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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Falecimento do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, um grande diplomata - Nota da ADB e do Sinditamaraty

Era, sobretudo, um grande e devotado funcionário das relações exteriores, nacionalista e desenvolvimentista, ajustados aos tempos da diplomacia dos governos do PT. (PRA)

A Associação e Sindicato  dos Diplomatas Brasileiros (ADB Sindical) e o Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty), com profundo pesar, tomaram conhecimento do falecimento do eminente embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães foi uma figura central na diplomacia brasileira, dedicando sua vida ao serviço do país e à promoção de seus interesses no cenário internacional. Durante sua gestão como Secretário-Geral do Itamaraty, em particular, ele se destacou não apenas por sua habilidade diplomática, mas também por sua dedicação incansável ao aprimoramento do Ministério das Relações Exteriores.

Sob sua liderança, foram implementadas políticas significativas visando o desenvolvimento profissional, a valorização do Itamaraty e de seus servidores. Essas ações tiveram um impacto duradouro, contribuindo para a formação de uma diplomacia mais forte e mais preparada para enfrentar os desafios do século XXI.

Sua partida deixa um legado de liderança comprometida com a excelência e o fortalecimento do serviço exterior brasileiro. Expressamos nossas mais sinceras condolências à sua família, amigos e colegas.

Neste momento de tristeza, reafirmamos nosso compromisso em honrar sua memória, continuando o trabalho de promover os interesses do Brasil no mundo e apoiando as carreiras do Itamaraty, um ideal pelo qual ele tanto lutou.

Descanse em paz, Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Seu legado continuará vivo, a nos inspirar no fortalecimento do serviço exterior, e na construção de um Itamaraty mais moderno e sintonizado com os legítimos anseios do povo brasileiro.

 

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Homenagem do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) a Alberto da Costa e Silva, diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador brasileiro.

 O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) manifesta profundo pesar pelo falecimento do diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador brasileiro, Alberto da Costa e Silva. 

Reconhecido como um dos mais proeminentes intelectuais do país, Alberto era membro da Academia Brasileira de Letras e dedicou-se intensamente ao estudo da cultura e história africanas, tendo atuado como embaixador do Brasil por quatro anos na Nigéria e no Benim. Sua contribuição para o entendimento e apreciação da herança africana é um legado que perdurará através de suas obras e realizações.

Alberto teve uma longa e relevante carreira diplomática, atuando como embaixador em Portugal (1986-1990), na Colômbia (1990-1993) e no Paraguai (1993-1995). Além disso, ocupou o cargo de Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores entre 1995 e 1998.

Alberto deixou um vasto legado literário, composto por quase 40 livros, abrangendo poesia, ensaios, memórias e história e foi um intelectual engajado com as questões contemporâneas. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000 e atuou como seu presidente em 2002 e 2003. Sua notável carreira acadêmica e seus estudos sobre a história africana culminaram em 2014 com o Prêmio Camões, o mais prestigiado reconhecimento literário em língua portuguesa.

Recentemente, um artigo sobre Alberto da Costa e Silva foi publicado na 6ª edição da CEBRI-Revista, com seção especial dedicada ao continente africano. Nele, a autora Marina de Mello e Souza ressalta a importância da obra do Embaixador para o estudo da História da África. Leia o artigo aqui.

O CEBRI transmite suas sinceras condolências à família, especialmente aos seus três filhos, Elza Maria, Antonio Francisco e Pedro Miguel, bem como aos seus sete netos e bisneta.

