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sexta-feira, 30 de junho de 2023

Duas histórias sobre dois casos: o Foro de S. Paulo e a Stasi - Paulo Roberto de Almeida

Two tales of two cases: sobre o Foro de S. Paulo e a Stasi (ex-RDA)

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as entrelinhas da História.

  

A maior parte dos jornalistas e das pessoas comuns deve desconhecer os mecanismos pelos quais os comunistas cubanos atuaram para consolidar o Foro de S. Paulo, independentemente da capacidade do PT de supostamente “influenciar” dezenas de partidos e movimentos de esquerda da AL. 

 

Depois da queda repentina do muro de Berlim e da rápida absorção da RDA pela RFA, a Stasi não teve tempo de limpar os arquivos, e daí se soube que mulher vigiava o marido, como se viu na “Vida dos Outros”.

Os comunistas cubanos estão tendo todo o tempo do mundo para fazer o serviço, o que impedirá revelações históricas como se viu no caso da RDA, mas não os impede de controlar, agora e sempre, figuras e entidades para atingir suas finalidades próprias.

 

A diferença entre os dois casos ainda habilita certas pessoas a posarem de “democratas”, confiando na intangibilidade dos arquivos, ou na contenção segura dos controladores. São os caminhos diversos da história, sobre os quais apenas novelas ao estilo de John Le Carré podem desvendar o que está realmente por trás de certos “fatos”. 

Não sou nenhum John Le Carré, mas sei ver o que se esconde atrás de certos cenários, que podem ser de extrema-direita ou de extrema-esquerda. Muitos ignoram que Chávez, ou Fidel Castro, por exemplo, ambos considerados líderes de esquerda pelos ingênuos de sempre, foram o mais próximo que a AL teve de certo DNA fascista ou nazista, o que é característica própria de todas as ditaduras, de esquerda ou direita.

 

Ditadura é ditadura, de qualquer cor ou ideologia. Mas certa esquerda na AL apoia Putin, um êmulo de Hitler, apenas porque ele é antiamericano, um avatar próprio aos ingênuos ou ignorantes dessa esquerda.

A ingenuidade, ou desconhecimento, de certos fatos, para mim evidentes, impede que jornalistas e pessoas comuns possam reconhecer no papel que o Foro de S. Paulo tem para o PCC um equivalente funcional similar ao que o Cominform tinha para o PCUS no stalinismo tardio, entre os anos 1940 e 50.

 

Mas, tudo isso não tem mais nada a ver, como quer fazer acreditar a extrema-direita (e seu finado guru ideológico), com um “movimento comunista internacional”, hoje inexistente. Tem mais a ver com a sobrevivência material de regimes ditatoriais como o cubano e o chavista, e a própria sobrevivência política e física de seus dirigentes. 

Desse ponto de vista, Lula é um aliado objetivo, ou um “inocente” útil, de autocratas de esquerda e de DIREITA que se opõem atualmente a valores e princípios próprios a democracias liberais.

A História não o absolverá. 

Mas é pena que, diferente do caso da Stasi, documentos talvez não sobrevivam ao triste registro do verdadeiro itinerário da contrafação que representaram, no caso do Brasil, um amigo da ditadura militar e elogiador de torturadores, como o Bozo, e um amigo de execráveis ditaduras supostamente de esquerda, como faz hoje Lula, em relação a seus amigos cubanos, venezuelanos ou nicaraguenses. 

Dois relatos sobre dois casos, mas existem muitos outros mais…

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4428, 30 junho 2023, 2 p.



PS: Aproveito para indicar um outro pequeno texto sobre o Foro de S. Paulo, para quem possa se interessar pelo assunto:


4285. “As ‘internacionais’ do comunismo”, Brasília, 6 dezembro 2022, 2 p. Nota sobre as diversas associações do movimento comunista internacionais, Comintern, Cominform e Foro de S. Paulo. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/12/as-internacionais-do-comunismo.html).


quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

As “internacionais” do comunismo: Comintern, Cominform e Foro de S. Paulo - Paulo Roberto de Almeida

 As “internacionais” do comunismo  


Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Nota sobre as diversas associações do movimento comunista internacionais, Comintern, Cominform e Foro de S. Paulo.


