento das empresas chinesas.  O sistema bancário está mais intimamente ligado ao estado na China do que nas nações ocidentais.
A ausência de instituições formais pode ser observada quase que em sua integralidade na República Popular da China, onde a ideologia maoísta foi a grande responsável pelo atraso na introdução de instituições "burguesas", como o direito comercial.  Até o presente momento, empreendedores na China têm de enfrentar um ambiente jurídico extremamente arbitrário, no qual os direitos de propriedade são tênues, os níveis de tributação são variáveis e mudam de acordo com as vontades de cada governo provincial, e o suborno é a rotina quando se lida com funcionários do governo. (p. 330)
Empresas chinesas têm sido bem-sucedidas em exportar bens manufaturados.  E continuará sendo assim por um bom tempo, pois o governo mercantilista está declaradamente comprometido em manter a moeda desvalorizada para seguir estimulando as exportações, mesmo que à custa do bem-estar de todo o resto da população.  A economia chinesa funciona mais na base do "quem você conhece" do que na base do "o que você sabe fazer". 
Meu palpite é que as empresas chinesas serão menos eficazes no setor de serviços do que no setor industrial, pois a confiança dos chineses não vai além das ligações familiares.  E é aí que surge o problema: à medida que uma nação enriquece, o setor de serviços ganha mais importância.  A tendência da economia é diminuir a importância do setor industrial e aumentar a participação do setor de serviços.  Isso será um grande fator restringente sobre o desenvolvimento da economia chinesa.
Fukuyama também escreveu o seguinte:
Um estado liberal é, em última instância, um estado limitado; um estado em que a atividade do governo é estritamente delimitada pela esfera da liberdade individual.  Se tal sociedade não se degenerar no caos ou se tornar ingovernável, ela será capaz de apresentar uma autonomia governamental em todos os níveis de organização social.  A sobrevivência de tal sistema dependerá não somente da lei, mas também do autocontrole e do comedimento dos indivíduos.  Se eles não forem capazes de apresentar uma coesão em prol de um propósito comum; se eles não forem tolerantes e respeitosos em relação aos conterrâneos, ou não respeitarem as leis que eles próprios criaram para si mesmos, uma agência com grande poder coercivo terá de ser criada para manter cada indivíduo na linha. 
Por outro lado, um arranjo sem estado pode funcionar em uma sociedade que apresente um grau extraordinariamente alto de sociabilidade espontânea; uma sociedade na qual o comedimento, a temperança e o comportamento baseado em normas fluam naturalmente do cerne desta sociedade, sem ter de ser trazido de fora. 
Um país com um capital social baixo não apenas é mais propenso a ter empresas pequenas, fracas e ineficientes, como também sofrerá mais com a corrupção generalizada de seus funcionários públicos e com uma administração pública ineficaz.  Tal situação é dolorosamente evidente na Itália, onde, à medida que se sai do norte e do centro do país em direção ao sul, percebe-se uma relação direta entre atomização social e corrupção (pp. 357-58).
Creio que a teorização acima é correta.  Ela é perceptível em todos os países que enriqueceram.  Além dos EUA, pense na Suíça, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia.  Pesquise o nível de confiança vigente nestes países.  Pesquise como sua população interage entre si.  Pesquise o grau de burocracia exigido para se fechar um negócio.  Depois, faça o mesmo para os países da América Latina e da África.
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Leia também:

Venezuela: Alvaro Uribe (ex-presidente de Colombia) escreve sobre o castro-chavismo

Recebido pela internet, de amigo, em 4/04/2014:

 No entendía la furia y ensañamiento hacia Uribe hasta que leí este escrito del Expresidente de Colombia. Hasta ahora no había leído una descripción tan exacta sobre la situación venezolana; y adicionalmente, en obsequio a la expresión “lo bueno si breve mejor”, contiene, en dos páginas, la historia de Venezuela en los primeros catorce años del siglo XXI.

