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segunda-feira, 11 de março de 2024

Mauro Boianovsky - Fernanda Ravagnani (Revista Pesquisa Fapesp)

 Mauro Boianovsky foi expoente da história do pensamento econômicoEconomista gaúcho se tornou o primeiro latino-americano a presidir a associação internacional da área

Fernanda Ravagnani, da Revista Pesquisa FAPESP

Na aula magna que proferiu em dezembro de 2020, em encontro da Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia (Anpec), Mauro Boianovsky disse entender a economia como uma ciência transnacional, que, a exemplo de tantas outras, transborda fronteiras. O economista gaúcho, que morreu em Brasília no dia 21 de fevereiro, levou essa noção ao pé da letra em sua vida acadêmica. “Era um ‘peixe n’água’ no cenário internacional, tanto por participar das grandes associações quanto por publicar nas melhores revistas de nosso campo”, destaca Mauricio Chalfin Coutinho, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).<p></p><p>Boianovsky se notabilizou em nível mundial na história do pensamento econômico. “Trata-se de uma subárea muito ampla da economia”, observa Laura Valladão de Mattos, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Segundo a pesquisadora, a história do pensamento econômico trata das concepções dos teóricos e da sua gênese, investigando aspectos como o contexto de vida dos autores, seus interlocutores e influências, e de que forma suas propostas ganharam repercussão. “Mauro fazia bastante trabalho de arquivo. Contribuiu muito para a profissionalização da área e foi um modelo para várias gerações acadêmicas de historiadores do pensamento econômico.”</p><p>Nascido em Porto Alegre, em 12 de abril de 1959, Boianovsky se formou em economia pela Universidade de Brasília (UnB), em 1979. Começou a lecionar na Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1984 e na mesma ocasião iniciou o mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), que concluiu em 1989. Cursou o doutorado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, entre 1990 e 1996.</p><p>Suas pesquisas no mestrado e no doutorado se concentraram no trabalho do economista sueco Knut Wicksell (1851-1926), pioneiro em teoria monetária que tratou de preços e taxas de juros, além de ciclos econômicos. A partir de então Boianovsky abordou vários autores, com predileção pela história da macroeconomia e do desenvolvimento econômico. Ao longo da carreira, estudou nomes menos conhecidos, como o próprio Wicksell, em cuja obra se tornou uma das referências mundiais. Mas também se voltou a teóricos renomados, caso do norte-americano Paul Samuelson (1915-2009), vencedor do Nobel de Economia em 1970. “Há pesquisadores da história do pensamento econômico que sabem muito de determinado período ou de um autor. Ele, por sua vez, conseguia dialogar com diferentes épocas e correntes”, constata Felipe Almeida, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).</p><p>Como docente, transferiu-se em 1996 para a UnB, onde se tornou professor titular em 2005. Ali, ministrou as disciplinas de Teoria do Desenvolvimento Econômico e História do Pensamento Econômico. “Na virada do século, quando no Brasil praticamente só se pensava nos clássicos e se discutia pela milionésima vez as ideias de Adam Smith [1723-1790], Mauro foi um dos pesquisadores que chamaram a atenção para a história da produção econômica contemporânea de autores como o norte-americano Robert Lucas [1937-2023]. Ele também passou a discutir a constituição das teorias do crescimento. Isso teve um impacto enorme em nossa área”, conta o economista Ramón Garcia Fernández, da Universidade Federal do ABC (UFABC).</p><p>De acordo com Fernández, nos últimos 15 anos Boianovsky se aprofundou em nomes do cenário latino-americano, com destaque para Celso Furtado (1920-2004), um dos mais importantes economistas brasileiros. “Furtado e o estruturalismo latino-americano já eram temas muito discutidos, mas sem um amplo contexto histórico. E foi exatamente isso o que Mauro trouxe, introduzindo novas perspectivas à interpretação da obra furtadiana”, explica Pedro Garcia Duarte, professor do Insper, de São Paulo. Durante as pesquisas sobre o autor de <em>Formação econômica do Brasil </em>(Fundo de Cultura, 1959), Boianovsky se aventurou, por exemplo, pela seara das ciências sociais para entender a passagem de Furtado pela Universidade Sorbonne, em Paris, na década de 1960, quando foi influenciado pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009) e pelo historiador Fernand Braudel (1902-1985).