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domingo, 8 de outubro de 2017

"Querido Embaixador", um filme sobre Souza Dantas, o "Quixote nas Trevas", segundo Fabio Koifman

Acabo de receber de meu amigo Fabio Koifman:

Acabo de assistir na telona do cinema o "Querido Embaixador", filme inspirado no meu livro "Quixote nas trevas". Gostei do filme, especialmente da atuação dos dois atores principais, cujas fotos seguem em anexo.
Com um abraço, Fábio. 

Eis o link para um trailer: https://youtu.be/RxIHK2ZVu6o
Aqui os atores: 


Abaixo mais informações sobre o filme.
Paulo Roberto de Almeida

QUERIDO EMBAIXADOR
país de origem
BRA
 Diplomata de carreira, Luiz Martins de Souza Dantas deixa seu posto de embaixador do Brasil na Itália, em 1922, e é transferido para Paris. Na sua despedida em Roma, o próprio primeiro ministro, de quem se tornara amigo, faz questão de ir à gare da Estação Termini para dele se despedir. Tratava-se de Benito Mussolini. Os anos 20 e 30 foram de encantamento para Souza Dantas, que soube aproveitar Paris ao máximo em tempos que se convencionou chamar de “anées folles”. Com sua competência, brilha no trânsito junto ao corpo diplomático. E com seu charme torna-se um perfeito mundano na Cidade Luz.
É reconhecido nas ruas por floristas, motoristas de taxi, e nos salões por políticos, gente do mundo artístico e a intelectualidade francesa, com quem diariamente convive. Seu ambiente são os refinados Cercle de l’Union e o Cercle Interallié, onde gosta de reunir figuras da política e da cultura parisiense em memoráveis almoços. E, com o mesmo desembaraço, vive cercado de mulheres bonitas, especialmente as atrizes da Comedie Française, entre as quais a famosa atriz e cantora Arlety. E é dentro deste contexto que sobrevém a 2ª Guerra Mundial, nas suas palavras “uma época de trevas e barbárie”. Diplomata de estilo clássico, bon vivant, apreciador das artes, da música, da boa comida, amava profundamente a vida e as pessoas das quais se cercava. Dentro desse perfil, seria, em princípio, a pessoa menos indicada para arriscar seu posto e posição por algo que o viesse a se comprometer. Pois, ao contrário de tudo que se esperava, foi exatamente o que passou a fazer, tomando iniciativas para livrar seres humanos, que sequer conhecia, das das garras da repressão nazista e, por conseqüência, da morte. Na época, o Governo brasileiro era claramente pró-Eixo. Assim, iniciada a guerra, passou a emitir circulares proibindo a concessão de vistos de entrada no Brasil
especialmente para semitas. Pois Souza Dantas desobedeceu todas as circulares. Indiferente às ameaças de punição até mesmo com a perda do cargo, concedeu mais de mil vistos diplomáticos que permitiram que judeus, comunistas, artistas e opositores dos nazistas escapassem das graves ameaças e reiniciassem suas vidas no Novo Mundo. Tornou-se assim nosso único herói de guerra, com reconhecimento e homenagens em vários países do exterior e hoje é comparado ao industrial Oskar Schindler por suas obras humanitárias.
Ficha Técnica: 
Direção
Luiz Fernando Goulart
Coprodução
Globo Filmes, GloboNews e Toscana Audiovisual
Roteiro
Luiz Carlos Maciel e Flavia Orlando
Produção.
Joaquim Vaz De Carvalho
Produção Executiva
Heloisa Rezende
Direção de Fotografia
Julio Constantini
ELENCO: 
Norival Rizzo
Embaixador
Alice Assef
Madeleine Carlier
Miriam Mehler
Elise Stern
Felipe Rocha
Martins Leta
Isio Ghelman
Jeróme Levy
Antônio Fragoso
Paulo Carneiro
Daniel Ericsson
Jean Pierre Dorian
Gustavo Ottoni
Oswaldo Aranha
Bruno Guida
Vasco Leitão da Cunha
Helio Ribeiro
Gilberto Amado
Flávio Pardal
Claude Levi-Strauss

Tudo o que se deve fazer depois dos 50 anos

Dicas para meus amigos que já passaram dos 50 anos:

➖ Gaste o seu dinheiro com você, com seus gostos e caprichos.

➖ É hora de usar o dinheiro (pouco ou muito) que você conseguiu economizar . Use-o para você, não para guardá-lo e não para ser desfrutado por aqueles que não tem a menor noção do sacrifício que você fez para consegui-lo.

➖ Não é tempo para maravilhosos investimentos, por mais que possam parecer bons, eles só trazem problemas e é hora de ter muita paz e tranquilidade.

➖ PARE de PREOCUPAR-SE COM A SITUAÇÃO FINANCEIRA dos filhos e netos. Não se sinta culpado por gastar o seu dinheiro consigo mesmo. Você provavelmente já ofereceu o que foi possível na infância e juventude como uma boa educação. Agora, pois, a responsabilidade é deles. JÁ NÃO é época de sustentar qualquer pessoa de sua família.

➖ Seja um pouco egoísta.

➖ Tenha uma vida saudável, sem grande esforço físico. Faça ginástica moderada (por exemplo, andar regularmente) e coma bem.

➖ SEMPRE compre o melhor e mais bonito. Lembre-se que, neste momento, um objetivo fundamental é de gastar dinheiro com você, com seus gostos e caprichos e do seu parceiro. Após a morte o dinheiro só gera ódio e ressentimento.

➖ NADA de angustiar-se com pouca coisa. Na vida tudo passa, sejam bons momentos para serem lembrados, sejam os maus, que devem rapidamente ser esquecidos.

➖ Independente da idade, sempre mantenha vivo o amor. Ame o seu parceiro, ame a vida.

➖ LEMBRE-SE !! “Um homem nunca é velho enquanto se lhe restarem a inteligência e o afeto”.

➖ Seja vaidoso. Cabeleireiro frequente, faça as unhas, vá ao dermatologista, dentista, e use perfumes e cremes com moderação.

➖ SEMPRE se mantenha atualizado. Leia livros e jornais, ouça rádio, assista a bons programas na TV, visite a Internet.

