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terça-feira, 24 de abril de 2018

Guerra comercial EUA-China: Hangout do Instituto Millenium

Recebi o convite, não tinha porque recusar, a despeito que não me considero a pessoa mais qualificada para o tema, pois estou há alguns anos afastado das negociações comerciais no âmbito da OMC, ou em qualquer outro âmbito, como no Mercosul, por exemplo.
Fui informado sobre o o link para o evento no Facebook:
Paulo Roberto de Almeida

Imil promove Hangout “Incerteza global”, nesta quinta-feira

Debate sobre efeitos de uma guerra comercial entre EUA e China contará com participação de Marcos Troyjo, Paulo Roberto de Almeida e Servulo Dias

Como uma guerra comercial entre EUA e China pode afetar a economia do Brasil e do mundo?
Para esclarecer esta e outras questões a respeito dos novos traços que definem a economia global, o Instituto Millenium promove, na próxima quinta-feira, dia 26 de abril, um encontro virtual com especialistas no tema. Mediado pelo economista Servulo Dias, os diplomatas Marcos Troyjo e Paulo Roberto de Almeida debaterão o protecionismo e os efeitos da iminente guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo.
O hangout será transmitido às 15h (horário de Brasília) no canal do Instituto Millenium no YouTube, redes sociais e aqui no site do Imil. Confirme a presença na página do evento no Facebok e não perca!
Sobre os debatedores
Marcos Troyjo
É graduado em ciência política e economia pela Universidade de São Paulo (USP), doutor em sociologia das relações internacionais pela USP e diplomata. É integrante do Conselho Consultivo do Fórum Econômico Mundial, diretor do BRICLab da Universidade Columbia, pesquisador do Centre d´Études sur l´Actuel et le Quotidien (CEAQ) da Universidade Paris-Descartes (Sorbonne), fundador do Centro de Diplomacia Empresarial e conselheiro do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). É colunista do jornal “Folha de S.Paulo”.
Paulo Roberto de Almeida
É doutor em Ciências Sociais (Université Libre de Bruxelles), mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia), licenciado em Ciências Sociais pela Université Libre de Bruxelles) e diplomata. Serviu em diversos postos no exterior e exerceu funções na Secretaria de Estado, geralmente nas áreas de comércio, integração, finanças e investimentos. Foi professor de Sociologia Política no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília (1986-87) e atualmente leciona no Centro Universitário de Brasília (Uniceub).
Servulo Dias (mediador)
E economista formado pela FEA/USP, administrador de empresas e especialista em marketing de serviços pela FIA. Ocupou posições executivas na área comercial e de desenvolvimento de novos negócios em empresas nacionais e multinacionais de grande porte. Atuou em projetos de inovação e redefinição de modelos de negócio na indústria química, embalagens, papel e celulose e fotografia/varejo. Atualmente ocupa a posição de diretor comercial para a América Latina na MGITECH Group.

O link acima, para o meu nome, remete a um CV um pouco mais alentado: 

Doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1984), mestre em planejamento econômico e economia internacional pelo Colégio dos Países em Desenvolvimento da Universidade de Estado de Antuérpia (1976), formou-se em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1974). Defendeu tese de doutorado em temática de sociologia histórica, sobre as revoluções burguesas e a modernização capitalista do Brasil; elaborou tese de história diplomática no curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores (1997) sobre a diplomacia econômica do Brasil no século XIX. Desde 2004, é professor no programa de mestrado e doutorado em direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub); foi professor orientador no mestrado em diplomacia do Instituto Rio Branco do Itamaraty. Tem sido regularmente convidado para ensinar em universidades brasileiras e estrangeiras. Possui experiência nas áreas de relações internacionais e em sociologia, com ênfase em desenvolvimento comparado, atuando principalmente nos seguintes temas: relações econômicas internacionais, política externa brasileira, história diplomática, desenvolvimento econômico brasileiro, globalização e segurança internacional. Foi professor convidado no Institut de Hautes Etudes de l'Amérique Latine (Sorbonne), Paris, de janeiro a junho de 2012. Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Foi ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington (1999-2003). Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Comissário Geral Adjunto do Pavilhão do Brasil na Shanghai Expo 2010. De janeiro de 2013 a outubro de 2015 serviu como Cônsul Geral Adjunto do Brasil em Hartford, CT, EUA. Desde 3/08/2016, é diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Itamaraty. Publicou mais de uma dezena de livros individuais, organizou diversas outras obras, participou de dezenas de livros coletivos e assinou centenas de artigos em revistas especializadas (ver trabalhos em: www.pralmeida.org; blog: diplomatizzando.blogspot.com).

sexta-feira, 9 de março de 2018

Guerra comercial: Trump exercendo seu direito de destruir o sistema multilateral de comercio

US TARIFFS FOR STEEL AND ALUMINIUM


THE WHITE HOUSE. GLOBAL AFFAIRS. 03/08/2018. US Proclamations on Adjusting Imports of Steel and Aluminium into the United States. Canadian reaction.

