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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Futuro chanceler busca falcatruas da "ativa e altiva" (OESP)

Futuro chanceler diz que buscará 'possíveis falcatruas' de Celso Amorim no Itamaraty

Ernesto Araujo também diz que Brasil não terá 'a cabeça enfiada na terra para não ver o grande embate mundial entre o globalismo e a liberdade'

Lu Aiko Otta, O Estado de S.Paulo 
19 Novembro 2018 | 11h13

Após a polêmica que se seguiu ao anúncio de seu nome para comandar o Ministério das Relações Exteriores no governo de Jair Bolsonaro, o embaixador Ernesto Fraga Araújo, usou sua conta no Twitter para se manifestar. Ele adotou um tom tranquilizador sobre seus planos e rebateu críticas do ex-ministro Celso Amorim
“Não se preocupem. O Brasil terá os pés no chão”, escreveu em letras amarelas, numa imagem de fundo verde. “Na nova política externa, vamos negociar bons acordos comerciais, atrair investimentos e tecnologia. Terá os pés no chão, mas a cabeça erguida!”, acrescentou, dizendo que a política externa “não ficará de quatro diante das ditaduras”, nem “a cabeça enfiada na terra para não ver o grande embate mundial entre o globalismo e a liberdade.” 
Ele ainda escreveu que fará um “exame minucioso” da política externa do ex-ministro Celso Amorim “em busca de possíveis falcatruas.” 
No último fim de semana, Amorim afirmou que a implementação das ideias de Araújo representaria uma volta à Idade Média. “Não entendi se é crítica ou elogio, mas informo que não retornaremos à Idade Média, pois temos muito a fazer por aqui, a começar por um exame minucioso da “política externa ativa e altiva” em busca de possíveis falcatruas”, rebateu o futuro chanceler por meio de sua conta no Twitter. 
Celso Amorim foi o chanceler durante todo o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), período no qual implementou o que chamava de “política externa ativa e altiva”, na qual foram valorizadas as relações com países da região, a África e os emergentes, na política batizada de “Sul-sul”. Pelo que foi informado até o momento, as linhas de política externa de Jair Bolsonaro têm uma orientação diametralmente oposta. 
No entorno do presidente eleito, há muitas críticas à politização do Mercosul e à criação de outros foros de contraposição aos Estados Unidos - que, no futuro governo, despontam como principal prioridade. Há críticas também às operações de financiamento realizadas pelo BNDES a países amigos à época. Elas são alvos da devassa prometida por Bolsonaro nas contas da instituição.

Terminar imediatamente com Fundo Partidario e com Fundo Eleitoral - Editorial Estadão

Questão de moralidade

Editorial O Estado de S.Paulo, 18/11/2018

Como entidades privadas, os partidos políticos deveriam ser custeados por recursos de seus quadros e por doações de simpatizantes

Como entidades privadas que são, os partidos políticos deveriam ser totalmente custeados por recursos de seus quadros e por doações de cidadãos simpatizantes de suas agendas programáticas. O País ainda não atingiu este patamar de maturidade democrática e, por esta razão, as agremiações contam com dinheiro público farto e fácil para bancar suas estruturas administrativas, campanhas eleitorais e sabe-se mais o quê. “A democracia tem um custo”, dizem, não sem uma boa dose de cinismo, os que defendem o modelo de financiamento público. 
Em setembro de 2015, vale lembrar, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu doações de pessoas jurídicas para as campanhas eleitorais. Como se sabe, esta era uma das principais fontes de receita dos partidos políticos. Em boa hora, o STF decidiu acabar com esta excrescência. Afinal, empresas não têm direitos políticos. 
A “solução” encontrada pelos políticos após o bom juízo do Supremo foi a mais fácil possível: criar um tal Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), que neste ano contou com R$ 1,7 bilhão em recursos do Tesouro. Um descalabro muito confortável para os que não querem ter o trabalho de conquistar doadores privados na base do convencimento. 
Posto que partidos recebem recursos públicos, o mínimo que o contribuinte pode esperar, por questão de moralidade, é que tanto a destinação como o uso da polpuda quantia dada aos partidos políticos estejam dentro da lei. E, quando não estiverem, que o Ministério Público e o Poder Judiciário empreendam todos os esforços para reaver o dinheiro. Há um bom sinal de que isso possa acontecer. 
Segundo levantamento feito pela ONG Movimento Transparência Partidária, a partir de dados publicados na internet pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cerca de mil candidatos impedidos pela Justiça Eleitoral de disputar as eleições de 2018 – a maioria por não atender aos critérios de elegibilidade previstos na Lei da Ficha Limpa – podem ter de devolver quase R$ 39 milhões aos cofres públicos. A quantia fora sacada do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas, do Fundo Partidário e de doações às candidaturas por fim impugnadas. 
Sozinho, Luiz Inácio Lula da Silva, o “candidato” que nunca foi e jamais poderia ter sido, responde por mais da metade dos recursos que o Ministério Público pretende recuperar: R$ 20 milhões. Este é o valor oficialmente declarado pelo PT para bancar o circo que foi montado em torno do engodo da “candidatura Lula”. Além deste valor, oriundo do FEFC, o partido declarou outros R$ 599 mil recebidos a título de doações para a campanha do presidiário de Curitiba por meio de “vaquinhas”. Estes, de acordo com nota do PT, estão sendo devolvidos a quem os doou. 
Não bastasse ter feito o País desperdiçar preciosos meses em debates infrutíferos sobre a viabilidade de uma candidatura natimorta, pois flagrantemente ilegal, Lula da Silva ainda gastou R$ 20 milhões em recursos públicos para assistir, de dentro de uma cela, ao espetáculo de prepotência, egoísmo e vaidade que ele mesmo engendrou. 
A devolução de recursos públicos destinados a candidaturas impugnadas pela Justiça Eleitoral não está prevista explicitamente na legislação. Ela está baseada em uma resolução normativa assinada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que defende que o Ministério Público Eleitoral deve pedir ressarcimento aos cofres públicos do dinheiro dado a candidatos que tenham sofrido condenações prévias que já os tornem inelegíveis antes mesmo do ato de registro das candidaturas. A PGR entende que os pedidos de devolução devem ocorrer após o término do prazo legal para prestação de contas ao TSE, a quem cabe analisar o ressarcimento caso a caso. 

