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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Lula, PT, África do Sul, CIJ, diplomacia brasileira e a questão do "genocídio" de Israel em Gaza (matérias de imprensa)

 Os improvisos não são do Itamaraty, com certeza...

Posição do Brasil contra Israel, política e sem valor prático, traz efeitos internos e externos 


Há duas explicações sobre manifestação brasilieira: o massacre de palestino na reação de Israel aos atos terroristas e a posição ideológica do governo e do PT Por que, afinal, o presidente Lula decidiu atrair mais chuvas e trovoadas, dentro e fora do País, ao anunciar oficialmente apoio ao julgamento de Israel, por genocídio, na Corte Internacional de Justiça de Haia? Não precisava. 

Países não votam na Corte e não interferem no resultado. Bastava acompanhar de perto e ver no que daria, como fizeram China e Rússia, os dois principais integrantes dos Brics. A explicação nos bastidores, ou melhor, nos palácios, é a tragédia humanitária em Gaza, transformada num gigantesco cemitério de crianças depois que Israel reagiu ao ataque terrorista do Hamas despejando sua ira e sua força na faixa que abriga(va) os palestinos. Mas, fora dos gabinetes envidraçados de Oscar Niemeyer, a interpretação é outra: a posição ideológica de Lula e do PT contra Israel. 

 Depois de notas do Instituto Brasil-Israel e da Confederação Israelita do Brasil (Conib), cobrando a tradição de “equilíbrio e moderação” da política externa brasileira, veio a carta, igualmente dura, mas em formato erudito, do ex-chanceler Celso Lafer, de família judia da Lituânia, professor emérito da Faculdade de Direito da USP e especialista em Direito Internacional. Endereçada ao chanceler Mauro Vieira, mas distribuída publicamente, a carta rebate à luz do direito a acusação de “genocídio” e acusa a África do Sul, autora da petição à Corte de Justiça, de tentar deslegitimar o Estado de Israel e aumentar o antissemitismo mundial, “em sintonia com os que almejam minar o direito à existência de Israel”. “É um deslize conceitual de má-fé valer-se da imputação de genocídio para discutir as controvérsias jurídicas relacionadas à aplicação do direito humanitário e aos problemas humanitários em Gaza”, ensina Lafer, acusando a posição do governo de falta de consistência, coerência e obediência às regras do Direito Internacional. 

 Na véspera, a ONG Human Rights Watch (HRW) divulgara seu relatório de 2023, criticando o Brasil por falhas no combate à violência policial e também em quatro conflitos internacionais: “declarações controversas” de Lula sobre a invasão da Rússia na Ucrânia, defesa de Nicolás Maduro na Venezuela e omissão em relação às violações na Nicarágua e aos crimes da China contra os Uigures. Não há, porém, referências ao Brasil em relação à Guerra de Israel. Talvez porque o foco da HRW, pelo óbvio, é em direitos humanos, não em política externa e direito formal internacional. Mas a HRW é uma ONG, o Brasil é um País. Uma coisa é a opinião de organizações independentes, outra é o posicionamento oficial de um Estado num conflito que, como sempre, tem dois lados. 



O apoio do governo Lula à acusação de genocídio contra Israel no tribunal de Haia deve ter lá algum cálculo, mas seja qual for, é equivocado. 

Ainda que o núcleo do Palácio possa estar convicto de que se trata de um genocídio em curso, o que é pelo menos discutível, a acusação é demasiadamente grave para ser proclamada em nome do Brasil assim da noite para o dia, em apoio a um jogo de cena de um país secundário como a África do Sul. Não há dúvida de que Netanyahu tem que ser expelido e que sua política é inaceitável. 

A reação ao ataque terrorista do Hamas ultrapassou todos os limites humanitários. O Brasil deve condenar, como tem condenado, a resposta indiscriminada que mata civis e crianças. A hipótese de crime de guerra tem fundamento, mas daí a sustentar a tese de genocídio e apregoá-la publicamente vai um caminho. Por "café com leite" que seja o tribunal, que não tem poder impositivo, a decisão rompe com a tradição de equilíbrio e discrição do Itamaraty. Tem ares de terceiro-mundismo juvenil animado pelas novas movimentações do Sul Global. A tese é escorregadiça do ponto de vista jurídico, instrumentaliza Haia como palanque anti-Israel e é uma atitude de confrontação. Se um país considera que outro pratica genocídio… o que mais falta para endossar uma guerra?

 O assustador é que a possibilidade de uma guerra de maiores proporções vem aumentando. O gesto brasileiro se inscreve nesse contexto. A ampliação do conflito para a região já é um fato. Como observou o jornal The New York Times, a questão não é mais saber se vai ser ampliado, mas como pode ser contido. O mundo, não custa repetir, caminha para um "turning point". Uma nova ordem mundial se anuncia. Velhas convicções e argumentos estão em crise. Relações de força se redefinem. São momentos perigosos em que de uma hora para outra tudo pode se precipitar. 

 No meio desse tiroteiro, o governo brasileiro abandona a sobriedade na articulação de soluções pacíficas e resolve esticar a corda. Faz isso quando os EUA, com seu ethos belicista, piora as coisas com bombardeios no Iêmen em companhia do Reino Unido. Lula tem sido um defensor da paz, mas desta vez preferiu acirrar os ânimos. A decisão além de tudo é um erro político no plano doméstico, que contribui para aprofundar cisões entre brasileiros. Nada tem a ver com o discurso marqueteiro do Papai Noel da conciliação. 



quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Jacques Delors: o estadista do projeto europeu ainda inacabado - imprensa

 Todas as homenagens são devidas, mas o seu projeto ainda não está completo, a despeito de todos os esforços para criar a maior e melhor zona de prosperidade com liberdade do mundo, um império ideal:

Morre o francês Jacques Delors, um dos idealizadores da UE Foi presidente do braço executivo do bloco por 3 mandatos; é considerado “pai do euro” e responsável pelas bases da União Europeia: 


Mort de Jacques Delors, le « tsar de Bruxelles »  


Décès de Jacques Delors, le bâtisseur de l'Europe qui n'a pas voulu être président de la France  


Jacques Delors, Passionate Architect of European Unity, Dies at 98 As the executive of the European Union for a decade, he oversaw its increasing economic integration and led the drive for a single currency, the euro.  


Jacques Delors, statesman who shaped European Union, dies at 98  


sexta-feira, 22 de julho de 2022

O desastre da fraude presidencial com embaixadores estrangeiros - Matérias de imprensa

 Uma edição inteira deste boletim de noticias da ADB voltado para o vergonhoso evento do dia 18/07/2022 no Palácio da Alvorada.

