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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Ex-presidente do BC e economista rigoroso, Pastore morre aos 84 anos - Sergio Lamucci (Valor)

Ex-presidente do BC e economista rigoroso, Pastore morre aos 84 anos

Memória Colegas destacam rigor teórico sempre presente e criteriosa análise de dados

Sergio Lamucci - De São Paulo

Valor Econômico, 22/02/2024

 

O economista Affonso Celso Pastore morreu na madrugada da quarta-feira, aos 84 anos. Ex-presidente do Banco Central (BC) e ex-secretário da Fazenda de São Paulo, Pastore passou por uma cirurgia no sábado no Hospital Albert Einstein, após sofrer um acidente vascular na perna, ficando desde então na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Admirado por várias gerações de economistas, Pastore se destacou pelo rigor e pelo apreço à evidência empírica em seus estudos e análises. A sua vida e obra foram "um exemplo emblemático da linha de pesquisa baseada no rigor teórico e, principalmente, na busca incessante de uma análise criteriosa dos dados", como escrevem llan Goldfajn, hoje presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e o jornalista Fernando Dantas no prefácio do livro "A Economia com Rigor - Homenagem a Affonso Celso Pastore". 

Para Ilan, também ex-presidente do BC, Pastore foi "o maior expoente e promotor do foco na ciência para a análise de políticas econômicas" no Brasil, no uso da evidência para se avaliar, aprender e implementar políticas e reformas que venham a beneficiar as sociedades. . "Nas décadas seguintes, dedicou-se a temas da macroeconomia como a política cambial e a inflação." A primeira posição de maior destaque de Pastore no setor público ocorreu quando se tornou secretário da Fazenda paulista, entre 1979 e 1983, nos governos de Paulo Maluf e José Maria Marin. Mas o maior desafio veio no BC, instituição que comandou entre setembro de 1983 e março de 1985. "Eu estava no meio de uma aula quando veio um telefonema. Era do Delfim [Netto]. Ele me disse que o [Ernane] Galvêas [então ministro da Fazenda] ia me ligar e me convidar para ser o presidente do Banco Central. "Você tem meia hora para pensar a resposta, se vai aceitar ou não." Meia hora depois ligou o Galvêas.", disse Pastore, em entrevista publicada no livro "A Economia com Rigor".

"Acabei tendo um fim de semana para pensar, falar com a família, ver o que eu fazia e o que não fazia, conversar com Delfim e Galvêas, pensar bem qual era o tamanho da encrenca. Na segunda-feira eu disse sim e fui." Pastore conta que assumiu o BC com reservas em caixa negativas e centralização cambial, dando uma medida da dificuldade da situação.

No ano anterior, o Brasil havia Como economista, Pastore acumulou grande produção intelectual. Foi professor na Faculdade de Economia e Administração da USP, onde se graduou em 1961. Concluiu o doutorado também na FEA-USP, em 1969. No fim dos anos 90 e começo dos anos 2000, deu aulas na Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV EPGE). "Não consigo trabalhar sem conteúdo empírico. Para fazer análise econômica, é preciso testar hipóteses. O critério de demarcação da ciência é: a proposição tem que ser testável", disse em entrevista para o livro "Conversas com Economistas".

Um resumo em sequência histórica do trabalho de Pastore na busca de evidências empíricas na área preferencial que adotou está no livro "Inflação e Crises - O Papel da Moeda" (Elsevier). São oito capítulos, que vêm da tentativa de estabilização na época do regime militar, em 1964, e chegam ao fracasso da chamada "nova matriz" de política macroeconômica, nos quais ele acompanha o desenrolar do processo inflacionário no contexto de políticas econômicas adotadas (em quatro capítulos, sua mulher, Maria Cristina Pinotti, é coautora). Quando o livro foi publicado, em 2015, haviam se passado 46 anos desde a conclusão de seu doutorado e a defesa da tese "A Resposta da Produção Agrícola aos Preços no Brasil".

Num dos artigos do livro "A Economia com Rigor", Samuel Pessoa, do FGV Ibre e chefe de pesquisa do Julius Baer Brasil, e Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, observam que Pastore começou estudando temas da microeconomia, como o impacto dos suspendido o pagamento aos credores internacionais e instituir a controles cambiais, na esteira da moratória do México, declarada em 1982. À sobrecarga dos aumentos dos preços do petróleo somavam-se os efeitos da elevação dos juros internacionais provocada pela alta das taxas efetivada nos Estados Unidos para conter a inflação. O Brasil já vivia, desde antes, os prenúncios de uma crise

Economistas e autoridades lamentaram a morte de Affonso Celso Pastore, destacando a importância dos seus estudos para a economia brasileira, a capacidade e curiosidade intelectual e a sua atuação em cargos públicos, como a presidência do Banco Central e a secretária da Fazenda paulista.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que Pastore sempre defendeu a autonomia da instituição e outros projetos do órgão. O economista, segundo Campos Neto, se dizia apaixonado pelo BC e que sempre atuaria em defesa da autoridade monetária.

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, também ex-presidente do BC, destacou a "perda enorme" para o pensamento econômico brasileiro. "Convivemos em diversos ciclos ao longo dos anos sempre com troca de ideias interessantes, férteis, criativas e profundas. Era economista de nível elevadíssimo e sinto a perda de um grande amigo." Incansável, detentor de rigor analítico e técnico invejável, descreveu a economista Zeina Latif, ao falar de seu orientador no mestrado e doutorado. "Os economistas não têm bola de cristal, não acertam todos os cenários. O que os economistas fazem é usar rigor analítico, ter cuidado em olhar os dados e reconhecer quando está errado. Pastore reunia tudo isso." Ela lembrou que, em sua dissertação de mestrado, sobre economia monetária e inflação, uma parte do trabalho era percorrer o histórico e levantar dados. "Quando Pastore leu sobre o período em que ele esteve no Banco Central, estávamos conversando e ele me disse: Zeina, você não precisa me defender. Porque tudo o que estudamos agora não estava disponível na época", lembrou a economista. ""Achei simbólico. Em nenhum momento ele tentou suavizar aquele período e eventuais erros cometidos." 