</p><p>Sua obra acadêmica abrange livros como <em>Transforming modern macroeconomics – Exploring disequilibrium microfoundations, 1956-2003</em> (Cambridge University Press, 2013), que escreveu com o economista britânico Roger Backhouse, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido. Em 2014, o título, ainda inédito no Brasil, foi escolhido como melhor obra do ano pela European Society for the History of Economic Thought (Eshet). Mais tarde, entre 2016 e 2017, Boianovsky presidiu a History of Economics Society (HES), a mais antiga associação da área no mundo, sendo o primeiro latino-americano a ocupar esse posto. Apesar do trânsito no exterior, preferiu viver no Brasil – dizia ter sentido muita falta do país no período em que passou fora, durante o doutorado.</p><p>O economista publicou mais de 80 artigos, a maioria em revistas científicas estrangeiras. Três deles venceram o prêmio Haralambos Simeonides, da Anpec, em 1996, 1998 e 2011. Na mesma premiação, recebeu menção honrosa em 2021 pelo texto em que analisa como uma viagem ao Brasil, em 1973, impactou os discursos do economista norte-americano Milton Friedman (1912-2006), que ganhou o Prêmio Nobel de 1976.</p><p>Nos dois estágios de pós-doutorado, em 2003 e 2015, na Universidade Duke (EUA), Boianovsky se debruçou sobre correspondências e diários de economistas depositados naquela instituição. “Sempre me impressionaram sua capacidade e vontade de investigar as coisas até o fim e o destemor que ele tinha ao criticar monstros sagrados como Samuelson”, lembra Ana Maria Bianchi, professora aposentada da FEA-USP. “Seus trabalhos do começo de carreira são difíceis de ler, por seu estilo bastante técnico, mas sua linguagem se abrandou nos últimos anos, aumentando seu público potencial de leitores.”</p><p>Segundo Daniela Freddo, colega de Boianovsky no Departamento de Economia da UnB, “os olhos dele brilhavam quando contava sobre achados e novas pesquisas; adorava documentos que sinalizavam o nascimento das ideias dos teóricos que estudava e também de participar de congressos”. A despeito das viagens constantes, o economista não gostava de aviões. Em 1996, ele perdeu o pai, o médico David Boianovsky, no acidente com o Fokker 100 da TAM no bairro do Jabaquara, em São Paulo. O pai tinha então 64 anos, era consultor da FEA-USP e estava a caminho de um congresso no Rio de Janeiro.</p><p>De acordo com Coutinho, da Unicamp, o economista sempre foi produtivo, mas nos últimos tempos andava publicando mais. Com Ricardo Bielschowsky, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os dois editaram o compêndio <em>A history of Brazilian economic thought – From colonial times through the early 21st century</em> (Routledge, 2022), também inédito no Brasil.</p><p>Boianovsky tinha por hábito compartilhar seus artigos recém-publicados com amigos e interlocutores. Na última vez, escreveu de forma lacônica que, devido a uma doença grave, “sua expectativa de vida havia se reduzido drasticamente”. Como o pai, o economista morreu aos 64 anos. Foi vítima de um câncer no fígado, descoberto em estágio avançado. Deixa a mãe, Rosa, a companheira, Ana Cristina, os filhos Daniel David e Ilana, além da neta Isabela.</p><br><p>Este texto foi originalmente publicado por <a href='https://revistapesquisa.fapesp.br/'>Pesquisa FAPESP</a> de acordo com a <a href='https://creativecommons.org/licenses/by-nd/4.0/'> licença Creative Commons CC-BY-NC-ND</a>. Leia o <a href='https://revistapesquisa.fapesp.br/mauro-boianovsky-foi-expoente-da-historia-do-pensamento-economico/' target='_blank'>original aqui</a>.</p><script>var img = new Image(); img.src='https://revistapesquisa.fapesp.br/republicacao_frame?id=505448&referer=' + window.location.href;</script>

