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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Antonio Riserio: entrevista sobre o seu livro sobre a fantasia fascista da esquerda identitária

Grato a Hugo Rogelio Suppo pelo envio desta entrevista.
Paulo Roberto de Almeida

ENTREVISTA A LUCIANO TRIGO A PARTIR DO MEU LIVRO “SOBRE O RELATIVISMO PÓS-MODERNO E A FANTASIA FASCISTA DA ESQUERDA IDENTITÁRIA”.
P: Você faz uma analogia entre as patrulhas ideológicas dos anos 70 e o que chama de comportamento fascista da esquerda identitária dos dias atuais. O que aproxima e o que diferencia os dois fenômenos?

R: Penso que há duas diferenças básicas: a diferença mental e a diferença comportamental. A diferença mental diz respeito ao seguinte: apesar do sectarismo e da estreiteza política e cultural, aqueles esquerdistas das patrulhas ideológicas ainda tinham uma visão de conjunto da sociedade que pretendiam mudar. Hoje, não: os identitários não têm uma percepção global da sociedade. Só sabem ver baias, guetos, nichos, escaninhos. Perderam a percepção da totalidade. Pensam e operam de forma fragmentária, canonizando seus próprios guetos. Suas reivindicações não levam em conta a população brasileira, mas apenas os desejos e interesses deles mesmos. Por exemplo: os neonegros se conduzem como se o problema do desemprego não fosse social, mas étnico; as neofeministas, por sua vez, se conduzem como se todo problema trabalhista fosse sexual. Não estão nem aí para o fato de o desemprego ser um problema geral da população brasileira. Já no plano comportamental, a diferença está no grau de violência. O grau de violência das patrulhas ideológicas era relativamente baixo. Mas as milícias identitárias são brutais, truculentas. O que aproxima as antigas patrulhas e as atuais milícias é a intolerância. Com a diferença de que os identitários levam essa intolerância ao extremo. Se tivessem poder, promoveriam banimentos e fuzilamentos. Digamos, por assim dizer, que as patrulhas eram fascistoides, ao passo que os identitários são fascistas de cabo a rabo, fascistas totais.

P: Você escreve que a esquerda identitária se sente moralmente superior aos mortais comuns, mas também que ela promove a "politização do ressentimento". De que forma essa esquerda capitaliza o ressentimento de determinados grupos?

R: Eles se veem como a própria encarnação do Bem. Comportam-se como se o “oprimido” fosse, apenas por ser “oprimido”, um ente sagrado, moralmente superior. Mais: o “oprimido”, só por ser “oprimido”, é o portador da verdade, do sentido e do destino histórico da humanidade. Ora, quem se vê assim, não tem o que aprender no mundo. Daí que a esta autoconsagração se alie a mais rude ignorância – ignorância filosófica, histórica, estética, política, cultural. O militante identitário, regra geral, é um obtuso, incapaz de enxergar um palmo além do seu nariz ou do seu quintal. Daí que, quando questionados mais seriamente, reajam não com argumentos, mas com xingamentos e ataques histéricos, acusando quem os questiona de canalha, desonesto, fascista, machista, escória moral da espécie humana, etc. Ou seja: não estão interessados em nenhum conversa; trata-se apenas de calar e asfixiar qualquer discordância, qualquer dissenso, qualquer dissidência. E fazem isso reunidos em bandos, em “coletivos” que, na verdade, não passam de milícias. E o mais curioso é que adotam essa postura moral justamente para atropelar raivosamente os mais elementares princípios éticos. Veja então qual é a estratégia discursiva do identitário: a afirmação de “status” através da afirmação da inferioridade social. É a sua autodefinição como “excluído” ou “oprimido”que lhe confere “status”. Ou seja: a autovitimização é um atalho para a autonobilitação na figura sofrida e heroica do “oprimido”, que agora veio cobrar a conta do “Ocidente Branco”. Até parece coisa de desenho animado. De certa forma, havia algo disso já na esquerda tradicional, num certo endeusamento do proletariado, contrariando, nesse caso, a visão do próprio Marx (em “A Ideologia Alemã”, por exemplo) ou mesmo a de Trótski, em “Literatura e Revolução”. A diferença é que a esquerda tradicional endeusava o proletariado, enquanto os identitários endeusam-se a si próprios.

P: A destruição de reputações com base em acusações levianas de racismo, homofobia ou misoginia vem se tornando um fenômeno frequente e assustador. A que interesses atendem as pessoas que se unem nas redes sociais para destruir o outro, sem medir consequências, em um verdadeiro tribunal inquisitorial? Não é paradoxal que essa prática venha ancorada em um discurso de defesa da tolerância?

