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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

China-Brasil: mais capitalista do que os capitalistas


DCI
China enviou US$ 20 bilhões ao Brasil via paraísos fiscais
Gustavo Machado
DCI, 6/09/2011

Maior parceiro comercial do Brasil nos últimos anos, a China configura atualmente um parceiro e um rival. Principal comprador de matérias-primas produzidas no País, os asiáticos causam preocupação na equipe econômica do governo de Dilma com sua moeda, o iuane, depreciada, e produtos baratos. E apesar de, oficialmente, registrar um valor baixo de investimentos diretos, o país asiático, na verdade, enviou US$ 20 bilhões no ano passado em recursos por meio de países conhecidos como paraíso fiscal, como Suíça e Luxemburgo.

No ano de 2010, entre janeiro e julho, US$ 24,435 bilhões foram exportados para a China, enquanto que US$ 17,687 bilhões foram importados. Atualmente, os Estados Unidos são o país do qual o Brasil mais importa. De acordo com dados do Banco Central (BC), no mesmo período, em IED, apenas US$ 367 milhões vieram da China, o que os situava apenas em 12º entre os estrangeiros que mais investiam no País. Neste ano, os valores são ainda mais insignificantes: US$ 138 milhões e o distante 23º lugar.

No entanto, os dados do BC não condizem com a realidade da relação bilateral. De acordo com Welber Barral, consultor de comércio exterior e secretário do MDIC entre 2007 e 2010, isso ocorre porque o investimento do gigante asiático é oriundo de subsidiárias de suas empresas. "Muito do dinheiro chinês não vem necessariamente da China".

Segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), o Brasil recebeu mais de US$ 20 bilhões no ano de 2010 em investimentos de companhias chinesas. O valor colocaria o asiático na primeira posição com muita folga, de acordo com os documentos do setor externo divulgados pelo Banco Central. "Isso porque muito do dinheiro vem de paraísos fiscais", explica Tang.

Corroborando com a afirmação de Tang, no ano passado Luxemburgo e Suíça figuraram como os principais investidores, com pouco mais de US$ 15 bilhões. "A China considera o Brasil um grande mercado. O Governo quer a abertura de novas fábricas. Não só o País se beneficiará, mas também o povo", afirma o presidente da CCIBC.

Para o Dr. Evaldo Alves, coordenador do curso de Comércio Exterior da Fundação Getúlio Vargas, existe uma relação complexa com o parceiro asiático. "Devemos nos proteger quanto à China competidora, mas não devemos atacá-la", avisa, antes de lembrar que os preços baixos dos produtos importados ajudam a baixar a inflação. "Precisamos resolver os gargalos da economia brasileira", alerta Alves.

O custo Brasil é um dos maiores agravantes na relação bilateral. Altos impostos e salários mais altos encarecem os produtos nacionais. Para o consultor em comércio exterior Vivaldo Cardoso Piraino existe um pouco de dúvida quanto ao futuro desta parceira. "Os preços dos chineses são tão baixos que é preciso criar restrições, taxas para evitar o dumping [preços extremamente baixos para prejudicar concorrentes]", diz o consultor.

Entre os maiores produtos exportados estão minério de ferro, soja triturada e petróleo. Já entre os importados, peças para transmissores, máquinas de processamento de dados e circuitos impressos (chips) para telefonia. Segundo Barral, existe uma barreira de importação na China contra os manufaturados do Brasil, que seria forçado a compor sua pauta de exportação basicamente com matérias-primas e commodities agrícolas. A tese é combatida por Charles Tang, que culpa os preços elevados pela dificuldade de ingresso dos manufaturados.

Indiferente aos produtos exportados, a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Lacerda, indica que cada vez mais a China representa o motor da economia global e que a relação entre os dois países é cada vez mais importante. "O crescimento do PIB chinês se reflete na pauta exportadora do Brasil", afirma Lacerda. Ao encontro da afirmação da secretária, na comparação entre os meses de janeiro e agosto de 2010 e 2011, o volume financeiro exportado cresceu 45%. O superávit brasileiro na balança comercial entre os países aumentou para US$ 1,443 milhão em julho de 2011, 63% maior que no mesmo período de 2010.

sábado, 2 de julho de 2011

Wikileaks-Brasil: China pensa que Brasil nao tem peso internacional

Estou terminando a revisão de um trabalho meu que escrevi há mais de um ano (e que ainda não foi publicado): "Brasil, China e a arquitetura da governança global"

A matéria abaixo (e o telegrama transcrito) sobre opiniões de um ex-embaixador da China no Brasil sobre nosso pequeno peso internacional apenas confirma, de modo mais explícito, o que já se sabia: a China não pretende apoiar o Brasil em sua pretensão de ocupar uma cadeira permanente no CSNU. Este nem é o problema principal, pois a China não pretende ampliar o CSNU para ninguém, pois isso diminuiria relativamente seu próprio peso internacional. Se trata, obviamente, de uma posição conservadora, como é, geralmente a das grandes potências (apenas quando elas não conseguem mais pagar a conta, como parece ser o caso dos EUA, atualmente, elas pretendem que outros o façam), e no caso da China, ela pouco se preocupa com a estabilidade do sistema internacional, e não pretende assumir um papel que a engaje mais de perto com certas responsabilidades "imperiais", digamos assim.
No caso do Brasil, porém, ela apenas explicita o que pensam de nós muitos imperiais e outros menos imperiais: não temos peso, ainda.
Pois é, parece que a solução mesmo é: cresça e apareça, mas isso não depende do mundo. Depende de nós mesmos, ou seja de reformas internas e de crescimento econômico e militar. A China só é o que é, hoje, por se tratar, de fato, de uma grande potência (já era antes, mas decaiu durante dois séculos), que cresceu enormemente nas últimas três décadas e vem se afirmando cada vez mais nos planos econômico e financeiro. Falta se afirmar no plano militar, mas isso assusta muita gente...
Paulo Roberto de Almeida

A) Matéria da Agência A Pública, sobre telegrama Wikileaks, sobre relações China-Brazil (neste link):

WIKILEAKS: China pensa que Brasil não tem “capacidade” para ser líder
Por João Peres, especial para a Pública, June 29th, 2011

Telegramas revelam conversa entre embaixadores da China e dos Estados Unidos na qual se pondera que o Brasil tampouco está qualificado para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU

Segundo o ex-embaixador chinês no Brasil, a China acredita que o Brasil não tem “capacidade e influência” para ser líder e que as ambições do país excedem seu verdadeiro peso no cenário internacional. Telegramas de agosto de 2008 obtidos pelo Wikileaks mostram a conversa de Chen Duqing, que ficou no cargo até 2009, com o ex-embaixador dos Estados Unidos, Clifford Sobel.
Àquela ocasião, Duqing manifestou a Sobel que o Brasil não estaria qualificado para suas aspirações de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e estava “interessado apenas em algumas áreas, e não em paz ou em segurança”.
Para Paulo Vizentini, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é preciso fazer a ressalva que a afirmação foi feita em 2008, começo da grande crise financeira que catalisaria as mudanças no quadro geopolítico internacional – e o Brasil ganhou força. Porém, admite ele, “o Brasil demonstra uma série de fragilidades quanto a seu projeto. Não temos um pacto de poder mínimo que assegure uma agenda comum que sobreviva a mudanças de governos”.
Conselho de Segurança
Em outro telegrama, os Estados Unidos ponderavam que a principal relutância chinesa quanto à reforma no Conselho de Segurança dizia respeito à possível entrada do Japão no conselho. Para os diplomatas, se a China apoiasse o Brasil em seu antigo anseio por uma inserção mais profunda no principal organismo multilateral, estaria por tabela beneficiando os rivais asiáticos. “Pode haver uma manobra chinesa no sentido de não deixar ninguém entrar. É fato que a China tem ficado incomodada com a reaproximação entre Japão e Estados Unidos”, pondera o professor.
A questão foi parcialmente alterada este ano, quando, em viagem a Pequim, a presidenta Dilma Rousseff conseguiu a inclusão, no comunicado bilateral, do apoio chinês a uma reforma no Conselho de Segurança para incluir nações emergentes. Falta obter, por parte da China, dos Estados Unidos e da própria ONU, uma defesa enfática do direito do Brasil de ingressar no órgão multilateral mais importante do mundo.
No campo interno, o embaixador chinês criticava os problemas de infraestrutura, classificando o porto de Santos como “o pior do mundo”. Ele apontou na conversa com Sobel que a burocracia nacional é muito confusa e que há uma sobreposição de funções. Para Duqing, merece especial atenção o fato de o Brasil não ter consolidado suas bases para dar conta de um desenvolvimento prolongado, indicando que, sem mais crescimento econômico, não se consolidará a meta de reduzir a desigualdade social.
Parceiro importante, parceiro ocasional
Em diversos telegramas, os diplomatas estadunidenses avaliam que o Brasil vê a China como um aliado fundamental, mas advertem que a relação não é marcada por reciprocidade. “O governo Lula considera a China um parceiro para contrabalancear a influência de nações mais ricas em instituições multilaterais”, anota a então embaixadora, Donna Hrinak, em despacho de 14 de maio de 2004 no qual resume, em poucas palavras, a tônica desta relação bilateral: “Para o Brasil, mesmo um casamento de conveniência é preferível a um eterno encontro”.
Naquele momento, chamava atenção a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia realizado à nação asiática acompanhado por uma enorme delegação de 400 empresários. Os telegramas indicavam que a relação era desigual em termos de trocas comerciais, com envio de commodities brasileiras em troca de produtos industriais chineses.
Dados divulgados em abril pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constatam que a desigualdade se aprofundou, e atualmente 86% da exportação brasileira ao parceiro é baseada em produtos primários.
Desconfianças de parte a parte
“Este é um grupo muito heterogêneo de países com diferentes metas”, anotava em 19 de fevereiro de 2010 o subsecretário-geral de política do Itamaraty, Roberto Jaguaribe, em conversa com o embaixador Thomas Shannon, na qual confirmava que a China não queria que o BRIC se transformasse em porta-voz das nações em desenvolvimento.
Na mesma conversa, o diplomata estadunidense demonstrava surpresa com a rapidez com que a China se engajou em negócios na América do Sul, passando de um envolvimento meramente econômico a uma relação política que se aprofundava constantemente. “China será uma forte concorrente, para os Estados Unidos e para o Brasil”, advertia Shannon, segundo telegrama de 22 de abril de 2008.
Os documentos são parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos, que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta semana pela agência Pública.