ALVARO URIBE SOBRE VENEZUELA
El ex-presidente colombiano Uribe conoció bien a Chávez y a Maduro.  Los enfrentó duramente por 8 años.  No es de sorprender entonces la certeza de las palabras que verás más adelante.  Incluso conoce mejor a su sucesor el presidente Santos, a quien dedica al final un párrafo demoledor. 

ALVARO URIBE
Fecha: 20 de Febrero de 2014

Declarar empate en Venezuela es como mandar condolencias al asesino por las molestias que en su agonía le causó la víctima.

Lo que pasa en Venezuela tenía que llegar y llegó, así sea que todavía falte lo peor. Por desgracia.
El castrochavismo será recordado como autor de un milagro económico a la inversa, de los que se registran tan pocos en el devenir de los pueblos. Convertir en país miserable el más rico de América no es hazaña de todos los días. Habiendo tanta pobreza en tantas partes, en pocas tiene que pelear la gente, a dentelladas, por una bolsa de leche, por una libra de harina o por un pedazo de carne.
Convertir en despojos una de las más organizadas, pujantes y serias empresas petroleras del mundo no es cualquier tontería. Llevar a la insolvencia una nación ante las líneas aéreas, los proveedores comerciales y los que suministran material quirúrgico y hospitalario no es cosa que se vea cualquier día. Y arruinar al tiempo el campo y la industria, el comercio y los servicios, la generación eléctrica, la ingeniería, la banca y las comunicaciones es tarea muy dura, cuando se recuerda que la sufre el país que tiene las mayores reservas petroleras del mundo.
En esa frenética carrera hacia el desastre, el gobierno castrochavista tuvo que proceder a la eliminación paulatina de todas las libertades, al sacrificio del pensamiento y la conciencia, a la ruina de las instituciones, del periodismo, de los partidos, de la universidad, de los gremios, de los sindicatos. 
Pues todo se ha cumplido tras el designio implacable de los ancianos inspiradores del sistema, Fidel y Raúl Castro, que una vez más han demostrado su audacia, su carencia total de consideración y respeto por los valores más caros de la especie humana, pero también su falta absoluta de talento. Llevar a Venezuela a la ruina total es matar su propia fuente de subsistencia. Y es lo que han hecho, moviendo los resortes del fanatismo más imbécil, de los odios más cerriles, de los desquites más torpes.
Nicolás Maduro tiene la inteligencia y el tacto político que exhibe en cualquiera de sus discursos. Pero al fin de cuentas es un pobre rehén de los intereses inconfesables de la clase corrupta que ha llevado a Venezuela a su perdición. Si ese títere fuera libre, hasta de sus menguadas condiciones de estadista pudiera esperarse algún acto de rectificación, algún gesto de apaciguamiento, alguna voluntad de comprender el desastre y de corregirlo. Pero Maduro es el primer esclavo de las pasiones atroces que dominan en Venezuela. Los saqueadores de esa gran nación no están dispuestos a que nadie ensaye el menor examen de su conducta. En los antros del delito se pierde todo, empezando por el pudor.
El régimen de Venezuela se va a caer, porque se tiene que caer. No podría subsistir sino amordazando totalmente al pueblo, imponiendo cartillas de racionamiento, levantando un paredón, como el del Che Guevara en La Cabaña. Y no están dadas las condiciones para que el mundo soporte estas afrentas. Con una Cuba le basta a América.
El pueblo está en las calles, dispuesto a hacerse matar. Y lo están matando. La juventud estudiantil, que sabe cerrados los caminos del porvenir, le apuesta a cualquier cosa, menos al continuismo cobarde. Los empresarios lo perdieron todo hace rato. No tienen cuentas para hacer. Y los paniaguados del sistema ven con horror que el sistema ya no tiene mercados para comprar sus conciencias.

Y ante esta catástrofe, el presidente Santos no ofrece más que su silencio perplejo. Porque, si sigue ofendiendo a ese pueblo, tendrá un enemigo formidable. Y si ofende a Maduro, se le cae el proceso de paz. Esa es la consecuencia del primero de sus actos torpes, el de tomar por nuevo mejor amigo a un tirano despreciable. Y el de montar un proceso que llama de paz sobre los hombros caducos de unos patriarcas en su ocaso.

