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quarta-feira, 22 de abril de 2009

1077) Visiting Scholar em Urbana: um reconhecimento

Abaixo, teor de carta pessoal, mas que pode ser tornada pública sem qualquer objeção de minha parte, ao patrono do programa de cooperação acadêmica ao abrigo do qual pude vir passar um mês de pesquisas na Universidade do Illinois em Urbana-Champaign, a convite do Professor Werner Baer, um conhecido economista brasilianista.

Visiting Scholar na Universidade do Illinois em Urbana
Um privilégio e uma chance...

Paulo Roberto de Almeida

Caro Jorge Paulo Lemann,
Há muito tempo tenho conhecimento de sua obra meritória – mas que deve ser reconhecida como verdadeiramente excepcional no contexto brasileiro – em benefício da formação acadêmica de alta qualidade de jovens brasileiros (e estrangeiros, por tabela). Tomei conhecimento de sua ação desde muitos anos, seja pela imprensa, seja por meio de boletins acadêmicos, mais especificamente alguns anos atrás quando servi, como diplomata que sou, na Embaixada em Washington – na gestão do Embaixador Rubens Antônio Barbosa, de 1999 a 2003 – ocasião na qual soube de sua generosa doação ao David Rockefeller Center of Latin American Studies da Universidade de Harvard, numa conjuntura em que a nossa embaixada também estava buscando impulsionar os estudos brasileiros nos EUA (materializados em algumas iniciativas conhecidas).
Não tinha tido ainda a oportunidade de interagir com você direta ou pessoalmente, posto que nossos itinerários nunca se cruzaram, na diplomacia ou na academia, por pura falta de sorte, ou de oportunidade, diria eu. Aliás, faltavam-me as suas coordenadas, que me foram agora repassadas pelo professor Werner Baer, que leva, aliás, o título de “Lemann Professor of Economics”, o que por si só é uma indicação de sua obra, uma entre muitas outras, que conheço mal, confesso. Acabo de passar um mês, a convite do professor Baer, como Visiting Scholar, o que para mim foi dupla ou triplamente gratificante. Já conhecia Urbana, tendo aqui vindo em duas oportunidades anteriores para participar de seminários sobre o Brasil. Mas foi a primeira vez que aqui passei mais de três ou quatro dias, podendo, portanto, usufruir do que a universidade tem a oferecer de melhor, do meu ponto de vista: acesso irrestrito e interminável a todo e qualquer tipo de publicação acadêmica.
Atualmente, como diplomata em relativa ‘inatividade’, mas sobretudo como acadêmico em tempo parcial, estou terminando o segundo volume de uma história da diplomacia econômica brasileira – depois de já ter escrito um primeiro volume relativo ao século 19 – cobrindo desta vez o período da República Velha e a Era Vargas (1889-1945). Faltava-me no Brasil, justamente, o acesso à literatura secundária e a alguns relatórios servindo como fonte primária tocando em alguns dos problemas mais importantes do período em questão: temas financeiros e comerciais, sobretudo. Nestas poucas semanas em Urbana processei, assim, uma massa de informações e análises a que não teria nunca acesso no Brasil, ou apenas em condições muito difíceis, considerando-se a precariedade de nossas bibliotecas em geral, e a ineficiência, ou inexistência, de empréstimos inter-bibliotecas. Para meus interesses livrescos egoístas, foi o ponto alto de minha estada.
O professor Baer também foi extremamente generoso, convidando-nos – eu e minha esposa, Carmen Lícia – a uma noite na ópera do Performing Arts Center da própria universidade, para assistir a uma representação moderna em seu formato de Der Rosenkavalier, de Richard Strauss e Hugo Von Hofmannsthal. Foi o ponto alto no plano artístico-cultural de nossa estada. Aproveitamos os fins de semana para duas esticadas a Chicago – visitas a museus, sobretudo – outra a Indianápolis, em Indiana, e uma em Saint Louis, no Missouri, para uma outra exposição excepcional, além de uma curta visita a Springfield, incontornável em se tratando da terra do Lincoln. O professor Baer ainda nos ofereceu um coquetel de boas vindas em sua residência, juntamente com outros brasileiros de passagem ou pós-graduandos em Urbana, o que representou mais uma oportunidade de interação acadêmica.
Minha retribuição como contrapartida acadêmica foi pequena, por falta de tempo e, talvez, de calendário no Centro de Estudos Latino-Americanos. Ainda que disposto a fazer palestras ou exposições sobre os temas de minha competência ou especialização – relações econômicas internacionais e política externa do Brasil – apenas foi possível fazer, em 21 de abril, uma palestra sobre o Brasil e a crise financeira internacional, cujo suporte visual, meramente ilustrativo, encontra-se disponível em meu site (link). O balanço de minha estada é, portanto, nitidamente em meu favor, o que poderá ser eventualmente compensado em alguma ocasião futura, ou mediante outras iniciativas compatíveis com o programa de estudos do Centro de Estudos Latino-Americanos da UIUC, especificamente sobre o Brasil, tão bem conduzido por eminentes scholars como o próprio professor Werner Baer e pelo professor Joseph Love.