R: Vamos caminhar com vagar. Os identitários acham que são donos absolutos da verdade, que são moralmente superiores ao resto da espécie humana e querem dominar o mundo. Ora, quando uma pessoa é capaz de chegar ao ponto de se convencer de uma coisa dessas, ela se converte em fanática. É isso o que está acontecendo à nossa volta, e já há algum tempo, com nossos políticos, artistas, intelectuais, salvo exceções realmente honrosas, apoiando ou fazendo vista grossa para o fato E o fanatismo se guia por uma perversão lógica tão insustentável quanto inflexível, tão patológica quanto implacável. Acha que vale tudo. Que tudo é legítimo para impor o “bem” e destruir o “mal”. É uma postura imediatamente comparável à dos evangélicos combatendo o candomblé. E é por isso mesmo que os identitários não demonstram a mínima hesitação em falsificar a história, em desprezar a realidade factual, em investir violenta e mentirosamente sobre quem não concorda com eles. Podemos listar facilmente exemplos de cada uma dessas coisas. Veja-se como os racialistas neonegros fecham os olhos para o fato dos negros de Palmares e dos negros malês terem sido escravistas. Fecham os olhos para o fato de que, no sistema escravista brasileiro, até escravos compravam escravos. Do mesmo modo, as neofeministas se concentram exclusivamente no ataque a um Ocidente que não mais existe: um Ocidente “patriarcal”. E não dizem nada sobre o resto do mundo: fecham os olhos para a barra pesada que as mulheres sofrem sob a opressão islâmica; fecham os olhos para a prática da extração do clitóris em culturas tradicionais africanas; fecham os olhos para a cruel dominação masculina sobre as mulheres que vemos no mundo indiano e mesmo ainda no mundo chinês. E assim por diante. É por isso mesmo que Camile Paglia diz que os identitários deveriam ser obrigados a ter cursos de história comparada – e também, acrescento, de antropologia e sociologia de sociedades e culturas extraocidentais. Se tivessem um mínimo de noção disso, saberiam que a escravidão não é um karma branco, mas um karma da humanidade. Assim como não dariam atestados de estupidez ao considerar que hoje a mulher é mais oprimida no Ocidente do que em sociedades muçulmanas, por exemplo. Mesmo em nossa antiga sociedade tupinambá, onde desfrutavam temporariamente de alguma liberdade sexual, as mulheres eram mercadoria, moedas de troca, dadas de presente a chefes e guerreiros – e, enquanto um homem podia ter várias mulheres, a mulher que cometesse adultério podia ser punida com a morte. Como os identitários se recusam a ver essas coisas, agridem e execram quem quer que chame a atenção para elas. Na verdade, para lembrar aquele slogam da polícia novaiorquina, a política deles é de “tolerância zero”.

P: Por medo, covardia ou complacência, são raríssimos os intelectuais que ousam criticar a perseguição promovida por essas novas milícias, na universidade e fora dela. Como romper essa espiral de silêncio?

AR: O silêncio e a covardia dos políticos são atestados de cinismo, evidentemente, mas também é até mais compreensível do que o silêncio e a covardia dos intelectuais, já que o cinismo é uma das peças principais da “caixa de mágica” deles. Os intelectuais, ao contrário e ao menos em princípio, deveriam se manifestar com clareza contra o fascismo identitário e suas ações persecutórias. Mas essa história do “em princípio” dificilmente é confirmada pelos fatos. Renato Janine Ribeiro e outros intelectuais “de esquerda” falaram do fascismo de direita tentando impedir e impedindo pessoas críticas ao atual governo de falarem em feiras literárias como a de Paraty, que hoje mais sugerem arraiais juninos do identitarismo. Mas eles silenciam quando a mesma coisa é feita pela esquerda. E olha que a esquerda identitária começou a fazer isso bem antes, entre nós. Já em 2013, na feira literária de Cachoeira do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, não deixaram o geógrafo Demétrio Magnoli falar, atirando inclusive uma cabeça de porco ensanguentada em direção à mesa de onde ele falaria e praticamente o expulsando da cidade. É hilário, mas, apesar de Stálin-Mao Zedong-Pol Pot, a esquerda encena a farsa de que se acha imune ao fascismo. É muito cinismo, também. Quando ouço ou vejo essas coisas, não resisto e acabo lembrando a seguinte história. Em 1932, na Alemanha, Adolf Hitler lançou sua candidatura a chanceler. Em oposição a ele, a chamada “coalizão de Weimar” (reunindo sociais democratas, católicos e liberais) apoiou a tentativa de reeleição do marechal Hindenburg. E os comunistas lançaram candidato próprio. A parada ficou para ser decidida então no segundo turno, entre Hitler e Hindenburg. Neste segundo turno, os comunistas votaram maciçamente em Hitler. Adiante, como sempre me lembra um amigo, o Pacto Molotov-Ribentrop consagrou o parentesco entre os dois totalitarismos... No meu livro, digo que os stalinistas que levaram Maiakóvski ao suicídio são monstruosamente idênticos aos nazistas que levaram Benjamin ao suicídio. E ponto final. Agora, como romper a “espiral do silêncio”? Entrando em campo com clareza e firmeza, sem abrir mão dos fatos, sem temor, botando os pingos nos ii. Não se faz isso porque, ao contrário do que nossos professores querem nos fazer crer, a covardia intelectual é coisa mais do que comum, coisa rotineira mesmo, no dia a dia do ambiente acadêmico.

P: Você não tem receio de se tornar vítima de um linchamento por parte daqueles que detêm o virtual monopólio da fala na academia? Em outras palavras, não teme se tornar mais um alvo do fenômeno que seu livro denuncia?

R: Não, não tenho medo de nada. E essa gente já me xinga de todo jeito, sempre que tem oportunidade. Me chamam de canalha, fascista, racista, etc. Eles fazem de tudo para me intimidar, me silenciar. Na Bahia, onde moro, não só os identitários, o PT me cerca, me ameaça, me fecha todas as portas, complicando muito, inclusive, minha sobrevivência material. Cheguei a ser colunista de um jornal lá e o governo petista, que controla tudo na província com os mesmos métodos de Antonio Carlos Magalhães, exigiu minha demissão. Deixei de escrever no jornal, na imprensa local. Mas não adianta. Não vou parar de pensar, nem de dizer o que penso. No meu doce exílio na Ilha de Itaparica, sob os signos de José de Anchieta e do meu amigo João Ubaldo Ribeiro, montei uma plataforma de lançamento de mísseis político-culturais. E não vou parar de lançá-los. Esta é, na verdade, minha principal diferença com meu amigo Francisco Bosco, autor de “A Vítima Tem Sempre Razão?”. Bosco, no fundo, tem um pé plantado fundo no identitarismo. Parece mesmo acreditar na legitimidade intelectual e política do binarismo maniqueísta. Quer convencer identitários e trazê-los a outro aprisco, num horizonte mais moderado. É uma coisa de aparar arestas e promover a conciliação. Não acredito nisso. Não acredito que seja possível reconverter fanático. E não escrevo com essa intenção. Eles são irrecuperáveis. Logo, vou para a guerra. Não escrevo para eles, mas para o conjunto da sociedade, que é onde eles podem ser derrotados.

