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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Mauro Boianovsky - André Roncaglia

Mauro Boianovsky, embaixador do pensamento econômico brasileiro 

 André Roncaglia* 

Folha de S. Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Em sua obra, economista aliou meticulosidade à sua admirável erudição

No dia 21 de fevereiro de 2024, as ciências sociais brasileiras receberam um golpe triplo: Affonso Celso PastoreLuiz Werneck Vianna e Mauro Boianovsky nos deixaram. Destacarei a obra de Mauro Boianovsky, pela sua importância no campo da história das ideias econômicas.

Figura proeminente, com destacada carreira como professor na Universidade de Brasília, Mauro foi um dos pesquisadores mais influentes do mundo, tendo presidido a History of Economics Society (HES) no biênio 2016-17 e recebido inúmeros prêmios por suas contribuições.

Boianovsky atuou como embaixador do pensamento econômico brasileiro no exterior e enriqueceu o diálogo global sobre a evolução da economia como campo do conhecimento. Sua vasta obra abrange o pensamento econômico brasileiro e as contribuições de economistas de renome internacional, bem como a evolução de teorias econômicas, com destaque para a macroeconomia, em contextos históricos variados.

Sempre meticuloso e com admirável erudição, Boianovsky trouxe à luz as complexidades do estruturalismo latino-americano, explorando a profundidade da visão de Celso Furtado sobre a industrialização e a dependência tecnológica, temas que permanecem relevantes nas discussões sobre desenvolvimento econômico.

Boianovsky também defendeu a prioridade de Mário Henrique Simonsen no entendimento de restrições quantitativas na decisão de consumo (cash-in-advance constraint) e revelou a sofisticação do pensamento de Simonsen sobre política econômica e teoria monetária.

Sua notável habilidade em traçar conexões entre diferentes escolas de pensamento e períodos históricos ampliava nossa compreensão acerca das dinâmicas que moldam as políticas econômicas e teorias ao longo do tempo. Exemplo notório dessa habilidade fica evidente em seu trabalho sobre inflação e estabilização na América Latina, no qual ele combina análise econômica com uma compreensão profunda dos contextos políticos e sociais.

Fui diretamente influenciado pela reconstituição e ressignificação que Mauro fez do pensamento de Knut Wicksell, economista sueco que antecipou em um século o modelo básico de metas de inflação e o conceito de taxa de juros neutra que dominam os debates contemporâneos sobre política monetária.

Seu livro "Transforming modern macroeconomics: exploring disequilibrium microfoundations (1956-2003)", escrito com o pesquisador britânico Roger Backhouse, faz uma magistral reconstrução do pensamento macroeconômico, narrando a busca de fundamentos microeconômicos do desequilíbrio compatíveis com a teoria macroeconômica keynesiana. Esse programa de pesquisa influenciaria a safra de modelos estocásticos dinâmicos usados pelos Bancos Centrais atualmente. O livro foi escolhido pela Sociedade Europeia de História do Pensamento Econômico (ESHET) como a melhor obra de 2013.

Recentemente, Mauro explorou como as viagens de economistas pelo mundo afetaram suas visões sobre a economia e como o contexto do regime militar afetou o debate brasileiro sobre distribuição de renda nos anos 1970 (em parceria com Alexandre Andrada). Organizou com Ricardo Bielschowsky e Maurício Coutinho um compêndio sobre o pensamento econômico brasileiro da era colonial até o século 21, no qual Mauro analisa a formação da comunidade científica em economia no Brasil a partir dos anos 1960.

A obra de Mauro Boianovsky é essencial para qualquer pessoa interessada na evolução do pensamento econômico. Sua partida prematura é uma perda inestimável para o campo da economia.

Deixo esta singela homenagem ao mestre que tanto influenciou toda uma geração de pesquisadores no Brasil e no mundo. Descanse em paz, Mauro.

*Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP

Professor de Economia da UnB e referência no campo de História do Pensamento Econômico, Mauro Boianovsky faleceu nesta quarta-feira (21). 

