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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Falecimento do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, um grande diplomata - Nota da ADB e do Sinditamaraty

Era, sobretudo, um grande e devotado funcionário das relações exteriores, nacionalista e desenvolvimentista, ajustados aos tempos da diplomacia dos governos do PT. (PRA)

A Associação e Sindicato  dos Diplomatas Brasileiros (ADB Sindical) e o Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty), com profundo pesar, tomaram conhecimento do falecimento do eminente embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães foi uma figura central na diplomacia brasileira, dedicando sua vida ao serviço do país e à promoção de seus interesses no cenário internacional. Durante sua gestão como Secretário-Geral do Itamaraty, em particular, ele se destacou não apenas por sua habilidade diplomática, mas também por sua dedicação incansável ao aprimoramento do Ministério das Relações Exteriores.

Sob sua liderança, foram implementadas políticas significativas visando o desenvolvimento profissional, a valorização do Itamaraty e de seus servidores. Essas ações tiveram um impacto duradouro, contribuindo para a formação de uma diplomacia mais forte e mais preparada para enfrentar os desafios do século XXI.

Sua partida deixa um legado de liderança comprometida com a excelência e o fortalecimento do serviço exterior brasileiro. Expressamos nossas mais sinceras condolências à sua família, amigos e colegas.

Neste momento de tristeza, reafirmamos nosso compromisso em honrar sua memória, continuando o trabalho de promover os interesses do Brasil no mundo e apoiando as carreiras do Itamaraty, um ideal pelo qual ele tanto lutou.

Descanse em paz, Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Seu legado continuará vivo, a nos inspirar no fortalecimento do serviço exterior, e na construção de um Itamaraty mais moderno e sintonizado com os legítimos anseios do povo brasileiro.

 

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Atraso 'made in Brazil' - Editorial O Estado de São Paulo (05/12/2006)

Atraso 'made in Brazil' 

Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2006, Notas e Informações, p. A3

Contrastando com a apagada e vil tristeza do noticiário político pós-eleitoral - dominado pelo ramerrame dos conchavos mofinos sobre o tal governo de coalizão e das brigas de praxe pelo controle das duas casas do Congresso, enquanto o presidente Lula confessa que não sabe como ¿destravar¿ o crescimento -, uma entrevista publicada ontem neste jornal traz para o primeiro plano os problemas que tirariam o sono das elites políticas brasileiras, não fossem elas o que são.

O entrevistado é o diplomata Paulo Roberto de Almeida, professor de Economia Política Internacional do Centro Universitário de Brasília (Ceub) e membro do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Falando a título pessoal, com cortante clareza e sem receio de chamar as coisas pelos nomes, ele traça um quadro sombrio das possibilidades do País na ordem mundial, em razão das realidades made in Brazil, como diz, para que não se culpe por elas a globalização. 

Mesmo quando se refere a problemas que já freqüentam o limitado debate público sobre os verdadeiros obstáculos ao desenvolvimento nacional - no sentido pleno do termo -, o estudioso vai mais longe do que a maioria dos seus pares na identificação de suas conexões e consequências. Retomando o enfoque de sua palestra no recente Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, no Rio, ele dissocia o Brasil da China e da Índia, os quais, além da Rússia, formariam o que ficou moda chamar Bric. 

O acrônimo designa o bloco dos principais países emergentes. Mas, para Almeida, isso não existe. "Eles não interagem, não atuam de forma coordenada. Cada um tem uma forma específica de inserção na economia mundial", esclarece. E, pelo que caracteriza essa forma no caso do Brasil, o professor tirou o B do Bric. Numa visão superficial, o País se distingue da China e da Índia por ser o único dos três que exporta commodities em larga escala, "o que é bom", e como grande fornecedor de energias renováveis, "o que é excelente".

Numa visão aprofundada, porém, o que em última análise afasta o Brasil dessas duas nações, pelo critério crucial do modo de participação na economia globalizada, é a dificuldade aparentemente insuperável de o País viver no tempo presente. A China se inseriu na divisão internacional do trabalho, descartando com uma velocidade espantosa o passado autárquico, e a Índia alimenta a nova economia do conhecimento - a primeira é "um laboratório, um ateliê ou uma fábrica", a segunda, "um escritório de concepção e desenho", sintetiza o pesquisador.