P: Você afirma que o sistema educacional brasileiro se tornou uma fábrica de ignorância. Por quê?

R: É uma constatação. Só. Antigamente, a gente dizia que era preciso ensinar os analfabetos a ler e escrever. Hoje, podemos dizer que é preciso ensinar os universitários (e professores universitários) a ler e escrever. É tão simples assim.

P: Você acredita que artistas de esquerda foram cooptados por um projeto de poder em troca da dependência crescente de recursos públicos? Fale sobre isso. Você concorda com a frase de Millôr Fernandes que recomenda desconfiarmos do idealista que lucra com seu ideal?

R: É impressionante a atração da “classe artística” (de direita, de centro, de esquerda, de tudo) por dinheiros estatais. Querem que o governo – vale dizer, o país, a sociedade – financiem todas as suas fantasias. Pensam que o Estado é uma vaca e que deve assegurar-lhes o direito de, sempre que desejarem, entrar no curral para ordenhá-la. De um modo geral, dá vontade de repetir para essa gente, ligeiramente alterada, a célebre frase de John Kennedy: não pergunte o que o Estado pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo Brasil... Mas isso não foi – nem precisa ser – sempre assim. Para não recuar muito na história, podemos nos limitar à segunda metade do século XX. A bossa nova, a poesia concreta, o cinema novo e o tropicalismo – vale dizer, nossas maiores e mais brilhantes criações estético-culturais – aconteceram sem editais, sem patrocínio oficial, sem leis de incentivo. E dou também um pequeno, recente e bem significativo exemplo. Quando Ana de Holanda era ministra da Cultura, seu irmão Chico Buarque decidiu corretamente que não seria recomendável buscar patrocínio do MinC. Percorreu o país inteiro com um belo show, sem qualquer incentivo fiscal do Estado. Um outro aspecto, que acho de alta relevância: desenvolver políticas públicas para a cultura, no Brasil, não significa bancar uma clientela preferencial, financiar artistas e intelectuais. Atuando na esfera da administração pública na Bahia, por exemplo, criei e coordenei um programa de preservação da integridade territorial e física dos terreiros de candomblé. Mais tarde, entre Brasília e São Paulo, formulei o projeto geral para a implantação do Museu da Língua Portuguesa. Além disso, boa parte dos órgãos públicos “de cultura” hoje, no Brasil, vai derrapando solenemente na maionese identitária: o que importa não é a qualidade do que se faz, mas a ação afirmativa. Ou seja, para lembrar uma expressão perfeita da socióloga Lúcia Lippi, caíram no conto do vigário da “institucionalização da compaixão”.

