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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Os planos de Napoleão que poderiam ter mudado a História do Brasil - Marco Morel (Gazeta do Povo)

Os planos de Napoleão que poderiam ter mudado a História do Brasil

Marco Morel

Gazeta do Povo, 21/09/2024

Entre 1796 e 1808, Napoleão Bonaparte "desenhou" 17 tentativas de invadir o Brasil. Os bastidores desses planos audaciosos de dominação são o mote do novo livro do historiador Marco Morel, autor de 'A Revolução do Haiti e o Brasil Escravista', 'Corrupção, Mostra Sua Cara' e 'O Poder da Maçonaria', entre outros.

Em 'O Dia em que Napoleão Quis Invadir o Brasil', Morel também reflete sobre como o Brasil poderia ter sido moldado sob o jugo francês, avaliando sobre as possíveis transformações culturais, sociais e políticas.

(…)

O título do livro parece ficção, mas não é. Napoleão Bonaparte voltou seu olhar de águia sobre o Brasil.

No período de 12 anos (1796-1808), entre a fase final da Revolução Francesa e o desembarque da Corte portuguesa no Rio de Janeiro, houve pelo menos 17 planos de ataque.

Miravam vários territórios no continente brasileiro, como então se dizia, da Amazônia ao Rio Grande do Sul, passando por Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e Santa Catarina. Ou então queriam conquistar logo o Brasil inteiro! Nenhum deles vingou, está claro.

Tentativas oficiais que partiam do aparato militar, político e empresarial expansionista francês. Algumas acompanhadas e estimuladas diretamente pelo chefe da Grande Armada, por ministros e por dirigentes de seu Alto Comando.

As autoridades coloniais luso-brasileiras desconheciam as iniciativas e caçavam fantasmas, prendendo pessoas sem qualquer relação com estes casos. Conspirações impenetráveis.

A ligação conhecida entre Bonaparte e o Brasil é frágil, quando não forçada. Em geral, limita-se ao fato de que o imperador dos franceses fez com que a Corte portuguesa fugisse para cá, originando importantes transformações no país, que se tornaria independente. Uma relação indireta.

Pouco se conhece do apetite da conquista gaulesa sobre as terras brasílicas nos tempos de Napoleão I. Tais gestos, ganâncias e palavras, adormecidos há mais de dois séculos no Arquivo Nacional da França (Archives Nationales de France) e no Arquivo Histórico do Ministério da Defesa francês (Service Historique de la Défense, Ministère des Armées), na maioria inéditos, agora vêm à tona.

Com eles, surgem personagens curiosos e quase anônimos, pinçados no turbilhão da Era das Revoluções, com suas luzes e obscuridades. Como o capitão Antoine-René Larcher, que lutou pela Independência brasileira em 1797. Ou os capitalistas Cerf-Berr, que pretenderam formar um exército para conquistar o país inteiro, em 1801.

E o que dizer de um grupo de 800 jacobinos que pretendia tomar o Brasil de assalto e fazer degolas? E, ainda, o poderoso almirante e chefe de esquadra Willaumez, homem de confiança de Bonaparte, que insistiu para atacar Pernambuco.

E o general Combis, pronto para invadir o Rio de Janeiro. Sem falar no Rio Grande do Sul francês projetado pelo conde Liniers.

As tentativas frustradas fazem pensar num Brasil que poderia ter sido, mas nunca foi. Cópula interrompida. A batalha que não houve.

Projetos napoleônicos de “expedição”, na aveludada linguagem oficial, houve planos de invasão e ataques reais franceses desde o século XVI até meados do século XIX. Porém trata-se aqui de um período específico e de iniciativas estatais.

Bonaparte só assumiu formalmente o poder em 1799, mas, nos anos anteriores, sua influência era crescente. Todas essas experiências faziam parte do mesmo contexto de guerras que gerou (e foi gerado por) Napoleão.

Não tratarei de pirataria nem de franceses independentes que vinham ao Brasil, embora ambos tenham existido em profusão. Os planos aqui citados pretendiam fazer funcionar a máquina do Estado. Tênue limite entre corsários dos mares, tráfico atlântico de escravos e conflitos em terra firme com atuação de oficiais da Armada.

Espiões e negociatas. Contabilidade dos lucros. Lutas e sonhos revolucionários. A Revolução atravessada por contradições e, estas, por revoluções.

Entre as tentativas, projetou-se por três vezes a abolição da escravatura no Brasil em 1799, ou seja, 89 anos antes da Lei Áurea. Napoleão não estava sozinho. Universo e microuniversos. Sol, planetas e satélites. Bonaparte, aura de Libertador, e, do alto de seu cavalo branco, tornou-se escravocrata e colonialista – o que aguçava sua voracidade brasiliana.

Como teria sido o Brasil francês e napoleônico? Como os primeiros invasores enfrentariam a aridez do sertão? Ou o emaranhado verde e vibrante da Floresta Amazônica? Sobreviveriam aos cactos e à terra dura da caatinga? Espantariam-se com as imensas cataratas? Submergiriam às cheias do Pantanal?