<p><a href="https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2024/03/rpf-mauro-boianovsky-2024-03-800.jpg"></a></p><div class="alignright generated vertical"><a href="https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2024/03/rpf-mauro-boianovsky-2024-03-800.jpg"><img loading="lazy" width="800" height="835" class="size-full wp-image-505449" src="https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2024/03/rpf-mauro-boianovsky-2024-03-800.jpg" alt="" srcset="https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2024/03/rpf-mauro-boianovsky-2024-03-800.jpg 800w, https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2024/03/rpf-mauro-boianovsky-2024-03-800-250x261.jpg 250w, https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2024/03/rpf-mauro-boianovsky-2024-03-800-700x731.jpg 700w, https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2024/03/rpf-mauro-boianovsky-2024-03-800-120x125.jpg 120w" sizes="(max-width: 800px) 100vw, 800px"><span class="media-credits-inline">Secom UnB</span></a></div>

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Mauro Boianovsky - André Roncaglia

Mauro Boianovsky, embaixador do pensamento econômico brasileiro 

 André Roncaglia* 

Folha de S. Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Em sua obra, economista aliou meticulosidade à sua admirável erudição

No dia 21 de fevereiro de 2024, as ciências sociais brasileiras receberam um golpe triplo: Affonso Celso PastoreLuiz Werneck Vianna e Mauro Boianovsky nos deixaram. Destacarei a obra de Mauro Boianovsky, pela sua importância no campo da história das ideias econômicas.

Figura proeminente, com destacada carreira como professor na Universidade de Brasília, Mauro foi um dos pesquisadores mais influentes do mundo, tendo presidido a History of Economics Society (HES) no biênio 2016-17 e recebido inúmeros prêmios por suas contribuições.

Boianovsky atuou como embaixador do pensamento econômico brasileiro no exterior e enriqueceu o diálogo global sobre a evolução da economia como campo do conhecimento. Sua vasta obra abrange o pensamento econômico brasileiro e as contribuições de economistas de renome internacional, bem como a evolução de teorias econômicas, com destaque para a macroeconomia, em contextos históricos variados.

Sempre meticuloso e com admirável erudição, Boianovsky trouxe à luz as complexidades do estruturalismo latino-americano, explorando a profundidade da visão de Celso Furtado sobre a industrialização e a dependência tecnológica, temas que permanecem relevantes nas discussões sobre desenvolvimento econômico.

Boianovsky também defendeu a prioridade de Mário Henrique Simonsen no entendimento de restrições quantitativas na decisão de consumo (cash-in-advance constraint) e revelou a sofisticação do pensamento de Simonsen sobre política econômica e teoria monetária.

Sua notável habilidade em traçar conexões entre diferentes escolas de pensamento e períodos históricos ampliava nossa compreensão acerca das dinâmicas que moldam as políticas econômicas e teorias ao longo do tempo. Exemplo notório dessa habilidade fica evidente em seu trabalho sobre inflação e estabilização na América Latina, no qual ele combina análise econômica com uma compreensão profunda dos contextos políticos e sociais.

Fui diretamente influenciado pela reconstituição e ressignificação que Mauro fez do pensamento de Knut Wicksell, economista sueco que antecipou em um século o modelo básico de metas de inflação e o conceito de taxa de juros neutra que dominam os debates contemporâneos sobre política monetária.

Seu livro "Transforming modern macroeconomics: exploring disequilibrium microfoundations (1956-2003)", escrito com o pesquisador britânico Roger Backhouse, faz uma magistral reconstrução do pensamento macroeconômico, narrando a busca de fundamentos microeconômicos do desequilíbrio compatíveis com a teoria macroeconômica keynesiana. Esse programa de pesquisa influenciaria a safra de modelos estocásticos dinâmicos usados pelos Bancos Centrais atualmente. O livro foi escolhido pela Sociedade Europeia de História do Pensamento Econômico (ESHET) como a melhor obra de 2013.