Esse posts foi publicado em Wednesday, June 29th, 2011 at 3:13 pm. Está arquivado como +. Você pode acompanhar quaisquer respostas a esse post através do RSS feed.
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B) Telegrama da Embaixada dos EUA em Brasilia (1/08/2008), sobre conversa do Embaixador Sobel com Embaixador da China, Chen Duqing (neste link):

08BRASILIA48
136585 1/8/2008 13:01 08BRASILIA48 Embassy Brasilia CONFIDENTIAL
C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 03
BRASILIA 000048
SIPDIS
SIPDIS E FOR TOM PIERCE; EPSC FOR LISA KUBISKE
E.O. 12958: DECL: 01/07/2018
TAGS: ETRD, EINV, PREL, BR, CH
SUBJECT: CHINESE AMBASSADOR DISCUSSES HIS PRIORITIES, BRAZILIAN ASPIRATIONS
REF: A. STATE 164790
B. SAO PAULO 718
C. BRASILIA 918
D. RIO DE JANEIRO 598
E. BRASILIA 990
Classified By: Ambassador Clifford Sobel, reasons 1.4 b and d.

1. (C) Summary. Chen Duqing, Chinese Ambassador to Brazil, told Ambassador Sobel on October 19 that his top priorities are to create a more favorable environment for economic relations and to promote Chinese interests in the Brazilian Congress. Ambassador Chen described an economic relationship of growing bilateral trade and investment characterized by an unbalanced exchange of finished industrial goods from China for Brazilian raw materials, and said Brazilian political international ambitions exceed Brazil’s political weight. End summary.

2. (C) Chen told Ambassador Sobel that he travels extensively throughout Brazil in pursuit of his top priority of creating favorable conditions to increase the trade relationship, mainly to Rio de Janeiro and Sao Paulo, but also to northern states such as Para. He is increasing his ability to pursue his other top priority by adding a counselor to his staff to work full-time on congressional engagement.

“Brazil Must Open Its Mind More” – - – - – - – - – - – - – - – - -

3. (C) Sino-Brazilian relations are getting to be quite good, he explained, even if the only important Chinese visitor this year was the then-Deputy Foreign Minister (now Foreign Minister). But an outdated view of the Chinese political system blurs Brazil’s perception of China and “Brazil must open its mind more,” he said. The Chinese Communist Party was now taking historic steps at its National Congress, as President Hu noted when he said that China must be more open, and Brazil needed to understand this change, Chen stated. (Note: The 17th National Congress of the Communist Party of China took place October 15-21, 2007. End note.)

Trade and Investment – - – - – - – - – - -

4. (C) China would soon pass Argentina and Germany to become Brazil’s number two trading partner, after the U.S., Chen noted, offering a figure of two-way Chinese trade with Brazil at USD 20 billion in 2006. (Note: Chinese Foreign Ministry officials cited the same bilateral trade figure at the U.S.-China Sub-Dialogue on Latin America in late November, as reported ref A. According to the Sao Paulo State Federation of Industries, total bilateral trade in 2006 was USD 16.4 billion, as reported ref B. End note.) China’s exports to Brazil are mainly finished goods, especially electronics; Ambassador Chen said Brazil complains of dumping, but Chen added that “this is part of our process of increasing our relationship,” implying Brazilian dumping accusations are a natural part of a growing trade relationship.

5. (C) Brazil’s top exports to China are soy and iron ore. Seventy million tons of iron ore and 11 million tons of soy a year go to China, according to Chen, and China always runs a trade deficit with Brazil, now at about USD 4 billion a year. (Note: China buys about a third of Brazil’s iron ore exports, introducing “an obvious vulnerability” for Brazil, according to the November 2007 issue of Brazil Focus, published by Menas Associates, www.menas.co.uk. Ref C reported Brazilian mining executives’ concerns about China’s influence over Latin American natural resources. End note.)

BRASILIA 00000048 002 OF 003

Chen said that if you calculate undercounting on the Brazilian side the deficit is even greater. His principal concern about the economic relationship is that “Brazil has not consolidated its basis for more development” because “without more economic growth, it will not achieve greater income distribution.” He noted Brazil’s poor infrastructure, calling Santos the “world’s worst port,” and said China is interested in railroad projects in Brazil. Chen said Brazilian bureaucracy is “confused” and has no model, in comparison with China’s, where top bureaucrats must go through the Central Committee Party School.

Major Steel Investment – - – - – - – - – - – -

6. (C) Chen told Ambassador Sobel that China had signed a major joint venture agreement on October 3 with the Companhia Vale do Rio Doce (CVRD, now “Vale”) to construct a steel plant in Vitoria, Espirito Santo, making China a majority partner in the Companhia Siderurgica de Vitoria (CSV) with an investment of USD 5.5 billion (ref D). Chen said China would like to make more such investments, but there is political resistance in some circles in Brazil. (Note: Ref E reported Brazilian fears of China. Nonetheless, Brazilian leaders continue to court Chinese investment. Bahia governor Jaques Wagner led a trade mission November 15-25 to China in search of investment in tourism, ports, railroads, mining, ethanol, and semiconductors. Also in November, Amazonas Governor Eduardo Braga and a large entourage embarked on a 20-day Asian trade and investment mission to Japan, China (including Macau), Malaysia, and Indonesia. A Chinese trade and investment mission to Amazonas in 2008 was announced during Braga’s visit to China. End note.) In the northeast of Brazil, for example, Chen continued, there are many opportunities, but China will limit itself to equipment sales. Moreover, in spite of the large size of many Brazilian firms, there is little money for equipment purchases and Brazilian importation of Chinese goods became somewhat more difficult after China increased the exchange rate value of its currency 8.27 percent, he noted. China cannot revalue its currency as fast as the U.S. would like because it will produce a negative impact on the Chinese economy, Chen added.

7. (SBU) China’s domestic steel production accounts for the majority of China’s needs, but China must import certain specialized steels. The trade with Brazil has not grown in the last 20 years and remains at about 30 million dollars a year, according to Chen. (Note: According to the Brazilian Institute of Steel, 2006 Brazilian exports of steel and steel products to China were USD 52.7 million (66,628 metric tons) and have dropped significantly since 2005. Conversely, Brazilian imports of Chinese steel have increased from USD 27.5 million in 2005 to USD 92.7 million in 2006. End note.)

Biofuels – - – - -

8. (SBU) Asked about Chinese interest in Brazilian biofuels, Chen replied that China produces its own biofuel and does not buy any fuels from Brazil, only some heavy oil.

Brazilian Leadership Aspirations – - – - – - – - – - – - – - – - -

9. (C) Ambassador Chen said he has observed the growth in the U.S.-Brazilian bilateral relationship over the last year, and understands that Brazil wants to be a leader, but it has “no capacity or influence.” Chen dismissed Brazil’s UN Security Council aspirations, saying it is not qualified, and is “interested in only some areas, and not in peace and security.”