Teriam sossego nos centros urbanos? Considerariam a Serra Gaúcha mais fácil de dominar do que os Pirineus? Saberiam interagir com os indígenas e sua imensa diversidade? As aristocracias se entenderiam? Os pobres livres se tornariam facilmente “afrancesados”? Os cativos se empolgariam com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade?

E a “mestiçagem” culinária... Frango à marengo acompanharia frango com quiabo sobre a mesa? Galinha a cabidela e coq au vin dariam um prato casado? Surgiria mistura entre feijoada e cassoulet? Queijo canastra combina com brie? Entre cozido e pot-au-feu?

Costela de bode ou de carneiro? Combinação de crêpe e tapioca. Rubro vinho Bordeaux ao lado da cristalina aguardente de engenho na hora do brinde. Coquille de Saint-Jacques ou casquinha de caranguejo? Açúcar de beterraba ou da cana? Batata noisette com mandioca assada, cobertas com fines herbes e alfavaca? Bacalhau salgado substituído pela morue fresca. O churrasco na brasa cederia lugar à vitela à moda da Córsega?

Na cultura, entre imposições e apropriações... Tapeçarias de Gobelins tecidas pelas mulheres rendeiras. O acordeom tocaria chansons e forró. A ‘Eroica’ de Beethoven executada pelos violinos dos Guarani das Sete Missões?

Ou quem sabe surgiria uma língua creolle franco-brasílica, como a que foi esboçada pelo poeta Aldir Blanc na canção “Prêt-à-porter de tafetá”, em parceria com João Bosco: “Voalá e çavá, patati, patatá / Boulevar, saravá, sou da Praça Mauá...”

 Jangadas e chalupas ocupando as praias. A Catedral de Chartres implantada em Aparecida. Os Arcos da Lapa se ligariam ao Arco do Triunfo. O Monte Saint-Michel daria vista ao Pão de Açúcar. E de que essência viriam os perfumes exóticos? O Brasil seria a Argélia das Américas...

E as transferências da fauna e flora? Predadores como águia-imperial e carcará sertanejo saberiam partilhar o território? Javalis a caititus bateriam cabeça ou se cruzariam? Lobo cinza e lobo-guará se devorariam ou se misturariam? Faisão e arara dividiriam o bosque? Cereja e pitanga floresceriam no mesmo terreno? Pinheiros natalinos e coqueiros semeando juntos. Girassol e alamanda se entrelaçariam. Ou quem sabe o rio Sena desaguaria no São Francisco?

Talvez o maior país da América do Sul nem viesse a existir

É ingenuidade achar que o Brasil seria mais “civilizado” se colonizado pela França. As colônias francesas nas Américas, África e Ásia dão o exemplo do caráter da dominação. Não se imagina que haveria grandes novidades naquele contexto.

Num primeiro momento, a hipotética aquisição neocolonial brasileira continuaria escravista, exportadora e submetida a um regime liberal, modernizante e militarizado, possivelmente com Independência política e exclusivo comercial francês. Ou uma simples troca de metrópole? Embora a extinção do trabalho escravo tenha sido proposta.

As transformações que poderiam decorrer de tal situação são incontáveis e incontroláveis. Talvez o maior país da América do Sul nem viesse a existir.

A atração por Bonaparte (lendário e mítico) extrapola o círculo de especialistas. Sua marca alcança um público ampliado, gera fascínio, empatia, proximidade ou repulsa (a nível internacional e em grande escala) com o indivíduo que se transformou em “Grande Homem”.

Ao mesmo tempo vitorioso e derrotado, ambicioso e guerreiro, patético e grandioso. Dono de uma inteligência aguda ou uma teimosia empedernida. Violento ou humanitário. Mania de grandeza.

Sua presença povoa os repertórios culturais e psicológicos das sociedades atuais, um personagem da cultura de massas. Quem nunca ouviu uma piada sobre ele? Ou a narrativa de algum de seus feitos ou citação de frases que lhe são atribuídas? E aqueles que cismam ser Napoleão? Bonapartes dentro (e fora) do hospício nunca faltaram.

Mas aqui abordamos o personagem histórico e projetos governamentais. O imperador dos franceses chegou a dar sinal verde para o almirante Lacrosse invadir o Rio de Janeiro, em 1800. E desejou enviar uma parte das tropas para ocupar o Norte do Brasil, quando tentou reconquistar a ilha de São Domingos (Haiti), no Caribe, dois anos depois.

Em 1806, um ano antes de invadir Portugal, o “Ogro da Córsega” pensou novamente em atacar o Brasil, de surpresa, indo direto ao Rio de Janeiro. Sonhou mesmo em ser um novo Conquistador das Américas, à maneira dos antigos navegadores portugueses e espanhóis. Porém tempos e ventos não ajudaram.