O Estado deve dar uma resposta na exata medida da afronta. O caso da enganosa candidatura de Lula da Silva é o mais notório e mais caro, mas não é o único. A Justiça Eleitoral deve ser diligente na análise de cada um deles a fim de proteger não só os recursos públicos, mas também a saúde do próprio sistema eleitoral.

domingo, 18 de novembro de 2018

Cartas de Prestes e de Olga Benario - Jose Casado (O Globo)

Ver as fotos, de 1 a 6 (suprimidas nesta postagem), no site do jornal: 



Um romance no cárcere: cartas mostram amor entre Olga Benario e Luiz Carlos Prestes


Correspondência do casal de revolucionários comunistas se destaca entre as 330 cartas do líder do PCB achadas no lixo

por José Casado
O Globo, 18/11/2018 4:30 / Atualizado 18/11/2018 7:28

Em cartas achadas no lixo de Copacabana, a paixão e o drama do casal Olga Benario e Luís Carlos Prestes depois da derrota na rebelião de 1935, promovida pelo Partido Comunista contra o governo Getulio Vargas para instaurar uma ditadura do proletariado no Brasil. Documentos históricos vão a leilão nesta quarta-feira.  
1
Com amor, Olga
Olga Benário e Luís Carlos Prestes- Reproduções
A letra saiu firme na finíssima folha de papel: “Rio, 4.IV.36. Ao Snr. Luís Carlos Prestes”.
Naquele sábado, 4 de abril de 1936, contava um mês desde a prisão no Méier, Zona Norte do Rio, e a separação do marido na sede da polícia. Amputou o tom formal num espaço branco e debulhou a solidão em francês fluido, como quem sussurra a ouvido íntimo:
“Meu querido,
espero que essas linhas cheguem nas suas mãos.
Eu queria muito te dizer uma coisa que diz respeito somente a nós dois. Mas diante das circunstâncias, não me resta [nada mais] que essa possibilidade.
Querido, nós teremos um filho. (Eu sinto todos os sinais que existem nesse caso. Vômitos etc.) Esse acontecimento me faz muito feliz, ainda que eu me dê conta das dificuldades que terei de atravessar. Enfim, nós teremos uma expressão viva de todo o bom e doce que existe entre nós. Eu imagino que você esteja inquieto sobre minha situação.”
‘Querido, como eu queria saber de você, se você está vivo, com saúde, eu não sei de nada. Estou muito, muito, inquieta e te peço para me dar uma resposta a esta carta’
- Olga BenarioCarta para Luís Carlos Prestes escrita na prisão da Rua Frei Caneca
Acrescentou: “Eu me encontro sozinha numa cela sem livros e eu não saio nunca de minha cela. Para me impedir de ver o céu, colocaram um grande pedaço de tecido na frente. Então eu passo os dias olhando as paredes e esse pedaço de tecido.
Tudo isso não é agradável, mas eu te asseguro que terei força suficiente para resistir.
Querido, como eu queria saber de você, se você está vivo, com saúde, eu não sei de nada. Estou muito, muito, inquieta e te peço para me dar uma resposta a esta carta.”
Despediu-se: “Você sabe que todo o meu coração e meus pensamentos estão sempre perto de você.
Muitos beijos,
Sua.”
Papel esgotado, espremeu a letra no canto esquerdo para um P.S.: “esta carta é um pouco (ininteligível), mas você compreende...!
Responda-me!
Maria Prestes,
Casa de Detenção”
2
Para fugir de Hitler, Olga foi Eva, Frieda e Maria

Carta enviada por Olga da prisão a Prestes- Agência O Globo

Era Maria, já havia sido Eva, Frieda e outras tantas em Berlim, Moscou e no Rio, mas ainda evitava assumir a identidade real, Olga, e a origem do sobrenome Benario, judaico-alemão. Provavelmente por temer a deportação para a Alemanha de Adolf Hitler.
Estava no pavilhão prisional da Rua Frei Caneca, Centro. Dois quilômetros de distância a separavam do marido, enjaulado, isolado e incomunicável no Quartel da Polícia Especial, no Morro de Santo Antônio.
Conheceram-se sob o inverno moscovita às vésperas do Natal de 1934. Disfarçados de casal milionário, embarcaram para o Rio com a missão de deflagrar a revolução no Brasil, abrindo caminho para uma ditadura do proletariado na América do Sul.
Agente premiada, aos 27 anos foi escolhida para proteger o cultuado Prestes, dez anos mais velho, chefe do Partido Comunista do Brasil (PCB) e integrante da mesa central da Terceira Internacional (Comintern), fundada na década anterior por Vladimir Lenin.
Apaixonaram-se e casaram-se durante a viagem de 12 semanas por 18 países para dissimular o destino.
Separados e atrás das grades um ano depois, eram apenas sobreviventes de um monumental fiasco político, o levante comunista de novembro de 1935 em Natal, no Recife e no Rio — usado pelo governo Getulio Vargas para impor o estado de sítio e ampliar a repressão aos adversários.
Restavam-lhes lembranças do romance em liberdade e incertezas de encarcerados num mundo à beira da guerra. Verteram angústias em monólogos escritos, alguns jamais recebidos como foi o caso da folha manuscrita naquele sábado de abril com a notícia da gravidez (o pai soube da gestação no trimestre seguinte e só viu a filha, Anita Leocadia, com 9 anos.)
3
Catador levou achado à Praça XV

