Uma hipoteca negativa para o Brasil: uma reflexão pessoal sobre o BRICS+
Paulo Roberto de Almeida
Minha posição sobre as aventuras diplomáticas de Mister Lula.
O BRIC, o BRICS e agora o BRICS+ são apenas ilusões equivocadas (o que é uma redundância, mas justificada) de uma certa diplomacia?
Não, não se trata apenas disso, pois essas siglas sucessivas resultam dos compromissos assumidos em meados da primeira década do século pelo que eu já chamei, inúmeras vezes, de lulopetismo diplomático, mas que agora pesam na diplomacia nacional nesta terceira década do século XXI.
Não são apenas ilusões, mas grandes miragens de uma diplomacia em sua essência personalista, e que não foram impedidas (esse é o termo) de se tornarem políticas de Estado — em lugar de serem apenas aventuras passageiras de um chefe de Estado autoritário e megalomaníaco — por um Itamaraty muito mais submisso do que o habitual em sua longa história bissecular (mais longa, em todo caso, do que certas Instituições diplomáticas de grandes Estados que se unificaram décadas depois de nosso Estado imperial, que é mais antigo, por exemplo, do que a Itália e a Alemanha contemporâneas).
Os três blocos são totalmente artificiais — pois que não nasceram de reflexões técnicas da diplomacia profissional do Itamaraty — e, sim, foram impostos à instituição pelo então chefe de Estado e pelo seu chanceler “ativo e altivo”. Eles são equívocos desastrosos para à diplomacia de uma potência MÉDIA, como sempre foi o Brasil, em toda a sua história, mas que foi guindado a essa aliança mal concebida com duas grandes potências imperiais - Rússia e China — pela megalomania de um populista obsecado pelo seu antiamericanismo primário e anacrônico (aqui em virtude de um gramscismo mal digerido pelos guerrilheiros reciclados que dominaram o aparelho político de um partido que era, em sua origem, basicamente sindicalista).
Não é natural que uma potência média, desejosa de preservar sua autonomia decisória e independência diplomática, conforme uma aliança com uma grande potência, a não ser para fins defensivos em um ambiente hostil, como pode ter sido o caso de Portugal, precocemente levado a conformar uma aliança com a Inglaterra, após a Restauração de 1640, para se defender de dois vizinhos incômodos, Espanha e França.
O Brasil imperial e o republicano nunca fizeram tais tipos de alianças desiguais, a não ser circunstancialmente nas duas grandes guerras gobais da primeira metade do século XX, da segunda vez de maneira informal com os EUA durante a Guerra Fria devido à ameaça real ou suposta do comunismo.
Mas nos desvencilhamos rapidamente dessa aliança incômoda ainda no segundo governo do regime militar, mesmo se não conseguimos estabelecer uma completa autonomia em matéria de defesa, ainda que rompendo um acordo de assistência militar no quarto governo da ditadura, por questões de soberania (críticas às práticas de DH pela potência imperial americana).
E assim preservamos a autonomia de nossa política externa e a credibilidade de nossa diplomacia no período imediatamente posterior ao regime militar, ou seja, nos primeiros quinze anos da Nova República. Foi aí que sobreveio o regime dos companheiros — sim, regime, e não apenas dois ou três governos —, cujos ideólogos tinham imensa raiva do império americano (por ter sido “golpista” em 1964, apenas em parte verdade), mas que também exibiam uma grande fidelidade a Cuba e outros regimes assimilados ao já referido antiamericanismo primário.
O primeiro BRIC nasce justamente dessa circunstância oportunista, a mera sugestão de um “bloco” de potências “emergentes”, mas que devia servir unicamente como uma espécie de plataforma financeira para investimentos rentáveis para fundos bilionários institucionais. O acrônimo era atraente e assim se formou, entre 2006 e 2009, primeiro em escala ministerial, depois em nível de cúpula, o bloco diplomática antinatureza que uniu o Brasil a duas grandes autocracias (mais a Índia, já parceira do Brasil lulopetista nessa outra aliança mais modesta, o IBAS).
Não vou retomar aqui todos os argumentos reflexivos que desenvolvi ao longo de 18 anos, desde a bizarra formação do BRIC em 2096 até a publicação de meu livro de 2022, “A Grande Ilusão do BRICS e o Universo Paralelo da Diplomacia Brasileira”, so a forma de artigos e ensaios ali reunidos. A importância relativa dessas reflexões está contida no prefácio e no posfácio dessa compilação, que acabo de tornar disponíveis a todos os interessados. Isso foi antes da ampliação irracional (e indesejada pela diplomacia profissional, e até mesmo pela diplomacia lulopetista, incapaz de resistir às pressões de China e Rússia) para o bloco completamente disforme do BRICS+, que poderia estar ainda meior, não fosse pela resistência de Índia e Brasil, que justamente não desejavam diluir sua importância e poder relativos no novo “bloco”.
Essa ampliação não invalida o teor e a substância desses dois textos, prefácio e posfácio, ao livro em questão.
Convido os interessados a lê-los, prometendo trazer uma nova reflexão abrangente em tempo hábil. Eles estão nesta postagem do meu quilombo de resistência intelectual que é o Diplomatizzando:
https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/07/a-grande-ilusao-do-brics-e-o-universo_19.html?m=1
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/07/2025
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