DOCUMENT: http://e-gonomics.blogspot.com/2018/03/us-economics-white-house.html?spref=tw

THE WHITE HOUSE. PORTAL G1. 08/03/2018. EUA impõem sobretaxa de 25% ao aço importado e 10% ao alumínio. Medida vale a partir de 23 de março e exclui Canadá e México da nova tributação; outros países poderão pedir para entrar em lista de exceção.
Por Marina Gazzoni, Karina Trevizan e Darlan Alvarenga, G1

O presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (8) a criação de novas taxas para a importação de aço e alumínio ao país. O país cobrará uma sobretaxa de 25% para o aço importado e de 10% para o alumínio. A medida vale para o aço que entrar nos EUA a partir de 23 de março.
  • Nova taxa ao aço é de 25%; para o alumínio, tarifa é de 10%.
  • Canadá e México entram em lista de exceções e não serão tributados.
  • Trump poderá negociar a exclusão de outros países separadamente.
  • Medida foi tomada por meio da seção 232, que visa a proteger a segurança nacional.
  • Brasil é o 2º maior exportador de aço para os EUA e será impactado.
  • Ações das siderúrgicas lideraram as perdas na bolsa de valores.

As novas tarifas serão aplicadas a todos os países em um primeiro momento, com exceção de Canadá e México. Segundo ele, as negociações com esses países serão feitas separadamente no âmbito do Nafta ( Tratado de Livre-Comércio da América do Norte).

Trump abriu a possibilidade de que outros países sejam excluídos da cobrança e que a medida será “muito justa”, mas ressalvou: “especialmente para aqueles países que nos tratam bem”.

Segurança nacional

Para aumentar a tributação do aço importado, Trump acessou um dispositivo criado para defender a segurança nacional norte-americana, a chamada seção 232, que não era usado desde 2001.

Em seu discurso, Trump disse que a decisão visa a acabar com práticas comerciais injustas e preservar a segurança nacional. "A indústria americana de aço e alumínio vem sendo devastada por práticas comerciais internacionais agressivas. É um assalto ao nosso país", disse Trump, em seu discurso antes da assinatura da medida.

Ele ressaltou que a indústria nacional precisa ter "independência" e isso requer a produção de aço. "Se não tem aço, não tem país. Nossas indústrias foram pressionadas há anos por um comércio injusto. E isso vai parar," afirmou.

A Casa Branca explicou, em comunicado, que a medida foi tomada após um estudo do Departamento de Comércio constatar que "os níveis de importação de aço e o excesso de capacidade global estão enfraquecendo a economia interna e, portanto, ameaçam prejudicar a segurança nacional".

O presidente americano lembrou que a medida, considerada protecionista por outros países, é uma de suas promessas de campanha. "Estou entregando uma promessa que fiz durante minha campanha”, lembrou o presidente. “Essa é uma das mais importantes”.

Déficit comercial

Ele citou que o país tem um déficit comercial da ordem de US$ 800 bilhões, sendo US$ 500 bilhões com a China. "Isso vai ter que mudar", afirmou.

“Estamos mudando as coisas. Acho que as empresas ficarão muito felizes no fim. E países ficarão muito felizes, nós vamos mostrar alguma flexibilidade”, disse Trump.

Trump trouxe representantes da indústria americana para acompanhar o anúncio e dar depoimentos sobre como a importação afetou seus empregos e prejudicou o setor.

Impactos no Brasil

O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA e as vendas para o país representam um terço das exportações brasileiras do produto

Após o anúncio, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas nacionais, afirmou que a medida causa "dano significativo" às empresas brasileiras e em que deverá entrar imediatamente com recurso nos EUA.

Nesta quinta-feira (8), as ações das siderúrgicas nacionais foram os destaques negativos do Ibovespa. Os papéis da CSN caíram 5,08%, enquanto a Gerdau teve perdas de 4,18%.

Maiores exportadores de aço para os EUA (Foto: Infográfico: Karina Almeida/G1)
Autoridades do governo brasileiro também se manifestaram contra a medida de Trump. Os ministros das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, e Marcos Jorge, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços disseram, em comunicado conjunto, que a decisão de Trump trará "graves prejuízos" às exportações brasileiras.

Antes do anúncio oficial de Trump, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou em Nova York, que a medida é negativa tanto para os países exportadores como para os Estados Unidos.

"A medida é negativa para todos os envolvidos, inclusive a indústria americana e o consumidor americano, porque vai ter que pagar mais por seus produtos, o insumo fica mais caro", disse.

Afirmações no Twitter

Donald Trump já havia manifestado suas intenções de criar essa tarifa na última quinta-feira (1º), em seu perfil no Twitter, mas o anúncio oficial só foi realizado uma semana depois.

Mesmo antes de oficializar a medida, diversos países ameaçaram questionar os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A União Europeia disse que poderá retaliar os EUA, com imposição de tarifas para ícones da indústria americana exportados aos países do bloco, como uísque bourbon e as motocicletas Harley-Davidson.

THE WHITE HOUSE. PORTAL G1. 08/03/2018. Bovespa fecha em queda, pressionada por Vale e siderúrgicas. Ibovespa caiu 0,59%, aos 84.984 pontos, com noticiário corporativo e anúncio de sobretaxa para aço nos EUA.

O principal índice de ações da B3 fechou em queda nesta quinta-feira (8), pressionado por forte recuo da Vale e siderúrgicas, em sessão marcada por noticiário corporativo intenso e expectativa acerca do anúncio do presidente Donald Trump de sobretaxa para importação de aço e alumínio nos Estados Unidos.

O Ibovespa caiu 0,59%, a 84.976 pontos, na terceira queda consecutiva.

A incerteza relacionada à adoção de medidas protecionistas pelo governo americano fez com que os investidores adotassem uma postura defensiva, derrubando o principal índice de ações brasileiras.

Ibovespa em 2018
Pontuação de fechamento
28/123/15/19/111/115/117/119/123/126/130/101/0205/0207/0209/0215/0219/0221/0223/227/21/35/37/375k77,5k80k82,5k85k87,5k90k
Fonte: B3
A apreensão afetou principalmente o setor de siderurgia e mineração.

