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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O espelho de OJESED e o cálice de cicuta - Dartagnan da Silva Zanela

 Li, gostei, resolvi transcrever, sem endossar necessariamente todos os argumentos, mas apreciando muito a maioria das afirmações do escritor, a quem não conheço, mas sei reconhecer as virtudes e qualidades de suas reflexões e escrita.

Paulo Roberto de Almeida

O ESPELHO DE OJESED E O CÁLICE DE CICUTA


por Dartagnan da Silva Zanela (*)


Sermos capazes de olhar para o nosso passado e sentirmos que fracassamos é um claro indicador de que não despirocamos de vez. Aliás, como certa feita havia sido dito pelo filósofo Leszek Kolakowski, quem nunca experimentou a sensação de ser um charlatão, no fundo, não passa de uma alma superficial, indigna de atenção.

 

Se nós nunca tivemos essa sensação, pode ter certeza de que há algo de muito errado conosco. Muito errado mesmo. Agora, se porventura, nós já sentimos nossa garganta ficar apertada por conta desse tipo de impressão, há um detalhe que merece nossa atenção. No caso, é a nossa inenarrável capacidade para justificar os nossos erros e fracassos, o nosso grande potencial para nos autoenganarmos.

 

Quando a nossa consciência pesa e nos acusa, mais do que depressa realizamos o movimento de nos colocarmos na defensiva, argumentando contra os apontamentos feitos por ela, justificando de mil e uma maneiras nossos erros diante dela. E, desta forma, sem nos darmos conta, acabamos por advogar contra nós mesmos.

 

Sim, eu sei, até as pedras sabem, que atualmente todo mundo bate no peito pra dizer o quanto se considera uma pessoa crítica, terrivelmente crítica, porém, se formos sinceros conosco mesmo, no prazo de duas cervejas iremos constatar que toda essa conversa de criticidade, patriotismo e tutti quanti, não passa de “bafo-de-boca”, como diria Paulo Francis.

 

“Bafo-de-boca” sim senhor, porque se nós nos consideramos críticos, mas não somos capazes de realizar uma franca e inclemente autocrítica, se não estamos abertos para ouvir as mais impiedosas e duras críticas, para vermos se aproveitamos algo do que nos foi apontado pelas línguas maldizentes, sinto em dizer, mas nós não somos críticos patavina nenhuma.

 

E não o somos não porque supostamente sejamos esquerdistas, direitistas ou o caramba a quatro, mas sim, porque não somos sinceros, não somos honestos com relação àquilo que fazemos e, muito menos, frente àquilo que dizemos acreditar.

 

Sim, é um Deus que nos acuda e Ele não vai acudir ninguém não. Na real, acho que Ele se diverte pra caramba com essas nossas firulas e dissimulações.

 

Sobre esse ponto, José Ortega y Gasset, de forma muito direta e clara, nos lembra do óbvio gritante, quando nos diz que o que define o sujeito não são suas palavras, mas sim, as suas ações. Na verdade, o Batman (Christian Bale) havia dito algo parecido para Rachel Dawes (Katie Holmes), em uma cena espetacular do filme “Batman Begins” (2005).

 

Enfim, não importa tanto qual seja a fonte desse dito. O que realmente interessa é que definitivamente somos aquilo que fazemos, não aquilo que dizemos ser, ou que imaginamos que somos. Não tem lesco-lesco.

 

Por exemplo: da mesma forma que um estudante que não estuda, não é um estudante, mas sim, outra coisa; pais que não amam e não educam os seus filhos, podem até ser genitores, mas não são pais que zelam pela integridade de sua família. Eles, também, são outra coisa.

 

Parêntese. Bem, verdade seja dita: é possível que uma pessoa de tanto fingir ser detentora de alguma virtude acabe, com o tempo, tornando-se portadora dela, mas, infelizmente, o que mais acontece nesse nosso triste país é vermos pessoas contentando-se apenas e tão somente com o fingimento. Fecha o parêntese.

