O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Marcos Lisboa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Marcos Lisboa. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Workshop de história econômica no Insper-SP - 8 e 9/08/2019


Estive nesse workshop, mas apenas como observador, eventualmente como perguntador curioso. Aliás, apareço nesta foto, na extrema direita (o que não é indicativo de posição).

Paulo Roberto de Almeida

Insper recebe pesquisadores nacionais e internacionais para debater pesquisas científicas no 6º Workshop de História Econômica

11/09/2019
Feature image
Evento abordou temas como educação, exportação, taxa de risco, imigraçãoe financiamento industrial
O Insper sediou nos dias 8 e 9 de agosto a 6ª edição do Workshop de História Econômica. O evento, que acontece desde 2013, reúne pesquisadores nacionais e internacionais que desenvolvem trabalhos acadêmicos com foco na análise econômica e histórica, abordando temas como educação, exportação, taxa de risco, imigração e financiamento industrial. A escola valoriza e incentiva a produção de pesquisas científicas na área de História Econômica, contribuindo para que o estudo de informações do passado possa contribuir para a criação de políticas que impactem positivamente decisões futuras dentro dos temas estudados.
Durante dois dias, 11 trabalhos foram apresentados aos participantes, que contribuíram com observações, informações, sugestões de abordagens e fontes para que os pesquisadores possam aprimorar seus trabalhos e ajustá-los antes de serem publicados no meio científico.
“O workshop é um espaço onde podemos discutir pesquisas novas de alunos e pesquisadores, criando um espaço de debate para estudos originais em História Econômica”, explica Renato Perim Colistete, especialista em História Econômica e um dos coordenadores do Workshop. “O objetivo é criar um espaço colaborativo, reunindo desde jovens estudantes até pesquisadores sêniores”, destaca.
O economista Samuel Pessoa apresentou o trabalho Economic Consequences of Educational Backwardness in Twentieth-Century in Brazil, desenvolvido em parceria com os economistas Edmilson Varejão e William Summerhill, importante estudioso da história econômica do Brasil e professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
O estudo dos economistas analisa a influência dos investimentos na Educação no PIB do Brasil, fazendo projeções de como seria esse setor se tivesse mais recursos financeiros desde 1985. A pesquisa avaliou não apenas o aumento do investimento, mas também formas de melhorar a qualidade do ensino no país, considerando uma maior atenção aos estudantes que têm dificuldade de aprendizagem e acabam sendo excluídos do sistema. “Este espaço de discussão é importante para que possamos ter outros olhares de especialistas sobre nosso trabalho, contribuindo para a relevância e impacto do estudo na sociedade”, ressalta Pessoa.
O impacto dos custos dos transportes na economia do Brasil foi outro tema abordado no encontro, no trabalho apresentado pelo economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Eustáquio Reis. A pesquisa Fretes e Custos de Transporte no Brasil 1830-1930 analisa a transição da infraestrutura de transporte no país desde as tropas de mulas e aborda a expansão da malha ferroviária e os processos de industrialização, passando do modelo ferroviário para o rodoviário do transporte de cargas. “Há poucos autores que abordam os custos históricos de transportes no Brasil. O estudo possibilita ter uma melhor ideia do impacto de ferrovias e rodovias no transporte de cargas, permitindo uma análise mais aprofundada deste tema na infraestrutura e economia do Brasil”, avalia Reis.
Confira abaixo todos os trabalhos apresentados no 6º Workshop de História Econômica:
  • US Geopolitical Goals and IMF Conditionality: Was Cold War Relevant?, Ariel Kessel Akerman, EESP-FGV
  • The Rationale Of Sharecropping: Immigrant Bonded Laborers And The Transition From Slavery In Brazil, 1830-1890, Bruno Gabriel Witzel de Souza, University of Göttingen
  • Democracy, Autocracy And Sovereign Debt: How Polity Influenced Country Risk In The First Financial Globalisation, Coşkun Tunçer, University College London, e Leonardo Weller, EESP-FGV
  • Economic Consequences Of Educational Backwardness In Twentieth-Century Brazil, Edmilson Varejão, EPGE-FGV, Samuel Pessoa, IBRE-FGV, e William Summerhill, University of California, Los Angeles
  • Estratégias De Assimilação, Ascensão E Mitigação De Risco: Atores Cristãos Novos No Rio De Janeiro – 1685-1770, Elissa Pereira, Universidade de São Paulo
  • As Origens Do Financiamento Industrial No Brasil, 1891-1940: Um Estudo Da Companhia Antarctica Paulista, Ellen Fonseca de Assis, Universidade Federal de Alfenas, e Michel Marson, Universidade Federal de Alfenas
  • Fretes e Custos de Transportes No Brasil, 1830-1930, Eustáquio Reis, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
  • Growth Over The Long Run: Historical National Accounts In International Comparison, Rafael R. Guthmann, University of Minnesota
  • Credit As An Economic Growth Determinant: Mortgages In Brazil, 1893-1939, Renato L. Marcondes, Universidade de São Paulo-Ribeirão Preto, e Lélio Luiz de Oliveira, Universidade de São Paulo-Ribeirão Preto
  • Taxation And The Stagnation Of Cotton Exports In Brazil, 1800 – 1860, Thales Zamberlan Pereira, Universidade Franciscana
  • Export Incentives, State Level Expenditures And Primary Education In Brazil, 1967-1985, Thomas Kang, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Isabela Menetrier, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Marcos Lisboa: "Existe algo de grave na nossa economia" -