O longínquo território brasileiro, de exuberantes riquezas naturais, era peça crucial no jogo de xadrez entre as potências europeias, Grã-Bretanha e França. O mar nem sempre estava para peixe – o que não impedia o contrabando de valiosos produtos brasileiros de chegar a Paris por caminhos sinuosos, espalhando, por exemplo, brilhantes topázios das Minas Gerais sobre a mesa dos revolucionários franceses.

Em revanche, o Brasil português invadiu a Guiana Francesa, em 1809. A França bonapartista foi se achegando: expulsou a Corte de Lisboa, guerreou na Guiana (fronteira amazônica) e nas colônias no Caribe, onde plantações ardiam, queimadas por escravizados em rebelião. A Revolução do Haiti. Queimadas.

A metrópole francesa possuía a Louisiana, nos Estados Unidos, e chegou perto do Canadá. Fez incursões em Buenos Aires. Os tentáculos de Bonaparte se avizinhavam da Terra Brasilis. Seus navios de guerra ziguezagueavam próximos ao litoral do gigante adormecido. Faltou dar o bote.

Se dominasse o Brasil, Napoleão estaria mais perto de controlar o mundo, ou, pelo menos, as Américas. Vontade não faltou. Mas a Royal Navy, Rainha britânica dos Mares, também andava por ali. Isso tornava as coisas um pouco mais complicadas. Entre o sonho e a realidade, havia o oceano (povoado de inimigos).

Trata-se de captar esse momento fugaz, mas intenso, do longo e incompleto dia em que Napoleão Bonaparte quis invadir o Brasil – onde a Independência não fora proclamada, nem a Corte portuguesa chegara.

No “sonho americano”, sempre acalentado e parcialmente realizado pelo “César Moderno”, haveria um grande império franco-americano do Rio da Prata (Argentina) ao Canadá, incluindo Caribe, Golfo do México e uma fatia dos Estados Unidos. E o Brasil no centro.

Os projetos não eram apenas europeus, embora estes tenham prevalecido, até pela localização geográfica. Havia uma dimensão planetária, irrealizada.

Alguns destes planos de invasão podem parecer extravagantes ou inviáveis para o leitor atual. Mas não se iludam, o mundo passava por mudanças até então impensáveis, e as possibilidades estavam em aberto.

Napoleão conquistou grande parte da Europa Ocidental e o Egito, foi até Moscou, e controlava territórios no Oceano Índico e parte das Antilhas. Quem sabe avançaria no Brasil? Esse era o motor da máquina napoleônica: alcançar o impossível chão.

Desde o século XVI, a França fez ocupações e ataques no território da América que se tornaria portuguesa, quando a gula europeia se deparou inicialmente com os índios canibais. “Aí vem nossa comida pulando!”, exclamavam os tupinambás, que foram, eles sim, devorados pela voracidade colonizadora.

E, ainda no século XVIII, corsários oficiosos, como Duguay-Trouin, deram bons sustos nos luso-brasileiros e se tornaram heróis na França por tais feitos. Logo depois desse período, surgiram outros projetos de invasão parcial pelos franceses.

Passado o fervor revolucionário e tendo falecido Buonaparte (como chamavam seus adversários, assinalando sua origem corsa e italiana) em 1821, alguns franceses continuaram de olho na Amazônia ou no Rio de Janeiro, tocados pela saga expansionista de conquistas e riquezas. E vieram outros projetos de invasão nos anos 1820-1830.

Se oceanos e terras não foram presa fácil, quem sabe florestas e rios? Não bastava à França ter alcançado a eficácia de Pátria das Luzes, vitoriosa referência cultural e civilizatória. Mas, no final das contas, teve que se contentar com esse papel.

Ou seja, conquistar corações e mentes, mas com poder econômico limitado. O que, convenhamos, não era pouca coisa. E se divertir com a peça teatral Jocko, le singe du Brésil (‘Jocko, o macaco do Brasil’), na qual o país era associado a um híbrido de símio e humano: sucesso da temporada parisiense em 1825, com salas lotadas e aplausos da crítica.

Ressonâncias coloniais e raciais. Talvez por coincidência, ano em que a França reconheceu oficialmente a Independência brasileira.

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Arnaldo Godoy segue as memórias de Rubens Ricupero até 1961; mas todas 684 páginas são História e Literatura...

 AS MEMÓRIAS DE RUBENS RICUPERO 

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

 Conjur, 14 de julho de 2024

https://www.conjur.com.br/2024-jul-14/as-memorias-de-rubens-ricupero/


            A Editora Unesp publicou as Memórias de Rubens Ricupero. Corra e pegue o seu. São 684 páginas que revisitam o Brasil, com ênfase na segunda metade do século XX. Um primoroso escritor. Ricupero foi diplomata de carreira, Ministro da Fazenda, do Meio Ambiente e, entre outros postos na diplomacia, foi embaixador na Itália. Esse posto, penso, é talvez sua maior vitória. Explico. 

