Era, sobretudo, um grande e devotado funcionário das relações exteriores, nacionalista e desenvolvimentista, ajustados aos tempos da diplomacia dos governos do PT. (PRA)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Era, sobretudo, um grande e devotado funcionário das relações exteriores, nacionalista e desenvolvimentista, ajustados aos tempos da diplomacia dos governos do PT. (PRA)
Atraso 'made in Brazil'
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2006, Notas e Informações, p. A3
Contrastando com a apagada e vil tristeza do noticiário político pós-eleitoral - dominado pelo ramerrame dos conchavos mofinos sobre o tal governo de coalizão e das brigas de praxe pelo controle das duas casas do Congresso, enquanto o presidente Lula confessa que não sabe como ¿destravar¿ o crescimento -, uma entrevista publicada ontem neste jornal traz para o primeiro plano os problemas que tirariam o sono das elites políticas brasileiras, não fossem elas o que são.
O entrevistado é o diplomata Paulo Roberto de Almeida, professor de Economia Política Internacional do Centro Universitário de Brasília (Ceub) e membro do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Falando a título pessoal, com cortante clareza e sem receio de chamar as coisas pelos nomes, ele traça um quadro sombrio das possibilidades do País na ordem mundial, em razão das realidades made in Brazil, como diz, para que não se culpe por elas a globalização.
Mesmo quando se refere a problemas que já freqüentam o limitado debate público sobre os verdadeiros obstáculos ao desenvolvimento nacional - no sentido pleno do termo -, o estudioso vai mais longe do que a maioria dos seus pares na identificação de suas conexões e consequências. Retomando o enfoque de sua palestra no recente Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, no Rio, ele dissocia o Brasil da China e da Índia, os quais, além da Rússia, formariam o que ficou moda chamar Bric.
O acrônimo designa o bloco dos principais países emergentes. Mas, para Almeida, isso não existe. "Eles não interagem, não atuam de forma coordenada. Cada um tem uma forma específica de inserção na economia mundial", esclarece. E, pelo que caracteriza essa forma no caso do Brasil, o professor tirou o B do Bric. Numa visão superficial, o País se distingue da China e da Índia por ser o único dos três que exporta commodities em larga escala, "o que é bom", e como grande fornecedor de energias renováveis, "o que é excelente".
Numa visão aprofundada, porém, o que em última análise afasta o Brasil dessas duas nações, pelo critério crucial do modo de participação na economia globalizada, é a dificuldade aparentemente insuperável de o País viver no tempo presente. A China se inseriu na divisão internacional do trabalho, descartando com uma velocidade espantosa o passado autárquico, e a Índia alimenta a nova economia do conhecimento - a primeira é "um laboratório, um ateliê ou uma fábrica", a segunda, "um escritório de concepção e desenho", sintetiza o pesquisador.
Já o Brasil "é um pouco avestruz, introvertido, recusa a competição, recusa acordo comercial". O resultado inexorável é o crescimento lento. O pior é que não se divisa a proverbial luz no fim do túnel. Exatamente devido ao predomínio dessa arcaica mentalidade de avestruz, o problema nem sequer é a falta de consenso entre a elite sobre a agenda de reformas modernizadoras. Na lúcida avaliação do diplomata, ¿não há consciência de que a reforma é necessária¿ - sobretudo na educação.
Já era tempo de alguém familiarizado com o tema dizer em público o que Almeida diz da educação nacional, sem medir palavras. "É pior do que possamos imaginar, muito pior do que as estatísticas revelam. Não é só do ponto de vista organizacional e de investimentos, mas no plano mental, de preparação de professores", aponta, com precisão cirúrgica. "A situação educacional é pavorosa." Não surpreende, portanto, o despreparo brasileiro, seja para capacitar a mão-de-obra, no plano puramente industrial, seja para enfrentar as exigências da modernidade.
Esse segundo aspecto é o mais assustador. Fala-se muito da má qualidade do ensino, mas não se fala tudo que se deveria. Sabe-se que cada nível do sistema exporta para o seguinte as suas deficiências. Não se ressalta, porém, que, acumuladas, elas limitam dramaticamente a capacidade de adquirir novos conhecimentos da minoria que já não desistiu no começo do percurso. A deseducação, em suma, contamina por inteiro a esfera produtiva e permeia o cotidiano dos brasileiros.
