Serviço de utilidade pública:
Recebi a mensagem abaixo, testei e funcionou.
Repasso, pois pode ser importante:
Agora com esta história do "Chip", o interesse dos ladrões por aparelhos celulares aumentou. É só comprar um novo chip por um preço médio de R$ 10,00 a 30,00 em uma operadora e instalar em um aparelho roubado. Com isso, está generalizado o roubo de aparelhos celulares. Segue então uma informação útil que os comerciantes de celulares não divulgam. Uma espécie de vingança para quando roubarem celulares.
Para obter o número de série do seu telefone celular (GSM), digitem *#06#
Aparecerá no visor um código de 15 algarismos. Este código é único!!!
Escrevam e conservem com cuidado. Se roubarem seu celular, telefonem para sua operadora e informem este código. O seu telefone poderá então ser completamente bloqueado, mesmo que o ladrão mude o "Chip". Provavelmente não recuperarão o aparelho, mas quem quer que o tenha roubado não poderá mais utilizá-lo. Se todos tomarem esta precaução, imaginem, o roubo de celulares se tornará inutil. Enviem isto a todos e anotem o seu número de série.
Resumindo:
Digite esta combinação:
*#06#
para obter o código permanente do aparelho, para que ele possa ser bloqueado em caso de roubo.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
domingo, 25 de fevereiro de 2007
sábado, 24 de fevereiro de 2007
708) O Paraguai, visto pelo Senador Alvaro Dias (PR)
Harpa paraguaia
Senador Alvaro Dias (Paraná)
Os acordes emitidos pelo nosso estratégico vizinho merecem atenção. As últimas notas dedilhadas simultaneamente pelos postulantes a sucessão do presidente Nicanor Duarte Frutos podem até se diferenciar, mas um arpejo é uníssono: o Brasil é o mote central da campanha presidencial já deflagrada e que promete ser a mais disputada da história do Paraguai.
O governo brasileiro concentra suas atenções e ao mesmo tempo disponibiliza os melhores esforços diplomáticos na direção dos Palácios Miraflores e Quemado, privilegiando a interlocução com os mandatários Hugo Chávez e Evo Morales. A polêmica negociação com a Bolívia, culminada no generoso acordo do gás, expõe a nossa vulnerabilidade em muitos flancos, sinalizando as indefinições existentes no Brasil na área de regulamentação. As mesuras dispensadas à Venezuela contrastam igualmente com a desatenção para com os outros países do entorno regional.
A efervescência da campanha eleitoral no Paraguai expõe a necessidade de o Brasil rever o quanto antes o seu relacionamento com aquele vizinho. São muitos os pontos da intrincada agenda eleitoral. Há sinalização clara dos candidatos de revisão dos preços da energia excedente de Itaipu vendida ao Brasil, passando pela celebração de acordos de comércio com os Estados Unidos, desferindo novos golpes no combalido Mercosul.
Como se não bastassem os complicadores anunciados, não podemos esquecer a gravidade da situação dos aproximadamente 800 mil brasiguaios residentes em solo paraguaio, ameaçados por um processo nebuloso de ''reforma'' agrária amparado por legislação que institui a sumária expropriação de terras na faixa de fronteira sob o manto protetor de preservação da segurança nacional.
A declarada intenção de reavaliar a planilha de desembolsos (juros remanescentes da construção da usina pela Eletrobrás), bem como o valor recebido do Brasil pela energia comercializada, remetem à inevitável revisão do tratado firmado no início da década de 70. O contencioso bilateral é explícito e requer análise e mobilização da diplomacia brasileira.
O foco da política externa do presidente Lula não pode se restringir às parcerias estabelecidas com a Venezuela e a Bolívia, em detrimento do relacionamento com outros países estratégicos do mosaico regional. O Paraguai é ator estratégico sob qualquer ângulo de política exterior brasileira.
As eleições presidenciais, a serem realizadas em abril do próximo ano, prometem colocar em xeque a hegemonia do Partido Colorado, e apenas esse aspecto, por si só, enseja a possibilidade de profundas mudanças na coalizão de forças que dominaram o Paraguai nos últimos 60 anos.
O principal contendor da campanha eleitoral precocemente em curso é o ex-bispo católico Fernando Lugo, sacerdote que renunciou da sua condição eclesiástica e mergulhou na política em salto triplo. Sua imagem entre os paraguaios é irretocável, exibindo baixo índice de rejeição. Sua vitória significaria a mais profunda revisão no relacionamento com o Brasil. O candidato situacionista, o atual vice-presidente, Luis Castiglione, desfralda bandeiras em mastros cujos ventos não sopram exatamente a nosso favor. Ele defende a presença de tropas militares norte-americanas em solo pátrio e ainda apóia a formalização de acordo comercial com Washington.
A galeria dos candidatos presidenciais é mais ampla, incluindo um neto do Generalíssimo Alfredo Strossner, sem mencionar o general Lino Oviedo, mantido sob cárcere na capital paraguaia. A propósito, esse é um episódio inconcluso e de desfecho incerto. O general Oviedo permanece preso em flagrante desrespeito tanto às leis internas como a convenções internacionais subscritas pelo Paraguai. A Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos ''OEA'' já foi acionada e deverá se pronunciar sobre o caso. A popularidade de Oviedo não pode ser subestimada num cenário futuro da sucessão presidencial do Paraguai.
Os sons ouvidos nas arborizadas ruas de Assunção e cercanias não são apenas os produzidos pelas cordas da harpa paraguaia. Cabe ao governo do presidente Lula ponderar sobre os acontecimentos em marcha e escolher um novo diapasão para a política externa.
Senador Alvaro Dias - vice-presidente do Senado Federal
Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2007
Senador Alvaro Dias (Paraná)
Os acordes emitidos pelo nosso estratégico vizinho merecem atenção. As últimas notas dedilhadas simultaneamente pelos postulantes a sucessão do presidente Nicanor Duarte Frutos podem até se diferenciar, mas um arpejo é uníssono: o Brasil é o mote central da campanha presidencial já deflagrada e que promete ser a mais disputada da história do Paraguai.
O governo brasileiro concentra suas atenções e ao mesmo tempo disponibiliza os melhores esforços diplomáticos na direção dos Palácios Miraflores e Quemado, privilegiando a interlocução com os mandatários Hugo Chávez e Evo Morales. A polêmica negociação com a Bolívia, culminada no generoso acordo do gás, expõe a nossa vulnerabilidade em muitos flancos, sinalizando as indefinições existentes no Brasil na área de regulamentação. As mesuras dispensadas à Venezuela contrastam igualmente com a desatenção para com os outros países do entorno regional.
A efervescência da campanha eleitoral no Paraguai expõe a necessidade de o Brasil rever o quanto antes o seu relacionamento com aquele vizinho. São muitos os pontos da intrincada agenda eleitoral. Há sinalização clara dos candidatos de revisão dos preços da energia excedente de Itaipu vendida ao Brasil, passando pela celebração de acordos de comércio com os Estados Unidos, desferindo novos golpes no combalido Mercosul.
Como se não bastassem os complicadores anunciados, não podemos esquecer a gravidade da situação dos aproximadamente 800 mil brasiguaios residentes em solo paraguaio, ameaçados por um processo nebuloso de ''reforma'' agrária amparado por legislação que institui a sumária expropriação de terras na faixa de fronteira sob o manto protetor de preservação da segurança nacional.
A declarada intenção de reavaliar a planilha de desembolsos (juros remanescentes da construção da usina pela Eletrobrás), bem como o valor recebido do Brasil pela energia comercializada, remetem à inevitável revisão do tratado firmado no início da década de 70. O contencioso bilateral é explícito e requer análise e mobilização da diplomacia brasileira.
O foco da política externa do presidente Lula não pode se restringir às parcerias estabelecidas com a Venezuela e a Bolívia, em detrimento do relacionamento com outros países estratégicos do mosaico regional. O Paraguai é ator estratégico sob qualquer ângulo de política exterior brasileira.
As eleições presidenciais, a serem realizadas em abril do próximo ano, prometem colocar em xeque a hegemonia do Partido Colorado, e apenas esse aspecto, por si só, enseja a possibilidade de profundas mudanças na coalizão de forças que dominaram o Paraguai nos últimos 60 anos.
O principal contendor da campanha eleitoral precocemente em curso é o ex-bispo católico Fernando Lugo, sacerdote que renunciou da sua condição eclesiástica e mergulhou na política em salto triplo. Sua imagem entre os paraguaios é irretocável, exibindo baixo índice de rejeição. Sua vitória significaria a mais profunda revisão no relacionamento com o Brasil. O candidato situacionista, o atual vice-presidente, Luis Castiglione, desfralda bandeiras em mastros cujos ventos não sopram exatamente a nosso favor. Ele defende a presença de tropas militares norte-americanas em solo pátrio e ainda apóia a formalização de acordo comercial com Washington.
A galeria dos candidatos presidenciais é mais ampla, incluindo um neto do Generalíssimo Alfredo Strossner, sem mencionar o general Lino Oviedo, mantido sob cárcere na capital paraguaia. A propósito, esse é um episódio inconcluso e de desfecho incerto. O general Oviedo permanece preso em flagrante desrespeito tanto às leis internas como a convenções internacionais subscritas pelo Paraguai. A Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos ''OEA'' já foi acionada e deverá se pronunciar sobre o caso. A popularidade de Oviedo não pode ser subestimada num cenário futuro da sucessão presidencial do Paraguai.
Os sons ouvidos nas arborizadas ruas de Assunção e cercanias não são apenas os produzidos pelas cordas da harpa paraguaia. Cabe ao governo do presidente Lula ponderar sobre os acontecimentos em marcha e escolher um novo diapasão para a política externa.
Senador Alvaro Dias - vice-presidente do Senado Federal
Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2007
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
707) Nova pausa para humor (sorrisos amarelos, por favor...)
Sinceramente não acredito nessas "pérolas de vestibular", inclusive porque algumas delas se repetem a cada ano (será possível cometer a mesma estupidez duas vezes, da mesma forma?; e o copyright, não serve para nada?).
Acredito que espíritos maliciosos, professores que ganham mal, talvez, reciclem, a cada ano, na época do vestibular, as mesmas piadinhas maldosas que recolheram (ou fabricaram?) em anos passados...
Isso não quer dizer que os candidatos ao vestibular sejam brilhantes, longe disso. Mas é que eles não levam muita culpa no cartório. Claro, muitos são vagabundos e perfeitos navegantes ou paraquedistas nesses exames de ingresso na universidade. Mas a maior parte, apenas reproduz aquilo que aprenderam (ou não?) na escola média. Ou seja, eles chegam ao terceiro ciclo virtualmente ignorantes e semi-analfabetos, tendo passado impunes por anos e anos de deseducação escolar...
Em todo caso, aqui vão as últimas...
Perólas do Vestibular da PUC-Rio 2006
Redação:
1. Título de uma redação: Sobrevivência de um aborto vivo
2. O Brasil é um País abastardo com um futuro promissório parece que confusório e preocupatório também;
3. O maior matrimônio do País é a educação;
4. Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que aumenta;
5. Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola;
6. O bem star dos abtantes endependente de roça, religião, sexo e vegetarianos,está preocupan-do-nos;
7. É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento de muitas pessoas, de nível municipal, estadual e federal;
8. Também preoculpa o avanço regressivo da violência;
9. Resposta a uma pergunta: "Esta não cei".
História:
1. O Hino Nacional Francês se chama La Mayonèse...
2. Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado.
3. Entres os índios de América, destacam-se os aztecas, os incas, os maios, os pirineus, os phenícios, egipcios, facistas...
4. A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e Momentânea, esta, a dos nossos dias.
5. Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas.
6. No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram se sifilizando.
7.Então o governo precisou contratar oficiais para fortalecer o exército
da marinha.
8. No tempo colonial o Brasil só dependia do café e de outros produtos extremamente vegetarianos.
Geografia:
1. A capital de Portugal é Luiz Boa.
2. Geografia Humana estuda o homem em que vivemos.
3. O Brasil é um país muito aguado pela chuva, senão veja a Amazônia.
4. Na América do Norte tem mais de 100.000 Km de estradas de ferro cimentadas.
5. Oceano é onde nasce o Sol; onde ele nasce é o nascente, e onde desce, é o decente. 6. Na América Central há países como a República do Minicana.
7. A Terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo e suas constelações servem para esclarecer a noite.
8. As principais cidades da América do Norte são Argentina e estados Unidos.
9. Expansivas são as pessoas tangarelas.
10. O clima de São Paulo é assim: quando faz frio é inverno;Quando faz calor é verão; quando tem flores é primavera; quando tem frutas é outono e quando chove é inundação.
Acredito que espíritos maliciosos, professores que ganham mal, talvez, reciclem, a cada ano, na época do vestibular, as mesmas piadinhas maldosas que recolheram (ou fabricaram?) em anos passados...
Isso não quer dizer que os candidatos ao vestibular sejam brilhantes, longe disso. Mas é que eles não levam muita culpa no cartório. Claro, muitos são vagabundos e perfeitos navegantes ou paraquedistas nesses exames de ingresso na universidade. Mas a maior parte, apenas reproduz aquilo que aprenderam (ou não?) na escola média. Ou seja, eles chegam ao terceiro ciclo virtualmente ignorantes e semi-analfabetos, tendo passado impunes por anos e anos de deseducação escolar...
Em todo caso, aqui vão as últimas...
Perólas do Vestibular da PUC-Rio 2006
Redação:
1. Título de uma redação: Sobrevivência de um aborto vivo
2. O Brasil é um País abastardo com um futuro promissório parece que confusório e preocupatório também;
3. O maior matrimônio do País é a educação;
4. Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que aumenta;
5. Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola;
6. O bem star dos abtantes endependente de roça, religião, sexo e vegetarianos,está preocupan-do-nos;
7. É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento de muitas pessoas, de nível municipal, estadual e federal;
8. Também preoculpa o avanço regressivo da violência;
9. Resposta a uma pergunta: "Esta não cei".
História:
1. O Hino Nacional Francês se chama La Mayonèse...
2. Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado.
3. Entres os índios de América, destacam-se os aztecas, os incas, os maios, os pirineus, os phenícios, egipcios, facistas...
4. A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e Momentânea, esta, a dos nossos dias.
5. Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas.
6. No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram se sifilizando.
7.Então o governo precisou contratar oficiais para fortalecer o exército
da marinha.
8. No tempo colonial o Brasil só dependia do café e de outros produtos extremamente vegetarianos.
Geografia:
1. A capital de Portugal é Luiz Boa.
2. Geografia Humana estuda o homem em que vivemos.
3. O Brasil é um país muito aguado pela chuva, senão veja a Amazônia.
4. Na América do Norte tem mais de 100.000 Km de estradas de ferro cimentadas.
5. Oceano é onde nasce o Sol; onde ele nasce é o nascente, e onde desce, é o decente. 6. Na América Central há países como a República do Minicana.
7. A Terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo e suas constelações servem para esclarecer a noite.
8. As principais cidades da América do Norte são Argentina e estados Unidos.
9. Expansivas são as pessoas tangarelas.
10. O clima de São Paulo é assim: quando faz frio é inverno;Quando faz calor é verão; quando tem flores é primavera; quando tem frutas é outono e quando chove é inundação.
706) O proximo holocausto vai ser diferente...
Transcrição de um artigo de Benny Morris:
Este Holocausto será diferente
O segundo holocausto não será como o primeiro.
Os nazis industrializaram o massacre, claro. Mas, mesmo assim, eram obrigados a ter contacto com as vítimas. Antes de as matarem de forma efectiva, podem tê-las desumanizado nas suas mentes ao longo de meses e anos com recurso a humilhações terríveis, mas, mesmo assim, tinham com as suas vítimas um contacto visual e auditivo, e alguns mesmo táctil.
Os alemães, e os seus ajudantes não germânicos, tiveram de tirar de suas casas homens, mulheres e crianças; tiveram de os arrastar e de lhes bater pelas ruas e de os ceifar em bosques circundantes, ou empurrá-los para vagões de gado que comboios transportariam para campos, onde “o trabalho liberta”, separando os sãos dos completamente inúteis que colocavam sob “chuveiros”, matavam com gás e depois retiravam os corpos para a carrada que se seguia.
O segundo holocausto será bastante diferente. Numa radiante manhã, daqui a cinco ou dez anos, talvez durante uma crise regional, talvez sem qualquer motivo aparente, um dia ou um ano ou cinco anos após o Irão ter obtido a Bomba, os Mullahs de Qom reunirão numa sessão secreta, sob um retrato do Ayatollah Khomeini com olhar severo, e darão a luz verde ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, então no seu segundo ou terceiro mandato.
As ordens serão dadas e mísseis Shihab III e IV serão lançados contra Tel Aviv, Bersheva, Haifa e Jerusalém e provavelmente contra alvos militares, incluindo meia dúzia de bases aéreas israelitas e (alegadas) bases de mísseis nucleares. Alguns dos Shihab terão ogivas nucleares. Outros serão meros engodos, carregados com agentes químicos e biológicos, ou simplesmente com jornais velhos, destinados a confundir as bateiras antimísseis israelitas.
(...)
Continue a ler neste link.
Benny Morris é professor de História do Médio Oriente na Universidade Ben-Gurion e um dos mais marcantes representantes da esquerda académica israelita. Este ensaio foi publicado em Janeiro de 2007 no Jerusalem Post.
Retirado do blog de nuno Guerreiro Josué, "Rua da Judiaria"
Este Holocausto será diferente
O segundo holocausto não será como o primeiro.
Os nazis industrializaram o massacre, claro. Mas, mesmo assim, eram obrigados a ter contacto com as vítimas. Antes de as matarem de forma efectiva, podem tê-las desumanizado nas suas mentes ao longo de meses e anos com recurso a humilhações terríveis, mas, mesmo assim, tinham com as suas vítimas um contacto visual e auditivo, e alguns mesmo táctil.
Os alemães, e os seus ajudantes não germânicos, tiveram de tirar de suas casas homens, mulheres e crianças; tiveram de os arrastar e de lhes bater pelas ruas e de os ceifar em bosques circundantes, ou empurrá-los para vagões de gado que comboios transportariam para campos, onde “o trabalho liberta”, separando os sãos dos completamente inúteis que colocavam sob “chuveiros”, matavam com gás e depois retiravam os corpos para a carrada que se seguia.
O segundo holocausto será bastante diferente. Numa radiante manhã, daqui a cinco ou dez anos, talvez durante uma crise regional, talvez sem qualquer motivo aparente, um dia ou um ano ou cinco anos após o Irão ter obtido a Bomba, os Mullahs de Qom reunirão numa sessão secreta, sob um retrato do Ayatollah Khomeini com olhar severo, e darão a luz verde ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, então no seu segundo ou terceiro mandato.
As ordens serão dadas e mísseis Shihab III e IV serão lançados contra Tel Aviv, Bersheva, Haifa e Jerusalém e provavelmente contra alvos militares, incluindo meia dúzia de bases aéreas israelitas e (alegadas) bases de mísseis nucleares. Alguns dos Shihab terão ogivas nucleares. Outros serão meros engodos, carregados com agentes químicos e biológicos, ou simplesmente com jornais velhos, destinados a confundir as bateiras antimísseis israelitas.
(...)
Continue a ler neste link.
Benny Morris é professor de História do Médio Oriente na Universidade Ben-Gurion e um dos mais marcantes representantes da esquerda académica israelita. Este ensaio foi publicado em Janeiro de 2007 no Jerusalem Post.
Retirado do blog de nuno Guerreiro Josué, "Rua da Judiaria"
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
705) Livre-comercio e emprego: estudo OMC-OIT
A proposito da matéria transcrita abaixo sobre um estudo conjunto da OIT-OMC
Minhas considerações iniciais:
Dizer que o livre-comércio (ou a globalização para ficarmos no plano mais geral) não cria empregos é obviamente simplificar uma realidade complexa.
Liberalização comercial e de investimentos possuem o efeito mais notorio de DESLOCAR empregos, geograficamente e intersetorialmente, de acordo com o velho princípio ricardiano das vantagens comparativas, tao bem conhecido de todos os economistas.
Não ousaria dizer que nesse processo, o saldo obtido é neutro -- ou seja, sem criacao liquida de novos empregos -- porque criacao e destruicao de empregos nunca se dão nas mesmas condicoes iniciais: tecnologias novas ou velhas sao deslocadas de um canto a outro do planeta, ademais de insumos produtivos mais intangiveis como o know-how,por exemplo, sem que a combinacao seja a mesma numa ou noutra ponta do processo.
Como tecnologias e outros procedimentos produtivos são sempre, por definicao, poupadoras de mao-de-obra, é evidente que haverá um deslocamento de trabalho no curso do processo, ou seja, uma supressao, temporaria, setorial, localizada, de empregos numa ponta, e sua criacao numa outra ponta. Deve-se observar, em todo caso, que mesmo com a supressao de empregos NAQUELA atividade, outros empregos estao sempre sendo criados em outras atividades, seja a montante (concepção, design, engenharia), seja a jusante (manutencao, assistencia tecnica, servicos associados, acessorios, etc).
Em outros temos, como qualquer outro processo de mercado, comercio e investimentos estao sempre aproveitando de diversas formas os fatores de producao e nesse processo deslocamentos (criacao e destruicao) de empregos sao inevitaveis.
O que ainda nao se provou, contra a paranoia bem conhecida dos luddistas e anti-liberalizadores, é que isso provoca, no longo prazo e no plano global, uma diminuicao global de empregos. A humanidade sempre conheceu subemprego e desemprego e a supressao dessas inconveniencias depende e muito dos governos nacionais, das politicas setoriais, da capacitacao dos recursos humanos.
O que é certo é que os paises mais produtivos, os mais avancados, tendem a ter menores taxas de desemprego, NA AUSENCIA de politicas inibidoras da contratacao por motivacoes sindicais e corporativas.
Como se sabe, tambem, sindicatos sao maquinas de produzir desemprego, por que pretendem regular de modo estático um dos fatores de producao, o que na dinamica economica é virtualmente impossivel. O resultado pode ser desemprego...