OBITUÁRIO

MORRE MAURO BOIANOVSKY, PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNB

 

O professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Boianovsky morreu na manhã desta quarta-feira (21), aos 64 anos, em decorrência de câncer. Referência no campo de História do Pensamento Econômico, foi considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo, conforme lista elaborada pela Universidade de Stanford e pelo repositório de dados Elsevier em 2023.

Formado em Economia pela UnB, em 1979, Mauro fez mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e doutorado em Cambridge, na Inglaterra. Era professor titular na Universidade de Brasília, onde lecionava Teoria do Desenvolvimento Econômico, na graduação, e História do Pensamento Econômico na pós-graduação.

Com a morte de Mauro, o Brasil perde duas referências da área da economia no mesmo dia. Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, também morreu nesta quarta-feira.

Durante o doutorado, o professor fez uma tese sobre o pensamento do economista Knut Wicksell e aprendeu sueco para ler os textos originais. “Eu até brincava com o Mauro, comparando-o com Indiana Jones. O que ele fazia era ‘arqueologia econômica’: buscar os textos originais para colocar nuances que eram pouco conhecidas de economistas famosos”, diz José Luís Oreiro, professor de Economia da UnB e colega de Mauro. 

 

Além de ter sido professor na UnB, Mauro Boianovsky também foi presidente da History of Economics Society (HES), um dos mais respeitados fóruns de discussão econômica do mundo, em 2015, sendo o primeiro latino-americano a comandar o órgão. 

“Foi uma grande perda para a Universidade de Brasília e para a linha de pesquisa. Primeiro, porque é uma pessoa com notável conhecimento na área, uma das grandes referências do mundo. Ele era uma pessoa cuja publicação científica era muito importante para o programa de pós-graduação em Economia na Universidade de Brasília. E era especialista em um em um assunto que poucas pessoas têm domínio”, lamenta Oreiro. 

O vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Jorge Arbache, também lamentou o falecimento de Boianovsky. Em postagem no LinkedIn, o economista destacou que o professor era considerado “um dos mais brilhantes autores de todos os tempos” pelos seus pares na linha de pesquisa de História do Pensamento Econômico.

“A obra de Mauro foi imensa e intensa, e muito influente. Mauro recebeu os mais importantes prêmios nacionais e internacionais, era considerado pela academia de escola do pensamento econômico como um dos mais brilhantes autores de todos os tempos, ocupou os mais importantes cargos internacionais na área, e talvez possa ser considerado o economista brasileiro que mais prestígio e influência teve na sua respectiva área em nível internacional”. 

Publicado há poucas semanas atrás, o último artigo do professor, intitulado “Recollections of My Time at the History of Economics Society” (Lembranças do meu tempo na History of Economics Society), é um balanço da produção acadêmica, de sua atuação no órgão e uma espécie de despedida. 


Lênin ainda vive? Assim parece - Astier Basílio

 100 anos depois, um fantasma ronda a Rússia: o camarada Lênin ainda vive 


Astier Basílio 


 