P: Os movimentos em defesa das minorias começaram para defender a diferença, a "outridade". Como foi possível que esses movimentos se tenham tornado tão intolerantes com a divergência? A que fatores você atribui esse processo, resumidamente?
R: O melhor é recontar a história porque aí a deformação identitária vira fratura exposta. Esses movimentos (gays, mulheres, pretos, etc.) surgiram ou ressurgiram ao longo da década de 1970, no horizonte de nossa luta geral pela reconquista da democracia no Brasil. Todas essas movimentações (na época, “de minorias”; hoje, identitárias) se projetaram então, ganharam visibilidade política e social, no contexto da luta em defesa do outro. Da luta pelo reconhecimento do outro, pelo respeito ao outro. Foi o momento maior, pelo menos em nossa história recente, de defesa e afirmação da outridade. Agora, aí vem a contradição: vitoriosos em nome do reconhecimento do outro, a primeira coisa que esses identitários fizeram, ao se afirmarem vitoriosamente na cena brasileira, foi justamente negar e combater o outro. Promover um ataque feroz e sem tréguas à outridade. Assim, negros (fenotípicos ou simbólicos) não querem saber de conversa com não-negros. Mulheres (heterossexuais ou lésbicas), desde que “radfems”, não querem saber de homens palpitando em assuntos femininos. Etc. O que começou como uma luta pelo reconhecimento do outro termina agora como uma luta que rejeita o outro, a diferença, a outridade. É uma negação muito estranha, mas que deve ser entendida também como a luta por um monopólio da fala que se traduz, objetivamente, em reserva de mercado: só negros podem falar de assuntos negros; só mulheres podem abordar questões femininas. É a guetificação e a celebração da guetificação, inclusive porque isso assegura verbas, fontes de financiamento, controle político-ideológico, etc. Toma-se então o outro, caricaturalmente, como inimigo. E assim as movimentações se encorpam numericamente, ampliando o número de seus fiéis. Claro: sabemos muito bem que o caminho mais curto para conquistar a massa não é o da complexidade, das nuances, dos matizes enriquecedores. É o caminho do binarismo maniqueísta, que gera leituras tão fáceis quanto falsas da realidade envolvente.
P: De forma sintética, quais são as suas críticas ao "racialismo neonegro"?
R: O problema principal do nosso racialismo neonegro é pretender substituir a experiência histórica e social de um povo pela experiência histórica e social de outro povo. E assim substituem a formação histórico-social brasileira pela norte-americana, numa típica conduta de colonizados. Nossos processos configuradores são totalmente distintos. Além disso, em matéria de relações interraciais, os Estados Unidos não são exemplo nenhum para o mundo. Muito pelo contrário, são uma anomalia planetária: o único país do mundo a não reconhecer oficialmente a existência de mestiços de branco e preto. Outra coisa é que nossos racialistas fecham os olhos para a realidade do assassinato espiritual do negro africano nos Estados Unidos, sob a poderosíssima pressão do poder puritano branco. Tanto que lá inexistiam orixás, terreiros, babalaôs, etc., até que eles começaram a chegar pelas migrações antilhanas, pela perseguição à “santería” cubana, promovida por Fidel Castro. No Brasil, religião negra é candomblé. Nos Estados Unidos, é a variante negra do protestantismo branco. Martinho Lutero (em inglês, Martim Luther) King era um pastor evangélico, não um babalorixá. Sempre digo que, se tivesse acontecido, no Brasil e em Cuba, o que aconteceu nos Estados Unidos e na Argentina, não teríamos hoje um só deus africano, um só orixá, em toda a extensão continental das Américas... Outra coisa é que os racialistas neonegros idealizam ao extremo a tal da “Mama África”. Daí, ficam surpresos quando dão de cara com a realidade mais ostensiva atualmente de países como a Nigéria e Angola, que é a realidade da exploração do negro pelo negro. A África Negra se tornou um rosário de ditaduras corruptas, com elites negras multimilionárias e o povo negro na miséria. Nossas feministas neonegras também fecham os olhos para um aspecto essencial da vida de Ginga, a rainha de Matamba, que não só tinha escravas pretas, como as usava como poltronas, sentando-se durante horas sobre seus dorsos nus, enquanto fazia tratativas políticas, comerciais ou militares. Apenas para tocar mais uma tecla, nossos neonegros, que são todos variavelmente mulatos, ficam perplexos, quando tomam conhecimento do fortíssimo preconceito contra os mulatos que vigora em boa parte da África Negra. Costumo observar que Barack Obama jamais ganharia uma eleição na Nigéria ou em Angola: seria rejeitado pelas massas negras pelo simples fato de não ser preto, mas mulato. Aliás, em Angola, os mulatos são tratados pejorativamente como “latons”. Bem, “latons” é como seriam classificadas por lá figuras como Nei Lopes, por exemplo. E “latonas” são, na terminologia popular dos pretos angolanos, Camila Pitanga e Thaís Araújo.
P: O feminismo estaria passando pelo mesmo processo de cooptação política e sectarização?
R: O feminismo contracultural de Betty Freedan, Germaine Greer e Gloria Steinen degringolou no neofeminismo puritano-fanático de Andrea Dworkin e similares. Elas assumiram um discurso maluco que abole totalmente a história. Imaginam um estupro original, ocorrido às primeiras luzes da história da espécie e congelam tudo aí: acreditam que aquele suposto estupro pré-histórico se repete sempre, até aos dias atuais, sempre que um homem e uma mulher vão para a cama. Qualquer relação heterossexual é colocada então sob suspeita. Catherine Deneuve e algumas intelectuais e artistas francesas reagiram contra isso, defendendo o livre exercício da sexualidade e condenando o neofeminismo norte-americano que trata o homem como inimigo. E outra mulher, Camile Paglia, definiu bem: essas neofeministas são puritanas fanáticas. Como se não bastasse, também muitas neofeministas se fazem de cegas, a depender da conveniência. Veja-se o caso do “black panther” Eldridge Cleaver, relatado por ele mesmo em seu livro “Soul on Ice”. Cleaver conta aí que estuprou uma mulher branca como “um ato de insurreição”, a fim de “sujar” as mulheres do homem branco. Mais ainda: Cleaver escreve, com a maior tranquilidade do mundo, que, antes de estuprar brancas, treinou no gueto, currando pretas pobres! E as neofeministas nunca disseram nada sobre isso. Nem contra o estupro, nem contra o racismo de Cleaver diante das moças pobres do gueto. Angela Davis preferiu não tocar no assunto. É impressionante. E mostra a que ponto as coisas podem chegar: identitários não condenam crimes cometidos por identitários. É uma noção muito estranha de justiça.
P: Que avaliação você faz das políticas de cotas e dos movimentos de ação afirmativa, como conceito e como resultados práticos? As cotas alimentam o vitimismo? O que pensa do conceito de "dívida histórica"?
R: Não acho que cotas sejam realmente necessárias e digo isso a partir da realidade dos asiáticos e seus descentes na sociedade brasileira. Não existem cotas para “amarelos”. No entanto, a ascensão social dos amarelos, no Brasil, é um fato notável. Mas, se querem implantar políticas de cotas, elas não devem ser étnicas, raciais. A razão é simples. Nem todo preto é pobre, nem todo pobre é preto. No Brasil, há pobres de todas as cores. Entre numa favela em Santa Catarina que isso fica bem explícito. E penso que não temos o direito de privilegiar, em meio às massas pobres do país, apenas um determinado segmento étnico. Isso não tem nada a ver com democracia ou justiça social. Então, se é para ter cotas, que elas não sejam simplesmente “étnicas”, mas sociais. Agora, essa conversa de “dívida histórica” é picaretagem. Se quiserem, comecem a cobrar, primeiramente, da classe dominante negra lá na África, que encheu as burras com sua participação decisiva no tráfico de escravos. Os nagôs e os orixás só foram parar na Bahia porque foram derrotados em guerras contra os daomeanos, sendo então escravizados e vendidos para cá. Reis do Daomé chegaram, inclusive, a enviar embaixadas à Bahia, na tentativa de assegurar para eles o monopólio da venda de escravos para os baianos. Agora, até hoje, as classes dominantes na África Negra gostam de fazer esse truque, de enganar o povo, dizendo que todos eles foram vítimas do “homem branco”. É mentira. Recorrem a esse expediente de botar tudo na conta da “exploração branca” a fim de esconder a exploração a que elas mesmas submeteram (e ainda hoje submetem) os povos negros. As classes dominantes negras não foram vítimas, foram sócias dos brancos no comércio transatlântico de carne humana.
P: Que análise você faz das políticas públicas racialistas promovidas pelos governos de FHC e Lula? De que forma elas contribuíram para o fortalecimento do que você chama de fascismo identitário?
R: A minha impressão é que eles não entenderam bem ou não prestaram a devida atenção, lá no início, no que estava começando a acontecer. Nem pensaram nas consequências de muitas coisas. De Sarney a Lula, porque a política racialista de caráter “compensatório” começa com Sarney e ganha extrema visibilidade com a criação da Fundação Palmares, que foi a entidade que, com seus procedimentos enviesados, criou mais quilombos no Brasil do que Zumbi seria capaz de sonhar. Fernando Henrique não se tocou com a grande deformação pedagógica realizada sob seu nariz, com a gravação de uma contra-história esquerdista do Brasil, invertendo tudo da primeira história oficial de Varnhagen e companheiros, nos parâmetros curriculares do ensino. No caso de Lula e do PT, penso o seguinte. Lula, Dirceu, etc., estavam concentrados em política e em caminhos para chegar ao poder. Não tinham qualquer interesse específico ou especial em discursos de “minorias”, como então se dizia. Eles apenas abrigaram essas minorias no partido e deixaram que elas se movessem por conta própria. Como não tinham tempo ou disposição para discutir seus discursos, tomaram uma atitude curiosa: sacralizaram os discursos dos “oprimidos”. Dentro do PT, tudo que índio, preto, veado ou mulher dissesse, não se discutia. O negócio era celebrar os oprimidos, dar voz aos que nunca tiveram voz, etc. E isso está mesmo na base da formação do fascismo identitário.
P: Que caminhos você visualiza para que a sociedade brasileira saia desse apartheid maniqueísta e dessa guerra de narrativas que nos divide a ponto de rompermos relações com amigos e familiares?
R: Temos a polarização político-ideológica e as polarizações identitárias. No primeiro caso, só há uma saída. Deixar petistas e bolsonaristas de parte – e partir para fortalecer o campo democrático. O problema é que esse próprio “campo democrático” não parece realmente disposto a fazer isso, no sentido simples de que, na prática, se recusa a empreender uma releitura crítica rigorosa de sua trajetória e do entendimento do processo que veio das manifestações de junho de 2013 à vitória eleitoral da extrema direita na eleição presidencial de 2018. No segundo caso, é preciso dessacralizar os identitários. Desmantelar aura e auréola de vítimas e mártires que pretendem se colocar acima de tudo, como juízes e algozes implacáveis das coisas da vida e do mundo. Combater seus “tribalismos”, sua glorificação do gueto, seus expedientes fascistas. Deixemos de parte as exacerbações particularistas, setoriais, e vamos voltar a nos mover no campo da maioria, nas águas mais vivas do conjunto da sociedade brasileira. O que digo é isso: precisamos superar o “apartheid” identitário e reencontrar a democracia. Em todos os campos do pensar, do sonhar, do imaginar e do fazer.