➖ Respeite a opinião dos JOVENS. Muitos deles estão mais bem preparados para a vida, como nós quando estávamos na idade deles. Nunca use o termo “no meu tempo¨. Seu tempo é agora.

➖ NÃO caia em tentação de viver com filhos ou netos. Apesar de ocasionalmente ir alguns dias como hóspede, respeite a privacidade deles, mas especialmente a sua.

➖ Pode ser muito divertido conviver com pessoas de sua idade.

➖ Mantenha um hobby. Você pode viajar, caminhar, cozinhar, ler, dançar, cuidar de um gato, de um cachorro, cuidar de plantas, jogar cartas de baralho...

➖ Faça o que você gosta e o que seus recursos permitem.

➖ ACEITE convites. Batizados, formaturas, aniversários, casamentos, conferências … Visite museus, vá para o campo … o importante é sair de casa por um tempo.

➖ Fale pouco e ouça mais. Sua vida e seu passado só importam para você mesmo. Se alguém lhe perguntar sobre esses assuntos, seja breve e tente falar sobre coisas boas e agradáveis. Jamais se lamente.

➖ Permaneça apegado à religião.

➖ Ria muito, ria de tudo. Você é um sortudo, você teve uma vida, uma vida longa.

➖ Não faça caso do que dizem a seu respeito, e menos do que pensam de você.

➖ Se alguém lhe diz que agora você não faz nada de importante, não se preocupe. A coisa mais importante já está feita: você e sua história.

➖"A vida é muito curta para beber um vinho ruim”

(Texto de Gustavo Krause)

Um brinde a vocês, meus amigos acima dos 50 e a você que daqui a pouco chega lá!! 🥂🍾

A falcatrua Piketty: para os incautos e true believers - Joao Cesar de Melo (Blog do Puggina)

A FALCATRUA PIKETTY

por Joao Cesar de Melo, em Mises Brasil. Artigo publicado em 02.10.2017

A moral de Piketty - por alguém que realmente leu todo o livro

Blog do Puggina, 6/10/2017

Segundo a Amazon, fui um dos poucos compradores de O Capital do Século XXI, de Thomas Piketty, que realmente leram o livro.

Seu programa Kindle registra que, dos mais de 80 mil cópias vendidas, a grande maioria dos leitores não passa da página 26, considerando que o livro possui quase 700 páginas. Isso me lembra muitos socialistas que se dizem influenciados por Marx, apesar de nunca terem lido seus livros; e que também odeiam o liberalismo sem ter a menor noção do que se trata.

Um amigo, ao me flagrar com o tal livro, não vacilou em fazer piada: "Lendo a nova bíblia da esquerda?!". "Pois é... Sou liberal exatamente por saber o que os marxistas pensam", respondi.

Mesmo não sendo da área econômica, política ou do direito, sinto-me obrigado a ler essas "coisas", já que me interesso pelo assunto.

O Capital do Século XXI é apenas mais uma reedição de alguns devaneios marxistas, com o autor tentando relacionar dados selecionados com crendices ideológicas impregnadas com uma das piores fraquezas humanas: a inveja.

Entre tantos gráficos, Piketty não esconde sua interpretação moral sobre a riqueza e, principalmente, sobre a herança. Chega a ser engraçado suas recorrentes citações aos romances de Balzac para ilustrar e "comprovar" as distâncias entre trabalhadores e herdeiros.

Seu livro tem um único objetivo: julgar moralmente o direito de uma pessoa guardar para si o fruto de seu próprio trabalho e decidir, por si mesma, qual o destino desse fruto. A "moralidade" de Piketty chega ao nível de condenar os herdeiros pelo sucesso dos pais!

Seu raciocínio é muito simples: quanto mais rico, mais imoral. Exercendo a arrogância típica dos socialistas, Piketty ignora completamente a história, os esforços e os talentos de indivíduos, enlatando-os como se formassem uma única e homogênea massa de pessoas de caráter condenável pelo simples fato de terem enriquecido.

Piketty tenta inúmeras vezes nos fazer crer que questiona Marx, aquele que "...escreveu tomado por grande fervor político, o que muitas vezes o levou a se precipitar e a defender argumentos mal embasados", em suas palavras, mas em seguida enaltece a coerência de algumas ideias do pai do comunismo.

Logo no começo, o neomarxista francês dá o tom do livro:

"...o capitalismo produz automaticamente desigualdades insustentáveis, arbitrárias, que ameaçam de maneira radical os valores de meritocracia sobre os quais se fundam nossas sociedades democráticas".

Oi? Um socialista que defende taxações e confiscos dizendo que o sistema de trocas voluntárias entre indivíduos e empresas é arbitrário? Pois é... Ouço e leio coisas parecidas todos os dias no Facebook, ditas e escritas por pessoas que nunca leram nada além de panfletos da esquerda.

Piketty, em sua tentativa de desmerecer a melhoria na qualidade de vida da população mundial promovida pelo capitalismo, reduz o aumento da expectativa de vida a um... "fato biológico"! Insiste, o tempo todo, que a desigualdade é algo terrível por si mesma, ignorando, portanto, as diferenças entre os diversos países do mundo no que se refere a estas "desigualdades". Fica bem claro que sua preocupação não é com a pobreza, mas sim com a riqueza. Eis um socialista.

Em seu esforço para distorcer a realidade, Piketty chega a citar o caso chinês do que seria um exemplo de desenvolvimento social promovido pelo estado. Cita os investimentos em educação e em infraestrutura, mas se "esquece" de que nenhuma escola ou ponte é construída sem dinheiro, e que esse dinheiro vem da arrecadação de impostos, e que a quantidade de impostos arrecadada depende do poder e da liberdade econômica da sociedade como um todo.

Ou seja: ignora que centenas de milhões de chineses se livraram da extrema pobreza simplesmente porque o estado deu um passo para trás, lhes dando a liberdade para empreender negócios visando o lucro, com direito de propriedade e com a possibilidade de ficarem ricos.