CSN ON perdeu 5,08%, em meio ao movimento do preço do aço e medidas de Trump. Gerdau PN caiu 4,18%, muito embora potencialmente se beneficie da medida, uma vez que gera grande parte de sua receita com operações nos EUA, destaca a Reuters.

Já a Vale caiu 3,24%, reagindo também a uma nova queda nos preços do minério de ferro à vista na China.

Na outra ponta, Fibria e Suzano subiram 6,53% e 3,64%, respectivamente, em meio à expectativa de possível fusão das companhias.

Em Wall Street, o índice acionário S&P 500 fechou em alta de 0,45%.

Anúncio de Trump

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump seguiu com os planos e anunciou que o país vai taxar em 25% as importações de aço e em 10% as de alumínio, mas afirmou que sua administração está aberta a modificar e remover tarifas para nações específicas. Veja aqui mais detalhes do anúncio.

As novas tarifas serão aplicadas a todos os países em um primeiro momento, com exceção de Canadá e México. Segundo ele, as negociações com esses países serão feitas separadamente no âmbito do Nafta ( Tratado de Livre-Comércio da América do Norte).

Impactos da medida de Trump

Trump abriu a possibilidade de que outros países sejam excluídos da cobrança e que a medida será “muito justa”, mas ressalvou: “especialmente para aqueles países que nos tratam bem”.

O Brasil, que é o 2º maior exportador de aço para os EUA, atrás do Canadá, poderá ser um dos mais prejudicados pela medida.

Segundo os Adeodato Volpi Neto, estrategista-chefe da Eleven Financial Research, a tensão relacionada a uma possível guerra comercial continuará impactando os mercados. Quanto ao setor de siderurgia brasileiro, ele lembra que, nos próximos 15 dias, negociações serão conduzidas entre os governos, abrindo a possibilidade de a sobretaxação a ser aplicada ao país ser revista.

“Ao invés de tomar uma decisão agora, eu estaria muito mais atento aos movimentos dos próximos 15 dias”, disse ao Valor Online, ressaltando que as respostas da China e da União Europeia ao anúncio também poderão influenciar o comportamento das siderúrgicas brasileiras na bolsa.

THE WHITE HOUSE. PORTAL G1. 08/03/2018. Siderúrgicas brasileiras falam em 'dano significativo' com sobretaxa ao aço; veja repercussão. Instituto Aço Brasil disse que estuda a 'entrada imediata de recurso junto ao governo americano'. Para CNI, decisão dos EUA é 'injustificada e ilegal'.

A indústria brasileira reagiu ao anúncio do presidente americano, Donald Trump, de sobretaxa para importação de aço e alumínio nos Estados Unidos, classificando a medida de 'injustificada e ilegal' e com potencial de provocar "dano significativo" para as siderúrgicas instaladas no Brasil, uma vez que o Brasil é o segundo maior fornecedor de ferro e aço dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos irão taxar em 25% as importações de aço e em 10% as de alumínio, mas Trump afirmou durante a assinatura da medida que sua administração está aberta a modificar e remover tarifas para nações específicas. A medida vale a partir de 23 de março e exclui Canadá e México da nova tributação. Veja aqui mais detalhes do anúncio.

Em comunicado, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas no país, disse que tinha a expectativa do Brasil ser excluído da medida, o que não ocorreu, e que está avaliando, com o governo brasileiro, "a entrada imediata de recurso junto ao governo americano".

Para as siderúrgicas brasileiras, a medida de Trump "ocasionará dano significativo não só para as nossas empresas, mas também para as americanas que não tem autossuficiência no seu abastecimento".

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a sobretaxa de "decisão injustificada e ilegal do governo dos Estados Unidos".

Pelos cálculos da CNI, se dotadas, as medidas vão afetar US$ 3 bilhões em exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões em exportações de alumínio.

"O governo americano impõe medidas de forma unilateral sem respeitar as regras de investigação para a adoção de medidas de defesa comercial, discrimina o produto estrangeiro em detrimento do produzido nos EUA e amplia a tributação da importação para além das alíquotas acordadas pelo próprio país na OMC", avaliou a CNI.

Ações da CSN e da Gerdau caem na Bovespa

A incerteza relacionada à adoção de medidas protecionistas pelo governo americano fez com que os investidores adotassem uma postura defensiva, derrubando as ações de siderúrgicas na Bovespa. CSN ON perdeu 5,08%, em meio ao movimento do preço do aço e medidas de Trump. Gerdau PN caiu 4,18%, muito embora potencialmente se beneficie da medida, uma vez que gera grande parte de sua receita com operações nos EUA, destaca a Reuters.

"Confira a íntegra da nota do Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas no país:

"O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou hoje (08/03), oficialmente, a decisão de estabelecer alíquota de importação de 25% para produtos siderúrgicos. A decisão, tomada no âmbito da Seção 232 e respaldada na ameaça à segurança dos EUA, é uma medida extrema que visa proteger a indústria siderúrgica americana e seus trabalhadores.

Dada a complementaridade das exportações de suas associadas para os EUA, o Instituto Aço Brasil tinha a expectativa do Brasil ser excluído da medida, que não ocorreu. O Aço Brasil estuda, então, com o governo brasileiro, a entrada imediata de recurso junto ao governo americano.