 

Indo direto aos finalmente, todos nós cultivamos uma imagem a respeito de nós mesmos, imagem essa que gostamos de apresentar aos nossos semelhantes, sejam eles nossos conhecidos ou não. E, fazemos isso, porque, em alguma medida, acreditamos que essa imagem seria o retrato fidedigno de nós mesmos e, tal atitude, acaba por paralisar toda a dinâmica, todo o poder realizador da nossa alma.

 

Podemos dizer que, diante da autoimagem farsesca que fazemos de nós mesmos, ocorre conosco algo similar ao que acontece com as personagens das aventuras de Harry Potter, quando ficavam diante do “Espelho de OJESED” que, segundo a explicação dada por Dumbledore, nos mostra o mais profundo e desesperado desejo que habita em nosso coração.

 

Pois é. E é aí que a porca torce o rabo, e torce feio, porque o tal espelho, segundo as palavras de Dumbledore: “não nos dá nem o conhecimento nem a verdade. Já houveram homens que definharam diante dele, fascinados pelo que viram, ou enlouqueceram sem saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer possível”.

 

Bem, se nossa alma estiver perfeitamente ordenada, o “Espelho de OJESED” não irá refletir nada além daquilo que nós somos. Agora, se nossa alma estiver desordenada – e ela sempre está, em alguma medida, desordenada - o bicho pega, porque o espelho irá nos mostrar tudo aquilo que gostaríamos de ser, mas que não o somos, paralisando-nos diante do reflexo apresentado, matando o que há de potencialmente mais elevado em nós.

 

E é mais ou menos desse jeito que acabamos vivendo quando sobrepomos uma autoimagem superficial à nossa consciência, confundindo autoconhecimento com autoproteção. É nisso que nos tornamos quando não experimentamos, de vez enquanto, a sensação de sermos um charlatão, porque é essa sensação que nos ajuda a lembrar que há muito mais entre o céu, a terra e em nosso coração, do que presume nossa vã disposição para nos autoenganar e, consequentemente, acabar vivendo uma vida que poderia ter sido, mas naufragou.


(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas. Autor de “A Bacia de Pilatos”, entre outros livros.

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sexta-feira, 19 de março de 2021

Usurpando a condição de "escritor"? Não por minha decisão ou indicação – Paulo Roberto de Almeida

 Tenho reparado que, em diversos anúncios relativos a eventos dos quais tenho participado, sempre a convite de seus promotores, não por autoconvite meu, tenho sido apresentado, entre a condição profissional e a atividade de professor, como "escritor", assim mesmo, sem que eu jamais tenha usado esse substantivo para me descrever.

Ao contrário, tenho feito questão, quando me perguntam sobre como devo ser apresentado, de expressar o seguinte: 

"As fórmulas mais sintéticas são as as melhores: 

PRA, diplomata de carreira, professor universitário. Bastaria isso."

De fato, neste exemplo mais recente, recebi em resposta esta confirmação:

Está ótimo! Colocarei na forma sintética: Cientista Social, Diplomata de carreira, professor do Centro Universitário de Brasília.

E, no entanto, acabou aparecendo isto: 


Se eu tivesse que me aproximar um pouco mais do conceito, eu preferiria que ficasse registrado que eu sou um "escrevinhador", simples assim. 
Com efeito, o escritor é aquele indivíduo dedicado às artes da escrita, o que nunca foi o meu caso. Escrevo o estrito necessário para expressar o meu pensamento, minhas opiniões, sem ligar minimamente para a audiência, para regras de estilo, e até violando algumas boas normas da palavra escrita, da língua elegante, como querem alguns. 
Sempre fui um admirador do Millor Fernandes, que se chamava a si mesmo, por derrisão, de Vão Gogo (em sua condição de desenhista de humor), mas que também se classificava como um " escritor sem estilo". É isso que sou. E também sigo uma outra máxima dele: se alguma palavra não existe, mas você tem necessidade dela, invente-a, use-a, que algum dia ela estará no dicionário. Pimba!
Mas essa coisa de chamar-me de "escritor", o que me deixa um pouco enxabido – como ficava o lobisomem do Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho –, fez-me lembrar de uma antiga leitura de um texto de George Orwell, que era sim um escritor, e que havia composto uma crônica tentando responder à razão de ser de seu ofício, como relatado abaixo.
Sobre essa pequeno texto dele, acabei escrevendo duas pequenas notas, nas quais expresso minha motivação no ofício da escrita, sem que eu jamais tivesse me colocado como um verdadeiro escritor.
Nem me lembro mais do que escrevi quase sete anos atrás, nem vou buscar agora o que está ali. 
Quem tiver curiosidade, pode clicar num dos links e as notas aparecerão. 
Quem escreve, se expõe a críticas, sendo escritor ou um mero escrevinhador.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de março de 2021