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Biographical notes – - – - – - – - – -

10. (SBU) Ambassador Chen said he has never been on an official visit to the U.S. and has spent most of his career in lusophone assignments. He began his career in Brazil in 1974, and returned in the period 1981-84. He was Ambassador in Mozambique, and came to Brazil after a year and a half assignment in East Timor. He said he is 60 years old, can retire at any time, and will finish his career in Brazil. He speaks English. Sobel

segunda-feira, 30 de maio de 2011

China age para vetar Brasil no Conselho de Segurança

Ainda bem que somos "aliados estratégicos".
Imaginem se não fôssemos...
Paulo Roberto de Almeida

China age para vetar Brasil no Conselho de Segurança
Assis Moreira - De Deauville (França)
Valor Econômico, 30/05/2011

A China, o mais poderoso país do Brics, grupo que o Brasil integra, ampliou ofensiva diplomática contra tentativas de ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, uma das reivindicações da política externa brasileira. O Valor apurou que o governo chinês tenta agora torpedear um projeto de resolução que o G-4 - Brasil, Índia, Alemanha e Japão, todos candidatos a um assento permanente no Conselho de Segurança - planeja apresentar em breve à Assembleia Geral da ONU.

O projeto, que tem 71 apoios firmes, procura fazer com que a Assembleia sancione a necessidade de expandir as duas categorias de membros do Conselho de Segurança, os permanentes e os não permanentes. É uma tentativa de dar fôlego politico à discussão e obter o reconhecimento de que o mundo mudou e que as mudanças têm de ser incorporadas na estrutura das instituições de governança global.

O governo chinês mandou seus representantes advertirem as delegações diplomáticas africanas na sede da ONU, em Nova York, a não apoiarem nenhuma resolução por reforma do Conselho de Segurança. Para ter a certeza de que a mensagem foi bem recebida, Pequim também despachou emissários a capitais na África.

Nos círculos do G-8, dos países industrializados, fontes confirmaram também a existência de um telegrama diplomático atribuído à missão americana na ONU, que teria sido divulgado pelo Wikileaks, relatando antiga demanda da China para os Estados Unidos não levarem adiante uma reforma na organização.

No plano bilateral, Pequim tem dito ao Brasil que no momento adequado não vai complicar o pleito brasileiro. No entanto, o sentimento é de que os chineses fazem tudo para que esse momento nunca chegue.

A pressão chinesa visa bloquear a entrada do Japão e garantir para si a posição de único emergente com assento permanente no Conselho, o que lhe dá a aura de representante dos países em desenvolvimento. Se entram Brasil e Índia, os chineses tem reduzido seu poder.

A China não tem sido especialmente solidária com os países em desenvolvimento na cena multilateral. Na reforma das quotas para dar mais poder aos emergentes no Fundo Monetário Internacional, em 2010, Pequim não ajudou o Brasil a lutar por um resultado mais amplo e equilibrado. Agora, tampouco quer brigar por um representante emergente para dirigir o Fundo, preferindo apostar na conquista para um chinês do cargo de número dois.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Relacoes Brasil-China: reciprocidade e paranoias

Segundo se sabe, o Brasil esta tentando limitar a aquisção de terras por estrangeiros, especificamente preocupado, como se sugeriu, com a compra de grandes extensões de terras por chineses, que aqui viriam plantar "o que é bom para eles", não o que supostamente seria bom para nós.
Enquanto continuarmos a ter esse tipo de paranoia, vai ser dificil inserir o Brasil na globalização ou aumentar a relação com a Chona (sem falar da questão da "reciprocidade": como limitar aqui e pedir que eles abram lá?).
Acho que precisamos colocar ordem no discurso interno.
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista: Antônio Patriota
“Não é só entrar, extrair e levar o minério ou a soja embora”
Simone Cavalcanti, de Brasília
Brasil Econômico, 17/05/2011

Segundo ministro, Itamaraty trabalha para assegurar transferência de tecnologia na relação com a China

Uma aposta estratégica. É assim que o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, vê a posição da China não só em relação ao Brasil, mas à toda América Latina, por se tratar, no conjunto, de uma potência na produção de alimentos e de energia. “E tudo isso tem a ver coma segurança alimentar e energética da China, para que continue crescendo.” Por isso mesmo, o diálogo entre os governos só tem melhorado, diz.

Qual a avaliação dessa visita da delegação chinesa?
Sinaliza a retomada de contatos em nível ministerial que havia desacelerado em 2010, em compasso de espera da eleição aqui. A reunião da subcomissão de comércio permite acompanhar a implementação dos compromissos acordados, como a liberação da carne suína e os jatos da Embraer. E avançar no planejamento futuro para identificação de novos projetos e áreas.
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Como o quê?
Um dos pontos é o setor automotivo. Temos uma experiência que é valorizada internacionalmente em termos de biocombustíveis, e a China poderá ter interesse em participar de produtos com essas características. Quando a presidenta Dilma Rousseff esteve em Pequim, participou de um evento cujo título era Além da Complementariedade. Isso diz muito. Porque a complementariedade a gente conhece. Exportamos muita matéria-prima. Não queremos deixar de exportar, mas queremos também embarcar produtos com maior grau de elaboração. Queremos desenvolver parcerias em áreas tecnologicamente mais avançadas, que contribuam para competitividade industrial.

Quais as áreas consideradas estratégicas pelo governo?
Desde biocombustíveis, nanotecnologia, biotecnologia até a questão das terras raras, incluindo a extração e processamento do lítio. E energia de modo geral.

O que mais foi discutido?
Também discutimos um pouco a questão do turismo e da importância das conexões aéreas. A TAM está querendo estabelecer presença na China. A Air China faz um voo com uma escala apenas em Madri. E agora com Copa do Mundo, Olimpíadas, Rio+20 e outros acontecimentos esperamos que haja um crescimento da visita de lado a lado.

Segundo o Mdic, há um empenho do governo para direcionar os investimentos à cadeia produtiva de setores de interesse nacional.
Isso traz à tona o que pode ser descrito como um novo momento da relação entre Brasil e China. Em termos de quantidade, o comércio e a atração de investimentos vai bem, mas nós queremos operarumsalto qualitativo. Isso inclui diversificação da pauta de exportação, os embarques de produtos de maior valor agregado, buscar parcerias com os chineses em que possamos incorporar um conteúdo de tecnologia mais avançado.

Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, já reclamou do fato de os chineses comprarem jazidas no Brasil sendo que há uma proibição para entrada naquele mercado. Como isso está sendo tratado?
Mais do que o Itamaraty, a própria presidenta abordou isso. Quando esteve na China disse que quer continuar atraindo investimento chinês, mas aquele que traga um valor agregado. Não é só entrar, extrair e levar o minério ou a soja embora, sem contribuir para o desenvolvimento seja ele de que tipo for. É essa mensagem.
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Mas não quer dizer que a China vá mudar suas proibições?
Vamos olhar o que acontece no médio e longo prazo. Nós somos uma potência no que se refere à produção de alimento. Se juntar todos da América do Sul somos também uma potência energética. Somos fonte de recursos minerais. E tudo isso tem a ver com a segurança alimentar e energética da China, para que continue crescendo. Isso é um pouco a equação da complementariedade. Quando fala em ir além disso, queremos que não seja uma via de mão única, que também esse relacionamento no sentido inverso nos traga uma contribuição em desenvolvimento qualitativamente superior. A questão da reciprocidade foi levantada, pois empresas nossas têm dificuldade de se estabelecer na China. Se eles aqui têm uma limitação ou se ressentem de alguma dificuldade na aquisição de terras, bom, lá não há nem essa possibilidade. Há uma compreensão das assimetrias e um desejo de superá-las.

Em que prazo?
O calendário de reuniões vai estabelecendo os prazos. Mas nós gostaríamos de ter avanços até a Cosban (Comissão de Alto Nível Sino-Brasileira) que se reúne no segundo semestre.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Dormindo com o dragao (ja que nao gostamos da aguia...)

