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quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Depois dos desentendimentos, a aproximação entre Lula e Trump - Miriam Gomes Saraiva (Brasil em Foco Konrad Stiftung do Brasil)

Depois dos desentendimentos, a aproximação entre Lula e Trump
Miriam Gomes Saraiva
Brasil em Foco
Konrad Stiftung do Brasil, outubro 2025
https://www.kas.de/pt/web/brasilien/brasil-em-foco/detail/-/content/serie-brasil-em-foco-10-2025#:~:text=debates%20entre%20especialistas.-,Depois%20dos%20desentendimentos%2C%20a%20aproxima%C3%A7%C3%A3o%20entre%20Lula%20e%20Trump,-Miriam%20Gomes%20Saraiva

Há um relativo consenso de que, nos anos de 1990, as relações do Brasil com os Estados Unidos teriam sido “desdramatizadas”. O termo significava que seriam relações entre dois países soberanos e que haviam deixado de ser consideradas alinhamento ou enfrentamento. Com exceção dos primeiros anos no mandato de Jair Bolsonaro, até 2025 as relações entre os dois países ficaram fluidas. Mas no primeiro semestre de 2025, com o Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, as relações se tornaram, no mínimo, dramáticas.

Ao chegar à presidência, Donald Trump adotou comportamentos desafiantes que trouxeram surpresa e impactos nas dimensões do multilateralismo, da segurança e do comércio internacional. O Brasil, por sua vez, com a presidência de Lula, segue uma política externa focada nas parcerias sul-sul e no grupo BRICS. Também busca contrabalançar levemente a presença internacional dos Estados Unidos. Internamente, o Brasil convive com processos judiciais contra Bolsonaro e outros réus que atuaram contra as instituições democráticas. Bolsonaro e, sobretudo, seu filho Eduardo Bolsonaro, são vinculados a atores políticos da extrema direita norte-americana, apoiadores de Trump.

Frente à influência de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos e aos discursos de Lula na cúpula do BRICS, Trump decidiu sancionar o Brasil no campo comercial, com uma tarifa de importação de 40% acima dos outros 10% que já haviam sido instituídos. E, aparentemente, fechou as portas para conversas com representantes brasileiros. Ao declarar o aumento das tarifas, Trump acusou o Judiciário brasileiro de perseguir Bolsonaro. Implementou também sanções financeiras ao juiz relator do processo contra o ex-presidente.

A reação do governo de Lula foi defender a soberania e criticar as tarifas, mas evitando acusar o presidente Trump. Diplomaticamente, não tinha como ceder, mas seria bom deixar uma porta aberta para negociações futuras. Mas quando o tarifaço entrou em vigor, algumas brechas ficaram evidentes. Diversas exportações brasileiras foram consideradas exceções. Embora sem divulgação, a diplomacia brasileira e os agentes econômicos brasileiros e norte-americanos haviam começado a trabalhar para desmontar as sanções. Além das consequências negativas para a economia brasileira, o aumento de tarifas também teria impacto na economia norte-americana e nos preços de produtos muito consumidos no país. Empresas norte-americanas já sentiam o impacto.

A Assembleia Geral das Nações Unidas levou os dois presidentes a se encontrarem entre os discursos de um e de outro e, em sua fala, Trump indicou ter simpatizado com Lula. Para tanto, tiveram influência as negociações que já aconteciam sem o conhecimento público e a personalidade de Trump, que tem demonstrado afeição a governantes carismáticos que negociam através de relações pessoais diretas. Lula se enquadra nesta categoria.

Daí para a frente, os canais de negociação foram abertos e as diplomacias trabalharam para que os dois presidentes conversassem. A conversa teve lugar dias depois, por telefone, e ficou pendente um encontro presencial. Foi uma conversa amena em que Bolsonaro não foi mencionado, com os dois mostrando satisfação, o que indicou o início de negociações diplomáticas e comerciais para resolver o imbroglio. Ou seja, a questão de Bolsonaro saiu da agenda e os representantes dos dois países agora vão negociar.

É possível que essas tarifas sejam reduzidas e fique vigente apenas o correspondente às tarifas de 10%. Com a dramaticidade e anomalias à parte, pode-se afirmar que foi uma vitória do governo brasileiro e do próprio presidente Lula. Trump continuará com seu comportamento surpreendente e contrário ao multilateralismo, mas o governo brasileiro vem desmontando uma situação bastante incomum nas relações internacionais, em que um país parceiro e de boas relações diplomáticas decide punir com tarifas altas o outro por conta de um processo judicial contra um ex-presidente golpista.

 

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