Seguem os temas que mais repercutiram na mídia e redes sociais:


 

O olhar dos embaixadores

Daniel Buarque

Crusoé, 22.07.2022

 

Se Jair Bolsonaro esperava convencer o mundo de que há uma conspiração para tirá-lo do poder por meio de fraudes nas eleições de outubro, sua ideia de reunir mais de 40 embaixadores para apresentar sua teoria deu muito errado. Sem que fosse apresentada uma única prova das “denúncias”, ninguém saiu do Palácio do Alvorada acreditando que há problemas de segurança nas urnas brasileiras. Pelo contrário, o encontro serviu para consolidar a expectativa internacional de tensão nas eleições de outubro, com percepção de alto risco de ruptura democrática.

 

A impressão externa deixada pelo “brienfing” (sic) de segunda-feira foi a de um presidente que quer se manter no governo a qualquer custo e que está preparando o terreno para tentar reverter uma possível derrota nas urnas. Para os embaixadores, jornalistas e analistas estrangeiros, o encontro foi como um prenúncio do golpe que o presidente quer dar, caso venha a perder o poder.

 

Isso ficou muito evidente no posicionamento público de quem acompanhou o encontro. Um dia depois da apresentação de Bolsonaro, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília publicou um comunicado defendendo que as eleições brasileiras são um modelo para o mundo. A nota dizia, ainda, que o governo americano confia na força das instituições do Brasil — reiterando o pensamento da administração de Joe Biden.

 

A Transparência Internacional, ONG que tem muito mais credibilidade no mundo do que o atual governo brasileiro, também rejeitou as bravatas do presidente e publicou um desmentido mostrando as informações falsas apresentadas por ele. Além disso, embaixadores ouvidos pela imprensa após o evento tornaram público o seu desconforto com o clima de ameaça à democracia, especialmente pela menção do presidente às Forças Armadas.

 

A imprensa internacional refletiu bem a falta de credibilidade de Bolsonaro na cobertura do encontro. O jornal francês Le Monde disse que o presidente tenta torpedear o sistema eleitoral. O diário britânico The Guardian e a agência de economia Bloomberg deixaram claro que as acusações sem base apresentadas pelo presidente já foram desmentidas. O New York Times falou sobre o medo internacional de que Bolsonaro rejeite o resultado das eleições. O Washington Post também apontou que o presidente está preparando o terreno para rejeitar o resultado das urnas. Em todos os relatos estava presente o fato de pesquisas de intenção de voto apontarem uma possível vitória de Lula nas eleições.

 

É interessante notar como essa cobertura externa tem sido repetitiva. Qualquer busca por notícias em inglês, francês e espanhol mostra que é fácil confundir os títulos das reportagens desta semana com centenas de outras publicadas desde 2020. “Bolsonaro escala a retórica sobre fraude eleitoral“, dizia a agência Reuters, há quase dois anos. “Bolsonaro é investigado por alegações de fraude sem provas“, deram a CNN e o Financial Times, em agosto de 2021. Em maio deste ano, a revista Vanity Fair chamava Bolsonaro de “fan-boy” do ex-presidente americano Donald Trump e dizia que ele estava se preparando para rejeitar uma derrota eleitoral.

 

Ao organizar sua apresentação de segunda, Bolsonaro minimizou a inteligência dos diplomatas e analistas internacionais. Até porque todos já acompanham os ataques do presidente ao Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. Por causa disso,  consolidou-se a percepção de que o presidente brasileiro tentará repetir a insurreição liderada por Donald Trump no dia 6 de janeiro, quando seus apoiadores invadiram o prédio do Capitólio, em Washington. Esses estrangeiros acompanham o noticiário tanto no Brasil quanto no resto do mundo e já sabem das mentiras que o presidente propaga como conspiração contra ele.

 

A postura da imprensa estrangeira neste caso se junta a uma visível deterioração da imagem internacional do Brasil, desde 2013. Nesse ano, os protestos que ficaram conhecidos como as Jornadas de Junho romperam a narrativa internacional de emergência do Brasil. A crise econômica da década passada enterrou a visão de que o país era a “bola da vez”.

 

Hoje, é a imagem específica do presidente que é muito negativa. Desde que o atual governo tomou posse, o Brasil perdeu prestígio internacional ao se tornar mais um país governado por um líder que fazia parte de uma onda global iliberal. O país abandonou uma postura construtiva em fóruns internacionais, perdeu o status de ator importante na defesa ambiental, deixou de ter relevância na política regional da América Latina, foi visto como um dos maiores negacionistas durante a pandemia, comprou brigas desnecessárias com parceiros comerciais importantes e perdeu o apoio americano após a chegada de Biden à Casa Branca. O Brasil parece de fato ter aceitado se tornar um “pária”, como defendeu o ex-chanceler Ernesto Araújo.

 

Ao contrário do que Bolsonaro tentou vender durante recente viagem aos Estados Unidos, o Ocidente não acredita em sua retórica reciclada da Guerra Fria e não vê no ex-presidente Lula uma ameaça comunista. Há fortes críticas a Lula, que o ex-presidente Barack Obama associou à máfia em sua autobiografia, mas há também a lembrança de um período de relações saudáveis e de estabilidade do Brasil. O PT ainda guarda uma retórica antiamericana, mas no passado Lula se deu muito bem com George W. Bush e com o próprio Obama, que o chamou de “o cara”.

 

Em entrevistas recentes, pesquisadores de think tanks americanos deixaram claro que os Estados Unidos esperam o início de um novo governo — seja ele qual for — para definir os rumos das relações bilaterais. O mesmo vale para a União Europeia, cujo acordo com o Mercosul foi travado especialmente pela postura de Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Até potências lideradas por governos autocratas, que não teriam motivos para defender a democracia brasileira, como Rússia e China, tampouco teriam razões para se associar agora a um presidente que não inspira confiança.

 

Está posto que essa provável tentativa de reverter o resultado das urnas não deve ter apoio internacional. Apesar da empolgação recente do apresentador americano Tucker Carlson, da Fox News, e do apoio que Bolsonaro pode ter dos poucos governos iliberais que ainda se sustentam, como os da Hungria e da Polônia, o retrato que se pinta do Brasil e do seu presidente no mundo é majoritariamente negativo.

 

Bolsonaro, portanto, fracassou na tentativa de angariar apoio global à narrativa de que é perseguido e de que haverá um complô para que ele não vença as eleições.