É entendimento do Instituto que o bloqueio das exportações brasileiras para o mercado americano - em sua quase totalidade composta de semi acabados, que são reprocessados pelas indústrias siderúrgicas americanas -, ocasionará dano significativo não só para as nossas empresas, mas também para as americanas que não tem autossuficiência no seu abastecimento.


Problema imediato a ser analisado junto ao governo brasileiro é como a indústria do aço no Brasil pode se defender do agravamento da situação mundial com o excedente de capacidade instalada de aço de 750 milhões de toneladas e, agora, com o desvio de fluxo de comércio que a decisão americana ocasionará."

Confira a íntegra da nota da CNI (Confederação Nacional da Indústria):

"A Confederação Nacional da Indústria (CNI) é contrária à decisão injustificada e ilegal do governo dos Estados Unidos de aplicar tarifas adicionais ao aço e ao alumínio exportados pelo Brasil e por outras economias. Se adotadas, as medidas vão afetar US$ 3 bilhões em exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões em exportações de alumínio. Isso equivale a uma massa salarial de quase R$ 350 milhões e impostos da ordem de R$ 200 milhões. O Brasil é o segundo maior fornecedor de ferro e aço dos Estados Unidos.

O governo americano decidiu impor sobretaxas de 25% nas importações de aço e de 10% nas de alumínio, anunciada pelo presidente Donald Trump, alegando necessidade de proteger a indústria americana por razão de segurança nacional, uma lei interna em desuso. Estados Unidos querem resolver um problema econômico, de baixa competitividade da indústria americana, alegando riscos à segurança interna e internacional dos EUA.

“A CNI defende o respeito às normas internacionais e nacionais sobre defesa comercial e considera que o governo brasileiro deve utilizar todos os meios disponíveis para responder à decisão americana, inclusive no âmbito do sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que, em caso de vitória, nos daria direito à retaliação”, afirma Robson Braga de Andrade, presidente da CNI.

Ao adotar as medidas, os EUA vão violar pelo menos três normas da OMC. O governo americano impõe medidas de forma unilateral sem respeitar as regras de investigação para a adoção de medidas de defesa comercial, discrimina o produto estrangeiro em detrimento do produzido nos EUA e amplia a tributação da importação para além das alíquotas acordadas pelo próprio país na OMC.

A CNI avalia que a decisão americana não resolverá o problema da sua indústria siderúrgica. O setor enfrenta um cenário mundial de excesso de oferta de produtos e a solução desse problema requer negociações multilaterais entre todos os países produtores.

De acordo com a CNI, a atitude politiza os processos de defesa comercial, desrespeitando as normas internacionais, que exigem processo técnico de avaliação para adoção de medidas de defesa comercial. "

THE WHITE HOUSE. UE. PORTAL G1. 09/03/2018. União Europeia diz que vai à OMC contra os EUA em 90 dias se não for isenta das taxas do aço. Presidente Donald Trump excluiu México e Canadá da taxação e disse que outros países poderão pedir para ficar de fora da cobrança.

A União Europeia espera ser excluída das tarifas de aço e alumínio dos Estados Unidos, mas irá à Organização Mundial do Comércio (OMC) impor suas próprias medidas se Washington seguir em frente, disse a comissária de Comércio da UE nesta sexta-feira (9).

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estabeleceu tarifas de importação de 25% para o aço e 10% para alumínio, mas isentou o Canadá e o México e ofereceu a possibilidade de excluir outros aliados. Dias antes, ele havia dito que não isentaria nenhum país da cobrança.

A comissária da UE, Cecilia Malmstrom, que coordena a política para o maior bloco comercial do mundo, disse que compartilha as preocupações dos EUA com relação ao excesso de capacidade no setor siderúrgico, mas não acredita em tarifas como forma de resolver o problema.

"A Europa certamente não é uma ameaça para a segurança interna norte-americana, então esperamos ser excluídos", disse Malmstrom a repórteres antes de falar em uma conferência em Bruxelas.

Questionada na conferência se estaria pronta para reagir se a UE, formada por 28 países, for incluída nas tarifas dos EUA, Malmstrom disse estar pronta para ir à OMC, o árbitro do comércio internacional, para impor as próprias salvaguardas do bloco dentro de 90 dias.

Países exportadores de aço e alumínio para os Estados Unidos criticam nova tarifa
"Nós deixamos muito claro que (a decisão dos EUA) não está em conformidade com a OMC, então iremos à OMC, possivelmente com alguns outros amigos. Teremos que proteger nossa indústria com medidas de reequilíbrio, salvaguardas", disse ela.

As associações da indústria europeia pediram à Malmstrom que respondesse se a UE estaria sujeita às tarifas, dizendo que as sobretaxas afetariam fortemente os setores de aço e alumínio.

"A perda de exportações para os EUA, combinada com um aumento esperado de importações maciças na UE, poderia custar dezenas de milhares de empregos na indústria siderúrgica da UE e setores relacionados", disse Axel Eggert, diretor da associação de aço EUROFER.

A associação de produtores de alumínio European Aluminium exigiu a implementação "imediata" de medidas, se necessário.

Malmstrom já tinha uma reunião previamente agendada com o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, em Bruxelas, no sábado, e disse que buscaria mais clareza sobre se a UE seria incluída nas tarifas.

Saiba mais sobre a imposição das tarifas do aço e alumínio pelos EUA:

  • Nova taxa ao aço é de 25%; para o alumínio, tarifa é de 10%.
  • Canadá e México entram em lista de exceções e não serão tributados.
  • Trump poderá negociar a exclusão de outros países separadamente.
  • Medida foi tomada por seção 232, que visa a proteger a segurança nacional.
  • Brasil é o 2º maior exportador de aço para os EUA e será impactado.