Pois é, esses animais são todos uns predadores.
Tinha gente que achava que iria amansar o dragão...
Paulo Roberto de Almeida

TENDÊNCIAS/DEBATES
Manipulando Pequim
MATIAS SPEKTOR
Folha de S.Paulo, 5/05.2011, p. A3

O Brasil do século 21 não pode mais se dar ao luxo de ficar sem política coordenada para tirar vantagens da China e mitigar os custos que virão

As novas forças que atraem o Brasil para a órbita da China são difíceis de resistir e reverter. Se o Brasil não aprender rapidamente a influenciá-las em benefício próprio, perderá a capacidade de escolha e será vítima de circunstâncias que não consegue controlar.
A recente visita presidencial pôs em evidência alguns desses novos obstáculos. O primeiro é a crescente desigualdade de poder entre os dois países: os chineses podem aceitar ou ignorar demandas brasileiras quando lhes convém e ao ritmo de sua escolha.
Importantes interesses nacionais se chocam. Seja em comércio, finanças, proliferação nuclear, direitos humanos ou mudança do clima, a divergência, já grande, tende a crescer. Em lugares como a América do Sul e a África lusófona, onde o Brasil ensaia incipiente jogo de cintura global, as iniciativas chinesas são muitas vezes competitivas ou desafiadoras.
O problema é ainda mais complexo quando se trata de moldar uma nova ordem global.
Sem dúvida, a ascensão chinesa mitiga a arrogância americana no mundo e ajuda a reabrir grandes questões que o "Consenso de Washington" parecia haver encerrado para sempre. A China também está forçando a reforma de instituições como FMI, Banco Mundial e o regime internacional de ajuda para o desenvolvimento.
E ninguém duvida de que, sem a China, não haveria Brics nem G20.
Mas a China não está disposta a montar uma frente reformista comum. Ela está hoje mais satisfeita que o Brasil e tem mais a perder com revisões profundas da situação. Na principal proposta brasileira de adaptação institucional, a reforma da ONU, a China não está disposta a avançar nem se sente pressionada a fazê-lo.
Por fim, crescem a passo alarmante na sociedade brasileira as vozes anti-China. Não se trata de um lobby organizado, mas são argumentos capazes de moldar atitudes públicas. Denuncia-se a China como indutora da desindustrialização e como ameaça à soberania sobre nossos recursos naturais.
Desconfia-se das motivações por trás de qualquer investimento oriundo de Estado autoritário, centralizado e com grande apetite geopolítico.
A sinofobia é um perigo real para o Brasil porque cega o público, mina o debate inteligente e limita o espaço de manobra de empreendedores e de governantes.
Mais do que isso, pode castigar uma relação bilateral que ainda não conta com instituições resistentes sobre as quais se escorar.
Hoje, Brasília não tem os instrumentos para controlar danos em Pequim. Temos acesso pífio às altas rodas chinesas de poder e de influência. Não temos especialistas no tema nem os centros acadêmicos para produzi-los.
Não há esforço sistemático de marketing nem propaganda ou lobby brasileiro naquele país.
O engajamento em instituições internacionais é parco e depende ainda do talento e interesse de diplomatas individuais.
Nenhuma das tendências acima é irreversível. Ao contrário, se a presidente Dilma Rousseff atuar agora, poderá transformar a situação antes do fim deste mandato.
Enquanto a coisa permanecer como está, o Brasil fica no pior dos mundos. Sem canais e instrumentos efetivos para manipular o processo decisório em Pequim, não consegue tirar vantagem máxima quando segue a China a reboque.
Tampouco consegue se opor e resistir às pressões chinesas quando elas demandam resposta.
O Brasil do século 21 não pode mais se dar ao luxo de ficar sem política coordenada para tirar vantagens da China e mitigar os custos que certamente virão.

MATIAS SPEKTOR, doutor pela Universidade de Oxford (Reino Unido), coordena o Centro de Relações Internacionais Fundação Getulio Vargas.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Brasil: colonia da China?

Quem pergunta não sou eu.
Quem afirma é o presidente da ABIMAQ...
Nem a Noruega pode ser classificada de exportadora de petroleo rica. Ela já era rica antes de descobrir petróleo no Mar do Norte, e ficar um pouco mais rica. Mas não é isso que a faz rica.
Muito pelo contrário. É a educação de seu povo...
Paulo Roberto de Almeida

BRASIL VIRA COLÔNIA DA CHINA, DIZ PRESIDENTE DA ABIMAQ
O Estado de S.Paulo, 28/4/11

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, disse hoje, durante entrevista coletiva para apresentação dos números do setor em março, que "o Brasil está virando uma colônia da China". Ele fez o comentário ao analisar a divisão da balança comercial da indústria de bens de capital por destinos de exportações e importações.
O principal destino das máquinas brasileiras foram os Estados Unidos, que no primeiro trimestre compraram o equivalente a US$ 411,44 milhões, crescimento de 47,12% sobre os US$ 279,67 milhões apurados em igual período do ano passado. Seguem os Estados Unidos a Argentina, a Holanda, o México e a Alemanha, nesta ordem.
No que se refere a importações, os Estados Unidos foram o país de quem o Brasil mais comprou máquinas. O crescimento das importações foi de 30,05% no primeiro trimestre de 2011 em relação ao mesmo período do ano passado - elas passaram de US$ 1,295 bilhão para US$ 1,684 bilhão. Mas a China ficou em segundo lugar, com US$ 965,92 milhões, valor que representou crescimento 53,51% sobre os US$ 629,23 milhões dos três primeiros meses do ano passado.
Para Aubert Neto, isso é fruto da política de juros e câmbio praticada pelo governo federal. "Não é a indústria que não tem competitividade, é o Brasil", disse, acrescentando que um setor que consegue exportar para países de Primeiro Mundo não pode ser considerado pouco competitivo. Ele defendeu a redução da taxa básica de juros como forma de resolver os problemas enfrentados pela economia brasileira.
Segundo Aubert Neto, com exceção da Noruega, não existe nenhum país exportador de commodities rico. "Me fale um, tirando a Noruega, que é um país exportador de petróleo rico", desafiou. Ele acrescentou que, por outro lado, fica difícil apontar um país exportador de máquinas e equipamentos que seja pobre. "Enquanto tivermos esse câmbio sobrevalorizado, ficará difícil competir com a China."
O presidente da Abimaq também atribuiu a queda do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) do setor de máquinas e equipamentos à valorização do real. Ele fez um contraponto entre a queda do Nuci e o crescimento do número de empregados do setor. O Nuci do setor fechou em 80,5% em março, ante 82,3% no mesmo mês do ano passado. O número de empregados, por sua vez, cresceu 0,4% em março comparativamente a fevereiro, para 256.402 trabalhadores.
"Estamos contratando gente não mais para produzir, mas para montar máquinas importadas da China", disse Aubert Neto, salientando que a indústria nacional não precisa mais nem traduzir os manuais que acompanham as máquinas chinesas, pois eles já vêm em português.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ilusoes brasileiras: a parceria estrategica com a China...

Nunca me canso de me surpreender com o amadorismo de certos "dirigentes", com as ilusões mantidas por esses preclaros líderes da política nacional. Pergunto-me sempre o que faz alguém ser ingênuo: seria falta de instrução, de educação, de reflexão, de simples informação?
Essa gente acredita em qualquer coisa, até em transferência de tecnologia...
Será que essas pessoas não conseguem ler jornais, observar o mundo e tirar suas conclusões?
Será que elas vão continuar ingênuas e equivocadas a vida inteira?
Ou será que estou cansando de continuar a ser dirigido por néscios e ignorantes?
Enfim, seja qual for a razão, a resposta, a explicação, aqui vai mais uma demonstração de suprema ingenuidade, de amadorismo e de auto-ilusão...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma quer produção binacional com a China
Vera Rosa - BRASÍLIA
O Estado de S.Paulo, 21 de abril de 2011

Presidente pediu que sejam identificadas áreas em que a associação do Brasil a empresas chinesas vá além da simples transferência de tecnologia

A presidente Dilma Rousseff encomendou a ministros que a acompanharam na viagem à China, na semana passada, a identificação de áreas nas quais o Brasil possa se associar com empresas do país asiático. Dilma quer que a parceria comercial passe agora pela produção de manufaturas binacionais e vai insistir no projeto ao receber, em maio, o ministro do Comércio da China, Chen Deming.

O ministro chefiará uma missão de empresários chineses que virão ao Brasil para "prospectar" negócios. A ideia é adotar o exemplo da TV digital - acordo que prevê o uso de tecnologia japonesa, com a incorporação de inovações desenvolvidas no Brasil - como modelo para convencer a China sobre a importância dessas parcerias.

"Queremos adotar projetos comuns com a China, como os feitos com os japoneses com a TV digital", afirmou Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Dilma para Assuntos Internacionais. "Não se trata simplesmente de transferência de tecnologia, mas de uma espécie de recriação de produtos." O Brasil ainda faz estudos sobre associações, joint ventures ou acordos tecnológicos que possam gerar dividendos para os dois países.

Na prática, está de olho em parcerias binacionais que não se restrinjam ao programa aeroespacial sino-brasileiro, responsável pela fabricação de dois satélites e já na fase de pesquisa para a produção de outros dois.

Garcia deu pistas sobre os interesses brasileiros, embora as negociações não tenham começado. "Na conversa com a Foxconn, a ideia foi a de avançar na produção de produtos de nova geração lá", afirmou o assessor, numa referência ao encontro entre Dilma e o dono da Foxconn, Terry Gou, em Pequim. A maior fabricante de produtos eletrônicos do mundo, de capital taiwanês, anunciou a intenção de investir US$ 12 bilhões no Brasil, nos próximos cinco anos, para produzir displays.

Os exemplos citados por Garcia não pararam por aí. "A indústria automobilística chinesa quer entrar no Brasil? Então, por que não produzir um carro sino-brasileiro?", sugeriu ele.