A partida de Alberto da Costa e Silva representa uma perda tanto para a diplomacia quanto para a cultura brasileira. Sua obra, porém, permanece viva, especialmente para as gerações futuras interessadas no estudo da África, um continente de extrema relevância para o Brasil e sua política externa.

domingo, 15 de março de 2020

Morre aos 89 o diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, membro da ABL

Morre aos 89 o diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, membro da ABL
RIO DE JANEIRO
FOLHA DE S. PAULO, 15/03/2020


Affonso Arinos de Mello Franco Filho, diplomata, escritor e político brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras - ABL

Morreu na manhã deste domingo (15) o escritor, diplomata e político Affonso Arinos de Mello Franco, 89, que ocupava a cadeira número 17 da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Segundo parentes, o acadêmico faleceu por volta das 10h em sua casa, no Rio de Janeiro, em razão de problemas respiratórios.
O enterro ocorrerá na segunda-feira (16) às 13h30 no mausoléu da Academia Brasileira de Letras. Não será realizado velório em razão da recomendação das autoridades de saúde de se evitar reuniões e aglomerações durante a pandemia do coronavírus.
O único representante da Academia que deve comparecer é o presidente Marco Lucchesi, já que os membros são idosos e portanto fazem parte do grupo de pessoas com maior risco de prejuízos à saúde em razão da ação do vírus.
Nascido em Belo Horizonte em 1930, Affonso Arinos foi eleito para a ABL em julho de 1999, sucedendo Antonio Houaiss. Tomou posse em novembro do mesmo ano e foi recebido pelo acadêmico e ex-presidente da República José Sarney.

Ele é filho do também imortal Afonso Arinos de Melo Franco (1905-1990), importante jurista, político, historiador, professor, ensaísta e crítico. É avô dos jornalistas Bernardo Mello Franco, colunista do jornal O Globo, e Luiza Mello Franco.
O ex-presidente Sarney lamentou a morte. “Affonso Arinos prosseguiu a linha dos Arinos nas vertentes da literatura, da diplomacia e da política. Ele honrava a casa [ABL] e teve carreira brilhante no Itamaraty. É uma grande perda para o país”, disse Sarney.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também manifestou pesar.
“Fui colega de Affonso Arinos Filho na ABL e de seu pai, de quem levava o nome, na Assembleia Nacional Constituinte e no PSDB. Seu avô, creio, foi colega de meu avô no seminário religioso de Paracatu, onde estudaram", afirmou.
"Affonsinho, como era chamado, foi escritor e memorialista. Homem culto e educado, teve amigos em vários setores do país, notadamente entre poetas e músicos. Vinicius do Moraes (que também foi diplomata) foi seu amigo próximo. Combativo, como foram os seus, nunca, entretanto, perdeu a elegância. Deixa muitas obras (uma inclusive sobre o Brasil holandês) e mais ainda, saudades”, disse o ex-presidente.
Rubens Ricupero, ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda (governo Itamar Franco), e ex-embaixador em Genebra, Washington e Roma e atual diretor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), lembrou da atuação de Affonso Arinos no Congresso.
“Affonso Arinos foi um misto de diplomata e de político. Nos anos 1960, exerceu vários mandatos de deputado. Na época do governo Castelo Branco [1964-1967], o governo americano do presidente Johnson estava pressionando muito o Brasil a participar da guerra do Vietnã, chegou até a enviar ao Brasil um emissário de alto nível. O Affonso Arinos, que era deputado na época, alertou Bilac Pinto, que era o presidente da Câmara dos Deputados, e o Bilac Pinto se mobilizou junto ao governo para não aceitar o pedido”.
Segundo Ricupero, naquele período o Brasil tinha uma política externa em relação aos EUA semelhante à do atual governo. “Foi um outro momento em que o governo brasileiro tinha escolhido o alinhamento incondicional com o governo americano, e em nome disso participamos da intervenção americana em São Domingos”.
“O Affonso Arinos, fiel ao espírito do pai e da política externa independente, era um crítico desse alinhamento e teve um papel bastante decisivo em mobilizar a oposição a que o Brasil participasse da Guerra do Vietnã, o que teria sido um desastre”, afirma o ex-ministro.
Segundo o advogado e ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Velloso, Arinos “é de estirpe nobre, no que diz respeito à cultura. Filho do ex-senador Affonso Arinos, que foi dos maiores intelectuais e políticos brasileiros, vai fazer falta”.
Amigos da Academia lamentaram o falecimento, lembraram momentos alegres e disseram que já fazia alguns anos que ele não se reunia com os demais, após a morte de sua esposa e uma piora em seu estado de saúde. "Sentimos muito a falta dele, porque ele era muito atuante, trazia boas ideias e tinha muita história para contar", afirmou Merval Pereira, secretário-geral da ABL.

