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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

967) IPEA: andando rapidamente... para trás...

Triste história, como tantas outras de que já ouvimos falar na administração pública sob novos ares, o Zeitgeist da mediocridade intelectual.
O post abaixo é sobre o recente concurso para selecionar "economistas" para o IPEA. As aspas correspondem a uma ironia involuntária, pois o que menos vai se selecionar são economistas, e sim pessoas perfeitamente alinhadas com certo pensamento único.
Já cheguei a colaborar com a revista do IPEA, Desafios do Desenvolvimento, assinando mais de três dezenas de resenhas de livros que eu escolhia, ou que me eram sugeridos pela editoria da revista. Elaborei as resenhas de modo totalmente voluntário e gratuito, posto que isso me dá prazer.
Sob os novos ares, uma resenha encomendada ficou sem publicação, e nenhuma explicação me foi oferecida, a não ser o silêncio. Ainda cheguei a colaborar mais uma ou duas vezes, mas depois mais nada. Acho que os dois lados se cansaram: eu da censura, eles, provavelmente, de minhas resenhas feitas em toda independência, como convém a qualquer resenhista que se respeite.
Leiam o que vai abaixo, na pluma sempre vitriólica do Reinaldo Azevedo. O seu tom fortemente crítico e os seus adjetivos me interessam menos do que um retrato da realidade, da triste realidade atual.
PRA

PATRULHA E MISTIFICAÇÃO NO IPEA, AGORA SUBORDINADO À SEALOPRA
Do blog do Reinaldo Azevedo
15.12.2008

Tenho criticado aqui a doutrinação esquerdopata nas escolas públicas e privadas, como sabem. Mais do que isso: seja no terreno da ideologia propriamente, seja no dos valores e costumes, tenho apontado o que classifico de “intolerância dos tolerantes” — vale dizer: um grupo se declara monopolista do bem e da diversidade e passa a policiar aqueles que discordam de suas análises, promovendo patrulha e perseguição política em nome do combate à... patrulha e à perseguição política!!! As coisas estão assumindo proporções alarmantes.

O que segue é o relato de uma economista que participou de um concurso no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Não divulgo seu nome. Se ela concordar, eu o farei. O Ipea, vocês sabem, era subordinado ao Ministério do Planejamento. Agora, está sob o comando de Mangabeira Unger, o titular da antiga Secretaria de Assuntos de Longo Prazo, a SEALOPRA, conforme foi batizada aqui. O nome mudou, mas não o juízo. O presidente do Ipea é Marcos Pochmann, aquele rapaz que gosta de se apresentar com golas chinesas — e, quem sabe?, idéias idem (menos no que respeita à adesão ao mercado, claro...). O órgão, como vocês sabem, já promoveu o expurgo de “neoliberais”... Em nome da diversidade, é óbvio!!!

O que vocês lerão é o relato de como a prova de um concurso pode se transformar numa peneira ideológica. E, pior do que isso, a idiotia enverga as vestes de fina teoria. Acompanhem o relato. Volto depois:

Quem vem acompanhando os acontecimentos recentes do IPEA, iniciados desde que a nova diretoria assumiu, poderia esperar que o maior concurso da história da instituição tivesse algum viés ideológico e teria algumas excentricidades. Entretanto, o que se viu no concurso realizado no dia 13/12/2008 supera de longe a expectativa mais pessimista. Não quero aqui julgar o viés ideológico da prova e sim a capacidade de selecionar pesquisadores de qualidade.

O que deveria ser exigido na seleção de um bom pesquisador aplicado em economia (para fazer jus ao nome da instituição)? Na minha opinião, conhecimentos sobre diversas linhas de pensamento, o instrumental básico de micro e macroeconomia e econometria. O edital da prova, entretanto, já adiantava alguns problemas. A palavra “econometria” não era nem citada, e as vagas foram dividas em áreas de especialização, de conteúdo limitado, o que beneficia "concurseiros" em detrimento de economistas de formação ampla. Escolhi, por eliminação, a área "Estruturas Produtivas, Tecnológica e Industrial", que continha microeconomia e outros tópicos sobre a estrutura produtiva brasileira, e fui surpreendida com uma prova que nem condizente com o conteúdo anunciado era.

A prova é um festival de afirmações cheias de juízo de valor e de linguagem ininteligível (...). O que dizer sobre a frase: "A especulação financeira vislumbra como luz no fim do túnel o brilho do tesouro nacional"? Ou "Sem a conversão dos fundos públicos em pressuposto geral do capital, a economia produtiva capitalista é insustentável"? (...). Como se não existissem inúmeras teorias de economistas consagrados, fez-se referência à teoria de padrões de acumulação e oligopólios do sociólogo Francisco de Oliveira (que correspondeu a quase 10% da prova) e do conceito de “burocracia” do filósofo francês Claude Lefort. Para ser justa, não posso ignorar que fizeram perguntas sobre as teorias de Schumpeter, Malthus e Adam Smith, mas será que mais nada foi pensado em economia que mereça menção na prova?