O longo declinio da União Soviética sob a gerontocracia comunista

The Decline of the Soviet Union: The History of the Communist Empire in the Last 30 Years of Its Existence 


Leonid Brezhnev became First Secretary of the Communist Party in the Soviet Union in late 1964 after a plot to oust Khrushchev. Little is remembered in the public imagination about Brezhnev in comparison to Mikhail Gorbachev, Vladimir Lenin, or Joseph Stalin, despite the fact Brezhnev ruled the USSR from 1964-1982, longer than any Soviet leader other than Stalin. In fact, he held power during a tumultuous era that changed the world in remarkable ways, and that era has been favorably remembered by many former Soviet citizens. It marked a period of relative calm and even prosperity after the destruction of World War II and the tensions brought about by Khrushchev. Foremost amongst Brezhnev’s achievements would be the détente period in the early 1970s, when the Soviets and Americans came to a number of agreements that reduced Cold War pressures and the alarming threat of nuclear war. 

On the other side of the balance sheet, Brezhnev oversaw a malaise in Soviet society that later became known as an era of stagnation during which the Communist Bloc fell far behind the West in terms of economic output and standard of living. His regime also became notorious for its human rights abuses, and Soviet foreign policy in his later years took on some of the character of the earlier American behavior that he had so criticised. Most calamitous of all was the invasion of Afghanistan in 1979.

The Cold War moved into one of its most dangerous phases after Brezhnev’s death as both sides deployed nuclear weapons within alarming proximity in Europe. A NATO exercise, “Operation Able Archer,” almost led to a Soviet miscalculation, and when the Soviets shot down a South Korean airliner in September 1983, claiming it had strayed into Soviet airspace, the Cold War became very tense indeed. 

After going through three elderly leaders in three years, Mikhail Gorbachev was chosen as the new General Secretary at the relatively young age of 54 in March 1985. Gorbachev hoped to build the Soviet economy to relieve the persistent shortages of consumer goods it faced, which were caused by enormous military spending of the Soviet Union. Gorbachev tried to introduce some economic reforms, but they were blocked by communist hardliners. Gorbachev then came to the belief that the Soviet economy could not improved without political reform as well.

Limited political reforms, such as broadcasting uncensored debates in which politicians openly questioned government policy, backfired when they energized eastern European opposition movements which began to overthrow their communist governments in 1989. Gorbachev was unwilling to reoccupy these eastern European nations and use the Soviet army to put down these revolts.