Merval escreveu o prefácio do último de seus livros, "Tramonto" (Editora Objetiva, 2013), que significa pôr do sol em italiano. "É um dos livros mais bonitos que li nos últimos tempos. É de uma tremenda sensibilidade e inteligência, mistura política com memórias, é fantástico", elogiou.
A socióloga, psicóloga e filósofa Barbara Freitag-Rouanet lembra que ele era um ótimo cantor. "Perdemos um grande amigo e um grande diplomata. Os momentos fora do trabalho e da atividade literária foram sempre muito alegres.​ Nós cantávamos e jantávamos juntos", disse ela, também em nome do marido e membro da ABL Sérgio Paulo Rouanet.

A escritora e imortal Nélida Piñon lamentou o fato de não poder comparecer ao velório por causa do coronavírus: "Vamos homenageá-lo tão logo sejamos liberados dessa quarentena. Vamos abrir as portas da sessão plenária em homenagem a ele". A ABL decidiu fechar as portas na quinta (12).
​Assim como seu pai, Affonso Arinos construiu a vida profissional e acadêmica em múltiplas áreas. Na década de 1950, formou-se em ciências jurídicas e sociais e fez doutorado na faculdade de direito da Universidade do Brasil (hoje UFRJ). Também fez cursos de diplomacia do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores.
Fora do Brasil, estudou política, direito e comércio internacional nas Nações Unidas em Nova York e mais tarde em Roma e Genebra. Continuou em salas de aula até 1980, passando por uma pós-graduação em economia na Fundação Getulio Vargas e por cursos na Escola Superior de Guerra, do Ministério da Defesa.
Atuou como diplomata a partir de 1952, começando como cônsul de terceira classe. Também trabalhou nas áreas jornalística, cultural, legislativa e docente --em 1964 e 1965 ​, foi professor de civilização contemporânea no departamento de jornalismo da Universidade de Brasília.
Foi correspondente do Jornal do Brasil em Roma​ e colaborou com diversos veículos, como a revista Manchete, a revista Fatos e Fotos/Gente, a TV Educativa, a TV Manchete e o Jornal do Commercio.
Nos anos 1960, foi deputado da Assembleia Constituinte e Legislativa do Estado da Guanabara (hoje RJ) e se destacou como membro da Comissão de Constituição e Justiça e como presidente da Comissão de Educação. De 1964 a 1966, foi deputado federal.
Affonso Arinos teve seis filhos, onze netos e um bisneto.​
Colaborou Flávio Ferreira

sábado, 30 de julho de 2016

Jordan Young: morte de um brasilianista

Jordan M. Young, um grande brasilianista, morreu em 21 de Julho de 2016Abaixo, uma descrição de seu livro mais autobiográfico:


Lost in the Stars of the Southern Cross


Paperback, 224 Pages
Just weeks before the bombing of Pearl Harbor, 21-year-old Jordan Young arrived in Brazil with $35 in his pocket and dreams of adventure. Unable to return to the U.S. because of war travel restrictions, Jordan studied at the University of São Paulo, worked as a rural sociologist in the Amazon, and helped organize the Rubber Army to support the WWII war effort. In the process he met the Brazilian beauty whom he married many years later. His memoir tells the story of the Brazil of the 1940s that no longer exists and the making of a Brazilianist. Jordan M. Young is professor emeritus of history at Pace University in New York, NY. He is the author of several books about Brazil and an early proponent of the study of Brazilian culture in the United States.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Falecimento do Embaixador, ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia - nota do CEBRI, memorias Paulo Roberto de Almeida

