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quinta-feira, 21 de maio de 2020

Trump surfa no puxa-saquismo de Bolsonaro para tirar sarro do Brasil - Andrei Meireles (Os Divergentes)

Trump surfa no puxa-saquismo de Bolsonaro para tirar sarro do Brasil

Nem em seus momentos mais sombrios, a diplomacia brasileira foi tão capacho e recebeu tanto desprezo de um governo dos Estados Unidos.
Trump e Bolsonaro nos Estados Unidos
O que nessa pandemia do novo coronavírus rendeu a incondicional submissão do governo brasileiro a uma suposta parceria com a gestão de Donald Trump? O de mais concreto foi a pirataria com compras de respiradores e outros insumos básicos por estados brasileiros  tomados pela mão grande dos supostos aliados americanos. Em suas performances nas entrevistas coletivas, quando em dificuldade, Trump sempre apelou para ameaças ao Brasil, como o reiterado anúncio de que pode suspender os voos entre os dois países. Isso virou um descarado recurso em seus embates com a imprensa, mesmo consciente de que a epidemia nos Estados Unidos é maior do que a brasileira, por saber que o governo Bolsonaro vergonhosamente o agasalha.
Em nova entrevista nessa terça-feira (19), Donald Trump primeiro repetiu, com mais gravame, a mesma ladainha sobre os voos do Brasil para os Estados Unidos. “Não quero que esse povo venha para cá infectar americanos”. Depois seguiu em seu roteiro de mentiras. Disse que estava ajudando o Brasil com muitos respiradores. Insinuou inclusive que seriam milhares. Se fosse verdade, seriam bem-vindos. Estão fazendo muita falta. Pelo o que até agora se sabe, é mais uma cascata. A mentira torna mesquinho até o saudável hábito dos americanos de valorizar cada dólar que doam, afinal é dinheiro do seu contribuinte.
O embaixador americano Todd Chapman e o presidente Jair Bolsonaro – Foto Divulgação/PR
Nessa terça-feira, foi anunciado que o governo americano doou mais US$ 3 milhões (na maluquice do nosso câmbio diário, chegou a R$ 17 milhões). É uma ajuda com a pretensão de atender a Fiocruz e a 99 municípios brasileiros em todas as fronteiras do país nessa guerra bilionária contra a pandemia. Com até mais pompa, o novo embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, anunciou no começo do mês uma ajuda para o combate ao novo coronavírus de exatos US$ 950 mil. Vendeu essa grana como uma grande ajuda.
Em qualquer conta nas várias frentes de combate a ascendente epidemia no país, não passam de merrecas. O governo americano melhor ajudaria se impedisse a pirataria contra a desesperada tentativa brasileira de comprar equipamentos essenciais ao combate do novo coronavírus.
O ex ministro das Relações Exteriores do Brasil, Azeredo da Silveira, discursa na ONU
Nem quando, logo após o golpe militar de 1964, o embaixador Juraci Magalhães pronunciou a célebre frase “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, a diplomacia brasileira se submeteu tanto à americana. Sequer agora tendo a justificativa da Guerra Fria. Atropela inclusive toda a doutrina militar de soberania nacional. Um dos pilares do sucesso internacional da diplomacia brasileira foi seu profissionalismo, que virou política de Estado na gestão do chanceler Azeredo da Silveira, no governo do general Ernesto Geisel.
Agrava esse problema o fato de Bolsonaro tratar a tragédia como uma pilhéria. Ele diz que não está nem aí. E insiste na mesma aposta sem base científica: “Quem for de direita toma cloroquina, de esquerda toma Tubaína”. E a vida que siga ou não nessa roleta presidencial.
O fãs de Bolsonaro levam a propaganda da Cloroquina às ruas – Foto Orlando Brito
Bolsonaro continua dando seu show de insensibilidade, com o aparente propósito de exibir nesse suposto machismo uma coragem que não demonstra quando enfrenta paradas reais. Sua paranoia diante  investigações, supostas ou reais, mostra uma covardia diante de qualquer ameaça a seu clã familiar.
Por causa desse receio, ele mete os pés pelas mãos e transforma seu governo em um pandemônio. Ninguém ali com alguma competência se sente seguro. Todos se sentem cada vez mais à deriva pelo piloto inseguro que perdeu o rumo. Que não sabe mais, apesar de cercado por uma penca de militares, como navegar nesse nevoeiro.  Sequer consegue enxergar que o Brasil só perde com a idolatria cega e de mão única do seu clã e de seus gurus a Donald Trump.
O que ainda piora todo esse quadro é a sensação de falta de altivez dos chefes militares.
É triste assim.