  

O Comintern foi criado por Lênin em 1918 para combater as potências imperialistas, fomentar o comunismo mundialmente e defender os interesses nacionais da URSS. Fracassou em vários empreendimentos: na Alemanha, na China, no próprio Brasil.

Stalin fechou-o em 1943, pois precisava do apoio material dos EUA e da Grã-Bretanha contra Hitler. 

Mas criou o Cominform em 1947 para controlar o império soviético e sua esfera de influência na Europa central e oriental, assim como os partidos comunistas ao redor do mundo, inclusive o Partidão, que eram em geral submissos aos interesses da URSS. Seu principal inimigo era Tito, da Iugoslávia, logo depois os chineses, que não aceitavam a hegemonia e a arrogância dos soviéticos. O rompimento entre os dois gigantes do comunismo mundial se deu no final dos anos 1950.

O Cominform desapareceu bem antes da implosão do socialismo nos dez anos que abalaram o mundo, na década de 80.

O desaparecimento da ajuda soviética deixou muitos partidos comunistas desamparados (inclusive o Partidão) e uma ilha miserável totalmente desamparada no Caribe.

Animada pelos companheiros cubanos, o PT e vários outros companheiros na região criaram o Foro de São Paulo em 1990 com o objetivo de ajudar diplomaticamente, mas sobretudo financeiramente uma Cuba miserável (que nos tempos do mensalão soviético ajudava os partidos hermanos da região).

Companheiros latino-americanos que conquistaram o poder pela via eleitoral — pois as guerrilhas apoiadas por Cuba foram todas derrotadas — ajudaram como puderam a ilha-prisão dos irmãos Castro, Hugo Chávez com milhões dos seus petrodólares (e médicos e oficiais de inteligência cubana em retorno), os petistas com um porto em Mariel e o sistema dos médicos explorados.

O Foro de SP não tem nenhuma outra importância senão essa, pois a tentativa de criar um “socialismo do século XXI” foi um fracasso tão retumbante quanto o finado experimento soviético. Mas a direita tem usado o fantasma do comunismo para aliciar apoiadores. Atualmente, nem o PCdoB quer o socialismo: os socialistas só querem viver às custas dos capitalistas. 

O Foro de SP é um tigre de papel, como diria Mao Tsetung.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4285: 6 dezembro 2022, 2 p.


quinta-feira, 25 de julho de 2019

Foro de S.Paulo: importante ou desimportante? - Jornal Metropoles (Bsb), Paulo Roberto de Almeida

Meus comentários sobre o Foro de S. Paulo e o espantalho que a direita pretende criar
Paulo Roberto de Almeida