Piketty se "esqueceu" de muitas coisas. Esqueceu-se de falar sobre o papel do estado nos problemas sociais e econômicos dos países atrasados. Esqueceu-se de falar sobre os desajustes fiscais, sobre a emissão irresponsável de moeda, sobre as arbitrariedades dos bancos centrais, sobre as concessões de créditos e de subsídios a determinados setores, empresas e até pessoas ligadas aos governos, o que sempre prejudica os mais pobres. Sua única referência pejorativa ao estado se dá ao afirmar que foi graças à corrupção do governo mexicano que Carlos Slim se tornou um dos homens mais ricos do mundo.

Sua facilidade em tecer julgamentos morais sobre a "riqueza excessiva" de empresários, executivos e herdeiros é proporcional à sua indiferença com o enriquecimento de políticos e ditadores mundo a fora.

Tentando desmoralizar a natureza do capitalismo, Piketty faz uma pergunta: "Podemos ter a certeza de que o 'livre' funcionamento de uma economia de mercado, fundamentado na propriedade privada, conduz sempre e por toda parte a esse nível ótimo, como que por magia?".

Pelo que sei, quem defende a "magia" nas soluções dos problemas do mundo são os socialistas, com seus planos sempre muito poéticos no púlpito e muito trágicos na realidade. Economistas liberais afirmam que todo e qualquer desenvolvimento depende de um longo período de liberdade econômica, o que possibilita o aperfeiçoamento espontâneo das interações entre mercado e sociedade, sem milagres.

A propósito, o mesmo Piketty que ignora os autores liberais mais importantes, tais como Milton Friedman, Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e Carl Menger, faz questão de enaltecer Paul Krugman, o pai da bolha imobiliária norte-americana, defensor da inflação como ferramenta de crescimento, palestrante em evento da revista Carta Capital.

essa altura do livro, não me surpreendeu ler que, na prática, a "mão invisível" descrita por Adam Smith não existe porque "o mercado sempre é representado por instituições específicas, como as hierarquias corporativas e os comitês de remuneração". De onde ele tirou isso?

Como todo "bom socialista", Piketty não deixaria de mirar seu furor ideológico na cultura norte-americana, citando meia dúzia de séries de TV como exemplos do culto à "desigualdade justa". O francês se empolga:

"A sociedade meritocrática moderna, sobretudo nos Estados Unidos, é muito mais dura com os perdedores, pois baseia a dominação sobre eles na justiça, na virtude e no mérito, e, portanto, na insuficiência de sua propriedade".

Isso é o que chamo de cretinice e desonestidade intelectual, por ignorar os mais estridentes dados de melhoria de qualidade de vida e de inclusão social registrados ao longo dos últimos 150 anos. Não por acaso, Cuba não é citada uma única vez no livro.

Também me provocou espécie alguns termos utilizados pelo economista, tais como "extremismo meritocrático", "fortunas indevidas" e "arbitrariedade do enriquecimento patrimonial".

Sua motivação ideológica, sempre ancorada em sua própria interpretação moral do mundo, nos oferece frases dignas de líderes estudantis:

"O problema é que a desigualdade (...) conduz frequentemente a uma concentração excessiva e perene da riqueza (...) as fortunas se multiplicam e se perpetuam sem limites e além de qualquer justificação racional possível em termos de utilidade social".

No mundo de Piketty, a maioria das fortunas de hoje estão nas mesmas famílias há séculos e continuarão assim para sempre caso o estado não intervenha taxando-as progressivamente, para que assim, só assim, prevaleça o "interesse geral em detrimento do interesse privado" — Luciana Genro diria o mesmo.

Todavia, nada me provocou mais espasmos do que ele confessando que não gosta do termo "ciência econômica" por lhe parecer "terrivelmente arrogante". Ele prefere a expressão "economia política". Acredito!

"Impostos não são uma questão técnica", afirma Piketty; "Impostos são, isso sim, uma questão proeminentemente política e filosófica, talvez a mais importante de todas as questões políticas." Piketty ignora completamente o que diz a história política da galáxia: taxações e confiscos beneficiam principalmente os burocratas que vivem de arbitrar essas mesmas taxações e esses mesmos confiscos. Piketty ignora também o resultado de todas as experiências socialistas: quanto mais se arbitra sobre a riqueza privada, mais se intimida o indivíduo comum a tentar enriquecer, provocando, assim, uma desmotivação coletiva. A produtividade cai.

De fato, a desigualdade diminui, afinal, a sociedade deixa de ser dividida entre ricos e pobres e passa a ser formada apenas por pobres, vide Cuba e Coreia do Norte, sociedades tragicamente igualitárias.

Piketty não aprendeu que, em vez de rechaçarmos os ricos, deveríamos tentar mantê-los voluntariamente junto de nós, para que eles possam gastar sua fortuna consumindo nossos produtos e serviços, não dos outros. Piketty parece que não enxergou sequer o que aconteceu em seu próprio país quando o governo decidiu sobretaxar as maiores fortunas: seus donos simplesmente foram embora, foram gastar seus bilhões noutros países.

O The Guardian referiu-se a Thomas Piketty como o "rock star da economia". O The Economist o chamou de "ícone pop". Bem coerente. Mas eu prefiro minha descrição: Piketty é o economista que faz os ignorantes se sentirem cultos, os idiotas se sentirem inteligentes e os socialistas se sentirem honestos.

sábado, 7 de outubro de 2017

Macartismo no Itamaraty?; seria preciso dizer qual foi...

Como fui citado nesta matéria enviesada de #Carta, creio que tenho o dever de contextualizar o que disse, e esclarecer o meu caso. Eu já tinha sido citado em outra matéria -- "Diplomata pode criticar o governo?" -- e também respondi por meio de postagem no Facebook.
Eis o que disse a nova matéria:

Autor do blog Diplomatizzando, Paulo Roberto de Almeida bradou contra o “lulopetismo diplomático” por anos a fio. Recentemente, reafirmou o teor das críticas no Facebook, e emendou: “Se o governo do lulopetismo me tivesse punido ou censurado, eu teria achado absolutamente normal e legítimo, pois infringi a Lei do Serviço Exterior. Ou seja, não me “puniram”, mas poderiam tê-lo feito com toda razão”, afirmou, antes de acusar as gestões petistas de vetá-lo para o exercício de cargos na Secretaria de Estado de Relações Exteriores.

