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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

A “desdolarização” fracassa na primeira tentativa - Vinod DSouza

BRICS: India Gets Reality Check, Ditching US Dollar Becomes Impossible

Vinod Dsouza

4/01/2024

BRICS member India had convinced 22 countries to accept the Rupee for international trade and ditch the US dollar. The majority of the countries hail from Asia, Africa, Latin America, and the global south. India also opened special Vostro bank accounts to make it easier to settle payments in their local currency, the Rupee. All the 22 countries had signed the agreement to trade a part of goods in the Rupee and sideline the US dollar.

However, things are not going as planned for India as the majority of countries are now unwilling to keep the Rupee as reserves. India finds no takers for the Rupee as the currency is declining against the US dollar. Hoarding the Rupee in reserves serves no purpose, as the demand for the currency lacks strength in the global market.

The default payment is now either the US dollar, Euro, Pound, Chinese Yuan, Japanese Yen, or UAE’s Dirhams. The Rupee is finding no seat at the table, making the idea of ditching the US dollar impossible.


at the table, making the idea of ditching the US dollar impossible.

Also Read: 25 New Countries Ready To Join BRICS in 2024

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

China, para o bem e para o mal, a obsessão de todo mundo - Notícias diversas

 A China é logo ali

Edson Rossi | 17/09/21 - 09h00

Enquanto a diplomacia nacional sob Bolsonaro decidiu transformar em saco de pancadas a China e o governo argentino de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, os dois países estreitam seus laços comerciais. No ano passado, os chineses alcançaram o Brasil como principais exportadores para os países vizinhos. Do total de importações da Argentina, Brasil e China respondem por 20,4% cada. Mas nos primeiros sete meses deste ano, Pequim já passou à dianteira: os argentinos compraram US$ 6,9 bilhões de produtos chineses contra US$ 6,8 bilhões dos brasileiros.

https://www.istoedinheiro.com.br/presentinho-para-flavio/

'Não vai ter invasão de produtos chineses no Brasil', afirma embaixador uruguaio sobre acordo comercial com China
Diplomata usa como exemplo a parceria entre Chile e o país asiático. Segundo ele, nada aconteceu de negativo nas economias da região
Eliane Oliveira | 17/09/2021 - 12:00 / Atualizado em 17/09/2021 - 13:03

Há um ano em Brasília, mas com a experiência de quem participou ativamente das negociações que deram origem ao Mercosul, o embaixador do Uruguai no Brasil, Guillermo Valles Galmés, garante que não há razão alguma para temer um acordo de livre comércio entre seu país e a China. Ele costuma comparar o que aconteceu com o Chile, que já tem um tratado comercial há cerca de 15 anos com os chineses.

Chile e China levaram de três a quatro anos para concluir as negociações. O acordo foi assinado em 2006. Em 2017, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet e o presidente chinês Xi Jinping assinaram um novo documento aprofundando os termos do tratado.

— O Chile não é vizinho como o Uruguai, mas é uma economia muito mais potente, tem interesses com o Brasil muito mais profundos e tem um acordo de livre comércio maduro, há muitos anos, com a China. O que aconteceu com o Brasil? Nada. E o que vai acontecer de negativo, se houver um acordo entre a China e o Uruguai? Nada. Não haverá invasão de produtos chineses no Brasil —  disse o embaixador ao GLOBO.

A decisão do Uruguai de buscar acordos em separado dos demais sócios do Mercosul, anunciada em julho deste ano, causou um impasse. Os argentinos protestaram e argumentaram que, pelas regras atuais, tratados de redução de tarifas precisam ser negociados em conjunto.

Mas o governo brasileiro apoia a iniciativa, por considerar que o bloco precisa de flexibilidade e que esse tipo de proibição não encontra respaldo legal. Porém, alguns setores da indústria nacional se mostraram preocupados em perder competitividade para produtos chineses.

Galmés ponderou que as conversas ainda estão no início. As negociações, enfatizou, dependem de um estudo sobre o impacto de um tratado do gênero nas duas economias.

— Ainda não estamos negociando e é uma negociação que é prolongada. Não podemos imaginar cenários catastróficos, nem cenários idílicos. Só agora começamos a conversar — disse o embaixador.

Além de aumentar as exportações de produtos uruguaios — de forma geral, alimentos — o Uruguai poderá receber investimentos chineses, inclusive a instalação de fábricas. Para o diplomata, esse aspecto deve ser visto de forma positiva por todos os sócios do Mercosul, inclusive pelas indústrias locais.

— Hoje, há fábricas chinesas no Brasil. Estão exportando para o Uruguai? Sim. Se estão exportando com tarifa zero, o produto é brasileiro, e não chinês — argumentou.

O embaixador também negou que, com o acordo com a China, o Uruguai passe a receber as chamadas 'maquiladoras' — empresas que importam peças e insumos, sem pagar taxas, para montá-los no país de destino e exportar para outros mercados. Ele enfatizou que há regras de origem no Mercosul, que permitem saber qual a composição do bem formada por partes produzidas exclusivamente pelos países do bloco.

— Com o Uruguai, isso não vai acontecer . Essa ideia de maquiladora não tem fundamento —afirmou.