Outra excentricidade foi o grande número de perguntas sobre artigos de leis e instruções normativas sobre parcelamento do solo, IPTU, Estatuto das Cidades, posse de terras e acesso à terra, que nem citados no programa estavam. Alguém deve estar se perguntando sobre o conteúdo de microeconomia, que correspondia a um terço da prova segundo o edital. Estes exigiam o conhecimento passado no primeiro dia do curso de microeconomia: "O custo total médio da produção é a soma, para cada nível de produção dos custos fixos e variáveis", ou "A teoria da firma se desdobra em Teorias da Produção, dos Custos e dos rendimentos e alicerceia a análise da oferta". Ou ainda: "Como as quantidades procuradas (QP) não dependem diretamente do nível de preços (P), é correto afirmar que não há uma relação funcional de dependência entre as variáveis QP e P".

A prova foi fechada com chave de ouro com a parte discursiva, onde as duas únicas questões eram sobre a teoria neo-shumpeteriana. Esses são os horrores da prova de "microeconomia". Não faltam exemplos nas outras áreas. Não sei se fico mais deprimida como economista, por pensar no futuro do IPEA e no que o governo considera que é um conteúdo razoável para um profissional da minha área, ou como cidadã, que pagará impostos para custear os cerca de 60 profissionais que serão contratados com base nesses critérios para ganhar quase R$ 11 mil por mês.

Voltei
Como se vê, o esquerdismo bocó é apenas um dos males do exame. Outro é a estupidez. Ocorre que o segundo tem o primeiro como seu parceiro mais freqüente. Francisco de Oliveira e Claude Lefort numa prova para selecionar economistas que vão lidar com as questões de longo prazo do desenvolvimento do Brasil? São piadas grotescas. Oliveira tenta, como vou dizer?, dinamizar a nossa economia sendo um dos mestres do PSOL... Lefort não sabe a diferença entre um croissant e um gráfico sobre produtividade... E, como fica claro no desabafo da economista, a essa mistificação pegajosa juntam-se a velha incompetência e o primitivismo intelectual. Vê-se que o exame pretende menos selecionar economistas competentes e com boa formação técnica do que, como é mesmo?, “cidadãos engajados em busca de um outro mundo possível”.

Lula pode chegar a 150% de popularidade (seria uma popularidade já comprometendo gerações futuras...), e isso não impede — ao contrário, até ajuda — que, em mais duas ou três gerações, estejamos encarando de frente os nossos ancestrais. É, os darwinistas só não estavam preparados para isto: a involução. Se vocês repararem bem, a coluna de boa parte dos nossos universitários já começou a vergar um tantinho. Mais uns três governos petistas, estaremos sendo esnobados pelos chimpanzés. Vão gozar da gente (como espécie): além de nos faltar o mindinho, também teremos perdido o polegar opositor.

(Extraído do blog do Reinaldo Azevedo, postagem das 17:57h

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro PRA,

não sou economista, tampouco olhei a prova do IPEA. Seu testemunho pessoal dá credibilidade aos rumores que ouço sobre a reorientação que a instituição vem sofrendo, mas -- permita-me o atrevimento -- não acho razoável disseminar, sem antes examinar a prova, juízos emocionados de concorrentes que frustraram suas expectativas no concurso.

Selecionei trechos de dois comentários publicados no mesmo blog (ainda que não destacados, como o foi o depoimento da moça). Obviamente, eles também estão carregados de intenções, mas acredito que fazem um contraponto honesto ao post:

"Eu fiz a prova do IPEA. O que esta senhora afirma é, na melhor das hipóteses, desonestidade intelectual. Caiu econometria sim na prova. Funções matemáticas, o instrumental matemático, estava lá sim para quem quisesse ver. (...) É verdade que houve alguns excessos em termos ideológicos que poderiam ser contidos. Tais excessos atestam as escolhas políticas do comando do IPEA. Não sou de esquerda, porem, achei correto usarem o Chico Oliveira que é um economista de referencia na academia."

"A informação da sua leitora não está tão correta assim. Ela se diz economista mas preferiu concorrer para uma vaga que não exigia a formação em economia. O cargo citado exigia qualquer formação superior. (...) Ou seja, a prova citada pela sua leitora é um clássico de prova mal elaborada. Desde o princípio dos tempos sempre existiram provas bem e mal elaboradas. A novidade agora é que uma simples prova mal elaborada é questão ideológica. Ora menos, por favor. Eu fiz a prova e achei a prova mal elaborada, pouco objetiva e confusa; ponto."

Infelizmente, a mim falta a competência para avaliar as provas. De qualquer forma, creio que a discussão é importante tanto para o senhor (você?), funcionário público, quanto para mim, ainda aspirante. Procurarei me servir de análises com mais substância e menos predicativos.

Um abraço de seu leitor
Rafael

Theo disse...

No blog dos alunos do mestrado da puc-rio ( www.espectroeconomico.blogspot.com ) esta rolando uma discussao desse mesmo assunto.

Abs

Anônimo disse...

Eu fiz a mesma prova da economista e compartilho totalmente da sua opinião. Por um instante achei que tinha entrado na prova do ministério das cidades por engano. Só tenho a acrescentar minha indignação com a próxima fase desse concurso: uma "prova" oral eliminatória em Brasília.

Anônimo disse...

É uma tristeza mesmo...a prova é muito ruim. A pergunta é se ficou ruim agora ou se a pataquada ideológica apenas evidenciou a falta de rigor do órgão...