O passaporte de Prestes e de sua esposa Olga, com nomes fictícios- Reprodução
Essa carta se destaca entre outras 330 enviadas a Prestes por Olga, família e amigos. Foram achadas, aparentemente, numa caixa jogada à beira de rua em Copacabana. Vão a leilão na quarta-feira.
Aos sábados na praça, antigo ponto de reunião de burocratas, é possível encontrar desde uma nota de mil réis até a primeira edição do GLOBO, de 29 de julho 1925, com manchete sobre o delírio do empresário americano Henry Ford com seringueiras na Amazônia: “Voltam-se as vistas para a nossa borracha!”. Naquele inverno, o capitão Prestes comandava uma coluna rebelde contra a Velha República. Vararam 25 mil quilômetros de chão, a pé e a cavalo, por 11 estados. Fracassaram.
Na praça, um comércio multicolorido de velharias se espraia ao redor do Paço Imperial, onde despachavam D. João VI, rei de Portugal, Brasil e Algarves, e os Pedro, imperadores brasileiros.
Nesse microcosmo capitalista há numa divisão informal de mercado. Catadores ou burros sem rabo, por causa das carroças de tração humana, são os garimpeiros urbanos. Abastecem 366 barraqueiros e incontáveis “sem-terra”, os sem licença municipal que deitam produtos sobre o calçamento.
Alex Seixas, um “sem-terra”, narra a compra das cartas enviadas a Prestes de um burro sem rabo, cinco anos atrás, em Copacabana. Sob um chapéu de pano evocando o modelo de Sherlock Holmes, um deerstalker, Seixas diz ter pago os R$ 500 pedidos, mas não lembra o nome. Leu uma carta, sua mulher olhou outras, mas nada entenderam: “Não sabia o nome de quem escreveu. Vendi quando precisei de dinheiro.”
Num amanhecer de sábado encontrou Carlos Otávio Gouvêa Faria, conhecido como Cacá, montando barraca na Praça Quinze. Espalhou as cartas no chão, indicando selos antigos nos envelopes carimbados pela censura de guerra de Brasil, México, EUA, França e Alemanha.
4
'Garimpeiro urbano' levou achado a leilão

Ccarta de Olga Benário para Prestes, cuja transcrição está no livro de Anita Prestes- Márcia Foletto / Agência O Globo

Mais experiente e letrado, Cacá percebeu que era correspondência de Prestes. Comprou a papelada — não revela quanto pagou — e, à noite, em casa, pesquisou para compreender o acervo.
Ele vive disso há mais de 30 anos, com êxito. Já comprou de um burro sem rabo um lote de ações ao portador da Petrobras e da Gerdau. Levou o “lixo” ao gerente do seu banco e saiu com mais de R$ 200 mil no bolso, gastos na residência com piscina em Nova Iguaçu.
Em outra bamburrada de garimpo urbano adquiriu o porte de arma de Carlos Lacerda, ex-governador da Guanabara. Em agosto de 1954 ele foi vítima de um atentado em Copacabana, referência do início da derrocada do seu adversário Getulio Vargas. Lacerda reagiu a tiros. A autorização para uma Smith & Wesson .38 foi vendida a um colecionador.
Cacá submeteu as cartas enviadas a Prestes ao crivo de Soraia Cals, leiloeira de arte. Decidiram vender em lote único. “Seria uma ‘violência’ repartir o acervo” — ela argumenta. “Melhor perder dinheiro e manter o conjunto, com apenas um dono.”
Talvez um dia essa correspondência sobre amor em tempo de guerra seja exposta ao público.
5
Presa com Barão de Itararé e Graciliano Ramos

Fachada do antigo presídio da Rua Frei Caneca, onde Olga ficou presa. Complexo foi demolido em 2010- Arquivo O Globo / Agência O Globo
O leilão de um acervo de cartas, quarta-feira no Rio, abre novo capítulo na história de um romance que permeou decisões sobre o confronto armado do Partido Comunista do Brasil (PCB) com o governo Getulio Vargas, em 1935, para instaurar no país uma ditadura do proletariado.
A correspondência narra, pela lente intimista, as sequelas nas vidas de Luís Carlos Prestes e de sua mulher, a alemã Olga Benario. Em apenas 16 meses se apaixonaram, casaram-se, foram derrotados, presos e separados.
Eram ativistas do comunismo no Brasil de 83 anos atrás, dominado pelo avanço das ideias antiliberais, impulsionadas pelos regimes de Adolf Hitler, na Alemanha, e de Benito Mussolini, na Itália.
A sedução fascista arrebatava corações e mentes nas ruas cariocas, com a alegoria dos desfiles de militantes uniformizados da maior organização de massa até então vista na República, o Partido Integralista.
O integralismo ofertava um elixir político composto por um “Estado forte”, avesso aos “erros” do capitalismo e do comunismo, nacionalista e conciliado na doutrina social do cristianismo. Tudo sob o estandarte “Deus, na Pátria e na Família” — lema que o humorista Barão de Itararé converteu para “Adeus, Pátria e Família!”. Na pele do gaúcho Aparicio Torelly, o Barão foi vizinho de Olga Benario na prisão da Rua Frei Caneca.
Branca e serena, na descrição do escritor Graciliano Ramos, também preso, ela chamava a atenção aos 28 anos pela altura, grandes olhos azuis e porte atlético.
O sotaque pesado transparecia nos interrogatórios, conta o biógrafo Fernando Morais. Carregava nos erres: “Eu sou a mulher de Prestes, que é brasileiro. Portanto, sou brasileira.”
6
Morta no campo de concentração