 

Mas achar que esse era o objetivo de Bolsonaro ao reunir os diplomatas pode ser uma interpretação equivocada. Talvez Bolsonaro já não esperasse mesmo convencer ninguém e estivesse preocupado apenas em reforçar o discurso para seus apoiadores dentro do Brasil. A esse grupo pequeno, mas persistente, ele se coloca como o verdadeiro defensor da democracia, alegando desde já que tentou mostrar a “verdade” ao mundo, e passando até a incluir a comunidade internacional dentro do que vê como conspiração contra ele.

 

Pode parecer um projeto insano, mas é algo que pode manter viva a chama do bolsonarismo, mesmo com uma possível derrota nas urnas. Esse modelo já está funcionando com Donald Trump, que planeja se candidatar novamente em 2024. Mesmo derrotado e ignorado pelas grandes figuras da política global, o republicano continua propagando a “grande mentira”, batendo na tecla da fraude eleitoral de 2020. Desse jeito, Trump está conseguindo se manter como força política de peso nos Estados Unidos. Não seria estranho se este fosse também o projeto de Bolsonaro.

 

Daniel Buarque é especialista em relações internacionais e tem pesquisado o status internacional do Brasil. É autor dos livros O Brazil é um país sério? (Pioneira) e Brazil, um país do presente (Alameda Editorial)

 

https://crusoe.uol.com.br/edicoes/221/o-olhar-dos-embaixadores/

 

Forças Armadas não têm nada a ver com resultado eleitoral, diz Santos Cruz

 

Chico Alves

Colunista do UOL

22/07/2022 04h00

 

Logo depois da reunião em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou a credibilidade do processo eleitoral a uma plateia de embaixadores de vários países, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz foi ao Twitter para manifestar sua insatisfação.

 

"Vergonha para o Brasil. É um absurdo o presidente da República reunir os embaixadores para falar mal do próprio país", escreveu do Japão, onde está a trabalho.

 

Santos Cruz, que foi ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, conversou com a coluna por aplicativo de mensagens e aprofundou as críticas ao presidente, além de se manifestar contra a interferência das Forças Armadas no processo eleitoral:

 

Ele volta ao Brasil na próxima semana e vai esperar a convenção do Podemos, ao qual é filiado, para definir se sairá candidato a algum cargo nessa eleição.

 

UOL - O que mais o indignou na explanação do presidente Bolsonaro aos embaixadores sobre o processo eleitoral brasileiro?

Santos Cruz - Não é possível aceitar que o próprio presidente da República reúna os embaixadores, a comunidade internacional no Brasil, para falar mal do país e do próprio sistema que o elegeu. Sem contar o estilo pessoal desqualificado numa comunicação desse nível.

 

Que tipo de repercussão o sr acredita que isso tem perante o mundo?

Isso é vergonhoso. É inimaginável, um vexame internacional desse nivel, promovido pelo próprio presidente. Isso corre o mundo.

 

Nesse momento, um dos maiores parceiros de Bolsonaro nesse ataque ao processo eleitoral é o ministro da Defesa, que insiste que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acate suas sugestões. Como avalia a atuação do general da reserva Paulo Sérgio Nogueira nesse assunto?

Ministro da Defesa é um cargo político que pode ser exercido por civil ou militar. O Ministério da Defesa é um ministério diferente, pois seus componentes são as Forças Armadas. Ele é especial. Mesmo que a função de ministro seja exercida por uma pessoa que apoia o presidente da República, por ser uma escolha política, o Ministério da Defesa, como instituição, e as Forças Armadas não podem ser comprometidas com políticas pessoais, partidárias e de governo.

 

As Forças Armadas são instituições de Estado altamente profissionais, com comandantes profissionais de carreira, avaliados profissionalmente por cerca de 40 anos e escolhidos entre os melhores profissionais de cada geração. São pessoas experientes e capazes.

 

Assim, a pessoa que exerce a função de ministro pode ter posições pessoais, mas isso tem que ser dissociado de qualquer comprometimento das Forças Armadas com políticas pessoais partidárias, pois elas possuem uma destinação constitucional.

 

Considera que fiscalizar o TSE é papel da Forças Armadas?

Não. Eleições no Brasil são de responsabilidade da Justiça Eleitoral. As Forças Armadas foram convidadas pelo TSE a participar do processo de avaliação do sistema, junto com outras instituições. Isso acontece através de sugestões técnicas. Não tem nada a ver com responsabilidade pelo processo eleitoral. Isso é de inteira responsabilidade legal do TSE, como sempre foi.

 

Parece não restar dúvidas de que Bolsonaro vai se apoiar em fake news para contestar o resultado das urnas em eventual derrota. Nossa democracia é forte o bastante para resistir a um ataque desse tipo? Qual seria a posição das Forças Armadas?

A conduta do presidente da República perante o resultado eleitoral é de inteira responsabilidade pessoal dele. Como todo cidadão, as reações precisam ser dentro da lei. Fora disso, tem que se entender com a Justiça.

 

As Forças Armadas não têm nada a ver com resultado eleitoral. Elas cumprem suas funções de acordo com o que está previsto na Constituição. Não se pode tentar envolver Forças Armadas em assuntos politizados.

 

Eu penso que as instituições, e a população também, irão reagir a qualquer ação fora dos limites legais. Não existe motivo para o Brasil sair da ordem legal.

 

https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2022/07/22/forcas-armadas-nao-tem-a-ver-com-resultado-eleitoral-diz-santos-cruz.htm

 

Ministro nega articulação de reunião entre Bolsonaro e embaixadores

Encontro em que presidente desacreditou sistema eleitoral foi criticado até por aliados

Por Aline Macedo

IG, 22/07/2022 06:23

 

O ministro-chefe de Governo, Célio Faria Júnior, nega ter capitaneado junto a Jair Bolsonaro (PL) o desastroso encontro com embaixadores, na segunda-feira (18). O evento gerou péssima repercussão internacional — e mesmo entre apoiadores do presidente, a atitude foi vista como um erro, dando azo ao nada elogioso apelido de "aloprados do Planalto" àqueles que defenderam sua realização.

 

Na mira dos críticos estavam o ministro do GSI, general Augusto Heleno; o assessor especial para Assuntos Internacionais da presidência, Filipe G. Martins; e o sucessor de Flávia Arruda na pasta de Governo — que, em nota enviada à coluna, afirma ter sido citado indevidamente como um dos autores do planejamento.

 

"Em nenhum momento o ministro Célio Faria participou de qualquer reunião sobre o assunto apresentado. Esteve no evento, a convite, assim como todos os ministros que trabalham no Palácio do Planalto", diz a assessoria.