2614. “Por que escrevo? (1)”, Hartford, 6 Junho 2014, 6 p. Ensaio inspirado no artigo de título similar “Why I write”, de George Orwell, in: A Collection of Essays (New York: Harbrace Paperbound Library, 1953; p. 309-316). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/por-que-escrevo-1-paulo-roberto-de.html). Reproduzido novamente no Diplomatizzando em 2/01/2016 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/01/por-que-escrevo-1-retomando-minhas.html).

2615. “Por que escrevo? (2)”, Hartford, 7 Junho 2014, 7 p. Ensaio inspirado no artigo de título similar “Why I write”, de George Orwell, in: A Collection of Essays (New York: Harbrace Paperbound Library, 1953; p. 309-316). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/por-que-escrevo-2-paulo-roberto-de.html). Reproduzido novamente no Diplomatizzando em 2/01/2016 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/01/por-que-escrevo-2-detalhando-as-razoes.html).


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Alberto do Rego Rangel: engenheiro, diplomata, escritor (1871-1945: obras publicadas (sugestão de Carlos U. Pozzobon)

 Meu colega de redes, e muito mais leitor do que eu, Carlos U. Pozzon, recomendou que eu "visitasse" algumas obras de um colega diplomata da primeira metade do século XX. Eis o que coletei, abaixo, com a ajuda do Google, da Wikipedia e do catálogo das bibliotecas do Itamaraty: agora falta localizar os livros, mas preciso perguntar por quais obras começar...

Paulo Roberto de Almeida

Alberto Rangel, engenheiro, escritor, diplomata

 

Levantamento efetuado em 17/02/2021

Paulo Roberto de Almeida

sob recomendação de Carlos U. Pozzobon

 

 

Alberto do Rego Rangel (Recife29 de maio de 1871 - Nova Friburgo14 de dezembro de 1945) foi um engenheiro e escritor brasileiro[1][2]

Formou-se em Engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro, em 1899. No ano seguinte, com a patente de alferes, comandou uma brigada de artilharia durante a Revolta da Armada. Depois de atuar em projetos de engenharia no Maranhão e Pará, deixou o Exército (que criticou no panfleto Fora de forma, de 1900) e mudou-se para o Amazonas, onde foi diretor geral de Terras e Colonização e mais tarde secretário do governo, durante a gestão de Antônio Constantino Nery[3]

Enquanto trabalhava para o governo do Amazonas escreveu seu primeiro livro, a coletânea de contos Inferno verde. A obra só foi publicada em 1908, com prefácio de Euclides da Cunha, de quem se tornara amigo na Escola Militar. 

Entrou para o serviço diplomático e viajou para a FrançaInglaterraEspanha e Portugal. Nesse período, pesquisou os documentos que serviriam de base para seus livros de temas históricos e biográficos, além de continuar escrevendo contos. 

No início da II Guerra Mundial, deixou seu cargo no consulado brasileiro em Paris e voltou para o Rio de Janeiro[4]

From: Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Rangel

 

Obras

·     1900 - Fora de forma

·     1908 - Inferno Verde (cenas e cenários do Amazonas)

·     1913 - Sombras n’água: vida e paisagens no Brasil equatorial

·     1914 - Rumos e perspectivas

·     1915 - Quinzenas de campo e guerra

·     1916 - D. Pedro I e a Marquesa de Santos

·     1919 - Quando o Brasil amanhecia

·     1921 - Livro de figuras

·     1924 - Lume e cinza

·     1927 - Textos e pretextos

·     1928 - Papéis pintados

·     1930 - Fura-mundo!