Recentemente, Mauro explorou como as viagens de economistas pelo mundo afetaram suas visões sobre a economia e como o contexto do regime militar afetou o debate brasileiro sobre distribuição de renda nos anos 1970 (em parceria com Alexandre Andrada). Organizou com Ricardo Bielschowsky e Maurício Coutinho um compêndio sobre o pensamento econômico brasileiro da era colonial até o século 21, no qual Mauro analisa a formação da comunidade científica em economia no Brasil a partir dos anos 1960.

A obra de Mauro Boianovsky é essencial para qualquer pessoa interessada na evolução do pensamento econômico. Sua partida prematura é uma perda inestimável para o campo da economia.

Deixo esta singela homenagem ao mestre que tanto influenciou toda uma geração de pesquisadores no Brasil e no mundo. Descanse em paz, Mauro.

*Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP

Professor de Economia da UnB e referência no campo de História do Pensamento Econômico, Mauro Boianovsky faleceu nesta quarta-feira (21). 

OBITUÁRIO

MORRE MAURO BOIANOVSKY, PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNB

 

O professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Boianovsky morreu na manhã desta quarta-feira (21), aos 64 anos, em decorrência de câncer. Referência no campo de História do Pensamento Econômico, foi considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo, conforme lista elaborada pela Universidade de Stanford e pelo repositório de dados Elsevier em 2023.

Formado em Economia pela UnB, em 1979, Mauro fez mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e doutorado em Cambridge, na Inglaterra. Era professor titular na Universidade de Brasília, onde lecionava Teoria do Desenvolvimento Econômico, na graduação, e História do Pensamento Econômico na pós-graduação.

Com a morte de Mauro, o Brasil perde duas referências da área da economia no mesmo dia. Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, também morreu nesta quarta-feira.

Durante o doutorado, o professor fez uma tese sobre o pensamento do economista Knut Wicksell e aprendeu sueco para ler os textos originais. “Eu até brincava com o Mauro, comparando-o com Indiana Jones. O que ele fazia era ‘arqueologia econômica’: buscar os textos originais para colocar nuances que eram pouco conhecidas de economistas famosos”, diz José Luís Oreiro, professor de Economia da UnB e colega de Mauro. 

 

Além de ter sido professor na UnB, Mauro Boianovsky também foi presidente da History of Economics Society (HES), um dos mais respeitados fóruns de discussão econômica do mundo, em 2015, sendo o primeiro latino-americano a comandar o órgão. 

“Foi uma grande perda para a Universidade de Brasília e para a linha de pesquisa. Primeiro, porque é uma pessoa com notável conhecimento na área, uma das grandes referências do mundo. Ele era uma pessoa cuja publicação científica era muito importante para o programa de pós-graduação em Economia na Universidade de Brasília. E era especialista em um em um assunto que poucas pessoas têm domínio”, lamenta Oreiro. 

O vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Jorge Arbache, também lamentou o falecimento de Boianovsky. Em postagem no LinkedIn, o economista destacou que o professor era considerado “um dos mais brilhantes autores de todos os tempos” pelos seus pares na linha de pesquisa de História do Pensamento Econômico.

“A obra de Mauro foi imensa e intensa, e muito influente. Mauro recebeu os mais importantes prêmios nacionais e internacionais, era considerado pela academia de escola do pensamento econômico como um dos mais brilhantes autores de todos os tempos, ocupou os mais importantes cargos internacionais na área, e talvez possa ser considerado o economista brasileiro que mais prestígio e influência teve na sua respectiva área em nível internacional”. 

Publicado há poucas semanas atrás, o último artigo do professor, intitulado “Recollections of My Time at the History of Economics Society” (Lembranças do meu tempo na History of Economics Society), é um balanço da produção acadêmica, de sua atuação no órgão e uma espécie de despedida. 


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Morre Mauro Boianovsky, professor de economia da UnB - Pedro Sales (Congresso em Foco)

 Enorme perda. Tenho dezenas de trabalhos dele em meu computador.