Estas minhas consideracoes, sem ter lido ainda o relatório...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
20 de fevereiro de 2007
Agora a matéria de imprensa:
Livre comércio não cria empregos, conclui estudo
Relatório conjunto da OMC e da OIT não vê relação entre
a abertura comercial e a redução ou o aumento do desemprego
EFE, 20/02/2007
As organizações mundiais do Comércio (OMC) e do Trabalho (OIT) reconheceram ontem não ter dados suficientes para garantir que a liberalização do comércio cria empregos e defenderam políticas nacionais eficazes para cumprir esse objetivo. Os dois organismos com sede em Genebra divulgaram ontem um relatório conjunto no qual procuram aprofundar a complexa relação entre a liberalização do comércio e a geração de emprego.
“O sistema multilateral de comércio pode contribuir para o aumento do bem-estar mundial e promover melhores resultados no emprego, um desafio enfrentado por todos os países-membros” da OMC e da OIT, afirmam no relatório os dirigentes dos dois organismos, Pascal Lamy e Juan Somavía, respectivamente. De acordo com o documento, embora “existam vários estudos empíricos, não é possível depreender uma mensagem clara deles”.
Nas últimas duas décadas de intensificação do comércio mundial não houve uma grande melhoria ou deterioração do emprego. Assim, “a única conclusão justificada é que isso depende de fatores nacionais”, acrescenta o estudo. Alguns desses fatores seriam as políticas macroeconômicas e trabalhistas, os investimentos estrangeiros diretos (IED), as novas tecnologias e o comportamento dos trabalhadores quando procuram emprego.
“A globalização pode ser positiva para a maioria dos trabalhadores dos países industrializados e em desenvolvimento, sempre que sejam aplicadas as políticas econômicas adequadas. No entanto, pode não incluir todos e não é possível ignorar suas repercussões de caráter distributivo”, afirma o documento. Segundo o estudo, o aumento da demanda por mão-de-obra qualificada é outro aspecto da globalização que tende a aumentar as diferenças salariais entre os trabalhadores.
“A teoria clássica estabelece que o comércio entre países industrializados e em desenvolvimento aumenta essas diferenças salariais no mundo industrializado”, continua o relatório, apesar de os autores afirmarem que o principal motivo dessas discrepâncias são as mudanças tecnológicas.
No que se refere à estabilidade do emprego, o estudo reconhece que estão muito difundidas as idéias de que o aumento da competitividade, a redução de obstáculos ao comércio e a maior integração entre os mercados causam o aumento da terceirização, um ambiente de trabalho “mais turbulento” e, com isso, mais desemprego.
No entanto, “os dados não comprovam esta tese”, sendo apenas possível afirmar que “a turbulência não gera um mercado de trabalho mais instável, mas sim efeitos mais negativos no caso da perda de emprego”. As organizações reconhecem que “há razões para pensar que existe um conflito entre eficiência e proteção, que, no entanto, não seria muito grave caso fossem adotadas as políticas de proteção adequadas”.
A liberalização comercial “pode ter efeitos tanto positivos como negativos” e, por enquanto, “os dados empíricos são muito limitados”, segundo os analistas, que reconhecem a importância de a abertura dos mercados ser gradual e conter programas de ajuste concretos para potencializar os benefícios do processo.
“A necessidade de programas de ajuste é maior nos países em desenvolvimento do que nos industrializados, onde os mecanismos de proteção social, por exemplo sob a forma de agências de emprego, ajudam as pessoas atingidas pelo desemprego.”
No entanto, os organismos internacionais reconhecem que, nos países em desenvolvimento, os sistemas de proteção social de ampla cobertura “podem não ser viáveis a curto prazo”, e apostam em outros, de menor duração e dirigidos especificamente aos afetados pelas reformas comerciais liberalizantes.
WTO: 2007 NEWS ITEMS
19 February 2007
WTO AND OTHER ORGANIZATIONS
ILO and WTO Secretariat issue joint study on trade and employment
The International Labour Office and the WTO Secretariat, on 19 February 2007, issued “Trade and Employment: Challenges for Policy Research”. Director-General Pascal Lamy and ILO Director-General Juan Somavia, in their foreword to the study, said “the multilateral trading system has the potential to contribute to increasing global welfare and to promote better employment outcomes”.
Download for free
Minhas considerações iniciais:
Dizer que o livre-comércio (ou a globalização para ficarmos no plano mais geral) não cria empregos é obviamente simplificar uma realidade complexa.
Liberalização comercial e de investimentos possuem o efeito mais notorio de DESLOCAR empregos, geograficamente e intersetorialmente, de acordo com o velho princípio ricardiano das vantagens comparativas, tao bem conhecido de todos os economistas.
Não ousaria dizer que nesse processo, o saldo obtido é neutro -- ou seja, sem criacao liquida de novos empregos -- porque criacao e destruicao de empregos nunca se dão nas mesmas condicoes iniciais: tecnologias novas ou velhas sao deslocadas de um canto a outro do planeta, ademais de insumos produtivos mais intangiveis como o know-how,por exemplo, sem que a combinacao seja a mesma numa ou noutra ponta do processo.
Como tecnologias e outros procedimentos produtivos são sempre, por definicao, poupadoras de mao-de-obra, é evidente que haverá um deslocamento de trabalho no curso do processo, ou seja, uma supressao, temporaria, setorial, localizada, de empregos numa ponta, e sua criacao numa outra ponta. Deve-se observar, em todo caso, que mesmo com a supressao de empregos NAQUELA atividade, outros empregos estao sempre sendo criados em outras atividades, seja a montante (concepção, design, engenharia), seja a jusante (manutencao, assistencia tecnica, servicos associados, acessorios, etc).
Em outros temos, como qualquer outro processo de mercado, comercio e investimentos estao sempre aproveitando de diversas formas os fatores de producao e nesse processo deslocamentos (criacao e destruicao) de empregos sao inevitaveis.
O que ainda nao se provou, contra a paranoia bem conhecida dos luddistas e anti-liberalizadores, é que isso provoca, no longo prazo e no plano global, uma diminuicao global de empregos. A humanidade sempre conheceu subemprego e desemprego e a supressao dessas inconveniencias depende e muito dos governos nacionais, das politicas setoriais, da capacitacao dos recursos humanos.
O que é certo é que os paises mais produtivos, os mais avancados, tendem a ter menores taxas de desemprego, NA AUSENCIA de politicas inibidoras da contratacao por motivacoes sindicais e corporativas.
Como se sabe, tambem, sindicatos sao maquinas de produzir desemprego, por que pretendem regular de modo estático um dos fatores de producao, o que na dinamica economica é virtualmente impossivel. O resultado pode ser desemprego...
Estas minhas consideracoes, sem ter lido ainda o relatório...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
20 de fevereiro de 2007
Agora a matéria de imprensa:
Livre comércio não cria empregos, conclui estudo
Relatório conjunto da OMC e da OIT não vê relação entre
a abertura comercial e a redução ou o aumento do desemprego
EFE, 20/02/2007
As organizações mundiais do Comércio (OMC) e do Trabalho (OIT) reconheceram ontem não ter dados suficientes para garantir que a liberalização do comércio cria empregos e defenderam políticas nacionais eficazes para cumprir esse objetivo. Os dois organismos com sede em Genebra divulgaram ontem um relatório conjunto no qual procuram aprofundar a complexa relação entre a liberalização do comércio e a geração de emprego.
“O sistema multilateral de comércio pode contribuir para o aumento do bem-estar mundial e promover melhores resultados no emprego, um desafio enfrentado por todos os países-membros” da OMC e da OIT, afirmam no relatório os dirigentes dos dois organismos, Pascal Lamy e Juan Somavía, respectivamente. De acordo com o documento, embora “existam vários estudos empíricos, não é possível depreender uma mensagem clara deles”.
Nas últimas duas décadas de intensificação do comércio mundial não houve uma grande melhoria ou deterioração do emprego. Assim, “a única conclusão justificada é que isso depende de fatores nacionais”, acrescenta o estudo. Alguns desses fatores seriam as políticas macroeconômicas e trabalhistas, os investimentos estrangeiros diretos (IED), as novas tecnologias e o comportamento dos trabalhadores quando procuram emprego.
“A globalização pode ser positiva para a maioria dos trabalhadores dos países industrializados e em desenvolvimento, sempre que sejam aplicadas as políticas econômicas adequadas. No entanto, pode não incluir todos e não é possível ignorar suas repercussões de caráter distributivo”, afirma o documento. Segundo o estudo, o aumento da demanda por mão-de-obra qualificada é outro aspecto da globalização que tende a aumentar as diferenças salariais entre os trabalhadores.
“A teoria clássica estabelece que o comércio entre países industrializados e em desenvolvimento aumenta essas diferenças salariais no mundo industrializado”, continua o relatório, apesar de os autores afirmarem que o principal motivo dessas discrepâncias são as mudanças tecnológicas.
No que se refere à estabilidade do emprego, o estudo reconhece que estão muito difundidas as idéias de que o aumento da competitividade, a redução de obstáculos ao comércio e a maior integração entre os mercados causam o aumento da terceirização, um ambiente de trabalho “mais turbulento” e, com isso, mais desemprego.
No entanto, “os dados não comprovam esta tese”, sendo apenas possível afirmar que “a turbulência não gera um mercado de trabalho mais instável, mas sim efeitos mais negativos no caso da perda de emprego”. As organizações reconhecem que “há razões para pensar que existe um conflito entre eficiência e proteção, que, no entanto, não seria muito grave caso fossem adotadas as políticas de proteção adequadas”.
A liberalização comercial “pode ter efeitos tanto positivos como negativos” e, por enquanto, “os dados empíricos são muito limitados”, segundo os analistas, que reconhecem a importância de a abertura dos mercados ser gradual e conter programas de ajuste concretos para potencializar os benefícios do processo.
“A necessidade de programas de ajuste é maior nos países em desenvolvimento do que nos industrializados, onde os mecanismos de proteção social, por exemplo sob a forma de agências de emprego, ajudam as pessoas atingidas pelo desemprego.”
No entanto, os organismos internacionais reconhecem que, nos países em desenvolvimento, os sistemas de proteção social de ampla cobertura “podem não ser viáveis a curto prazo”, e apostam em outros, de menor duração e dirigidos especificamente aos afetados pelas reformas comerciais liberalizantes.
WTO: 2007 NEWS ITEMS
19 February 2007
WTO AND OTHER ORGANIZATIONS
ILO and WTO Secretariat issue joint study on trade and employment
The International Labour Office and the WTO Secretariat, on 19 February 2007, issued “Trade and Employment: Challenges for Policy Research”. Director-General Pascal Lamy and ILO Director-General Juan Somavia, in their foreword to the study, said “the multilateral trading system has the potential to contribute to increasing global welfare and to promote better employment outcomes”.
Download for free
domingo, 18 de fevereiro de 2007
704) A politização do Itamaraty (Editorial OESP)
A politização do Itamaraty
Editorial de O Estado de São Paulo, Domingo, 18 de fevereiro de 2007, p. A3.
O chanceler Celso Amorim é diplomata experiente e negociador hábil. Não surpreenderia, portanto, se após a leitura da entrevista publicada no Estado de domingo passado alguns leitores tivessem ficado com a impressão de que ele contestou ponto por ponto as críticas à política externa e à conduta administrativa do Itamaraty feitas pelo embaixador Roberto Abdenur, em entrevista à Veja. O embaixador Amorim não respondeu diretamente às perguntas que lhe foram feitas pelo jornalista Expedito Filho, tangenciando os assuntos e montando silogismos. 'O que se viu foi, novamente, a prática da dissimulação, típica do ministro', diagnosticou o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, que aproveitou para explicar que o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos é bom não porque não exista antiamericanismo na cúpula do Itamaraty, como sustenta o ministro Celso Amorim, mas porque 'há uma força inercial favorável a isso, que inclui a densidade comercial', e porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribui pessoalmente para a existência de um bom clima entre os dois países. Os presidentes Lula e George W. Bush, como se sabe, têm um bom e cordial relacionamento pessoal.
A entrevista de domingo mostra com clareza o método empregado pelo ministro das Relações Exteriores. Até as pedras sabem que o Itamaraty fez o possível para levar as negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ao impasse e, depois, ao fracasso. O presidente Lula tem apresentado, em seus discursos, essa façanha como uma das mais significativas vitórias de seu governo. Pois perguntado por que o Brasil não se empenhou na consolidação da Alca, o chanceler respondeu: 'O Brasil se empenhou. Fui a Miami e fechei um acordo que chegou a ser 98% costurado. Depois os fundamentalistas começaram a descosturar.' Quem são esses fundamentalistas capazes de levar ao fracasso uma negociação entre 34 países? 'Não sei quem são os fundamentalistas, se são os da direita ou os da esquerda.'
E, com isso, não apenas se desfaz qualquer ranço de antiamericanismo - ou, pior, de complexo de inferioridade que impede um relacionamento altaneiro e produtivo com a superpotência -, como se transfere para desconhecidos 'fundamentalistas' a responsabilidade pelo fracasso da integração do Hemisfério.
Alega o chanceler que a prova da inexistência de antiamericanismo em sua administração é o fato de os EUA demonstrarem 'um interesse tão grande' pelo Brasil. Ora, dado o relacionamento tradicionalmente bom entre os dois países e os interesses comerciais comuns, solidificados por maciços investimentos feitos pela iniciativa privada, lá e cá, só uma política abertamente hostil justificaria atitude diferente de Washington. Mas o antiamericanismo itamaratiano não é grosseiro; é sutil. Como observa o ex-chanceler Mário Gibson Barbosa em artigo publicado no Jornal do Brasil, trata-se de 'um antiamericanismo de viés nitidamente ideológico que contamina nossa atuação internacional, amarrando-nos cada vez mais a posições que não representam o interesse nacional. Muitas vezes nos levam a atitudes e solidariedades desnecessárias, para não dizer prejudiciais'.
Também preocupa o embaixador Gibson Barbosa o engajamento ideológico e partidário - a 'entusiástica adesão política ao petismo e ao atual governo' - que tem sido exigido dos diplomatas 'para que possam obter promoção ou os melhores postos no exterior'. Chanceler no governo Médici, Gibson Barbosa conduziu o processo de aproximação do Brasil dos países da África, numa época conturbada pelos conflitos da guerra fria. Mas isso não o transformou em ideólogo ou áulico do regime militar, pois entende que 'a atividade diplomática é exercida por uma carreira de Estado, cujos profissionais respeitam o governo de turno, mas não servem a este e sim à Nação, que, ao contrário do governo, é permanente'.
Ex-chanceleres e diplomatas de renome que deixaram o serviço ativo não têm poupado a atual gestão do Itamaraty. Um ou outro faz críticas pontuais à política externa petista. Mas não é esse o ponto de união entre eles. O que os liga é a preocupação com o processo de politização a que a Casa de Rio Branco está sendo submetida há mais de quatro anos. A imposição da 'ideologia unificada' acaba por transformar profissionais a serviço do Estado em simples áulicos do governo. O Barão do Rio Branco, um monarquista ferrenho que serviu fielmente à República, jamais permitiria isso.
Editorial de O Estado de São Paulo, Domingo, 18 de fevereiro de 2007, p. A3.
O chanceler Celso Amorim é diplomata experiente e negociador hábil. Não surpreenderia, portanto, se após a leitura da entrevista publicada no Estado de domingo passado alguns leitores tivessem ficado com a impressão de que ele contestou ponto por ponto as críticas à política externa e à conduta administrativa do Itamaraty feitas pelo embaixador Roberto Abdenur, em entrevista à Veja. O embaixador Amorim não respondeu diretamente às perguntas que lhe foram feitas pelo jornalista Expedito Filho, tangenciando os assuntos e montando silogismos. 'O que se viu foi, novamente, a prática da dissimulação, típica do ministro', diagnosticou o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, que aproveitou para explicar que o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos é bom não porque não exista antiamericanismo na cúpula do Itamaraty, como sustenta o ministro Celso Amorim, mas porque 'há uma força inercial favorável a isso, que inclui a densidade comercial', e porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribui pessoalmente para a existência de um bom clima entre os dois países. Os presidentes Lula e George W. Bush, como se sabe, têm um bom e cordial relacionamento pessoal.
A entrevista de domingo mostra com clareza o método empregado pelo ministro das Relações Exteriores. Até as pedras sabem que o Itamaraty fez o possível para levar as negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ao impasse e, depois, ao fracasso. O presidente Lula tem apresentado, em seus discursos, essa façanha como uma das mais significativas vitórias de seu governo. Pois perguntado por que o Brasil não se empenhou na consolidação da Alca, o chanceler respondeu: 'O Brasil se empenhou. Fui a Miami e fechei um acordo que chegou a ser 98% costurado. Depois os fundamentalistas começaram a descosturar.' Quem são esses fundamentalistas capazes de levar ao fracasso uma negociação entre 34 países? 'Não sei quem são os fundamentalistas, se são os da direita ou os da esquerda.'
E, com isso, não apenas se desfaz qualquer ranço de antiamericanismo - ou, pior, de complexo de inferioridade que impede um relacionamento altaneiro e produtivo com a superpotência -, como se transfere para desconhecidos 'fundamentalistas' a responsabilidade pelo fracasso da integração do Hemisfério.
Alega o chanceler que a prova da inexistência de antiamericanismo em sua administração é o fato de os EUA demonstrarem 'um interesse tão grande' pelo Brasil. Ora, dado o relacionamento tradicionalmente bom entre os dois países e os interesses comerciais comuns, solidificados por maciços investimentos feitos pela iniciativa privada, lá e cá, só uma política abertamente hostil justificaria atitude diferente de Washington. Mas o antiamericanismo itamaratiano não é grosseiro; é sutil. Como observa o ex-chanceler Mário Gibson Barbosa em artigo publicado no Jornal do Brasil, trata-se de 'um antiamericanismo de viés nitidamente ideológico que contamina nossa atuação internacional, amarrando-nos cada vez mais a posições que não representam o interesse nacional. Muitas vezes nos levam a atitudes e solidariedades desnecessárias, para não dizer prejudiciais'.
Também preocupa o embaixador Gibson Barbosa o engajamento ideológico e partidário - a 'entusiástica adesão política ao petismo e ao atual governo' - que tem sido exigido dos diplomatas 'para que possam obter promoção ou os melhores postos no exterior'. Chanceler no governo Médici, Gibson Barbosa conduziu o processo de aproximação do Brasil dos países da África, numa época conturbada pelos conflitos da guerra fria. Mas isso não o transformou em ideólogo ou áulico do regime militar, pois entende que 'a atividade diplomática é exercida por uma carreira de Estado, cujos profissionais respeitam o governo de turno, mas não servem a este e sim à Nação, que, ao contrário do governo, é permanente'.
Ex-chanceleres e diplomatas de renome que deixaram o serviço ativo não têm poupado a atual gestão do Itamaraty. Um ou outro faz críticas pontuais à política externa petista. Mas não é esse o ponto de união entre eles. O que os liga é a preocupação com o processo de politização a que a Casa de Rio Branco está sendo submetida há mais de quatro anos. A imposição da 'ideologia unificada' acaba por transformar profissionais a serviço do Estado em simples áulicos do governo. O Barão do Rio Branco, um monarquista ferrenho que serviu fielmente à República, jamais permitiria isso.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
703) Back to the Future...
Três anos atrás eu fazia um pequeno exercício de "astrologia diplomática", apenas para me divertir. Não sei exatamente se acertei mais do que errei, ou o contrário. Não importa. A intenção era meramente um exercício espiritual, um divertissement...
Em todo caso, pode-se conferir para ver se são necessárias atualizações de conteúdo, ou apenas de forma, isto é, cronológicas...
Astrologia diplomática
Especulações sobre a política internacional em 2004 (e além)
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Todo fim de ano é a mesma história: os jornais e revistas trazem aquelas previsões dos astrólogos para o começo do próximo ano, e tome promessa de catástrofes, mortes, assassinatos, traições, acidentes terríveis e outras pragas anunciadas previamente. O problema, atualmente, é que esses “astrólogos de carteirinha” já não se contentam mais com o menu habitual dos ricos e famosos, dos artistas de Hollywood (ou de novela) e um ou outro político. Não: eles já deixaram a seara das catástrofes naturais, dos acidentes de avião e das mortes das vedetes, para enveredar pelos arcanos da alta política e da política econômica oficial. Eles se profissionalizaram e se especializaram, como convém a toda economia moderna funcionando a plena carga da divisão social do trabalho (Durkheim que me perdõe, mas os astrólogos contribuem para reduzir o grau de “anomia” social).
Deve ter gente que coleciona as previsões mais picantes para conferir até o final do ano, mas confesso que eu sempre perco os recortes no meio do caminho. Quando a pilha geológica dos meus materiais “para ler depois” deixa o pré-cambriano de janeiro para o jurássico de maio a memória enfraquece; quando chega então no pleistoceno de novembro, já não há jeito de encontrar mais nada: tudo está soterrado e será descartado na próxima mudança.
Por isso, desta vez resolvi fazer diferente: vou criar minhas próprias previsões, num terreno que é o meu, obviamente, pois que eu não tenho permissão do sindicato dos astrólogos para invadir sua reserva de mercado e fazer previsões estapafúrdias sobre os temas que lhes são caros. Vou ficar na minha própria selva, que é muito mais complicada do que o mundo de Hollywood e dos cenários de novelas, e vou fazer mais: vou deixar minha lista afichada na minha página (www.pralmeida.org) o ano inteiro, mas sem qualquer garantia de satisfação ou seu dinheiro de volta. Fica valendo apenas como exercício de imaginação criadora, num mundo que se repete a cada ano.
Aqui está, portanto, minha astrologia diplomática para o ano de 2004 (e além), com a ressalva de que eu não consultei as entranhas de nenhum animal, não tracei mapas astrais de nenhum líder da política mundial, não segui o curso zodiacal de países ou organizações. Tudo é resultado da mais pura e anárquica especulação, sem compromisso de cumprimento. Como se trata da primeira tentativa, a margem de erro supera 60%, mas prometo melhorar o grau de acerto antes do Brasil ingressar no Conselho de Segurança, o que deve me dar uns vinte anos de aperfeiçoamento. Sem mais delongas, eis minha lista:
ONU:
Enfrentará uma nova crise financeira em 2004 e não terá recursos para mais de duas missões de paz e meia. Convocará uma conferência de chefes de Estado para discutir o problema da fome e das epidemias que atingem os países mais pobres: todos prometerão ajudar e o mundo continuará igual ao que sempre foi. Haverá discussões (intermináveis) sobre a reforma da Carta e a ampliação do Conselho de Segurança, sem conclusões firmes, porém. Aprovará um sem número de resoluções para resolver os mais variados problemas da humanidade: metade delas terá os Estados Unidos como único opositor (por vezes acompanhados de Israel e do Reino Unido). O Brasil abrirá o debate anual na Assembléia Geral, com um discurso no qual defenderá o multilateralismo.