REUTERS. 9 DE MARÇO DE 2018. Aliados fazem fila por isenção de tarifas para aço e alumínio nos EUA
Por Robin Emmott e Ruby Lian e Aaron Sheldrick

BRUXELAS/XANGAI/TÓQUIO (Reuters) - De Japão e Coreia do Sul a Austrália e Europa e Brasil, autoridades estão fazendo fila para buscar isenção das tarifas impostas pela administração de Donald Trump a importações de aço e alumínio nos Estados Unidos, enquanto produtores chineses pediram retaliação de Pequim.

Tóquio, Bruxelas e Brasília rejeitaram qualquer sugestão de que suas exportações para os Estados Unidos ameaçariam a segurança nacional norte-americana, justificativa de Trump para impor as tarifas apesar de alertas dentro e fora do país de que elas poderiam provocar uma guerra comercial global.

“Nós somos aliados, não uma ameaça”, disse o vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen.

A indústria de metais da China, a maior do mundo, emitiu uma ameaça mais explícita do país na fila, pedindo retaliação do governo chinês colocando como alvo o carvão dos EUA, um setor que é base central da política de Trump e sua promessa eleitoral para restaurar as indústrias norte-americanas e empregos.

Trump impôs tarifas de 25 por cento sobre importações de aço e 10 por cento sobre importações de alumínio na quinta-feira, para conter importações baratas, principalmente da China, o que ele descreveu como “um assalto ao país”.

No entanto, ele disse que “amigos reais” dos Estados Unidos poderiam ganhar isenções das medidas, que entram em vigor após 15 dias. Canadá e México, membros do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) que está em renegociação, ficaram de fora da medida por tempo indeterminado.

O Brasil, que depois do Canadá é o maior fornecedor de aço para o mercado norte-americano, disse que quer se juntar à lista. “Nós vamos trabalhar para excluir o Brasil dessa medida, mas não descartamos quaisquer outras medidas para proteger o interesse nacional”, disse à Reuters o ministro interino da Indústria, Comércio e Serviços, Marcos Jorge, após encontro com o secretário norte-americano de Comércio, Wilbur Ross. A Argentina adotou postura similar.

O Japão, maior aliado econômico e militar dos EUA, foi o próximo na fila. O secretário-chefe do Gabinete, Yoshihide Suga, disse em uma coletiva de imprensa que os embarques de aço e alumínio do Japão não apresentavam ameaças à segurança nacional dos EUA.

No caso do Japão, um importante parceiro comercial e investidor internacional, Suga disse que o país contribuiu para o emprego e a indústria nos EUA. O grupo que representa o setor de aço do Japão também expressou preocupação.

A União Europeia, maior bloco comercial do mundo, também se mostrou contra a medida. “A Europa certamente não é uma ameaça para a segurança interna norte-americana, então esperamos ser excluídos”, disse a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmstrom, em Bruxelas.

Malmstrom disse a repórteres que a UE estava pronta para ir à Organização Mundial do Comércio (OMC) e retaliar em 90 dias. Ela vai se reunir com o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, e com o ministro de Comércio japonês, Hiroshige Seko, em Bruxelas no sábado, quando ela vai perguntar se a UE será incluída nas tarifas.

Ela ganhou apoio da chanceler alemã, Angela Merkel. Ações de siderúrgicas europeias caíam nesta sexta-feira, embora as duas maiores produtoras do país Thyssenkrupp e Salzgitter insistiram que o impacto para elas será limitado.

Outras autoridades de UE, de longe o maior parceiro comercial dos EUA em valor, alertaram que a decisão poderia levar a contra-medidas incluindo tarifas europeias sobre laranjas, tabaco e bourbon norte-americanos.

Em Sydney, o primeiro-ministro Malcolm Turnbull disse que não há necessidade de impor tarifas para o aço australiano.

THE WHITE HOUSE. REUTERS. 9 DE MARÇO DE 2018. Maiores exportadores da Ásia criticam tarifas dos EUA e ampliam temores com guerra comercial
Por Aaron Sheldrick

TÓQUIO (Reuters) - As principais nações asiáticas reagiram duramente nesta sexta-feira à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio, alertando para danos às relações em meio a exigências de retaliação da indústria.

O Japão disse que o movimento terá um “grande impacto” nos laços bilaterais dos países, enquanto a China disse que se opôs firmemente à decisão e a Coreia do Sul afirmou que pode entrar com uma reclamação na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Trump avançou na quinta-feira com a imposição de tarifas de 25 por cento sobre as importações de aço e de 10 por cento para o alumínio, embora tenha anunciado isenções para o Canadá e o México, e disse que exceções também poderiam ser feitas para outros aliados.

A China, que produz metade do aço no mundo, avaliará os danos causados ​​pela decisão dos EUA e “defenderá firmemente seus direitos e interesses legítimos”, disse o Ministério do Comércio do país.

As tarifas vão “impactar seriamente a ordem normal do comércio internacional”, disse o ministério.

O Japão e a Coreia do Sul disseram que também pedirão para entrar como exceção. A Coreia do Sul, importante aliado asiático de Washington, é o terceiro maior exportador de aço para os EUA, depois do Canadá e do Brasil.

Os EUA são o maior importador mundial de aço, tendo comprado 35 milhões de toneladas em 2017. Desse volume, Coreia do Sul, Japão, China e Índia responderam por 6,6 milhões de toneladas.