Morre Mauro Boianovsky, professor de economia da UnB

Pedro Sales

Congresso em Foco, 21/02/2024

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/morre-mauro-boianovsky-professor-de-economia-da-unb/?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification

O professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Boianovsky morreu na manhã desta quarta-feira (21), aos 64 anos, em decorrência de câncer. Referência no campo de História do Pensamento Econômico, foi considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo, conforme lista elaborada pela Universidade de Stanford e pelo repositório de dados Elsevier em 2023.

Formado em Economia pela UnB, em 1979, Mauro fez mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e doutorado em Cambridge, na Inglaterra. Era professor titular na Universidade de Brasília, onde lecionava Teoria do Desenvolvimento Econômico, na graduação, e História do Pensamento Econômico na pós-graduação.

Com a morte de Mauro, o Brasil perde duas referências da área da economia no mesmo dia. Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, também morreu nesta quarta-feira.


terça-feira, 13 de junho de 2023

A History of Brazilian Economic Thought: livro de Ricardo Bielschowsky, Mauro Boianovsky e Mauricio Coutinho (orgs.) - resenha de Matheus Assaf (FSP)

            Capa do livro A History of Brazilian Economic Thought 


Livro apresenta pensamento econômico do Brasil a estrangeiros

'A History of Brazilian Economic Thought' reúne textos que analisam do período colonial ao passado recente

 

Matheus Assaf

Professor de economia na Fundação Getulio Vargas e doutor em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo

FOLHA DE S. PAULO, 9.jun.2023 às 23h15

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/06/livro-apresenta-pensamento-economico-do-brasil-a-estrangeiros.shtml

 

Editado pelos pesquisadores Ricardo Bielschowsky, da UFRJ, Mauro Boianovsky, da UnB, e Mauricio Coutinho, da Unicamp, "A History of Brazilian Economic Thought" tem a proposta de consolidar em língua inglesa uma ampla investigação da evolução do pensamento econômico no Brasil.

O livro reúne textos de diversos pesquisadores importantes no tema, incluindo os editores, analisando do período colonial ao passado recente —como buscam uma audiência internacional, os textos são didáticos sobre as particularidades brasileiras.

Resumo brevemente alguns dos tópicos discutidos. O primeiro capítulo aborda a segunda metade do século 20, com a criação dos primeiros cursos de pós-graduação em economia e o surgimento de uma comunidade acadêmica de economistas. Suas contribuições científicas estão relacionadas aos desafios econômicos brasileiros e à própria história de sua formação. A questão do subdesenvolvimento motivou as primeiras investigações científicas em economia por brasileiros —notavelmente, o trabalho de Celso Furtado. 

Já em meio à crise inflacionária da década de 1980, o trabalho se direciona a questões de estabilização monetária. A indexação foi uma particularidade do sistema brasileiro que chamou a atenção de economistas, e teorias sobre inflação inercial e como estabilizar a economia brasileira foram intensamente debatidas.

As contribuições acadêmicas dos economistas também foram moldadas pelo particular pluralismo metodológico das instituições de ensino no Brasil —o conhecido embate entre "ortodoxos" e "heterodoxos". Desta forma, há importantes contribuições de brasileiros tanto na teoria econômica tradicional quanto em abordagens e tópicos alternativos.

No primeiro caso, o autor destaca o trabalho de Aloisio Araujo, José Scheinkman e Marilda Sotomayor —todos com passagem pelo Impa, uma instituição dedicada principalmente à matemática. Entre os heterodoxos, há brasileiros com contribuições fundamentais para a teoria pós-keynesiana, como Fernando Cardim de Carvalho. Também há relevante presença na comunidade internacional de outras áreas como metodologia da economia e a própria história do pensamento econômico.

Se economistas acadêmicos no Brasil são um produto da segunda metade do século 20, problemas de ordem econômica sempre estiveram presentes no país, assim como indivíduos enfrentando essas questões.

No período colonial, o livro explora visões sobre como a colônia poderia servir economicamente ao império português (do padre Antônio Vieira no século 16, até Sousa Coutinho no fim do século 18).