"Existe algo de grave na nossa economia" 
Entrevista com Marcos Lisboa
Marcos Strecker
Revista IstoÉ, edição 16/08/2019 - nº 2590

O economista Marcos Lisboa tem se firmado como uma das vozes mais influentes no debate econômico nos últimos anos. Após participar do primeiro governo Lula como secretário de Política Econômica, despertou reações ao criticar os rumos da gestão Dilma, e anteviu a crise que se seguiria. Agora, ele alerta sobre o fato de que o País estará condenado à estagnação e ao crescimento baixo se as reformas como a da Previdência não forem logo implementadas. “É preciso reconhecer que existe algo de grave na nossa economia”, afirma. Lisboa considera que o governo está lento na agenda de privatizações. Pior: acha que não tem sido eficiente para melhorar o ambiente de negócios e atrair mais investimentos: “A medida da liberdade econômica me decepcionou profundamente. A impressão que fica, com raras exceções no governo, é que existe boa intenção, mas pouco conhecimento técnico.” Sobre a Reforma Tributária, o próximo grande projeto que vai mobilizar o Congresso e pode ajudar a destravar a economia, ele é enfático: “Voltar à CPMF é inacreditável”.
Como o senhor vê as propostas de Reforma Tributária que incluem uma nova CPMF?
O Brasil perdeu o bonde da história. Mais de 150 países usam o imposto sobre valor agregado (IVA), que é bastante simples. Você paga sobre o que vendeu, descontado o que seus fornecedores já recolheram. É simples, padrão. Temos um sistema tributário completamente deformado, e isso aparece em diversos indicadores.

O País tem uma dívida com Rogério Marinho pela Reforma da Previdência. Mas parece que boa parte do governo se perde em problemas menores