Para Vinícius Carrasco, professor da PUC-Rio, Pastore foi um dos maiores economistas que o Brasil teve. "De umas três gerações anteriores à minha, era impressionante sua busca, ainda nos dias de hoje, em estar na fronteira do que se produzia na profissão, seja em macro, seja em outras áreas", disse Carrasco, destacando que o interesse por infraestrutura de Pastore o levou a estudar incentivos e leilões. "O jeito duro escondia uma pessoa generosa e delicada. Fará enorme falta." 

Também ex-presidente do BC, Gustavo Loyola disse que Pastore buscou de forma incansável a autonomia da autoridade monetária. "Pastore foi um dos mais destacados economistas brasileiros. Sua contribuição foi excepcional em todos os campos em que atuou: na academia, no setor público, como consultor e formador de opinião." 

A mistura impressionante de paixão e experiência de décadas no debate econômico era uma das facetas mais impressionantes de Pastore, ressaltou Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. "O que sempre me impressionou em Pastore era que ele participava de forma apaixonada nos debates econômicos, com o vigor de um professor de economia de 30 anos de idade, mas com o benefício da experiência dele de décadas. Esse amor pelo bom debate e pela boa análise econômica deixava todos impressionados", disse o ex-secretário do Tesouro Nacional, destacando a "contribuição fundamental" de Pastore no CDPP. Lá, recorda Mansueto, ele discutia Economistas e autoridades lamentaram a morte de Affonso Celso Pastore, destacando a importância dos seus estudos para a economia brasileira, a capacidade e curiosidade intelectual e a sua atuação em cargos públicos, como a presidência do Banco Central e a secretária da Fazenda paulista.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que Pastore sempre defendeu a autonomia da instituição e outros projetos do órgão. O economista, segundo Campos Neto, se dizia apaixonado pelo BC e que sempre atuaria em defesa da autoridade monetária.

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, também ex-presidente do BC, destacou a "perda enorme" para o pensamento econômico brasileiro. "Convivemos em diversos ciclos ao longo dos anos sempre com troca de ideias interessantes, férteis, criativas e profundas. Era economista de nível elevadíssimo e sinto a perda de um grande amigo." Incansável, detentor de rigor analítico e técnico invejável, descreveu a economista Zeina Latif, ao falar de seu orientador no mestrado e doutorado. "Os economistas não têm bola de cristal, não acertam todos os cenários. O que os economistas fazem é usar rigor analítico, ter cuidado em olhar os dados e reconhecer quando está errado. Pastore reunia tudo isso." Ela lembrou que, em sua dissertação de mestrado, sobre economia monetária e inflação, uma parte do trabalho era percorrer o histórico e levantar dados. "Quando Pastore leu sobre o período em que ele esteve no Banco Central, estávamos conversando e ele me disse: Zeina, você não precisa me defender. Porque tudo o que estudamos agora não estava disponível na época", lembrou a economista. ""Achei simbólico. Em nenhum momento ele tentou suavizar aquele período e eventuais erros cometidos." 

Para Vinícius Carrasco, professor da PUC-Rio, Pastore foi um dos maiores economistas que o Brasil teve. "De umas três gerações anteriores à minha, era impressionante sua busca, ainda nos dias de hoje, em estar na fronteira do que se produzia na profissão, seja em macro, seja em outras áreas", disse Carrasco, destacando que o interesse por infraestrutura de Pastore o levou a estudar incentivos e leilões. "O jeito duro escondia uma pessoa generosa e delicada. Fará enorme falta." 

Também ex-presidente do BC, Gustavo Loyola disse que Pastore buscou de forma incansável a autonomia da autoridade monetária. "Pastore foi um dos mais destacados economistas brasileiros. Sua contribuição foi excepcional em todos os campos em que atuou: na academia, no setor público, como consultor e formador de opinião." 

A mistura impressionante de paixão e experiência de décadas no debate econômico era uma das facetas mais impressionantes de Pastore, ressaltou Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. "O que sempre me impressionou em Pastore era que ele participava de forma apaixonada nos debates econômicos, com o vigor de um professor de economia de 30 anos de idade, mas com o benefício da experiência dele de décadas. Esse amor pelo bom debate e pela boa análise econômica deixava todos impressionados", disse o ex-secretário do Tesouro Nacional, destacando a "contribuição fundamental" de Pastore no CDPP. Lá, recorda Mansueto, ele discutia

temas que iam de educação a política monetária e ajuste fiscal "de forma super empolgada". "Pastore era muito admirado. Foi uma pessoa muito importante na comunidade acadêmica e na formação de várias pessoas. O que ele escrevia todo mundo lia e todos queriam saber da sua visão." 

O CDPP lamentou a morte de Pastore, o primeiro presidente do centro de estudos. "Ele foi presidente do BC e se tomou um intelectual público na melhor acepção do termo: engajado em debates nos mais variados fóruns, capaz de traduzir a teoria econômica para o grande público, aberto a novas ideias, mas sem jamais abrir mão da coerência e do rigor acadêmico. Impressionava a todos que o conheciam pela firmeza de opiniões e retidão moral." Pesquisador associado do Insper, Marcos Mendes afirmou que Pastore foi "mestre e referência" de sua geração de economistas. "Grande contribuição como acadêmico de destaque, presidente do BC e coordenador do CDPP. Muita honra ter podido aprender e debater com ele."