Homenagem ao ex-chanceler, embaixador Luiz Felipe Lampreia

Paulo Roberto de Almeida
Por ocasião de seu falecimento, em 2/02/2016

Nunca trabalhei sob a ordens diretas do Embaixador Lampreia, mas tive o prazer de desfrutar, usufruir, aprender e colaborar com ele, enquanto chefe de missão ou chanceler, nas inúmeras interfaces de trabalho que pude ter com ele, seja na Secretaria de Estado -- quando eu me ocupava de assuntos financeiros -- seja nos postos, notadamente em Paris e em Washington, quando ele passava rápida ou ocasionalmente, ou quando ele se delongava para os compromissos, multilaterais ou bilaterais, que estivessem na agenda de relações exteriores e de política internacional do Brasil.
Em todas essas ocasiões, pude avaliar seu conhecimento perfeito dos temas da agenda econômica, comercial ou financeira, dos quais eu me ocupava, e sobretudo seu senso de equilíbrio, seja em relação ao Gatt-OMC, organizações de Bretton Woods, Mercosul, negociações da Alca, acordos de investimento, e vários outros assuntos dos quais fui sucessivamente responsável e em relação aos quais cabia a ele tomar a decisão final, no âmbito do nosso ministério (e acima dele, na Presidência da República).
Nunca tive esse privilégio de trabalhar sob suas ordens diretas, mas tive a oportunidade de preparar “position papers”, ou notas de informação, e até mesmo discursos, quando ele tinha de ir ao Congresso, falar em uma ou outra das comissões de relações exteriores, ou quando tinha de falar em público, em algum encontro diplomático ou seminário acadêmico.
Lembro-me, especialmente (e devo ter o texto registrado como documento de trabalho em meu computador), de ter preparado, em 1993, subsídios para seu discurso de posse, quando o então senador Fernando Henrique Cardoso foi designado chanceler pelo presidente Itamar Franco, e ele assumiu a Secretaria Geral do Itamaraty, o mais alto posto, fora do cargo político de ministro de Estado (que ele também assumiu mais tarde), a que pode aspirar um diplomata. Foi o momento em que o Brasil distanciou-se do conceito bastante vago e pouco operacional de América Latina, para adotar a prioridade política da América do Sul, nosso ambiente de "manobras diplomáticas" naturais para a construção de um espaço econômico integrado no continente a partir do Mercosul (ainda não tinha sido lançada a Alca, mas o presidente Bush pai já tinha proposta a "Iniciativa para as Américas" e o Brasil tomou a iniciativa de reforçar os laços sub-regionais).
Anos mais tarde, lembro-me igualmente de tê-lo questionado sobre o "esquecimento relativo" da América do Sul (e isso foi antes da reunião de presidentes da região em 2000, a convite do presidente FHC), durante esses anos todos em que ele foi chanceler. Ele me respondeu evasivamente, mas era claro que trabalhar com os vizinhos, sobretudo num projeto de livre comércio, quando o Brasil estava claramente à frente de vários dos nossos vizinhos, seja industrialmente ou tecnologicamente, era bastante difícil, e Lampreia tinha plena consciência disso. Os projetos de acordos comerciais com os vizinhos do Grupo Andino (logo em seguida CAN) não avançavam como gostaríamos. 
Foi por isso, aliás, que o Brasil propôs a IIRSA, em 2000, Iniciativa de Integração Física da América do Sul, que depois foi sabotada deliberadamente pelos companheiros, quando eles assumiram o poder em 2003, ou pelo menos colocada em bases políticas antiamericanas, no experimento da CASA, que depois redundou (por manobras do caudilho Chávez) na Unasul bolivariana, dando um golpe nas pretensões e nos projetos do Brasil).
Lampreia provavelmente teria atuado de maneira muito diferente se tivesse, por um desses acasos da história, continuado à frente do Itamaraty. Por isso mesmo, sempre admirei seu senso de equilíbrio, seu jeito ponderado e cuidadoso de atuar nas diversas frentes de trabalho, a anos-luz de distância da pirotecnia e do histrionismo conduzido mais tarde pelos companheiros. 