Relatório produzido pelo Conselho Empresarial Brasil-China indica que três das maiores montadoras chinesas de veículos (JAC, Chery e Dongfeng) já anunciaram investimentos da ordem de US$ 420 milhões no Brasil. "Nós queremos que a China venha participar do nosso mercado, mas produzindo aqui, trabalhando no mesmo ambiente de negócios que as empresas brasileiras trabalham e apoiando a construção de uma infraestrutura no Brasil", disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

Chefe da missão que levou 307 empresários à China, na semana passada, Andrade apontou como complicador nas negociações com os chineses o fato de as empresas privadas também terem participação do Estado. "Na China, a gente não sabe qual é empresa de governo, qual é empresa privada", insistiu o presidente da CNI.

Mais otimista, o governo avalia que a visita de Dilma resultará em acordos para além das fronteiras das matérias-primas. Atualmente, a pauta do comércio bilateral - mesmo com superávit favorável ao Brasil, na casa dos US$ 5,2 bilhões - é dominada por commodities, como petróleo, minério de ferro e soja.

Pelos cálculos do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o preço médio de uma tonelada vendida ao Brasil pela China é superior a US$ 3.000. Na outra ponta, a tonelada exportada pelo Brasil não passa de US$ 163. "Nós precisamos, agora, criar a Embrapa da indústria", resumiu Mercadante, numa alusão à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Novo modelo
MARCO AURÉLIO GARCIA, ASSESSOR ESPECIAL PARA ASSUNTOS INTERNACIONAIS:
"A indústria automobilística chinesa quer entrar no Brasil? Então, por que não produzir um carro sino-brasileiro?"

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Último comentário. Tem gente que ainda acha que basta uma "Embrapa da indústria" para tornar o Brasil competitivo. Os industriais da área já esfregam as mãos com gosto, na perspectiva de ganhar mais algum dinheiro público (ou seja, nosso).
Até quando vou ter de aguentar essas bobagens?
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Brasil-China: afinidades eletivas? - Zhou Zhiwei

Recebi, do meu amigo chinês Zhou Zhiwei, secretário de Centro de Estudos Brasileiros do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Chinese Academy of Social Sciences, em Pequim, as duas matérias abaixo, que transcrevo para informação de meus leitores.
Zhou Zhiwei pediu que eu comentasse suas afirmações, o que pretendo fazer oportunamente, e talvez discretamente...
Paulo Roberto de Almeida

CHINA: Brasil deve tentar aproveitar melhor investimentos da China, diz acadêmico
Silvia Salek
Enviada especial da BBC Brasil à China,
11 de abril, 2011 - 05:26 (Brasília) 08:26 GMT
Para Zhou Zhiwei, a importância do Brasil para a China é cada vez maior

O pesquisador e secretário-geral do Centro de Estudos Brasileiros da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhou Zhiwei, disse em entrevista à BBC Brasil, em Pequim, que o Brasil deve buscar desenvolver sua competitividade e tentar aproveitar melhor os investimentos chineses.
“Falta um plano organizado, falta um papel para direcionar estes investimentos para os setores que precisam de mais investimentos”, disse.
Segundo Zhou Zhiwei, as relações do Brasil com a China devem se intensificar e, com isso, mais tensões devem surgir como em um namoro que evolui para um casamento.

Leia abaixo a entrevista da BBC Brasil com o pesquisador chinês.

BBC Brasil - A importância da China para o Brasil é clara. É o principal parceiro comercial e principal investidor do Brasil. E qual a importância do Brasil para a China?
Zhou - A importância do Brasil para a China é cada vez maior. Em termos econômicos, o Brasil é agora um dos maiores parceiros comerciais da China, o nono maior parceiro. Isso é importante para os dois lados. Eu acho também que a relação entre o Brasil e a China já superou a esfera bilateral como disse o vice-presidente Xi Jinping, quando visitou o Brasil em 2009. Essa relação tem agora um significado estratégico mundial.

BBC Brasil -A relação entre os dois países já tem um grau de tensão e alguns analistas acreditam que essa tensão vá aumentar. Você compartilha dessa opinião?
Zhou - Concordo. Na verdade, eu acho que as tensões vão crescer à medida que a relação entre os países se intensifica. É como a relação entre namorados. Para eles, o mundo é bonito, sem conflitos. Quando se casam, começam a surgir mais problemas e dificuldades para resolverem. O comércio entre Brasil e China cresceu muito nos últimos anos, então, claramente, vai existir competição, concorrência. Mas acho que é um processo natural.

BBC Brasil - Mas as exportações brasileiras não incomodam a China, o problema é a via oposta? Só um lado parece se incomodar.
Zhou -Eu acho que existe uma diferença entre setores. O setor agrícola brasileiro tem uma situação muito favorável. Por outro lado, existe claramente concorrência entre os setores industriais no mercado brasileiro e em terceiros mercados. Esse problema é muito natural, mas o mais importante é que o setor industrial brasileiro deve promover a sua competitividade.

BBC Brasil - Como?
Zhou - Tributos, infraestrutura e também desenvolvimento tecnológico para maior eficiência.

BBC Brasil - E o que o senhor acha de medidas como anti-dumping e salvaguardas contra produtos chineses industrializados? É a ferramenta correta?
Zhou - Para o Brasil, pode ser a ferramenta correta. Se você acha que isso não é bom, pode aplicar medidas para defender seu setor de acordo com as regras da OMC. Mas eu acho que medidas anti-dumping não resolvem este problema. O mais importante para o Brasil é aumentar a competitividade. É o ponto-chave.

BBC Brasil - E o reconhecimetno da China na OMC, prometido no governo Lula, mas não ratificado? Como os chineses veem a postura do governo brasileiro?
Zhou - O primeiro-ministro chinês, Web Jiabao, disse que é lamentável que o Brasil ainda não tenha aprovado o status da China na OMC. Então, acho que, durante a visita da presidente Dilma Rousseff, os dois governos vão discutir esse assunto. Eu acho que o governo brasileiro tem suas próprias condições, por exemplo, a questão da licença para a produção de um novo modelo pela Embraer. Eu acho que essa questão da Embraer será resolvida. Se isso for resolvido, eu acho que a atitude do governo brasileiro vai mudar.

BBC Brasil - Mas com o reconhecimento do status da OMC, o Brasil perde uma arma que alguns setores consideram fundamental, que é a possibilidade de aplicar medidas anti-dumping, usando no cálculo o preço de terceiros mercados.
Zhou - Fechar a porta para os produtos chineses não é uma boa solução. Na minha opinião, o mais importante para outros países é aumentar a competitividade. O status da China não é uma questão muito difícil, é apenas um processo.

BBC Brasil -Pelo cálculo de uma entidade americana, o Brasil foi o principal destino dos investimentos chineses em 2010. Qual a perspectiva nessa área para o Brasil?
Zhou - O investimento da China em 2010 é só o início desta tendência porque o Brasil tem muitas oportunidades e vantagens em termos de recursos naturais e é receptivo ao investimento chinês. As empresas chinesas estão traçando uma estratégia de internacionalização e o Brasil é um país emergente com muitas oportunidades para as empresas chinesas aproveitarem. Como a maior economia da região, o Brasil deve desempenhar também um papel de ponte entre a China e a América do Sul. O Brasil representa claramente uma oportunidade imensa para ser aproveitada.
Já recebi e-mails de empresas chinesas perguntando sobre como fazer negócio no Brasil. Algumas fabricam, por exemplo, material para estádios. Sabem que haverá a Copa do Mundo, Olimpíadas.

BBC Brasil - E o que dificulta que isso se concretize?
Zhou - Existem alguns obstáculos para trazer mais investimentos. Por exemplo, deficiência de infraestrutura, mas essa também é uma boa oportunidade para os chineses.

BBC Brasil - Apesar de haver oportunidades em algumas áreas, o investimento chinês tem sido criticado por se concentrar demais na busca por matérias-primas. Como o senhor vê essas críticas?
Zhou - É engraçado. Antes, lembravam que durante a visita de Hu Jintao, em 2004, os chineses prometeram investimentos e não os concretizaram. Em 2010, chega um monte de investimento, mas muitas pessoas se preocupam porque cresceu demais. Claramente, o investimento chinês representa um certo choque para alguns setores e empresas brasileiras, mas, para aproveitar melhor estes investimentos chineses, o governo brasileiro deve redirecionar os investimentos para os setores que precisam de mais investimentos.

BBC Brasil - O senhor acha, então, que o Brasil não deve aceitar investimento em qualquer área?
Zhou - Falta um plano organizado, falta um papel para direcionar estes investimentos para os setores que precisam de mais investimentos.

BBC Brasil - Mas que poder o governo pode ter sobre isso? Se uma empresa privada quer vender suas operações para a China, o que o governo pode fazer?
Zhou - Sim, mas a relação também tem de ser entre dois governos, entre dois países. O governo tem de desempenhar um papel importante para promover esta relação.