Esclareço: não "bradei" contra o "lulopetismo diplomático", apenas escrevi artigos razoavelmente críticos das excrescências praticadas, segundo minha opinião (que nunca me eximi de expressar) contra os interesses exteriores do Brasil pelos responsáveis políticos, e os publiquei em veículos disponíveis, divulgando-os em meu blog Diplomatizzando. Digo que infringi a Lei do Serviço Exterior pois não os submeti previamente ao conhecimento da hierarquia do Itamaraty, e poderia, portanto, ter sido punido segundo à Lei do Serviço Exterior. Não me cabe opinar sobre a "não punição", pois a decisão é soberana das autoridades.
Mas cabe esclarecer que, durante TODO o regime lulopetista no Brasil fui vetado (a palavra é essa) e obstado de exercer cargos na Secretaria de Estado, por motivos que desconheço, mas que imagino possam estar vinculados ao fato de que nunca escondi minha opinião sobre os governos lulopetistas.
Quem, na verdade, praticou Macartismo?
Paulo Roberto de Almeida

https://www.cartacapital.com.br/revista/973/no-itamaraty-o-macartismo-a-espreita





 No Itamaraty, o Macartismo à espreita

Política

Truculência

No Itamaraty, o Macartismo à espreita

por Rodrigo Martins publicado 07/10/2017 00h16
Aloysio Nunes Ferreira remove de Nova York o jovem diplomata que criticou o governo em CartaCapital
Geraldo Magela/Agência Senado
Aloysio Nunes
Desde o golpe de 2016, instalou-se uma política de "caça às bruxas" no Itamaraty



O chanceler do governo ilegítimo, Aloysio Nunes Ferreira, que um dia se disse de esquerda e até guerrilheiro, removeu o segundo-secretário Julio de Oliveira Silva, de 32 anos, do Consulado-Geral do Brasil em Nova York, em retaliação às críticas feitas pelo jovem diplomata à política externa de Michel Temer, em artigo publicado por CartaCapital. Medida “truculenta e desnecessária”, fulminou Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores de Lula.

A portaria de remoção foi assinada pelo tucano em 28 de setembro, dois dias após estreia de sua coluna no site da publicação. No texto, o diplomata afirma que “o compromisso das forças políticas atuais com o atraso, não apenas na economia, denota a intenção explícita em reverter o pacto social civilizatório duramente obtido em 1988”.

Ao analisar a recente visita de Temer à China, avaliou que o Brasil se apresentou como uma “colônia em potencial”, limitando-se a ofertar projetos de privatizações e concessões. O presidente, observou Oliveira Silva, levou consigo um séquito de parlamentares e assessores, mas nenhum empresário brasileiro com interesses no país asiático, à exceção de Blairo Maggi, ministro da Agricultura e “Rei da Soja”.

Sem aviso prévio nem explicação, o diplomata surpreendeu-se com a publicação da transferência no Diário Oficial da terça-feira 3. A CartaCapital, ele relata ter feito críticas semelhantes nas redes sociais anteriormente, mas nunca sofreu represálias.
De acordo com o regulamento interno do Itamaraty, o funcionário que deseje publicar artigos de opinião em livros, blogs ou veículos de comunicação pode fazê-lo livremente, não sendo necessário submeter o texto a autorização prévia.
Pede-se, no entanto, a inclusão no texto de um disclaimer, isto é, uma ressalva de que as opiniões são de inteira responsabilidade do autor, não coincidindo necessariamente com as posições do Ministério das Relações Exteriores. “Foi exatamente o que fiz. Cheguei a consultar a assessoria de imprensa do gabinete (do chanceler) para me certificar do procedimento correto.”
Julio de Oliveira Silva, a vítima mais recente (Foto: Reprodução Facebook)
Com oito anos dedicados ao Itamaraty, o diplomata não tem dúvidas de tratar-se de uma retaliação às críticas veiculadas na coluna em CartaCapital, em razão da proximidade de datas entre a publicação do primeiro artigo e o despacho de Nunes Ferreira. Além disso, seu nome não figurava no plano de remoções do Departamento do Serviço Exterior. “Foi uma medida totalmente atípica”, diz. “Por já ter cumprido três anos em Nova York, em breve eu seria incluído no plano de remoções. Imaginava que eles pudessem contrariar as minhas vontades ou oferecer postos ruins, mas jamais que seria chamado de volta a Brasília.”

De fato, a manobra parece contrariar a tradição do Itamaraty. “Há uma expectativa normal dos jovens diplomatas de ocuparem ao menos dois postos no exterior antes de regressar ao Brasil”, explica Amorim. “Um diplomata deve respeitar hierarquia, mas também exercer o espírito crítico, indispensável à execução da política externa”, emenda o ex-chanceler.

Após a destituição de Dilma Rousseff, instalou-se uma política de “caça às bruxas” no serviço diplomático, iniciada pelo então chanceler José Serra, antecessor e colega de partido de Nunes Ferreira. Uma das primeiras vítimas foi Milton Rondó Filho.
Em março de 2016, o diplomata enviou telegramas a embaixadas e representações brasileiras no exterior sobre a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil. Recebeu uma advertência do Itamaraty, ainda sob a liderança de Mauro Vieira, chanceler de Dilma.
Em junho, um mês após Temer assumir interinamente a Presidência, Rondó Filho foi exonerado da chefia da área de combate à fome do Ministério de Relações Exteriores.

Em julho de 2016, uma semana antes do início das Olimpíadas, o governo decidiu destituir o chefe do cerimonial, o embaixador Fernando Igreja, responsável pela recepção dos chefes de Estado da Rio 2016. O motivo? Internamente, o diplomata era visto como “simpático” ao governo Dilma, no qual foi o chefe do cerimonial do Itamaraty por três anos e meio. Após a dispensa, o “dilmista” foi enviado para Cuba.