Império:
Aprofundará o seu comportamento imperial, mas com algumas sutilezas, em um ano eleitoral. Continuará a não ligar para o mundo, mas fará de conta que está realmente interessado na paz e na cooperação internacionais. Continuará caçando terroristas durante o ano e alternando os alarmes amarelo e laranja. Vai legalizar imigrantes ilegais, mas um número ainda maior de candidatos passará a demandar fronteiras muito mais vigiadas. Algumas centenas de brasileiros serão deportados, gentilmente, e outros milhares continuarão tentando entrar, de forma pouco gentil. O presidente republicano será reeleito, ou então tomará seu lugar um candidato democrata. O Congresso confirmará que deseja a Alca mas que não pretende fazer nenhum esforço para abrir suas fronteiras agrícolas ou desmantelar os protecionismos setoriais. Aumentará a exportação de enlatados de Hollywood e a importação de cérebros do resto do mundo.
Europa:
Continuará tendo problemas de formação de maiorias para decidir a introdução do décimo-quinto tratado de reforço de uma união cada vez mais estreita entre seus povos, desta vez em número de 45 (contando as minorias), o que deve dar algo como 82 traduções cruzadas na Comissão, inclusive do grego para o finlandês e do sueco para o esloveno. Suas famílias continuarão não fazendo filhos, e por isso recorrerão aos imigrantes para manter a oferta de mão-de-obra barata. Continuarão enchendo a paciência do resto do mundo para que este reconheça exclusividade de apelações de origem (em queijos, bebidas e outras especialidades) que eles mesmos exportaram para o resto do mundo, com os seus emigrantes, cem anos atrás. Continuarão a manter vacas com contas em banco, porcos com talão de cheques e agricultores com cartões de crédito da própria Comissão, esperando que agricultores do Terceiro Mundo se contentem com algumas migalhas que vão jogar pela janela. Ainda assim, será um ótimo lugar para se fazer turismo cultural e gastronômico.
África:
Terá cessado duas guerras, mas começado outras três, com combatentes cada vez mais jovens (alguns empunharão a AK-47 com uma mão e a mamadeira com a outra). A entrada de recursos públicos para combater a Aids será compensada pela exportação de capitais privatizados para aumentar contas nos bancos off shore. Continuará fornecendo candidatos à imigração nos países europeus. Trapaceiros nigerianos continuarão enviando milhões de mensagens eletrônicas para confirmar que o tio ex-presidente ou o ministro da construção desejam lhe tranferir 25% do seu patrimônio desde que você consinta em lhes passar o número de sua conta em banco: será a contribuição africana para resolver em parte o problema da má distribuição de renda no mundo.
Brasil:
Apesar da reforma ministerial, a imprensa continuará especulando sobre a entrada de novos ministros na equipe de assessores do presidente. Também se discutirá muito o crescimento da economia, o aumento da oferta de empregos, a reforma trabalhista, a política e a crise das universidades, a redução dos impostos e o aumento das prestações sociais, bem como dos investimentos do governo em obras de infraestrutura. Haverá troca-troca partidário logo depois das eleições municipais e nova mudança de regras para as eleições de 2006. A próxima novela do horário nobre se espelhará na vida política do País, o que fará, pela primeira vez na história, decrescer o nível de audiência desse tipo de programa. Os discursos ainda serão superiores ao número de medidas-provisórias, com previsão de equilíbrio em 2005. Continuará em seu esforço para ingressar no Conselho de Segurança e para liderar a América do Sul, com progressos sensíveis nas duas frentes.
Mercosul:
A união aduaneira se reforçará, mas antes haverá um curto estágio de cinco anos por um espaço de preferências tarifárias e mais três numa zona de livre comércio. Sua expansão recomendará reuniões de cúpula de dois dias, para dar tempo a todos os discursos, mas a Secretária Administrativa comprará um avião próprio para seguir todas as reuniões de todos os subgrupos técnicos do mercado comum (em preparação). O grupo de educação começará a redação de um manual de portunhol e a própria Secretária Administrativa de um Mercosur for beginners ou de um Idiot’s Guide to Mercosur.
Anti-globalizadores:
Continuarão com suas ruidosas reuniões, mas cada vez mais globalizadas e mais capitalizadas. Com isso conseguirão prolongar a vida útil do Fórum de Davos, que já vinha cansando empresários e acadêmicos. Também estimularão o turismo alternativo, as edições alternativas e os discursos alternativos, criando uma pujante economia de iniciativas anti-globalização que conseguirá, finalmente, salvar o capitalismo de sua atual fase de estagnação econômica e de baixo crescimento. Serão lançados derivativos financeiros do Fórum Social Mundial, para os que desejam aplicações alternativas, com dinheiro não contaminado pelo desejo de lucro e pelo vício da exploração do homem pelo homem. Serão os únicos fluxos financeiros a recolher a Tobin Tax, num esquema administrado pela ONU, que vai reverter em benefício de organizações alternativas do Terceiro Mundo, isto é, para eles mesmos.
Comércio internacional:
Continuará sendo uma guerra por outros meios, ou continuará tendo mais a ver com a política do que com a economia. As vantagens comparativas ricardianas terão uma nova interpretação, patrocinada pela Comissão Européia e pelo Congresso americano, que tentarão modificar simultaneamente todos os livros textos de economia. Seus autores se refugiarão numa ilha deserta, reproduzindo a simulação do Robinson Crusoé que figura nesses livros textos, como exemplo de economia fechada e sem trocas. A despeito disso, as trocas se farão cada vez mais entre multinacionais, que serão em sua maioria ocidentais intercambiando produtos chineses. Indianos também vão começar a exportar uma parte de sua mão-de-obra para a Rússia, que padece de demografia declinante. Haverá dumping de ministros social-democratas, numa primeira antecipação da aplicação da cláusula social em escala universal.
Meio Ambiente:
Cada vez mais protegido, por discursos, de dirigentes políticos, e na prática, por barcos e aviões armados de radares e mísseis das organizações não-governamentais mais agressivas. Povos indígenas, por sua vez, contarão com dirigíveis nao-poluentes para supervisionar suas explorações minerais e agrícolas (sustentáveis). Técnicas de clonagem ressuscitarão espécies desaparecidas, mas as ONGs ecológicas alertarão para os desequilíbrios para o meio ambiente do século 21, não acostumado com predadores do passado. Desaparecerá a agricultura tradicional e os supermercados serão divididos em seções de transgênicos e de orgânicos, com filas separadas nos caixas para evitar contaminação recíproca.
Direitos Humanos:
Serão inclusivos, com os aspectos psicológicos contemplados em nova convenção da ONU. Animais clonados também serão incluídos na categoria. O direito à democracia derrubará o último ditador asiático, mas uma ilha do Caribe continuará resistindo aos ditames do Império. Todos os habitantes do planeta terão direito a uma renda mínima, cujo programa será universalizado graças aos esforços de um senador brasileiro, e a ONU supervisionará sua aplicação até o ano de 2075, quando se espera que o último pobre poderá adquirir uma bicicleta chinesa movida a hidrogênio.
Astrólogos diplomáticos:
Serão uma categoria reconhecida e cada vez mais disseminada, antes mesmo da formalização da profissão de “internacionalista”. Terão seu próprio sindicato e sua colônia de férias e farão congressos anuais para trocar previsões sobre os países em que vivem. O mundo será muito mais divertido e feliz com eles, pois eles poderão abolir completamente as guerras e as epidemias de suas previsões, aproveitando para abater o preço dos manufaturados e para elevar os das commodities. Ou não?
A conferir no começo de 2005.
Paulo Roberto de Almeida (Brasília: 1176, 11 de janeiro de 2004).
Em todo caso, pode-se conferir para ver se são necessárias atualizações de conteúdo, ou apenas de forma, isto é, cronológicas...
Astrologia diplomática
Especulações sobre a política internacional em 2004 (e além)
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Todo fim de ano é a mesma história: os jornais e revistas trazem aquelas previsões dos astrólogos para o começo do próximo ano, e tome promessa de catástrofes, mortes, assassinatos, traições, acidentes terríveis e outras pragas anunciadas previamente. O problema, atualmente, é que esses “astrólogos de carteirinha” já não se contentam mais com o menu habitual dos ricos e famosos, dos artistas de Hollywood (ou de novela) e um ou outro político. Não: eles já deixaram a seara das catástrofes naturais, dos acidentes de avião e das mortes das vedetes, para enveredar pelos arcanos da alta política e da política econômica oficial. Eles se profissionalizaram e se especializaram, como convém a toda economia moderna funcionando a plena carga da divisão social do trabalho (Durkheim que me perdõe, mas os astrólogos contribuem para reduzir o grau de “anomia” social).
Deve ter gente que coleciona as previsões mais picantes para conferir até o final do ano, mas confesso que eu sempre perco os recortes no meio do caminho. Quando a pilha geológica dos meus materiais “para ler depois” deixa o pré-cambriano de janeiro para o jurássico de maio a memória enfraquece; quando chega então no pleistoceno de novembro, já não há jeito de encontrar mais nada: tudo está soterrado e será descartado na próxima mudança.
Por isso, desta vez resolvi fazer diferente: vou criar minhas próprias previsões, num terreno que é o meu, obviamente, pois que eu não tenho permissão do sindicato dos astrólogos para invadir sua reserva de mercado e fazer previsões estapafúrdias sobre os temas que lhes são caros. Vou ficar na minha própria selva, que é muito mais complicada do que o mundo de Hollywood e dos cenários de novelas, e vou fazer mais: vou deixar minha lista afichada na minha página (www.pralmeida.org) o ano inteiro, mas sem qualquer garantia de satisfação ou seu dinheiro de volta. Fica valendo apenas como exercício de imaginação criadora, num mundo que se repete a cada ano.
Aqui está, portanto, minha astrologia diplomática para o ano de 2004 (e além), com a ressalva de que eu não consultei as entranhas de nenhum animal, não tracei mapas astrais de nenhum líder da política mundial, não segui o curso zodiacal de países ou organizações. Tudo é resultado da mais pura e anárquica especulação, sem compromisso de cumprimento. Como se trata da primeira tentativa, a margem de erro supera 60%, mas prometo melhorar o grau de acerto antes do Brasil ingressar no Conselho de Segurança, o que deve me dar uns vinte anos de aperfeiçoamento. Sem mais delongas, eis minha lista:
ONU:
Enfrentará uma nova crise financeira em 2004 e não terá recursos para mais de duas missões de paz e meia. Convocará uma conferência de chefes de Estado para discutir o problema da fome e das epidemias que atingem os países mais pobres: todos prometerão ajudar e o mundo continuará igual ao que sempre foi. Haverá discussões (intermináveis) sobre a reforma da Carta e a ampliação do Conselho de Segurança, sem conclusões firmes, porém. Aprovará um sem número de resoluções para resolver os mais variados problemas da humanidade: metade delas terá os Estados Unidos como único opositor (por vezes acompanhados de Israel e do Reino Unido). O Brasil abrirá o debate anual na Assembléia Geral, com um discurso no qual defenderá o multilateralismo.
Império:
Aprofundará o seu comportamento imperial, mas com algumas sutilezas, em um ano eleitoral. Continuará a não ligar para o mundo, mas fará de conta que está realmente interessado na paz e na cooperação internacionais. Continuará caçando terroristas durante o ano e alternando os alarmes amarelo e laranja. Vai legalizar imigrantes ilegais, mas um número ainda maior de candidatos passará a demandar fronteiras muito mais vigiadas. Algumas centenas de brasileiros serão deportados, gentilmente, e outros milhares continuarão tentando entrar, de forma pouco gentil. O presidente republicano será reeleito, ou então tomará seu lugar um candidato democrata. O Congresso confirmará que deseja a Alca mas que não pretende fazer nenhum esforço para abrir suas fronteiras agrícolas ou desmantelar os protecionismos setoriais. Aumentará a exportação de enlatados de Hollywood e a importação de cérebros do resto do mundo.
Europa:
Continuará tendo problemas de formação de maiorias para decidir a introdução do décimo-quinto tratado de reforço de uma união cada vez mais estreita entre seus povos, desta vez em número de 45 (contando as minorias), o que deve dar algo como 82 traduções cruzadas na Comissão, inclusive do grego para o finlandês e do sueco para o esloveno. Suas famílias continuarão não fazendo filhos, e por isso recorrerão aos imigrantes para manter a oferta de mão-de-obra barata. Continuarão enchendo a paciência do resto do mundo para que este reconheça exclusividade de apelações de origem (em queijos, bebidas e outras especialidades) que eles mesmos exportaram para o resto do mundo, com os seus emigrantes, cem anos atrás. Continuarão a manter vacas com contas em banco, porcos com talão de cheques e agricultores com cartões de crédito da própria Comissão, esperando que agricultores do Terceiro Mundo se contentem com algumas migalhas que vão jogar pela janela. Ainda assim, será um ótimo lugar para se fazer turismo cultural e gastronômico.
África:
Terá cessado duas guerras, mas começado outras três, com combatentes cada vez mais jovens (alguns empunharão a AK-47 com uma mão e a mamadeira com a outra). A entrada de recursos públicos para combater a Aids será compensada pela exportação de capitais privatizados para aumentar contas nos bancos off shore. Continuará fornecendo candidatos à imigração nos países europeus. Trapaceiros nigerianos continuarão enviando milhões de mensagens eletrônicas para confirmar que o tio ex-presidente ou o ministro da construção desejam lhe tranferir 25% do seu patrimônio desde que você consinta em lhes passar o número de sua conta em banco: será a contribuição africana para resolver em parte o problema da má distribuição de renda no mundo.
Brasil:
Apesar da reforma ministerial, a imprensa continuará especulando sobre a entrada de novos ministros na equipe de assessores do presidente. Também se discutirá muito o crescimento da economia, o aumento da oferta de empregos, a reforma trabalhista, a política e a crise das universidades, a redução dos impostos e o aumento das prestações sociais, bem como dos investimentos do governo em obras de infraestrutura. Haverá troca-troca partidário logo depois das eleições municipais e nova mudança de regras para as eleições de 2006. A próxima novela do horário nobre se espelhará na vida política do País, o que fará, pela primeira vez na história, decrescer o nível de audiência desse tipo de programa. Os discursos ainda serão superiores ao número de medidas-provisórias, com previsão de equilíbrio em 2005. Continuará em seu esforço para ingressar no Conselho de Segurança e para liderar a América do Sul, com progressos sensíveis nas duas frentes.
Mercosul:
A união aduaneira se reforçará, mas antes haverá um curto estágio de cinco anos por um espaço de preferências tarifárias e mais três numa zona de livre comércio. Sua expansão recomendará reuniões de cúpula de dois dias, para dar tempo a todos os discursos, mas a Secretária Administrativa comprará um avião próprio para seguir todas as reuniões de todos os subgrupos técnicos do mercado comum (em preparação). O grupo de educação começará a redação de um manual de portunhol e a própria Secretária Administrativa de um Mercosur for beginners ou de um Idiot’s Guide to Mercosur.
Anti-globalizadores:
Continuarão com suas ruidosas reuniões, mas cada vez mais globalizadas e mais capitalizadas. Com isso conseguirão prolongar a vida útil do Fórum de Davos, que já vinha cansando empresários e acadêmicos. Também estimularão o turismo alternativo, as edições alternativas e os discursos alternativos, criando uma pujante economia de iniciativas anti-globalização que conseguirá, finalmente, salvar o capitalismo de sua atual fase de estagnação econômica e de baixo crescimento. Serão lançados derivativos financeiros do Fórum Social Mundial, para os que desejam aplicações alternativas, com dinheiro não contaminado pelo desejo de lucro e pelo vício da exploração do homem pelo homem. Serão os únicos fluxos financeiros a recolher a Tobin Tax, num esquema administrado pela ONU, que vai reverter em benefício de organizações alternativas do Terceiro Mundo, isto é, para eles mesmos.
Comércio internacional:
Continuará sendo uma guerra por outros meios, ou continuará tendo mais a ver com a política do que com a economia. As vantagens comparativas ricardianas terão uma nova interpretação, patrocinada pela Comissão Européia e pelo Congresso americano, que tentarão modificar simultaneamente todos os livros textos de economia. Seus autores se refugiarão numa ilha deserta, reproduzindo a simulação do Robinson Crusoé que figura nesses livros textos, como exemplo de economia fechada e sem trocas. A despeito disso, as trocas se farão cada vez mais entre multinacionais, que serão em sua maioria ocidentais intercambiando produtos chineses. Indianos também vão começar a exportar uma parte de sua mão-de-obra para a Rússia, que padece de demografia declinante. Haverá dumping de ministros social-democratas, numa primeira antecipação da aplicação da cláusula social em escala universal.
Meio Ambiente:
Cada vez mais protegido, por discursos, de dirigentes políticos, e na prática, por barcos e aviões armados de radares e mísseis das organizações não-governamentais mais agressivas. Povos indígenas, por sua vez, contarão com dirigíveis nao-poluentes para supervisionar suas explorações minerais e agrícolas (sustentáveis). Técnicas de clonagem ressuscitarão espécies desaparecidas, mas as ONGs ecológicas alertarão para os desequilíbrios para o meio ambiente do século 21, não acostumado com predadores do passado. Desaparecerá a agricultura tradicional e os supermercados serão divididos em seções de transgênicos e de orgânicos, com filas separadas nos caixas para evitar contaminação recíproca.
Direitos Humanos:
Serão inclusivos, com os aspectos psicológicos contemplados em nova convenção da ONU. Animais clonados também serão incluídos na categoria. O direito à democracia derrubará o último ditador asiático, mas uma ilha do Caribe continuará resistindo aos ditames do Império. Todos os habitantes do planeta terão direito a uma renda mínima, cujo programa será universalizado graças aos esforços de um senador brasileiro, e a ONU supervisionará sua aplicação até o ano de 2075, quando se espera que o último pobre poderá adquirir uma bicicleta chinesa movida a hidrogênio.
Astrólogos diplomáticos:
Serão uma categoria reconhecida e cada vez mais disseminada, antes mesmo da formalização da profissão de “internacionalista”. Terão seu próprio sindicato e sua colônia de férias e farão congressos anuais para trocar previsões sobre os países em que vivem. O mundo será muito mais divertido e feliz com eles, pois eles poderão abolir completamente as guerras e as epidemias de suas previsões, aproveitando para abater o preço dos manufaturados e para elevar os das commodities. Ou não?
A conferir no começo de 2005.
Paulo Roberto de Almeida (Brasília: 1176, 11 de janeiro de 2004).
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
702) Pausa para humor...
Aprendendo a ler em polones, no exame de vista...
Um imigrante polonês está fazendo exame de vista para obter carteira de motorista. O examinador lhe mostra um quadro com as seguintes letras:
C Z J W I N O S T A C Z
O examinador pergunta:
- Você consegue ler isso?
E o polonês:
- Ler?! Eu conheço esse cara!
Frio Relativo
30º C ou mais:
-Baianos vão a praia, dançam, cantam e comem acarajé
-Cariocas vão a praia e jogam futebol
-Mineiros comem um "queijin" na sombra
-Todos os paulistas estão no litoral e enfrentam 2 horas de fila nas padarias e supermercados da região
-Curitibanos esgotam os estoques de protetor solar e isotônicos da cidade
25ºC:
-Baianos não deixam os filhos sairem ao vento após as 17 horas
-Cariocas vão à praia mas não entram na água
-Mineiros comem um feijão tropeiro
-Paulistas fazem churrasco nas suas casas do litoral, poucos ainda entram na água
-Curitibanos reclamam do calor e não fazem esforço devido esgotamento físico
20ºC:
-Baianos mudam os chuveiros para a posição "Inverno" e ligam o ar quente das casas e veículos
-Cariocas vestem um moletom
-Mineiros bebem pinga perto do fogão a lenha
-Paulistas decidem deixar o litoral, começa o trânsito de volta para casa
-Curitibanos tomam sol no parque
15ºC:
-Baianos tremem incontrolavelmente de frio
-Cariocas se reúnem para comer fondue de queijo
-Mineiros continuam bebendo pinga perto do fogão a lenha
-Paulistas ainda estão presos nos congestionamentos na volta do litoral
-Curitibanos dirigem com os vidros abaixados
10ºC:
-Decretado estado de calamidade na Bahia
-Cariocas usam sobretudo, cuecas de lã, luvas e toucas
-Mineiros continuam bebendo pinga e colocam mais lenha no fogão
-Paulistas vão a pizzarias e shopping centers com a família
-Curitibanos botam uma camisa de manga comprida.
5ºC:
-Bahia entra no armagedon.
-César Maia lança a candidatura do Rio para as olimpíadas de inverno.
-Mineiros continuam bebendo pinga e quentão ao lado do fogão a lenha.
-Paulistas lotam hospitais e clínicas devido doenças causadas pela inversão térmica
-Curitibanos fecham as janelas de casa.
0ºC:
-Não existe mais vida na Bahia.
-No Rio, César Maia veste 7 casacos e lança o "Ixxnoubórdi in Rio".
-Mineiros entram em coma alcoólico ao lado do fogão a lenha.
-Paulistas não saem de casa e dão altos índices de audiência a Gilberto Barros, Gugu Liberato, Luciana Gimenes e Silvio Santos
-Curitibanos fazem um churrasco no pátio... antes que esfrie.
Um imigrante polonês está fazendo exame de vista para obter carteira de motorista. O examinador lhe mostra um quadro com as seguintes letras:
C Z J W I N O S T A C Z
O examinador pergunta:
- Você consegue ler isso?
E o polonês:
- Ler?! Eu conheço esse cara!