BBC Brasil - O interesse chinês é por commodities, algo que preocupa alguns setores. O senhor vê motivo para preocupação?
Zhou - Os recursos naturais correspondem a 85% de todos os investimentos da China no Brasil. A China precisa desses recursos. Isso representa um desafio para o Brasil. Para resolver esse problema, o governo brasileiro tem de fazer seu dever. Claro que os recursos naturais são as vantagens do Brasil. É o que a China quer para sustentar o crescimento. É uma relação complementar. O Brasil deve se planejar para aproveitar melhor os investimentos chineses. É uma relação que envolve os governos.
Se conseguir apoio dos governos, fica mais fácil para as empresas chinesas investirem em outros países.

BBC Brasil - Então o senhor acha que existe potencial para o Brasil usar os recursos naturais na barganha por investimentos de mais valor agregado?
Zhou - Eu acho que o apetite da China claramente é recurso natural. Se o Brasil quiser mais investimento em outros setores, o que vai oferece para atrair as empresas chinesas? É nisso que o Brasil tem de pensar. O que vai fazer? Muitos países também querem investimentos da China. No Brasil, existem obstáculos para fazer negócios: altos tributos, o custo para as empresas é alto, as regras trabalhistas são rígidas, a segurança pública não é boa. Então, esses são desafios se o Brasil quer mais investimento em infraestrutura e outros setores.

BBC Brasil - Como o senhor vê a reação no mundo à ascensão da China?
Zhou - A China virou a segunda economia do mundo, mas o PIB per capita é muito baixo. Ainda é a metade do PIB per capita no Brasil. O status da China ainda é de um país em desenvolvimento. A China também quer desempenhar um maior papel nos assuntos internacionais, mas o maior desafio agora é o desenvolvimento sustentável. Existem questões sociais, como uma disparidade de renda muito grande. A tarefa para os governos chineses é promover um equilíbrio entre crescimento e desenvolvimento social.

BBC Brasil - Então, a China vai continuar olhando mais para dentro?
Zhou - Há um pensamento corrente que diz que a política externa da China é fazer seu próprio dever da melhor maneira possível, pensando o mínimo nas questões internacionais. Essa é uma diferença entre Brasil e China. A atitude do Brasil na área de política interna é mais ativa e altiva, como diz Celso Amorim. Mas, para o governo chinês, a humildade é mais importante. O Brasil está sempre pensando em ser uma potência mundial. Durante a Segunda Guerra, surgiu uma oportunidade de ser memebro permanente da ONU. E, nas últimas décadas, o Brasil tenta fazer o possível para realizar o sonho de potência mundial. São características dos povos. Os brasileiros são mais otimistas, os chineses, mais reservados.

BBC Brasil - O senhor falou em humildade, mas há um grande número de observadores que têm visto uma maior assertividade ou até agressividade por parte da China principalmente após a crise, quando o país saiu quase ileso e enxergou as rachaduras no modelo americano.
Zhou - De fato, existe uma mudança nos assuntos internacionais no que diz respeito a atitude do governo chinês. O governo começa a pensar que pode desempenhar um papel correspondente ao status econômico. Claramente, a economia chinesa cresceu e a China está desempenhando um papel mais importante. Por isso, veem uma maior agressividade. Mas, considerando a importância que a China ganhou, ainda acho que a postura do governo continua sendo de humildade.

BBC Brasil - Mas com a ampliação dos interesses chineses do mundo, será que a China não vai ser forçada, no futuro, a assumir um papel de liderança, para defender seus crescentes interesses econômicos de forma mais ativa? Será que a política da não-interferência sobrevive por muito tempo?
Zhou - Acho que é uma tendência possível. As empresas chinesas estão elaborando estratégias de internacionalização não só na América do Sul, mas também na África, nos Estados Unidos, na Austrália. Com isso, o governo chinês tem de pensar mais do que antes no resto do mundo para aproveitar a oportunidade de transformação mundial de agora e não só proteger seus interesses, mas também proteger os interesses dos países em desenvolvimento. Acho que esse é um ponto de cooperação entre Brasil e China.

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Americano prevê colapso da China em 2020; chinês vê estabilidade
Amauri Arrais
Do G1, em São Paulo, 11/04/2011 12h52

Para George Friedman, ciclo de crescimento do país está quase no limite.
Governo tenta repassar ganhos em benefícios para o povo, diz Zhou Zhiwei.

George Friedman, autor do best-seller 'The Next Decade' e o chinês Zhou Zhiwei, secretário de centro de estudos brasileiros em Pequim (Fotos)

Enquanto grande parte dos analistas vê o avanço da China como potência global se realizar em um ritmo mais rápido do que se previa, o cientista político americano George Friedman prevê, no best-seller “The Next Decade” (“A próxima década”, ainda inédito em português), que o país deve entrar em colapso até 2020.

Também autor de “Os próximos 100 anos” (Ed. Best Business, 2009), traduzido em mais de 20 línguas, e diretor-executivo da consultoria Stratfor, Friedman acredita que o país asiático, assim como o Brasil, está chegando ao limite do ciclo atual de desenvolvimento, e que as perspectivas, “no longo prazo”, são mais favoráveis ao Brasil.
“Devo dizer que vejo as perspectivas do Brasil no longo prazo bem melhores que as da China. Ainda assim, este é o encontro de dois países cujo “boom” econômico está amadurecendo e que estão tendo mais dificuldades em manter o ritmo. Mas o ritmo brasileiro tem sido mais sólido e equilibrado, e com uma pobreza, embora ainda presente, não tão extrema quanto a da China”, disse ao G1 às vésperas da visita da presidente Dilma ao país, a partir desta segunda-feira (11).

As afirmações do americano são rebatidas pelo chinês Zhou Zhiwei, secretário-geral do Centro de Estudos Brasileiros na Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim, que vê o país se desenvolver com estabilidade e o governo "se esforçando para transformar os ganhos do crescimento econômico em benefícios para o povo".
"Há dez anos, ninguém imaginou que o Brasil poderia conseguir o direito de sediar os jogos olímpicos, mas conseguiu. A China está se desenvolvendo estavelmente em meio a muitas previsões como estas. O país está claramente enfrentando alguns desafios, mas nunca parou de fazer suas reformas. Esta é a causa por que algumas previsões se mostraram falhas", diz.

Leia, a seguir, trechos das entrevistas que os dois especialistas deram ao G1.

George Friedman
G1 – Enquanto muitos especialistas concordam que estamos assistindo a uma transferência de poder geopolítico dos EUA para a China, no seu livro o senhor prevê a fragmentação do país até 2020. Por quê?
George Friedman - A China é um país profundamente dividido. 600 milhões de pessoas vivem diariamente com até US$ 3. E 440 milhões têm de sobreviver com de US$ 3 a US$ 6 pro dia. Há cerca de 60 milhões de chineses ganhando US$ 20 mil ou mais por ano. Esta é a China de que todos falam a respeito e que representa menos de 5% da população. É um país extremamente pobre. Tem um pequeno segmento que não pode vender na China, mas deve principalmente exportar. Mas sua taxa de inflação tem rendido à China sua posição como um país de baixos salários, e os bilhões de chineses pobres não podem ser facilmente treinados. Isso significa que há uma grande pressão na China da ameaça de desemprego. O governo chinês é consciente da grande revolta social que isso pode provocar e é por isso que se tornou extremamente repressivo. Eles conhecem as divisões na China e os riscos que têm que confrontar.

G1 – O senhor já disse que é fácil tirar conclusões superficiais sobre a China (e sobre a Ásia em geral) porque “muito do que realmente importa ocorre sob a superfície e não é discutido em público”. Acredita que há muita manipulação nos dados divulgados pelo governo?
Friedman - Eles não são tão manipulados quanto são mal interpretados. Por exemplo, se a China tem uma grande taxa de crescimento, isso não significa que seja rentável. [O país] Tem uma taxa de crescimento muito elevada das exportações, mas a margem de lucro está encolhendo. Logo, se você olha para as altas taxas de crescimento, vê sucesso. Quando você olha mais de perto, o retrato é mais complexo. Altas reservas de dólares estão sendo vistas como sinal de êxito. O que elas representam é a falta de habilidade da economia chinesa de absorver investimento. É algo semelhante ao que aconteceu no Japão de 1990 ou nos Estados Unidos de 1929. Então, não é que os dados sejam manipulados, mas não estão sendo analisados com cuidado.

G1 – A despeito das preocupações com a situação dos direitos humanos no país, chefes de Estado são relutantes em mencionar o assunto quando visitam Pequim. Acredita que o tema também pode afetar a chance de a China de se tornar uma superpotência global?
Friedman - A opinião de governos de outros países sobre direitos humanos faz pouca diferença para a China. Eles têm sua própria maneira de pensar o assunto. A situação de direitos humanos não deve ser vista nos termos das críticas do Ocidente, mas do entendimento que flui do medo chinês de uma revolta, que poderia ser alimentada por problemas étnicos, econômicos e pela desigualdade. A repressão cresce a partir desses medos. É uma maneira de tentar manter a estabilidade em tempos difíceis.