Documento assinado pelo diretor Gestapo, polícia política de Hitler, sobre Olga Benário- Agência O Globo

Grávida de sete meses, foi deportada por Vargas para a Alemanha de Hitler em setembro de 1936, com apoio da Corte Suprema (atual STF). Alemã, judia e comunista, Olga ficou numa prisão-hospital em Berlim até o nascimento da filha, Anita Leocadia — resgatada da vida entre grades aos 14 meses após uma campanha da família Prestes na Europa e nos Estados Unidos.
Passou ao campo de concentração de Ravensbrück, enquanto no Rio o marido era condenado a 16 anos de prisão (até a anistia cumpriu nove anos, sete dos quais na “solitária”). Escreveu-lhe sobre a solidão no inverno de 1940: “Eu imagino que a sua não seja assim pra você, que vive no mundo dos seus pensamentos (...) Fico imaginando como você iria se divertir com eu te contando os meus sonhos.”
Quando veio a primavera, desabafou: “Vocês não imaginam a gratidão que se tem pelo sol.” Naquele abril, Hitler invadia a Dinamarca e a Noruega, e os soviéticos massacravam 22 mil poloneses. Mês seguinte alegrou-se com uma carta do marido: “Como eu poderia descrever pelo menos uma fração dos sentimentos e pensamentos que suas lindas palavras despertaram em mim.”
Em Ravensbrück se tornou “blockova”, a vigilante do bloco judeu nomeada pelos nazistas, relata a escritora Sara Helm. “Devo admitir que parei de esperar milagres” — contou em carta a Prestes. “Nunca devemos culpar o destino, pois afinal, apesar das dificuldades, nos provou que somos feitos um pro outro e temos a Anita.”
Resignava-se no final de 1941: “Temos que continuar tendo paciência”. Àquela altura, o Nordeste, estopim do levante comunista com que ela e Prestes sonharam, tornou-se base dos EUA para ataque aos nazistas na África.
Pouco antes do Natal, a “blockova” Olga deixou uma cigana de 3 anos, doente, dormir além do permitido. O SS Johann Kantschuster viu, entrou na ala 11 de Ravensbrück, agarrou a criança pelos cabelos, “levou-a para o lago e a afogou” — contou Alice Bernstein, sobrevivente, à escritora Helm.
Depois de quase dois mil dias prisioneira, foi executada em abril de 1942. Prestes só soube sete anos mais tarde, ao sair da prisão anistiado. Perdoou Getulio Vargas, publicamente.

Politica externa: campo aberto ao radicalismo - Editorial O Globo

Política externa é campo aberto ao radicalismo

É curioso que Bolsonaro repita Lula e coloque a diplomacia a serviço da ideologia do presidente

A diplomacia brasileira tem tradição de profissionalismo. Com o passar do tempo, consolidou-se como uma atividade típica de Estado, cuja característica é a estabilidade, independentemente do governo de turno. Grande símbolo deste aspecto positivo é que aquele considerado patrono da diplomacia na República, José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, era filho de importante personagem do II Reinado, Visconde do Rio Branco, também diplomata. Maior demonstração de continuidade, impossível.

A era Bolsonaro causa preocupação com a política externa que seguirá a partir da indicação para ministro das Relações Exteriores do embaixador Ernesto Araújo, da chefia do Departamento dos EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty.
Araújo é conhecido, por meio de textos e do que escreve em blog, por defender posições ultraconservadoras, ser contra o “globalismo” e alinhar-se ao nacionalismo isolacionista de Donald Trump.
Além de ser preocupante, a escolha de Araújo gera o fato curioso de repetir com sinal trocado o que o PT, em seus 13 anos de poder, fez com a diplomacia brasileira, ao subordiná-la à ideologia dos ocupantes do Planalto. Com Bolsonaro e Ernesto Araújo, tudo se repete, neste aspecto.

Bolsonaro sempre criticou o lulopetismo, e com razão, por atrelar a política externa brasileira ao nacional-populismo latino-americano, e ao privilegiar ditaduras africanas, deixando em segundo plano o chamado Primeiro Mundo (Estados Unidos e Europa).
Pois agora, também claramente por ideologia, Bolsonaro conecta a diplomacia a um nacional-populismo, mas ao de Donald Trump e de simpatizantes do presidente americano na Europa. O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, por exemplo.
Também como Lula, Bolsonaro, que tem feito e bancado escolhas corretas na administração da economia (Paulo Guedes e equipe) e na Justiça (Moro) — destinando, aos dois, importantes estruturas de poder para que possam enfrentar ameaças sérias ao estado democrático de direito (crise econômica, corrupção e crime organizado) —, usa a política externa para atender a seus pendores ideológicos e de seguidores.
Em 2003, ao assumir o primeiro mandato, Lula também acertou na montagem da equipe econômica (Palocci, Meirelles, Levy etc.), e, em compensação, doou o Itamaraty a companheiros (Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia, Samuel Pinheiro Guimarães).
Uma preocupação com o futuro chanceler é que, seguidor de Trump, ele poderá investir contra a China — o que Bolsonaro já fez. Sucede que os chineses são os maiores parceiros comerciais do Brasil. E ainda poderá dificultar a integração do país ao mundo, por ser contra a globalização.
Araújo não parece exercitar o tradicional pragmatismo do Itamaraty. Não seria aprovado pelos Rio Branco, o visconde e o barão.