A mesquinharia não tem limites. Contrariado com uma entrevista concedida por Rubens Ricupero à Folha de S.Paulo, Temer ordenou ao Itamaraty o cancelamento da festa de lançamento do livro do embaixador, A Diplomacia na Construção do Brasil: 1750-2016 (Versal Editores), uma das mais completas e atualizadas obras sobre a história da política externa nativa.
Ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, integrante do corpo diplomático de 1961 a 2004, Ricupero afirmou ao jornal o óbvio: nenhum líder mundial desejava posar ao lado de Temer para uma foto.
“Hoje a imagem do Brasil não é nem pessimista nem otimista, corresponde à realidade: trata-se de um país com uma corrupção terrível, um presidente com uma segunda denúncia, ministros sendo investigados, uma crise que é a mais grave da história”, disse à jornalista Patrícia Campos Mello.

Se a crítica está interditada, o puxa-saquismo está liberado. Primeiro-secretário lotado no departamento de Europa Central e Oriental, Igor Abdalla publicou o artigo “Temos de volta o Itamaraty!”, logo após a consumação do impeachment, no site do Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB.
Filiado ao partido, ele celebrava o fim do ciclo “lulopetista” na diplomacia. Não consta que tenha sido alvo de qualquer advertência ou pedido de moderação sobre as manifestações de cunho político.
Celso Amorim: Nunes Ferreira adotou uma medida 'truculenta e desnecessária' (Foto: Antonio Araujo/Câmara dos Deputados)
Nas gestões anteriores, diversos diplomatas desfiaram críticas aos governos petistas, sem remoções ou exonerações. Atual diretor do Departamento de Serviço Exterior, Alexandre Porto foi colunista da Folha entre 2013 e 2016. Jamais poupou críticas a Dilma. Em março de 2016, escreveu a coluna “Caloteiro Ostentação”, na qual criticava os atrasos do Brasil em repasses para organismos multilaterais, enquanto o governo esbanjava dinheiro nas viagens ao exterior. De acordo com ele, não pegava bem a presidenta se hospedar em Nova York no Hotel Saint Regis, “onde uma suíte média, não a presidencial, onde ela fica, sai pela bagatela de 17 mil reais a noite”, um indício de que o diplomata pode ter obtido informação privilegiada dentro do Itamaraty para atacar Dilma.

Em 2013, Eduardo Saboia criou um incidente diplomático entre Brasil e Bolívia. Deu um jeito de trazer para o Brasil, de forma clandestina, um senador da oposição do governo de Evo Morales que estava asilado na embaixada do Brasil em La Paz. Sofreu um processo administrativo disciplinar e tomou uma breve suspensão. Hoje, é o chefe de gabinete de Nunes Ferreira.

Autor do blog Diplomatizzando, Paulo Roberto de Almeida bradou contra o “lulopetismo diplomático” por anos a fio. Recentemente, reafirmou o teor das críticas no Facebook, e emendou: “Se o governo do lulopetismo me tivesse punido ou censurado, eu teria achado absolutamente normal e legítimo, pois infringi a Lei do Serviço Exterior.
Ou seja, não me “puniram”, mas poderiam tê-lo feito com toda razão”, afirmou, antes de acusar as gestões petistas de vetá-lo para o exercício de cargos na Secretaria de Estado de Relações Exteriores.

Em nota, o Sindicato dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores disse acompanhar o processo de remoção de Oliveira Silva do Consulado-Geral do Brasil em Nova York, além de prestar assistência jurídica ao diplomata.
“Aproveitamos o episódio para, mais uma vez, reforçar o posicionamento do Sinditamaraty em relação à falta de clareza nos processos de remoção. Critérios parciais e intempestividade expõem os servidores e seus familiares a situação vulnerável, particularmente quando lotados no exterior”, diz o texto.

Procurado pela reportagem, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que não vai se posicionar sobre o caso. Diante da falta de transparência, o deputado federal Nelson Pellegrino, do PT da Bahia, protocolou um requerimento de pedido de informações a Nunes Ferreira sobre a atípica transferência.

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Comentei o que segue no Facebook: 
"Esse pessoal da Carta (sem) Capital me ignorou durante os treze anos durante os quais eu critiquei o “lulopetismo diplomático”, com muito orgulho, aliás, pois logo detectei o seu caráter nefasto para as relações exteriores do Brasil. Agora que um de seus simpatizantes perpetrou um ataque infantil contra a política externa do atual governo, eles se lembram que eu “bradei” (sic) contra a tal “altiva e ativa”, sem nunca ter sido punido. Engano deles, e posso retificar: fui duramente punido, da forma mais vergonhosa que possa existir, mas se o tivesse sido ao abrigo da lei, não teria nada a argumentar contra. Não o fizeram porque não quiseram, mas praticaram Macartismo de esquerda."

No que se refere à primeira matéria -- "Diplomata pode criticar o governo?" -- , eu respondi da seguinte forma:
Matéria cita o meu caso, por ter, no passado, em pleno governo Lula, criticado a política externa dessa coisa que eu sempre chamei de "lulopetismo diplomático". Não apenas confirmo o que escrevi como reafirmo: se o governo do lulopetismo me tivesse punido ou censurado, eu teria achado absolutamente normal e legítimo, pois infringi a Lei do Serviço Exterior. Ou seja, não me "puniram", mas poderiam tê-lo feito com toda razão. Se não o fizeram, foi talvez por vergonha, pelo fato de eu ter sido "vetado", a palavra é essa mesma, para o exercício de cargos na SERE, o que configura aliás uma infração administrativa.
E ainda isto: 
 O autor da matéria parece lamentar que eu não tenha sido punido pelo fato de ter criticado o governo Lula, esquecendo de mencionar que eu fui punido desde o primeiro dia desse governo, ao me terem sido recusados, vetados, proibidos, quaisquer cargos na Secretaria de Estado, tendo aliás permanecido nessa situação durante os treze anos e meio dos governos lulopetistas. O autor acha que não é punição bastante?

Lula: agravamento das penas pelo Tribunal Regional Federal da 4a regiao


Acho que ele merece 100 anos, por justamente ter sido presidente e o último e máximo responsável por tudo, sobretudo pela corrupção...