 

A cobertura internacional da reunião no Palácio da Alvorada ressaltou que os questionamentos à segurança do aparato eleitoral brasileiro já haviam sido desmentidos em diferentes ocasiões. O serviço de notícias Bloomberg, com foco em economia, classificou o teor da apresentação como "velhas e refutadas teorias da conspiração". Entidades jurídicas, como a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a OAB e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) repudiaram as falas do presidente. Integrantes do Ministério Público, da magistratura e da Polícia Federal, além de profissionais da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) também se manifestaram em defesa das urnas eletrônicas.

 

https://ultimosegundo.ig.com.br/colunas/informe-do-dia/2022-07-22/ministro-governo-articulacao-reuniao-bolsonaro-embaixadores.html

 

Grupo de advogados assina nota em defesa de Bolsonaro por falas em reunião com embaixadores

Gazeta do Povo21/07/2022 18:37


Um grupo formado por 1.400 advogados divulgou uma nota nesta quinta-feira (21) em defesa do presidente Jair Bolsonaro (PL) pelas declarações feitas por ele durante uma reunião com embaixadores. O grupo defende no comunicado a liberdade de expressão do presidente da República e consideram que Bolsonaro vem sendo atacado após o encontro por ter manifestado a sua opinião.

 

Na segunda-feira (18), o chefe do Executivo reuniu representantes de diversos países para questionar a segurança do sistema eleitoral brasileiro. No encontro, o presidente também criticou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte eleitoral já se manifestou sobre as alegações feitas pelo chefe do Executivo na reunião e diversas entidades defenderam o sistema eletrônico de votação.

 

“Entendemos que não há, da parte do Presidente do Brasil, na sua manifestação opinativa-crítica, com exposição de questões fáticas e documentais de conhecimento público, ora apresentada aos embaixadores, envolvendo a temática do processo eleitoral, urnas eletrônicas e apuração com contagem pública dos votos e auditoria, qualquer indicativo material ou formal de que tenha cometido atos ilícitos ensejadores de abertura de processo penal, ou de cunho político-administrativo para abertura de processo de impeachment, improbidade administrativa”, diz a nota.

 

https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/breves/grupo-advogados-defende-bolsonaro-por-falas-em-reuniao-com-embaixadores/

 

Fala de Bolsonaro a embaixadores foi desnecessária, diz Lira a aliados

Redação O Antagonista

21.07.22 21:01

 

Presidente da Câmara tem evitado se pronunciar publicamente sobre o episódio, mas criticou o presidente em conversas reservadas, diz a Folha

 

Arthur Lira disse a aliados que reunião de Jair Bolsonaro com embaixadores, em que o presidente repetiu teorias da conspiração e fake news sobre as urnas eletrônicas, foi desnecessária e prejudicial eleitoralmente, diz o Painel da Folha.

 

Desde a segunda-feira (18), data da reunião, o presidente da Câmara tem evitado se manifestar publicamente sobre o discurso de Bolsonaro, que desacreditou o sistema eleitoral brasileiro.

 

Segundo seus aliados, porém, ele “explicou o silêncio dizendo que não tem nem o que comentar sobre o encontro e que se manifestar criticamente só prejudicaria as candidaturas que ele mesmo apoia”, escreve o jornal paulistano.

 

A fala do presidente aos diplomatas estrangeiros foi rebatida por Rodrigo Pacheco, pelo TSE, por peritos e delegados da Polícia Federal, pelo governo dos EUA e até por integrantes da Abin, entre outras entidades.

 

https://oantagonista.uol.com.br/brasil/fala-de-bolsonaro-a-embaixadores-foi-desnecessaria-diz-lira-a-aliados/

 

Associação dos Diplomatas do Brasil sai em defesa da Justiça Eleitoral

De acordo com a ADB, desde 1996, quando foi implantada a votação eletrônica, a diplomacia brasileira testemunhou “elevados padrões de confiabilidade” do sistema que tornou o país referência mundial

por Redação

Publicado 21/07/2022 15:54 | Editado 21/07/2022 16:49

 

Diante dos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro, a presidente da Associação dos Diplomatas do Brasil (ADB), embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues, divulgou nota da entidade apoiando a Justiça Eleitoral e o sistema de urna eletrônica do país. 

Sem apresentar provas, o presidente, mais uma vez, tentou desacreditar a Justiça Eleitoral do país apontando a embaixadores na segunda-feira (18), no Palácio da Alvorada, a existência de fraudes nas urnas eletrônicas na eleição presidencial de 2018.

De acordo com a entidade dos diplomatas, desde 1996, quando foi implantada a votação eletrônica, a diplomacia brasileira testemunhou “elevados padrões de confiabilidade” do sistema que tornou o país referência mundial como uma das democracias mais sólidas do mundo.

“Essa é uma conquista da sociedade brasileira no processo de consolidação de suas instituições democráticas, para a qual a diplomacia nacional muito se orgulha de contribuir no exercício de suas atividades”, diz um trecho da nota.

Leia a nota na íntegra:

A ADB reitera sua plena confiança na Justiça Eleitoral brasileira e no sistema eletrônico de votação do país. “Por décadas, os diplomatas brasileiros têm atuado em apoio às autoridades eleitorais do país para a organização e a realização das eleições presidenciais. Em mais de 200 cidades espalhadas pelo mundo onde há repartições consulares, além de 33 seções adicionais em localidades em que não há representação permanente. A missão eleitoral do Ministério das Relações Exteriores, que inclui desde o alistamento de eleitores até a transmissão dos votos, mobiliza não apenas servidores do Itamaraty, mas também as comunidades brasileiras. Para 2022, há mais de 600 mil eleitores alistados no exterior.

Desde sua implantação, em 1996, o sistema brasileiro de votação eletrônica é objeto de reiteradas demandas de cooperação internacional de transferência de conhecimento e tecnologia. Ao longo desse tempo, a diplomacia brasileira testemunhou sempre elevados padrões de confiabilidade que se tornaram referência internacional indissociável da imagem do Brasil como uma das maiores e mais sólidas democracias do mundo. Essa é uma conquista da sociedade brasileira no processo de consolidação de suas instituições democráticas, para a qual a diplomacia nacional muito se orgulha de contribuir no exercício de suas atividades.

Embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues Presidente

https://vermelho.org.br/2022/07/21/associacao-dos-diplomatas-do-brasil-sai-em-defesa-da-justica-eleitoral/

 

Diplomatas defendem sistema eleitoral do Brasil: 'Referência internacional'

Do UOL, em São Paulo 21/07/2022 16h02

A ADB (Associação dos Diplomatas do Brasil) declarou "plena confiança" na Justiça Eleitoral brasileira e no sistema eletrônico de votação. O posicionamento acontece após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter feito acusações de fraude nas urnas eletrônicas como parte do seu discurso a embaixadores estrangeiros na segunda-feira (18). Na nota, a associação ressalta que o sistema brasileiro é "referência internacional" e que, desde sua implementação, houve diversas demandas de cooperação com outros países para transferência de conhecimento e tecnologia. Para os diplomatas, a consolidação do processo é diretamente relacionada à imagem do Brasil como "uma das maiores e mais sólidas democracias do mundo".