Quem entrar na Praça Vermelha pela direção do Jardim de Alexandre, onde está o Túmulo do Soldado Desconhecido e a famosa chama eterna, dará com uma das entradas de acesso ao principal cartão postal da Rússia. É ali que se localiza a única entrada do mausoléu construído em 1924 para guardar o corpo mumificado de Vladimir Ilyich Ulianov, universalmente conhecido como Lênin, o fundador da União Soviética. Não é cobrado ingresso. A pirâmide, cujo formato em granito veio a ser erguido em 1930, suplantando versões anteriores de madeira, distribui-se por 12 metros de altura e 2.400 metros cúbicos de área interna. Seu acesso é permitido após uma segunda vistoria realizada pelos guardas, e o visitante precisa seguir outra vez por um detector de metais. Não se pode entrar com mochila, qualquer tipo de líquido, nem fazer imagens de nenhuma natureza lá dentro. O mausoléu abre todos os dias, menos sexta e segunda-feira, e o horário de visitação é restrito: das 10h às 13h. Mergulha-se em total escuridão nos degraus que se seguem à entrada, e mal se consegue ver o primeiro dos cinco guardas que se postam nas dependências do recinto. Do topo da pirâmide incide uma iluminação que, de súbito, encadeia a visão. É como se estivéssemos num teatro. Uma espécie de ilusão ótica faz com que o corpo morto há 100 anos seja banhado por uma luminosidade que sonega os detalhes de sua decadência: não é possível ter uma percepção nítida dos traços fisionômicos de Lenin devido ao jogo de luz e sombra que é construído. No último 21 de janeiro, em celebração à data que marcou o centenário da morte de Lênin, as bandeiras vermelhas voltaram a ser predominantes no Kremlin. A Rússia hoje tem 21 partidos políticos em funcionamento, mas apenas 5 possuem representação na Duma Federal, o equivalente à nossa Câmara dos Deputados. Os comunistas são o segundo maior partido. Nas últimas eleições, obtiveram pouco mais de 18% dos votos e elegeram 57 representantes, mas nem se comparam com a performance obtida pela Rússia Unida, a agremiação de Vladimir Putin, que arrebanhou 49% do eleitorado e elegeu 324 parlamentares. Por 70 anos, o Partido Comunista deteve o monopólio da existência política. A decisão foi tomada quando Lênin ainda era vivo, em 1921, um ano antes da criação da União Soviética. No X Congresso do Partido Comunista, passaram uma resolução pelo fim das facções internas, o que na prática redundou na existência de um partido único. Tal situação se manteve inalterada até a implantação das reformas no governo Gorbachev, a “perestroika” e a “glasnost”, que acabaram por acelerar a queda do regime. Desde 1993, a liderança do partido comunista está nas mãos de Guennadi Ziugánov, 78 anos, um deputado em seu oitavo mandato na Duma. Seu rosto estampou os cartazes de campanhas presidenciais derrotadas em 1996, 2008 e 2012. Como acontece todos os anos, foi um Ziugánov paz e amor, segurando rosas, quem conduziu a pequena multidão ao mausoléu. Desde o final da União Soviética, em 1991, os russos discutem sobre a permanência ou não da múmia de Lênin na Praça Vermelha. Como não poderia deixar de ser, o centenário de morte do líder máximo do Partido Comunista não só trouxe este tema à baila como foi marcado por polêmica. Mais da metade da população russa hoje deseja que a múmia do líder proletário saia da Praça Vermelha e seja enterrada. Conforme números divulgados pelo VCIOM (Centro de Pesquisas de Opinião Pública da Rússia), 33% da população acreditam que o corpo deve se manter onde está, enquanto que 30% desejam que seja “enterrado rapidamente” e 27% apoiam a ideia, mas desejam que o enterro seja realizado “mais tarde”, o que perfaz um total de 57% de pessoas favoráveis à retirada do corpo do mausoléu. Os números da pesquisa foram divulgados poucos dias antes do centenário da morte de Lênin. O deputado Leonid Slutsky, 56 anos, do Partido Liberal Democrata da Rússia, escreveu em seu canal no Telegram: “Minimamente, o descanso do falecido é muito importante para os cristãos e as pessoas civilizadas como ritual de manifestação de respeito à memória. Ao passo que o próprio Lênin gostaria de ser enterrado ao lado de sua mãe. Acho que chegou o tempo de realizarmos o desejo do revolucionário.” Quem não gostou nem um pouco da declaração foi o presidente do comitê do Partido Comunista, Sergei Malinkovich, 48 anos. Ele anunciou que vai pedir à Duma a cassação do mandato de Slutsky, argumentando que sua proposta “incita a discórdia” e está em contradição com o “curso da consolidação da sociedade”, no período da operação militar na Ucrânia. Quando a União Soviética entrou em colapso, a Rússia era a república que liderava o ranking com a maior quantidade de monumentos em homenagem à memória de Lênin (7 mil), seguida pela Ucrânia (5.500). Os dados foram disponibilizados pelo projeto especial “Lenin statues”. Desde 2013, a Ucrânia vem passando por um