 COLENDA 8ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª  REGIÃO
APELAÇÃO CRIMINAL nº 50465129420164047000
APELANTES: Ministério Público Federal, Luiz Inácio Lula da Silva, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, José Adelmario Pinheiro Filho, Paulo Tarciso Okamotto, Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRÁS
RELATOR: Des. Fed. JOÃO PEDRO GEBRAN NETO
Trechos do documento:

4. Apelação de Luiz Inácio Lula da Silva
4.1 Ato de ofício e nexo causal. Não é elemento do tipo penal da corrupção o ato de ofício, mas tão somente causa de aumento de pena. Há nexo causal entre a conduta do réu e os crimes praticados em detrimento da Petrobrás.
4.2 Da corrupção. Suficientemente lastro probatório que demonstra inequivocamente a prática do delito de corrupção.
4.3 Da lavagem de dinheiro. A mescla dos valores oriundos dos contratos obtidos mediante corrupção, aliados à ocultação da propriedade do imóvel e dos fastos neles efetuados pela OAS evidenciam o crime de lavagem de ativos.
4.4 Do armazenamento. Não há interesse recursal na pretensão da alteração do dispositivo que levou à absolvição se dessa alteração não surgem reflexos na esfera cível.
4.5 Da dosimetria das penas
4.5.1 Circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.
Devem ser não só mantidas, nos moldes da sentença, como também exasperadas, tal como pretende o órgão acusatório.
4.5.2 Critério matemático. A pena não está sujeita a critérios absolutamente objetivos ou esquemas matemáticos, cumprindo ao Julgador definir o quanto necessário para a correta prevenção e reprovação do delito. Precedentes.
4.5.3 Da atenuante do artigo 65, I, do Código Penal.
Manutenção do percentual aplicado na sentença, vez que adequado e proporcional, não havendo razão para substituir a compreensão do juízo.
4.5.4 Causa de aumento de pena do § 1º do artigo 317 do Código Penal.
Suficientemente demonstrada a prática de ato de ofício relacionado com as facilidades na contratação pela Petrobrás.
4.5.5 Pena de Multa. Redução do número de dias-multa do delito de corrupção, a fim de que guarde proporção com a pena-base, e manutenção do valor do dia-multa, eis que fixado em consonância com as condições econômicas do réu.
4.5.6 Regime inicial de cumprimento de pena e restrição à progressão.
Manutenção do regime fechado. Art. 33, § 2º, “a”, do Código Penal. É constitucional a regra inserta no art. 33, § 4º, do CP, a qual condiciona a progressão de regime à reparação do dano.
4.5.7 Confisco. O confisco do apartamento não afasta a necessária reparação do dano, vez que a prática delitiva culminou em dano que chega a 16 milhões de reais.
4.5.8 Reparação dos danos. Manutenção nos moldes da sentença, respondendo todos os réus pela reparação dos danos solidariamente.
(...)
f) condenando LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, em concurso material:
f.1) por um crime de corrupção passiva do art. 317 do CP, com a causa de aumento do §1º do mesmo artigo, pelo recebimento de vantagem indevida do Grupo OAS em decorrência do contrato do Consórcio CONEST/RNEST com a Petrobrás; f.2) por um crime de lavagem de dinheiro do art. 1º, caput, inciso V, da Lei n.º 9.613/1998, envolvendo a ocultação e dissimulação da
titularidade do apartamento 164-A, triplex, e do beneficiário das reformas realizadas, à pena privativa de liberdade de nove anos e seis meses de reclusão, bem como cento e oitenta e cinco dias-multa, calculados cada um à razão de cinco salários-mínimos vigentes ao tempo do último ato criminoso (06/2014).
Com base no artigo 7º, II, da Lei nº 9.613/98, foi decretada a interdição
de JOSÉ ADELMÁRIO PINHEIRO FILHO e de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA para o exercício de cargo ou função pública ou de diretor, membro de conselho ou de gerência de pessoas jurídicas referidas no art. 9º da Lei 9.613/98 pelo dobro da pena privativa de liberdade.
Considerando que o apartamento 164-A, triplex, Edifício Salina,
Condomínio Solaris, no Guarujá, matrícula 104801 do Registro de Imóveis do Guarujá, constituiu produto de crime de corrupção e lavagem de dinheiro, foi decretado o seu confisco, com base no artigo 91, II, “b”, do Código Penal. A fim de assegurar o confisco, foi decretado o sequestro sobre o referido bem.
Fixou o Magistrado em dezesseis milhões de reais, a ser corrigido
monetariamente e agregado de 0,5% de juros simples ao mês a partir de 10/12/2009, o valor mínimo necessário para indenização dos danos
decorrentes dos crimes.
(...)
Em razões de apelação (eventos 1011 da ação penal), o Ministério
Público Federal insurge-se contra: (...) c) a absolvição de LULA, LÉO
PINHEIRO e PAULO OKAMOTTO das imputações do crime de lavagem de capitais, concernente ao armazenamento do acervo presidencial; d) contra o número de atos de corrupção considerados na sentença; e) contra a dosimetria das penas fixadas aos apelados,
especialmente em relação à análise das circunstâncias judiciais enumeradas no artigo 59 do Código Penal, às circunstâncias atenuantes e agravantes, bem como as causas de diminuição e aumento de pena; f) contra o valor fixado na aplicação do artigo 387, caput e IV, do Código de Processo Penal.
(...)
Em razões recursais, JOSÉ ADELMÁRIO PINHEIRO FILHO alega que o real proprietário do triplex era o ex-Presidente Lula, tendo sido orientado a manter o imóvel em nome da OAS e seguir encobrindo a identidade do real proprietário. (...) Diz que foi claro em afirmar que todos os valores gastos
pela OAS eram descontados da propina a ser paga ao Partido dos Trabalhadores, incluindo uma das obras da Petrobras descrita na denúncia, conta essa administrada por João Vaccari. Diz que a existência da conta corrente de propinas e o seu uso para custear o triplex era de ciência do ex-presidente Lula.
(...)
O MPF afirma que os atos de aquisição, reforma e decoração do
triplex em favor do ex-Presidente LULA são autônomos e constituem três atos distintos, o que deveria levar a uma condenação por três atos de lavagem.
(...)
O processo escancarou o fato de os réus terem deliberadamente
participado de um esquema de corrupção imenso que serviu a violentar a própria democracia, com vistas ao enriquecimento próprio, dando vazão à pura e simples ganância ou a um projeto de poder, ou a ambos.
(...)
Não se pode deixar de considerar, de outro lado, que os acusados detinham poder de decisão e influência, sendo Luiz Inácio Presidente da República, Agenor Medeiros, Diretor da OAS, e José Adelmário, diretor-presidente da OAS, empresa de grande poderio econômico. São pessoas bastante esclarecidas, que usufruíam situação econômica confortável, auferindo elevados estipêndios, do que se conclui que dispunham muito mais do que potencial consciência da ilicitude, todos tendo a real percepção do ilícito de suas condutas e perfeitas condições de se determinar conforme esse entendimento.
(...)
Todas essas razões são mais que suficientes para agravar a pena-base
em medida mais acentuada do que a operada pelo juízo a quo, conforme bem proposto pelo recurso ministerial.
(...)
O MPF afirma que se estima um prejuízo mínimo de R$ 87.624.971,26 (oitenta e sete milhões, seiscentos e vinte e quatro mil, novecentos e setenta e um reais e vinte e seis centavos) em relação ao ex-presidente Lula, o que corresponde à soma de 3% do valor total de contratos relacionados às obras da REPAR.
(...)
Tanto o triplex permaneceu em nome da OAS, quanto as obras e o mobiliário foram contratados em nome da empresa, tendo sido contra ela emitidas as respectivas notas fiscais. E isto basta à configuração do crime de lavagem. Importante também trazer dados do processo que demonstram a perfeita ciência do ilícito e a preocupação de Luiz Inácio em não se vincular nem ao apartamento nem às reformas que foram feitas.
(...)
Diante do exposto, opina o Ministério Público Federal pela rejeição das prefaciais arguidas pelas defesas e, no mérito: a) pelo parcial provimento do recurso do MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, tão somente para que sejam exasperadas as penas aplicadas aos réus, bem como para que seja considerado um ato de corrupção para cada contrato;