Por Aaron Sheldrick


INTERNATIONAL TRADE



DoC. USITC. 03/08/2018. U.S. Department of Commerce Issues Affirmative Preliminary Determination on Forged Steel Fittings from China

Today, U.S. Secretary of Commerce Wilbur Ross announced the affirmative preliminary determination in the countervailing duty (CVD) investigation of imports of forged steel fittings from China, finding that exporters in China received countervailable subsidies equal to 13.79 percent.   

The Commerce Department will instruct U.S. Customs and Border Protection to collect cash deposits from importers of forged steel fittings from China based on these preliminary rates.

“This announcement is separate from today’s the steel and aluminum tariff’s announced by President Trump as a result of the Department’s 232 investigations,” said Secretary Ross. “We will continue to review all information related to this preliminary determination while standing up for American workers and companies.”

In 2016, imports of forged steel fittings from China were valued at an estimated $78.4 million.

The petitioners are Bonney Forge Corporation (Mount Union, PA), and the United Steel, Paper and Forestry, Rubber, Manufacturing, Energy, Allied Industrial and Service Workers International Union (Pittsburgh, PA).

Enforcement of U.S. trade law is a prime focus of the Trump administration.  From January 20, 2017, through March 8, 2018, the Commerce Department has initiated 102 antidumping and countervailing duty investigations – a 96 percent increase from the same period in 2016- 2017. 

CVD law provides U.S. businesses and workers with an internationally accepted mechanism to seek relief from the harmful effects of unfair subsidization of imports into the United States.  Commerce currently maintains 418 antidumping and countervailing duty orders which provide relief to American companies and industries impacted by unfair trade.

Commerce is currently scheduled to announce its final CVD determination on July 24, 2018.

If the Commerce Department makes an affirmative final determination in this investigation and the U.S. International Trade Commission (ITC) makes an affirmative final injury determination, Commerce will issue a CVD order.  If the Commerce Department makes a negative final determination or the ITC makes a negative final determination of injury, the investigation will be terminated and no order will be issued.

The U.S. Department of Commerce’s Enforcement and Compliance unit within the International Trade Administration is responsible for vigorously enforcing U.S. trade laws and does so through an impartial, transparent process that abides by international rules and is based solely on factual evidence. 

Imports from companies that receive unfair subsidies from their governments in the form of grants, loans, equity infusions, tax breaks and production inputs are subject to “countervailing duties” aimed at directly countering those subsidies.

Fact sheet: https://www.commerce.gov/sites/commerce.gov/files/forged_steel_fittings_cvd_preliminarily_fact_sheet_20180308.pdf

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Los hermanos en guerra comercial: full retaliation now?

Parece que vamos entrar numa "drôle de guerre", como os franceses se referiam à guerra europeia nos seus primeiros oito meses, ou seja, limitada à invasão da Polônia pelos exércitos hitleristas, uma tensão na frente ocidental e amplo acordo entre as duas ditaduras xipófagas, de Hitler e Stalin, que se encarregaram de desmembrar a Polônia.
Entre o Brasil e a Argentina não vai se chegar a tanto, mas continuarão as escaramuças pelos próximos dias. Vai ser gozado assistir à próxima cúpula do Mercosul...
Paulo Roberto de Almeida

Engarrafamento na fronteira
Para retaliar Argentina, Brasil suspende importações de automóveis de todo o mundo
Eliane Oliveira, Janaína Figueiredo (Correspondente) e Aguinaldo Novo (O Globo)

Com a arma apontada para a Argentina, o Brasil suspendeu do processo de licenciamento automático as importações de automóveis prontos de todo o mundo na terça-feira. Com isso, o desembaraço desses produtos, antes imediato, agora ocorrerá em até 60 dias. Foi uma resposta ao protecionismo dos argentinos, que poderão deixar de vender ao mercado brasileiro algo em torno de US$5,2 bilhões ao ano, segundo estimativas de técnicos do governo brasileiro.

Como a medida é considerada uma salvaguarda - prevista na Organização Mundial do Comércio (OMC) -, pelas leis internacionais de comércio a restrição teve de ser estendida a todos os fornecedores, para não ser caracterizada como discriminatória. Além da Argentina, haverá reflexos nas compras de veículos de México, China, Europa, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, o que pode dar um alívio à balança comercial, tendo em vista o forte crescimento das importações de veículos.

O governo Cristina Kirchner divulgou ontem à noite nota oficial, assinada pela secretária de Indústria, Débora Giorgi, na qual afirma que "a aplicação de licenças não automáticas para o setor de automóveis foi adotada de forma intempestiva e sem aviso prévio, afetando assim 50% do total do comércio bilateral". A Casa Rosada havia recebido na véspera a carta enviada pelo ministro de Indústria e Comércio Fernando Pimentel.


A secretária afirmou que quando a Argentina aplicou, em fevereiro, 200 novas licenças não automáticas, "informou o Brasil dez dias antes do anúncio oficial, e a medida entrou em vigência somente 30 dias depois". Para ela, esse comportamento "atenta contra o diálogo natural entre os sócios majoritários do Mercosul".

Autopeças e vinhos podem ser incluídos
Segundo fontes da secretaria, a Casa Rosada foi informada de demoras na entrada de veículos da Toyota e da Mercedes Benz no Brasil. Para o governo Kirchner, disseram fontes, estão por trás da medida os "poderosos industriais de São Paulo".