"Essa é uma conquista da sociedade brasileira no processo de consolidação de suas instituições democráticas, para a qual a diplomacia nacional muito se orgulha de contribuir no exercício de suas atividades", finaliza o texto.

No encontro com embaixadores, Bolsonaro voltou a questionar a segurança do sistema eleitoral. Na ocasião, ele afirmou, sem apresentar provas, que os ministros do TSE buscam eleger políticos de esquerda ao supostamente impedirem que medidas de transparência sobre o sistema de votação sejam adotadas.

Mas, diferentemente do que diz o presidente, desde que as urnas eletrônicas foram implementadas - parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000 - nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE (Ministério Público Eleitoral) e por estudos independentes.

Associação do TCU manifesta sobre segurança e confiabilidade das urnas
A AudTCU (Associação da Auditoria de Controle Externo do Tribunal de Contas da União), que representa auditores federais também divulgou hoje uma nota na qual declarou confiança nas urnas. A manifestação, segundo o texto, é baseada no "resultado das etapas da auditoria integrada" realizada pelo TCU para avaliar o sistema com a finalidade de avaliar o sistema brasileiro de votação.

A associação ressaltou que participa de diversos comitês, grupos e forças-tarefas para assegurar a aderência dos métodos de auditoria às melhores práticas internacionais. O grupo explicou que, atualmente, o TCU preside organizações que "reforçam a autoridade do TCU para - na condição de fiel da balança - se pronunciar sobre a auditabilidade, segurança e confiabilidade do processo de votação eletrônica vigente no Brasil".

"A AUD-TCU reconhece o direito de todo cidadão, organização da sociedade civil e partido político de criticar a eficiência do sistema eleitoral vigente e o funcionamento da administração pública. Mas repudia toda e qualquer medida corrosiva de agentes públicos, partidos políticos e candidatos como estratagema do jogo político para abalar a credibilidade das instituições constitucionais, especialmente quando as manifestações não são acompanhadas de provas concretas, as quais sempre podem ser apresentadas no contexto do devido processo legal, seja no plano judicial, seja na esfera de controle externo", diz o texto.

https://www.uol.com.br/eleicoes/2022/07/21/diplomatas-brasileiros-eleicao-urna-eletronica-referencia-internacional.htm

Reino Unido afirma que urnas eletrônicas brasileiras são seguras e eficientes

Por Felipe Frazão

21/07/2022 | 18h28

Atualização: 21/07/2022 | 20h36

 

Em comunicado, embaixada britânica em Brasília diz esperar que ‘todo o país esteja comprometido com o respeito à democracia por meio de eleições livres e justas’

 

BRASÍLIA – Em nova reação à tentativa do presidente Jair Bolsonaro (PL) de minar a credibilidade das eleições no Brasil, o Reino Unido afirmou nesta quinta-feira, dia 21, que as urnas eletrônicas já se mostraram “seguras” e ganharam reconhecimento global por sua “celeridade e eficiência”. O governo britânico manifestou, em comunicado diplomático, confiança na democracia brasileira e cobrou o comprometimento de todos os atores internos com respeito a eleições livres e justas.

“Em eleições passadas, o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas se mostraram seguras e passaram a ser reconhecidas internacionalmente por sua celeridade e eficiência”, diz nota divulgada pela embaixada britânica em Brasília. “Reafirmamos nossa confiança no bom funcionamento do processo democrático do Brasil e esperamos que todo o país esteja comprometido com o respeito à democracia por meio de eleições livres e justas.”

Os britânicos disseram também que as instituições brasileiras são “sólidas e transparentes”, outro contraponto ao presidente brasileiro. Além de contestar o sistema eletrônico de votação e contagem de votos, Bolsonaro mira seus ataques no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cuja cúpula ele acusa de agir para golpear a democracia e favorecer seu principal adversário na disputa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro sustenta parte de sua argumentação em supostas ameaças ainda não debeladas, que teriam sido encontradas pelas Forças Armadas. O Ministério da Defesa insiste em pressionar a Corte por mudanças no processo eleitoral. O presidente também conta com a disposição da cúpula da Polícia Federal em mobilizar pessoal para auditar a votação, e com planos de fiscalização da Controladoria-Geral da União e suporte jurídico da Advocacia-Geral da União.

Sem citar os pré-candidatos ao Palácio do Planalto, seja Bolsonaro ou Lula, apontado como favorito nas pesquisas de intenção de voto, Londres afirmou que “quem for escolhido pela nação brasileira poderá contar com o governo britânico para fortalecer as relações bilaterais e a amizade entre os dois povos”.

A reação do Reino Unido é a segunda da comunidade internacional a Bolsonaro. Três dias após o presidente reunir cerca 70 embaixadores no Palácio da Alvorada e contestar a legitimidade de eleições passadas e da próxima no Brasil, a diplomacia britânica se pronunciou publicamente, modelo de resposta inaugurado pelos Estados Unidos. Como o Estadão mostrou, embaixadores presentes Alvorada saíram do encontro sem se convencer das suspeitas de fragilidade levantadas pelo presidente e com a impressão de que ele promoveu um ato de campanha.

O governo Joe Biden rebateu os argumentos de Bolsonaro na terça-feira, dia 19, afirmando que a votação no Brasil é um modelo para o mundo. Depois de a embaixada dos EUA divulgar um comunicado diplomático oficial, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, reiterou o posicionamento do governo Joe Biden e cobrou, durante entrevista na quarta-feira, dia 20, em Washington, que as instituições envolvidas na eleição sigam seu papel previsto na Constituição. Biden tem sido pressionado internamente por aliados do Partido Democrata a cobrar que Bolsonaro respeite o resultado das eleições se derrotado e que os militares brasileiros, parceiros históricos dos norte-americanos, não se envolvam em iniciativas bolsonaristas para contestar o pleito, em eventual golpe de Estado.

Tanto os Estados Unidos quanto o Reino Unido não têm embaixador atualmente em Brasília. Ao contrário dos norte-americanos, os britânicos não assistiram presencialmente à argumentação de Bolsonaro no Alvorada. A embaixada afirmou que a encarregada de negócios, Melanie Hopkins, atualmente no comando da representação do país em Brasília, não recebeu convite da Presidência da República. Os EUA foram representados no encontro de Bolsonaro com chefes de missão diplomática por seu encarregado de negócios, Douglas Koneff, também na chefia da embaixada.