Os uruguaios foram informados por Pequim, na semana passada,  que a China tem interesse em conversar sobre um acordo comercial. Outro alvo dos vizinhos é o Acordo de Associação Transpacífico (TPP), formado por países da Ásia, da Oceania e das Américas do Norte e do Sul.  Na última quinta-feira, os chineses demonstraram interesse em aderir ao TPP.

https://oglobo.globo.com/economia/nao-vai-ter-invasao-de-produtos-chineses-no-brasil-afirma-embaixador-uruguaio-sobre-acordo-comercial-com-china-25201413

Georgieva, do FMI, é acusada de favorecer China em relatório anual sobre negócios do Banco Mundial
Ela é suspeita de alterar posições do país do ranking do Doing Business. Episódio pode minar autoridade da atual diretora-gerente do Fundo, avaliam especialistas
Bloomberg | 17/09/2021 - 12:25

Kristalina Georgieva corre o risco de ver sua autoridade como diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) minada poucas semanas antes de uma reunião anual de autoridades de finanças globais. Ela foi acusada de favorecer a China no ranking anual de negócios do Banco Mundial (Bird), o Doing Business, quando ainda trabahava na instituição.

As denúncias se referem ao período em que Georgieva era executiva-chefe do banco e supervisionava campanhas para conseguir um aumento de capital para o órgão.

Georgieva disse discordar "fundamentalmente" da acusação, contida em um relatório encomendado pelo Banco Mundial ao escritório de advocacia WilmerHale, de que ela pressionou os funcionários do banco para ajustar a classificação da China no relatório econômico anual.

"Discordo fundamentalmente das conclusões e interpretações da Investigação de Irregularidades de Dados no que se refere à minha função no relatório Doing Business do Banco Mundial de 2018. Já tive um briefing inicial com o Conselho Executivo do FMI sobre este assunto",  disse Georgieva em comunicado.

Na reunião que teve com o conselho do Fundo na quinta-feira, antes de a notícia ser divulgada,  ela afirmou que  iria continuar seu trabalho como de costume, de acordo com fontes a par do assunto.

O relatório da empresa de advocacia concluiu que, na edição de 2018 do Doing Business, a classificação da China foi elevada artificialmente do 85º para o 78º lugar, a mesma do ano anterior, depois que autoridades do governo chinês procuraram o então presidente do Bird, Jim Young Kim, e outros diretores para expressar preocupações de que a classificação do país não refletia as reformas econômicas realizadas.

O documento foi apresentado internamente na quarta-feira e divulgado pelo Conselho do Banco Mundial na quinta.

“Para ser claro, nossa revisão não deve ser interpretada como uma sugestão de que houve qualquer conduta inadequada por parte de qualquer funcionário chinês ou de outro governo”, escreveram no relatório.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse em uma coletiva de imprensa na sexta-feira, em Pequim, que o Banco Mundial deveria “seguir os procedimentos internos de revisão para investigar a questão para melhor proteger o profissionalismo e a autoridade do relatório Doing Business e a reputação do Banco Mundial e seus membros. ”

O governo chinês “atribui grande importância à melhoria do ambiente de negócios e a conquista é testemunhada por todos”, acrescentou Zhao Lijian.

Doing Business: alvo de escândalos
A acusação contra Georgieva foi a última de uma série de escândalos que afetaram o conturbado relatório nos últimos anos. Tão acossada, subjetiva e polêmica é a metodologia do relatório, que mede a facilidade e a transparência de se operar em uma economia, que o Banco Mundial anunciou que vai deixar de publicá-lo. 

Mas, para Georgieva, o escrutínio pode estar apenas começando. O Tesouro dos Estados Unidos vê as acusações como graves e está "analisando o relatório", disse o departamento. Os EUA detêm poder de veto sobre as principais decisões do FMI e do Banco Mundial.

Os legisladores republicanos poderiam usar o caso para renovar as críticas à expansão dos recursos do FMI sob a liderança de Georgieva.

Paul Romer, o ganhador do Nobel que foi o economista-chefe do Banco Mundial até início de 2018, disse em uma entrevista que a China costumava pressionar os funcionários do banco para alterar os relatórios preliminares.

Foi sua crítica de despedida ao processo Doing Business, em entrevista ao Wall Street Journal, que levou à investigação do relatório e da política em torno dele.

Questões sérias
O deputado French Hill, um republicano do Arkansas e um dos maiores críticos da emissão de reservas do FMI no mês passado, disse que o relatório levanta sérias questões sobre as motivações de Georgieva durante seu tempo no Banco Mundial.

— Se essas alegações forem verdadeiras, o conselho do FMI deve avaliar prontamente seu serviço no cargo mais alto do fundo — disse ele.

Hill, membro do comitê de serviços financeiros da Câmara, disse que pediria à secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, que avaliasse o relatório e apresentasse essa opinião ao Congresso.

— Os mercados financeiros e os formuladores de políticas contam com a experiência dos credores multilaterais e essa reputação agora está manchada — acrescentou.

Justin Sandefur, pesquisador sênior e observador do Banco Mundial no Center for Global Development, disse que o relatório pode acabar afetando seu relacionamento com os membros do FMI.

— O FMI é responsável por garantir a integridade das estatísticas macroeconômicas internacionais e exigir que os países prestem contas da integridade de seus dados — disse Sandefur em uma entrevista. — Este relatório mostra Georgieva ativamente envolvida na manipulação de dados para fins geopolíticos. Isso parece bastante grave.