            Ricupero é filho de uma família de imigrantes italianos, que apostaram tudo no Brasil no início do século XX. De uma família lutadora, que enfrentou todos os touros para a sobrevivência, Ricupero é exemplo de triunfo e de esforço pessoal. Não é para menos. Foi impressionado com a autobiografia de Benjamin Franklin, o mais emblemático dos homens americanos que se construíram sem favores e benesses familiares. É o caso de Ricupero.

            Trata-se de um livro de memórias que é singular. Extremamente pesquisado, há uma exuberância de notas de rodapé, com indicações precisas de livros e de filmes, que revelam a cultura pantagruélica do autor. Com a desculpa de descrever a “memória dos pobres” Ricupero conta a história de sua família, a vinda para o Brasil, as dificuldades, os parentes, descrevendo tipos extremamente interessantes. 

Conta sua infância em São Paulo, cheia de dificuldades, com a referência ao Brás, ao Bexiga e à Barra Funda, livro delicioso de Alcântara Machado. Ricupero retoma versos de Mário de Andrade para explicar uma cidade de São Paulo, que infelizmente deixou de existir. Narra o momento em que os espanhóis começam a dividir espaço com os italianos, com a triste referência de que a maior parte das famílias espanholas que viviam nos cortiços eram chefiadas por viúvas. 

            Ricupero conta de seus livros de infância, com especial deferência a Monteiro Lobato. Conta que em um dia de inverno (daqueles invernos antigos de São Paulo) ao saber da morte do escritor, precipitou-se ao velório, na Biblioteca Mário de Andrade, e de lá ao cemitério da Consolação. Tinha onze anos, e registra que deve ser um dos poucos sobreviventes que foram ao enterro. O leitor imagina um menino de onze anos, sozinho, desacompanhado, atravessando a cidade de São Paulo para acompanhar o enterro de um escritor? 

            Influenciado pela biblioteca do tio, Ricupero leu de tudo ao longo da infância. Lembra as antologias da FTD, uma editora ligada aos maristas. A sigla vem de Frère Theófane Durand, que comandou os maristas na virada do século XIX para o século XX. 

Foi nas edições FTD que Ricupero conheceu Eça de Queiróz. Ricupero estudou com os maristas. Admirava um professor de português, Irmão Caetano José. Conta, em seguida, que o Irmão deixou os maristas, seguiu vida secular e se revelou como um de nossos maiores gramáticos. O Irmão Caetano José é Domingos Paschoal Cegalla, autor da Novíssima Gramática da Língua Portuguesa.

            O autor narra sua crise na escolha da profissão. Acabou estudando direito, no Largo de São Francisco, onde fez amizade como Fábio Konder Comparato e com o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, que vinha de Araraquara. A impressão da faculdade não é das melhores, embora Ricupero registre que admirava alguns professores, como Goffredo da Silva Telles, Basileu Garcia e Miguel Reale. Ricupero aproximou-se de grupos cristãos, da Congregação Mariana, ambiente no qual sentia-se à vontade, discutindo temas de política.

            Por influência de um amigo optou para o Itamaraty. Preparou-se para um concurso dificilíssimo. Concorreu com candidatos preparadíssimos. Conta que, de todos eles, era o único que não conhecia a Europa. Dedica algumas páginas para falar de Guimarães Rosa, que à época revolucionava os exames, buscando um currículo oculto, que revelasse uma propensão para as humanidades e para a compreensão da condição humana. Essas páginas valem todo o livro. 

            Ricupero conta seu encontro com Marisa Parolari, com quem se casou. Descreve com nitidez São Paulo, onde casualmente encontrou Marisa depois de um tempo sem vê-la, no Viaduto do Chá. Como seria o entorno do Viaduto do Chá no fim dos anos cinquentas? 

            O autor também descreve o Rio de Janeiro do início da década de 1960. Morava na Rua Paissandu, tomava o bonde da Light, chegava na Cinelândia, almoçava na lanchonete da Mesbla, descia para a Rua Larga, e chegava no Palácio do Itamaraty. Por que nós brasileiros deixamos que o Rio de Janeiro se degradasse tanto, e que desse tempo muito pouco ficou?  

            Ricupero descreve seu encontro com Antonio Carlos Villaça, um de nossos mais importantes críticos, autor de “O Nariz do Morto”, fascinante depoimento memorialístico, prefaciado pelo embaixador Alberto Costa e Silva, na edição de 1970. Edmilson Caminha, um dos maiores conhecedores da obra de Villaça, e do próprio Villaça, pode confirmar a descrição que Ricúpero faz do nosso grande crítico. 

            O autor esteve em Brasília, logo após a inauguração. Descreve com precisão histórica o meteoro Jânio Quadros, a UDN de porre, na expressão sardônica de Afonso Arinos, que Ricúpero registra.

            Fico por aqui. Deixo apenas uma amostra do que o leitor encontrará nesse portentoso livro. Resenhei até 1961 e o livro vai até dois mil e ontem. Trata-se de um registro autobiográfico que se aproxima do registro de Roberto Campos (Lanterna na Popa). Dois grandes brasileiros, vindos de baixo, bem de baixo, mas que triunfaram pelo esforço, pela dedicação, pela inteligência e pela devoção ao que mais singulariza nossa condição: a cultura. 

