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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 21 de maio de 2020

Trump surfa no puxa-saquismo de Bolsonaro para tirar sarro do Brasil - Andrei Meireles (Os Divergentes)

Trump surfa no puxa-saquismo de Bolsonaro para tirar sarro do Brasil

Nem em seus momentos mais sombrios, a diplomacia brasileira foi tão capacho e recebeu tanto desprezo de um governo dos Estados Unidos.
Trump e Bolsonaro nos Estados Unidos
O que nessa pandemia do novo coronavírus rendeu a incondicional submissão do governo brasileiro a uma suposta parceria com a gestão de Donald Trump? O de mais concreto foi a pirataria com compras de respiradores e outros insumos básicos por estados brasileiros  tomados pela mão grande dos supostos aliados americanos. Em suas performances nas entrevistas coletivas, quando em dificuldade, Trump sempre apelou para ameaças ao Brasil, como o reiterado anúncio de que pode suspender os voos entre os dois países. Isso virou um descarado recurso em seus embates com a imprensa, mesmo consciente de que a epidemia nos Estados Unidos é maior do que a brasileira, por saber que o governo Bolsonaro vergonhosamente o agasalha.
Em nova entrevista nessa terça-feira (19), Donald Trump primeiro repetiu, com mais gravame, a mesma ladainha sobre os voos do Brasil para os Estados Unidos. “Não quero que esse povo venha para cá infectar americanos”. Depois seguiu em seu roteiro de mentiras. Disse que estava ajudando o Brasil com muitos respiradores. Insinuou inclusive que seriam milhares. Se fosse verdade, seriam bem-vindos. Estão fazendo muita falta. Pelo o que até agora se sabe, é mais uma cascata. A mentira torna mesquinho até o saudável hábito dos americanos de valorizar cada dólar que doam, afinal é dinheiro do seu contribuinte.
O embaixador americano Todd Chapman e o presidente Jair Bolsonaro – Foto Divulgação/PR
Nessa terça-feira, foi anunciado que o governo americano doou mais US$ 3 milhões (na maluquice do nosso câmbio diário, chegou a R$ 17 milhões). É uma ajuda com a pretensão de atender a Fiocruz e a 99 municípios brasileiros em todas as fronteiras do país nessa guerra bilionária contra a pandemia. Com até mais pompa, o novo embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, anunciou no começo do mês uma ajuda para o combate ao novo coronavírus de exatos US$ 950 mil. Vendeu essa grana como uma grande ajuda.
Em qualquer conta nas várias frentes de combate a ascendente epidemia no país, não passam de merrecas. O governo americano melhor ajudaria se impedisse a pirataria contra a desesperada tentativa brasileira de comprar equipamentos essenciais ao combate do novo coronavírus.
O ex ministro das Relações Exteriores do Brasil, Azeredo da Silveira, discursa na ONU
Nem quando, logo após o golpe militar de 1964, o embaixador Juraci Magalhães pronunciou a célebre frase “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, a diplomacia brasileira se submeteu tanto à americana. Sequer agora tendo a justificativa da Guerra Fria. Atropela inclusive toda a doutrina militar de soberania nacional. Um dos pilares do sucesso internacional da diplomacia brasileira foi seu profissionalismo, que virou política de Estado na gestão do chanceler Azeredo da Silveira, no governo do general Ernesto Geisel.
Agrava esse problema o fato de Bolsonaro tratar a tragédia como uma pilhéria. Ele diz que não está nem aí. E insiste na mesma aposta sem base científica: “Quem for de direita toma cloroquina, de esquerda toma Tubaína”. E a vida que siga ou não nessa roleta presidencial.
O fãs de Bolsonaro levam a propaganda da Cloroquina às ruas – Foto Orlando Brito
Bolsonaro continua dando seu show de insensibilidade, com o aparente propósito de exibir nesse suposto machismo uma coragem que não demonstra quando enfrenta paradas reais. Sua paranoia diante  investigações, supostas ou reais, mostra uma covardia diante de qualquer ameaça a seu clã familiar.
Por causa desse receio, ele mete os pés pelas mãos e transforma seu governo em um pandemônio. Ninguém ali com alguma competência se sente seguro. Todos se sentem cada vez mais à deriva pelo piloto inseguro que perdeu o rumo. Que não sabe mais, apesar de cercado por uma penca de militares, como navegar nesse nevoeiro.  Sequer consegue enxergar que o Brasil só perde com a idolatria cega e de mão única do seu clã e de seus gurus a Donald Trump.
O que ainda piora todo esse quadro é a sensação de falta de altivez dos chefes militares.
É triste assim.