Por exemplo…
O contencioso entre a Receita Federal e as empresas representa 12% do PIB. Esse número não existe em outro país. É resultado de regras ruins. No ICMS o problema é maior ainda. Voltar à CPMF é inacreditável. Os poucos países arrumados que adotaram um imposto sobre movimentação financeira o abandonaram. Há um que o mantém, com uma alíquota elevada, de 2%: a Venezuela. É surpreendente que lideranças empresariais e o próprio governo pensem em fazer um imposto que, nessa proporção, só existe na Venezuela. É descabida essa tributação. Entendo o medo dos empresários, que receiam pagar mais impostos. Precisamos então tratar da informalidade, dos problemas. Mas não vamos criar um espantalho completamente descabido, que ninguém razoável no mundo usa, porque se tem medo de pagar um pouco mais.
A Reforma da Previdência no seu formato atual é suficiente para resolver o problema fiscal?
Precisamos derrubar alguns mitos. Primeiro, a Reforma da Previdência não resolve o problema fiscal. Ela faz com que a situação pare de piorar. Na melhor das hipóteses, vai estabilizar o gasto em relação ao PIB. Vamos precisar de outras reformas para economizar dinheiro. Segundo, o problema dos estados é grave. A reforma precoce de professores e PMs é um problema para eles. Por que professores precisam ter aposentadoria precoce em relação a outras profissões? Em que medida seus trabalhos são mais desgastantes ou estressantes do que os de um médico de UTI? Em diversos estados 70% dos gastos com aposentadoria são com PMs e professores. Esse é o drama brasileiro. O oportunismo, o autointeresse exacerbado e a falta de solidariedade são típicos. O agronegócio não quer pagar contribuição para a Previdência. A indústria diz que precisa de crédito subsidiado e proteção contra os estrangeiros. Esse egoísmo dos diversos grupos de interesse explica o motivo pelo qual o Brasil ficou para trás.
O Banco Central baixou a Selic. Os juros menores vão impulsionar a economia? Em outras palavras, a política monetária sozinha pode levar à retomada econômica?
Imaginar que a política monetária ajuda o crescimento é um equívoco que a gente comete há anos. Ela controla a inflação e ajuda a atividade. Os juros estão caindo por uma razão ruim, pois a economia está muito fraca. Pela queda que ocorreu, já devia ter se recuperado. Isso é um sinal preocupante de como a economia está frágil. Há sinais um pouco positivos. Esse ano vamos terminar com crescimento ao redor de 1%, talvez um pouco menos. É possível que, 12 meses à frente, possamos crescer 2%. Mas o nosso crescimento potencial, sustentado, é de 1% ou menos. Isso é uma má notícia.
E no curto prazo?
Podemos ter uma retomada maior no curto prazo pela capacidade ociosa, mas não será sustentável. A economia brasileira está muito machucada. Vamos crescer pouco, a menos que façamos diversas reformas difíceis e importantes.
As polêmicas criadas pelo presidente Jair Bolsonaro e sua pauta de costumes põem em risco a agenda de reformas?
Certamente esse ruído tem atrapalhado. Passa a Previdência e começamos a discutir nomeação de embaixador, como se fosse algo relevante. Isso cria uma insegurança nas pessoas sobre se o governo sabe para onde está indo e o que é prioridade. Aparentemente não, em muitos casos. Porém, precisamos ressaltar as exceções. O País tem uma dívida com o Rogério Marinho pela Reforma da Previdência e com o Mansueto Almeida pela clareza com os problemas fiscais. Mas parece que boa parte do governo se perde em problemas menores, em um País que está estagnado há uma década.
A polarização política e a falta de consensos ameaçam o enfrentamento das questões estruturais, como educação, saúde e segurança?
Nada mais parecido no Brasil do que a extrema esquerda e a extrema direita. Basta ver a Reforma da Previdência. A esquerda dizia que não havia déficit, não havia problema. Afirmava que serviria para ajudar alguns setores, haveria interesses escusos. E o pior é que uma parte da direita tem a mesma combinação de superficialidade e leviandade no discurso. É preocupante. Há muitos problemas relevantes, e no entanto fica uma briga de comadre entre a esquerda e a direita, um difamando o outro de maneira disfuncional.
A guerra comercial EUA-China ameaça o Brasil?
Esse é outro ponto preocupante. É preciso um mínimo de responsabilidade, porque o mundo hoje é mais instável, difícil. O País precisa cuidar dos seus fundamentos para que possa crescer de forma minimamente sustentável. Uma parte da América Latina foi bem-sucedida. O Chile conseguiu crescer, o Peru, a Colômbia, o Panamá. E outra parte insiste nesses discursos disparatados. Há um país, há anos, que empobrece lentamente: a Argentina. Outro escolheu o lado do penhasco: a Venezuela. Infelizmente, o Brasil parece estar entre os dois.
Os acordos de livre comércio com a União Europeia e talvez com os EUA podem acelerar o crescimento?
O acordo com a União Europeia é ótimo. É um processo de dez anos, que requer muitas medidas e ações. Mas boa parte do que um acordo como esse com a UE requer é cuidar do meio ambiente. Parece que de um lado se quer fazer o acordo, de outro, não. O Brasil é um país estranho. É um dos mais fechados ao comércio industrial. Há restrições de tarifas, técnicas. Esse é um clube que integramos com alguns países africanos muito pobres. Há a burocracia, as regras de conteúdo nacional. É um pesadelo trazer uma máquina mais eficiente do exterior. Esses anúncios ufanistas são bacanas, mas temo a frustração, pois não estamos fazendo o dever de casa. São temas que estão na mão do governo federal.
As privatizações estão caminhando no ritmo adequado?
O Brasil está mais do que atrasado. Há resistências de quem quer ser oposição — pois tem de falar mal do governo — e dos sindicatos, dos servidores. Por outro lado, na campanha, o governo prometeu mais do que tem. Já podia ter privatizado a Eletrobras. Por que está tão lento? Privatizar diversas empresas é bom, mas não vai resolver o problema do País. Fico frustrado de esse processo demorar tanto. Em termos de saneamento, ainda somos reféns das empresas estaduais. Por que isso não andou?
O combate à corrupção ainda é um dos principais desafios do País?
É fundamental. O Brasil deu um salto imenso, mas é importante entender também o que o permitiu. Esse é um problema histórico. A causa foi o Estado grande com poder discricionário. Numa hora você quer fortalecer uma grande empresa estatal, e o diretor pode decidir construir isso ou aquilo. Quando se cria esse poder público gigantesco com tamanho poder decisório, nas mãos de diretores de estatais, abre-se espaço para a corrupção. Se o País acha razoável regras tributárias tão diferenciadas, essa meia entrada generalizada, você abre espaço para a corrupção. Às vezes se dá o benefício por boas intenções. Outras vezes, pelas razões erradas. É preciso resgatar o princípio republicano de tratar os iguais como iguais. E dar transparência à concessão de benefícios. Toda vez que ela é obscura, abre-se margem para o malfeito. Não se deve concedê-los por meio de isenções tributárias. Isso deve ser feito via orçamento, gasto, jamais via tributação. Ela não é o mecanismo adequado para fazer política pública. a não ser em casos excepcionais.
O estrago do governo Dilma é equivalente ao do governo Geisel. O sistema tributário virou um pesadelo

