Two tales of two cases: sobre o Foro de S. Paulo e a Stasi (ex-RDA)
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre as entrelinhas da História.
A maior parte dos jornalistas e das pessoas comuns deve desconhecer os mecanismos pelos quais os comunistas cubanos atuaram para consolidar o Foro de S. Paulo, independentemente da capacidade do PT de supostamente “influenciar” dezenas de partidos e movimentos de esquerda da AL.
Depois da queda repentina do muro de Berlim e da rápida absorção da RDA pela RFA, a Stasi não teve tempo de limpar os arquivos, e daí se soube que mulher vigiava o marido, como se viu na “Vida dos Outros”.
Os comunistas cubanos estão tendo todo o tempo do mundo para fazer o serviço, o que impedirá revelações históricas como se viu no caso da RDA, mas não os impede de controlar, agora e sempre, figuras e entidades para atingir suas finalidades próprias.
A diferença entre os dois casos ainda habilita certas pessoas a posarem de “democratas”, confiando na intangibilidade dos arquivos, ou na contenção segura dos controladores. São os caminhos diversos da história, sobre os quais apenas novelas ao estilo de John Le Carré podem desvendar o que está realmente por trás de certos “fatos”.
Não sou nenhum John Le Carré, mas sei ver o que se esconde atrás de certos cenários, que podem ser de extrema-direita ou de extrema-esquerda. Muitos ignoram que Chávez, ou Fidel Castro, por exemplo, ambos considerados líderes de esquerda pelos ingênuos de sempre, foram o mais próximo que a AL teve de certo DNA fascista ou nazista, o que é característica própria de todas as ditaduras, de esquerda ou direita.
Ditadura é ditadura, de qualquer cor ou ideologia. Mas certa esquerda na AL apoia Putin, um êmulo de Hitler, apenas porque ele é antiamericano, um avatar próprio aos ingênuos ou ignorantes dessa esquerda.
A ingenuidade, ou desconhecimento, de certos fatos, para mim evidentes, impede que jornalistas e pessoas comuns possam reconhecer no papel que o Foro de S. Paulo tem para o PCC um equivalente funcional similar ao que o Cominform tinha para o PCUS no stalinismo tardio, entre os anos 1940 e 50.
Mas, tudo isso não tem mais nada a ver, como quer fazer acreditar a extrema-direita (e seu finado guru ideológico), com um “movimento comunista internacional”, hoje inexistente. Tem mais a ver com a sobrevivência material de regimes ditatoriais como o cubano e o chavista, e a própria sobrevivência política e física de seus dirigentes.
Desse ponto de vista, Lula é um aliado objetivo, ou um “inocente” útil, de autocratas de esquerda e de DIREITA que se opõem atualmente a valores e princípios próprios a democracias liberais.
A História não o absolverá.
Mas é pena que, diferente do caso da Stasi, documentos talvez não sobrevivam ao triste registro do verdadeiro itinerário da contrafação que representaram, no caso do Brasil, um amigo da ditadura militar e elogiador de torturadores, como o Bozo, e um amigo de execráveis ditaduras supostamente de esquerda, como faz hoje Lula, em relação a seus amigos cubanos, venezuelanos ou nicaraguenses.
Dois relatos sobre dois casos, mas existem muitos outros mais…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4428, 30 junho 2023, 2 p.
PS: Aproveito para indicar um outro pequeno texto sobre o Foro de S. Paulo, para quem possa se interessar pelo assunto:
4285. “As ‘internacionais’ do comunismo”, Brasília, 6 dezembro 2022, 2 p. Nota sobre as diversas associações do movimento comunista internacionais, Comintern, Cominform e Foro de S. Paulo. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/12/as-internacionais-do-comunismo.html).