Frio Relativo
30º C ou mais:
-Baianos vão a praia, dançam, cantam e comem acarajé
-Cariocas vão a praia e jogam futebol
-Mineiros comem um "queijin" na sombra
-Todos os paulistas estão no litoral e enfrentam 2 horas de fila nas padarias e supermercados da região
-Curitibanos esgotam os estoques de protetor solar e isotônicos da cidade
25ºC:
-Baianos não deixam os filhos sairem ao vento após as 17 horas
-Cariocas vão à praia mas não entram na água
-Mineiros comem um feijão tropeiro
-Paulistas fazem churrasco nas suas casas do litoral, poucos ainda entram na água
-Curitibanos reclamam do calor e não fazem esforço devido esgotamento físico
20ºC:
-Baianos mudam os chuveiros para a posição "Inverno" e ligam o ar quente das casas e veículos
-Cariocas vestem um moletom
-Mineiros bebem pinga perto do fogão a lenha
-Paulistas decidem deixar o litoral, começa o trânsito de volta para casa
-Curitibanos tomam sol no parque
15ºC:
-Baianos tremem incontrolavelmente de frio
-Cariocas se reúnem para comer fondue de queijo
-Mineiros continuam bebendo pinga perto do fogão a lenha
-Paulistas ainda estão presos nos congestionamentos na volta do litoral
-Curitibanos dirigem com os vidros abaixados
10ºC:
-Decretado estado de calamidade na Bahia
-Cariocas usam sobretudo, cuecas de lã, luvas e toucas
-Mineiros continuam bebendo pinga e colocam mais lenha no fogão
-Paulistas vão a pizzarias e shopping centers com a família
-Curitibanos botam uma camisa de manga comprida.
5ºC:
-Bahia entra no armagedon.
-César Maia lança a candidatura do Rio para as olimpíadas de inverno.
-Mineiros continuam bebendo pinga e quentão ao lado do fogão a lenha.
-Paulistas lotam hospitais e clínicas devido doenças causadas pela inversão térmica
-Curitibanos fecham as janelas de casa.
0ºC:
-Não existe mais vida na Bahia.
-No Rio, César Maia veste 7 casacos e lança o "Ixxnoubórdi in Rio".
-Mineiros entram em coma alcoólico ao lado do fogão a lenha.
-Paulistas não saem de casa e dão altos índices de audiência a Gilberto Barros, Gugu Liberato, Luciana Gimenes e Silvio Santos
-Curitibanos fazem um churrasco no pátio... antes que esfrie.
701) Premios e concursos: Franklin Roosevelt, Principe de Asturias e União Europeia
Divulgando os seguintes prêmios:
Prêmio Franklin D. Roosevelt de estudos sobre os Estados Unidos
O Prêmio Franklin Delano Roosevelt de Ciências Sociais é uma promoção da Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil e será atribuído uma vez por ano aos melhores trabalhos em níveis de graduação, mestrado e doutorado, com um prêmio em dinheiro para cada um desses níveis. A edição anual do prêmio contempla as seguintes áreas do saber: Relações Internacionais, Sociologia, História, Antropologia, Ciência Política, Economia, Direito e Geografia, que são de áreas de natureza interdisciplinar. O concurso é de âmbito nacional, com ampla divulgação, e premiará trabalhos de alunos regularmente matriculados em universidades brasileiras. Serão habilitados a concorrer aos prêmios trabalhos que abordem aspectos da realidade dos Estados Unidos da América. O prêmio consistirá em uma quantia em dinheiro, com os valores seguintes: Melhor Monografia - US$ 1.500,00; Melhor Dissertação - US$ 2.000,00; Melhor Tese - US$ 4.000,00. A cada ano, concorrerão aos prêmios Monografias, Dissertações e Teses que tenham sido defendidas até 31 de dezembro do ano anterior. As inscrições dos trabalhos, julgamento e premiação ocorrerão na cidade de Brasília. Os dossiês devem ser enviados até o período de Março a Julho. Informações adicionais sobre o calendário, comissão julgadora critérios do Prêmio, estão disponíveis na página da Embaixada dos Estados Unidos.
Prêmios Príncipe de Asturias
Está aberto o prazo de inscrição de candidaturas para os Prêmios Príncipe de Asturias, da Espanha, em sua vigésima sétima edição, oferecidos pela Fundação Príncipe de Astúrias e destinados a premiar o trabalho científico, técnico, cultural, social e humano realizado por pessoas, grupos de trabalho ou instituições no âmbito internacional cujo resultados constituam em exemplo para a Humanidade. Os prêmios são oito: Comunicação e Humanidades, Ciências Sociais, Artes, Letras, Investigação Científica e Técnica, Cooperação Internacional, Paz e Esportes. As propostas de candidaturas apresentadas para qualquer um destes Prêmios devem ser da máxima exemplaridade e a sua obra ou contribuição de reconhecida transcendência internacional. O edital do Prêmio, contendo a convocatória, regulamento, detalhes da premiação e formulário de proposta de candidaturas, está disponível na internet.
Concurso de Monografias sobre o tema “50 Anos construindo a União Européia”
Um concurso de monografias foi lançado pela Delegação da Comissão Européia no Brasil e faz parte do calendário de eventos programados para as comemorações do 50º aniversário da Assinatura do Tratado de Roma.
O Concurso de Monografias sobre o tema “50 Anos construindo a União Européia” elegerá três monografias na categoria de graduação e outras três em nível de pós-graduação. Os vencedores também terão direito a viajar para Bruxelas a convite da Delegação da Comissão Européia no Brasil.
Este Concurso de Monografias está aberto a estudantes de graduação e pós-graduação de todo o país e serão escolhidos os três melhores trabalhos de cada um desses níveis. O prêmio para a monografia vencedora em cada uma das categorias compreende uma viagem a Europa. As outras quatro monografias receberão menção honrosa. Os autores dos seis trabalhos escolhidos serão convidados especiais da Conferência 50 Anos Construindo a União Européia, a ser realizada em Brasília no dia 10 de maio e terão deslocamento e estadia pagos pela Delegação da Comissão Européia.
As inscrições para o Concurso de Monografias poderão ser feitas até o dia 31 de março (vide Regulamento no endereço http://www.delbra.cec.eu.int . Os trabalhos serão avaliados por uma Comissão Julgadora composta por representantes das Embaixadas da Alemanha e de Portugal e por um funcionário da Delegação da Comissão Européia.
Prêmio Franklin D. Roosevelt de estudos sobre os Estados Unidos
O Prêmio Franklin Delano Roosevelt de Ciências Sociais é uma promoção da Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil e será atribuído uma vez por ano aos melhores trabalhos em níveis de graduação, mestrado e doutorado, com um prêmio em dinheiro para cada um desses níveis. A edição anual do prêmio contempla as seguintes áreas do saber: Relações Internacionais, Sociologia, História, Antropologia, Ciência Política, Economia, Direito e Geografia, que são de áreas de natureza interdisciplinar. O concurso é de âmbito nacional, com ampla divulgação, e premiará trabalhos de alunos regularmente matriculados em universidades brasileiras. Serão habilitados a concorrer aos prêmios trabalhos que abordem aspectos da realidade dos Estados Unidos da América. O prêmio consistirá em uma quantia em dinheiro, com os valores seguintes: Melhor Monografia - US$ 1.500,00; Melhor Dissertação - US$ 2.000,00; Melhor Tese - US$ 4.000,00. A cada ano, concorrerão aos prêmios Monografias, Dissertações e Teses que tenham sido defendidas até 31 de dezembro do ano anterior. As inscrições dos trabalhos, julgamento e premiação ocorrerão na cidade de Brasília. Os dossiês devem ser enviados até o período de Março a Julho. Informações adicionais sobre o calendário, comissão julgadora critérios do Prêmio, estão disponíveis na página da Embaixada dos Estados Unidos.
Prêmios Príncipe de Asturias
Está aberto o prazo de inscrição de candidaturas para os Prêmios Príncipe de Asturias, da Espanha, em sua vigésima sétima edição, oferecidos pela Fundação Príncipe de Astúrias e destinados a premiar o trabalho científico, técnico, cultural, social e humano realizado por pessoas, grupos de trabalho ou instituições no âmbito internacional cujo resultados constituam em exemplo para a Humanidade. Os prêmios são oito: Comunicação e Humanidades, Ciências Sociais, Artes, Letras, Investigação Científica e Técnica, Cooperação Internacional, Paz e Esportes. As propostas de candidaturas apresentadas para qualquer um destes Prêmios devem ser da máxima exemplaridade e a sua obra ou contribuição de reconhecida transcendência internacional. O edital do Prêmio, contendo a convocatória, regulamento, detalhes da premiação e formulário de proposta de candidaturas, está disponível na internet.
Concurso de Monografias sobre o tema “50 Anos construindo a União Européia”
Um concurso de monografias foi lançado pela Delegação da Comissão Européia no Brasil e faz parte do calendário de eventos programados para as comemorações do 50º aniversário da Assinatura do Tratado de Roma.
O Concurso de Monografias sobre o tema “50 Anos construindo a União Européia” elegerá três monografias na categoria de graduação e outras três em nível de pós-graduação. Os vencedores também terão direito a viajar para Bruxelas a convite da Delegação da Comissão Européia no Brasil.
Este Concurso de Monografias está aberto a estudantes de graduação e pós-graduação de todo o país e serão escolhidos os três melhores trabalhos de cada um desses níveis. O prêmio para a monografia vencedora em cada uma das categorias compreende uma viagem a Europa. As outras quatro monografias receberão menção honrosa. Os autores dos seis trabalhos escolhidos serão convidados especiais da Conferência 50 Anos Construindo a União Européia, a ser realizada em Brasília no dia 10 de maio e terão deslocamento e estadia pagos pela Delegação da Comissão Européia.
As inscrições para o Concurso de Monografias poderão ser feitas até o dia 31 de março (vide Regulamento no endereço http://www.delbra.cec.eu.int . Os trabalhos serão avaliados por uma Comissão Julgadora composta por representantes das Embaixadas da Alemanha e de Portugal e por um funcionário da Delegação da Comissão Européia.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
700) O subjetismo nos exames de ingresso do Rio Branco
Recebi, a propósito do meu post 698 ("Concurso do Rio Branco: algumas dicas genéricas sobre o TPS"), o seguinte comentário do João Carlos Machado:
"Paulo,
Primeiro, gostaria de elogiar seu apreço pelos postulantes à carreira diplomatica, expresso por sua dedicação em discutir o concurso e a preparação adequada para o ingresso no itamaraty. Mas decidi escrever para saber qual é a sua opinião sobre o possivel conteudo das questões de politica internacional no TPS. Pela bibliografia indicada é dificil tirar qualquer conclusão, pois, em conjunto, os livros formam mais um debate do que o corpo de uma teoria ou corente de pensamento. Como é possivel julgar certa ou errada a afirmação de que, por exemplo, o mundo hoje é unipolar?
Obrigado
João Carlos"
Sobre isso, meu caro João Carlos (e outros eventuais interessados), eu não teria muito a dizer, senão lamentar que isso ocorra.
Nas ciências humanas em geral, e na universidade brasileira em particular, há uma tendência para afirmações com base em "pré-conceitos" e idéias pré-concebidas, cabendo ou não ao leitor aceitar a opinião do eventual formulador de argumentos supostamente doutos sobre um assunto qualquer.
Você pode, por exemplo, considerar os EUA uma hiperpotência imperial, que age de forma unilateral e arrogante, e que Israel é o seu pupilo para a "política de Bush para o Oriente Médio", como ouvi mais de uma vez de colegas universitários. Se você não concordar com este tipo de argumento, pode eventualmente ser mal julgado por alguma banca supostamente antiimperialista.
Dou dois exemplos de como as coisas podem ser deformadas, uma de cada "escola" ou tendência, para não parecer parcial.
A famosa "teoria da dependência", para criticar, em primeira mão o douto sociólogo uspiano que acabou tornando-se presidente da República e que é hoje considerado, em certos setores, como um ideólogo neoliberal, vendido ao imperialismo.
Essa "opinião" não constitui obviamente uma "teoria" e se o fosse seria uma bobagem imensa. Isso não impede de que gregos e goianos (sobretudo americanos) a tenham utilizado extensiva e intensivamente como exemplo mesmo de anaálise inovadora da realidade latino-americana, quando ela é justamente isso, um amontoado de bobagens que caberia esqueceer (como aliás recomendou seu autor, sem ter sido atendido, e sem ter reconhecido que o disse).
Na outra vertente, em certos setores maniqueistas, o mundo, a América Latina, o Brasil, etc, se dividem em nacionalistas soberanistas e em entreguistas alinhados ao imperialismo, os primeiros tratando de desenvolver o país em bases autônomas, e os segundos apenas interessados em impedir o seu desenvolvimento e em entregá-lo de mãos atadas ao imperialismo.
Isso também é uma bobagem monumental, o que não impede esses autores de serem servidos aos pobres estudantes universitários como se ciência fosse...
Bem, você escolha o que pretende como interpretação do mundo, e faça sua prova do Rio Branco de acordo, não com o que você acredita ser mais certo, mas em função daquilo que o examinador espera que você responda.
Estaria bem assim?
Desculpa se eu compliquei a sua vida e lhe trouxe mais dúvidas do que certezas, mas o mundo é assim... ou talvez o Brasil...
"Paulo,
Primeiro, gostaria de elogiar seu apreço pelos postulantes à carreira diplomatica, expresso por sua dedicação em discutir o concurso e a preparação adequada para o ingresso no itamaraty. Mas decidi escrever para saber qual é a sua opinião sobre o possivel conteudo das questões de politica internacional no TPS. Pela bibliografia indicada é dificil tirar qualquer conclusão, pois, em conjunto, os livros formam mais um debate do que o corpo de uma teoria ou corente de pensamento. Como é possivel julgar certa ou errada a afirmação de que, por exemplo, o mundo hoje é unipolar?
Obrigado
João Carlos"
Sobre isso, meu caro João Carlos (e outros eventuais interessados), eu não teria muito a dizer, senão lamentar que isso ocorra.
Nas ciências humanas em geral, e na universidade brasileira em particular, há uma tendência para afirmações com base em "pré-conceitos" e idéias pré-concebidas, cabendo ou não ao leitor aceitar a opinião do eventual formulador de argumentos supostamente doutos sobre um assunto qualquer.
Você pode, por exemplo, considerar os EUA uma hiperpotência imperial, que age de forma unilateral e arrogante, e que Israel é o seu pupilo para a "política de Bush para o Oriente Médio", como ouvi mais de uma vez de colegas universitários. Se você não concordar com este tipo de argumento, pode eventualmente ser mal julgado por alguma banca supostamente antiimperialista.
Dou dois exemplos de como as coisas podem ser deformadas, uma de cada "escola" ou tendência, para não parecer parcial.
A famosa "teoria da dependência", para criticar, em primeira mão o douto sociólogo uspiano que acabou tornando-se presidente da República e que é hoje considerado, em certos setores, como um ideólogo neoliberal, vendido ao imperialismo.
Essa "opinião" não constitui obviamente uma "teoria" e se o fosse seria uma bobagem imensa. Isso não impede de que gregos e goianos (sobretudo americanos) a tenham utilizado extensiva e intensivamente como exemplo mesmo de anaálise inovadora da realidade latino-americana, quando ela é justamente isso, um amontoado de bobagens que caberia esqueceer (como aliás recomendou seu autor, sem ter sido atendido, e sem ter reconhecido que o disse).
Na outra vertente, em certos setores maniqueistas, o mundo, a América Latina, o Brasil, etc, se dividem em nacionalistas soberanistas e em entreguistas alinhados ao imperialismo, os primeiros tratando de desenvolver o país em bases autônomas, e os segundos apenas interessados em impedir o seu desenvolvimento e em entregá-lo de mãos atadas ao imperialismo.
Isso também é uma bobagem monumental, o que não impede esses autores de serem servidos aos pobres estudantes universitários como se ciência fosse...
Bem, você escolha o que pretende como interpretação do mundo, e faça sua prova do Rio Branco de acordo, não com o que você acredita ser mais certo, mas em função daquilo que o examinador espera que você responda.
Estaria bem assim?
Desculpa se eu compliquei a sua vida e lhe trouxe mais dúvidas do que certezas, mas o mundo é assim... ou talvez o Brasil...
699) Recomendacoes a jovens formandos em RI
Formandos em relações internacionais da Universidade Tuiuti, do Paraná, me solicitaram algumas palavras em contrapartida à homenagem que fizeram de atribuir meu nome a essa turma, de 2007.
Abaixo transcrevo parte da mensagem que encaminhei a ele, a propósito dos seus “desafios e compromissos como profissionais” de relações internacionais.
(...)
Não tenho vocação de conselheiro espiritual, mas creio poder formular algumas simples recomendações, não tanto enquanto mestre ou profissional da diplomacia, mas simplesmente na qualidade de alguém que acumulou certa experiência de vida, no nomadismo da profissão, nas constantes e intensas leituras, nas observações de viagem e no contato com todos os tipos de pessoas, dos mais diversos países e de diversas inclinações políticas e ideológicas. Eu o faço mais como um colega de vocês do que como alguém que se considera superior ou detentor de algum saber especial.
Minhas simples recomendações, não comprometedoras para ninguém, seriam estas:
1) Em primeiro lugar, tenham princípios de vida, isto é, valores e causas a defender.
Todos nós temos de ter alguma causa maior que guie a nossa vida, que não seja o simples enriquecimento pelo trabalho, que certamente é dignificante e necessário, mas não basta, por si só, para dar sentido a uma existência inteira. Valores não são apenas os religiosos, por mais que estes possam ser importantes; são, também, aqueles que estão vinculados à dignidade humana, à defesa dos direitos humanos, da tolerância, da convivência pacífica, da justiça e da liberdade.
2) Coloquem o interesse nacional acima das considerações locais, setoriais ou simplesmente provincianas.
O Brasil é hoje, infelizmente, um país que conservou, sem nunca ter conseguido extingui-lo, o patrimonialismo dos antigos dominadores ibéricos. Acima desse vício, lamentavelmente, vem construindo toda sorte de particularismos e corporativismos que tornam especialmente difícil a construção de um projeto nacional consensual, que consiga romper as iniqüidades remanescentes de sua estrutura social, os desajustes de sua democracia de má qualidade, o baixo grau de esperança que decorre de seu pífio dinamismo econômico. Sobretudo, não confundam o interesse nacional com o interesse do Estado; ele talvez seja o oposto, mesmo, do interesse do Estado, que está diretamente na raiz do nosso baixo crescimento, do patrimonialismo e do fisiologismo exacerbado, da proliferação de interesses particulares primando sobre o interesse de toda a nacionalidade. O Estado, hoje, talvez já não seja a solução; ele é, provavelmente, o problema que deve ser resolvido, se o Brasil pretende retomar seu processo de crescimento.
O treinamento de vocês como internacionalistas, o conhecimento de outras realidades econômicas e sociais, mais dinâmicas e, sobretudo, mais justas socialmente, podem indicar, em princípio, onde está o interesse nacional, acima e além dos discursos politiqueiros e eleitoreiros que nos invadem a cada dois anos. Conservem certo grau de ceticismo sadio em relação a esses discursos e tratem de refletir e descobrir onde estaria o interesse nacional, em cada promessa de palanque ouvida nesses intervalos da democracia.
3) Tenham objetivos e metas a defender, sempre e em quaisquer circunstâncias.
As minhas metas, por exemplo, são as da inteligência, da racionalidade, da cultura, da educação, da tolerância, da democracia e do comprometimento com o bem-estar e a justiça social. Encontro muitas dessas metas que procuro para o meu País nos livros, bem mais, em todo caso, do que na vida real, o que seria obviamente preferível. O fato, pelo menos, de tê-las como metas já me serve de guia de vida, de diretriz moral, de justificativa ética para a minha existência. Tenho procurado servir a essas causas, dentro de minhas possibilidades humanas e materiais.
Mas, também tenho algumas causas “contra” e seria bom que vocês tivessem as suas. Eu, por exemplo, sou contra a ignorância, a irracionalidade (sobretudo em matéria de políticas públicas), sou profundamente contrário ao mau-uso do dinheiro público e à malversação das instituições estatais por gente descomprometida com os princípios da democracia e do bem-estar social. Sou contra a intolerância em matéria de opinião ou de religião, sou contra todos os fundamentalismos e integrismos existentes (nem todos eles são necessariamente de natureza religiosa), e sou, de maneira geral, contra as crenças irracionais. Acredito na ciência e no seu infinito e crescente poder para tornar o homem mais livre, mais consciente e até mais humano, se ouso dizer. Tenham confiança na ciência, ou, se quiserem, tenham fé na ciência.
Creio na capacidade da humanidade em elevar-se continuamente na escala da civilização, na defesa dos direitos do homem, de valores morais que transcendem os relativismos culturais. Sou pela universalização da democracia e dos direitos humanos, mesmo contra a razão de Estado.
4) Sejam socialmente responsáveis, sem abdicar da liberdade individual e do princípio do mérito pessoal.
Sou, em princípio, a favor da igualdade, contra o mero igualitarismo. Em outros termos, sou pelo reconhecimento dos méritos individuais e do esforço próprio na conquista dos objetivos de vida de cada um. Acredito que aqueles verdadeiramente desprovidos de meios próprios de subsistência possam ou devam ser ajudados, sobretudo intelectualmente, menos até do que no plano material. A educação deve ser repartida entre todos, como forma de capacitar o maior número possível na busca do sucesso individual, com base no desempenho próprio, não na assistência pública. A mera assistência nunca capacitou ninguém, assim como a ajuda oficial ao desenvolvimento raramente consegue elevar um país das agruras do subdesenvolvimento.
O distributivismo fácil, como muitas vezes se vê oficializado como políticas de Estado, ou aquele que é até extorquido do Estado por grupos organizados em torno de falsos princípios de “justiça social”, transmite a ilusão passageira de que os problemas sociais são resolvidos, quando eles podem ser agravados e tornados perenes. Tenham consciência de que apenas a educação pode equacionar esses problemas, e não me refiro necessariamente à educação superior. Eu me refiro à simples e básica educação fundamental, algo ainda distante de grande parte dos brasileiros.
5) Sejam íntegros no plano intelectual e não pratiquem o auto-engano.