·     1935 - Gastão de Orléans – o último Conde d’Eu

·     1937 - No rolar do tempo – opiniões e testemunhos respigados no Arquivo do Orsay – Paris

·     1945 - A Educação do Príncipe – Esboço crítico e histórico sobre o Ensino de D. Pedro II

·     1945 - Águas revessas[5]

 

Referências

1)  Alberto do Rego Rangel. Pernambuco de A a Z 

2)  Um percevejo. Jornal Rascunho 

3)  Alberto Rangel. Sistema de Informações do Arquivo Nacional 

4)  LEANDRO, Rafael Voigt. Alberto Rangel e seu projeto literário para a Amazônia. Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira, UnB, 2011 

5)   LEANDRO, Rafael Voigt. Inferno Verde: representação literária da Amazônia na obra de Alberto Rangel. Revista Intercâmbio do Congresso de Humanidades. UnB, 2009 

Ícone de esboço

Este artigo sobre um(a) escritor(a) é um esboço relacionado ao Projeto Biografias. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

 

 

Obras constantes do catálogo das bibliotecas do Itamaraty (RJ e Brasília): 

 

1.

  

 

RANGEL, Alberto. Anotação às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 234 p. 

Call number: 94(81) R196an


2.

  

 

RANGEL, Alberto. Aspectos geraes do Brasil/ Alberto Rangel. Rio de Janeiro: [s.n.], [s.d]. v. 


3.

  

 

PEDRO Imperador do Brasil,; SANTOS, Domitila de Castro Canto e Melo Marquesa de,; RANGEL, Alberto. Cartas de Pedro I à Marquesa de Santos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. 633 p. 

Call number: 94(81) P372c

 

4.

  

 

RANGEL, Alberto. D. Pedro I e a marquesa de santos, á vista de cartas intimas e de outros documentos publicos e particulares. Rio de Janeiro: F. Alves, 1916. xii, 455 p. 

Call number: 551,01,014 ex. 2


5.

  

 

RANGEL, Alberto. Os dois ingleses: Strangford e Stuart. [S. l.]: Conselho Federal de Cultura, 1972. 120 p. 


6.

  

 

RANGEL, Alberto. Os dois ingleses: Strangford e Stuart. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972. 120 p. (Publicações do Arquivo Nacional ; 67)

 

7.

  

 

RANGEL, Alberto. Dom Pedro primeiro e a Marquesa de Santos: a vista de cartas intimas e de outros documentos publicos e particulares. 2. ed. Tours, França: Arrault, 1928. 468 p. 

Call number: CRC 929(Pedro I) R196dp 2. ed.

 

8.

  

 

RANGEL, Alberto. A educação do príncipe: esboço histórico e crítico sobre o ensino de d. Pedro. Rio de Janeiro: Agir, 1945. 294 p., [1] f. 

Call number: 551,05,005


9.

  

 

RANGEL, Alberto. Euclydes da Cunha ( Um pouco do coração e do caráter). Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio, Rodrigues & C., 1913. 38 p. 

Call number: 539,03,033

 

10.

  

 

RANGEL, Alberto. Fura-mundo ! (1773-1794). Paris: Ducharte & Van Buggenhoudt, 1930. 388 p. 

Call number: 574,03,003


11.

  

 

RANGEL, Alberto. Fura-Mundo: 1773-1794. Paris: Ducharte & Van Buggenhoudt, 1930. 388 p. 


12.

  

 

RANGEL, Alberto. Gastão de Orléans: o ultimo conde d'Eu. São Paulo: Companhia Editoria Nacional, 1935. 432 p. 

Call number: 550,05,033 ex. 2


13.

  

 

RANGEL, Alberto. Inferno verde: (scenas e scenarios do Amazonas). 4. ed. Tours: Arrault, 1927. 283 p. 


14.

  


RANGEL, Alberto. Lume e cinza: fantasmagorias, contos e recontos, fructos da terra. Rio de Janeiro: Scientifica, 1924. 288 p. 


15.

  

 

RANGEL, Alberto. Marginados: anotações às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 533 p. 

Call number: 04 R196ma

 

16.

  

 

RANGEL, Alberto. Marginados: anotações às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 534 p. (Arquivo Nacional. n. 76Pub. ;) 

Call number: 476,03,026


17.