Atibaia: um dos últimos pregos no caixão do maior ladrão do Brasil - Guilherme Fiuza (GP)

Depois da próxima condenação, pelo sítio de Atibaia, sobrarão poucos militantes fanáticos — além dos apparatchiks pagos para vociferar sabendo que estão mentindo — para continuar insistindo na tese do condenado sem provas.
Os brasileiros poderão, enfim, se render à verdade de que o Brasil, entre 2003 e 2016, foi comandado por uma organização criminosa.
Paulo Roberto de Almeida

"O que interessa é que Luiz Inácio da Silva continua simbolizando o Brasil que pode atropelar as instituições em nome de uma demagogia tosca – lastreada justamente em você, prezado hipócrita esclarecido, que continua comprando ações do “cadê as provas”, a impostura mais famosa da fervilhante bolsa das bondades de aluguel". Coluna semanal de Guilherme Fiuza na Gazeta do Povo:


A nova condenação de Lula, agora no processo do sítio de Atibaia, trará consigo outro veredito ainda mais importante: é hora de saber qual Brasil continuará perguntando cadê as provas. Ou melhor: é hora de saber qual Brasil decidirá assumir, ostensiva e definitivamente, o papel de cúmplice.

A brincadeira acabou. Petistas e genéricos continuarão abrigados na fantasia patética do preso político porque não têm outra saída. Mas quem não vive diretamente dessa lenda miserável terá de decidir. Ou vai ao Google, constata a floresta de crimes cometidos por Lula e abandona a ladainha vexatória, ou assina embaixo da delinquência.

E quem subscreve delinquência não é militante progressista, é delinquente.

O Brasil que quer se organizar e crescer até poderia relevar a banda do Lula Livre – concedendo a ela, num gesto magnânimo, o status de Napoleões de hospício. Mas infelizmente não é disso que se trata.

No início do seu depoimento a Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro, Lula afrontou a juíza. Em seu conhecido (e dissimulado) estilo intimidador, saiu interpelando a autoridade, com a velha erudição de botequim: “Eu sou o dono do sítio ou não?”, foi disparando o ex-presidente preso, entre outras bravatas.

“Senhor ex-presidente, este é um interrogatório – e se o senhor começar nesse tom comigo vamos ter problema”, retrucou a juíza.

Parêntese cultural: adivinhe se surgiu ou se jamais surgirá algum militante progressista, feminista ou politicamente correto para repudiar esta afronta de um criminoso condenado contra uma mulher representante da lei? Adivinhou, seu danado.

Mas isso já nem interessa, fica para o anedotário do moralismo tarja preta. O que interessa é que Luiz Inácio da Silva continua simbolizando o Brasil que pode atropelar as instituições em nome de uma demagogia tosca – lastreada justamente em você, prezado hipócrita esclarecido, que continua comprando ações do “cadê as provas”, a impostura mais famosa da fervilhante bolsa das bondades de aluguel.

O presidente do BNDES no novo governo, Joaquim Levy, foi escolhido com a missão de “abrir a caixa-preta” do banco. É uma frase de efeito, das que o presidente eleito gosta de usar porque estão na boca do povo. Mas não é só uma tirada. Bolsonaro de fato deseja comprar essa briga – talvez uma das maiores que se possa comprar no Brasil de hoje.

Nessa caixa-preta está, certamente, a maior quantidade de provas dos crimes do PT contra as instituições nacionais.

Vale dizer que há vários gatos escondidos com o rabo de fora da caixa – como o favorecimento descarado e bilionário ao grupo de Joesley Batista, que virou o maior corruptor confesso da República, e laranja inconfesso do sistema petista. Desse entroncamento proveio a conspiração de maio de 2017 para derrubar Michel Temer, operada pelo simpatizante fantasiado de procurador Rodrigo Janot.

Se tudo tivesse corrido “bem”, a remoção da aparelhagem petista teria sido interrompida e o açougueiro do PT teria tido um final feliz em seu doce exílio novaiorquino, chancelado pelo STF.

Há muito mais a mostrar sobre como o dinheiro do BNDES, isto é, do trabalhador brasileiro, financiou indiretamente até lobby da quadrilha sobre os altos tribunais.

O Tribunal de Contas da União já tem farta literatura sobre os caminhos criminosos de créditos do BNDES para corrupção da agremiação de Lula, Dilma (solta) e cia envolvendo empreiteiras nacionais e ditaduras estrangeiras. É esse ninho de obscurantismo e bandidagem que você, hipócrita do “cadê as provas”, legitima com o seu verniz ideológico de 1,99.

Com a nova condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, é preciso condenar também a lavagem de reputações. Que os pedalinhos personalizados de Atibaia – que gritam sua obscenidade na paisagem dos engolidores de provas – se tornem o emblema definitivo da honestidade intelectual: fora das caixas-pretas e sob a luz do sol, roubo não é distração, ladrão não é vítima e defensor de bandido é, apenas e tão somente, defensor de bandido.

Os verdadeiros inimigos do Brasil - Alexandre Garcia

Os verdadeiros inimigos do país não são, como se apregoa frequentemente em certos círculos, os grandes capitalistas, os banqueiros, os especuladores estrangeiros, os "latifundiários", os "reacionários", os saudosistas da ditadura militar e outros "inimigos do povo".
Os verdadeiros inimigos da nação são os privilegiados corporativos, que estão no próprio coração do Estado brasileiro, os políticos irresponsáveis que vivem mamando nas estatais e arrancando nacos do orçamento  público com "emendas não contingenciáveis", os diretores de estatais que saqueiam as agências públicas, aqueles que se apropriam dos recursos duramente criados pela população em salários nababescos, em gratificações insultuosas aos mais humildes, em bonificações pornográficas, em espertezas adquiridas e inscritas na legislação, quando não na Constituição – essa esquizofrenia econômica – e seus aliados no setor privado: os capitalistas promíscuos, os banqueiros que são gigolôs do Estado (via dívida pública), os intermediários de toda ordem em compras governamentais, os empresários protecionistas, os responsáveis partidários de agremiações irrelevantes que vivem de Fundo Partidário e agora de Fundo Eleitoral, enfim, todos os patrimonialistas tradicionais e os modernos, os defensores de uma estatização que simplesmente impede o crescimento do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