O Foro de S. Paulo existe desde 1990, o ano em que os castristas descobriram que o "mensalão soviético", iria realmente acabar, e que tempos duros viriam pela frente. De fato, na primeira metade dos anos 1990, com a cessação dos subsídios soviéticos – a própria URSS desapareceu no final de 1991 – Fidel Castro teve de enfrentar o que eles chamaram de "período especial", uma espécie de "cura de emagrecimento" das mais duras enfrentadas por uma ilha já de ordinário miserável, por força do falido regime socialista, e totalitário, criado pelos irmãos Castro, mantido por repressão severa contra toda a população cubana.
Só uns poucos idiotas da esquerda – e alguns supostos "intelequituais" descerebrados – continuavam apoiando Cuba no Brasil, entre eles os companheiros petistas, cujos "guerrilheiros reciclados" na direção do PT seguiram fielmente as ordens dos comunistas cubanos para criar esse Foro.
O Foro de SP nada mais é do que uma espécie de Cominform castrista, tomando exemplo nessa organização do stalinismo tardio para tentar controlar os partidos comunistas (sobretudo na Europa, contra a dissidência titoista), depois que o Stalin teve de desmantelar o Komintern criado por Lênin.
Quem não souber nada disso pode ler o livro sobre o comunismo do Archie Brown, disponível no Kindle, em inglês, mas também publicado no Brasil.
O fato é que eu, conhecedor da história do comunismo mundial, e da esquerda brasileira, fui um dos primeiros a chamar a atenção para o papel do Foro de S. Paulo na estratégia cubana para os partidos de esquerda na AL. Vou buscar os meus textos do início dos anos 1990 para comprovar o que acabo de dizer. Reconheço que Olavo de Carvalho – que já tinha sido comunista e que portanto sabia das táticas dos comunistas cubanos – também foi um dos primeiros a denunciar esse instrumento dos comunistas cubanos, e continuou assim fazendo nos últimos 20 anos, mas com sua paranoia habitual, segundo a qual, os comunistas brasileiros, e seus aliados continentais, pretendem "implantar o comunismo no Brasil". 
Acho risível esse tipo de postura, uma vez que nem o PCdoB, muito menos os comunistas cubanos pretendem implantar o comunismo no país, e não por qualquer ideologia liberal, e sim por puro oportunismo e pragmatismo: de onde eles iriam tirar dinheiro para sobreviver se não junto aos capitalistas (e trabalhadores) que produzem riquezas, que eles podem extorquir? Se eles são minimamente espertos – e imagino que sejam –, sabem que o socialismo é uma porcaria completa, e se precisasse de alguma prova a Venezuela está aí mesmo ao lado para provar que ele só produz miséria e pobreza.
Tentei explicar tudo isso a uma jornalista do Globo, que me entrevistou na semana passada, para produzir sua matéria no último domingo, que reproduzi aqui neste espaço: 
https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/07/foro-de-s-paulo-um-espantalho-util.html

De tudo o que lhe disse, ela só conseguiu extrair duas frases, que obviamente não refletem toda a evolução histórica do comunismo mundial e do socialismo cubano, e o que o Foro realmente significa para o PT e para os demais partidos da região: apoio estratégico – diplomático, político, financeiro – ao falido regime da ilha escravizada pelos Castros, e também uma maneira de carrear recursos para a sobrevivência do nefando sistema, por meios legais (porto de Mariel, programa Mais Médicos, acordos internacionais diversos) e sobretudo ilegais (super e subfaturamento em dezenas de contratos comerciais privados, mas nos quais os companheiros têm alguma participação). 

O "anti-Foro de S.Paulo" que agora se pretende criar, com os bolsonaristas no poder significa apenas continuar a agitar o espantalho do comunismo, do marxismo, que é importante nessa mobilização que a extrema direita faz em apoio às suas teses. Ou seja, é um espelho exato do que eles pretendem combater, agitando a iniciativa de uma "Internacional Conservadora" que essa direita sem qualquer doutrina pretende fundar. 

Termino dizendo que o Foro de S. Paulo não tem nenhuma importância em si mesmo – mais do que a ação própria dos partidos nacionais – a não ser como correia de transmissão e mecanismo de controle que os comunistas cubanos exercem em direção dos partidos de esquerda na região. Eles precisam disso, para sobreviver e se abastecer financeiramente. Não tem absolutamente nada de ideológico: apenas necessidade de manutenção de uma "bolsa pró-Cuba" a ser generosamente concedida por regimes afins (chavismo na Venezuela, lulopetismo no Brasil) e pelos partidos da esquerda na AL que eventualmente cheguem ao poder. As fontes estão secando, mas os partidos continuam sob vigilância dos cubanos, e as quermesses – de esquerda e de direita – continuam agitando bandeiras.
Os dirigentes sabem bem o que fazem, manipulando esses foros, e os militantes ingênuos continuam se mobilizando de forma canhestra.
O PT continua em sua missão VERGONHOSA de defender as ditaduras castrista em Cuba e chavista-madurista na Venezuela, assim como todos os regimes totalitários no mundo.
A nova "direita" brasileira se engaja no mesmo circo para tentar se contrapor aos desmiolados da esquerda, mas usam o espantalhos para fins políticos próprios.
Considero ambos os grupos potencialmente totalitários – só que não conseguem, por motivos óbvios, implantar uma ditadura no Brasil – e tento manter um mínimo de racionalidade e de objetividade na avaliação dessas manifestações equivocadas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de julho de 2019


Foro de São Paulo começa na 6ª. Afinal, o que é realmente o grupo?