O tema de Pastore era o Brasil, diz Lisboa

Para o economista Marcos Lisboa, o tema do ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore era o Brasil. "Usando ciência, ele queria entender o tamanho do problema. O que a evidência empírica tem a dar para nós, para nós entendermos o Brasil e ajudar", afirmou ele, ao falar sobre o economista, que morreu ontem. "Esse tema motivava o Affonso e dava também a irritação dele para quem não tinha olhado dados, quem não conhecia a evidência. Ele era um garoto, profundamente interessado no assunto." Ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, Lisboa disse que "quem dominava o Affonso eram os dados, a evidência". Segundo ele, Pastore era duro porque respeitava a técnica e a evidência disponíveis. Nesse quadro, o ex-presidente do BC não era dogmático. "Se a evidência mudava, o Affonso mudava de opinião." Lisboa também ressaltou o aspecto ético do economista, sobre quem não há nenhuma "história confusa". "Ele era ético e, para ele, a ética se aplicava à vida privada e à ciência - o que a ciência tem a dizer, o que os dados têm a dizer sobre o assunto." Lisboa observa que, em seu último livro, Pastore "vai atrás do que afirmou há 50 anos e vai testar as hipóteses, ver o que sobrevive aos dados e o que não sobrevive".

Num dos artigos publicados no livro "A Economia com Rigor-Homenagem a Affonso Celso Pastore", Lisboa escreve: "Tenho por Affonso respeito e admiração. O professor grandalhão, com bigode curto e ética impecável, não para de estudar, não desiste do Brasil e não foge do debate. Fui seu aluno tardio. Pastore me ensinou, por meio do seu exemplo, o que se espera de quem anseia ter o privilégio de servir ao público".

Obituário e homenagem a Mauro Boianovsky, distinguido professor e pesquisador de história econômica; morte de Affonso Celso Pastore (FSP)

Recebido de Maurício David. Devo dizer que eu era amigo de Mauro e frequentemente eu lhe emprestava livros, retirados em meu nome, da biblioteca do Itamaraty, que ele não encontrava na biblioteca da UnB. A matéria da FSP,  mais abaixo, também traz homenagens ao economista Affonso Celso Pastore, com quem me correspondi no passado. (PRA)


Professor de Economia da UnB e referência no campo de História do Pensamento Econômico, Mauro Boianovsky faleceu nesta quarta-feira (21). 

OBITUÁRIO

MORRE MAURO BOIANOVSKY, PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNB

 

O professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Boianovsky morreu na manhã desta quarta-feira (21), aos 64 anos, em decorrência de câncer. Referência no campo de História do Pensamento Econômico, foi considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo, conforme lista elaborada pela Universidade de Stanford e pelo repositório de dados Elsevier em 2023.

Formado em Economia pela UnB, em 1979, Mauro fez mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e doutorado em Cambridge, na Inglaterra. Era professor titular na Universidade de Brasília, onde lecionava Teoria do Desenvolvimento Econômico, na graduação, e História do Pensamento Econômico na pós-graduação.

Com a morte de Mauro, o Brasil perde duas referências da área da economia no mesmo dia. Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, também morreu nesta quarta-feira.

Durante o doutorado, o professor fez uma tese sobre o pensamento do economista Knut Wicksell e aprendeu sueco para ler os textos originais. “Eu até brincava com o Mauro, comparando-o com Indiana Jones. O que ele fazia era ‘arqueologia econômica’: buscar os textos originais para colocar nuances que eram pouco conhecidas de economistas famosos”, diz José Luís Oreiro, professor de Economia da UnB e colega de Mauro. 

 

Além de ter sido professor na UnB, Mauro Boianovsky também foi presidente da History of Economics Society (HES), um dos mais respeitados fóruns de discussão econômica do mundo, em 2015, sendo o primeiro latino-americano a comandar o órgão. 

“Foi uma grande perda para a Universidade de Brasília e para a linha de pesquisa. Primeiro, porque é uma pessoa com notável conhecimento na área, uma das grandes referências do mundo. Ele era uma pessoa cuja publicação científica era muito importante para o programa de pós-graduação em Economia na Universidade de Brasília. E era especialista em um em um assunto que poucas pessoas têm domínio”, lamenta Oreiro. 

O vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Jorge Arbache, também lamentou o falecimento de Boianovsky. Em postagem no LinkedIn, o economista destacou que o professor era considerado “um dos mais brilhantes autores de todos os tempos” pelos seus pares na linha de pesquisa de História do Pensamento Econômico.

“A obra de Mauro foi imensa e intensa, e muito influente. Mauro recebeu os mais importantes prêmios nacionais e internacionais, era considerado pela academia de escola do pensamento econômico como um dos mais brilhantes autores de todos os tempos, ocupou os mais importantes cargos internacionais na área, e talvez possa ser considerado o economista brasileiro que mais prestígio e influência teve na sua respectiva área em nível internacional”. 

Publicado há poucas semanas atrás, o último artigo do professor, intitulado “Recollections of My Time at the History of Economics Society” (Lembranças do meu tempo na History of Economics Society), é um balanço da produção acadêmica, de sua atuação no órgão e uma espécie de despedida. 

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No arquivo anexo com a Folha de São Paulo de hoje, se poderá ler o material publicado pelo jornal paulista sobre o perfil intelectual do professor Boianovsky.

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Morre o economista Mauro Boianovsky, referência em história do pensamento econômico 

Acadêmico atuou até o ano passado como professor titular da UnB, lecionando a disciplina na qual se especializou. 

Júlia Moura

São Paulo

Morreu na madrugada desta quarta-feira (21) o economista Mauro Boianovsky, 64. Professor da UnB (Universidade de Brasília), ele era um dos principais teóricos sobre o pensamento econômico.

Boianovsky se formou em economia pela UnB e obteve mestrado na mesma área pela PUC do Rio de Janeiro (1989). Ele também era doutor em economia pela Universidade de Cambridge e PhD pela Universidade de Duke.

