Capa do livro A History of Brazilian Economic Thought
Livro apresenta pensamento econômico do Brasil a estrangeiros
'A History of Brazilian Economic Thought' reúne textos que analisam do período colonial ao passado recente
Matheus Assaf
Professor de economia na Fundação Getulio Vargas e doutor em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo
FOLHA DE S. PAULO, 9.jun.2023 às 23h15
Editado pelos pesquisadores Ricardo Bielschowsky, da UFRJ, Mauro Boianovsky, da UnB, e Mauricio Coutinho, da Unicamp, "A History of Brazilian Economic Thought" tem a proposta de consolidar em língua inglesa uma ampla investigação da evolução do pensamento econômico no Brasil.
O livro reúne textos de diversos pesquisadores importantes no tema, incluindo os editores, analisando do período colonial ao passado recente —como buscam uma audiência internacional, os textos são didáticos sobre as particularidades brasileiras.
Resumo brevemente alguns dos tópicos discutidos. O primeiro capítulo aborda a segunda metade do século 20, com a criação dos primeiros cursos de pós-graduação em economia e o surgimento de uma comunidade acadêmica de economistas. Suas contribuições científicas estão relacionadas aos desafios econômicos brasileiros e à própria história de sua formação. A questão do subdesenvolvimento motivou as primeiras investigações científicas em economia por brasileiros —notavelmente, o trabalho de Celso Furtado.
Já em meio à crise inflacionária da década de 1980, o trabalho se direciona a questões de estabilização monetária. A indexação foi uma particularidade do sistema brasileiro que chamou a atenção de economistas, e teorias sobre inflação inercial e como estabilizar a economia brasileira foram intensamente debatidas.
As contribuições acadêmicas dos economistas também foram moldadas pelo particular pluralismo metodológico das instituições de ensino no Brasil —o conhecido embate entre "ortodoxos" e "heterodoxos". Desta forma, há importantes contribuições de brasileiros tanto na teoria econômica tradicional quanto em abordagens e tópicos alternativos.
No primeiro caso, o autor destaca o trabalho de Aloisio Araujo, José Scheinkman e Marilda Sotomayor —todos com passagem pelo Impa, uma instituição dedicada principalmente à matemática. Entre os heterodoxos, há brasileiros com contribuições fundamentais para a teoria pós-keynesiana, como Fernando Cardim de Carvalho. Também há relevante presença na comunidade internacional de outras áreas como metodologia da economia e a própria história do pensamento econômico.
Se economistas acadêmicos no Brasil são um produto da segunda metade do século 20, problemas de ordem econômica sempre estiveram presentes no país, assim como indivíduos enfrentando essas questões.
No período colonial, o livro explora visões sobre como a colônia poderia servir economicamente ao império português (do padre Antônio Vieira no século 16, até Sousa Coutinho no fim do século 18).
No século 19, a questão do trabalho escravo foi central. Abolicionistas como André Rebouças precisaram imaginar como reformular uma economia dependente de tal instituição perversa. Neste período em que a economia dependia da exportação de produtos agrários, principalmente o café, debates monetários estiveram centrados na questão cambial, e a discussão entre papelistas e metalistas é analisada.
Visões sobre a política comercial também são exploradas, desde o período imperial. Embora alguns influentes autores tenham importado ideias de abertura comercial do liberalismo europeu (como o visconde de Cairu e Tavares Bastos), políticas protecionistas foram defendidas e implementadas por políticos como Manuel Alves Branco, Rodrigues Torres e Carneiro Leão. O livro também mostra que na República Velha, usualmente associada à defesa do café, já havia debates sobre a proteção da indústria nacional.
Já no "período desenvolvimentista" (1930-80) não havia entre os brasileiros uma corrente única de pensamento, mas uma variedade de visões sobre o desenvolvimento. Além da comunidade ligada às teses de desenvolvimento da Cepal, também havia grupos com inspirações liberais e marxistas. Esta diversidade de pensamento se concretiza na formação das instituições acadêmicas plurais nas décadas de 1960 e 1970.
"A History of Brazilian Economic Thought" cumpre o objetivo de apresentar esse panorama de forma ampla. A quantidade de informação pode sobrecarregar o leitor leigo, mas a leitura não exige grande conhecimento técnico prévio. Os capítulos formam textos independentes e seguem tópicos e períodos bem definidos, podendo assim o leitor dedicar mais atenção a assuntos de interesse específico.
A HISTORY OF BRAZILIAN ECONOMIC THOUGHT: FROM COLONIAL TIMES THROUGH THE EARLY 21ST CENTURY
This book provides a comprehensive analysis of the evolution of Brazilian economic thought ranging from colonial times through to the early 21st century. It explores the production of ideas on the Brazilian economy through various forms of publication and contemporary thoughts on economic contexts and development policies, all closely reflecting the evolution of economic history.
After an editorial introduction, it opens with a discussion of the issue of the historical limits to and circumstances of the production of pure economic theory by Brazilian economists. The proceeding chapters follow the classical periodization of Brazilian economic history, starting with the colonial economy (up until the early 19th century) and the transition into an economy independent from Portugal (1808 through the 1830s) when formal independence took place in 1822. The third part deals with the "coffee era" (1840s to 1930s). The last part covers the "developmentalist" and "globalization" eras (1930–2010).
TABLE OF CONTENTS
Part 1|32 pages
Contributions to economic theory
Chapter 2|30 pages
Contributions to economics from the "periphery" in historical perspective
Part 2|47 pages
Colonial and early post-colonial periods
Chapter 3|24 pages
Sugar, slaves and gold
Part 3|68 pages
The "coffee era"
Chapter 7|23 pages
Industrial development and government protection
Part 4|92 pages
The "developmentalist" and the "globalization" eras
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