 

quarta-feira, 5 de junho de 2024

A História do Brasil segundo a Universidade Brasileira - Gabriel de Arruda Castro (Gazeta do Povo)

 Enviado gentilmente por Maurício David: 

A história sendo escrita agora: nas universidades, impeachment de Dilma vira “golpe de 2016”

Por Gabriel de Arruda Castro

Gazeta do Povo, 02/06/2024 

A história do futuro está sendo escrita agora nos bancos universitários. 

Mestres e doutores produzem as obras fundamentais que servem como base para livros didáticos. Também é nas universidades que saem muitas das ideias que hoje tomam conta do debate em Brasília.

Por isso, é provável que, num futuro próximo, os jovens brasileiros acreditem, como um fato da realidade, que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe e que a população negra sofre um genocídio no Brasil.

A conclusão emerge de uma análise feita pela Gazeta do Povo sobre 7.000 dissertações de mestrado e teses de doutorado publicadas no Banco de Teses da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Destas, 5.000 foram apresentadas em 2023 e 2.000 no ano anterior. É uma amostra representativa porque os trabalhos foram selecionados de forma aleatória, incluindo 93 instituições de ensino e mais de 240 áreas do conhecimento diferentes. Ou seja: o levantamento não se restringe às Ciências Humanas e Sociais.

A análise dos dados utilizou a ferramenta Pinpoint, em uma parceria com o Google. O Pinpoint utiliza inteligência artificial para extrair padrões de arquivos de texto.

As figuras públicas mais citadas

Nas 7.000 teses e dissertações, nenhuma figura pública foi mais citada que Jair Bolsonaro. Ele aparece em 541 trabalhos. 

Em seguida, aparecem Getúlio Vargas, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer. Jesus Cristo ocupa o quinto lugar. Depois, aparecem mais políticos. O artista mais citado é Caetano Veloso, acompanhado por Gilberto Gil.

A lista exclui autores de obras acadêmicas (Como Karl Marx e Paulo Freire), que foram tema de outra reportagem.

A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal está entre os 30 mais citados, o que reflete o protagonismo assumido pela Corte nos últimos anos. Além disso, parte deles também escreveu obras acadêmicas, o que impulsiona o número de citações. Outro que é citado como autor e como figura pública é Fernando Henrique Cardoso, que antes de ser presidente foi um autor influente nas Ciências Sociais.

O golpe de Temer

Boa parte das menções ao impeachment que derrubou Dilma Rousseff trata o episódio como um golpe que abriu a porteira para o que existe de pior na política.

“Desde o Golpe 2016, muitas medidas antidemocráticas, fascistas e neoliberais se espraiaram, atacando o Sistema de Proteção Social brasileiro”, escreve Cristinno Farias Rodrigues, em sua tese de doutorado em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão. O “golpe”, aliás, é um tema centrado da tese, que recebeu o título de “Reconfigurações na implementação da política de assistência social no Maranhão: avaliação dos serviços da proteção social básica a partir do golpe 2016".

Rodrigues não explica porque o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe. Simplesmente parte do pressuposto de que foi.

Ele não é o único. 

Em uma tese de doutorado em Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz, Hugo Braz Marques diz que "Mediante a ascensão antidemocrática de Michel Temer, suas contrarreformas aprofundaram a demolição de direitos e políticas sociais, a criminalização dos movimentos campesinos e as desonerações tributárias aos grandes latifundiários".

Na Universidade Federal do Espírito Santo, a dissertação de mestrado em Educação de Verônica Santana Epifânia Bernardino afirma que "em 31 de agosto de 2018, após o golpe contra a presidente Dilma Roussef, Michel Temer (período do mandato) assumiu o poder." Neste caso, até a data está errada: Temer tomou posse em 2016.

 

O vilão preferido

O fato de Jair Bolsonaro aparecer em primeiro lugar na lista das figuras públicas mais citadas não significa, necessariamente, que essas menções são negativas.

Mas, na prática, é difícil encontrar alguma referência favorável ao ex-presidente. Para muitos dos novos mestres e doutores brasileiros, o “golpe" de 2016 deu início a uma sequência de acontecimentos cujo pior dos males foi a ascensão de Bolsonaro.

É como se a remoção de Dilma Rousseff tivesse aberto uma espécie de Caixa de Pandora — termo que, aliás, aparece com todas as letras. “Infelizmente, esses aspectos misógino e heteronormativo, assim como outros demônios que saíram da caixa de Pandora do golpe, conseguem representar a maioria da população brasileira, levando o candidato de extrema direita (...) Jair Bolsonaro, à presidência”, raciocina Francisco Djefrey Simplício Pereira, em uma dissertação de mestrado em Linguística na Universidade Federal do Ceará.