O economista atuou até o ano passado como professor titular da UnB, lecionando a disciplina história do pensamento econômico, assunto no qual se especializou. Também tinha experiência nas áreas de macroeconomia, teoria monetária, crescimento e desenvolvimento econômico e desemprego.

Boianovsky teve diversos trabalhos premiados. Em 2007, por exemplo, um artigo sobre a teoria econômica de Don Patinkin —economista monetário israelense— foi premiado pela History of Economics Society, entidade que reúne pesquisadores de diversos países, com foco nas discussões sobre a história do pensamento econômico.

Em 2011, ele foi laureado pela Anpec (Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia) por um artigo acadêmico sobre Celso Furtado.

Quatro anos depois, foi eleito presidente da History of Economics Society para o mandato de um ano, sendo o primeiro latino-americano a chefiar o órgão, com sede nos Estados Unidos.

Boianovsky também escreveu diversos livros em parceria com colegas pesquisadores, como "Celso Furtado e os 60 anos de Formação Econômica do Brasil" e o mais recente, "A History of Brazilian Economic Thought".

O acadêmico estava com câncer no fígado em estágio avançado. Ele deixa dois filhos, Ilana e Daniel David e uma neta, Isabela. O sepultamento aconteceu às 16h30 desta quarta, no Cemitério Israelita de Brasília. Não houve velório.

 

Para o mestre, com carinho 

A verdade é que Affonso Pastore foi embora cedo, considerando tudo o que podia e queria compartilhar 

Alexandre Schwartsman 

Judeu, é doutor em economia (Universidade da Califórnia, Berkeley) e ex-diretor do Banco Central

Soube há pouco da morte do Affonso Pastore. Avisei algumas pessoas e várias me responderam, além da tristeza, com "falei com ele há uma semana", "teria reunião semana que vem" e assemelhados.

Apenas isto já seria uma homenagem ao mestre. 84 anos (estive nas comemorações dos 80) e ativo como nunca. Não só com clientes, mas nos presenteando semanalmente com sua análise clara e contundente.

Engraçado, nunca fui formalmente aluno dele. Fiz boa parte do curso à noite, e não posso reproduzir aqui o que ele disse certa vez sobre a possibilidade de ser escalado para o noturno.

Mas sou obviamente um discípulo. Sempre foi meu modelo como economista: rigoroso analiticamente, cuidadoso com dados e estatísticas; sincero como poucos.

E generoso! Comigo e com muitos outros. Quando me tornei consultor (supostamente concorrente, hahaha), não hesitou em me ajudar.

Não há espaço aqui para listar suas enormes contribuições à análise econômica. Recomendo 3 livros. Dele mesmo, "Inflação e Crises", uma história monetária do Brasil nos últimos 60 e tantos anos; "Erros do Passado: Soluções para o Futuro", uma revista aos temas de sua carreira.

E, claro, "A Economia com Rigor", coletânea em homenagem ao mestre organizado por Ilan Goldfajn e Fernando Dantas, um belo apanhado das contribuições do Pastore.

Tive a felicidade de tê-lo também como amigo. Jantamos nós quatro no final do ano passado. Estava bem, mais magro, alguma dificuldade para caminhar por conta de uma cirurgia. E lúcido, agudo e atento, com planos para o futuro!

A verdade é que foi embora cedo, considerando tudo o que podia e queria compartilhar. Vai fazer (já faz!) uma falta imensa.

Deixo aqui uns versos que me parecem apropriados.

"Naquela mesa está faltando ele/E a saudade dele está doendo em mim."

 

Affonso Pastore, um economista na periferia 

Ele era aplicado, enfatizava a evidência empírica, sabia teoria e produzia teoria 


Samuel Pessôa 

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Officy (JBFO). É doutor em economia pela USP​ 

Pastore pertence a uma tradição de profissionais de economia que nasceu com Eugênio Gudin e passou por Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto. São profissionais formados no Brasil, que formaram muitas gerações de economistas, estudaram com cuidado a nossa economia e profissionalmente conciliaram vida na academia, no setor privado, no serviço público e mantiveram por anos colaboração regular na imprensa.

A contribuição intelectual de Pastore tinha duas características. Primeira, Pastore era um economista aplicado cujo foco eram problemas brasileiros. Se especializou por inflação pois era o problema que estava dado. Pastore, sem nenhuma pieguice, era patriota. Nosso subdesenvolvimento era o seu tema.

A segunda característica de Pastore era a ênfase na evidência empírica. Pastore olhava muito os dados e gastava muita energia levantando os dados. Sabia teoria e produzia teoria. Mas a ênfase era a empírica. A teoria organizava os dados. Mas a palavra final era da evidência empírica.

Há pelo menos três contribuições importantes de Pastore. Na tese de doutoramento ele testou a conjectura do pensamento estruturalista de que a oferta de bens agrícolas não respondia aos incentivos de preços. Acreditava-se que a concentração da propriedade da terra impedia que houvesse a resposta da oferta. Pastore mostrou que nada havia de diferente com a agricultura brasileira. Encontrou algum suporte para a tese estruturalista somente na região Nordeste.

Na sua tese de livre docência Pastore documenta —a partir de um levantamento de dados meticulosíssimo— que a desinflação que ocorreu nos primeiros anos da ditadura militar coincidiu com alteração na forma de financiamento do déficit público. Se na virada dos anos 1950 para os anos 1960 a expansão monetária financiava o déficit público, no período posterior ela financiava a acumulação de reservas. Havia relação entre a desinflação no período e a mudança do regime de política econômica.

Um trabalho inconcluso foi seu artigo teórico "Inflação e expectativas com a política monetária em uma regra de taxa de juros", publicado na Revista Brasileira de Economia em 1990.