Além da reação externa, funcionários do Itamaraty também saíram em defesa das urnas eletrônicas. A Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) e o Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty) ressaltaram a confiança e a participação no processo eleitoral, dando suporte à organização de votações nas repartições consulares. A Zona Eleitoral Exterior ultrapassou a casa dos 600 mil eleitores cadastrados, sendo maior do que a população apta a votar em Estados como Roraima, Acre e Amapá. “A diplomacia brasileira testemunhou sempre elevados padrões de confiabilidade que se tornaram referência internacional indissociável da imagem do Brasil como uma das maiores e mais sólidas democracias do mundo”, disse a ADB.

 

Leia a íntegra da nota do Reino Unido:

Nota da Embaixada Britânica sobre eleições no Brasil

Esta semana tem sido marcada por um amplo debate público sobre o sistema eleitoral brasileiro. Acreditamos na força da democracia do Brasil, que conta com instituições sólidas e transparentes.

Em eleições passadas, o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas se mostraram seguras e passaram a ser reconhecidas internacionalmente por sua celeridade e eficiência.

Reafirmamos nossa confiança no bom funcionamento do processo democrático do Brasil e esperamos que todo o país esteja comprometido com o respeito à democracia por meio de eleições livres e justas.

Quem for escolhido pela nação brasileira poderá contar com o Governo Britânico para fortalecer as relações bilaterais e a amizade entre os dois povos.

https://www.estadao.com.br/politica/reino-unido-afirma-que-urnas-eletronicas-brasileiras-sao-seguras-e-eficientes/

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Bolsonaro está sem sorte no plano da política externa: sua diplomacia está em frangalhos (a despeito do Itamaraty) - matérias de imprensa

 


Bastidores: Alemanha se soma à França como dor de cabeça para diplomacia bolsonarista

Diplomatas preveem tensão com novo novo governo alemão e reclamam de embaixador em Brasília
 
Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
08 de dezembro de 2021 | 15h00

BRASÍLIA - A França, de Emmanuel Macron, não está mais sozinha. Com a posse do novo chanceler Olaf Scholz nesta quarta-feira, 8, a Alemanha se junta à condição de alvo internacional da ira bolsonarista. O motivo da insatisfação contra Paris, que agora já se estende a Berlim, é o tom das cobranças europeias ao governo Jair Bolsonaro, por causa da destruição ambiental na Amazônia.

Em Brasília e em Berlim, a expectativa diplomática é que o novo governo alemão aumente a pressão sobre Bolsonaro. Ouvidos reservadamente pelo Estadão, embaixadores dos dois países dizem que a situação tende a "piorar".

A maior economia europeia vai ser governada por uma coalização à esquerda, se comparada com a da democrata-cristã Angela Merkel, que ficou 16 anos no poder como chanceler. O bloco que compõe o governo é formado por social-democratas, liberais e verdes. A coalizão foi apelidada de "semáforo", pela ordem das cores dos partidos - vermelho, amarelo e verde. Olaf Scholz já compunha a gestão de Merkel como vice-chanceler e ministro das Finanças.

Um problema foi acrescido após a COP 26, em Glasgow, na Escócia. A delegação brasileira chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, deixou de apresentar os dados mais recentes de desmatamento na Amazônia, um recorde de 13 mil km² devastados, e assegurou que o cenário seria positivo. Nos bastidores, diplomatas brasileiros reconhecem que a credibilidade foi prejudicada e que seus pares estrangeiros saíram com a percepção de que foram enganados.

Berlim, assim como parte das capitais da União Europeia, entende que a confiança em Bolsonaro foi perdida. Não por outro motivo, o embaixador alemão em Brasília, Heiko Thoms, disse ao Estadão que os compromissos anunciados pelo Brasil na Cúpula do Clima eram só palavras e manifestou descrédito na capacidade de o governo cumprir a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2028. Ele negou a possibilidade de o país retomar contribuições ao Fundo Amazônia.

O embaixador e sua equipe têm manifestado em conversas preocupações com direitos humanos, ameaças à liberdade de imprensa e às instituições democráticas e com o desmantelamento de órgãos ambientais brasileiros. Para eles, o governo Bolsonaro não percebeu que a pauta climática virou preocupação de toda a sociedade alemã e se vê refletida no espectro político mais amplo, à exceção da extrema-direita. As eleições internas ocorreram meses após enchentes históricas que provocaram quase 200 mortes na Alemanha.

O tom mais duro do diplomata alemão acendeu o sinal amarelo no Itamaraty. Dois embaixadores ligados à cúpula do Ministério das Relações Exteriores (MRE) manifestaram restrições ao novo comportamento de Thoms. Por enquanto, as respostas públicas serão dadas por ministros do primeiro escalão bolsonarista, como virou costume.

Um diplomata ligado à área econômica disse que o embaixador alemão vestiu a camisa do novo governo antecipadamente para "mostrar serviço" a Berlim, deixando em segundo plano relações de mais longo prazo que norteiam as duas diplomacias. O outro, responsável pela agenda de meio ambiente, afirmou que as críticas de Thoms eram uma atitude inadequada diplomaticamente e que ele deveria optar por canais formais junto ao MRE. "Imagine se nosso embaixador em Berlim (Roberto Jaguaribe) comentasse assuntos domésticos deles… Não cabe", protestou.

Apesar das reclamações com a eloquência de Thoms, o tom deve escalar alguns níveis acima, e o embaixador certamente tem respaldo superior.  A nova ministra das Relações Exteriores será a advogada Annalena Baerbock, de 40 anos, ex-candidata a chanceler e uma das líderes do Partido Verde. Ela é uma política ecologista, ex-atleta e crítica do presidente Bolsonaro, favorável a movimentos de pressão global sobre a Amazônia, que podem impactar o comércio.

Outro líder do partido, Robert Habeck, vai chefiar o novo ministério do Clima e da Economia. Também ficaram com os verdes as pastas de Agricultura e do Meio Ambiente.

Do outro lado da fronteira, a França vai passar por eleições nacionais no ano que vem, depois de os verdes assumirem mais protagonismo nas municipais de 2020, o que joga pressão para a reeleição de Macron como presidente. Os franceses também irão assumir a presidência de turno do Conselho da União Europeia, o que pode deixar ainda mais longe progressos no acordo comercial com o Mercosul.