  

 

RANGEL, Alberto. No rolar do tempo: opiniões e testemunhos respigados no archivo de Orsay-Paris. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936. 230 p. (Coleção documentos brasileiros ; 6). 

Call number: 94(81) R196n

 

18.

  

 

RANGEL, Alberto. Papeis pintados: (avulsos e fragmentos). Paris: Duchartre & Van Buggenhoudt, 1928. 294 p. 


19.

  

 

RANGEL, Alberto. Papeis pintados: (avulsos e fragmentos). Paris: Duchartre & Van Buggenhoudt, 1928. 294 p. 

Call number: CRC 821(81)-94 R196pp

 

20.

  

 

RANGEL, Alberto. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Lisboa: Classica, 1919. 368 p. 

  

 

21.

  

 

RANGEL, Alberto. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Lisboa: Classica, 1919. 368 p. 


22.

  

 

RANGEL, Alberto; FILGUEIRAS, Philomena. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Ed. comemorativa do centenário de nascimento do autor. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1971. 261 p. (Coleção de literatura brasileira ; 5)


23.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: (discursos e conferencias). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1934. 251 p. (Brasiliana ; 26) 


24.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: (discursos e conferencias).... São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1934. 251 p. (Brasiliana 26) 


25.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: discursos e conferências. Porto: Comp. Portuguesa, 1914. 264 p. 


26.

  

 

RANGEL, Alberto. Sombras n'agua: (vida e paizagens no Brasil equatorial). Rio de Janeiro: Livraria Scientífica Brasileira, 19--. 360 p. 


27.

  

 

RANGEL, Alberto. Textos e pretextos: incidentes da chronica brasileira à luz de documentos conservados na Europa. Tours: Arrault, 1926. 295 p. 


28.

  

 

RANGEL, Alberto. Trasanteontem: (episódios e relatos históricos). São Paulo: Martins, 1943. 242 p. 

 

domingo, 18 de setembro de 2016

Atencao candidatos a prefeito: relatorios de gestao de Graciliano Ramos em Palmeira dos Indios (1929)

Nem preciso comentar:

O prefeito Graciliano Ramos e seus relatórios de gestão
Marcus Lopes
(atualizado 15/Set 14h34)

Um comerciante que é eleito com velhas práticas, adota políticas administrativas inovadoras, chama a atenção pela qualidade literária de suas prestações de contas e acaba desistindo do cargo. Se tornaria, tempos depois, um dos maiores escritores brasileiros

O Brasil realiza eleições municipais neste 2016, quando a população vai escolher novos prefeitos e vereadores em 5.570 cidades. Por ocasião da disputa, o Nexo resgata a história abaixo. Seu personagem principal reúne alguns elementos inusitados: um comerciante que é eleito com velhas práticas, adota políticas administrativas inovadoras, chama a atenção pela qualidade literária de seus relatórios de gestão e acaba desistindo do cargo. Se tornaria, tempos depois, um dos maiores escritores brasileiros.

Um candidato em meio a um banho de sangue#
Em outubro de 1927, a população da pequena Palmeira dos Índios, em Alagoas, elegeu um prefeito sem muito jeito para a coisa, que não participou da própria campanha nem fazia questão de ganhar. Mas ganhou e fez bonito na administração pública. Tempos depois ganharia projeção nacional não como político, mas como escritor. Seu nome era Graciliano Ramos.

Candidato único, um dos mais célebres nomes da literatura brasileira foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios pelo extinto Partido Democrata. Sua gestão ficou conhecida pelas realizações na pequena cidade do agreste alagoano e, principalmente, pelo zelo com o dinheiro público. Conhecido pela sisudez, sua candidatura foi resultado de uma articulação política envolvendo os chefes locais.

Foto: Acervo Graciliano Ramos/Reprodução do livro Mestre Graciliano
Graciliano Ramos (direita) em um grupo de amigos nos tempos em que morava em Palmeira dos Índios

Palmeira vivia um período atribulado: o prefeito anterior, Lauro de Almeida Lima, fora assassinado a tiros um ano antes, após desentender-se com um fiscal de tributos. Este, por sua vez, foi fuzilado em seguida pelo delegado de polícia local. O banho de sangue traumatizou a população da cidade.