processo de “descomunização” que consiste na derrubada de estátuas relacionadas à União Soviética e, após a guerra, à Rússia como um todo. Os dados mais atualizados da página, que vão até janeiro de 2021, dão conta de que na Rússia o número de monumentos a Lênin caiu para 6 mil; na Ucrânia, como era de se esperar, a queda foi bem mais significativa: sobraram apenas 350 monumentos. Embora Putin tenha se referido criticamente a Lênin em várias ocasiões, tem acontecido um fenômeno curioso desde o início da guerra com a Ucrânia. Se a derrubada das estátuas do líder bolchevique tornou-se uma espécie de símbolo da libertação, a restauração desses mesmos monumentos tem se constituído em uma marca comum às cidades ucranianas que passaram ao controle russo, como em Mariupol e no distrito municipal de Belokurakinski, na república popular de Lugansk, entre outros. Apesar disto, na página oficial da presidência da República não houve qualquer menção à efeméride. Por ironia do destino, na entrevista coletiva que concede tradicionalmente no final do ano, Putin respondeu à última pergunta – o que o Putin de 2022 diria ao de 2000 – com uma citação de Lênin: “Siga pela estrada certa, camarada!” A relação de Putin com o legado de Lênin é conflituosa. No mesmo encontro anual com a imprensa, em 2019, ao ser instado a avaliá-lo, disse: “Com relação à figura de Lênin na nossa história e, especialmente falando, como eu o avalio, posso dizer que ele não foi um estadista, mas um revolucionário, na minha opinião.” Por sua vez, uma das figuras públicas de maior prestígio que defende ardorosamente o legado de Lênin é o escritor Zakhar Prilepin, 48 anos, um aliado de primeira hora de Putin – tendo sofrido inclusive um atentado terrorista por suas posições pró-Rússia na guerra anti-Ucrânia. Em uma das últimas edições de seu programa de televisão, Lição russa, Zakhar Prilepin destacou a importância de Lênin não apenas na história de seu país como no cenário mundial. “Ele é o russo mais conhecido em todo o mundo.” Ao enumerar sua importância na geopolítica nos dias de hoje, Prilepin falou da citação a Lênin na Constituição da China, de sua influência na Índia, no Vietnam, Cuba e América Latina: “Brasil e Venezuela são governados por socialistas,” avaliou. O Canal 1, a emissora de maior audiência na Rússia, mostrou Lenin, o homem que mudou tudo. O programa foi uma espécie de debate entre, de um lado, o líder comunista Guennadi Ziugánov e, do outro, o deputado pela Rússia Unida, Vyacheslav Nikonov, 67, neto de um quadro histórico do Partido Comunista, Molotov (1890-1986), o mesmo que dá nome ao pacto de não-agressão com o ministro da Alemanha nazista, Ribbentrop, assinado em 1939. Durante o programa, que teve uma hora de duração, Ziugánov e Nikonov manifestaram pontos de vista bem opostos. Um dos momentos de maior tensão foi quando Nikonov fez menção ao ateísmo de Lenin. “O senhor vai negar que ele era ateu?” Ziugánov, por sua vez, como se estivesse esperando por aquela pergunta, leu trechos do discurso do patriarca da igreja ortodoxa por ocasião da morte de Lênin. No programa de notícias da emissora, apresentado na sequência, foi exibida uma reportagem de 13 minutos na qual Lênin foi comparado a um Prometeu que, ao invés de trazer o fogo, levou a eletricidade aos rincões da Rússia agrária. O programa ouviu historiadores que mostraram manuscritos com ordem expressa de Lênin para a execução pública de inimigos. Praticamente todos os veículos da imprensa russa trouxeram reportagens, matérias e artigos relacionados aos 100 anos da morte de Lênin. O tom, como se pode ver pelas manchetes abaixo, foi o mais diversificado possível: Izvestia: “Segredo da preservação do corpo” Argumenty i Fakty: “Por que os bolcheviques mataram parentes de Lênin nos Urais?” e “No mausoléu: um boneco e Lênin em Petersburgo? Mitos e verdade sobre o corpo de Lenin”. Komsomolskaia Pravda: “Familiares queriam congelar o corpo.” Ainda de acordo com a pesquisa do VCIOM, 88% da população russa sabem ou já ouviram falar em Lênin, e 36% avaliam que as ações do líder foram “úteis” para o país. Outros 19% as acharam “ruins”, e 30% acham que houve uma “metade boa e outra ruim.” Será que os jovens na Rússia de hoje dão alguma importância ao legado de Lênin? Na rádio Sputnik, Dmítri Juravlióv, diretor do Instituto de problemas regionais e professor universitário, ao ser perguntado como Lênin é visto pelos jovens estudantes, respondeu que, entre os que defendem as ideias esquerdistas, “os jovens politizados, que gostam de resoluções fáceis, estão mais próximos de Lênin”. E acrescentou: “Para a juventude que procura justiça, mas não sabe onde encontrá-la, Lênin é muito popular.” No andar em que moro reside um destes jovens. Faz alguns meses, ele nomeou sua rede de internet, assim: “Lenin > capitalism”. Mas não era uma rede livre. O acesso estava fechado por senha. 