Barbara Alves Matias, que concluiu um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro, também reservou espaço em sua tese para tratar do governo Bolsonaro: "A pesquisa foi pensada e desenvolvida durante o governo de Jair Bolsonaro, que institucionalizou e transformou em aparelho do Estado os discursos de ódio contra mulheres, dissidentes de gênero e outros grupos subalternizados, alicerçando uma espécie de nova inquisição entre aqueles que se propusessem a difundir discussões sobre corpo para além de uma perspectiva estritamente biológica e reprodutiva." O termo "saúde reprodutiva" costuma ser usado pelos defensores da legalização do aborto.

Em uma tese de mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia, Ludmila Pereira Alves fez uma associação entre Adolf Hitler, o fascismo, o agronegócio brasileiro e Jair Bolsonaro. Ao analisar o filme “Triunfo da vontade”, uma peça de propaganda nazista, ela estabeleceu um paralelo do líder alemão com os grandes produtores rurais brasileiros.

“Muito mais do que a idolatria ao próprio Hitler, o filme consegue projetar uma ideia que é também um espetáculo, tornando uma mentira algo absolutamente real para seus seguidores. Tão real que atravessou décadas e milênio e o feito hipnótico do Triunfo da vontade permanece vivo e atual nas propagandas que vinculam espaço e poder, como o próprio agronegócio no Brasil", Ludmila argumentou. “Hoje, no Brasil vivenciamos traços claros de um modo de ser fascista vinculado à personalidade do atual presidente da república: agressivo, autoritário, cínico, adepto de slogans rasos, porém letais", acrescentou, em referência a Bolsonaro.

Marielle à frente de Napoleão

Dentre as 30 figuras públicas mais citadas nas 7.000 teses, está Marielle Franco. A vereadora carioca assassinada em 2018 aparece em 79 teses e dissertações, à frente do ex-presidente João Batista Figueiredo e de Napoleão Bonaparte. 

Algumas delas insinuam uma ligação da família Bolsonaro com o caso. 

“Embora o assassinato de Marielle tenha ocorrido durante o governo golpista de Michel Temer, o meio militar já sabia das relações que a milícia ligada a família Bolsonaro tinha em relação ao caso do assassinato, mas mesmo assim não se importou em compor um governo cujas relações com organizações milicianas se expunham para qualquer um que quisesse”, escreve André Elias Barreto da Silva, em sua dissertação de mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense.

“Racismo estrutural” e outros temas da moda

Os novos mestres e doutores brasileiros têm predileção por certos temas. Um deles é o chamado "racismo estrutural". Das 7.000 teses, 359 mencionam a expressão. Para fins de comparação, “Descobrimento do Brasil” é citado apenas 49 vezes nos 7.000 trabalhos. “Proclamação da República” tem 314 citações. 

O doutorando Alexis Magnum Azevedo de Jesus, por exemplo, construiu sua tese em Educação pela Universidade Federal de Sergipe sobre a crença de que a população negra é vítima de um genocídio no Brasil. “O funcionamento da máquina jurídico-estatal, sobretudo o sistema penal, está organizado para o aprofundamento do genocídio da população negra”, ele diz. A palavra “genocídio” aparece 317 vezes no trabalho.

Nas teses compiladas pela Gazeta do Povo, outros tipos de racismo aparecem com frequência. "Racismo religioso" tem 61 menções; "racismo ambiental" tem 58; "racismo cultural", 14.

Revolução cubana continua popular

Enquanto parte da esquerda adere aos temas do momento, outra se apega a algumas causas mais tradicionais. A Revolução Cubana, por exemplo, continua a fascinar mestrandos e doutorandos Brasil afora.

Adriana Kerchner da Silva achou espaço para atacar o imperialismo americano em sua dissertação de mestrado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Acredito que a mídia a que temos acesso, que relata as situações vividas na ilha desde o triunfo da revolução, é, profundamente, maculada pelo imperialismo estadunidense, que está há 62 anos buscando difamar o regime local, colocando seu oposto, o capitalismo, como a solução para os problemas do país", teorizou. O trabalho tem como a obra dos escritores cubanos Juan Francisco Manzano e Esteban Montejo.

“Imperialismo americano” e suas variações, aliás, aparecem em 80 trabalhos acadêmicos catalogados pela Gazeta do Povo.

Um deles é o de Douglas da Silva Araújo, que juntou o tal imperialismo com o "golpe" contra Dilma Rousseff e o neoliberalismo: “Sob esteio do imperialismo estadunidense e do grande capital multinacional, as classes dominantes demandavam maior celeridade e ímpeto na implementação da agenda neoliberal, sendo eficazes na articulação de um golpe jurídico-parlamentar-midiático que colocou à frente do executivo nacional uma figura sem legitimidade representativa e extremamente impopular para aprofundar as contrarreformas e avançar na retirada de direito dos trabalhadores", escreve ele, em sua dissertação de mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense. O tema do trabalho é a produtora Brasil Paralelo e a atuação da "nova direita" na "guerra cultural".