Já o Brasil "é um pouco avestruz, introvertido, recusa a competição, recusa acordo comercial". O resultado inexorável é o crescimento lento. O pior é que não se divisa a proverbial luz no fim do túnel. Exatamente devido ao predomínio dessa arcaica mentalidade de avestruz, o problema nem sequer é a falta de consenso entre a elite sobre a agenda de reformas modernizadoras. Na lúcida avaliação do diplomata, ¿não há consciência de que a reforma é necessária¿ - sobretudo na educação.

Já era tempo de alguém familiarizado com o tema dizer em público o que Almeida diz da educação nacional, sem medir palavras. "É pior do que possamos imaginar, muito pior do que as estatísticas revelam. Não é só do ponto de vista organizacional e de investimentos, mas no plano mental, de preparação de professores", aponta, com precisão cirúrgica. "A situação educacional é pavorosa." Não surpreende, portanto, o despreparo brasileiro, seja para capacitar a mão-de-obra, no plano puramente industrial, seja para enfrentar as exigências da modernidade.

Esse segundo aspecto é o mais assustador. Fala-se muito da má qualidade do ensino, mas não se fala tudo que se deveria. Sabe-se que cada nível do sistema exporta para o seguinte as suas deficiências. Não se ressalta, porém, que, acumuladas, elas limitam dramaticamente a capacidade de adquirir novos conhecimentos da minoria que já não desistiu no começo do percurso. A deseducação, em suma, contamina por inteiro a esfera produtiva e permeia o cotidiano dos brasileiros.

Por isso, para o diplomata Paulo Roberto de Almeida, o Brasil continuará tendo desenvolvimento lento e inserção na economia mundial limitada ao fornecimento de commodities e fontes renováveis de energia. 

Disponível na base de dados do Senado Federal; link: 

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/324077/noticia.htm?sequence=1&isAllowed=y

sábado, 11 de setembro de 2021

José Jobim: o embaixador que sabia demais - André Bernardo

 José Jobim escrevendo

Quem é o embaixador José Jobim, assassinado na ditadura militar e homenageado por alunos do Instituto Rio Branco?

Era para ser uma formatura como outra qualquer. Dessas que o Instituto Rio Branco, criado em comemoração ao centenário de nascimento do Barão do Rio Branco (1845-1912), o patrono da diplomacia brasileira, organiza desde 1945. Mas, a escolha do embaixador José Pinheiro Jobim (1909-1979)– sequestrado, torturado e morto pela ditadura – como patrono da mais nova turma de alunos do Curso de Formação de Diplomatas reverteu as expectativas. O presidente da República, Jair Bolsonaro, não compareceu à cerimônia. Em vez disso, mandou um discurso gravado aos 20 novos diplomatas. Mais: a imprensa sequer foi credenciada para cobrir a formatura. “Fiquei feliz de ver que, no Itamaraty, há uma juventude que resiste”, afirma a jornalista e advogada Lygia Maria Jobim, de 71 anos. “Essa homenagem é a negação do negacionismo e da barbárie. Gestos como esse são fundamentais para que consigamos continuar a respirar enquanto atravessamos este mar de lama”. 

Em seu discurso, o chanceler Carlos França declarou que Jobim é “referência de diplomata e de dedicação ao Brasil”. Jobim também foi citado no discurso da embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues, a paraninfa da turma. “Espero que, como o patrono que escolheram, o embaixador José Jobim, se mantenham sempre fiéis aos seus princípios e valores”, declarou ela. “Não podemos nos deixar sufocar pela estupidez que este governo representa”, prossegue Lygia. “Temos que, sem violência, mas, com firmeza, colocá-los de volta no esgoto de onde saíram. São gestos como o desta turma que nos dão a certeza de que conseguiremos. Ainda há vida neste país”. 

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Presidente da República não compareceu à cerimônia porque, no dia do evento, cumpria agenda fora de Brasília, mas enviou, por vídeo, a tradicional mensagem dirigida aos formandos. Ainda segundo o órgão, a escolha do embaixador José Jobim como homenageado da turma decorreu de deliberação dos formandos. “O Itamaraty não participa da decisão e, em respeito à vontade expressa pelos alunos, acolhe integralmente a eleição, sem emitir avaliação sobre o homenageado”, informou o ministério.  