A verdadeira oposição a Bolsonaro será silenciosa e sub-reptícia

Alexandre Garcia, 17/11/2018
"A mais forte oposição será silenciosa, sub-reptícia, forte, eficiente, de todos os que não querem perder privilégios, mamatas, garantias, direitos adquiridos mas não merecidos. É aquele pessoal convicto de que conquistou a boquinha e já tem estabilidade nela". Do Facebook de Alexandre Garcia:


Engana-se quem pensa que a oposição será o PT. Talvez seja apenas a oposição mais evidente, mais barulhenta, mais exposta com suas ameaças. Nisso, o PT parece que vai estar acompanhado pela PSOL e seus coadjuvantes do MST e MTST, e só. Pelo que se tem visto, o PDT, o PSB, o PC do B, o PTB, querem ficar um pouco distantes, porque perceberam o quanto as urnas revelaram de antipetismo – e não querem também ser alvo dessa onda. Pois bem; o PT vai fazer oposição mas certamente não será essa a resistência que mais vai dar trabalho ao governo.

A mais forte oposição será silenciosa, sub-reptícia, forte, eficiente, de todos os que não querem perder privilégios, mamatas, garantias, direitos adquiridos mas não merecidos. É aquele pessoal convicto de que conquistou a boquinha e já tem estabilidade nela. Gente que está tanto dentro do estado como fora dele. São alguns poderosos, donos de parte do estado brasileiro; são partidos, que têm seus cartórios dentro de ministérios e estatais; são os milhares de comissionados que nunca prestaram concurso; são os que estão de olho em suas estabilidades, aposentadorias integrais, auxílios de todos os nomes. São os donos dos caminhos secretos do serviço público; são os cafetões e leões-de-chácara que vendem os prostituídos do estado brasileiro. Esses vão fingir que aplaudem o novo governo, pois é de sua essência aplaudir, mas o que querem é assegurar o botim.

Bolsonaro e seus auxiliares vão ter muito trabalho com essa oposição camuflada, blindada e bem armada. Paulo Guedes vai pegar uma pedreira com os subsídios, os favores fiscais, os protecionismos dos bem-aventurados protegidos do estado brasileiro. Sérgio Moro vai descobrir sujeitos do direito por toda a parte e poucos dispostos a cumprir antes seus deveres. Joaquim Levy vai ter que lidar com os apadrinhados do BNDES. Os líderes do governo na Câmara e no Senado vão penar com os aliados que apoiam o governo mas não apoiam as medidas necessárias que venham a ser propostas para que todos sejam iguais perante a lei, sem foros privilegiados e sem proteção para delinquir.

Quem vê o estado inchado, nos três poderes, voltado para si mesmo, no pedestal fora do alcance dos brasileiros comuns, com muita, muita gente, não tem como deixar de perguntar: produz o quê? Bons serviços públicos? Boas leis? Boa justiça? Ou tem por finalidade manter seus privilégios, servindo a si em lugar de servir ao povo brasileiro? Não estou inventando essas perguntas. Elas tem sido feitas nas redes sociais e nas ruas há cinco anos, e foram se tornando cada vez mais eloquentes, até que troaram nas urnas como um terremoto. Há pouco, quando o Senado, mostrando como funciona essa oposição, surpreendeu o país elevando o teto do Supremo e de todos no serviço público, os protestos voltaram à Avenida Paulista. Os 41 senadores que criaram o novo teto, não votaram contra Bolsonaro, que vai ter que pagar; votaram contra os brasileiros, que realmente pagarão. Esses é que são o alvo dessa oposição que quer manter o seu quinhão no Brasil que deveria ser de todos.

Celso Lafer: A política externa e seus desafios (OESP)

DOMINGO, 18 DE NOVEMBRO DE 2018

A política externa e seus desafios

"No contexto dessa Torre de Babel, cabe ao Brasil, na especificidade das conjunturas, orientar-se nas suas posições diplomáticas pelos princípios que regem as relações internacionais do País, consagradas na Constituição (artigo 4.º)", escreve o professor Celso Lafer, via Estadão:
(via blog de meu amigo Orlando Tambosi)

Discuti neste espaço em 19/2 a relevância da política externa como política pública. Sublinhei que ela tem como nota identificadora avaliar a abrangência das necessidades internas do País e ponderar quais as possibilidades externas de torná-las efetivas. Pontuei que a conversão de necessidades em possibilidades requer um apropriado juízo diplomático que leve em conta os ativos e as especificidades do País e saiba orientar-se num mundo com as características do atual, dentro do qual se dá a inserção internacional do Brasil. Vale a pena retomar a discussão nesta antevéspera da posse do presidente Bolsonaro.

Destaco inicialmente que o novo governo partirá de um meritório reposicionamento da política externa empreendido no governo Temer pelos chanceleres José Serra e Aloysio Nunes Ferreira, que se dedicaram a conduzi-la como política de Estado. Deixaram de lado, num movimento que o resultado das eleições endossou, uma preponderante política de governo, inspirada pela visão circunscrita de um partido e seus interesses.

Aponto, por exemplo, o resgate da válida vocação original do Mercosul como expressão de regionalismo aberto, empenhado no livre-comércio, devidamente escoimado das distorções provenientes das preferências político-ideológicas.

A tarefa de damage control proveniente da erosão do soft power do País deverá ser uma faceta da condução da política externa. Trata-se de um dado das percepções, repercutidas na mídia internacional, que resultam de manifestações do presidente na campanha eleitoral em matéria de direitos humanos e convivência democrática. Para a erosão acima mencionada tem também contribuído a ideológica irradiação externa em circuitos de esquerda de uma autocentrada “narrativa” petista.