Aumento de salario minimo causa mais desemprego e mais pobreza - George Reisman (Mises)

Aliás, não só o aumento, mas a própria instituição do salário mínimo exclui dezenas, centenas, milhares, centenas de milhares, talvez milhões, do mercado de trabalho, ou seja, confirmando o que diz o articulista abaixo, do Mises Institute, dos EUA.
Por outro lado, um salário mínimo nacional homogêneo, como existe no Brasil, desprezando as desigualdades regionais e os diferentes componentes de custo de vida em cada uma das regiões não é apenas excludente socialmente, é também estúpido economicamente, pois que tendo de ficar no meio termo entre SP e os confins da Amazônia, sendo inadequado para ambas as regiões, muito pouco para a primeira, muito para a segunda.
Já sabemos, por outro lado, o que ocorre com as taxas reais de desemprego, graças ao artigo de Leandro Roque, mais abaixo. O Brasil deve ser o único país do mundo em que o "desemprego" cai, ao mesmo tempo em que o seguro-desemprego aumenta. Mais uma jabuticaba.
O Brasil é repleto de irracionalidades desse tipo...
Paulo Roberto de Almeida


Mises Institute, on April 4, 2014

An Open letter to Thomas Perez, U.S. Secretary of Labor
Dear Secretary Perez:

Raising the minimum wage is a formula for causing unemployment among the least-skilled members of society. The higher wages are, the higher costs of production are. The higher costs of production are, the higher prices are. The higher prices are, the smaller are the quantities of goods and services demanded and the number of workers employed in producing them. These are all propositions of elementary economics that you and the President should well know.
It is true that the wages of the workers who keep their jobs will be higher. They will enjoy the benefit of a government-created monopoly that excludes from the market the competition of those unemployed workers who are willing and able to work for less than what the monopolists receive.
The payment of the monopolists’ higher wages will come at the expense of reduced expenditures for labor and capital goods elsewhere in the economic system, which must result in more unemployment.
Those who are unemployed elsewhere and who are relatively more skilled will displace workers of lesser skill, with the ultimate result of still more unemployment among the least-skilled members of society.
The unemployment directly and indirectly caused by raising the minimum wage will require additional government welfare spending and thus higher taxes and/or greater budget deficits to finance it.
Your and the President’s policy is fundamentally anti-labor and anti-poor people. While it enriches those poor people who are given the status of government-protected monopolists, it impoverishes the rest of the economic system to a greater degree. It does this through the combination both of taking away an amount of wealth equal to the monopolists’ gains, and of causing overall production to be less by an amount corresponding to the additional unemployment it creates. The rise in prices and taxes that results from raising the minimum wage both diminishes the gains of the monopolists and serves to create new and additional poor people, while worsening the poverty of those who become unemployed.
Furthermore, the higher the minimum wage is raised, the worse are the effects on poor people. This is because, on the one hand, the resulting overall unemployment is greater, while, on the other hand, the protection a lower wage provides against competition from higher-paid workers is more and more eroded. At today’s minimum wage of $7.25 per hour, workers earning that wage are secure against the competition of workers able to earn $8, $9, or $10 per hour. If the minimum wage is increased, as you and the President wish, to $10.10 per hour, and the jobs that presently pay $7.25 had to pay $10.10, then workers who previously would not have considered those jobs because of their ability to earn $8, $9, or $10 per hour will now consider them; many of them will have to consider them, because they will be unemployed. The effect is to expose the workers whose skills do not exceed a level corresponding to $7.25 per hour to the competition of better educated, more-skilled workers presently able to earn wage rates ranging from just above $7.25 to just below $10.10 per hour. The further effect could be that there will simply no longer be room in the economic system for the employment of minimally educated, low-skilled people.
Of course, the minimum-wage has been increased repeatedly over the years since it was first introduced, and there has continued to be at least some significant room for the employment of such workers. What has made this possible is the long periods in which the minimum wage was not increased. Continuous inflation of the money supply and the rise in the volume of spending and thus in wage rates and prices throughout the economic system progressively reduce the extent to which the minimum wage exceeds the wage that would prevail in its absence. The minimum wages of the 1930s and 1940s — 25¢ an hour and 75¢ an hour — long ago became nullities. To reduce and ultimately eliminate the harm done by today’s minimum wage, it needs to be left unchanged.
The standard of living is not raised by arbitrary laws and decrees imposing higher wage rates, but by the rise in the productivity of labor, which increases the supply of goods relative to the supply of labor and thus reduces prices relative to wage rates, and thereby allows prices to rise by less than wages when the quantity of money and volume of spending in the economic system increase.
If raising the standard of living of the average worker is your and the President’s goal, you should abandon your efforts to raise the minimum wage. Instead, you should strive to eliminate all government policies that restrain the rise in the productivity of labor and thus in the buying power of wages.
If your goal is to raise the wages specifically of the lowest-paid workers, you should strive to eliminate everything that limits employment in the better-paid occupations, most notably the forcible imposition of union pay scales, which operate as minimum wages for skilled and semi-skilled workers. In causing unemployment higher up the economic ladder, union scales serve to artificially increase the number of workers who must compete lower down on the economic ladder, including at the very bottom, where wages are lowest. To the extent that occupations higher up could absorb more labor, competitive pressure at the bottom would be reduced and wages there could rise as a result.
Abolishing or at least greatly liberalizing licensing legislation would work in the same way. To the extent that larger numbers of low-skilled workers could work in such lines as driving cabs, giving haircuts, or selling hot dogs from push carts, the effect would also be a reduction in competitive pressure at the bottom of the economic ladder and thus higher wages there.
The principle here is that we need to look to greater economic freedom, not greater government intervention, as the path to economic improvement for everyone, especially the poor.
Sincerely yours,
George Reisman, Ph.D.