O episódio oferece uma rara visão de como a China exerceu influência sobre os líderes das instituições financeiras internacionais nos últimos anos e como esses altos funcionários foram reativos às sensibilidades em Pequim.

https://oglobo.globo.com/economia/georgieva-do-fmi-acusada-de-favorecer-china-em-relatorio-anual-sobre-negocios-do-banco-mundial-25201225


sábado, 27 de julho de 2019

Quando a submissão sobe à cabeça - revista Veja sobre a postura do chanceler

Até a revista Veja estranhou que o chanceler se tenha posicionado do lado dos EUA, sem sequer se preocupar em defender os interesses brasileiros neste caso de aplicação extra-territorial, portanto ilegal, de medidas unilaterais contra o Irã, importante parceiro comercial do Brasil. 
Vocês conhecem o "Estado da Lei"? Pois é, ele devia estar um pouco confuso na hora de responder, temeroso de não ofender seus mestres americanos e seus patronos brasileiros, quando o mínimo que deveria fazer seria demonstrar pelo menos a intenção de questionar os EUA nessa atitude que visa impedir o Brasil de comerciar legitimamente com qualquer país do mundo.
Os EUA, a despeito das sanções impostas pelos sucessivos governos e reforçadas por Trump, são o maior fornecedor de alimentos e de medicamentos a Cuba.
Ou seja, os EUA podem comerciar com quem desejarem, e o chanceler se mostra submisso às medidas americanas em prejuízo de interesses econômicos do Brasil.
Que vergonha...
Paulo Roberto de Almeida

Chanceler diz que Petrobras pode sofrer sanções dos EUA
revista Veja, 26/07/2019

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quinta-feira, 25, que a Petrobras corre o risco de ser punida pelos Estados Unidos caso abasteça os dois navios do Irã que estão estacionados no Paraná. No entanto, acrescentou que a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, em favor do abastecimento das embarcações deve ser cumprida.

“É um tema que está na Justiça, nosso entendimento é de que as partes envolvidas têm que seguir a decisão da Justiça. Nós temos chamado a atenção ao fato de que a Petrobras poderia estar sujeita a ter prejuízos em suas atividades nos Estados Unidos. De acordo com as medidas que estão em vigor nos Estados Unidos, determinado comportamento da empresa por ter esse tipo de repercussão”, disse.  “Achamos que a situação permanece, mas existe o Estado da Lei”, completou.

A declaração do chanceler causou surpresa por não vir acompanhada de nenhum questionamento a esse mecanismo de retaliação americano, que atinge companhias de qualquer país com negócios com firmas desse setor iraniano, nem ao mérito dessas medidas dos Estados Unidos contra Teerã. Araújo acatou a ameaça americana como dado da realidade e esquivou-se também de defender o direito do Brasil de garantir a viabilidade de seu comércio com o Irã e qualquer outro parceiro comercial.

Na noite de quarta-feira 24, Tofolli  determinou que a Petrobras abastecesse os dois cargueiros. O STF informou que o ministro indeferiu o pedido da estatal brasileira e manteve a decisão do Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná, que tinha determinado o fornecimento do combustível. Ao recusar-se a fornecer o combustível, a Petrobras alegava que poderia ser punida pois as embarcações são alvo de sanções americanas.

Bavand e Temeh, as embarcações ancoradas no Porto de Paranaguá desde o início de junho por falta de combustível, têm a missão de desembarcar ureia ao Brasil e carregar milho ao Irã. Maior importador de produtos brasileiros no Oriente Médio, o Irã disparou a ameaça de vetar as importações de produtos do Brasil se os seus navios não forem abastecidos. Ao Irã podem se seguir outros destinos de bens agropecuários no Oriente Médio.

“Eu disse aos brasileiros que são eles que devem resolver o problema, não os iranianos”, afirmou embaixador do Irã em Brasília, Seyed Ali Saghaeyan na quarta-feira, 24. “Mas se não for resolvido, talvez as autoridades em Teerã tenham que tomar algumas decisões, porque isso é o livre-comércio e outros países estão disponíveis”, agregou, ao destacar que não haverá problemas em encontrar outros fornecedores de milho.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Trade Policy in the USA: tariffs - Mises org

Woodrow Wilson and the Tariff: Lessons for Today

Theodore Roosevelt (president 1901–09) and Woodrow Wilson (president 1913–21) are the two celebrated progressive presidents. Many of today’s observers, not familiar with the detailed history of that era, fail to appreciate the fundamental importance of the tariff issue to debates of that time.

A search for “tariff” in Scott Berg’s biography, Wilson, turns up 66 hits. Then, 250 hits in Doris Kearns Goodwin’s, The Bully PulpitTheodore Roosevelt, William Howard Taft, and the Golden Age of Journalism. Wilson’s 1913 book, The New Freedom A Call For the Emancipation of the Generous Energies of a People, was an edited selection of his campaign speeches. Sixty-three hits on this book.

What were the issues? The tariff was a breeding ground for corruption and unfair to those forced to pay elevated prices. The tariff reinforced the position of firms with market power — the “trusts” in the language of that time.
Wilson was thoroughly familiar with how the tariff actually worked, as he explained clearly in The New Freedom. “We have come to recognize in the tariff as it is now constructed, not a system of protection, but a system of favoritism, of privilege, too often granted secretly and by subterfuge, instead of openly and frankly and legitimately, and we have determined to put an end to the whole bad business … .”
Goodwin discusses the difficulties reformers had in making any progress in Congress. “Aware that [Senator Nelson] Aldrich had abundant experience in devising obscure classifications for each of the 4,000 duties in the tariff schedule, …” How familiar does this passage sound?
As is true of pro-tariff arguments today, obfuscation of the issues was a key mechanism of the forces supporting trade restriction during the Progressive Era. Goodwin recounts the campaign against the tariff waged by journalist Ida Tarbell. “Fifty years ago, [Tarbell wrote in 1909] wool was disposed of in perhaps fifty words, which anybody could understand; to-day it takes some three thousand, and as for intelligibility, nobody but an expert versed in the different grades of wools, of yarns, and of woolen articles could tell what the duty really is.” These tariffs pumped up the profits of American firms manufacturing woolen clothing. Tariffs raised the cost of machinery used in cotton production and reduced competition from machinery producers abroad.
Then, as now, log-rolling coalitions made reform difficult. Goodwin writes: “To Taft’s disappointment, the controversial wool schedule was not changed. The combination of ‘the Western wool growers and the Eastern wool manufacturers,’ he lamented, rendered it ‘impossible’ to get lower duties ‘through either the Committee or the House.’ ”
Wilson was a Southerner, born in Virginia and raised in Georgia and South Carolina. He understood the costs high tariffs imposed on the South. The beneficiaries were Eastern manufacturing interests. Farmers were especially disadvantaged as they paid excessive prices for farm equipment in an era of rapid mechanization of agriculture.
A key campaign promise of Wilson’s was reduction of the tariff. This he did after assuming office with the Revenue Act of 1913. Tariff reduction was good for the South and the rest of the country as well. Unfortunately, Wilson failed to institutionalize a lower tariff and did not “put an end to the whole bad business.” In 1922, Congress raised tariffs once again with the Fordney–McCumber Tariff. As I recounted recently in my Tariff of Abominations II, President Trump is taking the United States back to an unhealthy era of tariff controversy, special-interest pleading and retaliation by other countries.
Worse, President Trump has upset a painful and slow institutional process begun after World War II in moving the world toward freer trade. No country will be a winner. Wilson’s experience as president after the election of 1912 should serve as a warning. Winning a battle is not enough to win a war.
Perhaps it is time to start thinking about the tariff in an entirely different way. Starting with the Tariff Act of 1789, the US tariff has been the playground of special interests, and used as a means of rewarding political friends, and harming political enemies. If we must have a tariff, all tariffs ought to be levied at the same rate. This approach would turn the tariff principle from that of “bad business” favoritism to pure revenue.