A agenda diplomática do próximo governo lidará, respaldada pela qualificada competência dos quadros do Itamaraty, com alguns significativos campos de atuação da política externa de um país. Passo a comentá-los na sua abrangência, lembrando, como dizia Hannah Arendt, que somos do mundo, e não apenas estamos no mundo.

O primeiro campo é o estratégico. Diz respeito aos riscos de guerra que permeiam a vida internacional e o que um país pode significar para outros como aliado, protetor ou inimigo. No mundo atual, caracterizado por tensões difusas que exacerbam os conflitos e instigam a geografia das paixões, magnificando a insegurança internacional, esse é um campo relevante. Tem peso maior ou menor tendo em vista a lógica própria das regiões que compõem, com sua especificidade, a arquitetura do sistema internacional. É um tema forte da agenda do Oriente Médio, da Ásia e de países como EUA, China, Índia ou Rússia. É menos premente para o Brasil, em paz com seus vizinhos desde o fim do século 19, empenhado em fazer de suas divisas fronteiras de cooperação, e que sempre esteve mais distante dos focos de tensão da vida internacional. A menor premência não exclui, no entanto, a relevância.

O campo dos valores diz respeito às afinidades e dissonâncias que resultam de distintas formas de conceber a vida em sociedade. As dissonâncias, hoje em dia, num sistema internacional heterogêneo e fragmentário são consideráveis. Estão comprometendo a universalidade da agenda normativa, propiciando a intensidade das aspirações de identidade e reconhecimento, que obedece ao ímpeto centrífugo de sublevação dos particularismos, e revigorando o zelotismo dos fundamentalismos religiosos e políticos. Essa é uma das causas do drama de escala planetária dos refugiados que também nos afeta por causa dos desmandos autoritários da Venezuela de Maduro.

No contexto dessa Torre de Babel, cabe ao Brasil, na especificidade das conjunturas, orientar-se nas suas posições diplomáticas pelos princípios que regem as relações internacionais do País, consagradas na Constituição (artigo 4.º).

O campo das relações econômicas internacionais é prioritário para o Brasil. Explicita a importância de outras economias num mundo interdependente e globalizado, conferindo significado aos mercados, para importações e exportações, obtenção de financiamentos, atração de investimentos e de inovações.

No mundo contemporâneo isto tem como pano de fundo as novas tecnologias, que vêm levando à reorganização dos modos de interagir e produzir, de que é exemplo o papel das cadeias globais de valor da produção e da comercialização. Tem também como pano de fundo uma multipolaridade econômica não regida por um abrangente multilateralismo comercial de que são amostras o unilateralismo das guerras comerciais em andamento e as ameaças que pairam sobre a OMC.

É nesse contexto que o próximo governo deverá buscar convergências na diversidade na lida com as parcerias econômicas do País, incluídas as de nossa região, com acordos comerciais, e com os temas da liberalização comercial. Estes passam pelos desafios do acesso a mercados, dificultados por barreiras não tarifárias, por obstáculos em matéria de convergências regulatórias e por protecionismos, em especial de produtos agrícolas.

Finalizo com a agenda do meio ambiente, campo inter-relacionado com o dos valores e o das exigências de uma economia internacionalmente competitiva. Lembro que o acesso a mercados de outros países passa crescentemente por produtos e processos que atendam a requisitos de sustentabilidade ambiental. Meio ambiente sob a égide do conceito de desenvolvimento sustentável consagrado na Rio-92 insere os custos da sustentabilidade do meio ambiente nos processos decisórios públicos e privados. Meio ambiente é indivisível, por isso é internacional. Afeta a todos – as gerações presentes e futuras. Basta pensar no impacto das mudanças climáticas. Daí a relevância no plano interno da transição para uma economia de baixo carbono e de energias renováveis e limpas na matriz energética e de dar sequência aos compromissos internacionais de redução de emissões do Acordo de Paris.

Estatais: fonte corruptora permanente no Brasil - Ricardo Bergamini

Prezados Senhores
Desde a sua fundação a Petrobrás sempre foi a maior usina geradora de corrupção do Brasil. Não foi invenção do PT.
Confesso que me preocupo muito quando vejo a simplificação feita pelos idiotas e imbecis ao acusar o PT como criador da corrupção no Brasil, tendo em vista que deforma a realidade, a verdade e a lógica, e com isso nos afasta da solução definitiva de nossas deformações como sociedade. 
Todas as estatais são fonte primária de corrupção no Brasil. Veja abaixo o que o povo miserável tem de bancar para sustentar essa praga maldita de “gafanhotos do Brasil”:
- Em 2018 está orçado o tesouro nacional colocar R$ 20,4 bilhões nas lixeiras das estatais dependentes exclusivas do tesouro nacional, mais R$ 3,0 bilhões nas empresas não dependentes. Com desperdício fiscal  inútil da ordem de R$ 23,4 bilhões.
- Em 2009 a dívida das estatais era de R$ 142,0 bilhões (4,26% do PIB), em junho 2018 a dívida das estatais era de R$ 403,0 bilhões (5,93% do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 39,20%. 
- Em 2015 as empresas com patrimônio líquido negativo totalizaram passivo a descoberto da ordem de  R$ 24,5 bilhões. Em 2016 totalizaram passivo a descobeto de R$ 33,3 bilhões. 
- Em 2006 existiam 435.391 servidores ativos nas estatais, já em junho de 2018 saltou para 505.135, cujo crescimento foi de 16,02% em relação ao ano de 2006. 
- Em 2006 somente nas empresas dependentes exclusivas do tesouro nacional tinha um efetivo de 34.616 servidores ativos, já em junho de 2018 saltou para 77.664 servidores ativos, cujo crescimento foi de 124,36%.