Um último episódio de meu relacionamento com ele posso revelar aqui, pois ele foi um dos muitos colegas -- vários embaixadores experientes -- que “caíram como patinhos”, se ouso dizer, nas minhas memórias apócrifas do Barão do Rio Branco.
Corria o ano de 2011, e estavam sendo feito preparativos para comemorar dignamente os 100 anos de falecimento do nosso patrono maior da diplomacia, Juca Paranhos. Eu inventei um caderno desconhecido, “descoberto” por acaso nos arquivos históricos do Itamaraty do Rio de Janeiro, e me pus a escrever eu mesmo as "memórias" de Rio Branco, com sutilezas, subentendidos e alusões muito pertinentes ao ambiente da época, mas também com “mensagens” subreptícias dirigidas a nossa própria época, um pouco sobretudo (Argentina, obviamente, os militares também, e vários outros episódios muito conhecidos dos biógrafos e leitores, especialmente diplomatas). Comecei a publicar no meu blog, esses "episódios" da vida do Barão, que tinham permanecido na obscuridade durante cem anos, e, para minha surpresa, muita gente graúda se deixou convencer pela veracidade do caderno.  Descendentes do Barão vieram me interrogar onde estaria esse caderno até então desconhecido, e eu disse que tinha obtido uma cópia anos atrás no próprio arquivo, e mais não disse.
Lembro-me, então, que estando em Paris, para aulas na Sorbonne, em março ou abril de 2012, encontrei-me a seu pedido com Luiz Felipe Lampreia, que me confessou que foi um dos muitos que se deixou levar pela minha brincadeira com a história.
Nesse momento, tive de contar a verdade, pois o jornalista Merval Pereira pretendia publicar em sua coluna diversos dos meus "trechos das memórias do Barão", como se verdadeiros fossem. Para evitar um constrangimento ao jornalista, tive de confessar a tramoia. Mas, vários embaixadores se entusiasmaram com a minha “descoberta” -- Lampreia entre eles -- a ponto de me sugerir publicação completa, e não apenas em “pílulas” (que eu ia fabricando de acordo com a imaginação, e tentando adaptar o mais possível ¡a linguagem da época; o Embaixador Ricupero, aliás, me sugeriu várias expressões do Barão, como essa coisa de "suar dez lenços", para subir a serra até Petrópolis). 
Enfim, foi uma tarde algumas gargalhadas e uma conversa sumamente agradável num hotel de Saint Germain, que não sei se foi um dos que hospedaram D. Pedro II em seu exílio.
Devo tê-lo encontrado uma ou duas vezes mais, no Rio ou em Brasília, e trocamos diversas correspondências eletrônicas ao longo destes últimos anos, quando ele escrevia seus artigos e eu comentava, ou quando eu lhe mandava alguns materiais de minha lavra.
Ficou faltando, e aqui confesso minha frustração, uma resenha comparada, ou paralela, que eu pretendia faze de seu livro sobre o frustrado acordo de Teheran, com a Turquia, a propósito do programa nuclear iraniano, objeto igualmente de um livro do ex-chanceler Amorim (que conduziu uma política externa não consensual, objeto de diversas críticas tópicas, mas elegantes, de Lampreia). Ainda vou fazer, assim como escrever mais alguns textos com base em seus livros e artigos.
Um grande chanceler: expresso aqui meus mais profundos sentimentos e condolências a todos os seus familiares, que confesso ter conhecido muito pouco, e expresso aqui minha simpatia e elevada consideração a todos os seus muitos alunos, da ESPM-Rio, entre outros, e também a seus muitos admiradores, entre os quais eu me incluo, certamente.
Numa época, e que faltam estadistas ao Brasil (e como), Lampreia se colocava exatamente entre o reduzidíssimo número de personalidades que tinham perfeita consciência dos desafios colocados ao país, e que sabia o que, e como, precisávamos fazer para construir uma nação respeitada no ambiente internacional, sem essas demonstrações de amadorismo e de sectarismo dos últimos treze anos.
Minha homenagem, portanto, ao ex-chanceler Lampreia, um dos grandes dos últimos cem anos, com Rio Branco, Oswaldo Aranha, Silveirinha e Celso Lafer.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 2 de fevereiro de 2016