Astier Basílio é jornalista, escritor e tradutor, mestre em literatura russa pelo Instituto Púchkin e autor de mais de dez livros. 

Leia mais em https://braziljournal.com/100-anos-depois-um-fantasma-ronda-a-russia-o-camarada-lenin-ainda-vive/?utm_source=Brazil+Journal&utm_campaign=87bf697c8a-weekendjournal-0402024-1-_COPY_01&utm_medium=email&utm_term=0_850f0f7afd-87bf697c8a-427950289 .

Embargos Culturais: a coluna de livros de Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy no Conjur

EMBARGOS CULTURAIS: a coluna de livros no Conjur de ARNALDO SAMPAIO DE MORAES GODOY

 https://www.conjur.com.br/colunistas/embargos-culturais/

Imperdível, todos os domingos, para os que gostam de livros, em geral, em especial na conexão com mundo jurídico (mas literário também).

Contei, aproximadamente, 494 ou 496 colunas (13 colunas, cada bloco, em 38 blocos), desde a primeira, abaixo reproduzida, sobre Macbeth, que é de 31 de julho de 2011. Ou seja, dentro de SEIS domingos, ele poderá comemorar 500 colunas (e alguns milhares de livros citados paralelamente). Trata-se de um dos mais vigorosos empreendimentos culturais do e no Brasil, à altura de um Wilson Martins, que publicou sete volumes da História da Inteligência Brasileira, falando, se possível, de todas as obras produzidas no Brasil, ou por brasileiros, desde o século XVI até os anos 1970.

A mais recente, logo abaixo, é de 18 de fevereiro de 2024. Ou seja, neste domingo, 25 de fevereiro, teremos uma nova, a qual acessarei assim que disponível (estamos na madrugada do domingo).

Mas não se trata de apenas uma resenha de UM livro cada domingo. Paralelamente, Arnaldo Godoy cita muitas outras obras. Por exemplo, coloquei as notas remissivas para a sua resenha de Macbeth, ao final desta postagem: 

Começo pelos mais recentes, ou seja, das últimas semanas de 2023 e as primeiras de 2024:

RECENTES:

(...)

Passo agora para o primeiro bloco, o 38. do total, com resenhas desde 2011.

Citações desta primeira coluna sobre Macbeth: 

[1] BRADLEY, A. C., A Tragédia shakespeariana, São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009, p. 255. Tradução de John Russell Brown.

[2] Cf. MOURTHÉ, Claude, Shakespeare, Porto Alegre: L & PM, 2010, p. 164. Tradução de Paulo Neves.

[3] Cf. FREUD, Sigmund, Os Arruinados pelo êxito, in Obras Completas, Rio de Janeiro: Imago, 1999, Volume XIV, pp. 331 e ss. Tradução sob direção de Jayme Salomão.