In comparison with other Soviet leaders, Gorbachev was leader of the USSR for a relatively short period, but the changes that took place under his leadership were monumental, including some that were intended and others that were unforeseen. Gorbachev oversaw the end of the Cold War and the peaceful transition away from communism in Central and Eastern Europe, and he ended the war in Afghanistan and many other proxy conflicts in the developing world. Gorbachev improved relations with the West and developed enough trust with President Ronald Reagan and President George H.W. Bush to decommission thousands of nuclear weapons. He also liberalized the political environment within the Soviet Union itself, increased accountability, and brought in a certain degree of democracy. 
Gorbachev was awarded the Nobel Peace Prize for these efforts in 1990, but his regime also left a legacy of turbulence and destruction in its wake. As a result of his policies, many Soviet people rose up against the status quo, demanding national self-determination and reviving old grievances. Gorbachev could not prevent the USSR from disbanding at the end of 1991.

domingo, 10 de novembro de 2019

Verificação de segurança na conta do Google

Acho que o Google é um pouco paranoico, mas isso pode ser bom.
Ele removeu o acesso de diversos aplicativos a meus contatos ou outras informações pessoais disponíveis em meu computador. Suponho que seja bom.
Façam isso vocês também...

Verificação de segurança
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Rússia de Putin: a pretensão frustrada de ser uma grande potência - revista Time

30 Years After the Fall of the Berlin Wall, Russia Is Only Pretending to Be a Major Power

Time magazine, October 9, 2019

Vladimir Yakunin, the former Russian Railways boss and KGB spy, leaned forward to describe the way the world is going. It was the middle of October, and he had just convened an annual gathering of statesmen from countries that are, as a rule, sympathetic to the Kremlin. Held each fall on the Greek island of Rhodes, the summit provides a chance for Russia’s allies to compare notes, assess opportunities and make plans for the future. Yakunin, an old friend of Russian President Vladimir Putin, serves as the master of ceremonies.
The global context this year seemed to suit his message perfectly. Five days before the summit opened at the Rhodes Palace, the island’s most luxurious hotel, the U.S. had announced that it was withdrawing U.S. troops in northern Syria, effectively abandoning the Kurds and giving Turkey and Russia free reign to do what they want in the region. The U.K.’s plan to leave the European Union had also just hit another embarrassing snag, as its government was forced to ask for yet another Brexit extension. Yakunin clasped his hands as he considered what all this meant for Russia and the world. “We can say the West is declining,” he told TIME. “The global architecture is changing.” He took a sip from his espresso, and added, “The liberal order will be changing.” 

But judging by the turnout in Rhodes this year, Yakunin and his allies back in Moscow are not in a prime position to define the terms of a new world order. The only head of state who showed up was Mahamadou Issoufou, the President of Niger. The handful of attending politicians from Europe were years out of office. Few stayed for the entire weekend. Martin Schulz, the former President of the European Parliament, left before the end of the first day of the conference.
It seemed like a sign of the times for Russia. Compared to its influence in the late Soviet era, when Yakunin served as a KGB spy under diplomatic cover in New York City, the Kremlin today has little claim to the status of a modern superpower. Under President Vladimir Putin, Russia has played a central role in conflicts from the Middle East to Latin America. But its messengers, like Yakunin, have a tendency to overstate their country’s strength. Political experts insist that Putin lacks a strategy for filling the vacuum that President Donald Trump has left behind in Syria. Nor does Moscow have enough money to sustain a system of reliable alliances, the way that China has tried to do by investing billions of dollars each year in countries across Africa.
“Russia can’t really fill this vacuum,” neither in Syria nor the broader Middle East, says Stefan Meister, head of the Program for Eastern Europe and Russia at the German Council on Foreign Relations in Berlin. “It will only play with it. It can destroy, but it’s not able to build up the region.” Whether President Trump likes it or not, the U.S. is still the only power that can do that, says Shada Islam, a director at a Brussels based think tank, Friends of Europe. “The player in chief is still the U.S.—it’s the power that counts in the region,” she says. 
The Russians, of course, don’t quite see it that way. One of Yakunin’s guests in Rhodes this year was Vyacheslav Nikonov, the Chairman of the Education and Science Committee in the Russian parliament, who also happens to be the grandson of the legendary Soviet foreign minister, Vyacheslav Molotov. (The Molotov cocktail was named after him, though he was not its inventor; during the Soviet invasion of Finland in 1939-1940, Finnish guerillas used the crude petrol bombs against the Russian troops.)
Less than a week after the forum in Rhodes, some 1,000 miles to the east in the city of Manbij, Russian troops faced no resistance as they moved into northern Syria. It was a scene of triumph for Moscow to broadcast on state TV, as Russian reporters streamed videos from bases that had just been abandoned by American troops. 
But those images were hardly a reliable measure of Russia’s power in the Middle East. Since Putin intervened in the Syrian war in 2015 to defend the regime of Bashar Assad, Moscow’s role in the region has come with costs that Russia will have trouble bearing in the long run. “Many in Russia are reluctant to place the country in the position of a security provider because this would involve multifarious responsibilities. This is understood at Russia’s top leadership,” says Elena Chebankova, a Russian politics lecturer at Lincoln University. Russia will not go too far to act as “a world ‘policeman’ to the extent as the USSR did,” she says.
In July, Russia unveiled a proposal for a new alliance in the Middle East, dubbed the Collective Security Concept for the Persian Gulf Region. Its aim is to create stability in the Persian Gulf and involve major global and regional players including China, Russia, India, the U.S. and the E.U. But the plan left many Gulf officials wondering what Russia would do to guarantee the security it promised, says Nikolay Kozhanov, a Senior Research Fellow at the Institute of World Economy and International Relations in Moscow. “And the answer was quite obviously, nothing,” says Kozhanov. “Russia is a major player without any special cards in its hands.”
During Putin’s visits to Abu Dhabi and Saudi Arabia in October, their leaders rolled out the red carpet for the Russian President and declared a new era in relations with Moscow. But the trips turned out to be short on substance, says Rauf Mammadov, an energy policy expert at the Middle East Institute, a U.S.-based think tank. Putin came away with $3 billion in deals—a modest sum compared to the $300 billion Trump secured during his visit to Saudi Arabia in 2017. 
Saudi Aramco, the kingdom’s oil company, signed up to buy a stake in a new gas project in the Russian Arctic October 2018, but so far it has not materialized. A much lauded partnership between Russia’s sovereign wealth fund and a UAE-based global investment firm Mubadala was created in 2013, but the two sides have only allocated a third of the $7 billion that is up for investment. Russia’s economic ties to Persian monarchs are “still a nascent process,” says Mammadov. Likewise in Egypt, Putin agreed a deal in 2014 to build a Russian free-trade zone on the Suez Canal—a project that remains on the drawing board, wrapped up in Egyptian red tape. But that did not stop Egyptian President Abdul Fattah Al-Sisi from touting the project during a meeting with Putin in Russia last month. 
The economic ties between Russia and China have also tended to produce more headlines than substance. Though Putin has hailed these relations as the “best they’ve ever been,” the primary proof has been the recent series of joint military drills, alongside plans announced last month for Russia to “radically enhance China’s defense capability” by helping the country to build a missile defense system.
Putin and his Chinese counterpart are more like frenemies than allies, says Mathieu Boulègue, a Research Fellow at the Russia and Eurasia Programme at Chatham House. For one thing, Russia is painfully aware that, with an economy 8 times smaller than that of China, it would need to accept the role of junior partner in any alliance with Beijing. “It’s not about cooperation,” says Boulègue, “but the messages it sends to the rest of the world.” The intended message is clear enough, he says: “‘We are not alone.’”