Nota de pesar sobre o falecimento do Embaixador Luiz Felipe Lampreia
 CEBRI, 2/02/2016

É com imenso pesar que o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) comunica, em 2 de fevereiro, a perda de um dos grandes nomes da diplomacia brasileira, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, conselheiro fundador do CEBRI, ex-Presidente do Conselho Curador  e referência global em relações internacionais.

Lampreia foi um dos esteios do CEBRI desde a sua fundação. Graças a ele, o CEBRI consolidou-se como um respeitado centro de discussões sobre o posicionamento do Brasil no cenário internacional. “O Brasil perde uma referência em relações internacionais, e o CEBRI, um de seus mentores. Colaborador atuante, objetivo e pragmático, o Embaixador Lampreia era grande incentivador de uma postura ousada e atuante do CEBRI”, destaca o presidente Rafael Benke. “Cabe-nos agora trabalhar arduamente para continuar fazendo realidade esse desejo”, finaliza.

Com destacada atuação no tratamento de temas financeiros, econômicos e comerciais, o Embaixador Lampreia foi um ícone da diplomacia brasileira, dedicando-se às relações exteriores do país por três décadas. Foi um dos mais longevos ministros das Relações Exteriores, de 1995 a 2001, além de representante permanente do Brasil junto aos organismos internacionais sediados em Genebra, na Suíça. Mesmo aposentado, continuava atuante: mantinha um blog no GLOBO, escrevia artigos e participava de debates e entrevistas sobre política externa com frequência. Era presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e integrava o Conselho de várias empresas nacionais e multinacionais.

O CEBRI lamenta sua partida prematura, transmite sua solidariedade aos familiares, amigos e admiradores do Embaixador Lampreia, e coloca o e-mail à disposição para receber mensagens e depoimentos que serão encaminhados à família: institucional@cebri.org.br

O corpo do embaixador será velado no dia 04.02, quinta-feira, na Capela 3 do Memorial do Carmo.
Rua Monsenhor Manoel Gomes, 287 - Caju, Rio de Janeiro
11h- Velório
14h- Cremação

Rafael Benke
Presidente do Conselho Curador - Centro Brasileiro de Relações Internacionais

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Uma lagrima para... Janer Cristaldo, uma inteligencia que se vai...

Tomo conhecimento, tardiamente, embora desconfiasse que isso pudesse acontecer em função de sua ausência continuada, do passamento de Janer Cristaldo, o mais saboroso dos cronistas de nossa atualidade e também, e sobretudo, de nossas desatualidades.

Janer Cristaldo sempre tinha uma palavra inteligente, em defesa da... inteligência, contra a incultura que nos cerca impunemente, que tenta idiotizar todo mundo, e contra a qual ele protestava com sua verve irônica a cada vez.
Aprendi muito lendo seu blog (http://cristaldo.blogspot.com/) e também me diverti bastante.
Deixa saudades.
Transcrevo aqui uma de suas últimas postagens que, já no contexto de sua doença, reproduzia material de 3 ou 4 anos atrás, mas ainda atualíssimo.
O post abaixo se refere às eleições de 2010.
Você será lembrado, caro Janer, e chorado, não só pelos seus queridos, mas todos aqueles que o liam.
Meus respeitos e minha homenagem.
Paulo Roberto de Almeida