O liberalismo econômico nunca foi popular no País. A agenda do ministro Paulo Guedes vai prosperar?
Acho que isso vem mudando no Brasil há uns 20 anos. Começou no final do governo Sarney, com a abertura comercial, além das privatizações que vieram no governo Collor e Itamar. A introdução das agências reguladoras no governo FHC… Mesmo o governo Lula, no começo, preservou essa agenda. Tivemos um retrocesso imenso a partir de meados do segundo governo Lula e no governo Dilma. Vamos pagar por isso por muito tempo. O estrago do governo Dilma é equivalente ao estrago do governo Geisel. Houve destruição e má alocação de recursos, o sistema tributário virou um pesadelo. Essa disfuncionalidade é uma das responsáveis pela pobreza no Brasil. O que está me preocupando é que está havendo muito discurso e pouco resultado. A medida da liberdade econômica me decepcionou profundamente, não foi bem feita. Precisamos enfrentar os problemas, e não criar regras gerais, princípios. A impressão que fica — com raras exceções no governo — é que existe boa intenção, mas pouco conhecimento técnico de como implementar as medidas. Acabam vendendo pílula do câncer.
Haverá retomada econômica?
Olha a demora para a recuperação. O estado ao qual o Brasil chegou. Se alcançarmos 2% de crescimento vamos ficar aliviados — uma economia com 12 milhões de desempregados e que andou para trás na última década. Isso depois da imensa queda de juros desde o governo Temer. É preciso reconhecer que existe algo de grave na nossa economia, ou estaremos condenados à estagnação e ao crescimento baixo por mais uma geração. Meu receio é que, depois de crescermos 2%, volte a crise. Tem sido assim recorrentemente.
  

domingo, 29 de abril de 2018

Economistas defendem nova agenda - Marcos Lisboa, Ana Carla Abrão e Vinicius Carrasco (Insper)

OLIVER WYMAN e INSPER lançam o primeiro artigo da série Panorama Brasil /
(Marcos Lisboa, Ana Carla Abrão e Vinicius Carrasco apresentaram um diagnóstico da economia para aprofundar o debate eleitoral)
Apresentação
34 telas
26abr18
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

Economistas defendem nova agenda

Marcos Lisboa, Ana Carla Abrão e Vinicius Carrasco apresentaram um diagnóstico da economia para aprofundar o debate eleitoral