[4] Cf. HELIODORA, Bárbara, Reflexões shakespearianas, Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2004, pp. 159 e ss.

[5] BORGES, Jorge Luís, Prólogos, com um prólogo de prólogos, São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 193. Tradução de Josely Vianna Baptista.

[6] BLOOM, Harold, Gênio- os 100 autores mais criativos da história da literatura, Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, p. 44. Tradução de José Roberto O´Shea.

[7] Cf. HONAN, Paul, Shakespeare, uma vida, São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 399. Tradução de Sonia Moreira.

[8] Cf. CARBER, Marjorie, cit., loc.cit.

[9] Cf. FREUD, Sigmund, cit., p. 335


Trabalho excepcional, que deveria ser publicado em formato de livro digital, para podermos acessar facilmente as quase 500 colunas produzidas.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 25 de fevereiro de 2024

China, de volta ao seu passado imperial sob o imperador Xi - Carl Minzner (Council on Foreign Affairs)

 Eu já chamava o Xi de imperador desde a sua recondução à liderança total pela segunda vez. No terceiro mandato é evidente que ele é mais imperador do que secretário geral do PCC. PRA

Beijing’s Ideological Pivot Back To the Past

As China turns the page from its reform era, the Chinese Communist Party's official discourse increasingly references the country's imperial past. 
Blog Post by Carl Minzner
Council on Foreign Relations, February 23, 2024 3:42 pm (EST)

https://www.cfr.org/blog/beijings-ideological-pivot-back-past

China’s official discourse is pivoting back to its imperial past. 

Since his rise to power in 2012, Xi Jinping has steadily infused his official speeches and pronouncements with an increasing number of classical Chinese idioms and historical references. Chinese state television now hosts a regular program (平“语”近人——习近平喜欢的典故) in which scholars analyze idioms and references invoked by Xi, helping to interpret classical concepts for the public and tie them to both central Party slogans and China’s current social realities. Naturally, these trends are entirely consistent with the overall direction of Party ideology, including the Party’s 2021 resolution on history, which emphasizes the need to fuse Marxism with China’s “traditional culture.”

Such uses of imperial history are not limited to current officials. After China’s former central bank governor Yi Gang stepped down from his post, his first interview in January 2023 was an extended discursive analysis of Song dynastic paper currency reforms of the late 10th century. For at least one Chinese commentator, such comments read as a careful, coded warning against government overspending and the risk of currency devaluation and inflation.

Interpreting the political rhetoric emanating from Beijing is far from a new problem—particularly as it has regularly shifted over time. During the 1950s and 60s, foreign analysts had to parse abstract Marxist formulations in the People’s Daily for signals as to which cadres had fallen into disrepute, or whether tensions with the Soviet Union were on the rise. With the birth of the reform era in the late 1970s, invocations of Western or Japanese models became de rigueur for officials seeking to promote economic or legal reform.

But the era in which it was politically acceptable to—at least publicly—frame policy proposals in China by direct comparison with desirable foreign models is drawing to a close. And a new one is dawning - one in which the increasingly preferred, and politically correct, framework will be to search China’s own past (including its own imperial and classical heritage) for the proper model or reference point. As current ideological and political trends deepen, it is quite likely that both official Chinese Party pronouncements and what careful, studied criticism of those policies can still exist in Beijing’s ever-stultifying atmosphere will be increasingly cloaked in yet deeper and deeper references to China’s own past. 

For foreign analysts and scholars of China, this will be particularly challenging. It is already hard enough figuring out what is taking place within the black box of Chinese politics, particularly as other sources of information (such as databases of academic articles and court decisions) steadily dry up. Numbers of American college students specializing in Chinese language or studies are declining; those actually studying in China now number only in the hundreds, compared with over 10,000 in the late 2010s. 

Are we really ready for an era in which our ability to appreciate complex debates over Chinese financial policies may hinge on our ability to understand how Song dynastic practices are being invoked in financial circles in Beijing? Or understand whether a given classical Chinese expression that begins to gain traction in military journals is a call for action, or restraint?