Após a saída dos EUA da convertibilidade do dólar em ouro as economias passaram a operar em um regime de moeda fiduciária. Não valia mais o padrão ouro. Moeda era papel pintado. Qual era a governança de um regime monetário de moeda fiduciária? A resposta foi uma regra de fixação de juros em que os juros crescem a uma velocidade maior do que a diferença da inflação da meta inflacionária. Essa regra simples foi derivada por John Taylor. Pastore em seu artigo na RBE chegou perto de independentemente derivar a regra de Taylor. Faltaram duas linhas de álgebra.

Pastore estava sempre na fronteira do conhecimento olhando a teoria e os dados, preocupado com o futuro do país.

Pesquisa sobre meus livros e artigos na BVBI, via Senado Federal - Paulo Roberto de Almeida

Pesquisa sobre meus livros e artigos na RVBI, via Senado Federal: 

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Contra a corrente : ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil 2014-20 (2019) 

A Constituição contra o Brasil : ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constitui (2018)

Formação da diplomacia econômica no Brasil : as relações econômicas internacionais no Imp (2017)

Oswaldo Aranha : um estadista brasileiro (2017)

O homem que pensou o Brasil : trajetória intelectual de Roberto Campos (2017) 

Nunca antes na diplomacia-- : a política externa brasileira em tempos não convencionais (2014) 

Integração regional : uma introdução (2013)

Relações internacionais e política externa do Brasil : a diplomacia brasileira no contexto da (2012)

Globalizando : ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (2011) 

O moderno príncipe : (Maquiavel revisitado) (2010)

Relações Brasil-Estados Unidos : assimetrias e convergências (2006) SEN

Relações Brasil - Estados Unidos : assimetrias e convergências (2006) CAM

Envisioning Brazil : a guide to brazilian studies in the United States, 1945-2003 (2006) 

Relações internacionais e política externa do Brasil : história e sociologia da diplomacia b (2004) CAM

Relações internacionais e política externa do Brasil : história e sociologia da diplomacia b (2004) SEN

A grande mudança : consequências econômicas da transição política no Brasil (2003) 

O nascimento do pensamento econômico brasileiro (2002) capítulo de livro, CAM, SEN

O Brasil dos brasilianistas : um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000 (2002) CAM, SEN

Trajetória do Mercosul em sua primeira década (1991-2001): uma avaliação política a partir (2001) CAM( 2/ 0)SEN( 2/ 0)STF( 2/ 0)STJ( 2/ 0)TST( 1/ 0)

Formação da diplomacia econômica no Brasil : as relações econômicas internacionais no Imp (2001), CAM, SEN

O Lugar da América do Sul na nova ordem mundial (2001), CAM, SEN 
(ENGANO: o livro não é meu, tenho apenas um capítulo nele)

O Mercosul no Limiar do Século XXI (2000), CAM, SEN (ENGANO: o livro não é meu,
tenho apenas um capítulo nele)

O estudo das relações internacionais do Brasil (1999), CAM, SEN

O Brasil e o multilateralismo econômico (1999), CAM, SEN, MJU

Velhos e novos manifestos : o socialismo na era da globalização (1999), CAM, SEN
 

Mercosul, Nafta e Alca : a dimensão social (1999) CAM( 1/ 0), CLD( 1/ 0)MJU( 1/ 0)SEN( 1/ 0)STF( 1/ 0), STJ( 1/ 0)TJD( 1/ 0)

Relações internacionais e política externa do Brasil : dos descobrimentos à globalização (1998) SEN 

Mercosul : fundamentos e perspectivas (1998), CAM( 1/ 0)SEN( 1/ 0)STF( 1/ 0), STJ( 1/ 0)TJD( 1/ 0)

A recuperação da história diplomática (1996), AGU( 1/ 0)CAM( 2/ 0)MJU( 1/ 0)SEN( 1/ 0) 

O Mercosul no contexto regional e internacional (1993) SEN

Mercosul : textos básicos (1992), CAM, SEN

Mercosul : legislação e textos básicos (1992) CAM, SEN

Link: http://biblioteca2.senado.gov.br:8991/F/XYFT1C6NA9YVVGY6FX1PRDBK3M1I6IQ367R1P6UJN2K75KCREN-08449?func=short-jump&jump=000031

CFP: revista Oikos, número especial sobre o legado de Samuel Pinheiro Guimarães

 Creio que se eu mandar um artigo, e me der a esse trabalho, dizendo o que eles não querem ouvir, ou ler, ele será rejeitado. Então, por que se dar ao trabalho? PRA


Prezados/as sócio/as,

Divulgamos que a OIKOS - Revista de Economia Política Internacional (ISSN 1808-0235) abriu a chamada para a submissão de artigos de seu número especial: Política Externa, Desenvolvimento e Autonomia: reflexões a partir do legado de Samuel Pinheiro Guimarães.

As submissões podem ser feitas até 31 de maio de 2024 através do site https://revistas.ufrj.br/index.php/oikos/
 
Confira os detalhes:

Oikos – Revista de Economia Política Internacional

v. 23, n. 2

Chamada para Dossiê:

Política Externa, Desenvolvimento e Autonomia: 

reflexões a partir do legado de Samuel Pinheiro Guimarães

Organizadores do Dossiê

Thiago Rodrigues (INEST/UFF)

Cristina S. Pecequilo (Unifesp)

Raphael Padula (PEPI/UFRJ)

Ao longo de sua vida, Samuel Pinheiro Guimarães combinou atuação política com reflexão intelectual, atuando como diplomata, professor, em cargos políticos importantes no Brasil e no exterior, colocou suas ideias em ação, deixando um enorme legado político, institucional e intelectual. Vale lembrar que, na posição de Secretário Geral do Ministério das Relações Exteriores (2003-2009), participou da construção e execução da política externa "ativa e altiva”, ju'namente com o ex-chanceler Celso Amorim e com o Marco Aurélio Garcia. 