Cerimônia de nomeação do Itamaraty com 23 participantes

Queima de arquivo

No dia 22 de março de 1979, pouco depois do almoço, José Jobim saiu de casa no Cosme Velho, Zona Sul do Rio, para visitar um amigo, o jornalista cearense Marcial Dias Pequeno (1908-1991), chefe de gabinete do governador Chagas Freitas (1914-1991), e não voltou mais. Segundo jornais da época, dois homens armados interceptaram seu carro a poucos metros de sua residência, na Rua Tobias do Amaral, sequestrado o embaixador e abandonado o veículo, um Corcel placa RM6072, numa ribanceira de Santa Teresa. “Meu marido não tem inimigos e está afastado da política. Não somos milionários, nem ostentamos riqueza. Por que, então, essa desgraça?”, indagou sua esposa, a embaixatriz Lygia Collor Jobim, ao jornal O Globo, de 24 de março de 1979. 

Na manhã do dia 23, segundo testemunhas, o embaixador foi até uma agência bancária na Barra da Tijuca, pediu uma folha de papel ao gerente, bateu um bilhete à máquina e saiu. Em seguida, dirigiu-se a uma farmácia, a poucos metros do banco, e entregou o bilhete à proprietária. Pediu a ela que, por gentileza, telefonasse para os números 205-1288 ou 226-9394 e falasse com Lygia (sua mulher), Lygia Maria (sua filha) ou Ênio (seu genro). Mais informações não poderia dar porque estava sendo vigiado. “Estou muito cansado, mas, até agora, nada me aconteceu de irreparável”, dizia o bilhete. Os supostos sequestradores não fizeram exigências ou pediram resgate. 

No dia 24 de março de 1979, por volta das sete da manhã, o corpo do embaixador foi encontrado morto por um gari na Barra da Tijuca. Estava pendurado numa árvore pelo pescoço, amarrado a um galho de árvore por uma corda de nylon. O local ficava a cerca de dois quilômetros da farmácia onde estivera no dia anterior. “Eu estava no terceiro mês de gravidez”, recorda Lygia Maria, então com 28 anos. “A primeira coisa que veio à mente é que tinha que cuidar da vida que carregava em mim e que era o/a neto/a dele. Fiquei em estado de choque, mas a informação de que ele havia aparecido numa árvore, com os joelhos dobrados e os pés no chão, me tirou da paralisia e me fez perceber, de imediato, que aquilo era uma farsa”. 

Segundo o médico legista Roberto Blanco dos Santos, do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, que realizou a necrópsia, o diplomata já estava morto, há pelo menos uma hora, quando foi pendurado na árvore. Descartada a hipótese de suicídio por enforcamento, a polícia investigava os crimes de latrocínio e envenenamento. “Horas depois, soube por meu marido, o editor Ênio Silveira (1925-1996), e Frei Betto, que o acompanhou para fazer o reconhecimento do corpo, que minha mãe e eu não o poderíamos ver, pois as marcas de tortura eram muitas”, relembra Lygia. O corpo do embaixador José Jobim foi sepultado no domingo, dia 25 de março, às 10h30, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. 

Já no dia seguinte, porém, o caso sofreu uma reviravolta. Responsável pela investigação, o delegado Ruy Dourado, da 16ª DP (Barra da Tijuca), convocou uma coletiva de imprensa para declarar que não houve sequestro. O embaixador, afirmou Dourado, cometera suicídio. Para corroborar sua tese, o IML chegou a desmentir o que o legista dissera no dia anterior: que Jobim já estava morto, há pelo menos uma hora, quando foi pendurado na árvore. Três dias depois, outra coletiva. Dessa vez, seus filhos, Leopoldo e Lygia Jobim, contestaram a versão de suicídio. “Seu crime foi ter querido, através das memórias que estava escrevendo, denunciar a corrupção na construção de Itaipu”, esclarece Lygia. 