William Poole is Distinguished Scholar in Residence at the University of Delaware. He was a member of President’s Reagan’s Council of Economic Advisers 1982-85. He retired as President and CEO of the Federal Reserve Bank of St. Louis in March 2008.

domingo, 26 de novembro de 2017

Brasil: protecionista e com orgulho de ser - Marcos S. Jank

A 'mão do gato' ameaça as exportações brasileiras

Marcos Sawaya Jank (*)
Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno Mercado, 25/11/2017

Geopolítica e interesses protecionistas afetam a nossa expansão global.

Não me lembro de um período com tantas turbulências e incertezas no mundo como o atual. As questões geopolíticas voltaram à ordem do dia: grandes levas de refugiados, novas formas de terrorismo, conflitos no Oriente Médio, disputas no entorno da China e o jeito Trump de governar.

O multilateralismo consensual do pós-guerra dá lugar às ameaças via Twitter e porrete. E, como era de esperar, já começa a afetar as correntes de comércio e investimentos no mundo.

No início do mês, Trump passou pela Ásia para discutir a questão da Coreia do Norte e reequilibrar o deficit comercial dos EUA com países-chave da região, incluindo, se necessário, a oportuna venda de armas americanas.

No total, os EUA importam quase US$ 1 trilhão da Ásia, acumulando o gigantesco deficit comercial de US$ 533 bilhões com o continente. O deficit americano varia de US$ 13 bilhões a US$ 33 bilhões com países como Indonésia, Taiwan, Tailândia, Índia, Malásia, Coreia do Sul e Vietnã. Chega a US$ 70 bilhões com o Japão e a incríveis US$ 347 bilhões com a China. Trump está obcecado com isso e ameaça: abram-se para os EUA ou haverá retaliações.

Na mesma linha, multiplicam-se os contenciosos comerciais. Novas regulações desenhadas "ad hoc" e contenciosos de impacto começam a atingir as exportações brasileiras nos setores em que somos mais competitivos. No agronegócio, estamos enfrentando conflitos no acesso do açúcar e da carne de frango à China, etanol para o Japão e questões complexas com Rússia, Hong Kong, Indonésia, União Europeia e EUA.

Vale destacar ainda o impacto da proteção à indústria doméstica brasileira, o que inclui o próprio agronegócio. Continuamos sendo um dos países mais fechados do mundo ao comércio. Aço, trigo, café, bananas, camarão e pescados são exemplos de produtos nos quais a proteção contra importações de pequena monta já prejudica grandes volumes de exportações potenciais.

Falamos das nossas grandezas, queremos acessar o mundo, mas na hora de negociar não oferecemos quase nada em troca aos nossos parceiros. Estaremos perdendo cada vez mais oportunidades de exportação em razão disso.

Isso sem contar a crise de imagem que vivemos, gerada pela percepção de um país tomado pela corrupção, violência e instabilidade política, incapaz de se explicar de forma simples e didática. O mundo tem dificuldade de entender o que está acontecendo no Brasil.

Nesse contexto, noto que a "mão do gato" contra as nossas exportações se faz cada vez mais presente, dentro do próprio país ou escondida atrás da porta, na concorrência nos países-destino.

Já se foi o tempo em que exportávamos simplesmente porque havia demanda e éramos competitivos. Num mundo dominado pelo mercantilismo do "toma lá dá cá", com interesses geopolíticos exacerbados e arbitrariedades regulatórias se multiplicando, é fundamental manter um olho no peixe e o outro no gato.

A complexidade do mundo exige uma melhor definição do interesse público do país, tomando decisões com base no impacto socioeconômico das medidas, e não em favor de quem grita mais alto.

Exige estratégias bem montadas para lidar com a crescente agressividade geopolítica e comercial do mundo.

Exige maior coordenação dentro do governo e entre este e o setor privado, para não perder mercados e oportunidades. Precisamos também estar mais presentes no cenário internacional, muito além da representação oficial do governo, construindo relacionamentos estáveis e duradouros com nossos parceiros comerciais, que aumentem a confiança entre as partes.

Estratégia, representação e organização são a única receita de sucesso ante a imensa complexidade do mundo atual.