Posse de Scholz encerra Era Merkel
A posse do líder social-democrata Olaf Scholz nesta quarta-feira, 8, pôs fim a um dos capítulos mais importantes da história contemporânea da Alemanha: os 16 anos de Angela Merkel como dirigente da maior economia da zona do euro. Primeira mulher a governar o país, Merkel deixou o cargo após 5.860 dias, apenas nove a menos do que seu mentor, o ex-chanceler Helmut Kohl.

Aos 63 anos, Scholz foi escolhido como novo chanceler pelo Parlamento alemão nesta quarta, após conquistar 395 votos dos 736 possíveis na atual composição do Bundestag. A eleição era certa após a coligação com os Verdes (que conquistaram 118 cadeiras na eleição de setembro) e com os liberais (92 cadeiras) ser anunciada na terça-feira, 7.

Scholz respondeu "sim" à presidente do Parlamento, Bärbel Bas, ao ser questionado se aceitava o resultado da votação, e recebeu  o documento que oficializa sua nomeação e marca o início de seu mandato do presidente Frank-Walter Steinmeier. Ele prestou juramento, ao lado dos seus ministros, diante dos deputados e leu o artigo 56 da Lei Fundamental, no qual promete "dedicar suas forças ao bem do povo alemão".

Merkel também esteve presente na votação e recebeu muitos aplausos em sua despedida. Nas últimas semanas, a agora ex-chanceler recebeu várias homenagens, reconhecendo importantes avanços de seu governo e o papel central que desempenhou como liderança na União Europeia.

"Angela Merkel foi uma chanceler que teve êxito", elogiou Scholz recentemente, ao homenagear uma governante que "permaneceu fiel a ela mesma durante 16 anos marcados por várias mudanças"./ Com informações da AFP

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,bastidores-alemanha-se-soma-a-franca-como-dor-de-cabeca-para-diplomacia-bolsonarista,70003920390


"Brasil deve esperar cobranças mais duras da Alemanha", diz professor da Universidade de Berlim

Novo governo alemão promete mais proteção ao clima. Má notícia para Bolsonaro, avalia professor Sérgio Costa

Cristiane Ramalho DW
08 de Dezembro de 2021 às 13:35

Professor da Universidade Livre de Berlim, e observador da política alemã há mais de 20 anos, o sociólogo Sérgio Costa aposta que a mudança de governo na Alemanha terá impacto direto sobre o Brasil, tanto nas relações diplomáticas quanto comerciais: "O Brasil deve ganhar mais espaço na agenda política alemã - mas com sinal negativo. Não como aliado de primeira instância, mas como um dos governos com os quais é difícil trabalhar."

Três ministérios que interessam diretamente ao Brasil passarão para as mãos do Partido Verde: Economia e Clima; Meio Ambiente; e Relações Exteriores. O novo governo promete uma política externa voltada para a defesa do meio ambiente e das minorias. A pressão sobre o governo brasileiro vai aumentar: "Haverá um endurecimento nas relações", avalia Costa.

O novo enfoque no combate às mudanças climáticas pode levar, por exemplo, a restrições à importação de produtos que contribuam para o aumento do efeito estufa, como a carne e a soja - inclusive do Brasil.

Em relação ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE), as perspectivas também não são boas. "As coordenadas já não são favoráveis, e agora pode ter uma reviravolta", diz Costa. Pelo menos, enquanto o atual governo estiver no poder: "O grande fantasma para o acordo entre a UE e o Mercosul se chama Bolsonaro."

Já o Ministério para a Cooperação e Desenvolvimento, responsável pelo Fundo Amazônia, ficará com os social-democratas do SPD – o que também deve evidenciar ainda mais as diferenças em relação ao governo Bolsonaro, segundo o professor.

Também diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos, em Berlim, Costa lembra que SPD, verdes e liberais se comprometeram ainda a apoiar os movimentos sociais "que defendem a democracia" e a "fortalecer as lutas contra populistas e autocratas" na América Latina e Caribe. O que pode ser uma boa notícia para organizações que trabalham com os mesmos valores na região.

Com 20 livros publicados como autor ou coeditor, o sociólogo diz que não só a Alemanha vai mudar, mas também a União Europeia - que passará a ter papel mais pronunciado na proteção do clima e do meio ambiente: "Esta passa a ser uma agenda europeia."

Nesta quarta-feira, o Parlamento alemão confirmou o nome de Olaf Scholz como novo chanceler federal, colocando fim à era Merkel. É a primeira vez que o país sera governado por numa coalizão formada por social-democratas, verdes e liberais.

DW Brasil: Como o Brasil será visto pela nova coalizão de governo nessa era pós-Merkel que se inicia?

Sérgio Costa: O Brasil deve ganhar mais espaço na agenda política alemã – mas com sinal negativo. Não como um aliado de primeira instância, mas como um dos governos com os quais é difícil trabalhar.

Com a nova coalizão, teremos partidos que são muito mais programáticos do que a CDU (União Democrata Cristã, de Angela Merkel) – especialmente o Partido Verde. Devemos esperar, portanto, mudanças tanto nas relações diplomáticas quanto nas relações comerciais entre o Brasil e a Alemanha.

O ministério das Relações Exteriores – uma pasta que interessa diretamente ao Brasil – ficou justamente com o Partido Verde. Haverá um endurecimento nas relações bilaterais?

Com a copresidente do Partido Verde (Annalena Baerbock) à frente do Ministério das Relações Exteriores, haverá uma linha geral de política externa que enfatize o multilateralismo, e o fortalecimento dos direitos humanos e de minorias, tais como indígenas, negros, mulheres e LGBTQ, e uma posição muito clara em relação a temas de meio ambiente e clima, no sentido da mudança climática.

E o Partido Verde não estará sozinho. Esses itens são uma pauta importante também para os social-democratas e os liberais. Em todos esses campos, haverá realmente um endurecimento nas relações com o Brasil.

Os verdes vão assumir ainda dois ministérios que também dizem respeito ao Brasil: o de Meio Ambiente e o superministério de Economia e Clima. Como isso deve afetar as relações entre o governo alemão e o governo Bolsonaro, em meio a recordes de desmatamento na Amazônia?

É de se esperar cobranças mais duras do governo brasileiro. Com o novo enfoque no clima pode haver, por exemplo, mais controle sobre as emissões de gases do efeito estufa na cadeia produtiva – o que pode levar a restrições na importação de produtos do Brasil, como a carne, e também a própria soja, na medida em que fique configurada a correlação entre o desmatamento e a expansão da soja.

Mesmo que o governo brasileiro tente negar, essa relação é óbvia. Tudo vai depender da capacidade do partido Verde de impor os seus valores na disputa interna de poder entre os diferentes ministérios. [Continua após o vídeo.]