Sobretudo, Pinheiro Guimarães foi um pensador sobre o Brasil, sua formação e inserção internacional autônoma, combinando múltiplas dimensões - política, cultural, científico-tecnológica, de segurança e defesa, e de desenvolvimento socioeconômico – dentro de estruturas hierárquicas desiguais e históricas de poder e riqueza. Partindo de tais estruturas, Pinheiro Guimarães identifica desafios, tanto internamente no Brasil, quanto para sua inserção no sistema internacional, mas, ao mesmo tempo, potencialidades e caminhos para o Brasil. Nesse sentido, destaca o papel da integração sul-americana e o papel do Brasil na região e no sistema internacional, em decorrência de suas características peculiares, presentes em poucos países do mundo, combinando grandeza territorial, demográfica, econômica, e, portanto, política. Assim, ao pensar os problemas internos e a condição periférica do Brasil, Pinheiro Guimarães parte em busca da inserção autônoma do Brasil no sistema internacional e, ao mesmo tempo, em busca de um país mais justo, diante de um Sistema Internacional e de um país marcados por estruturas desiguais de poder e riqueza. O exercício de uma Política Externa autônoma e da soberania nacional são elementos centrais em sua reflexão sobre as relações do Brasil com os demais países e sua atuação em organizações internacionais. Sua independência intelectual rendeu livros como Quinhentos Anos de Periferia (1999, Ed. UFRGS/Contraponto) e Desafios brasileiros na era dos gigantes (2006, Ed. Contraponto) –   que são hoje clássicos para aqueles/as que pensam uma postura internacional autônoma para o Brasil.

Em janeiro de 2024, o Brasil perdeu fisicamente Pinheiro Guimarães. Em tempos em que convivem antigas e novas formas de desigualdade entre as nações, com impactos severos principalmente para aos mais pobres e vulneráveis, as provocações e as ações políticas de Samuel Pinheiro Guimarães seguem vivas, e seu legado deve ter continuidade, ser celebrado, homenageado e problematizado. Com esse objetivo, a Oikos lança uma chamada aberta para contribuições originais que pensem o Brasil no mundo e o sistema internacional contemporâneo a partir e/ou em diálogo com a vida e obra de Samuel Pinheiro Guimarães. 

Interessados/as devem submeter os originais, seguindo as diretrizes editoriais da revista, até o dia 31/05/2024, por meio do seguinte link https://revistas.ufrj.br/index.php/oikos/.

Atenciosamente, 

Secretaria ABRI


La guerre en Ukraine: deux ans après - Michel Duclos (Institut Montaigne)

La guerre en Ukraine: deux ans après

Michel Duclos

Institut Montaigne, 22/0/2924, deux ans après

La guerre en Ukraine entre dans sa troisième année. À la Conférence internationale sur la sécurité qui s’est tenue à Munich du 16 au 18 février dernier, les Européens ont plus que jamais ressenti l’urgence de réagir, alors que les 60 milliards d’aide américaine sont bloqués au Congrès et que la mort d’Alexeï Navalny, survenue le 16 février, a témoigné une nouvelle fois de la brutalité  du régime. Quels sont les ressorts de la rhétorique poutinienne actuelle ? Comment évoluent les positions militaires et l’état des opinions publiques ? De la prise de conscience à la prise de risque progressivement consentie, comment l’Europe doit-elle adapter sa stratégie ?

Le 24 février 2022, les armées russes se jetaient sur l’Ukraine, comme on faisait ce genre de choses autrefois en Europe, en déversant des troupes en masse et en faisant fi de tout souci du droit international ou des droits de l’homme. Peu de temps après l’attaque, les atrocités de Butchasignaient le retour de la barbarie sur le vieux continent en même temps que celui du "crime d’agression". Vladimir Poutine a célébré cet anniversaire à sa façon, en donnant le 9 février une interview fleuve à l’un de ses admirateurs de la sphère trumpiste, l’animateur de télévision américain Tucker Carlson. Parmi les moments d’anthologie de cet exercice, il y a cette question sur les motifs de l’invasion russe. Carlson demande à Poutine si c’est bien pour devancer une attaque de l’OTAN contre la Russie qu’il a déclenché l’invasion. Le chef du Kremlin dément cette lecture et consacre une demi-heure à un exposé historique - biaisé naturellement - tendant à expliquer que l’Ukraine n’existe pas en dehors de son rattachement à la Russie.

On dit que la Russie poutinienne conteste "l’ordre libéral international" issu de la Seconde Guerre mondiale ; c’est exact sans doute mais son rejet de la souveraineté nationale des anciens sujets de l’Empire soviétique (voire de l’empire russe) revient en fait à contester l’un des principes reconnus en droit international depuis le traité de Versailles, le droit des peuples à disposer d’eux-mêmes. Dans sa vision du monde, c’est un directoire des grandes puissances qui peut établir la paix, une sorte de Congrès de Vienne 2.0 dans lequel l’Autriche, l’Angleterre, la France, la Russie de 1814-15 seraient remplacées par la Chine, les États-Unis, la Russie et éventuellement l’Inde ; dans ce nouveau concert des Grands à l’échelle mondiale, les Européens tiendraient le rôle des principautés allemandes ou des États italiens lors du congrès de Vienne, celui de comparses ou de monnaie d’échange.

Dans son entretien avec Carlson, Vladimir Poutine reprend son argumentaire sur la Russie brimée dans son droit à disposer d’une « sphère d’influence » par différentes mesures mises en œuvre par les Occidentaux au cours des vingt dernières années, et notamment l’expansion continue de l’OTAN. Au passage, il feint de croire que l’accession de l’Ukraine à l’Organisation atlantique a été actée au sommet de Bucarest en 2008, comme si à cette date l’Allemagne et la France n’avaient pas bloqué ce projet;

Comment les Européens – du moins certains d’entre eux – n’ont-ils pas [...] vu venir cette vision néo-impérialiste du chef de l’État russe ?