Desemprego no Brasil: a farsa dos numeros - Leandro Roque

Alguns detalhes sobre o emprego no Brasil
por , Instituto Mises Brasil, quarta-feira, 2 de abril de 2014

 

imagem-imgdest-seguro-desemprego-parcelas.jpgImagine uma economia formada por 100 pessoas.  Destas 100 pessoas, suponha que 90 tenham algum tipo de ocupação (seja um emprego com carteira assinada, seja fazendo bicos ou até mesmo um trabalho voluntário).  E suponha também que as 10 pessoas restantes estejam desocupadas, mas estão à procura de uma ocupação.
Neste cenário, temos a seguinte situação estatística:
A População Economicamente Ativa é de 100 pessoas.  A População Ocupada é de 90 pessoas, e a População Desocupada é de 10 pessoas.  A taxa de desocupação é de 10%, pois há 10 pessoas desocupadas em um universo de 100 pessoas economicamente ativas.
Agora, suponha que destas 10 pessoas desocupadas, 3 desistam de procurar alguma ocupação.  Os motivos dessa desistência podem ser vários: ou a pessoa achou alguém disposto a sustentar seu ócio, ou ela perdeu as esperanças de encontrar alguma ocupação, ou ela simplesmente aceitou um programa de assistencialismo governamental que proveja todas as suas necessidades básicas.
Em termos puramente estatísticos, houve uma alteração importante.  O fato de 3 pessoas terem deixado de procurar uma ocupação significa que tais pessoas deixaram de ser economicamente ativas.  Consequentemente, o arranjo agora passa a ser outro.
A População Economicamente Ativa passa a ser de 97 pessoas.  A População Ocupada continua sendo de 90 pessoas.  A População Desocupada caiu de 10 para 7 pessoas.  E essas 3 pessoas que se retiraram do mercado agora fazem parte da População Não-economicamente Ativa.
Consequentemente, há agora uma nova taxa de desocupação.  Antes, a taxa era de 10 pessoas em um universo de 100.  Agora, a taxa é de 7 pessoas em um universo de 97.  Ou seja, a nova taxa de desocupação é de 7,22% (7 dividido por 97).
Traduzindo: sem que um único emprego tenha sido criado, a taxa de desocupação — popularmente chamada de taxa de desemprego — caiu de 10% para 7,22%.
Por que isso é importante?  Porque é exatamente isso o que está acontecendo no Brasil.  E é o próprio IBGE quem faz esse alerta.
Comecemos por esta notícia, do final de 2013 (negrito meu):
A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do País ficou em 4,6% em novembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado aponta para o menor desemprego da série histórica do IBGE, iniciada em 2002.
[...]
A redução na taxa de desemprego foi causada pela migração de indivíduos para a inatividade, e não pela geração de postos de trabalho, apontou a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
"O que a gente vê aqui é a redução da desocupação em função do aumento da inatividade. Então não houve aumento do número de postos de trabalho. O que houve foi aumento das pessoas que passaram para a inatividade", ressaltou o gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
Em novembro, houve aumento significativo na população não economicamente ativa. Na comparação com outubro, o aumento foi de 0,8%, o equivalente a 148 mil indivíduos. Em relação a novembro de 2012, a alta foi de 4,5%, mais 801 mil pessoas na inatividade.
Agora vejamos esta notícia, de 27 de março (negrito meu):
O número de pessoas economicamente não ativas que não buscam emprego porque não têm interesse em trabalhar aumentou 1,2% em fevereiro em relação a janeiro, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