Sou, sobretudo, um defensor acirrado da integridade do trabalho intelectual e posiciono-me profundamente contra a desonestidade acadêmica. O crescimento da ignorância, inclusive na universidade, e a expansão dos irracionalismos contemporâneos assusta-me, tanto quanto a desonestidade na vida pública, tendência lamentável que se observa no Brasil e em muitos outros países. Nossas instituições públicas estão se deteriorando visivelmente, até mais no plano moral do que no terreno propriamente material. A responsabilidade de nossa geração é enorme, pois está muito claro que o Brasil vem regredindo em vários terrenos, talvez mais relativamente do que absolutamente. Temos o dever de inverter este itinerário para a decadência.
Acredito que devamos nos esforçar para construir um mundo melhor do que o que recebemos de nossos pais e antecessores. Nossa responsabilidade individual é a de deixar um mundo melhor para nossos filhos e netos, que nos sucederão,. Certamente não gostaríamos de legar-lhes apenas déficit e dívida pública, violência urbana e corrupção oficial.
Por isso, não pratiquemos o auto-engano de pensar que cabe a outros a resolução desses terríveis problemas da corrupção política, da má qualidade da educação, do mau funcionamento do Estado, das práticas deletérias na vida cotidiana. Esses problemas são nossos, e nos cabe enfrentá-los aqui e agora. Cada um na sua esfera de atividade.
Como professor eventual, profissão que exerço irregularmente, mas de forma totalmente voluntária e com muita satisfação intelectual, acredito ser minha obrigação transmitir o máximo de conhecimentos aos meus alunos e outros aprendizes distantes, como podem ser vocês. Mais do que informação, creio que devo provê-los, essencialmente, de métodos de aprendizado auto-sustentado, defensor acirrado que sou do autodidatismo. Considero-me um pesquisador livre, sem qualquer subordinação a instituições ou corporações. Acredito que vocês também devem contribuir, cada um na sua atividade, para o avanço dos conhecimentos na sua área de trabalho. Depois, tentem estender a outros aquilo que vocês aprenderam, descobriram ou conquistaram, numa linguagem simples e acessível ao maior número de cidadãos.
Tenho plena confiança de que vocês se sentirão melhor sendo parte de uma comunidade consciente de seus deveres sociais, e não apenas reivindicadora de direitos a um Estado falido. Estes são os meus princípios e valores. Espero que eles possam servir de guia a alguns de vocês. Sejam bem sucedidos na vida profissional, não abandonem jamais os estudos, construam famílias felizes e sejam vocês mesmos felizes, no plano individual e social. Por isso, contribuam para tornar outros, mais desprovidos, um pouco menos infelizes. Isto se dará pelo conhecimento e pela educação. Algo que vocês adquiriram nos últimos quatro anos. Agora é a hora de colocar tudo isso em prática.
Felicidades e muito obrigado!
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 6 de fevereiro de 2007)
Abaixo transcrevo parte da mensagem que encaminhei a ele, a propósito dos seus “desafios e compromissos como profissionais” de relações internacionais.
(...)
Não tenho vocação de conselheiro espiritual, mas creio poder formular algumas simples recomendações, não tanto enquanto mestre ou profissional da diplomacia, mas simplesmente na qualidade de alguém que acumulou certa experiência de vida, no nomadismo da profissão, nas constantes e intensas leituras, nas observações de viagem e no contato com todos os tipos de pessoas, dos mais diversos países e de diversas inclinações políticas e ideológicas. Eu o faço mais como um colega de vocês do que como alguém que se considera superior ou detentor de algum saber especial.
Minhas simples recomendações, não comprometedoras para ninguém, seriam estas:
1) Em primeiro lugar, tenham princípios de vida, isto é, valores e causas a defender.
Todos nós temos de ter alguma causa maior que guie a nossa vida, que não seja o simples enriquecimento pelo trabalho, que certamente é dignificante e necessário, mas não basta, por si só, para dar sentido a uma existência inteira. Valores não são apenas os religiosos, por mais que estes possam ser importantes; são, também, aqueles que estão vinculados à dignidade humana, à defesa dos direitos humanos, da tolerância, da convivência pacífica, da justiça e da liberdade.
2) Coloquem o interesse nacional acima das considerações locais, setoriais ou simplesmente provincianas.
O Brasil é hoje, infelizmente, um país que conservou, sem nunca ter conseguido extingui-lo, o patrimonialismo dos antigos dominadores ibéricos. Acima desse vício, lamentavelmente, vem construindo toda sorte de particularismos e corporativismos que tornam especialmente difícil a construção de um projeto nacional consensual, que consiga romper as iniqüidades remanescentes de sua estrutura social, os desajustes de sua democracia de má qualidade, o baixo grau de esperança que decorre de seu pífio dinamismo econômico. Sobretudo, não confundam o interesse nacional com o interesse do Estado; ele talvez seja o oposto, mesmo, do interesse do Estado, que está diretamente na raiz do nosso baixo crescimento, do patrimonialismo e do fisiologismo exacerbado, da proliferação de interesses particulares primando sobre o interesse de toda a nacionalidade. O Estado, hoje, talvez já não seja a solução; ele é, provavelmente, o problema que deve ser resolvido, se o Brasil pretende retomar seu processo de crescimento.
O treinamento de vocês como internacionalistas, o conhecimento de outras realidades econômicas e sociais, mais dinâmicas e, sobretudo, mais justas socialmente, podem indicar, em princípio, onde está o interesse nacional, acima e além dos discursos politiqueiros e eleitoreiros que nos invadem a cada dois anos. Conservem certo grau de ceticismo sadio em relação a esses discursos e tratem de refletir e descobrir onde estaria o interesse nacional, em cada promessa de palanque ouvida nesses intervalos da democracia.
3) Tenham objetivos e metas a defender, sempre e em quaisquer circunstâncias.
As minhas metas, por exemplo, são as da inteligência, da racionalidade, da cultura, da educação, da tolerância, da democracia e do comprometimento com o bem-estar e a justiça social. Encontro muitas dessas metas que procuro para o meu País nos livros, bem mais, em todo caso, do que na vida real, o que seria obviamente preferível. O fato, pelo menos, de tê-las como metas já me serve de guia de vida, de diretriz moral, de justificativa ética para a minha existência. Tenho procurado servir a essas causas, dentro de minhas possibilidades humanas e materiais.
Mas, também tenho algumas causas “contra” e seria bom que vocês tivessem as suas. Eu, por exemplo, sou contra a ignorância, a irracionalidade (sobretudo em matéria de políticas públicas), sou profundamente contrário ao mau-uso do dinheiro público e à malversação das instituições estatais por gente descomprometida com os princípios da democracia e do bem-estar social. Sou contra a intolerância em matéria de opinião ou de religião, sou contra todos os fundamentalismos e integrismos existentes (nem todos eles são necessariamente de natureza religiosa), e sou, de maneira geral, contra as crenças irracionais. Acredito na ciência e no seu infinito e crescente poder para tornar o homem mais livre, mais consciente e até mais humano, se ouso dizer. Tenham confiança na ciência, ou, se quiserem, tenham fé na ciência.
Creio na capacidade da humanidade em elevar-se continuamente na escala da civilização, na defesa dos direitos do homem, de valores morais que transcendem os relativismos culturais. Sou pela universalização da democracia e dos direitos humanos, mesmo contra a razão de Estado.
4) Sejam socialmente responsáveis, sem abdicar da liberdade individual e do princípio do mérito pessoal.
Sou, em princípio, a favor da igualdade, contra o mero igualitarismo. Em outros termos, sou pelo reconhecimento dos méritos individuais e do esforço próprio na conquista dos objetivos de vida de cada um. Acredito que aqueles verdadeiramente desprovidos de meios próprios de subsistência possam ou devam ser ajudados, sobretudo intelectualmente, menos até do que no plano material. A educação deve ser repartida entre todos, como forma de capacitar o maior número possível na busca do sucesso individual, com base no desempenho próprio, não na assistência pública. A mera assistência nunca capacitou ninguém, assim como a ajuda oficial ao desenvolvimento raramente consegue elevar um país das agruras do subdesenvolvimento.
O distributivismo fácil, como muitas vezes se vê oficializado como políticas de Estado, ou aquele que é até extorquido do Estado por grupos organizados em torno de falsos princípios de “justiça social”, transmite a ilusão passageira de que os problemas sociais são resolvidos, quando eles podem ser agravados e tornados perenes. Tenham consciência de que apenas a educação pode equacionar esses problemas, e não me refiro necessariamente à educação superior. Eu me refiro à simples e básica educação fundamental, algo ainda distante de grande parte dos brasileiros.
5) Sejam íntegros no plano intelectual e não pratiquem o auto-engano.
Sou, sobretudo, um defensor acirrado da integridade do trabalho intelectual e posiciono-me profundamente contra a desonestidade acadêmica. O crescimento da ignorância, inclusive na universidade, e a expansão dos irracionalismos contemporâneos assusta-me, tanto quanto a desonestidade na vida pública, tendência lamentável que se observa no Brasil e em muitos outros países. Nossas instituições públicas estão se deteriorando visivelmente, até mais no plano moral do que no terreno propriamente material. A responsabilidade de nossa geração é enorme, pois está muito claro que o Brasil vem regredindo em vários terrenos, talvez mais relativamente do que absolutamente. Temos o dever de inverter este itinerário para a decadência.
Acredito que devamos nos esforçar para construir um mundo melhor do que o que recebemos de nossos pais e antecessores. Nossa responsabilidade individual é a de deixar um mundo melhor para nossos filhos e netos, que nos sucederão,. Certamente não gostaríamos de legar-lhes apenas déficit e dívida pública, violência urbana e corrupção oficial.
Por isso, não pratiquemos o auto-engano de pensar que cabe a outros a resolução desses terríveis problemas da corrupção política, da má qualidade da educação, do mau funcionamento do Estado, das práticas deletérias na vida cotidiana. Esses problemas são nossos, e nos cabe enfrentá-los aqui e agora. Cada um na sua esfera de atividade.
Como professor eventual, profissão que exerço irregularmente, mas de forma totalmente voluntária e com muita satisfação intelectual, acredito ser minha obrigação transmitir o máximo de conhecimentos aos meus alunos e outros aprendizes distantes, como podem ser vocês. Mais do que informação, creio que devo provê-los, essencialmente, de métodos de aprendizado auto-sustentado, defensor acirrado que sou do autodidatismo. Considero-me um pesquisador livre, sem qualquer subordinação a instituições ou corporações. Acredito que vocês também devem contribuir, cada um na sua atividade, para o avanço dos conhecimentos na sua área de trabalho. Depois, tentem estender a outros aquilo que vocês aprenderam, descobriram ou conquistaram, numa linguagem simples e acessível ao maior número de cidadãos.
Tenho plena confiança de que vocês se sentirão melhor sendo parte de uma comunidade consciente de seus deveres sociais, e não apenas reivindicadora de direitos a um Estado falido. Estes são os meus princípios e valores. Espero que eles possam servir de guia a alguns de vocês. Sejam bem sucedidos na vida profissional, não abandonem jamais os estudos, construam famílias felizes e sejam vocês mesmos felizes, no plano individual e social. Por isso, contribuam para tornar outros, mais desprovidos, um pouco menos infelizes. Isto se dará pelo conhecimento e pela educação. Algo que vocês adquiriram nos últimos quatro anos. Agora é a hora de colocar tudo isso em prática.
Felicidades e muito obrigado!
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 6 de fevereiro de 2007)
698) Concurso do Rio Branco: algumas dicas genericas sobre o TPS
Concurso do Rio Branco: algumas dicas genéricas sobre o TPS
Observações puramente pessoais...
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Acredito que cada um dos candidatos ao concurso do Instituto Rio Branco para ingresso na carreira diplomática está dando o melhor de si mesmo nesta fase final. O importante seria que cada um dos candidatos entre na prova confiante naquilo que sabe, não desesperado com o que que eventualmente não sabe. Tranqüilidade na hora de responder me parece importante, assim como saber administrar o tempo disponível da melhor forma possivel. Eu nunca fiz TPS, mas com base no que vejo, leio e ouço, talvez pudesse fazer as seguintes observações.
Uma boa cultura geral, solidamente embasada na história, é essencial para responder às questões -- tanto as de múltipla escolha, quanto as de certo ou errado -- uma vez que o sucesso se mede, não tanto pelo maior número de acertos, mas talvez pelo menor número de erros possível.
Digo isto porque certas questões me parecem fortemente impregnadas de subjetivismo, ou de interpretações divergentes, quanto não duvidosas. Assim, o que cabe é eliminar aquelas opções que são claramente anacrônicas e incongruentes e deixar as opções (duas em cinco, idealmente) plausíveis e possíveis para um exame mais detalhado. História pode diferir de Português, mas acredito que este último está em grande medida impregnado de História e mais ainda de Literatura. Portanto, colocar as leituras em seu devido contexto -- Machado, Graciliano, Freyre etc -- é importante para responder o menos erradamente possível.
Não tenho dicas a dar em matéria de Gramática, e lamento que o exame se apoie em regras formais que não acrescentam muito ao ato da boa escrita e ao da compreensão, mas essa parece a escolha dos examinadores e caberia saber as boas regras da língua. Como geralmente um mesmo texto serve de três a cinco questões, caberia, antes de comecar a responder à primeira do bloco, ler rapidamente todas as questões dessa seção, pois as formulações e argumentos de uma segunda ou terceira questão podem eventualmente ajudar nas respostas das demais.
De maneira geral, uma mirada geral na prova, antes de comecar a respondê-la, pode ajudar a melhor administrar o tempo disponível. Tenho por mim que, ao enfrentar cada questão, o candidato deve, mais do que determinar a resposta certa, de imediato, começar por eliminar aquelas opções que são claramente errôneas, por algum conceito anacrônico, alguma afirmação claramente impossível naquele contexto.
Sempre teremos, num conjunto de cinco opções, três respostas que são claramente deficientes e caberia riscá-las de imediato para se concentrar apenas nas duas outras possíveis. Isto, claro, se o candidato tiver segurança quanto ao que configura um "erro estrutural". Se as duas restantes apresentarem problemas de interpretação, subjetivismos ou impressionismos que derivam de uma compreensão particular de um determinado problema, a solução é tentar se colocar na cabeça do examinador, para saber o que ele espera daquela questão. Nesse particular, a leitura das demais questões do bloco pode ajudar, pois elas orientam para uma determinada direção. Admitindo-se que a maior parte das questões foi preparada por professores da UnB, a "cabeça do formulador" é um pouco a desses livros feitos pelos professores da UnB que estão na bibliografia oficial.
Se uma questão apresentar dificuldades maiores, melhor seguir adiante, para não perder muito tempo com ela, para poder melhor responder às demais e não ter de correr ao final. Meu principio geral seria sempre este: tentar eliminar as erradas, que são as "inconguentes", antes do que tentar acertar na "correta", pois dúvidas quanto ao acertado de uma opção sempre subsistem.
Algumas respostas parecerão óbvias, nos pontos dominados pelo candidato, outras francamente impossíveis de determinar, por pouca preparação do candidato naquela área específica. Então, a única coisa a fazer é avançar rapidamente nas áreas dominadas e voltar depois atrás para tratar das questões mais duvidosas ou mais difíceis. Eventualmente, as respostas das últimas e essa “volta atrás”, depois de ter trabalhado o conjunto da prova, cria uma segurança maior no enfrentamento das questões duvidoas. Então, como última regra, eu diria isto:
Em lugar de "arriscar" no momento alguma resposta duvidosa para passar adiante, para "liquidar", digamos assim, as questões na sua ordem sequencial original, melhor seria passar adiante, continuando a resolver as demais questões, e voltar depois aos problemas mais angustiantes, tentado sempre eliminar as erradas, não acertar a “certa”. Esta restará, talvez, por eliminação das demais.
Estas seriam as minhas observações de caráter geral sobre a prova. Desejo todo o sucesso a cada um dos candidatos, o que vem, em grande medida, com a tranquilidade, a confiança em si mesmo, e a satisfação de ter feito o melhor possível para uma preparação fundamentalmente autodidática. Acumular conhecimentos sempre é bom, para qualquer coisa da vida. Sempre estaremos melhor sabendo mais, tendo empenhado esforços no aperfeiçoamento pessoal.
Boa sorte.
Brasília, 7 fevereiro 2007.
Observações puramente pessoais...
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Acredito que cada um dos candidatos ao concurso do Instituto Rio Branco para ingresso na carreira diplomática está dando o melhor de si mesmo nesta fase final. O importante seria que cada um dos candidatos entre na prova confiante naquilo que sabe, não desesperado com o que que eventualmente não sabe. Tranqüilidade na hora de responder me parece importante, assim como saber administrar o tempo disponível da melhor forma possivel. Eu nunca fiz TPS, mas com base no que vejo, leio e ouço, talvez pudesse fazer as seguintes observações.
Uma boa cultura geral, solidamente embasada na história, é essencial para responder às questões -- tanto as de múltipla escolha, quanto as de certo ou errado -- uma vez que o sucesso se mede, não tanto pelo maior número de acertos, mas talvez pelo menor número de erros possível.
Digo isto porque certas questões me parecem fortemente impregnadas de subjetivismo, ou de interpretações divergentes, quanto não duvidosas. Assim, o que cabe é eliminar aquelas opções que são claramente anacrônicas e incongruentes e deixar as opções (duas em cinco, idealmente) plausíveis e possíveis para um exame mais detalhado. História pode diferir de Português, mas acredito que este último está em grande medida impregnado de História e mais ainda de Literatura. Portanto, colocar as leituras em seu devido contexto -- Machado, Graciliano, Freyre etc -- é importante para responder o menos erradamente possível.
Não tenho dicas a dar em matéria de Gramática, e lamento que o exame se apoie em regras formais que não acrescentam muito ao ato da boa escrita e ao da compreensão, mas essa parece a escolha dos examinadores e caberia saber as boas regras da língua. Como geralmente um mesmo texto serve de três a cinco questões, caberia, antes de comecar a responder à primeira do bloco, ler rapidamente todas as questões dessa seção, pois as formulações e argumentos de uma segunda ou terceira questão podem eventualmente ajudar nas respostas das demais.
De maneira geral, uma mirada geral na prova, antes de comecar a respondê-la, pode ajudar a melhor administrar o tempo disponível. Tenho por mim que, ao enfrentar cada questão, o candidato deve, mais do que determinar a resposta certa, de imediato, começar por eliminar aquelas opções que são claramente errôneas, por algum conceito anacrônico, alguma afirmação claramente impossível naquele contexto.
Sempre teremos, num conjunto de cinco opções, três respostas que são claramente deficientes e caberia riscá-las de imediato para se concentrar apenas nas duas outras possíveis. Isto, claro, se o candidato tiver segurança quanto ao que configura um "erro estrutural". Se as duas restantes apresentarem problemas de interpretação, subjetivismos ou impressionismos que derivam de uma compreensão particular de um determinado problema, a solução é tentar se colocar na cabeça do examinador, para saber o que ele espera daquela questão. Nesse particular, a leitura das demais questões do bloco pode ajudar, pois elas orientam para uma determinada direção. Admitindo-se que a maior parte das questões foi preparada por professores da UnB, a "cabeça do formulador" é um pouco a desses livros feitos pelos professores da UnB que estão na bibliografia oficial.
Se uma questão apresentar dificuldades maiores, melhor seguir adiante, para não perder muito tempo com ela, para poder melhor responder às demais e não ter de correr ao final. Meu principio geral seria sempre este: tentar eliminar as erradas, que são as "inconguentes", antes do que tentar acertar na "correta", pois dúvidas quanto ao acertado de uma opção sempre subsistem.
Algumas respostas parecerão óbvias, nos pontos dominados pelo candidato, outras francamente impossíveis de determinar, por pouca preparação do candidato naquela área específica. Então, a única coisa a fazer é avançar rapidamente nas áreas dominadas e voltar depois atrás para tratar das questões mais duvidosas ou mais difíceis. Eventualmente, as respostas das últimas e essa “volta atrás”, depois de ter trabalhado o conjunto da prova, cria uma segurança maior no enfrentamento das questões duvidoas. Então, como última regra, eu diria isto:
Em lugar de "arriscar" no momento alguma resposta duvidosa para passar adiante, para "liquidar", digamos assim, as questões na sua ordem sequencial original, melhor seria passar adiante, continuando a resolver as demais questões, e voltar depois aos problemas mais angustiantes, tentado sempre eliminar as erradas, não acertar a “certa”. Esta restará, talvez, por eliminação das demais.
Estas seriam as minhas observações de caráter geral sobre a prova. Desejo todo o sucesso a cada um dos candidatos, o que vem, em grande medida, com a tranquilidade, a confiança em si mesmo, e a satisfação de ter feito o melhor possível para uma preparação fundamentalmente autodidática. Acumular conhecimentos sempre é bom, para qualquer coisa da vida. Sempre estaremos melhor sabendo mais, tendo empenhado esforços no aperfeiçoamento pessoal.
Boa sorte.
Brasília, 7 fevereiro 2007.
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007
697) Limmericks...
Limmericks
Como sabem muitos (mas nem todos), “limmericks” é uma forma de expressão poética contendo algum ensinamento prosaico, ou mesmo um divertimento passageiro, organizada em cinco estrofes, que sempre combina duas rimas na forma aabba.
Não sei se tenho jeito para essas coisas, mas vou tentar arriscar...
Honestidade intelectual
Honrar a palavra dada
Recusar a verdade revelada
Ser, no equilíbrio, um cético
Manter comportamento ético
É a que aspiro, antes de mais nada
Projeto de vida
Ampliar conhecimento
É o meu empreendimento
Propagar sabedoria
Distribuir benfeitoria
Eu vivo para esse invento...
Como sabem muitos (mas nem todos), “limmericks” é uma forma de expressão poética contendo algum ensinamento prosaico, ou mesmo um divertimento passageiro, organizada em cinco estrofes, que sempre combina duas rimas na forma aabba.
Não sei se tenho jeito para essas coisas, mas vou tentar arriscar...
Honestidade intelectual
Honrar a palavra dada
Recusar a verdade revelada
Ser, no equilíbrio, um cético
Manter comportamento ético
É a que aspiro, antes de mais nada
Projeto de vida
Ampliar conhecimento
É o meu empreendimento
Propagar sabedoria
Distribuir benfeitoria
Eu vivo para esse invento...
sábado, 3 de fevereiro de 2007
696) A arte de ser contrarianista...