O vice-prefeito Manuel Sampaio Luz cumpriu o resto do mandato e, com a proximidade das eleições, os políticos começaram a se articular para escolher o sucessor e tentar dissipar o clima sombrio. Naquele ambiente típico da República Velha, os partidos interferiam pouco nas eleições locais, o que valia mesmo era o peso da botina dos caciques políticos, geralmente fazendeiros poderosos. Em Palmeira dos Índios, a cena política havia quatro décadas era dominada pela família Cavalcanti, aliados do governador alagoano Costa Rego, todos eles do Partido Democrata.

Após uma rodada de negociações, a cúpula se fixou no nome de Graciliano, um respeitado comerciante local que beirava os 35 anos, com fama de honesto, culto, austero e, principalmente, amigo dos caciques do partido. Aliado ao bom trânsito político, havia sido bem sucedido como presidente da Junta Escolar na gestão anterior, uma espécie de secretário municipal da educação. Chamado para uma reunião, Graciliano reagiu ao tomar conhecimento do projeto de torná-lo prefeito:

“Só se Palmeira do Índios estivesse com urucubaca.”
Após muita resistência, topou o desafio, movido mais pelos brios do que pela sede de poder. Os Cavalcanti, como bons coronéis, cuidaram para que tudo desse certo de acordo com o jeito de fazer eleição na época, conforme atestou o próprio prefeito eleito:

“Assassinaram meu antecessor. Escolheram-me por acaso. Fui eleito naquele velho sistema de atas falsas, os defuntos votando.”
A eleição ocorreu com velhas práticas. A administração de Graciliano, porém, inovou. Ao assumir, em janeiro de 1928, o novo prefeito cortou gastos, elaborou projetos, abriu estradas, construiu escolas, cuidou da limpeza pública e vetou apadrinhamentos políticos.

Enfrentou o trabalho com punho forte, mas não escondeu um certo desânimo diante do caos administrativo encontrado na prefeitura pouco tempo depois de assumir o cargo, conforme escreveu em carta à futura esposa, Heloísa, que nessa época ainda morava em Maceió:

“Para os cargos de administração municipal escolhem de preferência os imbecis e os gatunos.  Eu, que não sou gatuno, que tenho na cabeça uns parafusos de menos, mas não sou imbecil, não dou para o ofício e qualquer dia renuncio.”
Não renunciou naquele momento. E levou adiante seus projetos. Criou um Código de Postura Municipal, em agosto de 1928, que estabelecia uma série de normas dos cidadãos para dar fim à sujeira e aos caos urbano. Com 82 artigos, quase tudo era proibido: mendigar, vender remédio sem receita, jogar lixo em terrenos, deixar animais soltos nas ruas etc. Numa dessas, multou o próprio pai, Sebastião Ramos, que costumava criar porcos e cabras soltos em via pública. Ao reclamar, o filho foi direto:

“Prefeito não tem pai. Eu posso pagar a sua multa. Mas terei de apreender seus animais toda vez que o senhor os deixar na rua.”
É claro que as medidas moralizadoras desagradaram a muitos cidadãos, em especial os das classes mais altas. O prefeito descontentava os poderosos, inclusive os correligionários, mas a arraia miúda o adorava, pois colocou fim aos privilégios. Além de obras como a construção de estradas que ligavam a cidade ao distrito de Palmeira de Fora e à cidade de Santana do Ipanema, reformou escolas, cuidou da saúde pública e melhorou o salário dos professores.

“Em dois anos ele conseguiu avançar Palmeira dos Índios em uma velocidade impensável naquele contexto de República Velha e de um município pequeno no interior do Nordeste”, diz o escritor Dênis de Moraes, autor de “O Velho Graça - Uma biografia de Graciliano Ramos” (Boitempo Editorial). “Além do novo Código de Postura estabelecer novos parâmetros para a conservação da cidade, ele revisou todo o sistema tributário e fechou as brechas para sonegação. Colocou o serviço público a bem do público”, completa Moraes.

