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sábado, 14 de fevereiro de 2009

1026) Educacao: direito, dever, ou o quê?

Educação ao contrário
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 27 de janeiro de 2009

Clicando no Google a palavra “Educação” seguida da expressão “direito de todos”, encontrei 671 mil referências. Só de artigos acadêmicos a respeito, 5.120. “Educação inclusiva” dá 262 mil respostas. Experimente clicar agora “Educar-se é dever de cada um”: nenhum resultado. “Educar-se é dever de todos”: nenhum resultado. “Educar-se é dever do cidadão”: nenhum resultado.

Isso basta para explicar por que os estudantes brasileiros tiram sempre os últimos lugares nos testes internacionais. A idéia de que educar-se seja um dever jamais parece ter ocorrido às mentes iluminadas que orientam (ou desorientam) a formação (ou deformação) das mentes das nossas crianças.

Eis também a razão pela qual, quando meus filhos me perguntavam por que tinham de ir para a escola, eu só conseguia lhes responder que se não fizessem isso eu iria para a cadeia; que, portanto, deveriam submeter-se àquele ritual absurdo por amor ao seu velho pai. Jamais consegui encontrar outra justificativa. Também lhes recomendei que só se esforçassem o bastante para tirar as notas mínimas, sem perder mais tempo com aquela bobagem. Se quisessem adquirir cultura, que estudassem em casa, sob a minha orientação. Tenho oito filhos. Nenhum deles é inculto. Mas o mais erudito de todos, não por coincidência, é aquele que freqüentou escola por menos tempo.

A idéia de que a educação é um direito é uma das mais esquisitas que já passaram pela mente humana. É só a repetição obsessiva que lhe dá alguma credibilidade. Que é um direito, afinal? É uma obrigação que alguém tem para com você. Amputado da obrigação que impõe a um terceiro, o direito não tem substância nenhuma. É como dizer que as crianças têm direito à alimentação sem que ninguém tenha a obrigação de alimentá-las. A palavra “direito” é apenas um modo eufemístico de designar a obrigação dos outros.

Os outros, no caso, são as pessoas e instituições nominalmente incumbidas de “dar” educação aos brasileiros: professores, pedagogos, ministros, intelectuais e uma multidão de burocratas. Quando essas criaturas dizem que você tem direito à educação, estão apenas enunciando uma obrigação que incumbe a elas próprias. Por que, então, fazem disso uma campanha publicitária? Por que publicam anúncios que logicamente só devem ser lidos por elas mesmas? Será que até para se convencer das suas próprias obrigações elas têm de gastar dinheiro do governo? Ou são tão preguiçosas que precisam incitar a população para que as pressione a cumprir seu dever? Cada tostão gasto em campanhas desse tipo é um absurdo e um crime.

Mais ainda, a experiência universal dos educadores genuínos prova que o sujeito ativo do processo educacional é o estudante, não o professor, o diretor da escola ou toda a burocracia estatal reunida. Ninguém pode “dar” educação a ninguém. Educação é uma conquista pessoal, e só se obtém quando o impulso para ela é sincero, vem do fundo da alma e não de uma obrigação imposta de fora. Ninguém se educa contra a sua própria vontade, no mínimo porque estudar requer concentração, e pressão de fora é o contrário da concentração. O máximo que um estudante pode receber de fora são os meios e a oportunidade de educar-se. Mas isso não servirá para nada se ele não estiver motivado a buscar conhecimento. Gritar no ouvido dele que a educação é um direito seu só o impele a cobrar tudo dos outros – do Estado, da sociedade – e nada de si mesmo.

Se há uma coisa óbvia na cultura brasileira, é o desprezo pelo conhecimento e a concomitante veneração pelos títulos e diplomas que dão acesso aos bons empregos. Isso é uma constante que vem do tempo do Império e já foi abundantemente documentada na nossa literatura. Nessas condições, campanhas publicitárias que enfatizem a educação como um direito a ser cobrado e não como uma obrigação a ser cumprida pelo próprio destinatário da campanha têm um efeito corruptor quase tão grave quanto o do tráfico de drogas. Elas incitam as pessoas a esperar que o governo lhes dê a ferramenta mágica para subir na vida sem que isto implique, da parte delas, nenhum amor aos estudos, e sim apenas o desejo do diploma.

6 comentários:

Gustavo Tenório Trancoso Viana disse...

Caro Paulo,

Aliviado seria a melhor denominação do que venho a sentir agora. Obviamente não se trata de uma constatação que vá, de alguma forma, de encontro aos seus instintos libertários, entretanto, de alguma forma identifiquei-me com seus relatos quanto agente ativo na sociedade.
Durante anos me perguntei: aonde querem me levar com esta "cultura" imposta?
Demorei um certo tempo para compreender que; não se trata de um direito, como havia descrito o senhor, mas sim de uma obrigação, ou ainda, de um dever.
Notóriamente, sempre fui daqueles alunos que, de certa forma, demostra certo desisteresse por algumas e outras aulas - não posso generalizar, pois algumas de fato me foram muito bem acertadas. A propósito, minha cultura certamente foi elevada à um nível, que hoje considero acima da média, graças as minhas pesquisas aleatórias, com base em reflexões de, teoricamente, fatos ocorridos na sociedade. Acrescentaria ainda que os pais têm um papel muito mais importante do que qualquer outra instituição do mundo do ensino. Os pais conduzem os filhos à percepções mais optimizadas do que vem a ser a vida, como citato por você em outro artigo, "como ela é".
Pelo sim, pelo não, a conclusão que chego é a mesma que foi composta em seu discurso. Nós somos responsáveis pelo nosso nível cultural, ou melhor, pela nossa noção de civilização, de cidadania, da arte de viver, da arte da guerra, das conclusões preciptadas, de outras notoriamente acertivas, enfim, a objetividade do ser ativo vem da sua noção de mundo, e do que ele quer para sí. Neste ponto que afirmo que os pais têm um grande papel na condução da formação de seus filhos.