Fernando Dantas e Luciana Dyniewicz, O Estado de S.Paulo
A falta de reformas na condução da economia do País pode resultar em novos Estados entrando em crises semelhantes à vivida pelo Rio de Janeiro, em uma nova escalada da inflação ou ainda em um eventual calote do governo brasileiro, afirmou nesta quinta-feira, 26, o economista Marcos Lisboa, presidente da instituição de ensino superior Insper, na apresentação de um diagnóstico detalhado dos problemas econômicos do País. 
O documento – cuja coordenação foi feita também pelos economistas Ana Carla Abrão, colunista do Estado e sócia da consultoria Oliver Wyman, e Vinicius Carrasco, professor da PUC-Rio – é o primeiro de uma série batizada como Panorama Brasil. O projeto, de acordo com Lisboa, busca sair do “debate superficial de câmbio e juro” para investigar com rigor acadêmico temas como a complexidade do sistema tributário brasileiro e o comércio exterior fechado.
Segundo Ana Carla, a série de documentos não tem caráter partidário ou eleitoral. “Não é um programa de governo. É uma contribuição para o debate. Por acaso, o momento é bastante propício. Mas nossa ambição é que a série se mantenha viva por muito tempo, independentemente do ciclo eleitoral”, afirmou a economista, que também foi secretária da Fazenda de Goiás entre 2015 e 2016, durante o governo de Marconi Perillo (PSDB). 
Apesar de fugir da ideia de proposta de programa de governo, o projeto aponta a necessidade de reformas, como a abertura comercial, e critica questões como o a concessão de crédito subsidiado por bancos públicos.
Diagnóstico. O relatório apresentado na última quinta-feira, 26, intitulado “Renda e Produtividade nas Duas Últimas Décadas”, mostra que a renda per capita no Brasil cresceu menos, nos últimos 20 anos, que em outros países emergentes e na América Latina. Isso ocorreu devido à falta de melhoras na produtividade, que está estagnada desde 1980 devido, entre outros fatores, à baixa qualidade de educação, à burocracia no ambiente de negócios e a um setor público ineficiente. 
 “Avançamos muito em diversos indicadores sociais e várias pessoas saíram da miséria, no entanto, nosso desempenho foi aquém dos demais países emergentes. Desde 2011, descolamos dos demais países. Enquanto o resto do mundo continuou crescendo, o Brasil passou a andar para trás”, disse Lisboa. Caso o País mantenha a taxa de crescimento dos últimos 20 anos, acrescentou, terá uma economia como a do Chile apenas daqui a 38 anos – daí, a necessidade de reformas.
 “Necessitamos de uma reforma urgente ou vamos ficar piores, ou teremos mais crise nos Estados, com consequências na saúde, na educação e na segurança, ou crise no governo federal, com inseguranças como aumento de impostos, ou risco de inflação ou calote. Com esse ambiente de risco, não se deve estranhar que, mesmo com queda de juros, a economia ainda ande de lado”, destacou Lisboa. 
Investimento. Um dos entraves da produtividade brasileira, para os economistas, é o baixo nível de investimento em infraestrutura, que não apresentou avanços significativos desde 2010. No ano passado, o Brasil estava na 73ª posição entre 137 países em termos de qualidade da infraestrutura, segundo o Global Competitiveness Index (GCI), do Fórum Econômico Mundial. O Chile estava em 41º, o Uruguai em 45º e a Turquia em 53º. 
“O fato de que a produtividade é baixa é sinal de que investimos mal em capital, investimos em máquinas que não foram usadas, em capacidade excessiva. Há evidências de que investimentos muito mal”, disse Vinicius Carrasco. O professor da PUC-Rio lembrou do caso do aeroporto de Viracopos, que recebeu uma injeção de investimentos, mas opera com grande ociosidade.
Ouro problema que impede o País de aumentar sua produtividade é a educação. A qualidade do ensino no Brasil melhorou entre 2006 e 2009, mas não manteve essa tendência nos anos posteriores. A nota dos estudantes brasileiros no Programa Internacional de Avaliação Escolar (PISA) é bastante inferior a dos países emergentes, o que, de acordo com o relatório, indica que a qualidade do ensino não acompanhou o aumento da escolaridade média verificado no País. “O que aconteceu com a educação? Por que aumentamos tanto o gasto (em educação) e nossos indicadores ficaram para traz? Entender esse quadro será nosso objetivo?”, afirmou Lisboa. 
Outros temas abordados na discussão foram a demografia desfavorável à frente, com aumento drástico da razão de dependência (idosos sobre população ativa) até 2050, e a reforma do Estado, com destaque para o peso excessivo da folha salarial nas despesas dos Estados. “Precisamos de uma reforma para melhorar o serviço público. Consumimos 39% do PIB com a máquina pública e temos os serviços públicos avaliados como os piores de mundo”, disse Ana Carla.  
Cadastro positivo. Lisboa e Ana Carla defenderam ainda o cadastro positivo e criticaram os cartórios que se opõem à medida, que aumentaria a concorrência entre os bancos. Para Lisboa, é preciso discutir a eliminação dos cartórios no País. “Por que precisamos de cartórios? Eles dão segurança, geram benefício ou são apenas um pedágio que temos de pagar para o Brasil velho?”, questionou. “O mundo já utiliza outras formas de fazer registros”.