Gostaria, aliás, de aproveitar esta oportunidade para cumprimentá-lo diretamente pelo seu constante apoio e excepcional suporte financeiro aos programas vinculados ao Brasil – não exclusivamente – concedidos em favor de diversas universidades americanas (e brasileiras, certamente). Embora não inéditas na tradição americana, estas ações são certamente excepcionais no plano acadêmico brasileiro, provavelmente sem precedentes ou similitudes históricas no caso de “mecenas” brasileiros, o que é não apenas merecedor de registro apropriado, mas digno de encômios e de publicidade (visando estimular vocações comparáveis dentre nossos capitalistas eventualmente motivados pela vida acadêmica). Se eu dispusesse de capital, faria algo similar, mas não semelhante, provavelmente dirigido ao estudo fundamental, pois que, vindo de família modesta, sei da monumental diferença que pode fazer no itinerário de um jovem desfavorecido a disponibilidade de boas escolas e de boas bibliotecas para uma formação compatível com os requerimentos de uma integração bem sucedida ao mercado de trabalho ou simplesmente provedores de condições mínimas para uma vida digna e profícua, no plano social.
Sou seu irrestrito admirador, portanto, no que concerne seu trabalho de apoio a programas de estudos como os aqui conduzidos de forma competente pelo professor Baer, aliás, um “vieux routier” dos estudos brasileiros desde o final dos anos 1960, como tenho constatado pela bibliografia compulsada aqui mesmo em Urbana (mas ainda relativa a seu período de Vanderbilt e de colaboração com o IPEA). Seu suporte financeiro direto pode – e deve – fazer diferença na vida de muitos estudantes brasileiros, contemplados com um séjour d’études (ou um programa inteiro de pós-graduação) em Urbana, onde as opções de estudo são obrigatórias, eu diria, tendo em vista o ambiente interno, favorável, e o milharal em volta, desencorajador, talvez. Um pouco menos de frio, e um pouco mais de animação, do ponto de vista brasileiro, talvez ajudassem a tornar a vida mais agradável em Urbana, mas não se pode dizer que esses fatores de indução ao estudo sejam negativos absolutamente, já que ajudam a converter o acadêmico brasileiro em um eremita intelectual temporário.
O novo aporte Lemann agora concedido ao programa brasileiro de Urbana vai certamente reforçar a presença e a cobertura geográfica dos recrutados brasileiros, assim como dos docentes e colaboradores daqui e de outras instituições. Mais importante, provavelmente, do que o simples aporte financeiro, é o engajamento pessoal, o commitment com um projeto definido, a definição de um objetivo maior, que é o da elevação intelectual, juntamente com a capacitação profissional, dos candidatos aqui acolhidos. A universidade já representa, em si, um excelente ambiente de pesquisa e de trabalho: o apoio material e a orientação intelectual a um programa focado em estudos brasileiros, com o instrumental analítico universal que cerca necessariamente qualquer empreendimento acadêmico, farão deste projeto, tenho certeza, um exemplo de excelência no terreno do mecenato intelectual.
Estas são as minhas poucas impressões de uma curta, mas produtiva, estada em Urbana nesta fria primavera de abril 2009. Levo daqui alguns megabytes a mais de conhecimento, tanto no computador quanto em meu próprio hard-drive neuronal, o que representará um subsídio relevante na preparação de minha obra projetada, e por isso sou grato ao programa, ao professor Werner Baer, e a você mesmo, ainda que indiretamente ou por vias interpostas. Sou reconhecido, em qualquer hipótese, pela oportunidade que me foi concedida de conhecer um pouco melhor uma grande universidade americana, de me beneficiar com a riqueza de seus fundos bibliográficos e documentais, e de dispor de um excelente ambiente de trabalho intelectual nestas poucas semanas, o que será devidamente registrado no trabalho em preparação.
Espero poder travar conhecimento direto numa próxima oportunidade, para confirmar-lhe meu agradecimento pessoal pela distinção que me foi concedida. No momento aceite meus cumprimentos, junto com minha apreciação renovada pelo esforço conduzido aqui e em outras instituições de estudo especializado, assim como meu testemunho especial de reconhecimento, que pode valer para expressar o mesmo sentimento da parte de muitos outros jovens beneficiários, provavelmente incógnitos em vista de seu grande número. No mesmo ato, desejo consignar minha gratidão acadêmica e pessoal ao professor Werner Baer, que já formou e orientou centenas de estudantes de mais de uma geração, de forma contínua e confirmadamente entusiástica: seu nome está consolidado como o grande brasilianista da área econômica e como um excepcional amigo do Brasil, junto com outros nomes igualmente famosos dessa comunidade agora ampla e diversificada.
O abraço do

Paulo Roberto de Almeida
Urbana, IL, 22 de abril de 2009

Para: Jorge Paulo Lemann

cc: Werner Baer
Lemann Professor of Economics
University of Illinois at Urbana-Champaign
1407 West Gregory Drive
Urbana, Illinois 61801
Phone: (217) 333-8388

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