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. Escreve aos sábados, a cada duas semanas.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Renegociando o NAFTA: o mercantilismo americano reaparece - The Economist

Seconds out 

The North American Free-Trade Agreement renegotiation begins

Rewriting North America’s trade rules will not be easy
The Economist, August 17, 2017
This negotiation will be more tense than most. Participation in trade talks is usually by mutual consent. In this one, President Donald Trump is trying to hold his trade partners hostage, by threatening to withdraw from the original deal if a better one cannot be agreed on. That such an outcome would also hurt America does not make the exercise any easier.
 
Pressure is added by a desperately tight, if unacknowledged, deadline, set by the presidential-election timetable in Mexico. If no deal is agreed by early 2018, talks must pause to restart a year later. By then, Andrés Manuel López Obrador, a fiercely anti-American Mexican candidate, may be in power. Ildefonso Guajardo (pictured, right), Mexico’s economy minister, reckons there is a 60% chance that the deal will be renegotiated this year. The original NAFTA talks took three years.The first round of negotiations is when each side sets out its priorities. At the opening press conference the Mexicans and the Canadians both emphasised the importance of keeping the benefits of the existing deal. Less promisingly, Robert Lighthizer (pictured, left), the United States Trade Representative, said he wanted assurances that America’s huge trade deficits would not continue. Making the deal hinge on this would cross the others’ red lines.
Mr Lighthizer also spoke of making a pact that respects sovereignty, a swipe at Chapter 19 of the original deal. This sets out a process for resolving disputes over defensive tariffs, arbitrated by a panel of judges picked by the three partners. Mexico and Canada are open to making this process faster. But ditching it is unacceptable to the Canadians, who do not want to be vulnerable to American anti-dumping measures.
The talks will be split into groups covering specific negotiating areas. Labour standards and dispute settlement were on the agenda for the first day. Each side usually brings along some proposed text, often lifted from another agreement. On labour standards, American trade veterans may recognise some text negotiated for the Trans-Pacific Partnership, the Obama administration’s attempt—jettisoned by Mr Trump—to update NAFTA, and bring in nine other Pacific Rim countries. The Mexicans say they will find it difficult to agree to anything stronger.
The Canadians have the advantage of ready-made text from a recent deal with the EU. Its dispute-settlement rules watered down investors’ rights in favour of governments’ freedom to regulate. The Americans may reject that in the face of fierce resistance from corporate lobbyists.
Given the time pressure, tricky topics will be broached early. Procurement was on the agenda for day two. Chrystia Freeland (centre), Canada’s foreign minister, held up pictures of firefighters from the other NAFTA partners tackling Canadian forest fires as a symbol of co-operation. In other comments she was less friendly, declaring that “local-content provisions for major government contracts are political junk-food: superficially appetising, but unhealthy in the long run.” Yet to ease Canadian contractors’ access to American government business would irk Mr Trump, a staunch advocate of “Buy American”.
The bracket bulge
After the first round of meetings, the proposals will be merged into a single document. Uncontroversial items—a prohibition on customs duties for digital products, say—can be slotted in. Disagreements will be in brackets, indicating which side holds which position. The objective then is to remove as many brackets as possible.
Such talks make grubby mercantilist horse-traders of even high-minded negotiators. Perhaps the Canadians could parlay opening their dairy market for better access to American government contracts. Trickier decisions will require “political direction”, said Canada’s chief negotiator, Steve Verheul, who has set up a system to get speedy sign-offs from his superiors.
Rules relating to the car industry will be particularly contentious. Without that trade, America would have no deficit in goods with Mexico. At issue are the rules that set the amount of regional content a product must have for it to count within the deal. Without such rules other countries could exploit the pact to export tariff-free through a NAFTA member. Enticingly for the Trump administration, tight rules (and those in NAFTA are fairly tight) reduce imports from non-NAFTA countries.
Mr Lighthizer says that the rules of origin should require higher NAFTA content and “substantial” American content. The Mexicans will balk at any asymmetry in favour of America, arguing that it violates the spirit of a regional deal. Companies will resist too, and where non-NAFTA tariffs are low, they have the option of simply operating outside the parameters of the agreement. Tariffs on cars entering America are a mere 2.5%. For products where non-NAFTA tariffs are even lower, more than a quarter flowing into America from Mexico bypass the deal entirely.
The need for speed will probably oblige negotiators to sacrifice some of their ambitions. Complicated areas such as services or intellectual property may be jettisoned, or shallow agreements reached. Resolutions for historically difficult disputes, such as between America and Mexico on sugar, or between America and Canada on softwood lumber, may have to wait.
Ms Freeland predicted “some dramatic moments ahead”. Trade negotiators are inured to screaming, yelling, walkouts and all-nighters. Wendy Cutler, a negotiator under the Obama administration, says the tension is sometimes staged for the benefit of a domestic audience: “It’s not always what it looks like to the public.”

This article appeared in the Finance and economics section of the print edition under the headline "Seconds out"

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Brasil vs Brexit - artigo do ministro das Relacoes Exteriores Jose Serra

Brasil x Brexit. Bola prá Frente
José Serra, ministro de Estado das Relações Exteriores
Folha de S.Paulo, 27/06/2016, p. A-3

O mundo assistiu apreensivo à decisão do povo britânico, em plebiscito, pela saída da União Europeia. O Brasil respeita, mas não comemora a notícia. O projeto da União Europeia é o mais avançado processo de integração econômica e política existente. Construído sobre as cinzas da Segunda Guerra Mundial, a integração econômica que levou à formação da União Europeia trouxe paz e prosperidade à Europa Ocidental por 60 anos e tornou menos traumática a transição dos países da antiga Europa Oriental para o mundo que sucedeu à Guerra Fria.

