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sábado, 12 de junho de 2010

Uma questao de escolha: dilemas morais

Quando se é funcionário estatal, quase servo do Estado, não se pode escolher o tipo de situação que se vai enfrentar. Pode-se escolher renunciar à condição, pode-se optar por algum subterfúgio para fugir de situações embaraçosas, mas não se pode escolher ter uma atitude individual quando o Estado, isto é, o seu patrão, escolhe uma outra atitude, e um outro relacionamento. Isso acontece, mais frequentemente do que se pensa.
Certas situações são altamente embaraçosas, sobretudo quando não se tem estômago para enfrentar o tipo de situação embaraçosa que o Estado, o seu patrão, lhe proporciona.
Apenas se pode torcer, para que a situação não se concretize, mas isso é uma situação de pura sorte, de acaso, não previsível.
Esta semana fui premiado pela sorte. Calhou de não ter de cumprir uma função cerimonial altamente embaraçosa para minha biografia. Não me perdoaria ter de atender a compromissos oficiais em contradição total com meus valores, meus princípios, minha filosofia e minha biografia.
Fui poupado do embaraço, pela sorte.
Agradeço à sorte...
Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 12.06.2010.

4 comentários:

Mário Machado disse...

Professor,

Ainda bem (eu diria graças a Deus, mas respeito sua visão de mundo, acabei por dizer assim mesmo..rs..) que o acaso lhe ajudou.

Escrevi em meu blog antes de ler esse seu texto, mais uma homenagem ao professor que espero não tenha sido "sabuja":

"Hoje nesse dia que os comerciantes tentam nos incutir que seja uma data dedicada ao amor, não estarei imbuído desse espírito o trecho que selecionei é uma constatação feita por Morgenthau ao discorrer sobre a política externa soviética, que poderia ter sido escrita sobre o Itamaraty nos últimos meses. Por sinal, o diplomata de carreira Paulo Roberto de Almeida (em texto que aqui transcrevi) trata esse ente que será descrito abaixo como sabujo.

"Um diplomata cuja maior preocupação consista em conservar sempre a aprovação de seus superiores é geralmente muito prestimoso comunicar-lhes aquilo que eles desejariam ouvir, independentemente do fato de que seu relato seja verdadeiro ou não. Pode-se encontrar em todos os serviços diplomáticos essa tendência para distorcer a verdade, para agradar o ministério [ou Nosso Guia*], e a pintar os fatos com cores favoráveis, uma vez que a adoção dessas práticas assegura proteção no cargo e aumenta as probabilidades de avanço na carreira"
________________
MORGENTHAU, Hans J. A política entre as nações: A luta pelo poder e pela paz. Ed. UnB, IPRI, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Brasília, 2003. pp 986 – 987.

* GRIFO MEU"

Anônimo disse...

Prezados,

Roger Ascham descreveu em versos de pé quebrado as quatro "virtudes cardeais" procuradas na corte da rainha Elizabeth I (1533-1603):

"Cog,lie,flatter and face,
Four ways in Court to win men grace,
If thou be thrall to none of these,
Away,good Piers! Home, John Cheese!"
(Trapacear, mentir, lisonjear e atrever-se,
Quatro maneiras de na Corte (..ou no Itamaraty...)a boa graça obter-se.
Se não fores escravo de nenhuma delas,
Mantém-se afastado, bom Piers! para casa, John Cheese!)

Passam os reinos, os reis e as cortes, mas as "virtudes" permanecem!

Vale!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Caro Anônimo (suponho que não tão anônimo assim, apenas de circunstância, digamos, e porque ficaria chato apoiar um proscrito),
Agradeço a lição de Roger Ascham, a quem não tinha o prazer de conhecer, mas que vou agora procurar para saber mais de personagem tão sincero.
Sinto, porém, que as condições não são as mesmas. Naqueles tempos sombrios de absolutismo do soberano, se arriscava perder inclusive a cabeça, e por extensão as demais partes do corpo, ou pelo menos passar alguns meses na prisão da Torre. Eu não arrisco tudo isso, apenas uma situação, digamos, mais confortável (para quem está preocupado com isso).
Mas creio que posso me considerar um primo distante de Roger Ascham, que deve ter arriscado bem mais que seu conforto pessoal ao escrever aquilo.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Caro Dr. P.R.A.,

Aos homens de têmpera não é dada outra opção senão trilhar o caminho da verdade-como nos ensina Cervantes- sem que nem o interesse, nem o medo, nem o rancor os façam torcer esta vereda, cuja mãe é a história, êmula do tempo,, depósito das ações, testemunha do passado, exemplo e aviso do presente, advertência do porvir...mais força tem o tempo para desfazer e mudar as coisas que as vontades humanas.

Boa sorte!

Vale!