Uma semana antes de sua morte no Rio, o embaixador José Jobim estivera em Brasília. A convite do diplomata baiano Ramiro Saraiva Guerreiro (1918-2011), compareceu, no dia 15 de março de 1979, à posse do presidente da República, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918-1999), o quinto e último do regime militar. Guerreiro foi ministro das Relações Exteriores do Brasil entre 1979 e 1985. Durante a cerimônia, Jobim comentou com amigos que estava escrevendo sua autobiografia. Entre outros assuntos, revelaria detalhes do esquema de superfaturamento na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Disse mais: a documentação que comprovava o que dizia estava em uma mala xadrez azul e branca, guardada em sua casa. Lá pelas tantas, o senador Gilberto Marinho (1909-1985) chamou Jobim num canto e pediu a ele que parasse de falar porque as pessoas que pretendia denunciar estavam todas ali, na recepção. 

Crime de Estado

Paulista de Ibitinga, a 360 quilômetros da capital, José Pinheiro Jobim ingressou no Itamaraty em 1938, por indicação do poeta e diplomata Raul Bopp (1898-1984), e se aposentou em 1975, quando estava à frente da representação brasileira no Marrocos. Antes de chegar a ministro de primeira classe, atuou em países como Japão, EUA, Argentina, Uruguai e Finlândia. Como embaixador, serviu no Equador (1959-1962), Colômbia e Jamaica(1965-1966), Argélia (1966-1968) e Vaticano (1968-1973). Em 18 de fevereiro de 1964, foi designado pelo presidente João Goulart (1919-1976) para conversar com autoridades paraguaias sobre o aproveitamento hidrelétrico do rio Paraná, na altura das Sete Quedas. Como resultado da missão, Jobim elaborou um relatório que recomendava a construção da usina. 

O golpe militar de 1964, porém, alterou o projeto original. As turbinas, em vez de serem importadas da extinta União Soviética, foram compradas de uma multinacional alemã. Resultado: a obra, orçada em US$ 1,3 bilhão no governo Jango, teria custado dez vezes mais, US$ 13 bilhões, no regime militar.“Existem evidências de que houve corrupção durante a ditadura. O cerceamento dos mecanismos de controle, a elevação do fundo público e o aparelhamento do Estado por agentes empresariais privados levou a uma elevação significativa dos desvios de recursos públicos, pagamentos de propina e outras formas de irregularidade”, afirma o historiador Pedro Henrique Pedreira Campos, Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), professor do Departamento de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro Estranhas Catedrais – As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-Militar (1964-1988) (2014). “No caso da Usina Hidrelétrica de Itaipu, existem acusações de que teria havido desvio na realização da obra, em particular no fornecimento das turbinas e dos equipamentos elétricos usados na obra. Não existe um número preciso sobre o custo da corrupção e a elevação de preço. Na época, não foi feita a apuração do caso, mas, tudo aponta que a obra custou mais caro devido à apropriação indevida de recursos”. Para piorar a situação, a tal mala xadrez, que guardava os documentos que comprovariam o esquema de corrupção, foi encontrada vazia por sua mulher e filha na casa do Cosme Velho. 

Indignada com a tese de suicídio, Lygia Jobim não se deu por vencida. Travou incontáveis batalhas para provar que seu pai não tirara a própria vida. Uma dessas batalhas foi vencida em dezembro de 2014 quando, por ocasião da publicação de seu relatório final, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) declarou que Jobim foi sequestrado, mantido em cativeiro por dois dias e meio, em local incerto, e interrogado sob tortura. “Suas características levam-nos a crer que se tenha tratado de um crime de Estado, consumado por motivação exclusivamente política”, concluiu o relatório. “Não nos surpreenderia que o sequestro, a tortura e o assassinato do embaixador José Pinheiro Jobim tivessem conexão com seu projeto de livro acerca da construção de Itaipu, cujo lançamento poderia suscitar amplo debate sobre o tema”. 

“A ditadura militar trouxe consigo um regime de terror. Agentes do Estado perpetraram graves violações de direitos humanos, protegidos pela impunidade. As vítimas nem sempre tinham relação direta com ações voltadas à derrubada da ditadura, mas eram atingidas pelo simples fato de suas condutas significarem alguma contestação aos governos militares”, contextualiza o advogado Pedro Dallari, ex-relator da Comissão Nacional da Verdade (CNV). “O assassinato da estilista Zuzu Angel (1921-1976) é demonstrativo desse regime de terror: sem ter militância política, ela foi morta em função de sua persistência na procura do filho Stuart Angel Jones (1946-1971), preso e executado pela ditadura e cujos restos mortais nunca foram localizados”. 