BRASIL NÃO MERECE
SEQUER UMA LÁGRIMA *
 
sexta-feira, agosto 29, 2014
[Publicado originalmente: 27/09/2010]

Domingo que vem é meu dia de protesto cívico. Como faço há já vinte anos, não vou votar. Há quem defenda a idéia de votar no candidato menos pior. Discordo. Menos pior também é pior. Sem falar que me parece absurdo, em regime democrático, ser obrigado a votar. Em todo o Primeiro Mundo, o voto é facultativo. Só nesta América Latina, que vai a reboque da História, é obrigatório. 

Obrigatório em termos. Você sempre pode anular seu voto. Mas tem de comparecer às urnas. É o que tenho feito de 1990 para cá. Meu título continua em Florianópolis. No domingo, perto de meio-dia, vou justificar a ausência de meu domicílio eleitoral. E depois vou para meu boteco, aperitivar. Hoje, em São Paulo, pode-se beber em dia de eleições. Quando não se podia, meu garçom me servia um uísque e punha ao lado do copo uma garrafa de guaraná.

Não quero ser radical. Mas diria que qualquer pessoa de bom senso não pode votar nestas eleições. De um lado, a candidata preferencial é uma ex-guerrilheira que participou de um grupo terrorista e até hoje se orgulha disto. O segundo colocado não pode sequer acusá-la de terrorista, pois militou em outro grupo terrorista. Os três candidatos mais cotados são todos de extração marxista. Vinte anos após a queda do Muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, no Brasil o fundo do ar ainda é vermelho.

O mais patético – para não dizer pateta – dos candidatos é sem dúvida José Serra. Não ousa dizer uma palavrinha contra seu adversário, o patrocinador de Dilma Rousseff. Pelo contrário, o colocou em sua campanha eleitoral. Ao dar-se conta que isto era um tiro no pé, retirou-o de sua publicidade. Mas acabou fazendo pior. Mais adiante, alertou o eleitorado: se vocês querem Lula em 2014, têm de eleger-me agora. Se Dilma vencer, Lula não emplaca. Traduzindo em bom português, o que disse Serra? Disse que sem ele seu adversário não será eleito. Com oposição assim, o PT não precisa de base aliada.

Os políticos viraram bonecos de ventríloquo. Quem fala é o marqueteiro. O candidato repete. Mais ainda: para cúmulo do ridículo, o PSDB contratou para fazer sua campanha um guru indiano sediado nos Estados Unidos. A dez mil dólares por dia. Pode? Recorrer aos serviços de um vigarista estrangeiro para conduzir uma campanha eleitoral? Edir Macedo faria melhor. Ao constatar a mancada, os tucanos mandaram o guru de volta aos States. Teria sido mais barato enviar o Serra para fazer meditação transcendental em um ashram em Poona.

Os tucanos têm em mãos farto material para desmoralizar o PT. Desde o mensalão, dólares na cueca, o assassinato de Celso Daniel, os escândalos da Casa Civil, desde Zé Dirceu a Erenice, os cinco milhões de reais dados de mão beijada a Lulinha, e por aí vai. Não usaram esta munição. Serra, já que vai perder, podia ao menos perder com dignidade. Vai morrer humilhado.

Marina da Silva, sem comentários. Lanterninha, insiste no discurso surrado de meio-ambiente, cultua também Lula e põe-se em cima do muro ante qualquer questão polêmica. É boa alternativa para os petistas que admitem existir corrupção no governo do PT. Votam na morena Marina no primeiro turno e no segundo voltam ao redil. 