A saída do Reino Unido abala o relativo consenso pró integração que predominou na Europa há décadas e alenta as forças desagregadoras no continente. Amplia a incerteza e terá efeito negativo sobre o crescimento no Reino Unido, na União Europeia e na economia mundial, em momento no qual os países europeus, ainda fragilizados pela crise iniciada em 2008, buscavam retomar o crescimento.

O Tesouro britânico estima que pode haver queda no PIB de longo prazo de cerca de 6% em seu país. Segundo o FMI, o PIB do Reino Unido poderia crescer a menos, até 2019, entre 1,4%, se mantiver o acesso pleno ao mercado europeu, e 5,6%, se tiver que pagar as tarifas de importação sem descontos. Afinal, o comércio exterior corresponde a 59% do PIB britânico, e 45% de suas exportações vão para a Europa. Parte do setor financeiro, tão crucial à economia de Londres e do Reino Unido, poderia migrar para outras praças europeias e, com menos investimentos entrando no país, as taxas de juros poderão elevar-se, pressionando a desvalorização da libra, pois o déficit em conta corrente é de 5% do PIB.

Sucessivos estudos mostraram que a imigração é benéfica para a economia do Reino Unido, mas o temor aos estrangeiros foi uma das principais motivações dos que votaram pela saída. Os britânicos pensam que o percentual de estrangeiros na população é muitas vezes superior aos dados reais. Ou seja, uma das principais razões que teriam motivado a saída da UE não tem fundamento na realidade.

O fato de que percepções equivocadas tenham influenciado o voto majoritário no plebiscito não diminui sua importância. É preciso perguntar de onde nascem e como combatê-las. Na década de 1940, Karl Mannheim, um dos pais do Estado de bem estar social instalado no Reino Unido no pós-guerra, argumentava que uma das razões que havia levado à derrocada da democracia liberal e aos totalitarismos pré-guerra foi o enfraquecimento dos vínculos de solidariedade social. Hoje, é preciso fazer acompanhar o avanço da integração econômica global de mecanismos de inclusão social e redução das desigualdades, assim como recusar inequivocamente as soluções isolacionistas. Confiamos que a União Europeia e o Reino Unido saberão trilhar esse caminho enquanto ajustam com serenidade seu relacionamento. Afinal, as dificuldades que a Europa enfrenta com migrantes e refugiados não se resolverão com a redução de sua presença no mundo. Requerem, na verdade, atuação cada vez mais solidária com as nações e os povos de origem dos fluxos humanos de nossa era.

O efeito econômico na União Europeia tende a ser comparativamente menor, mas o impacto político é preocupante. Visões excessivamente nacionalistas e xenófobas poderiam ganhar força, levando a um maior fechamento europeu ao resto do mundo. Não é provável que aconteça, mas o mundo sairá perdendo se a Europa apostar mais no isolamento do que na cooperação.

O Brasil não será muito afetado diretamente. É pequena a participação (1,52%) do mercado britânico nas nossas exportações. Mantém-se também a expectativa de que os investimentos britânicos continuem a buscar as oportunidades por aqui. A situação externa da economia brasileira, com reservas elevadas e superávit comercial, reduz os riscos para o Brasil. Sofremos um pouco mais com a instabilidade de curto prazo dos mercados financeiro e cambial e com o impacto negativo de médio prazo para o crescimento no Reino Unido e na União Europeia. De nossa parte, redobraremos os esforços para concluir o acordo de associação Mercosul-UE e nos empenharemos em buscar acordos de comércio e investimentos com o Reino Unido.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Mais comercio, menos guerras: elementar, correto? - Matthew Jackson (Universidade Stanford)

Cientistas apontam correlação entre mais comércio e menos guerras




Representação gráfica das maiores rotas comerciais marítimas globais
Representação gráfica das maiores rotas comerciais marítimas globais

Um grupo de pesquisadores liderados por Matthew Jackson, da Universidade Stanford, tentou entender por que a quantidade de guerras no mundo diminuiu tanto nas últimas décadas. A incidência de conflitos entre 1820 e 1949 foi dez vezes maior do que entre 1950 e 2000.
Eles tentaram isolar diversas variáveis. Uma se destacou: o comércio internacional.
A conclusões foram publicadas na revista científica americana "Proceedings of the National Academy of Sciences". Não é, claro, a primeira vez que se sugere que o comércio evita guerras, afirma Jackson, mas agora foi feita uma análise estatística dessa questão.
Em 1850, os países tinham em média cinco parceiros comerciais relevantes. Hoje, são mais de 30. Além disso, existiam antes poucas alianças comerciais, bilaterais ou multilaterais. Hoje, são dezenas destas e centenas daquelas.
Jackson cruzou os dados históricos e mostrou que a probabilidade de dois países entrarem em guerra decai conforme a sua relação comercial cresce. "Os números mostram forte correlação, embora seja mais complicado estabelecer ou explicar a causalidade", afirma.
Existe duas possíveis explicações para o fenômeno:
- O aumento do comércio cria grupos de pressão política interessados na preservação do outra nação, porque compram ou vendem para ela. Ou seja, o país passa a perder dinheiro se atacar.
Tal hipótese parte da ideia clássica de que os países optam pela guerra por motivos um tanto racionais: se os custos são baixos e o ganho potencial é grande, quase que inevitavelmente haverá uma agressão. O que se pode fazer para reduzir o conflito é torná-lo mais caro.
- A existência de alianças comerciais serve como estímulo para que um país pense duas vezes antes de atacar o outro. Ele pode, afinal, acabar cutucando os parceiros do atacado, que têm incentivos para entrar na briga.