Conforme antecipou O GLOBO na semana passada, as autoridades brasileiras estão irritadas com a Argentina, que mantém sob o regime de licença não automática 600 itens, a maioria exportada pelo Brasil. Por isso, decidiram retaliar.

A balança comercial automotiva (veículos e autopeças) brasileira vem se deteriorando: até 2008 era superavitária em US$10 bilhões, mas em 2010 teve déficit de US$6 bilhões. De 2005 até agora, a exportação de veículos passou de 30% para 14% da produção nacional. Segundo o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), no primeiro trimestre deste ano as importações de automóveis subiram quase 50%. As compras oriundas da Argentina cresceram 40%; as da Coreia do Sul, 46%; e as da Alemanha, mais de 75%.

O governo tomou a medida, que provocou a retenção de caminhões na fronteira entre os dois países, sem confirmá-la oficialmente. Mas um alto funcionário avisou que, "em princípio", as licenças deixam de ser automáticas para automóveis, dando a entender que, se não houver uma resposta positiva dos vizinhos, outros itens, como autopeças, vinhos e lácteos, podem ser incluídos na nova regra.

Segundo técnicos envolvidos no assunto, até o fim da tarde de ontem, não houve contatos entre autoridades de primeiro escalão dos dois países. Debora Giorgi tentou falar por telefone com Pimentel, que não a atendeu e repassou a ligação à secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.

Para a Argentina, o superávit de US$4 bilhões registrado pelo Brasil no comércio bilateral confirma a necessidade de manter o protecionismo - motivado pela queda do superávit fiscal, de US$16,8 bilhões em 2009 para US$12 bilhões no ano passado.

Risco de faltar veículos é pequeno
Representantes das montadoras minimizaram o impacto da medida, e alguns disseram ter o compromisso informal do governo de que ela só seria aplicada à Argentina, de onde vêm o Siena (Fiat), o Agile (GM) e o Space Fox (Volks). A Anfavea, que representa as montadoras, diz que a medida não vai interromper as importações, apesar de elevar a burocracia. Sobre um possível prejuízo aos consumidores afirma que, sem o teor oficial da medida, não seria possível avaliar. Para o consultor Luiz Carlos Augusto, da Jato Dynamics do Brasil, esse risco seria pequeno devido à elevada oferta de veículos.

A Abeiva, que reúne as importadoras de veículos, não comentou a decisão. Mas representantes de algumas empresas disseram ter recebido "a garantia" de que as compras de outras regiões não seriam afetadas.

- Fizemos hoje um teste, e só houve mesmo problema na alfândega com a Argentina - disse um empresário.

'Mais de 20 anos sem essa medida'
RENATO BAUMANN

BRASÍLIA. Para o economista Renato Baumann, ex-representante da Cepal no Brasil, as ações para dificultar a importação de carros são "medidas de gaveta". Hoje no Ipea e na UnB, ele alertou para o risco de problemas com outros países, a não ser que a lentidão no desembaraço se aplique, informalmente, só a carros argentinos.

Não é um passo muito grande frear importações do mundo todo apenas para atingir a Argentina?
RENATO BAUMANN: Aparentemente, a medida é para atingir a Argentina, e o governo brasileiro não poderia agir de forma mais direta, para não ferir as normas internacionais de comércio. Há mais de 20 anos não se toma esse tipo de medida de gaveta, em que se misturam decisões administrativas e demora na liberação de mercadorias para limitar importações. Mas acredito que haja algo mais, pois as importações de automóveis, de forma geral, têm crescido bastante nos últimos anos. Seria também uma forma de tampar o ralo na balança comercial.

O governo brasileiro agiu certo em relação aos argentinos?
BAUMANN: O governo argentino não cumpriu o prometido de normalizar o desembaraço das mercadorias brasileiras. Não dá para dizer o que isso pode significar a médio prazo, pois há um componente político novo. É possível até que a medida seja revogada nas próximas horas, pois quanto mais tempo vigorar, maior o impacto.

Como fazer para evitar a ira dos outros países?
BAUMANN: Como é uma medida administrativa, pode significar que o fiscal, lá na ponta, seja orientado a agilizar o desembaraço para veículos de outras nacionalidades, demorando mais com os argentinos. Espero que haja um entendimento, pois se a Argentina decidir retaliar, será o pior que poderá acontecer. (Eliane Oliveira)

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Medida é atentado a diálogo, diz Argentina
Ariel Palacios e Marina Guimarães - CORRESPONDENTES
O Estado de S.Paulo, 13/05/2011

Débora Giorgi, ministra da Indústria do país vizinho, reage e afirma que o Brasil está agindo de "forma intempestiva e sem aviso"

BUENOS AIRES - Em um comunicado emitido na noite de ontem, a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, criticou as medidas brasileiras que dificultam a entrada de automóveis argentinos no Brasil e acusou o Ministério do Desenvolvimento brasileiro de "atentar contra o diálogo natural" dos dois sócios comerciais.

Famosa por suas posições duras em relação ao Brasil, a ministra afirmou que, "com a aplicação de licenças não automáticas para o setor automotivo, o Ministério do Desenvolvimento do Brasil está agindo de forma intempestiva e sem aviso, afetando 50% do comércio bilateral".

A ministra, conhecida como "Senhora Protecionismo", sustentou que ficou sabendo da medida brasileira por meio dos empresários argentinos. "Quando a Argentina aplicou em fevereiro passado 200 posições novas em licenças não automáticas, o governo argentino informou o Brasil dez dias antes do anúncio oficial e a medida só entrou em vigência 30 dias depois."