O Partido Liberal Democrático, que assumirá a pasta das Finanças no novo governo, não poderá frear essa pressão em nome dos interesses comerciais da Alemanha – que tem no Brasil seu maior parceiro na América do Sul?

Nós vamos ver um jogo de forças. O novo ministro das Finanças, Christian Lindner, é a favor da liberdade completa da economia. E o partido liberal é, por definição, muito favorável aos atores econômicos. Em que medida esses interesses poderão ser contrariados para atender aos interesses do respeito ao meio ambiente e das minorias, e à contenção da mudança climática, para que lado vai pender a balança entre essas duas forças, é algo que ainda está em aberto.

Mas os liberais ratificaram, no acordo de coalizão, a proposta de fortalecimento das sociedades na luta contra o populismo, os movimentos autoritários e as ditaduras na América Latina. Nesse aspecto, pelo menos, eles não estão afinados?

Com certeza. Ainda que possa haver diferenças em relação à economia, no que diz respeito à proteção da democracia e das liberdades individuais, como na manifestação da sexualidade, o Partido Liberal é tão rigoroso e intransigente quanto os social-democratas e os verdes.

Nesse sentido, eles têm nos liberais um aliado muito forte. E a parte que se refere à América Latina e ao Caribe diz claramente que uma das prioridades é apoiar os movimentos sociais que defendem a democracia, e fortalecer as lutas contra populistas ou autocratas nessa região. Isso indica que o novo governo irá incentivar movimentos que trabalhem com os mesmos valores que ele, buscando alianças. E isso pode ter consequências, obviamente, em relação ao Brasil. Sob esse ponto de vista, pode ser esperar uma clareza maior do que nos governos comandados por Merkel.

::Análise | O fim da Era Merkel e a volta da centro-esquerda ao poder na Alemanha: e agora?::

O acordo de coalizão condiciona o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia a compromissos vinculantes nas áreas de meio ambiente e direitos humanos. Haverá impacto sobre a ratificação desse acordo?

Sim, as coordenadas já não são favoráveis, e agora pode haver uma reviravolta. Não existe a menor dúvida de que o grande fantasma – mesmo que não seja mencionado o nome dele – para o acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul se chama Bolsonaro.

O medo do que Bolsonaro significa em termos de clima, direitos humanos e democracia é que impede esse acordo de já estar completamente consolidado e assinado. É de se esperar que a nova coalizão seja ainda mais intransigente na exigência de compromissos com relação à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos. Não só a Alemanha vai mudar, como a UE deve ter um papel mais pronunciado em relação à proteção do clima e ao meio ambiente. Com a influência da Alemanha, essa passa a ser uma agenda europeia.

O Ministério para Cooperação e Desenvolvimento, responsável pelo Fundo Amazônia, vai passar para as mãos dos social-democratas. As diferenças em relação ao governo Bolsonaro devem se aprofundar ainda mais?

Sem dúvida. Simbolicamente, esse é um ministério muito importante. Ele tem capilaridade e penetração social, e atinge desde instituições de caridade até ONGs, inclusive na região Amazônica. Nele se define qual o desenvolvimento que se quer promover e cofinanciar.

E é claramente o desenvolvimento sustentável, não só socialmente, mas também ambientalmente. A discussão sobre o Fundo Amazônia estava nas mãos do partido CSU (União Social Cristã, conservadora), que detinha o ministério, e endureceu a relação a ponto de cortar esses recursos.

Duas pautas frequentes das negociações com o Brasil eram a proteção do meio ambiente e de minorias - sobretudo da população indígena. Mas sempre houve um cuidado de não provocar rupturas. Sob a regência do partido social-democrata essas exigências devem ser ainda mais enfáticas, com programas de cooperação e transferência de recursos sendo usados para pressionar o governo brasileiro.

Um novo governo na Alemanha seria capaz de influenciar, de alguma forma, as eleições no Brasil em 2022, levando em conta a antiga relação entre os social-democratas, que estarão no poder, e Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje desponta como favorito?

Não acredito que a política externa possa ter uma importância tão grande nas eleições do Brasil, um país continental onde os eleitores se preocupam pouco com a política externa. Nas últimas eleições, a Venezuela ganhou importância. Mas era muito mais porque as pessoas temiam que o Brasil se tornasse uma Venezuela.

Episódios recentes, porém, dão uma boa medida das relações entre Brasil e Alemanha hoje. Por exemplo, a liderança de um partido de extrema-direita, a AfD, foi recebida no Brasil por Bolsonaro. Este é um partido marginal na política alemã. Nenhum ator democrático aceita qualquer cooperação com a AfD na Alemanha e na Europa.

Ao mesmo tempo, Lula foi recebido pelo futuro chanceler federal (Olaf Scholz) quando veio à Europa. Isso tem uma importância simbólica. Pode ressaltar as diferenças entre Lula e Bolsonaro, que nunca conseguiu ter receptividade na Europa - a não ser da extrema direita. E pode até ter algum impacto para um eleitorado mais escolarizado e atento. Mas a influência disso na eleição será muito pequena.

SAIBA MAIS: Encontro de Bolsonaro com extremista alemã expõe "articulação global da extrema direita"

Bolsonaro também não foi recebido por Angela Merkel – que, por sua vez, nunca visitou o Brasil durante o  governo dele. Esse distanciamento tende a piorar?

O Brasil, do ponto de vista da política exterior, ficou completamente isolado, sobretudo depois da derrota do Trump (Donald Trump, ex-presidente americano), que não foi reeleito. Seus parceiros internacionais são hoje países sem grande expressão. Ninguém quer se aproximar do Brasil na arena internacional. Não é, obviamente, pelo país, nem pela sociedade, nem pela sua potencialidade econômica e social. É pelo governo que ele tem. Há um distanciamento claro do governo Bolsonaro.

Os diplomatas, inclusive embaixadores brasileiros no exterior, estão isolados, porque nenhum país democrático quer cooperar estreitamente com o Brasil. O governo da Merkel não foi diferente. Colocou o Brasil na geladeira.

Apesar do histórico de relações bastante intensas, não só econômicas, mas também políticas e diplomáticas, essa cooperação estratégica perdeu a importância nos últimos anos. O que pode acontecer agora, com a nova coalizão, é que esse distanciamento passe a ser ativo. Não como no governo Merkel, que evitou as relações com o Brasil. Com a nova coalizão, pode haver uma cobrança de fato em relação ao Brasil.

https://www.brasildefato.com.br/2021/12/08/brasil-deve-esperar-cobrancas-mais-duras-da-alemanha-diz-professor-da-universidade-de-berlim