Relatórios eram tão bons que chamaram a atenção de jornais#
Foto: Acervo Graciliano Ramos/Reprodução do livro Viventes das Alagoas

Capa de um relatório de Graciliano Ramos ao governador de Alagoas (1929-1930)

Naquele tempo, os prefeitos prestavam contas de suas administrações diretamente aos governadores dos Estados. O jovem prefeito de Palmeira dos Índios transformou o que seria um relatório burocrático recheado de números em peça literária. Foram dois relatórios anuais enviados ao governador de Alagoas –  1929 e 1930 – relatando de uma maneira especial o exercício do mandato. No primeiro, explica como encontrou a prefeitura:

“Havia em Palmeira inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos, o Comandante do Destacamento, os soldados, outros que desejassem administrar. Cada pedaço do município tinha a sua administração particular, com prefeitos coronéis e prefeitos inspetores de quarteirões. Os fiscais, esses, resolviam questões de polícia e advogavam.”
Em seguida, afirma que realizou uma reforma administrativa que resultou em uma verdadeira limpeza dos quadros do funcionalismo e fim dos cabides de emprego:

“Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos: saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são necessários, cumprem as suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas.”
No texto, o autor usa e abusa de uma ironia fina para criticar questões como o nepotismo e os contratos públicos suspeitos.

“Convenho que o dinheiro do povo poderia ser mais útil e estivesse nas mãos, ou nos bolsos, de outro menos incompetente do que eu. Em todo o caso, transformando-o em pedra, cal, cimento, etc, sempre procedo melhor que se o distribuísse com os meus parentes, que necessitam, coitados.”
No segundo relatório, de 1930, o prefeito levanta suspeitas em contratos firmados pelos seus antecessores ao citar o gasto com iluminação pública.

“A Prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para fornecimento de luz. Apesar de ser um negócio referente à claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras. É um bluff. Pagamos até a luz que a lua nos dá.”
Os textos escritos por um prefeito sertanejo tiveram grande repercussão. Foram publicados em diversos jornais de Alagoas e ecoaram até no Rio de Janeiro, com trechos destacados pelo “Jornal do Brasil”. Por ironia do destino, os textos, que por vezes se transformam em um verdadeiro desabafo diante das dificuldades administrativas, alavancaram sua carreira literária. “Graciliano passou a ter uma visibilidade intelectual a partir dos relatórios”, afirma o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Mackenzie.

Escritores e poder#
Estudioso das relações dos intelectuais com o poder público, Prando explica que, geralmente, os intelectuais criticam ou participam do poder. “Graciliano está numa terceira categoria, mais rara, a dos que exerceram o poder”, diz Prando, que em sua tese de doutorado estudou o lado intelectual do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

“Apesar da cultura patrimonialista da época, exercida pelos coronéis, Graciliano Ramos exerceu a política de uma maneira ética e sem se envolver com atos ilícitos”, diz o cientista político, lembrando que estamos em um ano de eleições municipais. “É o momento de trazer a experiência de Palmeira dos Índios para os dias atuais”, completa.

Uma renúncia após ‘empobrecer’#
Graciliano não chegou a cumprir o seu mandato. Cansado das pressões políticas contra seu trabalho na prefeitura e com dificuldades financeiras privadas decorrentes agravadas pela crise de 1929, que afetou os negócios da família, renunciou ao mandato dois anos após assumir e entregou o cargo ao vice-prefeito. “As dificuldades financeiras acumulavam-se na medida em que ele ganhava subsídios simbólicos como prefeito e não se locupletava com a corrupção. Empobrecera em dois anos de mandato”, explica o biógrafo do escritor.

Mas esse foi o começo de uma nova carreira para Graciliano. Além de receber um convite do governador para dirigir a Imprensa Oficial de Alagoas, em Maceió, os relatórios chamaram a atenção do editor Augusto Frederico Schmidt, no Rio de Janeiro. Ele queria saber se aquele prefeito que escrevia balanços burocráticos daquela maneira tinha algum livro guardado na gaveta. Acertou na mosca: “Caetés”, seu primeiro romance, foi publicado pela editora Schmidt, em 1933.