Dados distorcidos

A equipe da Gazeta do Povo também encontrou dezenas de menções aos dados da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) sobre a morte de transexuais no Brasil. Os levantamentos têm graves falhas metodológicas que os desqualificam para o uso em estudos acadêmicos.

A dissertação de mestrado em Filosofia de Cello Latini Pfeil na Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo, usa os números da ANTRA para argumentar que "os crimes de ódio cometidos contra pessoas trans demonstram, por seu modo de execução, como nossos corpos são cistematicamente rejeitados”.

“Cistematicamente” é um termo que junta “cisgênero” (pessoas que não se identificam como transexual) com “sistematicamente”. Neste caso, o uso neologismo é singular até para os padrões da academia brasileira. Nenhum outro trabalho analisado inclui o termo.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/historia-futuro-teses-academicas-dizem-bolsonaro-golpe/?utm_source=salesforce&utm_medium=emkt&utm_campaign=newsletter-bom-dia&utm_content=bom-dia 

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domingo, 7 de abril de 2024

Processos decisórios na história do Brasil: nacionais e diplomáticos - Paulo Roberto de Almeida

 Processos decisórios na história do Brasil: nacionais e diplomáticos

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com; pralmeida@me.com)

Questões relativas a processos decisórios nacionais e setoriais (diplomáticos). Para debate com alunos e pesquisadores de temas de política externa e de diplomacia brasileira.

  

Introdução: processos decisórios, por questões, atores e situações

Não existem decisões tomadas em abstrato. Elas só existem em face de um desafio concreto, apresentadas a pessoas, a empresas, a partidos, a governos, a países. Elas podem se apresentar como resultado de iniciativas próprias, e a reação que se espera a elas, ou em confronto com fatos, eventos, processos objetivos que partem de fora, e exigem uma resposta precisa do tomador de decisão, seja um indivíduo, seja um governo, seja um país.

A literatura sobre decision-making process, o processo de tomada de decisão, é enorme, e cito apenas um exemplo, um clássico dos estudos nesse terreno: o livro de Graham Allison, The Essence of Decision, sobre o momento crucial da Guerra Fria geopolítica, em 1962, quando o mundo esteve à beira de uma conflagração nuclear em outubro de 1962, na reação dos Estados Unidos contra a instalação de mísseis soviéticos em Cuba. Esse autor, da universidade de Harvard, tornou-se novamente célebre mais recentemente ao propagar a possibilidade de uma nova conflagração entre os EUA e a China, baseando-se no precedente histórico da guerra do Peloponeso, por Tucídides, no que ele chamou de “armadilha de Tucídides”, o choque entre uma potência estabelecida e uma ascendente. 

Meu capítulo sobre os processos decisórios na diplomacia brasileira, constante do livro Apogeu e Demolição da Política Externa (Appris, 2021) apresenta observações preliminares que fiz sobre a construção formal desse processo ao longo dos séculos XIX e XX no itinerário do Itamaraty e, nas duas últimas partes, minhas críticas a respeito do abandono das características altamente institucionalizadas desse processo por ocasião das diplomacias sob o lulopetismo e sob o bolsonarismo, ambas altamente personalizadas, no pior sentido da palavra possível, mas com alguma preservação de procedimentos no caso do primeiro e procedimentos absolutamente caóticos no segundo. Atualmente, voltamos a ficar com a personalização da política externa sob Lula 3, mas com plena participação do corpo profissional do Itamaraty nesse processo.

Proponho um exercício de reflexão e de retomada de análise sobre alguns dos momentos decisivos da História do Brasil, identificando episódios, atores envolvidos e os problemas da conjuntura, ou seja, o contexto da tomada de decisão. Sem elaborar a respeito, indico apenas alguns exemplos que podem permitir um aprofundamento da questão, cabendo agora aprofundar cada um dos episódios mencionados, seus atores principais e questões atinentes a cada um desses exemplos, mas divido a relação dos “grandes episódios” em duas listas, uma de questões de Estado e da nação, outra especificamente diplomática.

 

Grandes questões nacionais e seus respectivos processos decisórios

 

(A) Exemplos de decisões no caso do Brasil, em nível de governo e de nação

Episódios

Decisores

Problemas

Independência do Brasil

Príncipe regente, círculo

Reconhecimento, validade

Abolir o tráfico, 1822-23

Bonifácio; elites dirigentes

Negócio rendoso p/ muitos

Abolir a escravidão 

Governos do Império

Necessidade de mão de obra

Guerras no Prata

Governo; pressão: criadores

Equilíbrio na região

Rompimento Grã-Bretanha

Governo e imperador

Orgulho nacional: Christie

Contratação de empréstimos

Necessidades do governo

Dívida externa, investimento

Abolição da Escravidão

Gabinete do Império, Isabel

Indenização proprietários

Golpe da República

Não foi decisão planejada

Sucessão de crises militares

Ingresso na Grande Guerra

Governo; mobilização: Rui

Despreparo para a guerra

Revolução de 1930

Gaúchos, aliados, O. Aranha

Movimento Armado

Deposição Washington Luís

Exército e Marinha

Evitar a guerra civil

Revolta de S. Paulo, 1932

Elites paulistas

Quem manda no estado?