Por isso, para o diplomata Paulo Roberto de Almeida, o Brasil continuará tendo desenvolvimento lento e inserção na economia mundial limitada ao fornecimento de commodities e fontes renováveis de energia.
Disponível na base de dados do Senado Federal; link:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/324077/noticia.htm?sequence=1&isAllowed=y
Quem é o embaixador José Jobim, assassinado na ditadura militar e homenageado por alunos do Instituto Rio Branco?
Era para ser uma formatura como outra qualquer. Dessas que o Instituto Rio Branco, criado em comemoração ao centenário de nascimento do Barão do Rio Branco (1845-1912), o patrono da diplomacia brasileira, organiza desde 1945. Mas, a escolha do embaixador José Pinheiro Jobim (1909-1979)– sequestrado, torturado e morto pela ditadura – como patrono da mais nova turma de alunos do Curso de Formação de Diplomatas reverteu as expectativas. O presidente da República, Jair Bolsonaro, não compareceu à cerimônia. Em vez disso, mandou um discurso gravado aos 20 novos diplomatas. Mais: a imprensa sequer foi credenciada para cobrir a formatura. “Fiquei feliz de ver que, no Itamaraty, há uma juventude que resiste”, afirma a jornalista e advogada Lygia Maria Jobim, de 71 anos. “Essa homenagem é a negação do negacionismo e da barbárie. Gestos como esse são fundamentais para que consigamos continuar a respirar enquanto atravessamos este mar de lama”.
Em seu discurso, o chanceler Carlos França declarou que Jobim é “referência de diplomata e de dedicação ao Brasil”. Jobim também foi citado no discurso da embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues, a paraninfa da turma. “Espero que, como o patrono que escolheram, o embaixador José Jobim, se mantenham sempre fiéis aos seus princípios e valores”, declarou ela. “Não podemos nos deixar sufocar pela estupidez que este governo representa”, prossegue Lygia. “Temos que, sem violência, mas, com firmeza, colocá-los de volta no esgoto de onde saíram. São gestos como o desta turma que nos dão a certeza de que conseguiremos. Ainda há vida neste país”.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Presidente da República não compareceu à cerimônia porque, no dia do evento, cumpria agenda fora de Brasília, mas enviou, por vídeo, a tradicional mensagem dirigida aos formandos. Ainda segundo o órgão, a escolha do embaixador José Jobim como homenageado da turma decorreu de deliberação dos formandos. “O Itamaraty não participa da decisão e, em respeito à vontade expressa pelos alunos, acolhe integralmente a eleição, sem emitir avaliação sobre o homenageado”, informou o ministério.
André Bernardo é jornalista. Aficcionado por cinema, literatura e música produziu conteúdo para mais de 80 jornais, como Zero Hora, Correio Braziliense e Diário de Pernambuco. Colabora para sites, como BBC Brasil, VICE e UOL, e revistas, como Superinteressante, MONET e Galileu. É autor do livro "A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo (Panda Books)", sobre teledramaturgia brasileira.
O Centro de Estudos Globais da Universidade de Brasília convida para a palestra a ser proferida pelo pesquisador e diplomata Bruno Miranda Zetola(Ministério das Relações Exteriores), sob o tema A diplomacia cultural brasileira na década de 1960: continuidades e rupturas.
Rupturas da ordem política são temas que fascinam historiadores, pois constituem momentos privilegiados para examinar tensões e clivagens nos fenômenos sociais. O Golpe Militar de 1964 no Brasil e a subsequente implantação do regime militar implicou uma inflexão política significativa, traduzindo-se em um governo anticomunista, pró-americano, conservador e apoiador de uma agenda econômica liberal. Rupturas políticas, entretanto, não necessariamente abrangem toda as dimensões da vida social, como a economia ou a cultura, e tampouco atingem todas as políticas públicas com a mesma intensidade. Embora relacionados e interdependentes, esses diferentes campos são tributários de características específicas e podem deflagrar, acentuar, mitigar, destoar ou mesmo inviabilizar rupturas mais globais. Nessa perspectiva, tenciona-se apresentar os efeitos do Golpe Militar de 1964 para a diplomacia cultural brasileira, em abordagem que a considera campo específico, embora interdependente da macroestrutura governamental. Argumenta-se que, embora o campo da diplomacia cultural tenha recebido significativa pressão por mudanças, a ruptura do regime político não levou imediatamente a um ajuste do conteúdo e dos processos de trabalho da área. Houve, assim, um movimento de resistência a mudanças que buscou manter os parâmetros de uma bem-sucedida diplomacia cultural verificada no governo democrático.