MAIS COMÉRCIO

Exportação mundial de mercadorias como porcentagem do PIB

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Número de parceiros comerciais relevantes por país (%)

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Fonte: “PNAS”
Os dados levam a crer, aponta Jackson, que foram bem-sucedidos os esforços americano para integrar o Japão à economia global no pós-guerra e dos países europeus em criar o bloco que veio a dar na União Europeia.
No Japão, é até surpreendente baixo grau de revanchismo de um país que foi atacado com bombas nucleares. No caso da Europa, Jackson aponta que hoje a principal parceira comercial da França é a Alemanha –e os dois países (se você considerar a Prússia) passaram o século 19 e a primeira metade do século 20 em guerra.
Por outro lado, o isolamento, físico e comercial, entre Israel e territórios palestinos tenderia a eternizar o conflito.
Os pesquisadores ressaltam que tais conclusões não se referem somente às grandes guerras. Eles analisaram todos os conflitos entre ao menos dois países com mais de mil mortes desde o século 19.
Ou seja, a conta inclui da guerra do Paraguai à do Pacífico (Bolívia contra Chile, no século 19), da guerra Greco-Turca de 1919 às Malvinas.
A explicação para a redução dos conflitos armados, portanto, não se limita à posse de armas nucleares. Isso pode ajudar a explicar por que grandes potências passaram a se combater menos, mas não esclarece outros casos.
"As armas nucleares, na mão de uns poucos, poderiam até estimular os mais fortes a atacar os pequenos mais indefesos", afirma Jackson.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O Brasil e o TPP: uma tragedia anunciada (desde 2003) - Milton Lourenco

Não foi por falta de aviso, e não apenas deste escriba, que desde o primeiro dia do reinado dos companheiros vem denunciando uma política comercial canhestra, ideológica, feita de arroubos patrioteiros tão ingênuos quanto estúpidos.
Começou com a implosão ideológica da Alca -- que não era nenhuma maravilha, mas pelo menos teria assegurado e consolidado nosso acesso aos mercados atrativos da América do Norte, ainda que com persistência do protecionismo agrícola e setorialmente na indústria -- e continuou pela proclamação de uma fantástica "nova geografia do comércio internacional", tanto pelo presidente quanto por seu devoto chanceler. Era tão fantástica que já estava em curso desde muitos anos, pelos países asiáticos, que exportavam sem discriminação para todos os mercados existentes, especialmente os da Europa e dos EUA. Mas os companheiros desprezavam de modo totalmente estúpido, e aqui insisto no adjetivo estúpido, esses mercados, pois como dizia o "capo di tutti i capi" não se podia ficar "dependente do comércio com os Estados Unidos". Sairam então com a tal de "diplomacia Sul-Sul" -- outra estupidez sem tamanho -- para conquistar os mercados do tal Sul: ou seja, América Latina, África, países árabes e africanos, e supostamente da China e outros asiáticos. Deu no que deu: três magros acordos comerciais que são absolutamente ridículos.
A política comercial companheira, volto a dizer, foi ingênua, estúpida, ideológica.
Agora que saiu o TPP, os empresários, sempre tímidos e envergonhados em denunciar as estupidezes companheiras, começam timidamente a protestar, como este "despachante aduaneiro".
Ele responsabiliza o Itamaraty pela tragédia anunciada, o que só em parte é verdadeiro. Certo: foram diplomatas que estiveram à frente do ministério durante todo o reinado companheiro, mas as políticas eram determinadas pelo PT, às quais os diplomatas cederam, talvez passivamente demais.
Dá para reparar o prejuízo?
Vai ser difícil...
Paulo Roberto de Almeida

O Brasil e o TPP

Portogente, Opinião, 
Segunda, 26 Outubro 2015 00:01
 
Presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Se não bastasse o imobilismo que caracterizou a diplomacia brasileira em relação ao comércio exterior nos últimos 13 anos, várias nações com as quais o Brasil tradicionalmente mantém intercâmbio movimentaram-se e acabam de formalizar o Tratado Transpacífico de Comércio Livre (TPP). Depois de quase cinco anos de negociação, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura, Estados Unidos e Vietnã concluíram um acordo que suprime taxas alfandegárias em suas transações e define padrões técnicos unificados.
E o Brasil? Cálculos preliminares indicam que as exportações brasileiras para esses países – a hoje, ao redor de US$ 54 bilhões – deverão cair pelo menos 3%, especialmente nas áreas de minérios, commodities agrícolas e produtos industrializados. Só em manufaturados foram US$ 31 bilhões exportados – o equivalente a 35% do total de vendas externas do País – e US$ 47 bilhões importados.
Se sair o acordo entre Estados Unidos e União Europeia, a chamada Parceria Transatlântica, conhecida pela sigla TTIP, a perspectiva é de que a situação se agrave ainda mais, provocando maior isolamento comercial do Brasil, pois os europeus já não terão tanto interesse em assinar um acordo com o Mercosul e, provavelmente, aumentarão suas exigências. Com a TTIP, segundo cálculos da Fundação Getúlio Vargas, a queda nas exportações brasileiras chegaria a 5%.
O resultado de tantos desastres na política externa só pode ser debitado à (des)orientação do Ministério das Relações Exteriores a partir de 2003, quando os teóricos do Partido dos Trabalhadores (PT), sábios aos seus próprios olhos, imaginaram que poderiam sobrepor a influência dos Estados Unidos no continente com uma política pretensamente denominada Sul-Sul.
Ou seja, em vez de privilegiar o maior mercado do mundo, entendeu-se que seria possível fazer um bloco só com os países em desenvolvimento, favorecendo-se Cuba, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador e ainda países africanos não necessariamente governados por regimes de esquerda, como prova o trabalho desenvolvido pela diplomacia brasileira para que a Guiné Equatorial, nação onde pouco se fala Português, aderisse em 2014 à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), sem levar em conta que aquele país é governado há três décadas pelo mesmo governante e apresenta um dos piores registros de direitos humanos no mundo, segundo pesquisa anual da organização de direitos civis Freedom House, de Washington.
Diante de tão rotundo fracasso diplomático, o que se espera é que o atual governo entenda que o TPP representa uma mudança completa no tabuleiro das negociações comerciais, pois indica que o futuro será regido por mega-acordos comerciais. E que continuar na defesa do imobilismo e ficar de fora desses grandes acordos equivale a levar a Nação a um suicídio político.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

The Sugar Trade - Daniel Strum (Book Review)


Este resenhista, Christopher Ebert, reclama que o autor tenho usado o livro dele sem dar o devido crédito.