Money, Banking and Politics in Early Nineteenth-Century Portugal - José Luis Cardoso

Grande historiador econômico português, editou as obras econômicas de José da Silva Lisboa, o nosso Visconde de Cairu, o "Adam Smith brasileiro", patrono dos economistas brasileiros. Sobre Lisboa, escrevi o seguinte ensaio: “A Brazilian Adam Smith: Cairu as the Founding Father of Political Economy in Brazil at the beginning of the 19thcentury”, revista Mises: Interdisciplinary Journal of Philosophy, Law and Economics (São Paulo, SP, Brazil; vol. 6, n. 1, edição 10 (janeiro-abril 2018); ISSN: 2318-0811, pp. 117-129; DOI: https://doi.org/10.30800/mises.2018.v6.64e-ISSN: 2594-9187; link: https://www.misesjournal.org.br/misesjournal/article/view/64; artigo em pdf, link: https://www.misesjournal.org.br/misesjournal/article/view/64/179).
Paulo Roberto de Almeida

Money, Banking and Politics in Early Nineteenth-Century Portugal 

  • José Luís CardosoEmail author

  1. 1.
Chapter

Abstract

The creation of the Bank of Lisbon in December 1821, in the context of the Portuguese liberal revolution of 1820, provides a pretext for examining the main monetary and financial problems of the time, taking into account the particular period of political change and the possibility that it provided for a wider discussion of this subject at various civil society institutions. Public debt management and the control of paper money in circulation are central themes for understanding the origins of, and the motivation for, the modern organization of banking. These themes invaded the public debate and promoted the confrontation and convergence of different views on monetary and financial issues in which the credibility and trust in the State were at stake. The Portuguese case also enables us to better understand the rhetorical use of political economy in the course of political action, particularly in matters of a monetary and financial nature.

Keywords

Bank of Lisbon Public debt Paper money Banking history Financial history Monetary theories and policy Classical political economy 

Notes

Acknowledgements

This is a preliminary outcome of a research project on the history of the Bank of Lisbon and the liberal revolution of 1820, conducted with the financial support of Banco de Portugal. I am grateful to comments made by Antoin Murphy, Nuno Palma, Jaime Reis, Ulas Sener and the editors of this book. The usual disclaimer applies.

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Cite this chapter as:
Cardoso J.L. (2020) Money, Banking and Politics in Early Nineteenth-Century Portugal. In: Marcuzzo M., Deleplace G., Paesani P. (eds) New Perspectives on Political Economy and Its History. Palgrave Studies in the History of Economic Thought. Palgrave Macmillan, Cham
  • First Online14 May 2020
  •  
  • DOIhttps://doi.org/10.1007/978-3-030-42925-6_6
  •  
  • Publisher NamePalgrave Macmillan, Cham
  •  
  • Print ISBN978-3-030-42924-9
  •  
  • Online ISBN978-3-030-42925-6
  •  
  • eBook PackagesEconomics and Finance

A Miséria da Diplomacia e a destruição da Inteligência, no Itamaraty, se estendem à Funag



A situação é tão deprimente, um verdadeiro atentado à inteligência, que transcrevo aqui o último capítulo de meu livro que deverá estar disponível em poucos dias: 

16. Meu ‘manifesto’ diplomático


Na condução de suas atividades, a Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty bolsonaristas, se dobrou – como tinha de fazê-lo por subordinação funcional de seu presidente de turno, que se esmera em ser um “soldado, na linha de frente dos combates” contra supostos inimigos do desgoverno do capitão — ao sectarismo doentio dos atuais mandantes da política externa (todos de fora da diplomacia profissional, com a exceção de um chanceler da carreira, mas ventríloquo e sabujo), e à estupidez fundamental que eles expressam, na inépcia que caracteriza a atual orientação diplomática do Brasil.
NUNCA, nem nos tempos do regime militar, se desceu tão baixo na escala da dignidade política e na expressão dos padrões de trabalho do Serviço Exterior brasileiro. O que está ocorrendo atualmente no Itamaraty é um rebaixamento INACEITÁVEL dos valores e princípios que SEMPRE guiaram a nossa política externa e nossa diplomacia, mesmo em momentos difíceis para o exercício de nossos deveres indeclináveis de defesa dos interesses da nação na frente externa.
A autonomia de postura internacional que pautava anteriormente nossa diplomacia e nossa política externa cedeu lugar ao mais vergonhoso servilismo, não simplesmente à poderosa nação hemisférica, mas ao chefe de um governo que encarna a mesma postura de desprezo pelo multilateralismo e pela cooperação internacional, entregue ao mais mesquinho jogo de exclusivismo nacional e de introversão hostil aos demais Estados membros da ONU. O pior, e o mais ridículo ainda, é que o atual governo despreparado do Brasil se esmera em proclamar sua submissão a esse chefe de Estado que proclama abertamente que coloca os interesses exclusivos de sua gestão acima e à parte de qualquer consideração pelos legítimos interesses dos demais membros da comunidade internacional.
Se ouso usar uma expressão forte para caracterizar o que nós, diplomatas profissionais, estamos vivendo, seja na Funag, seja na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, eu claramente usaria o conceito de INFÂMIA. Nenhuma outra palavra descreve melhor a ruptura registrada e imposta a uma das mais importantes instituições de Estado, que deu contribuição inestimável para a construção do Brasil, como aliás expresso no título da obra que já nasceu clássica do embaixador Rubens Ricupero. Infâmia diplomática e degradação da política externa e das relações exteriores do Brasil, num contexto de isolamento internacional inédito e de rebaixamento extraordinário de nossa imagem externa.
Eis o que somos obrigados a suportar, numa fase que é, de longe, não a mais vergonhosa de nossa história institucional (porque ela não tem NENHUM precedente, sendo única numa trajetória de quase 200 anos), mas simplesmente a mais inqualificável por sua indignidade e mediocridade intrínsecas, alienadora de nossa soberania, e destruidora de padrões de conduta profissional e de valores morais que sempre caracterizaram nossa postura enquanto servidores do Estado brasileiro.