O contrarianismo, na prática
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Já me defini, em algum trabalho anterior, como um “contrarianista”, isto é, alguém que procura ver as “coisas da vida” com um olhar cético, sempre interrogando os fundamentos e as razões de por quê as coisas são daquele jeito e não de outro, ou de como elas poderiam ser ainda melhores do que são, aparentemente a um menor custo para a sociedade ou atendendo a critérios superiores de racionalidade e de instrumentalidade. Ou seja, em linguagem da economia política, o contrarianista é um indivíduo que está sempre procurando aumentar as externalidades positivas e diminuir as negativas, sempre efetuando cálculos de custo-oportunidade do capital empregado, sobre o retorno mais eficiente possível, adequando os meios disponíveis ao princípio da escassez.
O contrarianista não é, a despeito do que muitos possam pensar, um ser que sempre é “do contra”, um caráter negativo ou pessimista. Ao contrário, trata-se, para ele, de buscar otimizar os recursos existentes, indagando continuamente como fazer melhor, eventualmente mais barato, com os parcos meios existentes. Esta é a minha concepção do contrarianismo, uma arte difícil de ser exercitada, mais difícil ainda de ser compreendida. Eu a definiria, segundo uma lição que aprendi ainda na adolescência, como um exercício de “ceticismo sadio”, ou seja, o espírito crítico que não se compraz, simplesmente, em negar as “coisas” como elas são, mas que se esforça, em toda boa vontade, para que elas sejam ainda melhores do que são, questionando sua forma de ser atual e propondo uma organização que possa ser ainda mais funcional do que a existente.
Por isso mesmo, pretendo, neste curto ensaio, tecer algumas considerações sobre a arte de ser contrarianista, o que, confesso, não é fácil. Sempre nos arriscamos a ser incompreendidos, em aparecer como puramente negativos ou derrotistas, quando o que se busca, na verdade, é reduzir o custo das soluções “humanamente produzidas” (elas sempre são falhas). Talvez, a melhor forma de se demonstrar, na prática, a arte do contrarianismo, seria elaborar uma série de manuais de sentido contrário, isto é, em lugar dos How to do something, escrever sobre “como não fazer” determinadas coisas. Como eu exercito muito freqüentemente a resenha de livros, creio que não seria difícil oferecer algumas observações sobre essa prática corriqueira da vida cotidiana. Aliás, já o fiz, num dos primeiros posts de meu blog “Book reviews” dedicado aos livros, post nº 2, “A arte da resenha” (neste link).
Existem, de fato, muitos manuais e guias sobre a arte ou a maneira de se fazer isto ou aquilo, sendo os mais conhecidos, justamente, aqueles americanos que seguem as regras usuais do gênero “how to do this or that...”. Aperfeiçoando o gênero surgiram os “beginners’ guide to...” e os “idiot’s guide for...”. Antes dessa era de proliferação infernal de guias para todos os idiotas existentes, eu cheguei a consultar, quando estava elaborando a minha tese de doutoramento, um guia de um desses americanos do self-help, que se chamava, exatamente, How to complete, and survive... a doctoral dissertation: foi útil, confesso, ao menos em diminuir o stress com os ciclos ascendentes (eufóricos) e descendentes (que podem ser depressivos, para alguns candidatos) do longo périplo na direção do final da tese. Talvez, um dia, eu faça um manual sobre “Como não exercer a diplomacia”, para o que eu mesmo teria muito material primário – autoproduzido – a ser processado e apresentado a eventuais candidatos e outros incautos da profissão.
Esperando que este dia chegue, vejamos quais poderiam ser algumas regras simples do contrarianista profissional, aquele que leva esse método a sério, considera o exercício válido do ponto de vista das best practices e pretende aperfeiçoar os procedimentos e instrumentos para elevar essa prática ao estado de “arte”, se ela já não o é. Uma simples listagem, a ser detalhada em trabalhos posteriores, poderia compreender os seguintes pontos:
1) Questione as origens:
Toda vez que for apresentado a um novo problema, ou uma questão não corriqueira, veja se consegue detectar as origens daquele problema, porque ele surgiu dessa forma neste momento e neste local. Saber a etiologia de algum fenômeno, assim como saber a etimologia das palavras, sempre ajuda a detectar as razões de sua irrupção num dado contexto em que você é chamado a intervir. As origens e fundamentos de um processo qualquer podem contribuir para determinar seu possível desenvolvimento e eventual itinerário. É assim que procedem os epidemiologistas e, creio também, os linguistas, sempre preocupados em detectar os mecanismos fundamentais de criação de um fenômeno ou processo. Portanto, não tenha medo em perguntar: “de onde surgiu isso?; como é que isso veio parar aqui?; qual é a origem desse treco?”. Pode ajudar um bocado.
2) Determine se o que está sendo apresentado é realmente a essência da coisa:
Muitas vezes somos enganados pelas aparências, como já dizia um velho humorista. As coisas podem ter mais de uma dimensão – usualmente três, mas alguns apostam em dimensões “desconhecidas” – ou em todo caso todos os lados e facetas daquele problema podem não estar imediatamente visíveis ou serem perceptíveis da posição na qual você se encontra. Por isso, não hesite em fazer como Aristóteles e ir buscar a essência da coisa, sua natureza real. Na maior parte das vezes não é preciso bisturi ou serrote, apens um pouco de reflexão ou de exame mais acurado do que lhe é apresentado. Antes de qualquer pronunciamento, vire a coisa pelo avesso...
3) Pergunte por que aqui e agora?:
As coisas não sugem do nada, está claro, e, justamente, nos assuntos da alta política, da economia ou da diplomacia, elas deitam raízes lá atrás, em movimentos tectônicos que talvez tenham passado despercebidos aos contemporâneos, mas que já se moviam na direção que vieram a assumir na atualidade. O fato de estarem sendo colocadas na agenda neste momento significa que seu movimento natural as trouxe à superfície ou que alguém tenha interesse em que essas coisas sejam agora tramitadas e eventualmente resolvidas. Examine o contexto da “aparição”, determine as condições sob as quais elas estão sendo apresentadas e prepare-se para interrogar, você mesmo, as coisas surgidas na agenda. Essas medidas de caução são sempre importantes para evitar alguma reação precipitada ou incontornável, que possa comprometer seus próximos passos no tratamento dessas coisas.
4) Examine e avalie, preventivamente, todas as opções disponíveis:
Nunca existe uma única solução para qualquer problema humanamente concebível. Os problemas podem ser encaminhados por diferentes vias, seja quanto ao método (procedimentos), seja quanto à sua substância (a matéria em questão). As vias alternativas apresentam diferentes custos e produzem efeitos muito diversos, imediatos ou delongados. Sempre existe aquilo que os economistas chamam de trade-offs, isto é, uma maneira (supostamente racional) de se obter algo valioso cedendo alguma outra coisa, alegadamente menos importante para nós. O contrarianista pergunta, sempre, se a solução apresentada é a de menor custo possível, naquelas circunstâncias, e quais seriam os retornos esperados ou presumíveis da via adotada. Os custos devem sempre ser pesados em face dos ganhos esperados, ou de um emprego alternativo dos recuros disponíveis.
Por isso, é sempre recomendável fazer simulações, avaliar custos e oportunidades, enfim proceder de modo utilitário – como os velhos filósofos ingleses ensinaram –, afastando nossos preconceitos e as idées reçues. O instinto pode sté ser bom conselheiro, mas isso só vale para pessoas anormalmente sapientes ou dotadas de muita experiência de vida. Os simples mortais, como a maioria de nós, precisam se basear em algum estudo acurado da situação para poder determinar, justamente, se a solução proposta deliver the best available outcome, ou retorno. Isso só pode ser determinado após exame do problema e determinação do menor sacrifício a ser concedido, um pouco como no jogo de xadrez (aliás, recomendável para contrarianistas de todo o gênero).
5) Uma vez determinada a “solução”, engaje-se no resultado, mas criticamente:
No curso da vida, como diria Benjamin Franklin, só existem duas coisas inevitáveis: a morte e os impostos. Mas, mesmo estes podem ser modificados, ainda que não, helàs, evitados. Por isso, em matérias humanas, cabe se engajar em todo e qualquer empreendimento com alguma porta de saída, ou via alternativa. Determinada the best option for this problem, caberia engajar-se resolutamente na sua consecução, e seguir atentamente o desenvolvimento dos procedimentos. As muitas variáveis que interferem num determinado problema nem sempre são absolutamente determinadas pelos parceiros no jogo, podendo haver interferências externas, circunstâncias fortuitas e eventos imprevisíveis que alteram o curso ou o resultado final. Por isso mesmo, se deve acompanhar qualquer problema com olho crítico, vigiando cada etapa do processo, para ver se cabe ainda manter as premissas originais e o investimento efetuado naquela solução.
6) Reconsidere todo o processo e pratique um pouco de história virtual:
Todos já leram, ou pelo menos já ouviram falar, de hipóteses não realizadas no curso real da história mas que teriam sido possíveis em outras circunstâncias: “o que teria acontecido se, em Waterloo, Napoleão não tivesse sido derrotado?”; e se Churchill isto e Hitler aquilo?, ou seja, o impoderável resumido na pergunta clássica da história virtual “What if?”. O contrarianista deve ser, antes de mais nada, um praticante da história virtual e considerar todos os outcomes possíveis num determinado processo, pois eles poderiam ter efetivamente ter acontecido.
Minha pergunta básica, para um exercício espiritual e prático de todos os contrarianistas aprendizes, para os candidatos a “céticos sadios”, seria esta: “por que o Brasil não é um país desenvolvido?” Respostas tentativas para o meu e-mail, por favor...
Brasília, 1717: 3 de fevereiro 2007, 4 p.
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Já me defini, em algum trabalho anterior, como um “contrarianista”, isto é, alguém que procura ver as “coisas da vida” com um olhar cético, sempre interrogando os fundamentos e as razões de por quê as coisas são daquele jeito e não de outro, ou de como elas poderiam ser ainda melhores do que são, aparentemente a um menor custo para a sociedade ou atendendo a critérios superiores de racionalidade e de instrumentalidade. Ou seja, em linguagem da economia política, o contrarianista é um indivíduo que está sempre procurando aumentar as externalidades positivas e diminuir as negativas, sempre efetuando cálculos de custo-oportunidade do capital empregado, sobre o retorno mais eficiente possível, adequando os meios disponíveis ao princípio da escassez.
O contrarianista não é, a despeito do que muitos possam pensar, um ser que sempre é “do contra”, um caráter negativo ou pessimista. Ao contrário, trata-se, para ele, de buscar otimizar os recursos existentes, indagando continuamente como fazer melhor, eventualmente mais barato, com os parcos meios existentes. Esta é a minha concepção do contrarianismo, uma arte difícil de ser exercitada, mais difícil ainda de ser compreendida. Eu a definiria, segundo uma lição que aprendi ainda na adolescência, como um exercício de “ceticismo sadio”, ou seja, o espírito crítico que não se compraz, simplesmente, em negar as “coisas” como elas são, mas que se esforça, em toda boa vontade, para que elas sejam ainda melhores do que são, questionando sua forma de ser atual e propondo uma organização que possa ser ainda mais funcional do que a existente.
Por isso mesmo, pretendo, neste curto ensaio, tecer algumas considerações sobre a arte de ser contrarianista, o que, confesso, não é fácil. Sempre nos arriscamos a ser incompreendidos, em aparecer como puramente negativos ou derrotistas, quando o que se busca, na verdade, é reduzir o custo das soluções “humanamente produzidas” (elas sempre são falhas). Talvez, a melhor forma de se demonstrar, na prática, a arte do contrarianismo, seria elaborar uma série de manuais de sentido contrário, isto é, em lugar dos How to do something, escrever sobre “como não fazer” determinadas coisas. Como eu exercito muito freqüentemente a resenha de livros, creio que não seria difícil oferecer algumas observações sobre essa prática corriqueira da vida cotidiana. Aliás, já o fiz, num dos primeiros posts de meu blog “Book reviews” dedicado aos livros, post nº 2, “A arte da resenha” (neste link).
Existem, de fato, muitos manuais e guias sobre a arte ou a maneira de se fazer isto ou aquilo, sendo os mais conhecidos, justamente, aqueles americanos que seguem as regras usuais do gênero “how to do this or that...”. Aperfeiçoando o gênero surgiram os “beginners’ guide to...” e os “idiot’s guide for...”. Antes dessa era de proliferação infernal de guias para todos os idiotas existentes, eu cheguei a consultar, quando estava elaborando a minha tese de doutoramento, um guia de um desses americanos do self-help, que se chamava, exatamente, How to complete, and survive... a doctoral dissertation: foi útil, confesso, ao menos em diminuir o stress com os ciclos ascendentes (eufóricos) e descendentes (que podem ser depressivos, para alguns candidatos) do longo périplo na direção do final da tese. Talvez, um dia, eu faça um manual sobre “Como não exercer a diplomacia”, para o que eu mesmo teria muito material primário – autoproduzido – a ser processado e apresentado a eventuais candidatos e outros incautos da profissão.
Esperando que este dia chegue, vejamos quais poderiam ser algumas regras simples do contrarianista profissional, aquele que leva esse método a sério, considera o exercício válido do ponto de vista das best practices e pretende aperfeiçoar os procedimentos e instrumentos para elevar essa prática ao estado de “arte”, se ela já não o é. Uma simples listagem, a ser detalhada em trabalhos posteriores, poderia compreender os seguintes pontos:
1) Questione as origens:
Toda vez que for apresentado a um novo problema, ou uma questão não corriqueira, veja se consegue detectar as origens daquele problema, porque ele surgiu dessa forma neste momento e neste local. Saber a etiologia de algum fenômeno, assim como saber a etimologia das palavras, sempre ajuda a detectar as razões de sua irrupção num dado contexto em que você é chamado a intervir. As origens e fundamentos de um processo qualquer podem contribuir para determinar seu possível desenvolvimento e eventual itinerário. É assim que procedem os epidemiologistas e, creio também, os linguistas, sempre preocupados em detectar os mecanismos fundamentais de criação de um fenômeno ou processo. Portanto, não tenha medo em perguntar: “de onde surgiu isso?; como é que isso veio parar aqui?; qual é a origem desse treco?”. Pode ajudar um bocado.
2) Determine se o que está sendo apresentado é realmente a essência da coisa:
Muitas vezes somos enganados pelas aparências, como já dizia um velho humorista. As coisas podem ter mais de uma dimensão – usualmente três, mas alguns apostam em dimensões “desconhecidas” – ou em todo caso todos os lados e facetas daquele problema podem não estar imediatamente visíveis ou serem perceptíveis da posição na qual você se encontra. Por isso, não hesite em fazer como Aristóteles e ir buscar a essência da coisa, sua natureza real. Na maior parte das vezes não é preciso bisturi ou serrote, apens um pouco de reflexão ou de exame mais acurado do que lhe é apresentado. Antes de qualquer pronunciamento, vire a coisa pelo avesso...
3) Pergunte por que aqui e agora?:
As coisas não sugem do nada, está claro, e, justamente, nos assuntos da alta política, da economia ou da diplomacia, elas deitam raízes lá atrás, em movimentos tectônicos que talvez tenham passado despercebidos aos contemporâneos, mas que já se moviam na direção que vieram a assumir na atualidade. O fato de estarem sendo colocadas na agenda neste momento significa que seu movimento natural as trouxe à superfície ou que alguém tenha interesse em que essas coisas sejam agora tramitadas e eventualmente resolvidas. Examine o contexto da “aparição”, determine as condições sob as quais elas estão sendo apresentadas e prepare-se para interrogar, você mesmo, as coisas surgidas na agenda. Essas medidas de caução são sempre importantes para evitar alguma reação precipitada ou incontornável, que possa comprometer seus próximos passos no tratamento dessas coisas.
4) Examine e avalie, preventivamente, todas as opções disponíveis:
Nunca existe uma única solução para qualquer problema humanamente concebível. Os problemas podem ser encaminhados por diferentes vias, seja quanto ao método (procedimentos), seja quanto à sua substância (a matéria em questão). As vias alternativas apresentam diferentes custos e produzem efeitos muito diversos, imediatos ou delongados. Sempre existe aquilo que os economistas chamam de trade-offs, isto é, uma maneira (supostamente racional) de se obter algo valioso cedendo alguma outra coisa, alegadamente menos importante para nós. O contrarianista pergunta, sempre, se a solução apresentada é a de menor custo possível, naquelas circunstâncias, e quais seriam os retornos esperados ou presumíveis da via adotada. Os custos devem sempre ser pesados em face dos ganhos esperados, ou de um emprego alternativo dos recuros disponíveis.
Por isso, é sempre recomendável fazer simulações, avaliar custos e oportunidades, enfim proceder de modo utilitário – como os velhos filósofos ingleses ensinaram –, afastando nossos preconceitos e as idées reçues. O instinto pode sté ser bom conselheiro, mas isso só vale para pessoas anormalmente sapientes ou dotadas de muita experiência de vida. Os simples mortais, como a maioria de nós, precisam se basear em algum estudo acurado da situação para poder determinar, justamente, se a solução proposta deliver the best available outcome, ou retorno. Isso só pode ser determinado após exame do problema e determinação do menor sacrifício a ser concedido, um pouco como no jogo de xadrez (aliás, recomendável para contrarianistas de todo o gênero).
5) Uma vez determinada a “solução”, engaje-se no resultado, mas criticamente:
No curso da vida, como diria Benjamin Franklin, só existem duas coisas inevitáveis: a morte e os impostos. Mas, mesmo estes podem ser modificados, ainda que não, helàs, evitados. Por isso, em matérias humanas, cabe se engajar em todo e qualquer empreendimento com alguma porta de saída, ou via alternativa. Determinada the best option for this problem, caberia engajar-se resolutamente na sua consecução, e seguir atentamente o desenvolvimento dos procedimentos. As muitas variáveis que interferem num determinado problema nem sempre são absolutamente determinadas pelos parceiros no jogo, podendo haver interferências externas, circunstâncias fortuitas e eventos imprevisíveis que alteram o curso ou o resultado final. Por isso mesmo, se deve acompanhar qualquer problema com olho crítico, vigiando cada etapa do processo, para ver se cabe ainda manter as premissas originais e o investimento efetuado naquela solução.
6) Reconsidere todo o processo e pratique um pouco de história virtual:
Todos já leram, ou pelo menos já ouviram falar, de hipóteses não realizadas no curso real da história mas que teriam sido possíveis em outras circunstâncias: “o que teria acontecido se, em Waterloo, Napoleão não tivesse sido derrotado?”; e se Churchill isto e Hitler aquilo?, ou seja, o impoderável resumido na pergunta clássica da história virtual “What if?”. O contrarianista deve ser, antes de mais nada, um praticante da história virtual e considerar todos os outcomes possíveis num determinado processo, pois eles poderiam ter efetivamente ter acontecido.
Minha pergunta básica, para um exercício espiritual e prático de todos os contrarianistas aprendizes, para os candidatos a “céticos sadios”, seria esta: “por que o Brasil não é um país desenvolvido?” Respostas tentativas para o meu e-mail, por favor...
Brasília, 1717: 3 de fevereiro 2007, 4 p.
695) Um diplomata dissidente...
Nem na ditadura
Entrevista: Roberto Abdenur
Revista Veja, Edição 1994, 7 de fevereiro de 2007
Otávio Cabral
O diplomata diz que a política externa do governo Lula é contaminada pelo antiamericanismo e pela orientação ideológica
"Há um sentimento generalizado de que hoje os diplomatas são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência"
Roberto Abdenur, 64 anos, era um dos mais experientes diplomatas do quadro do Itamaraty até a semana passada, quando se aposentou depois de 44 anos de carreira. Seu último posto foi o de embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Amigo do chanceler Celso Amorim há décadas, nos últimos meses desencantou-se com ele e com sua política. As divergências começaram depois que Abdenur disse publicamente que era uma ilusão o fato de o Brasil considerar a China como parceiro comercial, isso depois da decisão do governo brasileiro de reconhecer aquele país como uma economia de mercado. Amorim exigiu uma retratação de Abdenur. Ela nunca veio. Em entrevista a VEJA, o ex-embaixador preferiu não falar sobre o embate entre ele e o chanceler, mas não economiza palavras para criticar a política externa e a doutrinação ideológica em curso no Itamaraty. As decisões hoje, segundo ele, são pautadas pela miopia de um grupo de esquerdistas. As promoções internas têm como critério a afinidade de pensamento, e não a competência. Os acordos de cooperação privilegiam países menos desenvolvidos. Diz ele: "Um processo de doutrinação assim no Itamaraty não aconteceu nem na ditadura".
Veja – O senhor está se aposentando depois de 44 anos de trabalho no Itamaraty e parece muito incomodado com a situação da diplomacia brasileira.
Abdenur – Existe um elemento ideológico muito forte presente na política externa brasileira. A idéia do Sul–Sul como eixo preponderante revela um antiamericanismo atrasado. Isso tem se manifestado dentro do Itamaraty de diversas maneiras. Está havendo uma doutrinação. Diplomatas de categoria, não apenas jovens, são forçados a fazer certas leituras quando entram ou saem de Brasília. Livros que têm viés dessa postura ideológica. É uma coisa vexatória. O Itamaraty não é lugar para bedel.
Veja – De que outras maneiras a doutrinação ideológica se manifesta no Itamaraty?
Abdenur – Há um sentimento generalizado de que os diplomatas hoje são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência. Eu vi funcionários de competência indiscutível ser passados para trás porque não são alinhados. Há intolerância à pluralidade de opinião. O Itamaraty sempre teve um prestígio singular na diplomacia internacional pela continuidade da política externa, pelo equilíbrio, pela excelência de seus quadros e pelo apartidarismo. O Itamaraty precisa resgatar o profissionalismo a salvo de posturas ideológicas, de atitudes intolerantes e de identificação partidária com a força política dominante no momento.
Veja – Essa situação que o senhor descreve já aconteceu antes?