Outra vitória importante foi conquistada em setembro de 2018 quando, quase 40 anos depois da morte de Jobim, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), órgão ligado ao Ministério dos Direitos Humanos (MDH), determinou que sua certidão de óbito fosse retificada. A causa de sua morte, então, passou a constar como “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”. “O reconhecimento da responsabilidade do Estado foi, sem dúvida, importantíssimo. Mas, ainda tenho esperança de saber os nomes de seus torturadores e onde o mantiveram preso”, declara Lygia. “Além disso, não luto só por mim. Minha luta nunca chegará ao fim enquanto este país não tiver dignidade e não respeitar seus cidadãos. Enquanto outros sentirem a dor que, até hoje, eu sinto”. 

Quer conhecer mais sobre a história do Itamaraty? Confira o post sobre os 60 anos da nomeação do primeiro embaixador negro do Brasil.



André Bernardo
André Bernardo 

André Bernardo é jornalista. Aficcionado por cinema, literatura e música produziu conteúdo para mais de 80 jornais, como Zero Hora, Correio Braziliense e Diário de Pernambuco. Colabora para sites, como BBC Brasil, VICE e UOL, e revistas, como Superinteressante, MONET e Galileu. É autor do livro "A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo (Panda Books)", sobre teledramaturgia brasileira.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

A diplomacia cultural brasileira na década de 1960: continuidades e rupturas - palestra do diplomata Bruno Miranda Zetola

 

Palestra "A diplomacia cultural brasileira na década de 1960: continuidades e rupturas" 

30 de agosto de 2021, 16h-18h 
Videoconferência via Sympla Streaming

Centro de Estudos Globais da Universidade de Brasília convida para a palestra a ser proferida pelo pesquisador e diplomata Bruno Miranda Zetola(Ministério das Relações Exteriores), sob o tema A diplomacia cultural brasileira na década de 1960: continuidades e rupturas.  

Rupturas da ordem política são temas que fascinam historiadores, pois constituem momentos privilegiados para examinar tensões e clivagens nos fenômenos sociais. O Golpe Militar de 1964 no Brasil e a subsequente implantação do regime militar implicou uma inflexão política significativa, traduzindo-se em um governo anticomunista, pró-americano, conservador e apoiador de uma agenda econômica liberal. Rupturas políticas, entretanto, não necessariamente abrangem toda as dimensões da vida social, como a economia ou a cultura, e tampouco atingem todas as políticas públicas com a mesma intensidade. Embora relacionados e interdependentes, esses diferentes campos são tributários de características específicas e podem deflagrar, acentuar, mitigar, destoar ou mesmo inviabilizar rupturas mais globais. Nessa perspectiva, tenciona-se apresentar os efeitos do Golpe Militar de 1964 para a diplomacia cultural brasileira, em abordagem que a considera campo específico, embora interdependente da macroestrutura governamental. Argumenta-se que, embora o campo da diplomacia cultural tenha recebido significativa pressão por mudanças, a ruptura do regime político não levou imediatamente a um ajuste do conteúdo e dos processos de trabalho da área. Houve, assim, um movimento de resistência a mudanças que buscou manter os parâmetros de uma bem-sucedida diplomacia cultural verificada no governo democrático. 

 

Bruno Miranda Zétola é diplomata e doutor em História pela Universidade Federal do Paraná. É autor de diversos artigos a respeito da relação entre diplomacia e cultura. Desde 2019 está vinculado como pesquisador visitante junto ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília, onde desenvolve estágio de pesquisa pós-doutoral sobre a diplomacia cultural brasileira nas décadas de 1950 e 1960.

 

Transmissão do evento e inscrições

  • O evento será transmitido por meio da Plataforma Sympla Streaming (Zoom) e acontecerá no dia 30/08/2021, a partir das 16:00h.
  • Será conferido certificado de participação aos participantes inscritos com presença confirmada ao longo da conferência. Para realizar a inscrição, é necessário emitir ingresso gratuito

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Alberto do Rego Rangel: engenheiro, diplomata, escritor (1871-1945: obras publicadas (sugestão de Carlos U. Pozzobon)

 Meu colega de redes, e muito mais leitor do que eu, Carlos U. Pozzon, recomendou que eu "visitasse" algumas obras de um colega diplomata da primeira metade do século XX. Eis o que coletei, abaixo, com a ajuda do Google, da Wikipedia e do catálogo das bibliotecas do Itamaraty: agora falta localizar os livros, mas preciso perguntar por quais obras começar...