[...]
"O que essa população não economicamente ativa está mostrando é que são pessoas que não trabalham e não procuram, elas não estão pressionando o mercado de trabalho. O que a gente vem observando é o crescimento da fatia das pessoas que não estão exercendo pressão sobre o mercado de trabalho por uma opção", disse Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
O aumento da população inativa tem contribuído para manter a taxa de desemprego em mínimas históricas. A população não economicamente ativa aumentou 3,8% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado, o equivalente a 686 mil pessoas migrando para a inatividade no período. Ao mesmo tempo, a criação de vagas ficou estatisticamente estável, com a abertura de apenas dois mil novos postos de trabalho.
Toda essa evolução pode ser observada no gráfico abaixo, que contém os dados do IBGE, que estão disponibilizados no site do Banco Central.
A linha vermelha mostra a evolução da População Economicamente Ativa nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.  A linha verde mostra a evolução da População Ocupada, e a linha azul, a da Desocupada.
cewolf (1).png
Vale lembrar que 'Ocupados' abrange absolutamente todos os tipos de ocupação, seja ela remunerada (desde o executivo até o malabarista de semáforo) ou não-remunerada (instituições religiosas beneficentes, cooperativismo, aprendiz ou estagiário).  Isso quer dizer que abrange também funcionários públicos, pessoas que prestam serviço militar obrigatório e os clérigos.
Para apreender corretamente o que o gráfico acima está dizendo, o melhor procedimento é fazer um gráfico que mostra a taxa de crescimento anual da População Economicamente Ativa e a taxa de crescimento anual da População Ocupada.  Isso nos permitirá constatar as declarações do IBGE.
taxa desemprego.png
O gráfico acima ilustra vários fenômenos interessantes.
Para começar, sempre tenha em mente a seguinte igualdade:
População economicamente ativa = ocupados + desocupados.
O primeiro fenômeno que chama a atenção no gráfico é o ocorrido no ano de 2003.  Mesmo com a recessão daquele ano, e com a SELIC a 26,5%, a população ocupada aumentou 4,5%.  Porém, também naquele ano, a população economicamente ativa cresceu a uma taxa ainda maior.  Por causa da igualdade acima, isso significa que a população desocupada também aumentou.  Consequentemente, a taxa de desemprego (ou, no caso, a taxa de desocupação) chegou a 13%.
Após aquele ano, a população economicamente ativa passou a crescer a uma taxa menor do que a taxa de crescimento da população ocupada.  De novo, pense na igualdade acima: se a população economicamente ativa cresce, mas o número de ocupados cresce ainda mais, então o número de desocupados está caindo.  Exatamente por isso, a taxa de desocupação apresentou cifras declinantes a partir de meados de 2004.  E assim foi até 2009.
A recessão de 2009 fez com que as duas variáveis ficassem praticamente estagnadas, mas por pouco tempo.  Já em 2010, ambas voltaram a crescer com grande vigor.
(Para entender as causas desse forte crescimento do emprego no período 2004-2011, veja este artigo).
Nos anos de 2011 e 2012, a situação foi de estabilidade, com a população ocupada crescendo a uma média de 2% ao ano, e a população economicamente ativa, a 1,5% ao ano.
