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domingo, 18 de novembro de 2018

Politica externa: campo aberto ao radicalismo - Editorial O Globo

Política externa é campo aberto ao radicalismo

É curioso que Bolsonaro repita Lula e coloque a diplomacia a serviço da ideologia do presidente

A diplomacia brasileira tem tradição de profissionalismo. Com o passar do tempo, consolidou-se como uma atividade típica de Estado, cuja característica é a estabilidade, independentemente do governo de turno. Grande símbolo deste aspecto positivo é que aquele considerado patrono da diplomacia na República, José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, era filho de importante personagem do II Reinado, Visconde do Rio Branco, também diplomata. Maior demonstração de continuidade, impossível.

A era Bolsonaro causa preocupação com a política externa que seguirá a partir da indicação para ministro das Relações Exteriores do embaixador Ernesto Araújo, da chefia do Departamento dos EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty.
Araújo é conhecido, por meio de textos e do que escreve em blog, por defender posições ultraconservadoras, ser contra o “globalismo” e alinhar-se ao nacionalismo isolacionista de Donald Trump.
Além de ser preocupante, a escolha de Araújo gera o fato curioso de repetir com sinal trocado o que o PT, em seus 13 anos de poder, fez com a diplomacia brasileira, ao subordiná-la à ideologia dos ocupantes do Planalto. Com Bolsonaro e Ernesto Araújo, tudo se repete, neste aspecto.

Bolsonaro sempre criticou o lulopetismo, e com razão, por atrelar a política externa brasileira ao nacional-populismo latino-americano, e ao privilegiar ditaduras africanas, deixando em segundo plano o chamado Primeiro Mundo (Estados Unidos e Europa).
Pois agora, também claramente por ideologia, Bolsonaro conecta a diplomacia a um nacional-populismo, mas ao de Donald Trump e de simpatizantes do presidente americano na Europa. O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, por exemplo.
Também como Lula, Bolsonaro, que tem feito e bancado escolhas corretas na administração da economia (Paulo Guedes e equipe) e na Justiça (Moro) — destinando, aos dois, importantes estruturas de poder para que possam enfrentar ameaças sérias ao estado democrático de direito (crise econômica, corrupção e crime organizado) —, usa a política externa para atender a seus pendores ideológicos e de seguidores.
Em 2003, ao assumir o primeiro mandato, Lula também acertou na montagem da equipe econômica (Palocci, Meirelles, Levy etc.), e, em compensação, doou o Itamaraty a companheiros (Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia, Samuel Pinheiro Guimarães).
Uma preocupação com o futuro chanceler é que, seguidor de Trump, ele poderá investir contra a China — o que Bolsonaro já fez. Sucede que os chineses são os maiores parceiros comerciais do Brasil. E ainda poderá dificultar a integração do país ao mundo, por ser contra a globalização.
Araújo não parece exercitar o tradicional pragmatismo do Itamaraty. Não seria aprovado pelos Rio Branco, o visconde e o barão.

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