Paulo Roberto de Almeida  

BOOK REVIEW


Daniel Strum, The Sugar Trade: Brazil, Portugal and the Netherlands (1595–1630). Translated by Colin Foulkes, Roopanjali Roy, and H. Sabrina Gledhill (Stanford, CA: Stanford University Press, 2013). 537 pp. $100.00. ISBN 978-0804787215.

The Sugar Trade - it must be said at first - is very odd for an academic work. It is an extremely large, hard-cover volume, lushly furnished with gorgeous, full-color illustrations, and weighing almost ten pounds. It appears to be a hybrid of a detailed scholarly monograph and a coffee-table book. Some of this confusion in presentation is a result of its origins in the History Prize of the Brazilian construction giant, Odebrecht, which in most years pays to produce one or more similar volumes. Odebrecht has in this case also produced the English translation in cooperation with Stanford University Press, the volume that is reviewed here.
The size of the book raises issues about its accessibility and appropriateness for classroom use. That said, the work contains considerable scholarly merit, and the illustrations are appropriate to the material and often very instructive in their own right. As Strum admits in his acknowledgements, the project envisioned by the corporate sponsors was to write a book accessible to both specialists and non-specialists. This means that some chapters will be either too specialized, or not enough, for individual readers. However, most chapters function well at a level appropriate to a specialized scholarly audience.
The work follows on the publication of two other works that treat the same subject, one by Leonor Costa, and the other by me. (1)
The work does not offer a new synthesis or a revision of these works, but rather adds to a developing consensus about the importance of the early sugar trade from Brazil as an important spur to the formation of disparate but inter-linked merchant groups in long-distance trade. The business solutions that they sought to facilitate this particular trade at both the wholesale and retail levels were an important part of the story of early-modern capitalism.
Sugar from Brazil also prompted either the expansion or new development of auxiliary industries in a number of towns, from shipbuilding to refining. Brazilian output and trade also made sugar in its many forms a critical component of European elite diets, setting the stage for the massive rise in consumption that characterized later phases of European and Atlantic history.
Given the very high level of research support he was offered by Odebrecht, Professor Strum has been able to trace these developments at a level of detail hitherto lacking in the scholarly literature.

The book is organized into ten major chapters. Beyond the introduction, the first two chapters synthesize at a high degree of generalization the political events that frame Strum’s arguments.
The second chapter then describes the movement of sugar from the Eastern Mediterranean to Africa and then to Brazil. These parts of the work do not present a new story or rely on new material to any significant extent and will offer little to a specialist reader.
The third chapter, “Into the Mouth”, continues promising work on early consumption of sugar by Eddy Stols, and presents a very interesting case study of early modern consumption, and a chapter that can stand alone. (2)
It is richly enhanced by the illustrations that show how sugar consumption had conquered the artistic imagination as well, especially of Golden Age Dutch still-life painters.
Chapters four and five deal with routes, ports, and shipping in general. While interesting and well written, they add little to previous works on the topic, especially those by Costa and Ebert, and they have more of a synthetic quality. Here again, though, the illustrations are marvelous and wonderfully complement the text. It is in chapters six through ten that the meticulous archival research that Strum did with his international team really yield an impressive level of analysis. These chapters deal respectively with shipping arrangements, systems of payment, extension of credit, merchant organization, and information exchange. They are extremely well contextualized and informed by a wide reading in the relevant scholarship, and they should function as a standard reference for some years to come for scholars interested in the development of early-modern capitalism. The level of complementarity between the text and illustrations reaches an especially high level in these chapters. The images of coins, letters, texts and other material manifestations of complex financial instruments are often quite fascinating.
These final five chapters point to the larger significance of the Brazilian sugar trade, which operated in many respects on medieval Mediterranean principles. At the same time, it both overlapped temporally and contributed to a new phase in handling long distance commerce, one which was dominated by the burgeoning global financial capital, Amsterdam.
As Strum concludes: “In order to overcome [. . .] challenges and ensure that their operations were more secure, effective and profitable, merchants used a range of well-established and newly developed techniques, instruments, mechanisms and institutions, both formal and informal.” Strum’s meticulous documentation of these developments, as well as the accompanying illustrations, will reward historians of capitalism more generally.

Christopher Ebert
Brooklyn College



1. Leonor Freire Costa, O transporte no Atlântico e a Companhia Geral do Comércio do Brasil (1580-1663) (Lisbon: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2002), 2 vols.; Christopher Ebert, Between Empires: Brazilian Sugar in the Early Atlantic Economy, 1550-1630 (Leiden: Brill Academic Publishers, 2008). It is unfortunate that Strum used my dissertation for this work, as the book based on it had appeared well before he launched this project.

2. Eddy Stols, “The Expansion of the Sugar Market in Western Europe,” in Tropical Babylons: Sugar and the Making of the Atlantic World, 1450-1680, ed. Stuart B. Schwartz (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2004).