Já em 2013, houve uma guinada radical e inédita nos indicadores, especialmente a partir do segundo semestre.  A população economicamente ativa começou a encolher.  Em novembro de 2013, por exemplo, ela foi 1% menor do que em novembro de 2012.  Isso significa que havia menos pessoas no mercado de trabalho (trabalhando ou procurando emprego) em novembro de 2013 do que havia em novembro de 2012.
Junto com a queda da população economicamente ativa ocorreu também uma queda na população ocupada.  Em novembro de 2013, o número de pessoas ocupadas foi 0,73% menor do que em novembro de 2012.
E a coisa ficou ainda mais interessante agora no mês de fevereiro de 2014.  A taxa de crescimento da população ocupada foi de 0%, o que significa que a quantidade de pessoas ocupadas simplesmente não se alterou em relação a fevereiro de 2013 (segundo o IBGE, neste período houve a "abertura de apenas dois mil novos postos de trabalho").  Mas a taxa de crescimento da população economicamente ativa foi negativa, de -0,46%.
De novo, voltemos à igualdade acima: se a população ocupada não se altera, mas a população economicamente ativa encolhe, então o número de desocupados também encolheu.  Isso significa que as pessoas que estavam desocupadas simplesmente pararam de procurar ocupação e se retiraram do mercado de trabalho, tornando-se não-economicamente ativas, e contribuindo para reduzir a taxa de desocupação (desemprego).
Como o gráfico deixa claro, trata-se de um fenômeno inédito no Brasil.  Nem mesmo nas recessões de 2003 e 2009 houve uma taxa de crescimento negativa.  Muito embora a série estatística do IBGE comece apenas em 2002, a lógica leva a crer que tal fenômeno nunca antes havia ocorrido, pois a taxa de crescimento da população geral (a qual está em 1% ao ano) era bem maior no passado, o que significa que o número de pessoas jovens entrando no mercado de trabalho era maior.
Enquanto este fenômeno — pessoas desistindo de procurar ocupação e se retirando do mercado de trabalho — prosseguir, a taxa de desemprego continuará baixa.
Conclusão
Com efeito, as recentes notícias sobre uma "inesperada disparada" nos gastos com o seguro-desemprego, mesmo com a taxa de desocupação estando em no menor nível da história, confirmam uma das teses acima (negrito meu):
Os gastos com seguro-desemprego e abono salarial devem alcançar R$ 45 bilhões nesse ano [2013], um aumento de 16% com relação ao ano passado e tem crescido muito nos últimos anos. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego vem declinando, passando de 13% em 2003 para 5,4% em 2013. 
Quais as principais consequências desse êxodo do mercado de trabalho?
De um lado, uma menor oferta de mão-de-obra tende a pressionar os salários para cima; de outro, a atual redução na taxa de crescimento do crédito (veja detalhes neste artigo) tende a contrabalançar essa pressão altista nos salários.  No momento, a massa salarial registra a menor alta desde 2009, ano em que o país estava em recessão
No cômputo geral, trata-se de um fenômeno lastimável.  O baixo crescimento da mão-de-obra só pode ser compensado se houver um crescente aumento na produtividade.  Como o Brasil é conhecido justamente por ter uma mão-de-obra pouco produtiva, esse baixo crescimento da mão-de-obra tende a reduzir sobremaneira o aumento da oferta de bens e serviços e, consequentemente, o crescimento da economia e o enriquecimento da população.
No final, este lamentável fenômeno serve apenas para gerar uma redução artificial na taxa de desemprego, algo que o atual governo certamente usará a seu favor como ilustração do "sucesso" de suas políticas.
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Leia também:

2007062509039.jpgAs causas desse êxodo de pessoas do mercado de trabalho são diversas, e sua análise está fora do escopo deste artigo.  Certamente há de tudo: há pessoas que se contentam com os proventos do Bolsa-Família, há pessoas sem capacitação que desistiram da vida, há pessoas que dão seguidos golpes no seguro-desemprego, e certamente há um grande número de pessoas indolentes que têm quem lhes sustente (inclusive, e principalmente, jovens de classe média-alta).
Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

Montaigne Shakespeareano: a new book







Shakespeare's Montaigne cover

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 An NYRB Classics Original
Shakespeare, Nietzsche wrote, was Montaigne’s best reader—a typically brilliant Nietzschean insight, capturing the intimate relationship between Montaigne’s ever-changing record of the self and Shakespeare’s kaleidoscopic register of human character. And there is no doubt that Shakespeare read Montaigne—though how extensively remains a matter of debate—and that the translation he read him in was that of John Florio, a fascinating polymath, man-about-town, and dazzlingly inventive writer himself.
Florio’s Montaigne is in fact one of the masterpieces of English prose, with a stylistic range and felicity and passages of deep lingering music that make it comparable to Sir Robert Burton’sAnatomy of Melancholy and the works of Sir Thomas Browne. This new edition of this seminal work, edited by Stephen Greenblatt and Peter G. Platt, features an adroitly modernized text, an essay in which Greenblatt discusses both the resemblances and real tensions between Montaigne’s and Shakespeare’s visions of the world, and Platt’s introduction to the life and times of the extraordinary Florio. Altogether, this book provides a remarkable new experience of not just two but three great writers who ushered in the modern world.
Shakespeare’s Montaigne is the NYRB Classics Book Club selection for April 2014.

QUOTES

Read Montaigne in order to live.
—Gustave Flaubert
Stephen Greenblatt and Peter Platt have annotated selections in Shakespeare’s Montaigne and the result is a crash course in Elizabethan lit, a multiculti study of the development of English, and, above all, a revisionist biography of a monumental dramatist who not only cribbed the classical education he lacked but also responded to his sources with a fierce and censorious intelligence.
—Joshua Cohen, Harper’s Magazine
Like Montaigne, Florio wrote by exuding ever more complex thoughts as a spider exudes silk. But while Montaigne always moves forward, Florio winds back on himself and scrunches his sentences in a puff of syntax. The real magic happens when the two writers meet. Montaigne’s earthiness holds Florio’s convolutions in check, while Florio gives Montaigne an Elizabethan English quality, as well as a lot of sheer fun.
—Sarah Bakewell, How to Live, or, A Life of Montaigne
[Montaigne] was the first who had the courage to say as an author what he felt as a man.
—William Hazlitt
That such a man wrote has truly augmented the joy of living on Earth.
—Friedrich Nietzsche
Montaigne is the frankest and honestest of all writers.
—Ralph Waldo Emerson
I defy any reader of Montaigne not to put down the book at some point and say with incredulity: “How did he know all that about me?”
—Bernard Levin, The Times (London)
So much have I made him my own, that it seems he is my very self.
—André Gide
Here is a ‘you’ in which ‘I’ is reflected; here is where all distance is abolished.
—Stefan Zweig
It is not in Montaigne but in myself that I find everything I see there.
—Blaise Pascal
Upon his version of Montaigne’s Essays[Florio] exhausted his gifts and lavished his temperament…. Turn where you will in his translation, and you will find flowers of speech.
The Cambridge History of English and American Literature