But loneliness may be wiser than some of the partnerships Russia is courting. Consider its recent moves in Africa. Through a series of security deals and mining ventures, the Kremlin managed to build an alliance in the last two years with the Sudanese dictator Omar al-Bashir—only to watch him deposed in a popular uprising this summer. At the end of October, Putin brought the heads of state from 43 African countries to Sochi, his favorite resort on the Black Sea coast.
The event produced another round of headlines around the world about Russia’s prowess in foreign affairs. But other than the pageantry, it was hard to see what Moscow stood to gain from these alliances. Only 3.7% of Russian goods end up in Africa today, while African goods account for just 1.1% of Russian imports. Russia’s current bilateral trade of $20 billion is just an eighth of China’s and half of the U.S.’s. Paul Stronski, a senior fellow at the U.S.-based Carnegie Endowment for International Peace, sees Russian clout in Africa “tied to a handful of client states with relatively limited strategic significance.” That means Putin is still “nowhere near restoring the status that the Soviet Union once enjoyed on the continent,” Stronski told the BBC. 
The same can be said of Yakunin. Though he clearly enjoyed the chance to address his audience of hundreds in Rhodes, the spectacle of the event felt hollow. “It has no real meaning other than maintaining an attractive image of Russia,” says Elisabeth Schimpfossl, the author of Rich Russians: From Oligarchs to Bourgeoisie, who first attended the Rhodes summit in 2009. Then, as now, the gathering was mostly a “PR event,” she says. And in that sense, at least, it resembles a lot of Russia’s recent moves in international affairs. 

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Sobre intervenções de militares na política- Paulo Roberto de Almeida

Sobre intervenções DE militares na política, em contraposição a intervenções DAS FFAA:

Só reconheço três, e apenas três, intervenções das FFAA na política brasileira: em 1930, em 1945 e em 1968-69. Todas as demais, inclusive o golpe da República (1889) e o de 1964, foram intervenções DE militares, em conjugação com forças políticas civis, no quadro de graves crises de funcionamento da administração política “normal” do país. Tivemos muitas crises — 1920s, 1937, 1955, 1961 —, com envolvimentos variados de militares e restrições posteriores.
Alguns experimentos de militares eleitos — Hermes, Bolsonaro — se revelaram desastrosos, para a política e para as FFAA, por incompetência própria, mais que por deficiências da vida de caserna. 
Estamos em meio a um desses desastres da vida política nacional, por incompetência manifesta do comandante supremo das FFAA, em face de um envolvimento limitado e muito confuso DE militares num governo que possui notórias interferências ideológicas bizarras em seu funcionamento.
Não vejo uma atitude consensual das FFAA, propensas a um determinado e decisivo engajamento no confuso e caótico cenário político atual. Não existe, aliás, um diagnóstico preciso quanto ao que fazer, em face de uma nítida deterioração da governança, por incompetência e ignorância, situação doravante exacerbada pelo ressurgimento de um polo político deliberadamente opositor e propenso a criar ainda mais confusão.
O que farão AS FFAA? 
Provavelmente NADA.
E quanto a militares, considerados individualmente?
Eles também estão confusos e dubitativos quanto ao que pode ocorrer na governança e na situação do Brasil, tanto quanto os políticos responsáveis, que são em menor número do que os claramente ambiciosos pela próxima alternância no poder da nação.
O que os militares e as FFAA farão, na perspectiva de 2022? 
Na minha opinião serão mais contemplativos do que foram no passado, quando eram mais participativos e até mais intervencionistas, pelo menos até 1968-69 (pelas FFAA) e até a CF-1988 (pelos militares).
Desde 2013 e até agora, foram espectadores engajados, mas bem mais num estilo “maçônico” do que de forma aberta.
A questão está em saber se são  “maçônicos” enquanto FFAA, ou apenas individualmente como militares. Isso faz toda a diferença.
Mas, aposto que nem eles sabem...