G1 – A presidente Dilma Rousseff fará sua primeira viagem à China apenas semanas depois da vinda do presidente Barack Obama ao Brasil, num esforço para retomar o posto de principal parceiro comercial brasileiro (tomado pela China). É um mau sinal para as relações entre Brasil e EUA?
Friedman – Não acredito que isso pode afetar as relações Brasil-Estados Unidos. Primeiro porque é apenas uma visita, e este tipo de visita é comum. Os EUA não sofrem ameaça das relações entre China e Brasil. Elas só podem ser econômicas, e não estratégicas, devido à distância e limitações de poder de ambos os países. Segundo, será interessante assistir ao encontro porque Brasil e China compartilham o status de serem estrelas da última geração. Agora, ambos os países estão chegando ao limite do ciclo atual de crescimento, então têm muito o que discutir.

G1 – E quais são os prognósticos do senhor para o Brasil nesse cenário?
Friedman - Devo dizer que vejo as perspectivas do Brasil no longo prazo bem melhores que as da China. Ainda assim, este é o encontro de dois países cujo “boom” econômico está amadurecendo e estão tendo mais dificuldades em manter o ritmo. Mas o ritmo brasileiro tem sido mais sólido e equilibrado, e com uma pobreza, embora ainda presente, não tão extrema quanto a da China. Estas conversas são muito interessantes porque os dois países têm muito em comum, incluindo os problemas atuais.

Zhou Zhiwei
G1 - A presidente Dilma fará sua primeira viagem à China (que no ano passado ultrapassou os EUA como principal parceiro comercial do Brasil) apenas semanas após a visita de Obama ao Brasil. O senhor acha que isso indica alguma mudança de postura do país em relação à China?
Zhou Zhiwei - Eu não acho [que isso indique uma mudança de postura do Brasil], mas isso indica verdadeiramente que os EUA e a China são duas prioridades da política externa brasileira. Sempre acho que a relação Brasil-EUA pode ser mais complicada que a relação Brasil-China. O Brasil e a China possuem mais interesses comuns nos assuntos mundiais, mas há algumas contradições estruturais na relação entre o Brasil e os EUA, não só na região da America Latina, também na ordem internacional.
G1 - De alguma maneira, essa proximidade com os chineses afeta as relações Brasil-EUA?
Zhou Zhiwei - A meu ver, o principal princípio da política externa do Brasil defender os seus próprios interesses nacionais em qualquer relação bilateral. A atitude do governo brasileiro deve corresponder à sua estratégia geral da política externa. Na minha análise, realizar o sonho de ser potência global numa estrutura desequilibrada de hegemonia é o destino da estratégia da política externa do Brasil. Para realizar esse objetivo, o Brasil deve aprofundar as cooperações com os países em desenvolvimento, especialmente com os países emergentes. Isso é o que o governo Lula fez nos últimos 8 anos. Acho que o Brasil conseguiu muito nesse sentido através desse tipo de cooperação com o mundo em desenvolvimento. Desde modo, a maior proximidade com os países emergentes seria boa para que o Brasil assuma um papel mais importante no cenário mundial, pois isso significa que terá maior espaço na política externa para defender seus próprios interesses estratégicos, especialmente na relação com os países desenvolvidos.
G1 - Dilma, que tem assumido posições diferentes de Lula na questão dos direitos humanos, enfrenta um dilema: mencionar ou não o tema na China, em meio às prisões do artista Ai Weiwei e do ativista Liu Xiaobo após criticarem o governo. Acredita que a presidente deveria mencionar o tema? Isso afetaria diretamente as relações entre os países?
Zhou Zhiwei - Não acho que a presidente Dilma vai enfatizar essa diferença de entendimento no conceito de direitos humanos. Também não acho que essa diferença vai afetar o desenvolvimento geral da relação bilateral Brasil-China. Essa relação já chegou a uma maior amplitude e profundidade. Não deixar essa diferença afetar a estreita relação bilateral seria uma atitude ideal para promover e aprofundar as cooperações entre os dois países.
G1 - Assim como os países árabes, a China, a despeito do forte crescimento, ainda tem grande parte da população vivendo na pobreza, muito desemprego entre os jovens e repressão do governo. Uma revolta como a da Tunísia ou Egito é possível na China?
Zhou Zhiwei - Não me preocupo com essa possibilidade. Os povos chineses reconhecem que as questões sociais estão melhorando com o crescimento econômico e o governo chinês está se esforçando para transformar os ganhos do crescimento econômico em benefícios para o povo. O mais importante, na cabeça dos chineses, é que uma ordem estável é um fator fundamental para uma vida melhor.
G1 - Na contramão de outros especialistas em todo mundo, o americano George Friedman se tornou best-seller nos EUA com um livro em que, dentre outras coisas, prevê a fragmentação da China até 2020, baseado em problemas estruturais e do sistema financeiro chinês. O que o senhor pensa sobre isso?
Zhou Zhiwei – Previsão é sempre só é uma previsão. Há dez anos, ninguém imaginou que o Brasil poderia conseguir o direito de sediar os jogos olímpicos, mas conseguiu. A China está se desenvolvendo estavelmente em meio a muitas previsões como estas. O país está claramente enfrentando alguns desafios, mas nunca parou de fazer suas reformas. Esta é a causa por que algumas previsões se mostraram falhas.
G1 - Outra tese do autor é que os especialistas tiram conclusões sobre a China baseados em análises superficiais, já que o país não discute muitos dos seus problemas em público. O senhor acredita que há manipulação dos dados divulgados pelo governo?
Zhou Zhiwei - A conclusão do senhor George Friedman é muitíssimo engraçada. Este possivelmente também é um “bom” jeito de ele atrair os leitores. Hoje, há um ambiente mais livre na área acadêmica, os pesquisadores chineses podem discutir sobre qualquer tema. Não sinto esta questão de manipulação.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Miragens chinesas - The Economist

Brazil/China economy: Rebalancing the relationship
The Economist, April 13th 2011

FROM THE ECONOMIST INTELLIGENCE UNIT

Sino-Brazilian commercial ties have expanded rapidly in the last decade, and China is now Brazil’s top trading partner—and was its biggest foreign direct investor in 2010 (with FDI worth around US$15bn). However, the relationship is seen as unbalanced, with Brazil exporting mostly commodities and importing manufactured goods from the Asian giant. President Dilma Rousseff took a step towards correcting this imbalance during a five-day visit to China that began on April 11th. She signed 22 co-operation agreements, some designed to open China’s market to higher-value-added goods.

The Rousseff administration wants to diversify Brazil’s exports and convince China to lower its substantial formal and informal barriers to the import of manufactured and processed goods. For example, China buys huge quantities of soybeans from Brazil, but does not import much processed soy products. Of Brazil’s US$56bn in sales to China last year, around 75% was commodities, with iron ore being the top export item. Similarly, some 90% of Chinese FDI in Brazil is in natural-resources sectors.

Accompanied by a large contingent of Brazilian businessmen and officials, Ms Rousseff was clear in her message to her Chinese hosts: she wants a “qualitative jump” in what Brazil sells to the Asian powerhouse, with a major increase in value-added and processed goods. The government also wants Chinese investment in Brazil to be more diversified, to include not just extractive industries but also high-tech manufacturing.

Range of deals
The president got some of what she wanted. The accords cover areas ranging from defence co-operation to joint development of agricultural technology and biofuels, as well as sports and education initiatives. The two sides also agreed to do research and development in the areas of nanotechnology, electricity and oil. Brazil’s state-controlled oil company Petrobras, for instance, will work with China’s Sinochem and Sinopec to develop new technologies for geological and deep-water prospecting.

China also said it would lift barriers to the import of pork products and agreed to purchase 25 additional regional jets for its state companies (Beijing had already agreed to buy 10) from Embraer, the Brazilian aircraft manufacturer. These orders are worth US$1.2bn. As a follow-up, the Chinese will send a commercial mission to Brazil in May to identify other potential suppliers of manufactured goods.

In the high-tech area, a major announcement came from the chief of Taiwan-based Foxconn, who said the company was considering an investment of US$12bn over five years in Brazil to manufacture Apple products, including the popular iPad tablet computer.

Looking for reciprocity
At the core of the discussions was the concept of “reciprocity”. This underscores growing concerns that, although Brazil has reaped rewards from its closer ties to China in terms of trade and investment—Chinese demand has been a driver of Brazilian exports and economic growth for years—the long-term benefits seem to favour the Chinese. Critics warn that Brazil and other Latin American commodity exporters are returning to a commodity-driven export path resembling that of the 17th and 18th centuries.

This carries the risk of an over reliance on commodity exports at the expense of sectors such as manufacturing and services exports. This not only makes Latin American countries vulnerable to a crash in commodity prices (or a sharp drop in Chinese demand), but also to “Dutch disease”, whereby local currency values rise in line with commodity prices, making it even more difficult for their manufactured and non-commodity exports to compete. This could contribute to potential “deindustrialisation” of Latin American economies—whereby manufacturing sectors shrink as natural-resource sectors continue to grow. This could eventually lead to rising imports and decreasing exports, balance-of-payments difficulties and negative impacts on overall economic growth.