O diagnóstico da Oliver Wyman e do Insper

Marcos Lisboa, presidente do Insper, explica o que é o projeto Panorama Brasil, que junta a Oliver Wyman, consultoria global, e o Insper, instituição de ensino superior e pesquisa. Além disso, e separadamente da agenda Brasil, Lisboa fala de como vem conversando com políticos e técnicos envolvidos com várias candidaturas, com quais candidatos não se interessa em falar, e da necessidade de o País enfrentar os interesses do "velho Brasil" que são um freio ao crescimento da produtividade.

Fernando Dantas 
Envolvido na montagem de um grande e detalhado diagnóstico dos problemas brasileiros baseado na melhor pesquisa acadêmica, o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, instituição de ensino superior e pesquisa, diz que o papel dos técnicos como ele é o de mostrar quais as prováveis consequências das diferentes opções de política públicas. Cabe aos políticos decidir os caminhos a tomar.
Porém, ao fim da sua apresentação no evento ocorrido ontem na sede do Insper em São Paulo de lançamento do primeiro documento – “Renda e produtividade nas duas últimas décadas” – da série “Panorama Brasil”, uma parceria entre a Oliver Wyman, empresa global de consultoria, e o Insper, Lisboa já estava propondo o fim dos cartórios no Brasil tal como hoje funcionam. O técnico não resiste a ser propositivo.
Lisboa, ex-secretário de Política Econômica da Fazenda e ex-presidente do IRB no primeiro governo Lula, está conversando intensamente com políticos e técnicos envolvidos em diferentes candidaturas a presidente da República.
Ele faz questão de separar, porém, o projeto da Oliver Wyman e do Insper das suas iniciativas pessoais. Mas ambos são apartidários. No projeto Panorama Brasil, ele é apenas um dos três coordenadores, em pé de igualdade com Ana Carla Abrão, da Oliver Wyman e ex-secretária da Fazenda de Goiás, que vem trabalhando com afinco no tema da reforma do Estado, e do economista Vinicius Carrasco, ex-diretor de Planejamento do BNDES.
Referindo-se às suas iniciativas pessoais, e não ao Panorama Brasil, Lisboa diz que conversa com qualquer candidatura desde que não seja daquelas que “defendem que a Venezuela é uma democracia com dois lados (legítimos) em disputa”, ou “de gente que propõe fechar museu”. É uma clara alusão à extrema esquerda e à extrema direita na atual eleição, da qual quer distância.
Já Ciro Gomes, que não se encaixa em nenhum dos dois grupos acima, também não conta com a simpatia de Lisboa. Ele vê qualidades no candidato do PDT, “extremamente inteligente e com um bom histórico de gestor no Ceará”. Adicionalmente, seu irmão e aliado político Cid Gomes é responsável pela grande inovação bem-sucedida no ensino fundamental da cidade cearense de Sobral, que depois se espalhou pelo País.
“O problema é que o Ciro tem ideias meio confusas, que oscilam de um extremo ao outro”, diz Lisboa. Ele se refere a ideias desenvolvimentistas de economistas ligados ao candidato que “acham que o problema do Brasil é câmbio e que a abertura comercial e a integração com o resto do mundo pode ser um problema”.
Para o presidente do Insper, “é uma agenda que mistura um pouco o sabor do Brasil velho com a superficialidade da análise que a gente assistiu nos últimos anos, e que deixou resultados muito ruins para o País”. Lisboa acha “surpreendente que economistas que erraram tantas vezes, que foram autores de planos heterodoxos que deram tão errado, que fizeram tão mal ao país, continuem participando do debate sem nenhuma autocrítica”.
Ele acrescenta que a janela de oportunidade para o Brasil resolver os seus problemas está se fechando.
Por vezes Lisboa soa bastante pessimista, como quando diz que “o problema hoje não está na política, mas sim na sociedade, que não quer fazer o ajuste”.
Ele menciona uma longa lista de grupos que se beneficiam de distorções do “Brasil velho” e que resistem a mudanças para melhorar o país: corporações de servidores entre o 1% mais rico do País que se opuseram à reforma da Previdência; o Estado do Rio que, mesmo mais rico que o resto do País, “pede o tempo todo para a União pagar pelos seus (do Rio) pecados”; empresários que não querem pagar tributos ou contribuir com a Previdência; e – algo que está deixando-o especialmente irado no momento – a aliança esdrúxula entre movimentos de defesa do consumidor e cartórios contra o cadastro positivo.
