Melhora da economia
pode ter fôlego curto
ENTREVISTA: MARCOS LISBOA, economista e presidente do Insper
O Estado de S.Paulo, 17/02/2018
O
economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, afirma que uma possível
suspensão da reforma da Previdência por causa da intervenção no Rio deve
agravar ainda mais o quadro de degradação da política pública. Na avaliação
dele, as consequências da falta de reformas (especialmente a previdenciária) já
estão espalhadas pelo Brasil inteiro, com a piora da segurança pública e a
infraestrutura precária. “É um quadro que já está aí e vai se agravar. Haverá
piora progressiva da qualidade da política pública.”
A avaliação do mercado é que a intervenção no Rio deve enterrar
a reforma da Previdência. Quais os reflexos disso?
Está
cada dia mais difícil. Quanto mais se demora para fazer as reformas
necessárias, maior é o quadro de degradação da política pública. A segurança
falha (como no Rio); a manutenção de viadutos não é feita; problemas de
infraestrutura em vários lugares vão surgindo, como falta de acesso à água; há
atraso de salários, de aposentadorias e de pagamento de fornecedores.
Há um prazo limite para se fazer a reforma da Previdência?
Não
é que haja uma data limite, mas a medida que você não faz as reformas– e a Previdência
é amais importante –, o dinheiro vai acabando e você tem de cortar em algum
lugar. E começam cortando a manutenção. O que vai ocorrer é que, na medida que
o dinheiro vai acabando, você vai cortando ciência e tecnologia, manutenção de
estrada, investimento em saneamento. Os relatos estão pipocando e estamos vendo
uma série de casos espalhados pelo Brasil, com uma infraestrutura deficiente.
A tendência é piorar?
É
um quadro que já está aí e que vai se agravar. Haverá uma piora progressiva na
qualidade da política pública com a falta do dinheiro. Quando você para de
fazer manutenção em estradas e em saneamento, você está criando um problema
para o futuro. O viaduto que caiu (semana passada) em Brasília não é resultado
de apenas um ano sem investimento, mas de vários. Sem dinheiro, corta-se a
manutenção. Já estamos vendo as consequências da crise fiscal. A degradação da
violência e das estradas é o retrato disso.
E onde isso pode chegar?
O
que tem agora é o debate em torno da regra de ouro. Chega uma hora em que a
despesa obrigatória do governo federal fica maior que a receita corrente
líquida. Se não há recursos extraordinários, como os do BNDES neste ano, o
governo precisa de empréstimo para pagar a despesa corrente. No fundo, ele
estará tomando empréstimo para pagar a Previdência. A regra de ouro proíbe essa
prática. Se começa a fazer isso, perde-se o controle. É insustentável a médio
prazo.
Deixar a reforma para o próximo governo significaria ter uma
reforma mais rígida?
Vai
ser cada vez pior. O gasto da Previdência cresce acima do PIB por causa do
envelhecimento da população. Quanto mais demora, mais grave fica o quadro. A
questão é que, embora a Previdência seja a mais importante, é preciso fazer
outras coisas para equilibrar as contas públicas.
A retomada econômica pode ser interrompida?
De
um ano e meio para cá, houve uma inflexão grande da política econômica, que
terminou com maior responsabilidade para enfrentar o problema fiscal. Teve a
PEC do Teto, a reforma trabalhista, melhora na governança da Petrobrás e da
Caixa. Houve uma agenda importante que permitiu a queda dos juros e da
inflação. Na hora que houve melhora na condição da política econômica, o
mercado passou a acreditar que o futuro não seria tão ruim. Hoje, estamos
colhendo os frutos da melhora da política econômica iniciada no fim de 2016.
Este ano seria de alívio e de recuperação da economia. O risco é perder a
oportunidade de continuar essa trajetória boa. A melhora pode ter fôlego curto.
Se tem um desequilíbrio fiscal deste tamanho, como vai fazer ajuste? Vai
aumentar imposto? Vai cortar despesas? Se você não sabe como vai ser o ajuste,
como vai investir?
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