The risk of deindustrialisation is compounded by the fact that China captures the bulk of value-added production from the commodities it buys, while discriminating against imports of value-added goods. Further, thanks to China’s low labour costs and a government policy designed to keep the Chinese currency undervalued, China outcompetes many Latin American manufactured goods in global markets and increasingly within Latin America’s home markets as well.

China is a competitor
According to one analysis, 94% of manufactured exports from Latin America and the Caribbean face a partial or direct threat from China. The direct threat is most acute for Mexico and the countries in Central America and the Caribbean, which are not net commodity exporters but export many light manufactured goods that directly compete with exports from China. Such countries have been losing market share to more competitive Chinese goods for some years.

Yet even in Brazil there is worry about potential deindustrialisation. Manufacturing competitiveness is being hurt by the strong local currency, the Real (which has been appreciating for two years owing to strong capital inflows), as well as by China’s own currency policy. Given Brazil’s diversified productive sector, the short-term risk of deindustrialisation is limited. However, industrial growth has been slower than that of commodity exports, and many sectors—notably clothing and footwear—have already suffered loss of market share at home and in neighbouring markets.

Active industrial policy
The Rousseff administration’s desire to reset commercial relations with China forms part of the left-leaning government’s broader industrial policy designed to promote industrial leaders (“national champions”), boost competitiveness and use industry as a tool of economic development.

Besides assisting local businesses with state financing and other incentives, the government is trying to steer certain strategic companies towards more production of value-added goods. One example is Vale, Brazil’s second-largest company and one of the world’s biggest mining companies. Vale extracts iron ore and other base metals, and exports them mostly to China. The previous government of President Luiz Inácio Lula da Silva tried to strong-arm the management of Vale for years to invest in steel production and other value-added projects at home. Ms Rousseff earlier in April finally succeeded in pressuring Vale’s shareholders to oust its president, who had resisted such government interference.

Challenges ahead
With regards to China, the recent bilateral agreements, while notable, are not likely to fundamentally change the nature of the relationship. Not only will China continue to import primarily raw materials, it is also becoming a bigger player in the direct production of such resources, particularly oil. Energy security and access to primary metals and foodstuffs will remain China’s overriding strategic interest in Brazil.

As China also continues to penetrate the Brazilian market with its lower-cost electronics, clothing and other goods, domestic producers may display more resistance to Chinese competition, and may pressure the government for more direct assistance (even protectionist measures) or to initiate anti-dumping complaints. Yet even commercial tensions of this nature are unlikely to turn back China’s expansion in Brazil, whether via trade or direct investment.

The challenge for Brazil and other commodity exports will be to figure out how best to profit from the Chinese connection to ensure that it contributes to more equitably distributed, diversified and sustainable growth. Besides agreements of the type signed in Beijing, more will have to be done on the domestic side to channel income from the commodities windfall to improvements in education, infrastructure and innovation, which will help to improve competitiveness over the longer term. Progress in implementing structural reforms in areas such as labour laws, fiscal policy and taxation, which keep business costs high, will also be needed.

The Economist Intelligence Unit
Source: ViewsWire

sábado, 9 de abril de 2011

A real ameaca chinesa - Editorial O Estado de S.Paulo

Na verdade, tanto os industriais brasileiros quanto o editorialista do Estadão se enganam quanto às fontes reais de ameaças à indústria brasileira. Elas não estão na China, cujas milhares de empresas privadas competem duramente nos mercados globais como é o seu dever "normal", de empresas competitivas e desejosas de fazer lucro, quaisquer que sejam os mercados.
A principal ameaça está mesmo aqui dentro do Brasil, e ela se chama Estado brasileiro, mais especificamente alta tributação, irracionalidade fiscal, péssima e cara infra-estrutura (comunicações, transportes, energia), ambiente deplorável de negócios, com muita burocracia, corrupção e tudo o mais que pudermos pensar como externalidades negativas que afetam o empresário brasileiro.
Geralmente se costuma apontar para inimigos externos -- no caso a China -- ou disfuncionalidades de política econômica -- que também existem -- mas por uma vez caberia olhar para as verdadeiras causas.
Se a presidente tiver a pretensão de voltar da China com promessas de "comércio mais equilibrado", como diz esse editorialista, isso apenas indica que ela não entendeu nada de como funcionam os negócios atualmente: não é o Estado chinês que está invadindo o mercado brasileiro com seus produtos baratos e ele não pode, e não deve, fazer nada contra as empresas privadas chinesas que aqui competem. É o Estado brasileiro que inviabiliza, de fato destrói, a competitividade das empresas brasileiras.
Não precisa ir para a China para descobrir isso. Eu já sei disso antecipadamente.
Mas minha "opinião" -- na verdade uma simples constatação -- não vale nada, obviamente...
Paulo Roberto de Almeida

A real ameaça chinesa
Editorial - O Estado de S.Paulo
09 de abril de 2011

Se, para alguns setores produtivos, falar em desindustrialização ainda soa como exagero, para outros, a suspensão da produção em razão da incapacidade de competir com fornecedores estrangeiros deixou de ser simples ameaça. Em alguns segmentos da indústria, mais de 80% das empresas deixaram de fabricar e se tornaram importadoras, pois tudo o que vendem aqui é comprado lá fora. É mais barato importar, sobretudo produtos fabricados na China, do que continuar produzindo.

É rápido o avanço dos produtos importados no mercado brasileiro. Provêm do exterior de 20% a 25% dos bens acabados, matérias-primas e produtos intermediários consumidos no País. Em 2010, o Brasil foi o país que mais aumentou as importações. Em volume, as importações cresceram mais do que as exportações, mas, mesmo assim, o País registrou um saldo comercial expressivo por causa dos preços recordes dos produtos agrícolas e dos minérios.

Um país exportador tem sido fonte de problemas crescentes para o setor industrial brasileiro - a China. Ela tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil. A corrente de comércio entre os dois países alcançou US$ 55 bilhões em 2010, tendo o Brasil conseguido um saldo de US$ 5 bilhões, graças às exportações de US$ 30 bilhões, asseguradas pela demanda chinesa continuamente crescente de bens primários e do alto preço desses itens.

Mesmo assim, a entrada de produtos industrializados chineses no mercado brasileiro aumenta velozmente, tornando feroz a competição aqui dentro. Para algumas empresas, a disputa já provoca grandes estragos. Reportagem do jornal Valor, publicada terça-feira, deixa claro que, em alguns segmentos, como válvulas industriais, elevadores e ferramentas, as empresas deixaram de produzir e passaram a importar, o que as levou a reduzir o número de empregados.

Em alguns casos, como o de válvulas padronizadas e de baixo valor agregado, o preço do produto chinês colocado no Brasil é 60% menor do que o do similar brasileiro. "Com essa diferença de preços, as empresas brasileiras não conseguem concorrer", diz o industrial Pedro Lucio, presidente da câmara setorial de válvulas industriais da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

O problema é o mesmo para os fabricantes de ferramentas simples, como martelos, chaves de fenda e alicates. Nesses casos, o produto chinês é de 50% a 70% mais barato do que o brasileiro. Há três anos, os produtos importados correspondiam a 10% do mercado; hoje, já são quase um terço, e a maioria vem da China.

São conhecidas as principais causas da perda de competitividade do produto brasileiro diante do chinês. A taxa de juros no Brasil é uma das mais altas do mundo, e na China ela é negativa. Aqui, a carga tributária é de cerca de 40%, e na China, de 20%. Enquanto o real alcança seu valor mais alto em vários anos em relação ao dólar, a moeda chinesa, o yuan, é mantida artificialmente desvalorizada em relação à americana, o que torna ainda mais competitivos os produtos chineses. O Brasil procura observar com rigor todas as regras internacionais de comércio, mas a China muitas vezes as burla. E a infraestrutura brasileira voltada para as exportações é muito menos eficiente do que a chinesa.

Outra grande diferença na forma como cada um dos dois países conduz o relacionamento bilateral é que a China sempre soube o que quer do Brasil, como sabe o que quer de outros fornecedores e clientes, dos quais depende para assegurar o suprimento dos bens de que necessita para sustentar seu crescimento e o mercado para seus produtos. O governo brasileiro, ao contrário, manteve, até recentemente, uma visão ingênua a respeito desse relacionamento, considerando a China um parceiro estratégico que merecia até o reconhecimento, feito pelo ex-presidente Lula, como economia de mercado, o que lhe facilitaria ainda mais acesso aos mercados de outros países. Com a visita que fará à China a partir de segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff, que não parece endossar essa visão ingênua, terá oportunidade para negociar com o parceiro asiático as bases de um relacionamento comercial mais equilibrado.