Criada por Getúlio Vargas, Petrobras é alvo de CPIs desde os anos JK e Jango

Estatal se envolveu em escândalos nos governos Sarney e Collor. Operação Lava-Jato da PF prendeu 4 ex-diretores da empresa, entre eles Nestor Cerveró em 2015
Fonte: Acervo O Globo

Um dos principais alvos da Operação Lava-Jato da Polícia Federal (PF), a Petrobras — a maior estatal do país — já enfrentou outras investigações de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados. Dirigentes da companhia foram convocados, desde a década de 50, para prestar esclarecimentos a parlamentares. No dia 24 de maio de 1958, O GLOBO informava que o coronel Janari Nunes, presidente da empresa, prestava depoimento para desmentir acusações feitas pelo “Diário de Notícias”. Entre elas, estava a de ter ocultado do presidente da República — na época, Juscelino Kubitschek — que o mandato de um dos diretores, Nazaré Teixeira Dias, estava encerrado desde 1956. Janari Nunes, na ocasião, defendeu-se culpando a imprensa. Alegou que se tratava de uma campanha do jornal contra ele e a diretoria.

Na década seguinte, uma nova polêmica envolveu outro presidente da empresa. “Só cego não vê que o que acontece na Petrobrás está acontecendo no Brasil”, afirmava o general Albino Silva, presidente da “Petrobrás” (à época com acento) na CPI sobre Assuntos do Petróleo, no Palácio Tiradentes, segundo reportagem publicada em 28 de janeiro de 1964. Aos parlamentares o executivo disse ainda que alguns diretores mantinham compromissos “que não eram específicos aos cargos que ocupavam”. Eram tempos do governo de João Goulart, dois meses antes do golpe que o depôs da Presidência da República. Além disso, o general ressaltou que havia um “anel de ferro” transformando a empresa “num organismo impenetrável” e que estabelecia um clima de terror em diversos setores. Outro lado da história foi publicado pelo jornal no dia seguinte. Nessa edição, Jairo José de Farias, ex-diretor da estatal, acusava Albino Silva de ser agente de cartéis internacionais. Ainda assim, segundo o jornal, o diretor não possuía provas para culpar o general.

Símbolo nacional, a estatal tem na sua biografia outros episódios que afetaram a sua credibilidade. “Petrobrás passa pelo maior escândalo de sua história”, noticiava O GLOBO no dia 13 de dezembro de 1988. A edição destacava que o escândalo, na subsidiária Petrobrás Distribuidora (BR), era o maior dos 35 anos da companhia, criada em 1953 no governo do presidente Getúlio Vargas após a campanha nacionalista “O petróleo é nosso”, que mobilizara setores da sociedade brasileira desde os anos 40. De acordo com as informações, sete banqueiros haviam procurado, em novembro de 1987, o presidente da Petrobras, Armando Guedes Coelho. Eles estavam sendo pressionados por funcionários da BR para obter vantagens e benefícios para manter e até aumentar depósitos da estatal nas instituições financeiras. A cobrança das comissões, segundo denúncia da época, atingia a cifra de US$ 2 milhões mensais. Quem governava o país era o presidente José Sarney, e a crise na empresa culminou com o pedido de demissão de Armando Guedes, noticiado no dia 17 de dezembro de 1988. Quatro anos depois, um novo escândalo envolveu a empresa no governo Collor.

Em 20 de março de 2014, a Operação Lava-Jato, desencadeada pela PF três dias antes com a prisão de 17 pessoas, entre elas o doleiro Alberto Youssef, chegava à maior empresa estatal brasileira. Naquele dia, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi preso com R$ 1,1 milhão guardado em sua casa. Além de Costa, outros três ex-diretores da Petrobras foram presos na Lava-Jato: Nestor Cerveró (Internacional), em 14 de janeiro de 2015, Renato Duque (Serviços), em 16 de março, e Jorge Zelada (também da Diretoria Internacional), em 2 de julho.

Durante as investigações, o Ministério Público Federal denunciou à Justiça 36 pessoas suspeitas de participar no esquema de corrupção da Petrobras, sendo 25 ligadas a grandes empreiteiras. A mais recente CPI da Petrobras para investigar o esquema de corrupção na companhia, revelado na Lava-Jato, cujos processos são conduzidos pelo juiz federal do Paraná Sérgio Moro, foi anunciada no dia 5 de fevereiro de 2015 pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, posteriormente acusado de também estar envolvido no esquema de propinas. Foi em depoimento à CPI, em março daquele ano, que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, delator do esquema, afirmou que recebia pagamentos de forma pessoal desde 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Porém, segundo ele, somente a partir de 2003, já no governo Lula, é que a propina foi “institucionalizada”.

A PF identificou 16 empreiteiras que se organizavam — numa espécie de “clube do cartel” — para fraudar licitações, corromper agentes públicos e desviar recursos da estatal. Entre as acusadas estão grandes empreiteiras, como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht. Na 14ª fase da operação, realizada em 19 de junho de 2015, a PF prendeu executivos ligados aos principais grupos empresariais supostamente envolvidos, entre eles o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo.

Em meio aos escândalos de corrupção, a Petrobras divulgou o seu balanço, com cinco meses de atraso, em abril de 2015. O resultado foi um prejuízo de R$ 21,58 bilhões em 2014. Do total, a própria empresa reconhece R$ 6,2 bilhões provocados pelos desvios de recursos.

Ricardo Bergamini

Seven Principles Of Sound Public Policy - Lawrence Reed (FEE)

Seven Principles Of Sound Public Policy

"They are, in my view, eternal principles that should form the intellectual backdrop to what we do as policymakers inside and outside of government."
Lawrence W. Reed