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 10/11/2019

Sobre regimes extremistas - Paulo Roberto de Almeida

Percorro todo o espectro das ideologias políticas, sem preconceitos e sem pré-juízos, visando apenas a definição e implementação de políticas públicas efetivas na criação de prosperidade e na garantias de amplas liberdades democráticas para a população. 
Minhas constatações, com base numa observação realista do que vi, acompanhei, registrei objetivamente, pelo mundo, nos mais diversos experimentos em países de diferentes continentes, nos mais diversos contextos históricos e sociais, são as seguintes.
Regimes extremistas costumam ser bastante ineptos no plano econômico, tremendamente corruptos no terreno político, propensos a muita demagogia e a fraudes populistas e culturalmente reacionários. Chegam a ser amigos das mais execráveis ditaduras, de direita ou de esquerda, em várias partes do mundo.
Assim foi o lulopetismo, que nos legou a pior recessão de toda a nossa história econômica, conspurcou as instituições republicanas e roubou bilhões do povo brasileiro, por um projeto de poder personalista, ademais de apoiar ditaduras ordinárias, na região e alhures, defendendo ainda “controle social” dos meios de comunicação.
E assim pode ser o olavo-bolsonarismo, propondo um modelo autoritário de sociedade, culturalmente reacionário no seu anti-iluminismo retrógrado e fundamentalista religioso, com um tremendo potencial de retrocessos no plano da educação e pesquisa científica. 
Não tenho nenhuma hesitação em proclamar minha posição. 
Rejeito ambos, como deploráveis do ponto de vista de um modelo de sociedade e de um sistema político dotado das mais amplas liberdades econômicas e garantias democráticas, de total comprometimento com a defesa dos direitos humanos e de garantias para as minorias, com total liberdade de expressão, sem qualquer intromissão do Estado nos meios de comunicação e promotor de avanços irrestritos na pesquisa e na educação científica, num contexto de total laicidade nos espaços públicos.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 10/11/2019

sábado, 9 de novembro de 2019

Queda do muro de Berlim e desaparecimento da RDA: como reconstruir os arquivos da Stasi - WP

Thirty years after the Berlin Wall fell, a Stasi spy puzzle remains unsolved

BERLIN — In the aftermath of the fall of the Berlin Wall 30 years ago, East Germany’s secret police frantically tried to destroy millions of documents that laid bare the astounding reach of mass surveillance used to keep an iron grip on citizens.
As shredders that were available jammed or broke down, Stasi officers resorted to tearing the documents by hand, stuffing them into bags to later be burned or pulped. But the effort came to a premature halt when citizens groups stormed and occupied Stasi offices to preserve the evidence.
Three decades later, in the same rooms behind the foreboding gray facade of the former Stasi headquarters, Barbara Poenisch and nine fellow archivists are trying to piece those documents, and the history, back together. 
Poenisch calls it “a big puzzle game.” But at the current rate, there are still decades of work ahead.
The archivists have reconstructed more than 1.5 million pages contained in 500 sacks over the past 20 years. There are still around 15,500 more bags to go, stored in Berlin and sites in eastern Germany.
A single sack can take an archivist as long as a year and a half to reconstruct, depending on how finely the documents are torn. Attempts to speed up the process with digital technology have stalled.
The painstaking work, performed by hand, continues amid controversy over the future of the Stasi files.
The German parliament voted this fall to transfer control of the files to the Federal Archives, with promises to invest in preservation and digitalization. Some historians and former regime opponents have criticized the move, saying it is an attempt to draw a line under history and raising concerns that files will become less accessible.
Every German has the right to view the records that the Ministry for State Security, as the Stasi was officially known, gathered on them. More than 3 million individuals have applied to do so.
The agency used tens of thousands of employees and a vast web of informants to monitor every facet of society, causing many East Germans to live in terror. It kept files on 5.6 million people.
Reconstructed pages from the Stasi files have shed light on the agency’s investigations into a Nazi war criminal and into the peace networks in both East and West Germany. 
For Poenisch it’s a more personal document that sticks in her mind: a letter from a mother who pleaded to authorities to release her jailed son.
Poenisch spreads out paper fragments on a table. The sack she’s been working on is from the Abteilung N, responsible for communication within the state apparatus and with friendly countries. 
A memo from Oct. 1, 1986, reports that the political situation in East Germany is “calm and stable. . . . There have been no significant events in either the economy or transport sector.”
Another memo, from April of the same year, outlines a long-term plan for the Stasi to keep up with technological advances. The goal is to achieve a “uniform, integrated digital intelligence network beyond year 2000.”
For the year 2019, the project to reconstitute the documents is surprisingly low-tech.
There’s precedent for reconstituting shredded documents. In the mid-1980s, Iran pieced together and published intelligence reports and operational accounts that had been put through a shredder as Iranian militant students seized control of the U.S. Embassy in Tehran.
More recently, programmers in California have promoted software that can do what the Iranians were thought to have done by hand.
But the Stasi project does not have the technology to deal with shredded material, said Ute Michalsky, the head of the reconstruction department. 
An “E-puzzler” software program, developed by researchers at Berlin’s Fraunhofer Institute, had sounded promising. It was supposed to match scanned fragments together based on paper color, fonts, shapes and other details. But it turned out to be more time-consuming than the manual effort and has not been used for the past two years. 
The German government has dedicated 2 million euros to enhance the scan technology.
The archivists say they don’t bother trying to piece together material torn into more than eight pieces, even though they may be those the Stasi were more keen to hide. 
“I sometimes have the feeling that they knew exactly what to tear up,” Poenisch said. “Unimportant things only get a single tear, but important things: the more important, the smaller the pieces.”
Poenisch says the laborious work doesn’t get dull. 
“The responsibility is high,” she said. “Every document could be important.” 

William Glucroft in Berlin contributed to this report.