Il est vrai que dans son esprit ces deux pays n’ont pas plus de poids que les royaumes de Bavière ou de Saxe dans les arrangements entre Grands du Congrès de Vienne. Comment les Européens – du moins certains d’entre eux – n’ont-ils pas, à partir de 2008 (agression contre la Géorgie) et plus encore de 2014 (annexion de la Crimée), vu venir cette vision néo-impérialiste du chef de l’État russe ? Les historiens à venir auront du mal à comprendre.

Le sort des armes encore indécis

Quoi qu’il en soit, ces deux années de guerre auront apporté un cinglant démenti à la thèse de Vladimir Poutine : l’Ukraine existe ; l’agression dont elle a été victime a marqué l’acte de baptême d’une nation réclamant son droit à la souveraineté au même titre que les autres ; d’après les sondages, le soutien aux forces politiques pro-russes est passé de près de 40 % en 2013 à 18-20 % avant le début de la guerre puis à  3-5 % en août 2023. Les régions historiquement plus favorables à la Russie, à l’Est et au Sud, n’ont plus de doute sur leur appartenance à l’Ukraine.

Ajoutons que nul ne peut plus contester l’aspiration de la nation ukrainienne à faire partie de l’Europe et de la communauté transatlantique. L’UE a répondu présente à cette demande par l’ouverture historique de négociations d’adhésion lors du Conseil européen des 14-15 décembre 2023 ; le déblocage de 50 milliards d’aide financière  à l’Ukraine par l’UE au Conseil Européen le 1er février  2024 montre que la Hongrie d’Orban peut monnayer son soutien mais ne peut faire blocage. La création du Conseil OTAN-Russie lors du sommet OTAN de Vilnius les 11-22 juillet 2023 marque une première étape du rapprochement avec l’Alliance.

Mais compte-tenu de la prolongation de la guerre, Vladimir Poutine n’est-il pas en bonne voie de parvenir à ses fins ? Un vent de pessimisme souffle sur le camp des partisans de l’Ukraine depuis l’échec relatif de la contre-offensive ukrainienne, les atermoiements du soutien américain (en témoigne le le paquet d’aide bloqué par le Congrès), et les difficultés des Européens à accroître leur aide militaire ou simplement à tenir leurs promesses en ce domaine. M. Zelenski lui-même vient de faire état de la difficulté de ses troupes à tenir certains secteurs du front.

Dans un premier temps, dans les jours qui ont suivi l’agression russe, on ne donnait pas cher de la capacité de l’Ukraine à repousser un assaillant très supérieur en nombre et en matériel ; l’armée ukrainienne a tenu le choc ; les Américains et leurs alliés européens et asiatiques ont adopté des sanctions économiques et financières sans précédent contre la Russie.

Nul ne peut plus contester l’aspiration de la nation ukrainienne à faire partie de l’Europe et de la communauté transatlantique.

Devant la résistance acharnée des Ukrainiens, les Occidentaux se sont mis à fournir des armes à Kiev, avec plus de prudence qu’il n’y parait cependant, par peur de tout risque d’escalade ; et toujours avec un temps de retard sur l’action, mais à la fin en renforçant les chances de Kiev de mettre en échec l’agresseur. Entre avril et septembre 2022, l’Ukraine a reconquis plus de la moitié des territoires occupés par la Russie au moment de son avancée maximale. Elle contrôle aujourd’hui 82 % de son territoire contre 18 % par la Russie (dont 7 % depuis 2014). C’est un fait toutefois que le manque de succès de la contre-offensive ukrainienne l’année dernière, succédant à l’échec initial de l’offensive russe sur Kiev(et à l’incapacité des Russes à maintenir leurs conquêtes à Kharkiv et à Kherson), a modifié l’équation stratégique dans un sens défavorable aux Ukrainiens.

Désormais, semble s’installer une guerre de positions qui est aussi une guerre d’attrition. Les Ukrainiens ont dû céder la place forte d’Avdiivka, dans le Donbass, mais les Russes ne progressent que très lentement. Cependant, même si elle perd beaucoup de soldats, la Russie dispose d’une supériorité évidente en termes d’hommes et d’artillerie – redevenue "la reine des batailles". Actuellement, les Ukrainiens tirent 2 000 obus par jour contre 5 000 pour les Russes (ou plus selon les moments). Nuançons le constat : grâce à un meilleur renseignement et à une précision supérieure, l’artillerie ukrainienne est plus efficace. Les Ukrainiens ont par ailleurs marqué des points dans d’autres domaines, avec le reflux de la marine russe en mer Noire ou les avions russes descendus, voire certaines frappes en profondeur, y compris sur les capacités d’extraction du pétrole russe. Les frappes russes sur les villes et les infrastructures ukrainiennes ne sont pas parvenues jusqu’ici à désarticuler la résistance du pays. La bataille centrale reste cependant à ce stade celle du théâtre terrestre. Or - il ne faut pas se le dissimuler - une guerre d’attrition peut se perdre ; c’est ce qui est arrivé à l’armée allemande en 1918 par exemple. De ce point de vue, l’image couramment répandue d’une "impasse" ou d’un "statu quo" pourrait se révéler trompeuse.

