Palpites para o futuro Ministro da Educação
Claudio de Moura Castro
Vem aí um novo Ministro da Educação. Segundo um antigo ditado espanhol, “más sabe el diablo por viejo que por diablo”. Como entro e saio do edifício do MEC, faz muito tempo, atrevo-me a oferecer alguns palpites.
1. Ministro da Educação manda pouco (pode até mandar, mas ninguém obedece). Que inveja do da Fazenda! Canetadas não funcionaram, mesmo no período militar.
2. Consertar a educação básica alçará o Ministro para a história. Mas quem o derruba é a universidade. Disse isso ao Portella, quando era Ministro. Apeado, por bulir com a universidade, alguém encontrou no seu gabinete o papelzinho em que ele anotou a frase. Outros ministros, por pouco, escaparam de igual sina.
3. E. Schiefelbein, reconhecido educador chileno, em determinado momento da sua vida virou Ministro da Educação. Como me disse, a lição mais importante desta experiência é ser necessário escolher três ou quatro metas e ir a fundo. Não dá para fazer muito mais. Pouco tempo depois de alçado à Presidência da República Checa, Vacla Vavel desabafou a um jornalista: “Como escritor, fui sempre cobrado pela originalidade. Como Presidente, tenho que repetir a mesma coisa mil vezes, até que todos se lembrem!”. Foco é tudo.
4. O MEC aprendeu a fazer estatísticas e avaliar. Além disso, está encarregado de oferecer orientações para a Educação. Se cumprir bem esta agenda, já está ótimo. Mas usa mal os incentivos que poderiam ser embutidos em seus financiamentos. Por exemplo, poderia financiar as universidades em função do número de alunos formados ou por maiores pontuações no ENADE. Não faltam possibilidades, em todos os níveis.
5. O MEC não tem escolas, quase não as financia e não manda em quem as têm, os estados e municípios. Ainda assim, espera-se que seja responsável pela educação. Data vênia, muita humildade!
6. O MEC atrapalha os estados mais maduros e deixa de socorrer os mais fracos. Deveria dar mais autonomia a uns e assistência bem próxima a outros. Isonomia é uma praga, não só nesse caso.
7. Não se subestime a enorme força da burocracia do MEC. Logo que entrou, F. Haddad, me ouviu falar dos “subterrâneos” do MEC. Perguntou a um amigo comum se, de fato, existiam. Suponho que ao sair estava mais do que convencido.
8. Os políticos vão atazanar, pedindo empregos para parentes e buscando maneiras de tirar uma casquinha dos orçamentos. Perigo à vista!
9. Na ordem geral das coisas, tudo indica que haja pouca corrupção na órbita do MEC, Afora alguns fundos mais vulneráveis, o resto ou é limpo ou é coisinha da raia miúda. Portanto, para quem quer reforçar seu caixa, não é uma boa opção.
10. Depois da limpa feita por Paulo Renato, voltou a crescer a árvore de Natal dos programinhas disso ou daquilo, financiados e operados pelo MEC. Sua gestão é um petisco para os burocratas da casa. Até podem ser iniciativas simpáticas, mas falta-lhes massa crítica para fazerem diferença nacionalmente. Trocá-los por outros de menor número e mais impacto é uma bela missão.
11. Há um bando de gente bem informada e serena, com ideias claras sobre o que precisa ser feito. Melhor ouvi-las que embarcar em soluções miraculosas.
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Permito-me acrescentar os meus próprios palpites (PRA):
12. Esqueça, rejeite, descarte qualquer proposta de “Escola Sem Partido”, ou desses grupos “anti-sexistas” nas escolas; concentre-se, única e exclusivamente, em reforçar o ensino de Português, de Matemática e de Ciências elementares, repito: única e exclusivamente, com poucas adições no currículo dos primeiros anos.
13. Exclua totalmente a obrigatoriedade do espanhol (ou portunhol) do currículo do fundamental; substitua pelo inglês e pelo uso da internet.
14. Exclua totalmente o caráter compulsório do ensino de Sociologia e Filosofia no médio, que isso é boquinha para marxistas desempregados; torne essas matérias opcionais, aliás, como sempre foi.
15. Não esqueça de dar pêsames ao seu colega astronauta, o tal que vai comandar o MCT, e que agora ganhou as universidades também; diga que você se sente compungido pelo inferno que ele vai enfrentar; ah, não se esqueça de dizer a ele que tente convencer o presidente a esquecer essa coisa de nomear reitores; isso seria criar uma guerra civil inutilmente, sem nenhum proveito para as universidades, ou para os alunos.
16. Acabe com o princípio da isonomia, esse prêmio à preguiça e à burrice progressiva.
17. Acabe com a estabilidade no professorado; como no caso da reforma previdenciária de capitalização, de longo prazo, comece a criar uma carreira paralela de professores, orientada pelo princípio da meritocracia, premiados por bons salários mas sem estabilidade; em mais ou menos 40 anos a educação pública vai melhorar…
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