Por outro lado, o presidente do Insper diz que “já esteve mais pessimista”, porque em 2012 e 2013, quando ele e outros economistas alertavam sobre os desastres que estavam por vir, “a negação dos problemas era muito maior”.
Cadastro positivo é um tema que encoleriza Lisboa no momento e o faz pronunciar frases sarcásticas como a de que “o Brasil não é um pais pobre à toa, a gente faz muito esforço para ser pobre”.
Ele considera inacreditável que o País não tenha um sistema funcional de cadastro positivo, algo disseminado entre os países da OCDE e mundo afora, e que existe em “pares” do Brasil como o México.
Para o economista, o cadastro positivo é uma questão de cidadania, e sua ausência é uma grande injustiça com os mais pobres que “só tem a sua reputação” na hora de pedir crédito. Ricos como ele mesmo, explica Lisboa, têm imóvel próprio, automóvel, etc., que podem oferecer como garantia.
“A defesa do consumidor no Brasil foi contra o pobre poder usar o seu bom nome para pegar empréstimo”, atacou o presidente do Insper.
Ele explicou que, pelo sistema proposto de cadastro positivo que emperrou no Congresso, apenas as informações sobre pagamento ou não de créditos são repassadas pelos bancos para os três “birôs” de crédito (o mais conhecido é a Serasa), que são aprovados e supervisionados pelo Banco Central e devem ter patrimônio líquido mínimo de R$ 70 milhões. Os birôs então divulgam apenas as notas de créditos dos consumidores, e se vazarem qualquer informação sobre pagamento ou não de créditos podem ser processados no âmbito da lei de sigilo bancário.
Lisboa comparou o sistema aos “ratings” que praticamente todos os países e muitas empresas recebem de agências de classificação de risco como Moody’s, S&P’s e Fitch. “O país, as empresas e os cidadãos são avaliados com notas de crédito, isso é o normal, o básico”, ele disse.
Porém, na sua visão, as associações de defesa do consumidor, aliadas aos cartórios, “inventaram espantalhos de quebra de sigilos de informações e dados, e não apenas jogaram o bebê fora junto com a água do banho, como afogaram o bebê”.
Lisboa ressalva que a defesa do consumidor tem uma maioria de pessoas bem intencionadas, “mas que mostram um desconhecimento técnico muito impressionante”.
Ele não faz a mesma ressalva positiva em relação aos cartórios, que, para o economista, “hoje são um obstáculo a reformas para melhorar o Brasil”.
O presidente do Insper prossegue no ataque, dizendo que “se tem um exemplo do Brasil velho, do retrocesso, são os cartórios”. Segundo o economista, nas mais diversas partes do mundo já se substituíram sistemas como o que funciona no Brasil por alternativas “mais eficientes, sofisticadas e seguras de controlar registros do que o velho cartório, que não é apenas um custo para o País, mas que ainda por cima impede avanços”.
A série de documentos do Panorama Brasil, segundo Lisboa, na qual a participação da Oliver Wyman é fundamental, busca sair do “debate superficial de câmbio e juro” para investigar com rigor acadêmico a imensa quantidade de problemas específicos que precisam ser enfrentados no Brasil, como a complexidade tributária e o comércio exterior fechado, e que não se resolvem “com uma, duas ou três leis”.
Assim, a proposta da série de estudos é investigar temas como os tipos de reformas de crédito que deram certo no mundo, os efeitos de intervenções setoriais e regulatórias, os impactos das mudanças nas regras de cálculos das concessões, como se dá o arcabouço e a governança dos investimentos em infraestrutura bem sucedidos em outros países, qual o papel das agências reguladoras, como devem ser os mandatos dos diretores do Banco Central, como tratar a remuneração dos servidores públicos, como outros países enfrentaram o corporativismo do funcionalismo quando isto criou asfixia fiscal, etc.
“O Brasil não é um país que se descolou do resto do mundo à toa, nós temos muito coisa torta e esses velhos grupos de interesse que se beneficiam do País atrasado. Essa é uma agenda longa, trabalhosa, mas urgente – podemos não a seguir, tem muito exemplo de pais latino-americano que ficou para trás e está cada dia mais pobre. Mas eu espero que o Brasil não seja um deles”, conclui o economista.
Mas ele ressalva novamente que o trabalho com a Oliver Wyman não é uma agenda de propostas, e sim um mapeamento de diagnósticos, e que cabe aos políticos escolher os caminhos e aos técnicos indicar as prováveis consequências dessas escolhas. (Fernando.dantas@estadao.com)