Abdenur – Nunca, nem na ditadura militar. De 1964 até o início do governo Ernesto Geisel, na primeira década do regime militar, adotou-se uma política externa simplória, baseada na ideologia anticomunista. Isso foi imposto à força pelos militares. Mas nunca houve tentativa de convencer os diplomatas dessa ideologia. O rumo foi imposto e se exigia o seu cumprimento, mas não se cobrava dos profissionais nenhuma afinidade com a ideologia que definia aquele rumo. Do governo Geisel até o fim do governo FHC, a pressão ideológica desapareceu. Agora, infelizmente, as decisões são permeadas por elementos ideológicos.
Veja – A difusão dessa política externa ideologizada é responsabilidade do ministro Celso Amorim ou do secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães?
Abdenur – Samuel, Celso e eu fomos grandes amigos, e eu tenho recordações muito gratas do tempo em que fomos amigos.
Veja – O senhor disse que foi amigo de Celso Amorim e de Samuel Guimarães. Com o verbo no passado.
Abdenur – Fica no passado. Fomos grandes amigos.
Veja – O senhor ficou magoado com a maneira como saiu da embaixada de Washington?
Abdenur – Acho que já falei demais.
Veja – Substantivamente, houve pontos positivos na política externa brasileira no primeiro mandato do presidente Lula?
Abdenur – Sim, sem dúvida. O Brasil engatou uma parceria com Índia, Japão e Alemanha para obter uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da ONU. É luta válida, que vai trazer resultados. Acho muito bom o que o governo tem feito para abrir novas frentes de comércio com países árabes, com o Sudeste Asiático, com a Ásia Central, com a África. Acho muito positiva também a forma inovadora de trabalho com o Ibas (grupo que reúne Índia, Brasil e África do Sul). É a primeira vez que três países grandes, de três continentes diferentes, se unem para buscar iniciativas conjuntas. Acho que o Brasil tem conduzido com amplo equilíbrio e proficiência as negociações da Rodada de Doha. O Brasil é um jogador decisivo, tem uma atuação de liderança no G20 muito importante. Há ainda a questão do Haiti, onde lideramos pela primeira vez uma ação de países latino-americanos em favor da paz. Enfim, houve acertos...
Veja – E os erros substantivos?
Abdenur – A minha maior crítica à atuação do Itamaraty está na dimensão exagerada dada à cooperação entre os países menos desenvolvidos como eixo básico da nossa diplomacia. Com a queda do Muro de Berlim, desapareceu completamente o paralelo que dividia o mundo em Ocidente e Oriente. O meridiano Norte-Sul não desapareceu de todo, mas se desvaneceu. O diálogo Norte-Sul é uma realidade. A esta altura da vida, com o mundo em transformação vertiginosa, não vale mais valorizar tanto a dimensão Sul-Sul. Isso é um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado. A nossa relação com a China e com a Índia também apresenta equívocos. É preciso ter parceria com os dois países, mas eles não podem ser considerados nossos aliados.
Veja – Há uma tendência no Itamaraty de priorizar as relações com os países da América do Sul em detrimento dos Estados Unidos?
Abdenur – Não é positivo superestimar o valor das afinidades ideológicas. Tem prosperado no Itamaraty uma idéia de que uma maior afinidade ideológica entre os governos da América do Sul tornaria nossa vida mais fácil. Estamos vendo que não. Apesar das afinidades que existem entre o Brasil e outros países da região, estamos enfrentando problemas para consolidar o Mercosul.
Veja – É crescente a influência de Hugo Chávez em países como Bolívia e Equador. Como o senhor avalia essa mudança de poder na América Latina?
Abdenur – Fui embaixador no Equador de 1985 a 1988 e, durante aqueles anos, a população mais pobre, de origem indígena, não tinha poder nem influência na vida política. A ascensão dessas camadas indígenas da população, como ocorre no Equador, na Bolívia e no Peru, é positiva. Mas há uma diferença básica entre Evo Morales e Hugo Chávez. O Morales vem de baixo, é um líder camponês que virou presidente da República. Mal comparando, uma trajetória semelhante à do presidente Lula. Já Chávez caiu de pára-quedas, tentou um golpe, depois chegou ao poder pela via democrática. Infelizmente, ele está acabando com a democracia na Venezuela.
Veja – O que o senhor acha da defesa feita pelo governo brasileiro a favor da entrada da Venezuela no Mercosul?
Abdenur – Foi um erro ter incorporado de chofre a Venezuela ao Mercosul. Devíamos ter privilegiado o aperfeiçoamento do Mercosul sobre a expansão a qualquer custo. Foi vexatório ver Chávez na última reunião dizendo que o Mercosul era um corpo que precisava ser enterrado. Chávez tem idéias sobre economia que não se coadunam com os pressupostos do Mercosul. Ele tem idéia de regresso ao escambo, de troca de mercadorias. Isso obviamente é um passo para trás. O Mercosul tem um compromisso democrático. Democracia, é bom lembrar, não é só realização de eleições. Acho que o Brasil tem a responsabilidade de soltar a voz para tornar menos cômoda a vida de governos autoritários e ditatoriais na região. Não se pode ignorar o que está acontecendo na Venezuela. O Brasil deve expressar claramente seu compromisso democrático amplo, profundo e irrestrito e denunciar situações como a que Chávez criou na Venezuela.
Veja – Como o senhor avalia a relação do Brasil com os Estados Unidos nos três anos em que serviu como embaixador em Washington?
Abdenur – Pode parecer paradoxal, mas a relação do Brasil com os Estados Unidos prosperou significativamente nos últimos anos. Graças a uma pessoa que manda muito no governo brasileiro, uma pessoa de extremo pragmatismo e lucidez, que é o presidente Lula. Ele não esconde seu desagrado com algumas coisas que o governo Bush tem feito, particularmente no Iraque. Mas Lula sabe que uma relação melhor com os Estados Unidos é de interesse do Brasil. Quando fui assumir a embaixada, ele me disse: "Roberto, quero deixar como legado para o futuro bases ainda mais sólidas e mais amplas na relação entre os dois países". Como embaixador, tive algumas dificuldades, mas nada que fosse impeditivo.
Veja – O senhor não deixou o cargo de embaixador espontaneamente, correto?
Abdenur – Há no Brasil setores, embora minoritários, que têm aversão aos Estados Unidos, inclusive dentro do governo e do Itamaraty. Há esse ranço, mas isso não atrapalhou meu trabalho. A relação Brasil-Estados Unidos nunca esteve tão bem. Lula inclusive deve visitar o presidente Bush nos próximos meses.
Veja – Apesar dessa relação forte com os Estados Unidos, a Alca está em compasso de espera.
Abdenur – O Brasil está, na melhor das hipóteses, deixando de ganhar dinheiro. O mercado americano está se aproximando dos 2 trilhões de dólares. Seria vital para o Brasil ter vantagens preferenciais, de parceria, com os Estados Unidos. Não estou dizendo que deveríamos ter assinado a Alca de qualquer jeito, mas deveríamos ter seguido com a negociação. Os Estados Unidos têm assinado vários acordos de comércio bilaterais, e nós temos perdido competitividade no mercado americano. Nós estamos estacionados há dez anos em 1,4% do mercado americano. Há vinte anos, nossa participação era de 2,2%. Eu lamento que o único aspecto da relação Brasil-Estados Unidos em que não houve progresso tenha sido o comércio. Foram mínimos os recursos alocados para promoção comercial nos Estados Unidos pelo governo brasileiro.
Veja – Qual é a imagem do presidente Lula nos Estados Unidos? Ele ainda é um político respeitado ou sua imagem foi deteriorada pelos escândalos de corrupção?
Abdenur – É uma imagem positiva, os escândalos de corrupção não repercutiram muito por lá. Ele é o líder de uma democracia estável, um governante que tem uma biografia louvável. O governo Lula tem merecido respeito mundo afora por conciliar uma política econômica pragmática com políticas sociais efetivas e uma política externa séria. Isso começou com Fernando Henrique, mas o governo Lula avançou.
Veja – O senhor disse em um evento no ano passado em São Paulo que a China é nossa concorrente, não nossa parceira. O senhor mantém essa avaliação?
Abdenur – Fui nomeado embaixador na China no governo Sarney, trabalhei quatro anos e meio lá, tenho autoridade para falar desse país. Nós não podemos ter uma visão romântica daquela China do passado, pobre, atrasada, camponesa, isolada do mundo. A China deu um salto extraordinário e hoje é uma potência. Tem um comércio exterior de 1,8 trilhão de dólares, oito vezes o do Brasil. Nós temos de atualizar a visão da China e ver que, sem deixar de ser parceira valiosa, é cada vez mais nossa concorrente dentro do mercado brasileiro e no exterior. Isso não quer dizer que devamos construir uma muralha e nos fechar aos chineses. Pelo contrário. É preciso manter uma parceria estratégica com a China em novos termos e não ter ilusões. Quando criamos mitos e queremos dar a impressão de que a China é nossa aliada, que nós a lideramos, é uma bobagem. A China hoje busca o capitalismo, a globalização, o mercado.
Veja – O senhor acha que o Brasil errou ao reconhecer a China como economia de mercado?
Abdenur – Acho que foi precipitado. Embora o Estado chinês como produtor e empreendedor esteja diminuindo de tamanho, ele ainda interfere muitíssimo na economia, usa instrumentos arbitrários. Ao reconhecermos a economia de mercado, nós abrimos mão de usar mecanismos de defesa contra os produtos chineses. Isso tornou inevitável uma entrada cada vez maior de produtos chineses no Brasil. O prejuízo é inevitável.
Veja – A divulgação dessa posição do senhor sobre a China causou problemas dentro do Itamaraty?
Abdenur – Causou, sim.
Veja – É verdade que seu amigo antigo, o ministro Amorim, exigiu que o senhor se retratasse publicamente?
Abdenur – Não quero fulanizar essa discussão.
===========
Addendum em 5/02/2007:
Reuters
Diplomat calls Brazil foreign policy anti-American
Reuters
Saturday, February 3, 2007; 6:58 PM
SAO PAULO (Reuters) - Brazil's newly retired ambassador to the United States said policy at Brazil's Foreign Ministry was being increasingly dictated by a group of short-sighted, anti-American leftists.
Roberto Abdenur, 64, whose interview was published in the magazine Veja on Saturday, retired last week after 44 years at Brazil's Itamaraty, or Foreign Ministry. His last post was three years as ambassador to the United States.
"A very strong ideology is present in Brazil's foreign policy. The idea of South-South trade as predominant (policy) reveals a backward anti-Americanism," Abdenur said. "There are in Brazil sectors, although minorities, that have an aversion to the United States, both in the government and Itamaraty."
A representative at the Foreign Ministry was aware of Abdenur's interview but had no response at this time.
Brazil's foreign policy has strengthened trade with Asia, Africa and other Latin American countries since President Luiz Inacio Lula da Silva came to office in 2003, Abdenur said. But he added the Foreign Ministry's agenda of focusing on trade ties with developing countries, or so-called South-South relations, had come at the cost of better relations with developed economies, such as the United States.
"This is an ideology that is anti-capitalistic, anti-globalization, anti-American," Abdenur said in the interview. He said only those in the ministry with openly leftist affinities were being promoted.
Lula and Foreign Minister Celso Amorim failed to find common ground with the United States over the Free Trade Area of the Americas, which would have united most of North, Central and South American into the world's largest trade bloc.
The FTAA is stalled and analysts say Brazil is losing competitiveness in the U.S. market where other Latin American countries like Chile, Peru and Colombia are gaining access through bilateral agreements.
"Brazil is, at best, failing to make money" through greater participation in the U.S. market, Abdenur said.
He said Brazil's part of the U.S. market had fallen from 2.2 percent 20 years ago to 1.4 percent. The United States is the biggest consumer of Brazilian goods and services.
Entrevista: Roberto Abdenur
Revista Veja, Edição 1994, 7 de fevereiro de 2007
Otávio Cabral
O diplomata diz que a política externa do governo Lula é contaminada pelo antiamericanismo e pela orientação ideológica
"Há um sentimento generalizado de que hoje os diplomatas são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência"
Roberto Abdenur, 64 anos, era um dos mais experientes diplomatas do quadro do Itamaraty até a semana passada, quando se aposentou depois de 44 anos de carreira. Seu último posto foi o de embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Amigo do chanceler Celso Amorim há décadas, nos últimos meses desencantou-se com ele e com sua política. As divergências começaram depois que Abdenur disse publicamente que era uma ilusão o fato de o Brasil considerar a China como parceiro comercial, isso depois da decisão do governo brasileiro de reconhecer aquele país como uma economia de mercado. Amorim exigiu uma retratação de Abdenur. Ela nunca veio. Em entrevista a VEJA, o ex-embaixador preferiu não falar sobre o embate entre ele e o chanceler, mas não economiza palavras para criticar a política externa e a doutrinação ideológica em curso no Itamaraty. As decisões hoje, segundo ele, são pautadas pela miopia de um grupo de esquerdistas. As promoções internas têm como critério a afinidade de pensamento, e não a competência. Os acordos de cooperação privilegiam países menos desenvolvidos. Diz ele: "Um processo de doutrinação assim no Itamaraty não aconteceu nem na ditadura".
Veja – O senhor está se aposentando depois de 44 anos de trabalho no Itamaraty e parece muito incomodado com a situação da diplomacia brasileira.
Abdenur – Existe um elemento ideológico muito forte presente na política externa brasileira. A idéia do Sul–Sul como eixo preponderante revela um antiamericanismo atrasado. Isso tem se manifestado dentro do Itamaraty de diversas maneiras. Está havendo uma doutrinação. Diplomatas de categoria, não apenas jovens, são forçados a fazer certas leituras quando entram ou saem de Brasília. Livros que têm viés dessa postura ideológica. É uma coisa vexatória. O Itamaraty não é lugar para bedel.
Veja – De que outras maneiras a doutrinação ideológica se manifesta no Itamaraty?
Abdenur – Há um sentimento generalizado de que os diplomatas hoje são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência. Eu vi funcionários de competência indiscutível ser passados para trás porque não são alinhados. Há intolerância à pluralidade de opinião. O Itamaraty sempre teve um prestígio singular na diplomacia internacional pela continuidade da política externa, pelo equilíbrio, pela excelência de seus quadros e pelo apartidarismo. O Itamaraty precisa resgatar o profissionalismo a salvo de posturas ideológicas, de atitudes intolerantes e de identificação partidária com a força política dominante no momento.
Veja – Essa situação que o senhor descreve já aconteceu antes?
Abdenur – Nunca, nem na ditadura militar. De 1964 até o início do governo Ernesto Geisel, na primeira década do regime militar, adotou-se uma política externa simplória, baseada na ideologia anticomunista. Isso foi imposto à força pelos militares. Mas nunca houve tentativa de convencer os diplomatas dessa ideologia. O rumo foi imposto e se exigia o seu cumprimento, mas não se cobrava dos profissionais nenhuma afinidade com a ideologia que definia aquele rumo. Do governo Geisel até o fim do governo FHC, a pressão ideológica desapareceu. Agora, infelizmente, as decisões são permeadas por elementos ideológicos.
Veja – A difusão dessa política externa ideologizada é responsabilidade do ministro Celso Amorim ou do secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães?
Abdenur – Samuel, Celso e eu fomos grandes amigos, e eu tenho recordações muito gratas do tempo em que fomos amigos.
Veja – O senhor disse que foi amigo de Celso Amorim e de Samuel Guimarães. Com o verbo no passado.
Abdenur – Fica no passado. Fomos grandes amigos.
Veja – O senhor ficou magoado com a maneira como saiu da embaixada de Washington?
Abdenur – Acho que já falei demais.
Veja – Substantivamente, houve pontos positivos na política externa brasileira no primeiro mandato do presidente Lula?
Abdenur – Sim, sem dúvida. O Brasil engatou uma parceria com Índia, Japão e Alemanha para obter uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da ONU. É luta válida, que vai trazer resultados. Acho muito bom o que o governo tem feito para abrir novas frentes de comércio com países árabes, com o Sudeste Asiático, com a Ásia Central, com a África. Acho muito positiva também a forma inovadora de trabalho com o Ibas (grupo que reúne Índia, Brasil e África do Sul). É a primeira vez que três países grandes, de três continentes diferentes, se unem para buscar iniciativas conjuntas. Acho que o Brasil tem conduzido com amplo equilíbrio e proficiência as negociações da Rodada de Doha. O Brasil é um jogador decisivo, tem uma atuação de liderança no G20 muito importante. Há ainda a questão do Haiti, onde lideramos pela primeira vez uma ação de países latino-americanos em favor da paz. Enfim, houve acertos...
Veja – E os erros substantivos?
Abdenur – A minha maior crítica à atuação do Itamaraty está na dimensão exagerada dada à cooperação entre os países menos desenvolvidos como eixo básico da nossa diplomacia. Com a queda do Muro de Berlim, desapareceu completamente o paralelo que dividia o mundo em Ocidente e Oriente. O meridiano Norte-Sul não desapareceu de todo, mas se desvaneceu. O diálogo Norte-Sul é uma realidade. A esta altura da vida, com o mundo em transformação vertiginosa, não vale mais valorizar tanto a dimensão Sul-Sul. Isso é um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado. A nossa relação com a China e com a Índia também apresenta equívocos. É preciso ter parceria com os dois países, mas eles não podem ser considerados nossos aliados.
Veja – Há uma tendência no Itamaraty de priorizar as relações com os países da América do Sul em detrimento dos Estados Unidos?
Abdenur – Não é positivo superestimar o valor das afinidades ideológicas. Tem prosperado no Itamaraty uma idéia de que uma maior afinidade ideológica entre os governos da América do Sul tornaria nossa vida mais fácil. Estamos vendo que não. Apesar das afinidades que existem entre o Brasil e outros países da região, estamos enfrentando problemas para consolidar o Mercosul.
Veja – É crescente a influência de Hugo Chávez em países como Bolívia e Equador. Como o senhor avalia essa mudança de poder na América Latina?
Abdenur – Fui embaixador no Equador de 1985 a 1988 e, durante aqueles anos, a população mais pobre, de origem indígena, não tinha poder nem influência na vida política. A ascensão dessas camadas indígenas da população, como ocorre no Equador, na Bolívia e no Peru, é positiva. Mas há uma diferença básica entre Evo Morales e Hugo Chávez. O Morales vem de baixo, é um líder camponês que virou presidente da República. Mal comparando, uma trajetória semelhante à do presidente Lula. Já Chávez caiu de pára-quedas, tentou um golpe, depois chegou ao poder pela via democrática. Infelizmente, ele está acabando com a democracia na Venezuela.
Veja – O que o senhor acha da defesa feita pelo governo brasileiro a favor da entrada da Venezuela no Mercosul?
Abdenur – Foi um erro ter incorporado de chofre a Venezuela ao Mercosul. Devíamos ter privilegiado o aperfeiçoamento do Mercosul sobre a expansão a qualquer custo. Foi vexatório ver Chávez na última reunião dizendo que o Mercosul era um corpo que precisava ser enterrado. Chávez tem idéias sobre economia que não se coadunam com os pressupostos do Mercosul. Ele tem idéia de regresso ao escambo, de troca de mercadorias. Isso obviamente é um passo para trás. O Mercosul tem um compromisso democrático. Democracia, é bom lembrar, não é só realização de eleições. Acho que o Brasil tem a responsabilidade de soltar a voz para tornar menos cômoda a vida de governos autoritários e ditatoriais na região. Não se pode ignorar o que está acontecendo na Venezuela. O Brasil deve expressar claramente seu compromisso democrático amplo, profundo e irrestrito e denunciar situações como a que Chávez criou na Venezuela.
Veja – Como o senhor avalia a relação do Brasil com os Estados Unidos nos três anos em que serviu como embaixador em Washington?
Abdenur – Pode parecer paradoxal, mas a relação do Brasil com os Estados Unidos prosperou significativamente nos últimos anos. Graças a uma pessoa que manda muito no governo brasileiro, uma pessoa de extremo pragmatismo e lucidez, que é o presidente Lula. Ele não esconde seu desagrado com algumas coisas que o governo Bush tem feito, particularmente no Iraque. Mas Lula sabe que uma relação melhor com os Estados Unidos é de interesse do Brasil. Quando fui assumir a embaixada, ele me disse: "Roberto, quero deixar como legado para o futuro bases ainda mais sólidas e mais amplas na relação entre os dois países". Como embaixador, tive algumas dificuldades, mas nada que fosse impeditivo.
Veja – O senhor não deixou o cargo de embaixador espontaneamente, correto?
Abdenur – Há no Brasil setores, embora minoritários, que têm aversão aos Estados Unidos, inclusive dentro do governo e do Itamaraty. Há esse ranço, mas isso não atrapalhou meu trabalho. A relação Brasil-Estados Unidos nunca esteve tão bem. Lula inclusive deve visitar o presidente Bush nos próximos meses.
Veja – Apesar dessa relação forte com os Estados Unidos, a Alca está em compasso de espera.
Abdenur – O Brasil está, na melhor das hipóteses, deixando de ganhar dinheiro. O mercado americano está se aproximando dos 2 trilhões de dólares. Seria vital para o Brasil ter vantagens preferenciais, de parceria, com os Estados Unidos. Não estou dizendo que deveríamos ter assinado a Alca de qualquer jeito, mas deveríamos ter seguido com a negociação. Os Estados Unidos têm assinado vários acordos de comércio bilaterais, e nós temos perdido competitividade no mercado americano. Nós estamos estacionados há dez anos em 1,4% do mercado americano. Há vinte anos, nossa participação era de 2,2%. Eu lamento que o único aspecto da relação Brasil-Estados Unidos em que não houve progresso tenha sido o comércio. Foram mínimos os recursos alocados para promoção comercial nos Estados Unidos pelo governo brasileiro.
Veja – Qual é a imagem do presidente Lula nos Estados Unidos? Ele ainda é um político respeitado ou sua imagem foi deteriorada pelos escândalos de corrupção?
Abdenur – É uma imagem positiva, os escândalos de corrupção não repercutiram muito por lá. Ele é o líder de uma democracia estável, um governante que tem uma biografia louvável. O governo Lula tem merecido respeito mundo afora por conciliar uma política econômica pragmática com políticas sociais efetivas e uma política externa séria. Isso começou com Fernando Henrique, mas o governo Lula avançou.
Veja – O senhor disse em um evento no ano passado em São Paulo que a China é nossa concorrente, não nossa parceira. O senhor mantém essa avaliação?