Intentona Comunista, 1935

Komintern, PCB

Equívocos em série

Golpe do Estado Novo 1937

Complô varguista

Ascensão dos fascismos

Entrada na Segunda Guerra

O. Aranha, pressão popular

Escolha de aliados externos

Derrubada de Vargas 1945

Cúpula Exército, políticos

Novo contexto internacional

Deposição, suicídio Vargas

Crise do sistema político

Disfunções internas

Renúncia Jânio; crise 1961

Embate varguistas-oposição

República Sindical

Golpe de Estado de 1964

Políticos, FFAA, Igreja

Inflação, greves, Guerra Fria

Atos institucionais, AI-5

FFAA, oposição armada

Guerrilha, ameaça ao regime

Transição negociada 1985

FFAA, oposição moderada

Transição democrática geral

Assembleia Congressual

Monopólio forças políticas 

Grande geleia política geral

Reforma da reeleição, 1997

Vaidade pessoal de FHC

Oportunismo dos políticos

Eleição: República Sindical

Mudança estratégia do PT

Crises diversas, humores

Impeachment Dilma, 2016

Partidos, classe média

Recessão, crise política

Ascensão extrema-direita

Setores militares, políticos

Descrédito sistema politico

Retorno do petismo ao poder

Fracasso da 3ª via; Lula

Ruptura institucional

 

 

Questões decisórias especificamente diplomáticas

 

(B) Exemplos de decisões na política externa, em nível de diplomacia

Episódios

Decisores

Problemas

Abolição do tráfico, 1850

Dirigentes: Paulino, Mattoso

Conflito com Grã-Bretanha

Rompimento Grã-Bretanha

Governo e imperador

Orgulho nacional: Christie

Resolução da questão Acre

Rio Branco, exclusivamente

Limites com Peru, etc.

Rearmamento naval

Rio Branco, Marinha

Conflito com a Argentina

Enfrentamento Conf. Haia

Rio Branco, Rui Barbosa

Igualdade soberana nações

Pacto ABC, tripartite

Rio Branco, Lauro Müller

Absorção de conflitos

Saída da Liga das Nações 

Arthur Bernardes, Afrânio

Despreparo diplomático

Defesa do Gatt, 1947-48

Cúpula do Itamaraty

Inserção comércio mundial

Proposta Plano Marshall AL

Itamaraty, altos mandarins

Conferência OEA, 1948

Defesa da Cepal contra EUA

Desenvolvimentistas, MRE

Afirmação multilateralismo

Operação Pan-Americana

JK, Schmidt, Itamaraty

Primeira proposta brasileira

Integração AL – Alalc 1960

Diplomatas, aduaneiros

Resposta a Tratados Roma

Pol. Externa Independente

Jânio Quadro-Afonso Arinos

Diplomacia autônoma

Oposição EUA, Cuba-OEA

San Tiago Dantas, MRE

Direito Internacional, 1962

Rompimento com Cuba-64

Militares, diplomatas 

Questão mais simbólica

Aliança no G-77, Unctad

Diplomatas, nacionalistas

Desenvolvimentismo, PEI

Nova Ordem Eco, Norte-Sul

Diplomatas progressistas

Coordenação 3º. Mundo

Oposição: novos temas Gatt

Diplomatas, fazendários

Serviços, propr. Intelectual

Negociação coletiva Dívida

Diplomatas, políticos

Estrangulamento cambial

Solução pacífica A. Central

Sarney, diplomatas

Grupo de Contadora

Integração Brasil-Argentina

Sarney, diplomatas

Preliminares bilaterais

Ata Buenos Aires, Assunção

Collor, Menem, diplomatas

Mercado Comum a quatro

Protocolo Ouro Preto, 1994

Cúpula MRE, empresários

Não à supranacionalidade

Negociações com FMI

Fazenda (Malan, equipe BC)

Estrangulamento cambial

Lula 1: Alinhamento a Cuba

Lula, PT, exclusivamente

Diplomatas cooptados

Envolvimento no Haiti

EUA-França, PT e MRE

Minustah: ingresso CSNU

Casa à Unasul: união Sul-A.

Lula, petismo, diplomatas

Assunção liderança Am. Sul

Ibas, Bric-Brics, Sul Global

Lula, petismo, diplomatas

Megalomania diplomática

Retorno à normalidade MRE

Temer, chanceleres PSDB

Retorno a padrões Itamaraty 

Ruptura do bolsolavismo

Pequeno círculo lunáticos

Deformação da diplomacia

Lula 3: diplomacia global

Lula 3, petistas, diplomatas

Mundo mudou; decepções

Uma nova ordem mundial?

Lula 3, petistas, diplomatas

Fragmentação sistema ONU

Futuro diplomático incerto

Lula 3, diplomatas?

Desafios Nova Guerra Fria

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4384: 7 maio 2023, 4 p.