Paulo Roberto de Almeida

Alberto Rangel, engenheiro, escritor, diplomata

 

Levantamento efetuado em 17/02/2021

Paulo Roberto de Almeida

sob recomendação de Carlos U. Pozzobon

 

 

Alberto do Rego Rangel (Recife29 de maio de 1871 - Nova Friburgo14 de dezembro de 1945) foi um engenheiro e escritor brasileiro[1][2]

Formou-se em Engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro, em 1899. No ano seguinte, com a patente de alferes, comandou uma brigada de artilharia durante a Revolta da Armada. Depois de atuar em projetos de engenharia no Maranhão e Pará, deixou o Exército (que criticou no panfleto Fora de forma, de 1900) e mudou-se para o Amazonas, onde foi diretor geral de Terras e Colonização e mais tarde secretário do governo, durante a gestão de Antônio Constantino Nery[3]

Enquanto trabalhava para o governo do Amazonas escreveu seu primeiro livro, a coletânea de contos Inferno verde. A obra só foi publicada em 1908, com prefácio de Euclides da Cunha, de quem se tornara amigo na Escola Militar. 

Entrou para o serviço diplomático e viajou para a FrançaInglaterraEspanha e Portugal. Nesse período, pesquisou os documentos que serviriam de base para seus livros de temas históricos e biográficos, além de continuar escrevendo contos. 

No início da II Guerra Mundial, deixou seu cargo no consulado brasileiro em Paris e voltou para o Rio de Janeiro[4]

From: Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Rangel

 

Obras

·     1900 - Fora de forma

·     1908 - Inferno Verde (cenas e cenários do Amazonas)

·     1913 - Sombras n’água: vida e paisagens no Brasil equatorial

·     1914 - Rumos e perspectivas

·     1915 - Quinzenas de campo e guerra

·     1916 - D. Pedro I e a Marquesa de Santos

·     1919 - Quando o Brasil amanhecia

·     1921 - Livro de figuras

·     1924 - Lume e cinza

·     1927 - Textos e pretextos

·     1928 - Papéis pintados

·     1930 - Fura-mundo!

·     1935 - Gastão de Orléans – o último Conde d’Eu

·     1937 - No rolar do tempo – opiniões e testemunhos respigados no Arquivo do Orsay – Paris

·     1945 - A Educação do Príncipe – Esboço crítico e histórico sobre o Ensino de D. Pedro II

·     1945 - Águas revessas[5]

 

Referências

1)  Alberto do Rego Rangel. Pernambuco de A a Z 

2)  Um percevejo. Jornal Rascunho 

3)  Alberto Rangel. Sistema de Informações do Arquivo Nacional 

4)  LEANDRO, Rafael Voigt. Alberto Rangel e seu projeto literário para a Amazônia. Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira, UnB, 2011 

5)   LEANDRO, Rafael Voigt. Inferno Verde: representação literária da Amazônia na obra de Alberto Rangel. Revista Intercâmbio do Congresso de Humanidades. UnB, 2009 

Ícone de esboço

Este artigo sobre um(a) escritor(a) é um esboço relacionado ao Projeto Biografias. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

 

 

Obras constantes do catálogo das bibliotecas do Itamaraty (RJ e Brasília): 

 

1.

  

 

RANGEL, Alberto. Anotação às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 234 p. 

Call number: 94(81) R196an


2.

  

 

RANGEL, Alberto. Aspectos geraes do Brasil/ Alberto Rangel. Rio de Janeiro: [s.n.], [s.d]. v. 


3.

  

 

PEDRO Imperador do Brasil,; SANTOS, Domitila de Castro Canto e Melo Marquesa de,; RANGEL, Alberto. Cartas de Pedro I à Marquesa de Santos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. 633 p. 

Call number: 94(81) P372c

 

4.

  

 

RANGEL, Alberto. D. Pedro I e a marquesa de santos, á vista de cartas intimas e de outros documentos publicos e particulares. Rio de Janeiro: F. Alves, 1916. xii, 455 p. 