Encontro de partidos de esquerda marcado para este fim de semana na Venezuela é alvo de críticas da ala olavista do governo Bolsonaro

Jornal Metrópoles24/07/2019

Entre esta sexta-feira (26/07/2019) e domingo (28/07/2019), a capital venezuelana, Caracas, receberá o 25° encontro do Foro de São Paulo. O evento, que reúne cerca de 200 partidos considerados de esquerda da América Latina, entre eles PT, PDT, PCdoB, PCB e PSB, ocorre pelo menos desde 1990 e já passou por diversas cidades da região.
Nos últimos dias, contudo, o tema voltou ao centro das atenções da nova – e muitas extrema – direita brasileira, personificada no professor on-line de filosofia Olavo de Carvalho. O ideólogo bolsonarista e seus seguidores atribuem ao Foro de São Paulo uma espécie de “superpoder” comunista, veem o grupo como um instrumento maléfico da esquerda.
O “perigo” alertado pela militância olavista não é recente. O próprio escritor, por exemplo, fala do tema pelo menos desde a década de 1990, como gosta de destacar em seus vídeos.
Os discípulos do guru dão voz à pauta. Vários integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), entre eles o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), dão destaque ao Foro de SP e tratam constantemente do tema no Congresso e mesmo em conversas internacionais.

Visões conflitantesEduardo Grin, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), descreve o Foro de SP como um encontro que surgiu nos anos 1990, logo depois da queda do muro de Berlim, que tem por finalidade “preservar o legado de uma visão mais progressista e que reúne, portanto, vários governos, partidos e organizações de esquerda” da América Latina.
“Foi um espaço de encontro, de troca de ideias, com uma visão de um segmento mais progressista, que nem todos eram alinhados a uma visão a ‘la cubana’, mais radical. Mas havia um pensamento de que era possível criar fórmulas de acabar ou controlar com o capitalismo e de subverter várias formas de dominação política”, explica o professor.
Para Olavo de Carvalho, no entanto, o Foro de São Paulo é “a maior organização política que já existiu no continente latino-americano”, que reúne mais de 200 partidos políticos “e quadrilhas de narcotraficantes e sequestradores”, com o objetivo de “divulgar e implantar o comunismo”. Segundo Olavo, a função do PT é fornecer dinheiro para o movimento. “É um negócio monstruoso”, exclama.
“O Foro de São Paulo é um vasto plano de ocupação do continente inteiro pelo comunismo. E tudo o que está sendo roubado do Brasil é para financiar esse grupo”, disse em vídeo publicado no último final de semana. Em seguida, ele acusou os militares do governo, sobretudo o vice-presidente, Hamilton Mourão, de omissão.
Como de praxe no discurso olavista, as críticas voltam-se também à imprensa. Segundo o morador da Virgínia (EUA),há um “conluio” da imprensa para transformar o Foro em “uma reunião discreta”.

“Sem consequências”
Exagerado? Para o doutor cientista político David Fleischer, muito. Mestre em estudos latino-americanos pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, o especialista explica que o Foro de SP é, na verdade, apenas um pingo em um copo de água. Ou seja, não tem todo o valor que divulga a nova direita do país.
“O Foro de SP é encarado como o grande inimigo, mas não contribui para nada. Porque não se vê muitas consequências a partir dessa reuniões”, explica o americano naturalizado brasileiro. O cientista político lembra que a opinião de Olavo de Carvalho sobre a ida de Eduardo, “filho 03” do presidente, para a embaixada brasileira nos Estados Unidos teve como base essa ideia.
Na ocasião, o guru do bolsonarismo desaprovou a indicação pois o deputado teria uma “missão histórica” no Brasil bem mais importante que ser diplomata em Washington. Na sua opinião, Eduardo é o “guerreiro” responsável por eliminar o “esquerdismo maldito” através da “destituição do Foro de SP”.
Como deputado, Eduardo assinou, em junho deste ano, requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação do Foro. O comitê, na realidade, é coordenado pela deputada federal Chris Tonietto (PSL-RJ), mas seria o deputado paulista o “verdadeiro líder”.