Fizeram por merecer...
Paulo Roberto de Almeida 

Banco do Brics afasta Nogueira Batista da vice-presidência (demorou...)

Banco do Brics afasta Nogueira Batista da vice-presidência
Por Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico, 6/10/2017

O economista Paulo Nogueira Batista Junior foi afastado da função de vice-presidente executivo do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics, num ambiente de turbulências, confirmaram diferentes fontes.
O brasileiro por sua vez pediu abertura de investigação interna contra o presidente do banco, o indiano K. V. Kamath, e contra o vice-presidente que representa a Rússia, Vladimir Kazbekov.
Os cinco emergentes sócios do banco - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - vão precisar administrar bem a situação para evitar uma crise diplomática, segundo observadores.
Há pouco mais de um mês o banco abriu dois processos internos contra Nogueira Batista: um, por alegação de assédio moral contra outro funcionário brasileiro do banco. E o segundo por eventual rompimento de seu contrato profissional com comentários sobre política interna de um país membro, no caso o Brasil.
No dia 30 de setembro o economista foi suspenso do cargo, quando o presidente do banco chegou a pedir ao conselho de diretores da instituição que Nogueira Batista fosse demitido. Esta semana o caso foi enviado para votação no "board" de governadores, que reúne ministros de finanças dos cinco países. Nem todos votaram ainda. O Brasil votou pela demissão.
Pouco antes do afastamento do cargo, no fim de setembro, Nogueira Batista tinha pedido investigação interna sobre violação do código de ética do banco (compliance) contra o vice-presidente russo, alegando que este não respeitou políticas de recursos humanos da instituição.
Já suspenso, Nogueira Batista fez outro pedido de investigação, dessa vez contra o presidente do banco, alegando que Kamath deu entrevista sobre temas de política monetária da Índia - aparentemente uma forma de reagir à acusação de que o próprio Nogueira fez comentários sobre a política interna brasileira.
Indagado por telefone se confirmava o afastamento, Nogueira Batista ignorou a questão, reclamou da reportagem que revelou o caso do assédio moral no banco e pediu que o Valor não voltasse a telefonar.
O banco do Brics está fechado esta semana, em razão do longo feriado na China, e a assessoria de imprensa não respondeu a pedidos por esclarecimentos. O banco é sediado em Xangai. No entanto, diferentes fontes de países emergentes confirmam a suspensão e consideram que a situação é bastante desconfortável.
Nogueira Batista esteve esta semana em Brasília, onde tinha encontro agendado com o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e com o ministro da Secretaria-Geral da presidência, Moreira Franco. As informações são de que a iniciativa contra ele vem do próprio banco e não do governo brasileiro.
Nogueira Batista tem mandato de seis anos, até 2021, como vice-presidente, indicado pelo governo de Dilma Rousseff. Em caso de afastamento definitivo, dever receber uma indenização significativa.
Um vice-presidente do banco do Brics ganha cerca de US$ 40 mil por mês, livre de impostos, mais motorista e secretária à disposição. O salário é maior em Xangai do que em Washington, segundo fontes.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Ricupero: crise economica, instabilidade política, corrupcao - livro

Ricupero: dinâmica da política no país tem sido a mesma do câncer

Em novo livro, o embaixador Rubens Ricupero faz uma reflexão sobre os desafios da política e a história das relações exteriores do Brasil