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Economia brasileira em voo de galinha e indo para o precipício- Marcos Lisboa

Melhora da economia pode ter fôlego curto
ENTREVISTA: MARCOS LISBOA, economista e presidente do Insper  
O Estado de S.Paulo, 17/02/2018

O economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, afirma que uma possível suspensão da reforma da Previdência por causa da intervenção no Rio deve agravar ainda mais o quadro de degradação da política pública. Na avaliação dele, as consequências da falta de reformas (especialmente a previdenciária) já estão espalhadas pelo Brasil inteiro, com a piora da segurança pública e a infraestrutura precária. “É um quadro que já está aí e vai se agravar. Haverá piora progressiva da qualidade da política pública.”

A avaliação do mercado é que a intervenção no Rio deve enterrar a reforma da Previdência. Quais os reflexos disso?
Está cada dia mais difícil. Quanto mais se demora para fazer as reformas necessárias, maior é o quadro de degradação da política pública. A segurança falha (como no Rio); a manutenção de viadutos não é feita; problemas de infraestrutura em vários lugares vão surgindo, como falta de acesso à água; há atraso de salários, de aposentadorias e de pagamento de fornecedores.

Há um prazo limite para se fazer a reforma da Previdência? 
Não é que haja uma data limite, mas a medida que você não faz as reformas– e a Previdência é amais importante –, o dinheiro vai acabando e você tem de cortar em algum lugar. E começam cortando a manutenção. O que vai ocorrer é que, na medida que o dinheiro vai acabando, você vai cortando ciência e tecnologia, manutenção de estrada, investimento em saneamento. Os relatos estão pipocando e estamos vendo uma série de casos espalhados pelo Brasil, com uma infraestrutura deficiente.

A tendência é piorar?
É um quadro que já está aí e que vai se agravar. Haverá uma piora progressiva na qualidade da política pública com a falta do dinheiro. Quando você para de fazer manutenção em estradas e em saneamento, você está criando um problema para o futuro. O viaduto que caiu (semana passada) em Brasília não é resultado de apenas um ano sem investimento, mas de vários. Sem dinheiro, corta-se a manutenção. Já estamos vendo as consequências da crise fiscal. A degradação da violência e das estradas é o retrato disso.

E onde isso pode chegar?
O que tem agora é o debate em torno da regra de ouro. Chega uma hora em que a despesa obrigatória do governo federal fica maior que a receita corrente líquida. Se não há recursos extraordinários, como os do BNDES neste ano, o governo precisa de empréstimo para pagar a despesa corrente. No fundo, ele estará tomando empréstimo para pagar a Previdência. A regra de ouro proíbe essa prática. Se começa a fazer isso, perde-se o controle. É insustentável a médio prazo.

Deixar a reforma para o próximo governo significaria ter uma reforma mais rígida?
Vai ser cada vez pior. O gasto da Previdência cresce acima do PIB por causa do envelhecimento da população. Quanto mais demora, mais grave fica o quadro. A questão é que, embora a Previdência seja a mais importante, é preciso fazer outras coisas para equilibrar as contas públicas.

A retomada econômica pode ser interrompida?
De um ano e meio para cá, houve uma inflexão grande da política econômica, que terminou com maior responsabilidade para enfrentar o problema fiscal. Teve a PEC do Teto, a reforma trabalhista, melhora na governança da Petrobrás e da Caixa. Houve uma agenda importante que permitiu a queda dos juros e da inflação. Na hora que houve melhora na condição da política econômica, o mercado passou a acreditar que o futuro não seria tão ruim. Hoje, estamos colhendo os frutos da melhora da política econômica iniciada no fim de 2016. Este ano seria de alívio e de recuperação da economia. O risco é perder a oportunidade de continuar essa trajetória boa. A melhora pode ter fôlego curto. Se tem um desequilíbrio fiscal deste tamanho, como vai fazer ajuste? Vai aumentar imposto? Vai cortar despesas? Se você não sabe como vai ser o ajuste, como vai investir?