Assinei hoje requerimento para criação da CPI DO FORO DE SÃO PAULO junto com o Presidente Civil da Frente Cidadã, Maciel Joaquin. O Foro de SP, cujo um dos integrantes é o PT e aliado de Maduro e FARC.

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Os “antiforistas” culpam o grupo pela ascensão de governos de esquerda na América Latina nos primeiros anos do século 21. David Fleischer, entretanto, considera mais um exagero por parte da extrema-direita. Ele explica, paulatinamente, o que realmente teria motivado o crescimento da esquerda no continente, o que é uma “circunstância local de cada país”.
“O Foro não teve nada a ver com isso. Os governos de esquerda subiram ao poder devido às circunstâncias de cada país. No Equador e no Peru, por exemplo, foi por causa de gestões corruptas de conservadores. Na Argentina, os peronistas estavam governando há muito tempo, antes mesmo da criação do Foro”, explica o doutor em Ciência Política.
Para o deputado Ivan Valente (PSol-SP), o atual governo, junto a seus aliados, usa o Foro como um tipo de “contrapropaganda” bolsonarista para, assim, tentar criar certos fantasmas. “O Foro é muito mais uma troca de ideias do que uma articulação internacional que tenha peso”, disse o deputado.
Paulo Kramer, cientista político aposentado da UnB, nega, contudo, o caráter minimalista que os críticos dão ao Foro de SP. “Ele serviu como um espaço de troca de ideias e de informações que acabou fortalecendo em conjunto dessa esquerda, no momento em que ela protagonizou uma onda conquistando o governo de vários países. É um erro minimizá-lo”, avalia.
Segundo Kramer, o próximo encontro, em Caracas, servirá para “lamber as feridas de seu fracasso em vários países e articular uma estratégia de sobrevivência”.
Bolsonarismo e o 25° Foro de SPO evento, marcado para este final de semana, tem como slogan o título: “Pela paz, a soberania e a prosperidade dos povos: unidade, luta, batalha e vitória.” As reuniões contam com grupos de esquerda europeu, afrodescendentes, povos originários, mulheres, jovens, parlamentares progressistas do mundo, artistas, intelectuais e movimentos sociais.
Mais sobre o assunto
  • Igo Estrela/Metrópoles
  • Foto: Marcos Corrêa/PR
As pessoas interessadas em participar do 25º Foro de SP, em Caracas, devem pagar US$ 50 (cerca de R$ 187) pela entrada, segundo a organização do evento. Já o valor da entrada para partidos, movimentos e organizações é de US$ 250 (cerca de R$ 935). A Venezuela cobrirá os custos de hospedagem, alimentação e transporte interno para duas pessoas de cada delegação nacional.
Entre os temas que serão debatidos durante os três dias de encontro, estão a “elaboração de um plano comum de luta”; “Perspectivas e Enigmas da Economia Mundial”, “Experiências e Perspectivas dos Governos Progressistas da América Latina e Caribe” e “A Luta do Povo Venezuelano pela Democracia, a Paz e a Soberania Nacional”, dentre outros.
Para o chanceler Ernesto Araújo, “o Foro de São Paulo infelizmente está vivo e se reunirá em Caracas para fortalecer a coligação nefasta que fundamenta esse projeto de poder: socialismo-narcotráfico-corrupção-crime organizado-terrorismo”. O ministro diz, sem apresentar provas, que o “ataque insidioso ao ministro Moro e à Lava Jato obviamente faz parte dessa estratégia do Foro.”
O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o “filho 02”, concordou. “Fomos governados por décadas pelas diretrizes do Foro de SP. Se engana quem diz que estão mortos. Seus filhos maldosamente inteligentes, que sabem o que fazem para manipular, continuam sedentos pelo poder e evitar o término da roubalheira que nos destruiu financeira e moralmente”, tuitou.
A ideia levantada por integrantes do governo Bolsonaro logo é contestada por Eduardo Grin. O cientista político explica que, esse “combate” ao Foro de SP é muito mais político do que real. Ou seja, algo simbólico desenvolvido pela nova direita e que não tem efetividade alguma.