No século 19, a questão do trabalho escravo foi central. Abolicionistas como André Rebouças precisaram imaginar como reformular uma economia dependente de tal instituição perversa. Neste período em que a economia dependia da exportação de produtos agrários, principalmente o café, debates monetários estiveram centrados na questão cambial, e a discussão entre papelistas e metalistas é analisada.

Visões sobre a política comercial também são exploradas, desde o período imperial. Embora alguns influentes autores tenham importado ideias de abertura comercial do liberalismo europeu (como o visconde de Cairu e Tavares Bastos), políticas protecionistas foram defendidas e implementadas por políticos como Manuel Alves Branco, Rodrigues Torres e Carneiro Leão. O livro também mostra que na República Velha, usualmente associada à defesa do café, já havia debates sobre a proteção da indústria nacional.

Já no "período desenvolvimentista" (1930-80) não havia entre os brasileiros uma corrente única de pensamento, mas uma variedade de visões sobre o desenvolvimento. Além da comunidade ligada às teses de desenvolvimento da Cepal, também havia grupos com inspirações liberais e marxistas. Esta diversidade de pensamento se concretiza na formação das instituições acadêmicas plurais nas décadas de 1960 e 1970.

"A History of Brazilian Economic Thought" cumpre o objetivo de apresentar esse panorama de forma ampla. A quantidade de informação pode sobrecarregar o leitor leigo, mas a leitura não exige grande conhecimento técnico prévio. Os capítulos formam textos independentes e seguem tópicos e períodos bem definidos, podendo assim o leitor dedicar mais atenção a assuntos de interesse específico.

A HISTORY OF BRAZILIAN ECONOMIC THOUGHT: FROM COLONIAL TIMES THROUGH THE EARLY 21ST CENTURY

Preço: US$ 42 (ebook importado)

Autoria: Ricardo Bielschowsky, Mauro Boianovsky e Mauricio Coutinho (orgs.)

Editora: Routledge, 268 págs.


This book provides a comprehensive analysis of the evolution of Brazilian economic thought ranging from colonial times through to the early 21st century. It explores the production of ideas on the Brazilian economy through various forms of publication and contemporary thoughts on economic contexts and development policies, all closely reflecting the evolution of economic history.

After an editorial introduction, it opens with a discussion of the issue of the historical limits to and circumstances of the production of pure economic theory by Brazilian economists. The proceeding chapters follow the classical periodization of Brazilian economic history, starting with the colonial economy (up until the early 19th century) and the transition into an economy independent from Portugal (1808 through the 1830s) when formal independence took place in 1822. The third part deals with the "coffee era" (1840s to 1930s). The last part covers the "developmentalist" and "globalization" eras (1930–2010).

Chapter 1|5 pages

Editorial introduction

ByRicardo Bielschowsky, Mauro Boianovsky, Mauricio C. Coutinho

Part 1|32 pages

Contributions to economic theory

Chapter 2|30 pages

Contributions to economics from the "periphery" in historical perspective

The case of Brazil after mid-20th century
ByMauro Boianovsky

Part 2|47 pages

Colonial and early post-colonial periods

Chapter 3|24 pages

Sugar, slaves and gold

The political economy of the Portuguese colonial empire in the 17th and 18th centuries *
ByJosé Luís Cardoso

Chapter 4|21 pages

The transition to a post-colonial economy

ByMauricio C. Coutinho

Part 3|68 pages

The "coffee era"

Chapter 5|21 pages

Economic ideas about slavery and free labor in the 19th century 1

ByAmaury Patrick Gremaud, Renato Leite Marcondes

Chapter 6|22 pages

Debating money in Brazil, 1850s to 1930

ByAndré A. Villela

Chapter 7|23 pages

Industrial development and government protection

Issues and controversies, circa 1840–1930
ByFlávio Rabelo Versiani

Part 4|92 pages

The "developmentalist" and the "globalization" eras

Chapter 8|52 pages

Brazilian economic thought in the "developmentalist era": 1930–1980

ByRicardo Bielschowsky, Carlos Mussi

Chapter 9|38 pages

The end of developmentalism, the globalization era and the concern with income distribution (1981–2010)

ByEduardo F. Bastian, Carlos Pinkusfeld Bastos