Dans le même temps, des failles apparaissent dans le moral ukrainien. La société civile est réticente à une mobilisation de grande ampleur. L’éviction par M. Zelenski du populaire chef d'État-Major, le général Zaloujny, pourrait laisser des traces, même s’il a eu lieu dans de meilleures conditions que prévu. Rien de tel évidemment du côté russe, où l’on s’apprête à réélire, triomphalement comme il se doit, en mars, Vladimir Poutine ; encore que, là aussi, les autorités ont manifestement des doutes sur la popularité de la guerre, ce qui les conduit à manier avec prudence la perspective d’une nouvelle mobilisation partielle ; elles privilégieront sans doute l’appel au volontariat ("contractuels") - un "volontariat" évidemment très dirigé. La "disparition" de Navalny, au terme d’un lent assassinat de facto, est peut-être un signal adressé aux courants de l’opinion russe tentés par le rejet du régime. Elle ne laisse en tout cas guère de doute sur le lien entre la nature de plus en plus répressive du régime et l’agressivité extérieure "systémique" de celui-ci.

Quelles perspectives pour l’Ukraine ?

L’année 2024 sera donc difficile pour les Ukrainiens. Le rapport des forces peut-il se renverser de nouveau en leur faveur à un moment donné, et en tout cas en 2025 ? Bien sûr, beaucoup dépendra de Washington, d’abord de la capacité de l’administration Biden à surmonter l’opposition des Républicains à la Chambre, ensuite du résultat des élections présidentielles de novembre ; celles-ci pourraient ramener Donald Trump à la Maison Blanche. Même en cas de réélection de Joe Biden, le blocage actuel des institutions américaines laissent craindre une Amérique devenue "dysfonctionnelle". L’Europe de son côté semble prendre conscience de la gravité de l’heure. Les Européens savent - ou sentent confusément – qu’un effondrement de l’Ukraine couplé à un retour de Trump serait une catastrophe pour la sécurité européenne. C’est le sens à donner à la signature en quelques semaines d’accords de sécurité successivement entre le Royaume-Unil’Allemagne, la France et l’Ukraine. Le message qu’adressent ces documents est que les pays qui soutiennent l’Ukraine s’engagent à le faire sur le long terme, et à augmenter leur soutien (3 milliards d’euros pour la France en 2024). D’autres États devraient suivre, puisque ces accords bilatéraux matérialisent les "garanties de sécurité" que les pays du G7 et 25 autres se sont engagés à fournir à Kiev (le Japon vient d’annoncer une aide de 15 milliards d’euros par an).

L’allocution qu’a prononcée le président Macron en recevant Volodymyr Zelenski à l’Elysée le 16 février constitue à cet égard une indication importante. On peut y voir une évolution majeure dans l’approche du chef de l'État : il n’est plus question dans ses propos des erreurs du passé commises par les Occidentaux ; est dénoncée au contraire l’émergence d’un "récit fantasmé pour remettre en cause les frontières de l’Union soviétique, ce qui est une menace pour l’Europe, le Caucase, l’Asie centrale".

On peut y voir une évolution majeure dans l’approche du chef de l'État : il n’est plus question dans ses propos des erreurs du passé commises par les Occidentaux.

Le président dresse le constat d’une "nouvelle phase" dans laquelle la Russie s’est engagée, une phase dans laquelle elle est devenue une menace cruciale pour l’Europe et "un acteur méthodique de la déstabilisation du monde". C’est explicitement à un sursaut de l’Europe qu’appelle le président, qui doit d’ailleurs s’étendre à l’ensemble de  la communauté internationale.

Dans la prise de conscience des Européens, les déclarations récentes de Donal Trump – "je dirai à Poutine de faire ce qui lui plait aux Européens qui ne paient pas assez pour l’OTAN" - comptent sans doute pour beaucoup. Ces propos ont dominé l’atmosphère inquiète de la conférence annuelle sur la sécurité à Munich, au cours de laquelle le chancelier allemand a lui aussi appelé à un "sursaut de l’Europe". Il reste à voir si celui-ci se produira et comment il va se manifester. On pense à plusieurs tests à ce sujet :

  • la capacité des Européens, pour tenir leurs engagements vis-à-vis de l’Ukraine, à relancer pour de bon leurs industries de défense ;
  • le sort qui sera fait à l’idée d’un emprunt européen de 100 milliards d’euros, avancée initialement par la première ministre estonienne et à laquelle M. Macron s’est rallié ; ou à d’autres propositions telles celle avancée par madame von der Leyen de créer un poste de Commissaire européen à la défense ;
  • peut-être de manière moins visible, la disposition à prendre des risques : dans son allocution à l’Élysée en recevant M. Zelenski, le président de la République rappelle que nous ne sommes pas en guerre avec la Russie mais renonce à mentionner que nous voulons éviter toute "escalade". Dans les armes que la France va transférer à l’Ukraine, figurent de nouveau des missiles Scalp (au nombre de 40), systèmes à moyenne portée permettant aux Ukrainiens des frappes en profondeur, y compris sur la Crimée et sur le territoire russe.

Or les indications qui nous viennent de Kiev laissent penser que les Ukrainiens sont contraints de se replier sur une stratégie avant tout défensive, mais comportant un volet offensif avec des frappes stratégiques  sur les arrières russes. 

Le contexte global

Deux ans après l’agression russe, il faut aussi constater que la guerre en Ukraine, venant après la crise liée au Covid, a creusé un écart entre l’Ouest et les États émergents – le Sud global comme l’on dit désormais. Cet écart est considérablement accru par la guerre entre Israël et le Hamas. Le conflit persistant au Proche-Orient fait le jeu de la Russie. Il empêche les dirigeants occidentaux de se concentrer sur le sort de l’Ukraine. Plus encore, étant donné l’impopularité du soutien occidental à Israël dans le Sud global , il rend plus difficile une stratégie d’isolement de la Russie, et notamment une stratégie de lutte contre les contournements des sanctions. Or, plus la guerre se prolonge, moins les Occidentaux pourront se dispenser d’une telle stratégie, sauf à laisser M. Poutine continuer à financer sa guerre par la reconversion de son économie vers la Chine, l’Inde et plus généralement le Sud global.

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