Ontem a Associação de Fabricantes de Automotores (Adefa) disse que a medida causou surpresa porque não houve nenhuma informação nem para as montadoras no Brasil nem na Argentina, tampouco para o governo.

Débora Giorgi também disse que as medidas "repercutem sobre um setor, como a cadeia automotiva, onde a Argentina possui um déficit crescente, que no primeiro trimestre de 2011 foi de US$ 1 bilhão e duplicou o volume do mesmo período de 2010".

A ministra, autora de várias medidas protecionistas contra produtos brasileiros, afirmou que "esse tipo de comportamento (do ministério) atenta contra o diálogo natural dos dois maiores sócios do Mercosul". "E, fundamentalmente, afeta o compromisso de equilibrar a balança comercial que as duas presidentes assumiram, para conseguir uma industrialização harmônica."

A decisão do governo brasileiro é um duro golpe às montadoras instaladas na Argentina, "meninas dos olhos" do governo de Cristina Kirchner. Analistas consultados pelo Estado em Buenos Aires indicaram que a medida mostraria que a "paciência estratégica" do Brasil com a Argentina, ao longo dos oito anos do governo Lula, teria acabado.

Destino. "O Brasil é o destino por excelência das vendas argentinas de veículos. Por isso, parece que é uma retaliação encoberta", disse ao Estado o economista Mauricio Claverí, da consultoria Abeceb. "Sem dúvida, é a forma de retaliar que mais tem efeito sobre o governo Kirchner."

"Em 2009, quando o Brasil retaliou barreiras argentinas com a aplicação de medidas contra alimentos argentinos, o efeito foi rápido e o governo Kirchner cedeu. No caso das exportações automotivas, que são o "coração" das vendas ao exterior, a resposta deve ser ainda mais rápida." Na sequência, Claverí usou uma expressão tipicamente argentina para dizer que o conflito não chegará a um ponto sem retorno: "La sangre no llegará al río (o sangue não chegará ao rio)".

Em 2010, do total de 457 mil veículos exportados pela Argentina, 370 mil foram enviados ao Brasil, o equivalente a 81% das vendas do setor ao exterior. Em dinheiro, foram US$ 5,3 bilhões, de um total de US$ 6,584 bilhões exportados ao Brasil.

Segundo a Adefa, as exportações de automóveis já estão sendo barradas na fronteira por causa do licenciamento não automático anunciado pelo governo brasileiro. "Algumas empresas já foram afetadas pela medida. Elas contavam com licenças automáticas quando fizeram os embarques, mas ao chegar à fronteira as autoridades brasileiras não liberaram a entrada", disse o secretário executivo da Adefa, Fernando Canedo.

Canedo não quis identificar queis seriam as empresas atingidas, mas a Agência Estado apurou com fontes do mercado que seriam a Mercedes-Benz, a Toyota e a General Motors. "Hoje são apenas três, mas nos próximos dias serão todas as montadoras", disse a fonte.

PARA ENTENDER
Ao longo da última década, o setor automotivo argentino saiu do inferno em direção ao paraíso. O fundo do poço ocorreu em 2002, em meio à maior crise econômica, social e financeira da Argentina, quando a produção automotiva foi de apenas 90 mil unidades, a marca mais baixa desde 1960. Mas desde 2003, o setor começou uma recuperação persistente, em grande parte por causa do mercado brasileiro. Em 2010, o país produziu 724 mil unidades.

Uruguai se diz cansado de barreiras
Ariel Palacios - BUENOS AIRES
O Estado de S.Paulo, 13/05/2011

O governo do presidente uruguaio José Mujica, cansado das constantes violações do espírito de livre comércio do Mercosul, propôs aos dois principais sócios - o Brasil e a Argentina - que os países do bloco avisem com 15 dias de antecedência as eventuais aplicações de medidas protecionistas.

No pedido, que misturou ironia com frustração pela falta de cumprimento das normas de livre comércio, o governo do Uruguai destacou que se trata de "15 dias úteis antes de sua entrada em vigência" e os anúncios não somente deveriam incluir as tradicionais licenças não automáticas, mas também "medidas de qualquer tipo".

Para evitar que em Buenos Aires e Brasília os governos interpretem de forma incorreta o pedido uruguaio, o diretor nacional de Indústrias, Sebastián Torres, detalhou as barreiras que deveriam ser avisadas com antecedência: "As cotas, as disposições sobre etiquetados, os requisitos técnicos, medidas sanitárias ou fitossanitárias, a exigência da apresentação de qualquer tipo de certificado para autorizar uma importação e critérios-valor".

Em fevereiro passado o Uruguai foi pego de surpresa por uma saraivada de medidas protecionistas do governo argentino, que aplicou barreiras a 585 produtos fabricados no país. Segundo o Uruguai, "a aplicação de medidas não alfandegárias impede o livre comércio".

O governo uruguaio quer que o Mercosul defina o assunto até a cúpula que o bloco do Cone Sul realizará em Assunção, Paraguai, nos dias 23 e 24 de junho.

Nessa cúpula - que promete ser agitada pelo ressurgimento dos conflitos comerciais -, os países-sócios celebrariam de forma atrasada os 20 anos da criação do Mercosul, que completou duas décadas em março passado.

De quebra, Hugo Chávez promete insistir com a aprovação da entrada da Venezuela como sócio pleno. A entrada oficial do país foi aprovada pelos parlamentos do Uruguai, Argentina e Brasil. Ainda depende do Senado paraguaio, onde a oposição - que tem a maioria - se recusa a aceitar o país no bloco.