Abdenur – Fui nomeado embaixador na China no governo Sarney, trabalhei quatro anos e meio lá, tenho autoridade para falar desse país. Nós não podemos ter uma visão romântica daquela China do passado, pobre, atrasada, camponesa, isolada do mundo. A China deu um salto extraordinário e hoje é uma potência. Tem um comércio exterior de 1,8 trilhão de dólares, oito vezes o do Brasil. Nós temos de atualizar a visão da China e ver que, sem deixar de ser parceira valiosa, é cada vez mais nossa concorrente dentro do mercado brasileiro e no exterior. Isso não quer dizer que devamos construir uma muralha e nos fechar aos chineses. Pelo contrário. É preciso manter uma parceria estratégica com a China em novos termos e não ter ilusões. Quando criamos mitos e queremos dar a impressão de que a China é nossa aliada, que nós a lideramos, é uma bobagem. A China hoje busca o capitalismo, a globalização, o mercado.
Veja – O senhor acha que o Brasil errou ao reconhecer a China como economia de mercado?
Abdenur – Acho que foi precipitado. Embora o Estado chinês como produtor e empreendedor esteja diminuindo de tamanho, ele ainda interfere muitíssimo na economia, usa instrumentos arbitrários. Ao reconhecermos a economia de mercado, nós abrimos mão de usar mecanismos de defesa contra os produtos chineses. Isso tornou inevitável uma entrada cada vez maior de produtos chineses no Brasil. O prejuízo é inevitável.
Veja – A divulgação dessa posição do senhor sobre a China causou problemas dentro do Itamaraty?
Abdenur – Causou, sim.
Veja – É verdade que seu amigo antigo, o ministro Amorim, exigiu que o senhor se retratasse publicamente?
Abdenur – Não quero fulanizar essa discussão.
===========
Addendum em 5/02/2007:
Reuters
Diplomat calls Brazil foreign policy anti-American
Reuters
Saturday, February 3, 2007; 6:58 PM
SAO PAULO (Reuters) - Brazil's newly retired ambassador to the United States said policy at Brazil's Foreign Ministry was being increasingly dictated by a group of short-sighted, anti-American leftists.
Roberto Abdenur, 64, whose interview was published in the magazine Veja on Saturday, retired last week after 44 years at Brazil's Itamaraty, or Foreign Ministry. His last post was three years as ambassador to the United States.
"A very strong ideology is present in Brazil's foreign policy. The idea of South-South trade as predominant (policy) reveals a backward anti-Americanism," Abdenur said. "There are in Brazil sectors, although minorities, that have an aversion to the United States, both in the government and Itamaraty."
A representative at the Foreign Ministry was aware of Abdenur's interview but had no response at this time.
Brazil's foreign policy has strengthened trade with Asia, Africa and other Latin American countries since President Luiz Inacio Lula da Silva came to office in 2003, Abdenur said. But he added the Foreign Ministry's agenda of focusing on trade ties with developing countries, or so-called South-South relations, had come at the cost of better relations with developed economies, such as the United States.
"This is an ideology that is anti-capitalistic, anti-globalization, anti-American," Abdenur said in the interview. He said only those in the ministry with openly leftist affinities were being promoted.
Lula and Foreign Minister Celso Amorim failed to find common ground with the United States over the Free Trade Area of the Americas, which would have united most of North, Central and South American into the world's largest trade bloc.
The FTAA is stalled and analysts say Brazil is losing competitiveness in the U.S. market where other Latin American countries like Chile, Peru and Colombia are gaining access through bilateral agreements.
"Brazil is, at best, failing to make money" through greater participation in the U.S. market, Abdenur said.
He said Brazil's part of the U.S. market had fallen from 2.2 percent 20 years ago to 1.4 percent. The United States is the biggest consumer of Brazilian goods and services.
694) Pausa para humor surrealista...
Todos sabem que existe o "teatro do absurdo".
Mas o que poucos sabem é que também existe a política do absurdo.
Não, não me refiro a todas essas falcatruas que parecem ter sido esquecidas, perdoadas pelas eleições e escolha das novas lideranças congressuais.
Refiro-me exatamente a idéias malucas, e no entanto capazes de tramitar durante quatro anos nas comissões do Congresso.
Poucos de nós acompanham a tramitação de projetos de iniciativa dos próprios parlamentares. Eu não sou exceção.
Mas, um projeto fiz questão de acompanhar: o do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que pretendia fixar um "limite máximo de consumo" e instituir uma "poupança fraterna" com o dinheiro excedente dos brasileiros.
Pois bem, esta semana recebi uma informação que reproduzo abaixo:
"Acompanhamento de Proposições
Prezado(a) pralmeida@mac.com,
Segundo solicitação, informamos que as proposições abaixo sofreram movimentação.
PLP 137/2004: Estabelece o Limite Máximo de Consumo, a Poupança Fraterna e dá outras providências
- 31/01/2007: Arquivado nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno
Atenciosamente,
Câmara dos Deputados"
Só podemos dizer: RIP, que descanse em paz.
(PS.: Mas desconfio que o mesmo deputado, reeleito, vai reapresentar o seu projeto, que assim seguirá durante mais quatro anos o tramite normal dos projetos da "política do absurdo".)
Abaixo, transcrevo a ficha completa do absurdo...
Proposição: PLP-137/2004 Clique para obter a íntegra
Autor: Nazareno Fonteles - PT /PI Clique para obter os detalhes do autor.
Data de Apresentação: 16/03/2004
Apreciação: Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário
Regime de tramitação: Prioridade
Situação: MESA: Arquivada.
Ementa: Estabelece o Limite Máximo de Consumo, a Poupança Fraterna e dá outras providências
Indexação: - Criação, valor, limite máximo, consumo, gastos pessoais, pessoa física, utilização, renda mensal, dependente, definição, cálculo, renda per capita, (IBGE), aplicação de recursos, excedente, caderneta de poupança, empréstimo compulsório, Banco do Brasil, (CEF), penalidade, infrator, multa, inclusão, cadastro, dívida pública, prazo, parcelamento, devolução, recursos financeiros, critérios, saque, contas, morte, titular, aquisição, casa própria, doença grave. - Criação, Conselho Nacional, Poupança, vinculação, Presidência da República, composição, competência, aprovação, aplicação de recursos.
Despacho:
25/3/2004 - Às Comissões de Finanças e Tributação e Constituição e Justiça e de Cidadania (Art. 54 RICD)
Pareceres, Votos e Redação Final
CFT (FINANÇAS E TRIBUTAÇÃO)
PRL 1 CFT (Parecer do Relator) - Max Rosenmann Clique para o detalhe da proposição.
Última Ação:
31/1/2007 - Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA) - Arquivado nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno
Obs.: o andamento da proposição fora desta Casa Legislativa não é tratado pelo sistema, devendo ser consultado nos órgãos respectivos.
Andamento:
16/3/2004 PLENÁRIO (PLEN)
Apresentação do Projeto de Lei Complementar pelo Deputado Nazareno Fonteles (PT-PI). Clique para obter a íntegra
25/3/2004 Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA)
Às Comissões de Finanças e Tributação e Constituição e Justiça e de Cidadania (Art. 54 RICD) Clique para obter a íntegra
26/3/2004 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Recebimento pela CFT.
26/3/2004 COORDENAÇÃO DE COMISSÕES PERMANENTES (CCP)
Encaminhada à publicação. Publicação Inicial no DCD de 27/03/2004 PÁG 13025 COL 01. Clique para obter a íntegra
31/3/2004 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Designado Relator, Dep. João Leão (PL-BA)
29/3/2005 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Devolvida sem Manifestação.
26/4/2005 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Designado Relator, Dep. Max Rosenmann (PMDB-PR)
3/8/2005 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Parecer do relator, Dep. Max Rosenmann, pela adequação financeira e orçamentária e, no mérito, pela rejeição.
31/1/2007 Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA)
Arquivado nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno
Mas o que poucos sabem é que também existe a política do absurdo.
Não, não me refiro a todas essas falcatruas que parecem ter sido esquecidas, perdoadas pelas eleições e escolha das novas lideranças congressuais.
Refiro-me exatamente a idéias malucas, e no entanto capazes de tramitar durante quatro anos nas comissões do Congresso.
Poucos de nós acompanham a tramitação de projetos de iniciativa dos próprios parlamentares. Eu não sou exceção.
Mas, um projeto fiz questão de acompanhar: o do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que pretendia fixar um "limite máximo de consumo" e instituir uma "poupança fraterna" com o dinheiro excedente dos brasileiros.
Pois bem, esta semana recebi uma informação que reproduzo abaixo:
"Acompanhamento de Proposições
Prezado(a) pralmeida@mac.com,
Segundo solicitação, informamos que as proposições abaixo sofreram movimentação.
PLP 137/2004: Estabelece o Limite Máximo de Consumo, a Poupança Fraterna e dá outras providências
- 31/01/2007: Arquivado nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno
Atenciosamente,
Câmara dos Deputados"
Só podemos dizer: RIP, que descanse em paz.
(PS.: Mas desconfio que o mesmo deputado, reeleito, vai reapresentar o seu projeto, que assim seguirá durante mais quatro anos o tramite normal dos projetos da "política do absurdo".)
Abaixo, transcrevo a ficha completa do absurdo...
Proposição: PLP-137/2004 Clique para obter a íntegra
Autor: Nazareno Fonteles - PT /PI Clique para obter os detalhes do autor.
Data de Apresentação: 16/03/2004
Apreciação: Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário
Regime de tramitação: Prioridade
Situação: MESA: Arquivada.
Ementa: Estabelece o Limite Máximo de Consumo, a Poupança Fraterna e dá outras providências
Indexação: - Criação, valor, limite máximo, consumo, gastos pessoais, pessoa física, utilização, renda mensal, dependente, definição, cálculo, renda per capita, (IBGE), aplicação de recursos, excedente, caderneta de poupança, empréstimo compulsório, Banco do Brasil, (CEF), penalidade, infrator, multa, inclusão, cadastro, dívida pública, prazo, parcelamento, devolução, recursos financeiros, critérios, saque, contas, morte, titular, aquisição, casa própria, doença grave. - Criação, Conselho Nacional, Poupança, vinculação, Presidência da República, composição, competência, aprovação, aplicação de recursos.
Despacho:
25/3/2004 - Às Comissões de Finanças e Tributação e Constituição e Justiça e de Cidadania (Art. 54 RICD)
Pareceres, Votos e Redação Final
CFT (FINANÇAS E TRIBUTAÇÃO)
PRL 1 CFT (Parecer do Relator) - Max Rosenmann Clique para o detalhe da proposição.
Última Ação:
31/1/2007 - Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA) - Arquivado nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno
Obs.: o andamento da proposição fora desta Casa Legislativa não é tratado pelo sistema, devendo ser consultado nos órgãos respectivos.
Andamento:
16/3/2004 PLENÁRIO (PLEN)
Apresentação do Projeto de Lei Complementar pelo Deputado Nazareno Fonteles (PT-PI). Clique para obter a íntegra
25/3/2004 Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA)
Às Comissões de Finanças e Tributação e Constituição e Justiça e de Cidadania (Art. 54 RICD) Clique para obter a íntegra
26/3/2004 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Recebimento pela CFT.
26/3/2004 COORDENAÇÃO DE COMISSÕES PERMANENTES (CCP)
Encaminhada à publicação. Publicação Inicial no DCD de 27/03/2004 PÁG 13025 COL 01. Clique para obter a íntegra
31/3/2004 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Designado Relator, Dep. João Leão (PL-BA)
29/3/2005 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Devolvida sem Manifestação.
26/4/2005 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Designado Relator, Dep. Max Rosenmann (PMDB-PR)
3/8/2005 Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
Parecer do relator, Dep. Max Rosenmann, pela adequação financeira e orçamentária e, no mérito, pela rejeição.
31/1/2007 Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA)
Arquivado nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
693) Um editorial sobre a política comercial externa
Editorial
Cenários de política externa e comercial do segundo governo Lula: haverá espaço para o pragmatismo?
Pedro da Motta Veiga
Editor
Revista Brasileira de Comércio Exterior, nr. 89 (Rio de Janeiro, Funcex, janeiro de 2007, p. 2-3)
O cenário mais provável, para a política externa e comercial, é a continuidade. Afinal, ela é parte importante da estratégia de legitimação do governo junto ao eleitorado de esquerda.
A reeleição de Lula suscita, na imprensa e entre especialistas, especulações acerca dos rumos da política externa e comercial durante o segundo mandato. Três cenários apresentam algum grau de plausibilidade.
O primeiro – e claramente o mais provável – é o de continuidade. A política externa e comercial é parte da estratégia de legitimação do governo junto ao eleitorado de esquerda, órfão de políticas macroeconômicas “ousadas”. Desse ponto de vista – que não considera resultados econômicos e ignora objetivos comerciais – ela é um sucesso. Há pois fortes incentivos (políticos) para a continuidade da política e poucos constrangimentos econômicos impelindo à mudança. O cenário externo continua muito favorável e o desempenho espetacular das exportações nos últimos anos reduz a margem de ação dos críticos da estratégia brasileira, embora esse desempenho nada deva à política externa e comercial. Vale observar que esse cenário não exclui a assinatura de um acordo de livre comércio com a União Européia, motivada menos por razões econômicas do que pelo objetivo político de demonstrar que o governo brasileiro é capaz de concluir alguma negociação com um parceiro relevante.
Em um segundo cenário, a política externa e comercial refletiria opções domésticas de corte populista, na área de política econômica e de política tout court. Uma política dos pobres contra os ricos no plano doméstico teria sua contrapartida externa, acentuando o viés terceiro-mundista da atual política e aproximando ainda mais o Brasil dos países sul-americanos campeões do nacionalismo econômico e do populismo político. Em termos de iniciativas externas, o Brasil acentuaria sua preferência por acordos Sul-Sul e apoiaria a consolidação de um Mercosul tripartite (com Argentina e Venezuela) com um acentuado viés defensivo. Negociações com países desenvolvidos, só na OMC e olhe lá.
No terceiro cenário, o governo reconheceria implicitamente a escassez de resultados econômicos de sua política externa e comercial e imprimiria a esta doses significativas de pragmatismo, especialmente no que se refere às relações do Brasil
com os países desenvolvidos. Algumas matérias publicadas na imprensa nas últimas semanas sugeriram haver disposição governamental para imprimir esse tipo de ajuste na política, o que se faria sentir sobretudo na postura brasileira frente às relações bilaterais com os Estados Unidos.
Essa orientação responderia a demandas e pressões originárias do setor empresarial, que criticam a politização ou a “ideologização” da estratégia comercial do Brasil. Há sólidas razões para por em dúvida a existência de tal disposição em um segundo governo Lula: o anti-americanismo é uma das molas mestras da “visão de esquerda” das relações internacionais e componente da estratégia de legitimação doméstica da política externa do governo atual.
Mas a solidez do anti-americanismo brasileiro não decorre desse seu vínculo com uma visão de esquerda. Ao contrário, ele se ancora no fato de que o “olhar anti-americano” flertou durante um longo período da história com a visão dominante em política externa, inclusive nos períodos em que a esquerda era perseguida e presa pelos governos militares.
À exceção de alguns curtos períodos, o Brasil adotou, a partir de meados do século XX, modelo de política externa profundamente influenciado pela percepção de que as relações bilaterais com o “vizinho do Norte” são essencialmente assimétricas. Nesse sentido, a estratégia externa do Brasil buscou alianças regionais e extra-regionais como mecanismos “reequilibradores” de poder ou capazes de reduzir os efeitos da assimetria entre Brasil e Estados Unidos.
O exercício desta opção produz “naturalmente” um distanciamento brasileiro em relação aos Estados Unidos e aos regimes internacionais patrocinados por este país, percebidos como fontes de desigualdades entre países ricos e pobres e como fatores que reforçam as assimetrias nas relações bilaterais do Brasil com os Estados Unidos.
Nesta visão, o fato do Brasil se situar, em termos geopolíticos e econômicos, na esfera de influência internacional dos Estados Unidos, é um sério problema. A localização do Brasil é uma incômoda proximidade com elevado potencial para restringir as margens de liberdade do País na implementação de seu projeto nacional de desenvolvimento e de projeção regional na América do Sul.
Dito de outra forma, as percepções dominantes no Brasil acerca das relações bilaterais com os Estados Unidos pautam-se por visão em que esta relação é percebida como restrição à realização das aspirações do Brasil, nos planos doméstico, regional e mundial.
Em seu primeiro mandato, a política externa do governo Lula sentiu-se muito confortável dentro desse modelo de relacionamento, que pouco exige do Brasil e gera dividendos políticos internos não desprezíveis. Apesar das reiteradas declara-
ções de altos funcionários brasileiros, saudando a excelência das relações bilaterais e a fluidez de contatos com autoridades dos Estados Unidos, esse “clima” não parece suficiente para gerar iniciativas que efetivamente contribuam para colocar
a interlocução entre os dois países no patamar requerido pela complexidade e pelo potencial das relações econômicas e políticas bilaterais.
Pedro da Motta Veiga
Editor
Cenários de política externa e comercial do segundo governo Lula: haverá espaço para o pragmatismo?
Pedro da Motta Veiga
Editor
Revista Brasileira de Comércio Exterior, nr. 89 (Rio de Janeiro, Funcex, janeiro de 2007, p. 2-3)
O cenário mais provável, para a política externa e comercial, é a continuidade. Afinal, ela é parte importante da estratégia de legitimação do governo junto ao eleitorado de esquerda.
A reeleição de Lula suscita, na imprensa e entre especialistas, especulações acerca dos rumos da política externa e comercial durante o segundo mandato. Três cenários apresentam algum grau de plausibilidade.
O primeiro – e claramente o mais provável – é o de continuidade. A política externa e comercial é parte da estratégia de legitimação do governo junto ao eleitorado de esquerda, órfão de políticas macroeconômicas “ousadas”. Desse ponto de vista – que não considera resultados econômicos e ignora objetivos comerciais – ela é um sucesso. Há pois fortes incentivos (políticos) para a continuidade da política e poucos constrangimentos econômicos impelindo à mudança. O cenário externo continua muito favorável e o desempenho espetacular das exportações nos últimos anos reduz a margem de ação dos críticos da estratégia brasileira, embora esse desempenho nada deva à política externa e comercial. Vale observar que esse cenário não exclui a assinatura de um acordo de livre comércio com a União Européia, motivada menos por razões econômicas do que pelo objetivo político de demonstrar que o governo brasileiro é capaz de concluir alguma negociação com um parceiro relevante.
Em um segundo cenário, a política externa e comercial refletiria opções domésticas de corte populista, na área de política econômica e de política tout court. Uma política dos pobres contra os ricos no plano doméstico teria sua contrapartida externa, acentuando o viés terceiro-mundista da atual política e aproximando ainda mais o Brasil dos países sul-americanos campeões do nacionalismo econômico e do populismo político. Em termos de iniciativas externas, o Brasil acentuaria sua preferência por acordos Sul-Sul e apoiaria a consolidação de um Mercosul tripartite (com Argentina e Venezuela) com um acentuado viés defensivo. Negociações com países desenvolvidos, só na OMC e olhe lá.
No terceiro cenário, o governo reconheceria implicitamente a escassez de resultados econômicos de sua política externa e comercial e imprimiria a esta doses significativas de pragmatismo, especialmente no que se refere às relações do Brasil
com os países desenvolvidos. Algumas matérias publicadas na imprensa nas últimas semanas sugeriram haver disposição governamental para imprimir esse tipo de ajuste na política, o que se faria sentir sobretudo na postura brasileira frente às relações bilaterais com os Estados Unidos.
Essa orientação responderia a demandas e pressões originárias do setor empresarial, que criticam a politização ou a “ideologização” da estratégia comercial do Brasil. Há sólidas razões para por em dúvida a existência de tal disposição em um segundo governo Lula: o anti-americanismo é uma das molas mestras da “visão de esquerda” das relações internacionais e componente da estratégia de legitimação doméstica da política externa do governo atual.
Mas a solidez do anti-americanismo brasileiro não decorre desse seu vínculo com uma visão de esquerda. Ao contrário, ele se ancora no fato de que o “olhar anti-americano” flertou durante um longo período da história com a visão dominante em política externa, inclusive nos períodos em que a esquerda era perseguida e presa pelos governos militares.
À exceção de alguns curtos períodos, o Brasil adotou, a partir de meados do século XX, modelo de política externa profundamente influenciado pela percepção de que as relações bilaterais com o “vizinho do Norte” são essencialmente assimétricas. Nesse sentido, a estratégia externa do Brasil buscou alianças regionais e extra-regionais como mecanismos “reequilibradores” de poder ou capazes de reduzir os efeitos da assimetria entre Brasil e Estados Unidos.
O exercício desta opção produz “naturalmente” um distanciamento brasileiro em relação aos Estados Unidos e aos regimes internacionais patrocinados por este país, percebidos como fontes de desigualdades entre países ricos e pobres e como fatores que reforçam as assimetrias nas relações bilaterais do Brasil com os Estados Unidos.
Nesta visão, o fato do Brasil se situar, em termos geopolíticos e econômicos, na esfera de influência internacional dos Estados Unidos, é um sério problema. A localização do Brasil é uma incômoda proximidade com elevado potencial para restringir as margens de liberdade do País na implementação de seu projeto nacional de desenvolvimento e de projeção regional na América do Sul.
Dito de outra forma, as percepções dominantes no Brasil acerca das relações bilaterais com os Estados Unidos pautam-se por visão em que esta relação é percebida como restrição à realização das aspirações do Brasil, nos planos doméstico, regional e mundial.
Em seu primeiro mandato, a política externa do governo Lula sentiu-se muito confortável dentro desse modelo de relacionamento, que pouco exige do Brasil e gera dividendos políticos internos não desprezíveis. Apesar das reiteradas declara-
ções de altos funcionários brasileiros, saudando a excelência das relações bilaterais e a fluidez de contatos com autoridades dos Estados Unidos, esse “clima” não parece suficiente para gerar iniciativas que efetivamente contribuam para colocar
a interlocução entre os dois países no patamar requerido pela complexidade e pelo potencial das relações econômicas e políticas bilaterais.
Pedro da Motta Veiga
Editor