domingo, 10 de março de 2019

O tombo do guru - Andrei Meireles (Os Divergentes)

Retirei a matéria, originalmente em Os Divergentes, do Diário do Centro do Mundo, o jornal que os olavetes adoram odiar. Eu não tenho preconceitos, leio de tudo, da extrema esquerda à extrema direita, com várias coisas malucas pelo caminho.
Paulo Roberto de Almeida


O tombo do guru Olavo no embate com os generais de Bolsonaro 

Por Andrei Meireles

Olavo de Carvalho. Foto: Reprodução / Twitter
Publicado originalmente no site Os Divergentes
POR ANDREI MEIRELES
O ideólogo Olavo de Carvalho, guru do clã Bolsonaro, que emplacou seguidores no governo, encantado com o próprio sucesso, resolveu dar um passo maior que a própria perna. Tropeçou em outras forças influentes. Dobrou a aposta e passou a atacar a penca de generais escalados em cargos estratégicos na gestão Bolsonaro, responsáveis por barrar algumas de suas extravagantes propostas, e levou um tombo.
Um desses fiascos foi a desastrada carta do ministro da Educação às escolas para filmar crianças cantando o Hino Nacional. Nessa sexta-feira (8), o Diário Oficial trouxe exonerações no Ministério,principal aparelho da turma de Olavo no governo federal. Um deles, Sílvio Grimaldo de Camargo, assessor especial do ministro, foi o primeiro a esbravejar em uma rede social. “O expurgo dos alunos do Olavo de Carvalho no MEC é maior traição dentro do governo Bolsonaro que se viu até agora. Nem as trairagens de Mourão e Bebianno chegaram a esse nível”.
Do seu bunker na Virgínia, Estados Unidos, Olavo de Carvalho estava inconsolável nos últimos dias e disparou seguidos posts nas redes sociais contra supostos inimigos na equipe de Bolsonaro. “Será que todos votamos em Bolsonaro para ter um governo tucano? Quantos ministros do atual governo pensam que sim? São todos uns traidores filhos da puta dignos serem jogados na privada”.
Na alucinante ótica de Olavo de Carvalho, os tais ministros teriam se rendido à mídia, o grande inimigo em seu moinho de vento. A raiva é maior com os militares. “Imaginem, então, o general que, emergindo da tediosa e austera secura da vida militar, se vê de repente cercado de luzes, câmeras e gostosas repórteres”. E conclui: “Cai de joelhos”.
Olavo de Carvalho se imagina também líder inconteste de seus seguidores. Ficou ainda mais cheio de si depois que o chanceler Ernesto Araújo, cristão novo entre seus discípulos, demitiu o diplomata Paulo Roberto de Almeida da presidência do Instituto de  Pesquisa de Relações Internacionais por críticas ao “Professor”. Mesmo perdendo espaço na luta interna entre os bolsonaristas, ele ainda resolveu cantar de galo e orientou seus ex-alunos deixarem o governo. Um de seus preferidos, Felipe Martins, assessor internacional de Bolsonaro, não se manifestou.
Seus apadrinhados Ernesto Araújo e o ministro Vélez Rodríguez, da Educação, também fingiram de surdos. Os sempre ágeis irmãos Bolsonaros, dedos ligeiros em postagens, não deram sequer um pio em suas redes sociais.
Todos eles sabem que nessa parada entre o guru ideológico e os generais que dão sustentação ao governo Olavo de Carvalho é a carta descartável. As seguidas trapalhadas da família Bolsonaro, inclusive do presidente, algumas inspiradas pelo próprio Olavo de Carvalho, só reforçaram o peso dos generais no governo.
A conferir.