Em defesa do verdadeiro Itamaraty
Em 16 de maio de 2020, Rafael Moro Martins, jornalista do The Intercept Brasil, publicou um artigo intitulado “A boçalidade infectou o Itamaraty” (disponível em meu blog: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/a-bocalidade-contaminou-o-itamaraty.html). A matéria relata os eventos que estão sendo organizados pela Funag bolsolavista, para os quais apenas representantes medíocres dessa pretensa corrente política são convidados, em total desacordo com os objetivos estatutários da Funag, que são os de estimular pesquisas e debates sobre temas de interessante relevante da política externa e da diplomacia brasileira, em contato e cooperação com a comunidade acadêmica. Mas expresso meu desacordo com a frase final do artigo: “O Itamaraty está doente.”
Não, o Itamaraty não está doente. Quem está doente, ou já era, são aqueles que o levaram a tal situação de prostração intelectual. Todos sabemos quem são, e eles não escaparão do julgamento da História, ou pelo menos da minha história.
Eu diria que o Itamaraty, enquanto corpo profissional de alta qualidade, permanece totalmente imune — digamos, a 99,9% — ao bacilo da estupides e ao vírus da boçalidade olavista. Seus quadros continuam capazes de produzir posições, posturas, subsídios a processos racionais de tomadas de decisão, nos métodos de trabalho e nos padrões de excelente qualidade técnica, que sempre foram os seus ao longo da história.
Os convertidos – mais por oportunismo sabujo, do que por crença verdadeira – ao ataque de boçalidade conduzido conjuntamente (mas de forma descoordenada, como é próprio dos personagens) pelo capitão desmiolado e seu suposto guru expatriado (o Rasputin de subúrbio, o subsofista da Virgínia), são muito poucos na outrora Casa de Rio Branco, talvez dois ou três, no máximo, entre os quais se incluem o chanceler acidental e seu chefe de gabinete. 
Todos os demais diplomatas, ou dão continuidade normal a seus trabalhos, como sempre fizeram, ou permanecem silenciosos, esperando que o pesadelo termine. Alguns resolveram sair, pediram postos ou ficam enclausurados no silêncio.
Eu devo ser o único da ativa que ainda ousa falar abertamente, mas estou no limbo, lotado formalmente na Divisão do Arquivo, onde respondo a um Primeiro Secretário, de onde disparo estes meus petardos, recolhidos em meu “quilombo de resistência intelectual” (à estupidez e à boçalidade), que é o meu blog Diplomatizzando.
Alguns poucos, por vocação bajuladora, e/ou obsessão por promoção, por belos postos ou chefias remuneradoras, se deixam enredar no festival de patetices que emanam do Gabinete, na verdade controlado de fora, por dois ou três malucos, e amadores (pior que aprendizes) em política externa, anteriormente tutelados de longe por uma suposta “ala militar” que tampouco existe.
O Itamaraty de outrora, vibrante, participante, inteligente, converteu-se hoje em terra arrasada, sob o tacão dos ignaros que manipulam o chanceler acidental e seus subordinados.
Essa miséria destruidora da sua inteligência — como intitulei meu livro dedicado a estes tristes tempos, disponível livremente no meu blog — passará um dia, e vamos reconstruir a instituição em sua plenitude intelectual.
Os poucos que colaboraram ativamente na obra insana de desmantelamento de sua institucionalidade sentirão vergonha de terem servido de capatazes aos algozes de um momento, de uma fase que será superada. Eu pelo menos luto por isso, a que me obriga a minha consciência e minha honestidade intelectual.
Estou certo de expressar a opinião da quase totalidade de meus colegas da ativa, atualmente impedidos de se expressar livremente, por força de uma política de intimidação funcional também inédita em nossa trajetória institucional.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8-16 de maio de 2020