Bruno Miranda Zétola é diplomata e doutor em História pela Universidade Federal do Paraná. É autor de diversos artigos a respeito da relação entre diplomacia e cultura. Desde 2019 está vinculado como pesquisador visitante junto ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília, onde desenvolve estágio de pesquisa pós-doutoral sobre a diplomacia cultural brasileira nas décadas de 1950 e 1960.
Transmissão do evento e inscrições
Meu colega de redes, e muito mais leitor do que eu, Carlos U. Pozzon, recomendou que eu "visitasse" algumas obras de um colega diplomata da primeira metade do século XX. Eis o que coletei, abaixo, com a ajuda do Google, da Wikipedia e do catálogo das bibliotecas do Itamaraty: agora falta localizar os livros, mas preciso perguntar por quais obras começar...
Paulo Roberto de Almeida
Alberto Rangel, engenheiro, escritor, diplomata
Levantamento efetuado em 17/02/2021
Paulo Roberto de Almeida
sob recomendação de Carlos U. Pozzobon
Alberto do Rego Rangel (Recife, 29 de maio de 1871 - Nova Friburgo, 14 de dezembro de 1945) foi um engenheiro e escritor brasileiro[1][2].
Formou-se em Engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro, em 1899. No ano seguinte, com a patente de alferes, comandou uma brigada de artilharia durante a Revolta da Armada. Depois de atuar em projetos de engenharia no Maranhão e Pará, deixou o Exército (que criticou no panfleto Fora de forma, de 1900) e mudou-se para o Amazonas, onde foi diretor geral de Terras e Colonização e mais tarde secretário do governo, durante a gestão de Antônio Constantino Nery[3].
Enquanto trabalhava para o governo do Amazonas escreveu seu primeiro livro, a coletânea de contos Inferno verde. A obra só foi publicada em 1908, com prefácio de Euclides da Cunha, de quem se tornara amigo na Escola Militar.
Entrou para o serviço diplomático e viajou para a França, Inglaterra, Espanha e Portugal. Nesse período, pesquisou os documentos que serviriam de base para seus livros de temas históricos e biográficos, além de continuar escrevendo contos.
No início da II Guerra Mundial, deixou seu cargo no consulado brasileiro em Paris e voltou para o Rio de Janeiro[4].
From: Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Rangel
Obras
· 1900 - Fora de forma
· 1908 - Inferno Verde (cenas e cenários do Amazonas)
· 1913 - Sombras n’água: vida e paisagens no Brasil equatorial
· 1914 - Rumos e perspectivas
· 1915 - Quinzenas de campo e guerra
· 1916 - D. Pedro I e a Marquesa de Santos
· 1919 - Quando o Brasil amanhecia
· 1921 - Livro de figuras
· 1924 - Lume e cinza
· 1927 - Textos e pretextos
· 1928 - Papéis pintados
· 1930 - Fura-mundo!
· 1935 - Gastão de Orléans – o último Conde d’Eu
· 1937 - No rolar do tempo – opiniões e testemunhos respigados no Arquivo do Orsay – Paris
· 1945 - A Educação do Príncipe – Esboço crítico e histórico sobre o Ensino de D. Pedro II
· 1945 - Águas revessas[5]
Referências
1) Alberto do Rego Rangel. Pernambuco de A a Z
2) Um percevejo. Jornal Rascunho
3) Alberto Rangel. Sistema de Informações do Arquivo Nacional
4) LEANDRO, Rafael Voigt. Alberto Rangel e seu projeto literário para a Amazônia. Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira, UnB, 2011
5) LEANDRO, Rafael Voigt. Inferno Verde: representação literária da Amazônia na obra de Alberto Rangel. Revista Intercâmbio do Congresso de Humanidades. UnB, 2009
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Obras constantes do catálogo das bibliotecas do Itamaraty (RJ e Brasília):
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