2/O Foro de São Paulo infelizmente está vivo e se reunirá em 25/7, em Caracas, para fortalecer a coligação nefasta que fundamenta esse projeto de poder: socialismo-narcotráfico-corrupção-crime organizado-terrorismo.
3/De fato, o Foro de São Paulo hoje é isso: marxistas instrumentalizando traficantes e vice-versa, com o apoio de forças que, há 60 anos, tentam submergir a América Latina no totalitarismo e no atraso, destruindo a liberdade de nossos povos.

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“Esse é um governo que, se não tem algum inimigo, ele cria. Tem sempre uma força estranha e oculta, que não se sabe quem é, tentando fazer alguma coisa contra o país. Tem sempre o comunismo a espreita tentando de maneira clandestina se organizar. Estou usando essas expressões um pouco caricatas porque é dessa maneira que o governo vê o mundo”, diz o professor da FGV.
Para Eduardo Grin, o governo pensa, sobretudo, nas próximas eleições. “O bolsonarismo está retomando uma discussão de 30 anos atrás. Quem é que fala no comunismo hoje em dia? Mas, na construção ideológica do governo é importante manter esse discurso, pois temos que entender o contexto da luta política se está fazendo, já pensando nas próximas eleições”, complementa.
O PT no 25° Foro de SPA presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), não participará do encontro. Desde quando assumiu a presidência da sigla, em 2017, esta é a primeira vez que ela não participará. A assessoria de imprensa do partido informou que Gleisi não irá ao Foro por “questões de agenda”.
A direção nacional do PT, fundador do encontro, enviou uma nota, publicada nessa segunda-feira (22/07/2019), a respeito do 25º Foro de SP. A carta, postada em íntegra no site oficial do partido e no do encontro (leia), recomenda seis temas para debater durante o período. Entre eles, o recorrente “Lula livre!”.
Além de discutir a libertação do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril do ano passado, a sigla quer trabalhar com a paz na Venezuela e na Colômbia, pôr fim ao bloqueio econômico imposto pelos EUA contra Cuba e apoiar as candidaturas “progressistas e de esquerda” no continente.
Sendo assim, as diretrizes do PT para o 25º Encontro do Foro de São Paulo serão:
  1. Paz na Colômbia: pelo cumprimento dos Acordos de Paz de 2016, pelo fim do genocídio dos líderes sociais, pela apuração e punição dos responsáveis pelos 500 líderes sociais assassinados desde a assinatura dos Acordos;
  2. Paz na Venezuela: pelo fim da ingerência estadunidense nos assuntos internos da Venezuela, pelo fim das sanções econômicas, pelo direito à auto determinação do povo venezuelano e apoio aos Diálogos de Negociação entre as partes, auspiciados pelo Governo da Noruega, que ocorrem em Barbados.
  3. Fim do bloqueio econômico a Cuba e contra o acirramento das sanções econômicas recentemente determinadas pelo governo estadunidense (título 3 da Lei Helms-Burton).
  4. Apoio às candidaturas que representam os campos progressista e de esquerda nas eleições presidenciais de outubro deste ano na América do Sul: Alberto Fernández, na Argentina; Evo Morales, na Bolívia; e Daniel Matinez, da Frente Ampla, no Uruguai.
  5. Em defesa da democracia na região e contra a perseguição política e judicial das lideranças políticas e sociais da Região.
  6. Lula Livre!