Grande Abraço!

Anônimo disse...

A educação é um direito na medida que o cidadão pode exigir do Estado acesso à educação (escolas, bibliotecas, livros, professores etc.). Sendo um direito de segunda geração (direitos socias), como se diz, está nas esfera dos direitos os quais podemos exigir do Estado a sua prestação, tendo este a obrigação de promovê-la a todos igualmente, garantindo assim a todos o mínimo existencial, basicamente. É uma forma de alcançar o bem-estar geral. Não é?

Onde isso está errado eu não entendi.

O texto parece (eu disse parece)confundir a obrigação de educar-se (supondo intelectuais em série, talvez) com a iniciativa estatal espontânea de dar educação aos cidadãos, sem mesmo conscientizá-los disso. O Estado ou qualquer outra instituição estaria nos ludibriando ao fazer campanhas que elucidam apenas que este é um direito que pode ser cobrado e não que há uma obrigação de educar os cidadãos, supondo alguma sutileza que para mim é inexistente. Vejo duas ideias diferentes que pouco fazem sentido. E, no mais, direito e dever não são dois lados da mesma moeda (obrigação jurídica)?

Qual é a proposta, o incentivo ao autodidata do sertão, das periferias? Desprezo ao direito à educação?

A pavra direito não é "apenas um modo eufemístico de designar a obrigação dos outros". Ela é o melhor e mais íntegro modo de designá-la, principalemento numa sociedade desigual, de poucas oportunidades, baixo esclarecimento e onde os cidadãos devem ser, supostamente, livres.

Um professor meu dizia que a escola só serve para te mostrar que alguém manda em você. Sem querer levar ao pé da letra, eu concordo. Ainda assim, levando ao pé da letra, você aprende que pode e deve cobrar do Estado a escola, os livros, as bibliotecas... o direito a educação. E é lógico, ter ido a escola familiariza qualquer um com os livros, mostra que existem professores, conhecimento infinito para todos os lados, independente do seu pai ser um militar, um encanador ou um físico pesquisador.

Falando o óbvio, ninguém discordaria a importância da educação paterna e materna neste processo, o que poderia ser dito de forma menos ríspida ao direito a educação. Afinal, este não está imediatamnte associado àquele que pode ser autodidata, intelectual ou seja lá o que for, mas uma garantia de que todos poderão compreender minimamente o mundo em que vivem e que podem fazer suas escolhas com base na sua própria convicção, com discernimento. É a prática do republicanismo, enfim.

Acho que o texto quer mostrar simplemente o intereese que devemos ter em nossa educação, aquela curiosidade que cada um deveria fomentar dentro de si para abrir os livros, a leitura que vem de casa. Isso parece louvável se não fosse as diversas insinuações desnecessárias que podem ler nas suas entrelinhas, ou nas próprias linhas.

Foi só a minha meneira antipática de dizer que não gostei do texto.

Todavia, Sr. Paulo, parabéns de verdade pelo blog.


Fabio

Anônimo disse...

Paulo,
Fiz um comentário aqui e acredito que ele tenha sido vetado pela "moderação".
A minha intenção não foi ofender ninguém ou muito menos desvalorizar aquilo que publica aqui. Se critiquei foi porque temos posturas ideológicas diferentes, tão-somente - seja lá quais forem elas -,o que não justifica o veto.
Torço para que pense da mesma forma e que tenha havido apenas um mal entendido, já que me senti desencorajado a fazer outro comentário no caso dele poder ser moderadamente deletado pelo simples fato de discordar.

Esse comentário, sim, não é pra ser aprovado pela moderação.

Fabio.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Fabio,
Mil desculpas antecipadas pelo que pode ter ocorrido em relação a seu comentário anterior, mas não me lembro de ter vetado um comentário seu a um post que nao verdade não é de minha lavra. Não apenas não teria motivos para vetar, como costumo aceitar comentários contrários a meus próprios posicionamentos, pois um blog é feito justamente feito para esse tipo de interação.
Apenas exerço um direito de controle sobre mensagens agressivas, ofensivas ou basicamente estapafurdias, sem muita consistencia ou pertinência quanto ao objeto do post.
Mas, não costumo vetar comentários e lamento pelo que possa ter ocorrido em relação ao seu. Envie-me, novamente, por favor, que eu terei prazer em postar, reservando-me o direito de acrescentar meus proprios comentarios, se for o caso.
Voce tambem pode informar seu e-mail, para envio direto.
Cordialmente,
PRA

Anônimo disse...

Paulo,

Foi o que eu imaginei que tivesse ocorrido, mas confesso que fiquei com o pé um pouco atrás por ter sido logo o meu primeiro comentário aqui no blog.

Superado isto, reitero os elogios que havia feito naquele primeiro comentário: Parabéns pelo blog, pelo conteúdo, pela disponibilidade em falar diretamente com os que almejam a carreira diplomática etc.

O que eu havia escrito se perdeu, mas isso é o que menos me importa.

Obrigado pela pronta resposta,

Fabio.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Lamento Fabio, se o seu comentario se perdeu. Nao sei o que pode ter ocorrido, mas considere que eu tenho um fluxo de mensagens na casa de centenas por dia, e algo pode ter ocorrido.
Mil desculpas, mesmo sem saber o que aconteceu, exatamente...
Paulo Roberto de Almeida