Call number: 551,01,014 ex. 2


5.

  

 

RANGEL, Alberto. Os dois ingleses: Strangford e Stuart. [S. l.]: Conselho Federal de Cultura, 1972. 120 p. 


6.

  

 

RANGEL, Alberto. Os dois ingleses: Strangford e Stuart. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972. 120 p. (Publicações do Arquivo Nacional ; 67)

 

7.

  

 

RANGEL, Alberto. Dom Pedro primeiro e a Marquesa de Santos: a vista de cartas intimas e de outros documentos publicos e particulares. 2. ed. Tours, França: Arrault, 1928. 468 p. 

Call number: CRC 929(Pedro I) R196dp 2. ed.

 

8.

  

 

RANGEL, Alberto. A educação do príncipe: esboço histórico e crítico sobre o ensino de d. Pedro. Rio de Janeiro: Agir, 1945. 294 p., [1] f. 

Call number: 551,05,005


9.

  

 

RANGEL, Alberto. Euclydes da Cunha ( Um pouco do coração e do caráter). Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio, Rodrigues & C., 1913. 38 p. 

Call number: 539,03,033

 

10.

  

 

RANGEL, Alberto. Fura-mundo ! (1773-1794). Paris: Ducharte & Van Buggenhoudt, 1930. 388 p. 

Call number: 574,03,003


11.

  

 

RANGEL, Alberto. Fura-Mundo: 1773-1794. Paris: Ducharte & Van Buggenhoudt, 1930. 388 p. 


12.

  

 

RANGEL, Alberto. Gastão de Orléans: o ultimo conde d'Eu. São Paulo: Companhia Editoria Nacional, 1935. 432 p. 

Call number: 550,05,033 ex. 2


13.

  

 

RANGEL, Alberto. Inferno verde: (scenas e scenarios do Amazonas). 4. ed. Tours: Arrault, 1927. 283 p. 


14.

  


RANGEL, Alberto. Lume e cinza: fantasmagorias, contos e recontos, fructos da terra. Rio de Janeiro: Scientifica, 1924. 288 p. 


15.

  

 

RANGEL, Alberto. Marginados: anotações às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 533 p. 

Call number: 04 R196ma

 

16.

  

 

RANGEL, Alberto. Marginados: anotações às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 534 p. (Arquivo Nacional. n. 76Pub. ;) 

Call number: 476,03,026


17.

  

 

RANGEL, Alberto. No rolar do tempo: opiniões e testemunhos respigados no archivo de Orsay-Paris. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936. 230 p. (Coleção documentos brasileiros ; 6). 

Call number: 94(81) R196n

 

18.

  

 

RANGEL, Alberto. Papeis pintados: (avulsos e fragmentos). Paris: Duchartre & Van Buggenhoudt, 1928. 294 p. 


19.

  

 

RANGEL, Alberto. Papeis pintados: (avulsos e fragmentos). Paris: Duchartre & Van Buggenhoudt, 1928. 294 p. 

Call number: CRC 821(81)-94 R196pp

 

20.

  

 

RANGEL, Alberto. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Lisboa: Classica, 1919. 368 p. 

  

 

21.

  

 

RANGEL, Alberto. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Lisboa: Classica, 1919. 368 p. 


22.

  

 

RANGEL, Alberto; FILGUEIRAS, Philomena. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Ed. comemorativa do centenário de nascimento do autor. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1971. 261 p. (Coleção de literatura brasileira ; 5)


23.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: (discursos e conferencias). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1934. 251 p. (Brasiliana ; 26) 


24.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: (discursos e conferencias).... São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1934. 251 p. (Brasiliana 26) 


25.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: discursos e conferências. Porto: Comp. Portuguesa, 1914. 264 p. 


26.

  

 

RANGEL, Alberto. Sombras n'agua: (vida e paizagens no Brasil equatorial). Rio de Janeiro: Livraria Scientífica Brasileira, 19--. 360 p. 


27.

  

 

RANGEL, Alberto. Textos e pretextos: incidentes da chronica brasileira à luz de documentos conservados na Europa. Tours: Arrault, 1926. 295 p. 


28.

  

 

RANGEL, Alberto. Trasanteontem: (episódios e relatos históricos). São Paulo: Martins, 1943. 242 p.