“Desde a queda do Estado Novo, em 1945, até nossos dias, o Brasil passou, em pouco mais de 72 anos, por três regimes políticos: o da Constituição de 1946, o dos militares (1964-1985) e o da Constituição de 1988. No primeiro deles, de 18 anos, apenas dois dos cinco presidentes (Dutra e Juscelino) começaram e terminaram o mandato nas datas previstas. Dos três outros, um se matou (Getúlio, 1954), o segundo renunciou (Jânio, 1961), e o terceiro foi deposto (Jango, 1964). Passemos por cima dos quase 21 anos do regime militar. Agora o atual regime político já passou dos 32 anos, quase o dobro do primeiro. Dos sete presidentes, um chegou ao fim do mandato só Deus sabe como (Sarney, 1990); dois sofreram impeachment (Collor, 1992; Dilma, 2016); dois cumpriram mandatos duplos (Fernando Henrique e Lula); um completou o termo de Collor (Itamar); e o outro (Temer) tenta fazer o mesmo com o de Dilma. A primeira e inescapável conclusão é que os governos não se tornaram mais estáveis. A taxa de instabilidade e ruptura continua intoleravelmente alta, ainda que agora os afastamentos sejam feitos não por golpes militares.
Debaixo da volatilidade política está uma enorme oscilação na economia. Desde os choques do petróleo e da crise da dívida externa dos anos 80, o Brasil perdeu a capacidade de crescer a taxas altas por períodos prolongados. Não foi possível garantir estabilidade de preços, crescimento e equilíbrio do orçamento e do balanço de pagamentos ao mesmo tempo. Quando se avançou num dos campos, quase sempre houve desequilíbrio nos outros, culminando, em 2015, com o pior dos mundos: recessão, inflação e um déficit alarmante no orçamento.
Há, no entanto, uma diferença para o passado: mesmo nas horas mais difíceis, não se perdeu por completo o controle da inflação e, desta vez, evitou-se o estrangulamento externo. Outro progresso no período foram o nível de consciência a respeito da dívida social e a adoção de políticas públicas eficazes para eliminar a indigência, reduzir a pobreza, diminuir a desigualdade, melhorar a saúde, a educação e o meio ambiente, emancipar as mulheres, combater o preconceito contra as diferenças de sexualidade, reconhecer e promover os direitos de negros e indígenas com ações afirmativas e corretivas, facilitar o acesso à terra, instituir o respeito aos direitos humanos. Resumindo: integrar à sociedade os que vivem à sua margem. O desafio no futuro será manter e ampliar os avanços em um círculo virtuoso pelo qual democracia, prosperidade e melhoria social reforcem uns aos outros.
Rubens Ricupero: ele foi secretário-geral da Unctad, um dos principais órgãos das Nações Unidas | Ana Paula Paiva/Valor/Folhapress
Alguns cientistas políticos costumam afirmar que nada há de essencialmente errado com o sistema político brasileiro, que cumpriria sua função principal de produzir decisões. Nem o presidencialismo de coalizão nem a fragmentação partidária e outros vícios impediriam o Executivo de obter do Legislativo e do Judiciário as decisões necessárias para governar. Superficialmente, pode parecer verdade. Afinal, a Constituição de 1988 registra nada menos que 93 emendas em 29 anos desde a promulgação (5 de outubro de 1988) — a Constituição dos Estados Unidos ostenta 27 em 228 anos.
O que a análise dos números não mostra é a qualidade e o preço das decisões. Um dos defeitos de minimizar os problemas do sistema político reside em sua suposta neutralidade em matéria de valores. Outro consiste na miopia que leva a enxergar apenas o imediato, sem avistar as consequências mais distantes. Fotografa-se o funcionamento do sistema político num momento, sem assinalar que o sistema é dinâmico, e seus custos, cada vez mais altos em termos éticos e econômicos, terminam por torná-lo disfuncional.
A dinâmica do regime político brasileiro tem sido a mesma do câncer: cresce mediante a proliferação de células até ocasionar a sua morte. O aspecto que melhor ilustra isso (nem de longe o único) é a formação dos partidos. Na época de Geisel/Figueiredo, havia dois partidos, passando a cinco ou seis na abertura democrática. O número foi crescendo até atingir os atuais 35. Há outros 125 com pedidos de aprovação na Justiça Eleitoral! Fora do Brasil, qualquer pessoa que tomasse conhecimento das cifras pensaria que somos um país de insensatos. E, no entanto, em 2006, os sensatos membros do Supremo Tribunal julgaram a cláusula de barreira inconstitucional.
POLÍTICOS DE ALUGUEL
Cria-se um partido para ganhar acesso aos recursos do Fundo Partidário, convida-se um palhaço, uma estrela de TV, um craque de futebol a liderar a chapa de deputados e, com os votos, arrastam-se mais três, quatro ou cinco eleitos, graças ao quociente partidário. Forma-se um pequeno bloco na Câmara ou nas assembleias, e começa aí o ‘negócio da governabilidade’: a troca de votos por verbas, nomeações, propinas. Se, com seis partidos, o custo já é elevado, imagine-se com 30! Nos tempos da escandalosa corrupção política americana, na máquina democrata de Tammany Hall, que dominou a política municipal de Nova York de 1854 a 1934, o conceito de político honrado (honorable politician) era o de alguém que ‘uma vez comprado, permanecerá comprado’ (once bought will stay bought). O problema é que, hoje, alguns políticos já não se vendem mais; alugam-se a cada votação pelo melhor preço.
Malas de Geddel: a Lava-Jato é a reação do sistema imunológico da nação | Divulgação
Juntando a negociação à fragmentação partidária e à impossibilidade de um só partido adquirir maioria própria, não há  dinheiro que seja suficiente. O sistema político transformou-se em mecanismo insaciável da transferência de recursos da economia para os partidos, para os políticos e para uma multidão de intermediários. Até empresas riquíssimas como a Petrobras viram-se quase destruídas pela extorsão. Conquistas que, em circunstâncias normais, fortaleceriam a empresa, como as descobertas do pré-sal, serviram para mudar a escala da corrupção, que saltou dos milhões aos bilhões de dólares. A Operação Lava-Jato é, no fundo, a reação saudável do que resta do sistema imunológico da nação, demonstrando que a maioria dos cidadãos não aceita o intolerável custo ético do funcionamento de um regime político irremediavelmente corrompido.
Pode um tal regime sobreviver aos sinais de esgotamento? Só se for capaz de cortar na própria carne e levar avante uma reforma significativa das distorções escancaradas pela crise do impeachment e da Lava-Jato. Os vícios e as doenças do sistema estão diagnosticados e não existe mistério quanto à cura. As reformas indispensáveis têm sido exaustivamente debatidas e só não foram adotadas em razão da resistência dos interesses, não devido a uma insuperável (e falsa) complexidade das soluções. Sem as reformas cruciais, a ruptura se tornará, cedo ou tarde, inevitável. Os países que dão certo são aqueles onde as instituições se revelaram capazes de se autorreformar no grau necessário e na hora adequada. Estará o Brasil entre eles? A resposta vai depender não do fado ou das estrelas, e sim do que acontecer a partir de agora. Nada, nem o sucesso nem o fracasso, está predeterminado ou garantido.