Almas ingênuas ainda acreditam numa virada. Recebo não poucos e-mails de coronéis de pijama que ainda acreditam em milagre. Coronel, quando veste pijama, vira valente. Quando na ativa, é cachorro que enfia o rabo entre as pernas com medo da voz do dono. Outro que alimenta esperanças é o recórter chapa-branca tucanopapista hidrófobo da Veja. Que tenha suas preferências políticas, vá lá. Que acredite que o PSDB possa levar é ingenuidade atroz. Ou subserviência de jornalista vil. A última chance de Serra seria uma recidiva de linfoma. Mas estamos a uma semana das eleições e a recidiva não ocorreu. Se ocorrer mais tarde, será tarde demais.

Dona Dilma está com todas as chances de ganhar no primeiro turno. Serra que se dê por feliz se não levar capote. Quando um candidato deposita suas esperanças em chegar ao segundo turno, como faz o tucano, é porque já deu as eleições por perdidas. Pior ainda: antes mesmo do primeiro turno, Serra está lançando sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Como pode um eleitor votar em um candidato que já pensa em receber um docinho pela derrota? Pelo jeito, Serra ainda não percebeu que estas eleições significam seu enterro político.

Dias piores esperam o Brasil. Nada de melhor se pode esperar de uma terrorista – que eu saiba, a candidata ainda não se penitenciou de seu passado – dominada pela atrabilis e mandonismo. E que consegue falar um pior português que o Supremo Apedeuta. País inacreditável, este nosso: pelo jeito ainda sentiremos saudades de Lula.

De minha parte, tanto faz como tanto fez. Desde há muito não deposito esperança nenhuma neste Brasil. Quando um presidente que acoberta crimes durante dois mandatos tem ainda 80% de aprovação do eleitorado, nada mais se pode fazer. Lasciate ogni speranza voi che entrate! 

Vou cuidar de meu jardim. Tratar de bem viver os dias que me restam. O Brasil que se lixe. Povinho que elege Lula ou Dilma não merece sequer uma lágrima. 

* 27/09/2010

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Uma lagrima para... Oscar Soto Lorenzo Fernandez: um grande intelectual

Recebo esta triste notícia:

Nota de falecimento

Faleceu ontem, 16/07, em Brasília, o Embaixador Oscar Soto Lorenzo Fernandez, membro da primeira turma do Instituto Rio Branco. O corpo será velado no Cemitério Campo da Esperança, Capela 3, a partir das 10h de hoje 17/07, e o enterro será às 16h.


O Embaixador Lorenzo Fernandez foi uma das pessoas mais encantadoras que conheci, não na carreira, pois quando o conheci ele já estava aposentado, mas na vida intelectual.
Como intelectual, ele tinha uma enorme biblioteca, e também escreveu e publicou muito. Encontrei artigos dele desde o final dos anos 1950, e durante as duas décadas seguintes, ademais de livros sobre o desenvolvimento brasileiro.
Tive o prazer de fazer, para a seção Prata da Casa do Boletim ADB, uma mini-resenha de um dos seus livros, Três Séculos e uma Geração que segue aqui:


Oscar S. Lorenzo Fernandez:  
Três Séculos e uma Geração
 (Brasília: Funag, 2010, 368 p.; ISBN: 978-85-7631-261-1)

O livro é exatamente o que o título indica: um diplomata, nascido no início do século XX, que carregava ainda as marcas do século XIX, chega ao século XXI para relatar seu brilhante itinerário, que é o de uma geração que pretendeu modernizar o Brasil e conseguiu, pelo menos parcialmente. Poucos brasileiros dessa geração que atravessou o dramático século XX possuem o estofo intelectual, a formação acadêmica, a experiência de vida, a vivência internacional e os conhecimentos econômicos e em ciência e tecnologia do embaixador Lorenzo Fernandez, e poucos diplomatas seriam capazes de retraçar esse itinerário, numa obra tão rica de informações, de opiniões e de argumentos embasados na mais pura lógica e na herança acumulada pelas civilizações ao longo do tempo. Estupendo.